Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENSINO - UNIFAE
Este trabalho versa sobre a Ambiência, articulação entre elementos que, usualmente
vistos como separados, são mais bem compreendidos como um todo. As formas de
agrupamento urbano na forma de cidades e, particularmente, de bairros apresentam
aspectos que podem ser identificados e avaliados. Estes aspectos permitem a análise
de outros indicadores, de Qualidade de Vida e de Sustentabilidade. A vida urbana traz
determinadas formas de estar junto, indicando que a urbanização, por ser esta
modalidade antrópica, tem influências próprias e específicas. Nesta especificidade, tem-
se índices de Ambiência Urbana, de Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade
Urbana. A Ambiência Urbana envolve Clima, Clima Urbano, Recintos Urbanos,
Vegetação, Vegetação e Vento, Ruas, Praças – mas também os Dispositivos
(estratégias específicas de ofertas de serviços primários ou de prestação de serviços,
como públicos, privados e outros). Da Qualidade de Vida Urbana, tem-se os aspectos:
Habitação, Saneamento Básico, Saúde, Educação, Transporte, Segurança,
Abastecimento, Assistência social, Cultura, Esporte, Outros Serviços de Infraestrutura,
Parâmetros Ambientais, Outros Serviços Urbanos, Variáveis Econômicas. E na
Sustentabilidade Urbana, encontram-se Água, Energia, Alimento, Verde, Sistema
Entorno, Saúde, Cultura, Morfologia, Habitat, Educação e Tecnologia, Planejamento
Uso e Ocupação, Poluição (como redução de danos), Resíduos, Infraestrutura Verde e
Transporte e Acessibilidade. Contemplar cada aspecto – particular – e a articulação –
todo – é a via que permite a delimitação da Ambiência em Totalidade, desde a história
de um bairro, as formas de estar junto, em comunidade e território e as interinfluências
daí decorrentes, apontando para a subjetividade de cada morador e para seu entorno.
This work deals with the ambience, articulation between elements, usually seen as
separated. These are best understood as a whole. Types of urban grouping in the form
of cities and, particularly, of neighborhoods or quarters feature aspects that can be
identified and evaluated. These features allow the analysis of other indicators of quality
of life and sustainability. Urban life brings certain forms of being together, indicating that
urbanization, being an anthropic modality, has its own specific influences. This
specificity, indexes urban ambience, quality of urban life and urban sustainability. Urban
ambience involves climate, urban climate, urban areas, vegetation, vegetation and wind,
streets, squares – but also the devices (specific strategies of primary service offerings or
to provide services, such as public, private, and others). Regarding the quality of urban
life, there are the following aspects: Housing, sanitation, health, education, transport,
security, supply, social welfare, culture, sport, other infrastructure services,
environmental parameters, other urban services, economic variables. And on urban
sustainability, there can be found water, energy, food, green, environment surrounding
system, health, culture, morphology, habitat, education and technology, planning use
and occupation, pollution (as harm reduction), waste, green infrastructure and
transportation and accessibility. Contemplating every particular aspect – and the
articulation – all of it - is the path that allows the definition of full ambience, from the
story of a neighborhood, the forms of being together, in community and territory and the
resulting inter-influence, pointing to the subjectivity of each resident and their
surroundings.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 13
1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 17
1.2 PERGUNTA PROBLEMA .................................................................................... 21
1.3 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 21
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................. 22
1.5 PRESSUPOSTO ................................................................................................... 22
2 APORTE TEÓRICO ............................................................................... 23
2.1 ESPAÇO URBANO, SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA ............... 23
2.1.1 AMBIÊNCIA URBANA ...................................................................................... 26
2.1.1.1 Clima ............................................................................................................ 33
2.1.1.2 Clima Urbano.............................................................................................. 35
2.1.1.3 Recintos Urbanos ...................................................................................... 38
2.1.1.4 Vegetação ................................................................................................... 40
2.1.1.5 Vegetação e Vento ..................................................................................... 44
2.1.1.6 Ruas ............................................................................................................. 45
2.1.1.7 Praças.......................................................................................................... 47
2.2 AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA URBANA E
