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RESENHA APRESENTADA PARA A DISCIPLINA

AUH-323 HISTÓRIA DA ARTE NO BRASIL

PROFESSOR: AGNALDO FARIAS

ALUNO: SIDNEI HARADA – Nº USP 1752085

BURLE MARX
O GRANDE PAISAGISTA MODERNISTA DO BRASIL
BURLE MARX, O GRANDE PAISAGISTA MODERNISTA DO BRASIL

Roberto Burle Marx é o paisagista mais famoso


e mais expressivo do Brasil. Ele rompeu as
barreiras do tradicionalismo e criou um
paisagismo com formas novas, cores vibrantes e
uso de plantas brasileiras. A imagem genérica
dos espaços urbanos ocidentais do final dos
oitocentos e dos primeiros anos dos novecentos
é tipicamente cênica, romântica, uma colagem
de informações e formas, descobertas, criadas e
recriadas e advinda das informações
sintetizadas pela Europa Ocidental no período
em questão.

Formalmente, o espaço público do século XIX é tratado sob o ponto de vista de


exposição de pessoas e objetos, destinado ao flanar das classes emergentes, novas parceiras da
elite e para o divertimento das massas. Burle Marx transformou esses espaços em verdadeiras
pinturas com plantas e materiais coloridos em formatos orgânicos, para contemplação e como
uma forma da população conhecer as espécies brasileiras.

Nesta resenha, vamos explorar o ambiente no qual Burle Marx cresceu e desenvolveu
sua forma de expressão, as principais influências, os parceiros e as principais obras do artista.

CONTEXTO HISTÓRICO

Segundo MACEDO, o século XX, no pós Primeira Guerra, marca o início do rompimento
ocidental com velhas ordens sociais e formais e nos anos 1930 (talvez de um modo um tanto
tardio), os rompimentos surgem no Brasil, se consolidando na ordem cultural-nacional – na
música, escultura, pintura, arquitetura e na arquitetura paisagística.

Arquitetura Paisagística Moderna– pauta-se basicamente pelo atendimento de novas


formas de uso e, portanto, de organização morfológica do espaço livre urbano, no qual é
introduzida uma nova figura – o automóvel, que exige uma reordenação dos tecidos urbanos
existentes e a criação de outros especialmente tratados para a convivência veículo-pedestre. Ao
espaço livre para a circulação de pedestre – calçadas e passeios e para lazer, são atribuídas novas
configurações, agora de acordo com os padrões urbanístico-sociais em voga.

A arquitetura paisagística se torna, então, funcionalista, com a determinação de áreas


equipadas especialmente para o lazer, recreativo ou esportivo, nacionalista com o abandono do
uso de vegetação, anódina e com ênfase na tropicalidade do país: simples, com a “proibição” do
uso de elementos decorativos do passado – pitorescos e temáticos – sendo execradas as
cenarizações, as topiárias e qualquer lembrança do Ecletismo recente: geométrica.

Com o uso e abuso das formas geométricas livres, inspiradas nas temáticas da pintura
da época, no qual Burle Marx foi o mestre inspirador nacional – e colorida – com a introdução
do uso intenso de pisos multicores, o modernismo foi se configurando no Brasil.
O Paisagismo Moderno Brasileiro é regido por duas influências nítidas, a primeira – a
obra isolada de Burle Marx e associados, com seu nacionalismo, representações geométricas e
uso da vegetação nativa; a segunda – internacional, diretamente referenciada às obras da
vanguarda paisagística norte-americana da costa Oeste, que sintetizadas pelos diversos
profissionais resultam em obras de caráter extremamente particular, típicas da produção
paisagística nacional da segunda metade do século XX.

Burle Marx rejeitava o julgamento de seu trabalho como original:

“A minha conceituação filosófica de paisagem construída baseia-se na direção


histórica de todas as épocas, reconhecendo, em cada período, a expressão do
pensamento estético que se manifesta nas demais artes. Neste sentido, a minha obra
reflete a modernidade, a data em que se processa, porém jamais perde de vista as
razões da própria tradição,que são válidas e solicitadas. “

A INFÂNCIA NO BRASIL

Figura 1 Roberto, com um ano de idade

Roberto Burle Marx nasceu em São Paulo, em 4 de


agosto de 1909. Filho de Cecilia Burle, brasileira de
ascendência francesa e inglesa e Wilhem Marx, judeu
alemão culto e aventureiro, que chegou ao Brasil em 1895,
instalando-se em Recife. Cecilia era pianista e Whilhem
apreciava muito música também, e casaram em 6 de
setembro de 1900 e em 1901 vieram morar em São Paulo na
Avenida Paulista. Em 1913 mudaram para o Rio de Janeiro e
compraram uma casa grande no distrito de Leme para
abrigar a família com 6 filhos. Anna Piascek, uma húngara
que viveu junto da família até os 102 anos foi uma segunda
mãe e junto com Cecilia ensinou o jovem Roberto a
reconhecer flores e apreciar música.
Figura 2- Cecilia e Whilhem
Aos 3 anos a mãe ouvia com ele os leimotive das operas de
Wagner e aos 6 anos assiste pela primeira vez “Tristão e Isolda” cujo
enredo conhecia e cantoralava os principais temas. Aos 7 inicia sua
coleção de plantas com uma Alocasia cuprea que ganha de uma tia.
A paixão pelas plantas continuou quando em 1918 mudaram-se para
uma chácara na rua General Ribeiro da Costa, também no Leme,
onde viveram até 1930. A casa tinha piscina, jardim, pedra, água,
plantas, e Roberto cuida de seu primeiro jardim.

Na chácara do Leme, conhece Lucio Costa, cujos pais moravam


na mesma rua. Apesar da diferença de idade (Lucio era 7 anos mais
velho), tornam-se amigos, e esta amizade perdura pela vida inteira.
Figura 3 Residencia na avenida
Paulista

TEMPORADA EM BERLIM 1928-1930.

Aos 18 anos teve problemas de visão e sua


família decidiu ir à Europa consultar
oftalmologistas, estabelecendo-se em Berlim, na
época uma das cidades mais vibrantes e modernas
da Europa. Lá descobriu uma atmosfera de
experimentação artística e fermento cultural que
nutriu e estimulou seus instintos criativos.

A batalha do Modernismo estava sendo


travada, sendo um fenômeno essencialmente
urbano, prosperando em um período de relativa
Figura 4 - aos 17 qnos
paz e progresso econômico na Alemanha que criou
condições técnicas e materiais para um
desenvolvimento cultural sustentado. A recém implantada República de Weimar, que continuou
de 1919 até 1933, quando Hitler se tornou chanceler, fez a Alemanha ter ótimas relações
internacionais após a Primeira Guerra Mundial, permitindo um intercâmbio artístico e
intelectual dinâmico com o Oriente e o Ocidente. Um enorme influxo de capital americano sob
o Plano Dawes de 1924 garantiu um renascimento econômico, com investimentos em projetos
audaciosos de teatro, ópera e arquitetura e introduziram uma nova política de regeneração
urbana, atraindo pessoas de todas as nacionalidades.

Os pioneiros do cubismo e do futurismo do pós guerra não foram rejeitados ou


desvalorizados na Alemanha, como haviam sido em outros países, mas incorporados a uma
sociedade mutante. Elementos do cubismo e do fauvismo foram absorvidos pelo movimento
expressionista alemão. Em 1922, Wassily Kandisnsky mudou-se da Russia para se juntar à
Bauhaus em Weimar, e o artista construstivista László Moholy-Nagy chegou logo depois em
1923, no mesmo ano em que o grupo holandês De Stijl exibiu seu trabalho na Alemanha.
Fundada em 1919 para combinar as artes plásticas com o ensino de artes e ofícios, a Bauhaus
adotou rapidamente uma abordagem mais radical, seus membros declarando: “Arte e
Tecnologia, uma nova unidade”. Eles trabalharam para integração de todas as formas de arte,
assimilando novas técnicas, buscando atender às necessidades práticas de uma sociedade
industrial.
Roberto chegou à Europa em um período de grandes mudanças, com o primeiro vôo
transatlântico (1927), desenvolvimento de documentários de rádio e cinema, fotografia como
forma de arte ajudando a enfatizar a luz. Em 1927 a Bauhaus inaugurou um departamento de
arquitetura chefiado por Walter Gropius, em 1928, o historiador de arte Sigfried Giedion fundou
o CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) na Suiça, com membros como Le
Corbusier e o artista russo El Lissitzky, desenvolvendo o estilo funcionalista da arquitetura.