SUSTENTABILIDADE URBANA ............................................................................... 49
2.2.1 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE QUALIDADE DE VIDA .......................................... 54
2.2.2 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA .......................... 57
3 MÉTODO................................................................................................ 61
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ANÁLISE .................................................. 61
3.2 INSTRUMENTOS ................................................................................................. 62
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA ......................................................................... 62
3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE GERAL ............................................................. 63
3.5 ROTEIRO DE ANÁLISE DAS IMAGENS ............................................................. 63
3.5.1 NOTAS E DIÁRIO DE CAMPO ..................................................................................... 63
3.5.2 MÉTODO ICONOGRÁFICO........................................................................................ 64
3.5.3 ARTICULAÇÃO IMAGENS, AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA
URBANA E SUSTENTABILIDADE URBANA – PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA .......... 66
4 RESULTADOS ....................................................................................... 68
4.1 AMBIÊNCIA URBANA ......................................................................................... 68
4.1.2 BAIRRO SANTO ANTÔNIO: BREVE HISTÓRICO E DELIMITAÇÃO ....................... 68
4.1.3 COLETANDO INFORMAÇÕES E IMAGENS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO –
DIÁRIO DE CAMPO ............................................................................................................... 73
4.1.3.1 Antes de tudo ........................................................................................................ 73
4.1.3.2 Em tempo ............................................................................................................... 75
4.1.3.3 Em tempo de observar (pela primeira vez) ....................................................... 77
4.1.3.3.1 Primeiro tempo ............................................................................................... 77
4.1.3.3.2 Segundo tempo .............................................................................................. 79
4.1.3.3.3 Terceiro tempo ................................................................................................ 81
4.1.4 ANALISANDO A AMBIÊNCIA URBANA DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO ............... 82
4.1.4.1 Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana, Sustentabilidade Urbana no
bairro Santo Antônio ....................................................................................................... 100
5 DISCUSSÃO ........................................................................................ 104
5.1 ARTICULAÇÃO DOS RESULTADOS À INTRODUÇÃO ................................... 104
5.2 Articulação teórica à Ambiência Urbana em Totalidade ............................... 112
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 118
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 122
LISTA DE FIGURAS
VITRUVIUS, I a.C.
1 INTRODUÇÃO
13
Arquitetura e Urbanismo, em sua suavidade, promovem um contato com o
conceito de Ambiência Urbana. Dimensionar o meio social humano e sua compreensão
quanto ao uso do espaço conduz a reflexões sobre os fatores históricos, uma
multiplicidade de vias que possibilitam inúmeras respostas.
Desta multiplicidade foi necessário um enfoque, recortado pela interface entre os
atores sociais e o ambiente em que vivem. Para tanto, a proposta de Mascaró e
Mascaró (2009) quanto à Ambiência Urbana e suas relações com a Qualidade de Vida
e a Sustentabilidade.
Será necessário, antes, pensar as formas pelas quais estes atores sociais se
organizam. A gregariedade, ou seja, a capacidade e necessidade de estar em grupo,
criando vínculos e trocas, está presente em muitos seres vivos e notadamente nos
humanos. No entanto, o ser humano, mais que estar em grupo, cria espaços
específicos para esta condição: as cidades.
14
(cidade), ao Urbanismo (estudo das cidades), depreende-se a Urbanidade (formato e
ditames das ações humanas, os agrupamentos e seus contatos).
Góis (2008, p. 75) indica a cidade como lugar de viver, enquanto condição básica
da Urbanidade, como algo que lhe é próprio, sendo impossível negar-lhe o sentido e
muito menos negar o morador, sua existência e sua responsabilidade pelo lugar. E é
neste sentido que as cidades, assim como os bairros, carregam a vida social, por serem
impregnados de ações coletivas, por ser lugar de inclusão, mas que também transfere a
este lugar o direito à participação coletiva. Assim sendo, o bairro é um lugar de sentido
e territorialidade, de construção do cotidiano.
Podendo assim ser lido:
Há muitas formas de pensar o urbano, mas aqui o foco está nos conceitos de
Urbanidade, Urbanização e no Urbanismo. A Urbanidade também pode ser resumida
como a necessidade de os indivíduos estarem juntos de uma determinada forma.