As mudanças na música, na dança, na expressão corporal, inspiraram artistas, como


Kandinsky que usou os ritmos da bailarina Greta Palucca para realizar suas pinturas. Berlim
estava em efervescência cultural e artística, e vencido o problema da visão, Roberto volta a
estudar música, porém, a retrospectiva de um artista que morreu em 1890, Vincent van Gogh,
fez com que ele abandonasse suas aspirações musicais e começasse a pintar. Ficou
impressionado ao ver como o pintor podia comunicar a paixão humana liberando a cor da forma,
explorando contrastes de cores saturadas e se afastando do figurativo. Admirava também
Matisse e toma conhecimento de Cezanne, Braque, Klee, Picasso. Mas a frágil democracia de
Weimar começou a desmoronar e em 1 de maio de 1929, Berlim foi palco de uma repressão
sangrenta de nazistas atacando comunistas em Hermannplatz. E depois de quase 2 anos na
Europa, em 1930, volta ao Brasil um outro Roberto.

RIO DE JANEIRO 1930.

Os arquitetos brasileiros estavam lutando contra o academicismo e ecletismo em voga


desde o início do século XX, eles já haviam passado por várias etapas: simplificando o
neoclassicismo introduzido no século XIX, aplicado o Art Nouveau do francês Victor Dubugras, e
criado um estilo neocolonial. Estudaram os desenhos da vanguarda europeia, do futurismo ao
expressionismo, da Bauhaus e, acima de tudo, de Le Corbusier, sem ignorar o legado local da
arquitetura barroca e indígena portuguesa do século XVII. E a Semana de Arte Moderna de 1922
de São Paulo foi uma exposição de artes visuais e literatura que foi o ponto culminante dessa
experimentação.

O principal teórico do modernismo brasileiro foi Lúcio Costa, que em 1930 foi nomeado
diretor da Escola Nacional de Belas Artes do Rio, sendo uma passagem breve, mas
revolucionária, modificando a orientação acadêmica dos cursos, dando a eles uma direção
modernista brasileira, auxiliado por Gregori Warchavchik, um arquiteto russo radicado em São
Paulo e pelo pintor alemão Leo Putz. Burle Marx voltou da Europa e matriculou-se no mesmo
ano com intenção de estudar arquitetura, mas Lucio Costa o convenceu a mudar para as artes
visuais.

É nesse ambiente que conhece Oscar Niemeyer, os irmãos Marcelo e Milton Roberto,
Jorge Machado Moreira e Carlos Leão, e nessa época seus conhecimentos de cultura geral e de
pintura aumentam consideravelmente através da convivência com o professor alemão Leo Putz
(sobrinho de Thomas Mann), convidado da Escola, Roberto terá nele o mestre dos anos inciais,
principalmente nas aulas particulares que tomou nessa ocasião.

Em seguida estudará com o pintor Pedro Correia de Araujo e com o escultor Celso
Antonio, que namorava uma amiga de Roberto. Os encontros em casa de Heloisa Graça Aranha
da Rosa e Silva vão colocar Roberto em contato com Candido Portinari, Aníbal Machado, Santa
Rosa, Geraldo Ferraz, Patrícia Galvão (Pagu), Gilberto Freyre, Murilo Mendes, José Lins do Rego,
Lucio Cardoso, Cornélio Penna, Vinicius de Moraes, Alcides Rocha Miranda e muitos outros
pintores, escritores e arquitetos.

Em 1932 realiza o seu primeiro jardim. Lucio Costa e Gregori Warchavchik faziam o
projeto da residência da família Alfredo Schwartz, em Copacabana, convida Burle Marx para
fazer o desenho do jardim, onde projeta canteiros de Canna indica para o terraço. E um ano
depois, vem o segundo jardim, na residência de Ronan Borges.

Nessa época, Roberto conhece e conversa muito com o seu então professor de história
e filosofia da arte, Mario de Andrade, autor de Macunaíma, e aprende muitíssimo com a leitura
desse romance revolucionário.

Essa época é intensa, na literatura, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado,
Rachel de Queiroz, Érico Verissimo, Lucio Cardoso, Octavio de Faria, Cornélio Penna e José
Geraldo Vieira. Na sociologia e na história, Gilberto Freyre de Casa Grande & Senzala, e o Sergio
Buarque de Holanda de Raízes do Brasil eram os alicerces de uma nova visão da sociedade. A
consciência crítica de Mario de Andrade, o nacionalismo puro de Villa-Lobos, a música de
Mignone, Camargo Guarnieri, Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso. A rebeldia lúcida de Vicente
do Rego Monteiro, a poesia de Jorge de Lima, Murilo Mendes e de Carlos Drummond de
Andrade, o direitismo de Alceu Amoroso Lima à frente da Ação Católica, a pintura de Portinari
e o Partido Comunista, a criação do SPHAN sob a batuta de Rodrigo Melo Franco de Andrade, a
presença de Warchavchik e Le Corbusier. Artes plásticas, arquitetura, filosofia, literatura, música
– em todas essas áreas se dão grandes transformações que Roberto, no centro do redemoinho,
vive e assimila.

INÍCIO DA VIDA PROFISSIONAL

Em 1934 foi indicado para ser o Diretor de Parques e Jardins em Recife, pois sua mãe
era de Pernambuco. E é lá, à sombra e sol do trópico pernambucano que ampliará seu
conhecimento botânico, através de excursões pelo cerrado, aplicando-o nos primeiros trabalhos
públicos em nosso país onde se dá o rompimento com o jardim de modelo europeu. Data daí
também o início de sua longa experiência como pesquisador, revelador e defensor de nossa
flora. Realizou vários jardins públicos em Pernambuco, mas ao realizar um jardim de canas
indicas vermelhas, Roberto é acusado de comunista e deixa assim o Recife por motivos políticos.

Em 1937 no Rio de Janeiro,


trabalha intensamente como
assistente de Portinari nos murais
do Ministério da Educação, com
quem convive durante cerca de
um ano e meio.
Figura 5 Affonso Eduardo Reidy, Burle Marx, Ary Garcia Roza, Oscar Niemeyer e Jorge Machado Moreira, debatendo
mudança da capital em 1956

Em 1938 faz o projeto dos jardins do Ministério da


Educação e Saúde (hoje Palácio da Cultura), quando começa
a trabalhar com a equipe responsável pelo edifício
(desenvolvido através de um esboço de Le Corbusier): Lucio
Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Jorge
Machado Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcelos. É o
seu primeiro projeto importante, depois da volta do Recife,
e quando conhece Le Corbusier.

O projeto do Ministério da Educação e Saúde foi a


oportunidade de mostrar sua sintonia com a linguagem da
arquitetura moderna, onde criou 3 jardins, um no térreo
como praça de ingresso do complexo e dois suspensos.
Figura 6 - com Le Corbusier
Talvez tenham sido as sugestões da morfologia do ambiente
natural brasileiro, rico em elevações movimentadas e
cursos d´água serpenteantes, que influenciaram o processo criativo de Burle Marx no caso dos
jardins do Ministério. Na ocasião, ele depurou uma linguagem de formas curvilíneas que,
juntamente com o extenso uso da flora tropical, constituiu a marca estilística inconfundível de
suas composições posteriores.

Naqueles anos, estabeleceu uma estreita amizade com o botânico Henrique Lahmeyer
de Mello Barreto (1892-1962), a quem o paisagista acompanhou em expedições de estudo e
coleta em Minas Gerais e por quem foi encorajado a insistir na conjugação de expressão artística
e flora nativa. Burle Marx continuou aprofundando esse interesse ao longo de sua vida,
experimentando muitas plantas e introduzindo várias delas, pela primeira vez, em contextos
urbanos.