Assim, a Urbanidade pode ser interpretada como sendo a cidade que experimenta e
compartilha o mundo, que pode ser observada e pontuada: do ponto de vista estrutural,
em um primeiro momento, e, em um segundo momento, como por camadas ou layers,
na explanação de Moraes Netto (2013).
Do ponto de vista estrutural, como primeiro ponto de articulação, têm-se práticas
temporais distintas em que cada uma opera, dentro dos atos do presente, o passado.
Rossi (1995) acrescenta que os traços de práticas anteriores se projetam em cada
presente urbano, assim como as práticas sociais que se interligam à questão do tempo.
Desta forma de olhar é afeita a ideia de caleidoscópio como já apontada, sob a forma
15
de canais de movimentos e lugares de atividades de memórias, que permeiam umas às
outras como engrenagens, nas formas atuais do agora (MORAES NETTO, 2013).
Em outras palavras, a cidade, como camadas/layers, vivenciada como
sobreposição aos modos temporais e espaciais de ser, atua como projetor de encontros
e reconhecimentos do outro. Isto pode levar à compreensão da Urbanidade como um
esboço de experiências da alteridade no sentido da Antropologia clássica, e, por assim
expressar a questão urbana, implica em uma ambiguidade (HOLANDA, 2006).
Mais um ponto há que ser observado: do mesmo modo que se tem a expansão
urbana, encontram-se situações inversas pelas consequências deste inchaço. Depara-
se com a redução de alimentos e de recursos, abrigos ineficazes, precariedades
urbanas e de mão de obra marcada pela falta de qualificação. Também se observa que
16
não basta dar conta da natureza, mas, além disso, das relações entre as pessoas a
partir desta mesma expansão.
A Urbanização deve também pressupor um planejamento das formas destas
relações e, consequentemente, das cidades e de seus bairros. Seria através das leis e
das regras de convivência que se consolidariam tais relações. Finalmente, Urbanismo é
o estudo implantado para o processo de Urbanização, conforme indicado por Silva e
Romero (2011).
Progressivamente, as cidades, onde a oferta de oportunidades e de serviços são
apresentadas como um diferencial, passaram a alojar pequenos núcleos residenciais,
de ocupação irregular (as vezes com caráter regular), compostos por construções
precárias e improvisadas, cujas localizações se vinculavam à proximidade do trabalho e
às facilidades de mobilidade (PEQUENO, 2008). Ou seja, a não urbanização ou o não
planejamento provoca o aumento dos conflitos e das ambiguidades que fazem parte
das relações entre as pessoas e ao poder público enquanto políticas públicas de
viabilidades, indicando-se a saúde/doença da cidade em contraposição à saúde/doença
das comunidades e de cada cidadão (SANTOS, 2013), tornando as cidades espaços
urbanamente insustentáveis.
Por isso, contemplar a relação pessoa-ambiente / ambiente construído se articula
e deve ser observada. O conceito de Ambiência Urbana, em interface com os conceitos
de Qualidade de Vida e Sustentabilidade, permite compreender o intrincamento urbano
e suas formas.
1.1 JUSTIFICATIVA
17
Urbana aponta para o estabelecimento do que vincula as pessoas, enquanto
moradores, arranjos e pactos sustentáveis e seus dispositivos, profissionais,
possibilidades e experiências, compondo ideias e sustentando a expressão do bairro no
município. Desta forma, Ambiência Urbana engloba os moradores (atores sociais), os
técnicos e o poder público, em uma dinâmica constante da humanização das cidades
(BESTETTI, 2014).
19
trazendo discussões mais amplas e, paradoxalmente, específicas sobre as práticas
humanas.
Assim, o trabalho tem, também, relevância social, permitindo, com os moradores
deste bairro, compreender as questões elencadas (Ambiência Urbana, Qualidade de
Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana). E, por outro lado, levá-los a refletirem sobre o
que lhes seria melhor ou outra contribuição que venha a lhes ser relevante.
Estes temas devem vir a contribuir para que o observador tenha, na lógica, um
olhar diferenciado, sem destacar as constantes subjacentes aos problemas
comunitários e sociais. Que este estudo não seja aqui postado como uma mera
predileção, mas que busque na teoria recomendações efetivas. Também na área da
Arquitetura pode contribuir para a comunidade acadêmica, ciente que o modelo
apresentado seja também um alerta contra as ciladas das regiões em conflito
ambiental, social, sustentável e seus específicos.