PRINCIPAIS OBRAS

Em 1942, Burle Marx desenhou os jardins de várias arquiteturas projetadas por


Niemeyer na Pampulha, em Belo Horizonte. Os espaços verdes do Cassino e da Igreja de São
Francisco são particularmente reveladores de sua abordagem na associação de planas para
formar manchas coloridas e grupos escultóricos, segundo trama de linhas sinuosas que, em seu
desenvolvimento fluido, instauram um diálogo emocional com a geometria dos edifícios.

Obras primas são as intervenções realizadas nos anos seguintes, ao longo da orla do Rio
de Janeiro: praça Salgado Filho (1947-53), parque do Flamengo (1961-65) e o calçadão de
Copacabana (1970).

O Parque do Flamengo é uma área linear de 120 há que se


estende ao longo da baía de Copacabana, sobre um aterro
subtraído do mar; o plano geral deve-se a um grupo de projetistas
coordenado por Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (1910-
1967), enquanto o desenho dos diversos jardins é de Burle Marx.
Atravessado por vias expressas, abriga o Museu de Arte Moderna,
quadras esportivas, restaurantes, creche, espaços para eventos
culturais e recreação. As várias instalações e o eixo viário foram
admiravelmente integrados na composição do verde que se
desdobra em uma sequência de ambientes diferentes, resultantes
de uma inteligente combinação de grupos botânicos e
pavimentação colorida. Um desenho fortemente geométrico
introduz o setor do museu, onde a composição paisagística se
torna obra de arte executada com matéria vegetal e mineral:
Figura 7- com Carlota de Macedo pedras facetadas ou roladas, plantas de ocres e conformações
diversas, de folhagem arredondada, pontiaguda, serrilhada são
justapostas em canteiros quadrangulares. Essa trama de exuberante riqueza e variedade
contrasta com um extenso tapete verde de desenho serpenteante, obtido com o uso alternado
de duas variedades de granitos. As faixas, de cores ligeiramente diversas, transformam o plano
verde em um revestimento vegetal fluido, que dialoga com o cenário de morros sinuosos e com
as baias que salpicam o Rio.

Junto ao museu, como que representando a variedade dos ambientes ecológicos do


país, Burle Marx criou dois parterres que se contrapõem, um seco e outro de água, dispondo-os
ao longo dos lados da edificação elevada do solo por pórticos. No primeiro, voltado para leste,
pedras roladas ladeiam grandes monólitos de granito e uma vegetação selecionada pelas formas
escultóricas; no segundo, em vez disso, um amplo tanque retangular abriga ninfeias, papiros e
espécies aquáticas plantadas em conformações geometrizadas.

Em 1970, foi confiado a Burle Marx e seus colaboradores Haruyoshi Ono e José Tabacow
o projeto do calçamento da Avenida Atlântica, o passeio da orla marítima que atravessa os
bairros cariocas de Copacabana e do Leme. Recorrendo à tradicional técnica portuguesa do
mosaico com pedras brancas, pretas e vermelhas, ele realizou um monumental desenho que
invade todas as calçadas da grande artéria. E, enquanto na faixa junto à praia longas formas de
ritmo sinuoso foram utilizadas com a intenção de evocar o movimento das ondas, as zonas mais
internas foram desenhadas com uma pavimentação de motivos abstratos, feita de figuras
enviesadas e linhas quebradas; toda a extensão foi, ademais, pontilhada com ilhas verdes,
grupos de palmeiras e arvoredos isolados. A faixa da orla marítima foi assim transformada em
um espetáculo vibrante e contínuo, possível de ser desfrutados dos altos hotéis que limitam a
beira mar.
Nos anos 1960 1970, Burle Marx trabalhou
constantemente em projetos para a nova
capital, Brasília. São seus os dois jardins, um
suspenso e outro no térreo do palácio do
Itamaraty (1965), o espaço verde que contorna
o Ministério da Justiça (1970-1971) e os jardins
do Ministério do Exército (1970-71).

Figura 8- com Lucio Costa

Figura 9- com Walter Gropius, Claude Vincent e Odete


Projetou também vastos jardins Monteiro, visitando os Jardins de Odette Monteiro em
privados, como os de Odete Monteiro, hoje 1954
Fazenda Marambaia, em Petrópolis, iniciado
em 1945; os jardins da pequena residência Edmundo Cavanellas, hoje Gilberto Strunck,
desenhado por Oscar Niemeyer, em Pedro do Rio; Fazenda Vargem Grande, aos pés da Serra da
Bocaina.

Para algumas empresas, projetou também a sede da Petrobrás no Rio de Janeiro (1973),
edifício do Banco Safra em São Paulo (1983-1986).

Possui ainda obras no exterior, como o Parque del Este em Caracas (1951-1961), o
Parque de las Americas em Santiago do Chile (1962) e os pátios internos do edifício da Unesco
em Paris (1963).

CONCLUSÃO

Sua formação artística se iniciou com o ambiente familiar, com a mãe pianista e um pai
que apreciava arte e valorizava os estudos. A temporada para tratamento de sua vista na
Alemanha de 1928 a 1930, que se encontrava em plena ebulição artística e cultural também foi
muito importante na sua formação, onde recebeu influências de vários artistas modernos da
época. Em sua volta ao Brasil em 1930, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do RJ, onde
entrou em contato com os arquitetos e artistas que estavam introduzindo o modernismo no
Brasil e que respeitavam também o nacionalismo.

Fez inúmeras obras pelo Brasil e pelo mundo, sendo reconhecido e respeitado como o
maior paisagista do Brasil. A obra de Burle Marx foi uma revolução na forma de se fazer
paisagismo, com uso de formas livres, com muita intensidade e contraste de cores e o uso de
espécies da nossa flora brasileira.

Burle Marx tem, no paisagismo, o papel que tiveram Heitor Villa Lobos e Marlos
Nobre na música erudita, Carmem Miranda na música popular, Tarsila do Amaral, Cândido
Portinari e muitos outros na pintura, Lúcio Costa no urbanismo, Oscar Niemeyer e os
irmãos Marcelo, Milton e Maurício Roberto na arquitetura.

IMAGENS DE ALGUNS PROJETOS DE BURLE MARX

Figura 10 Ministério da Educação e Saúde (1938)

Figura 11 Jardins ao longo do mar no Rio de Janeiro


Figura 12- Praça Senador Salgado Filho - RJ 1938

Figura 13 Parque do Flamengo 1961-65

Figura 14 Museu de Arte Moderna - 1954


Figura 15 Copacabana 1970

Figura 16 Largo da Carioca 1985

Figura 17 Itamaraty 1965


Figura 18 Ministério do Exército 1970

Figura 19 Tribunal de Contas da União 1972-73

Figura 20 Residência de Odete Monteiro 1948 e 1988


Figura 21 Residência de Olivo Gomes 1950 e 1966

Figura 22 Residência de Celso Colombo

Figura 23 Fazenda Vargem Grande 1979


BIBLIOGRAFIA

ADAMS, William Howard. Roberto Burle Marx: The Unnatural Art of the Garden. Nova Iorque:
The Museum of Modern Art, 1991.

CALS, Soraia. Roberto Burle Marx: uma fotobiografia. Rio de Janeiro: S. Cals, 1995.

CASARIN, Rafael Farina. Roberto Burle Marx: relações entre arte e paisagismo. Tese (Mestre
em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2018.

FROTA, Lelia Coelho. Burle Marx: Paisagismo no Brasil. São Paulo: Camara Brasileira do Livro,
1994.

MONTERO, Marta Iris. Burle Marx: The Lyrical Landscape. London: Thames & Hudson Ltd, 2001.

PANZINI, Franco. Projetar a natureza: arquitetura da paisagem e dos jardins desde as origens
até a época contemporânea. São Paulo: Editora Senac, 2013.

MACEDO, Silvio Soares. O Paisagismo Moderno Brasileiro: Além de Burle Marx. Paisagens em
Debate, revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 01, outubro 2003.

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