A questão da Ambiência Urbana em Arquitetura envolve vários aspectos do
estabelecimento das pessoas no espaço em que vivem (casas, bairros, cidades,
países), de acordo com as formas de conduzir o cotidiano (cultura, linguagem e
hábitos). Das formas desta condução, em relação ao estabelecimento, podem ser
entendidas as situações de Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana.
Mascaró e Mascaró (2009) colocam que a Ambiência Urbana, tal como avaliada
nas cidades e condições de habitabilidade, deve ser importante ponto de estudo,
análise e delimitação de prognóstico, a partir da degradação ou impacto ambiental. Os
autores propõem o estudo e análise do microclima (resultado da combinação dinâmica,
pela falta ou a instabilidade de elementos físicos), bem como dos elementos biológicos
e antrópicos, levando ao diálogo entre as partes que transformam a paisagem em um
elemento único e inseparável – Imagem em movimento.
No conceito de Ambiência Urbana, para Mascaró e Mascaró (2009), está presente
a preocupação com sua qualificação. Todavia, este estudo propõe que não se pense a
Ambiência Urbana somente neste modelo, mas de acordo com a captura da imagem do
bairro, seja ela qual for.
Para estes autores, a Ambiência Urbana se define pelos seguintes elementos
norteadores (para facilitação de identificação, como condições do bairro): Clima, Clima
20
Urbano, Recintos Urbanos, Vegetação, Ruas e Praças. A partir destes elementos, o
conhecimento que se pretende obter é uma dimensão das amplitudes do bairro, como
uma fotografia de atuação dinâmica e estrutural (uma imagem em movimento), as quais
se configurariam como a Ambiência Urbana do Bairro Santo Antônio e sua iconografia.
Acrescem-se a estes elementos outros que são julgados importantes, relativos ao
trânsito das pessoas do bairro diante das condições do próprio bairro: dispositivos
públicos (Programas de Saúde da Família, Escolas, CRAS e Igrejas) e dispositivos
privados (Hotelaria e comércios locais). Unem-se os elementos apontados e as
condições do bairro, podendo ser refletidas e consideradas nas relações da Ambiência
Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana.
Para o desenvolvimento da pesquisa escolheu-se o bairro Santo Antônio, em São
João da Boa Vista, por ser um dos bairros mais antigo da cidade, por seu aporte
histórico e fundador da cidade, por suas caraterísticas peculiares de vivência e seus
códigos de interação.
21
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.5 PRESSUPOSTO
22
2 APORTE TEÓRICO
Um bairro, inserido na cidade, tem como ponto de partida sua história; marcas
que indicam os sinais do discurso do espaço urbano. Este discurso é tecido
sensivelmente pelos acontecimentos vivenciados por cada um na construção social das
relações cotidianas.
O espaço urbano, qual uma cartografia urbana, observa-se a construção do
todo nas representações de um espaço-local, não como um rebatimento, mas como
presentificação da realidade observada. De modo geral, a vida urbana é a vida dos
relacionamentos, em que as identificações e mudanças promovem acontecimentos
dentro do ideário destas mesmas representações.
23
subjetivas. Em se falando de semiótica do espaço, o que pode ser proposto é a
orientação dos efeitos de sentidos, no qual a noção do espaço conecte-se como
pensamento para construir sentido de análise.
Um território se qualifica como sendo este lugar que pertence ao interno e à
construção externa ou do privado ao particular (TEIXEIRA e ANDRADE, 2010). O mapa
seria a representação traçada e demarcada de uma região que arbitrariamente é
imposta dentro de uma área (também sobre suposição de determinada dimensão, um
decalque); é a composição entre o que está posto e seu intérprete; como considera
Lefebvre (1983, p.114) é “uma presença na ausência”.
Isto implicaria, para o ser humano, uma exterioridade demarcável para além de
sua representação,
24
Na cartografia o objetivo fundamental seria “reconhecer uma multiplicidade de
enunciações existentes em um território, por meio de seus acontecimentos, e como eles
são agenciados por sujeitos e objetos” (SOUZA, 2006, p. 19). Nesta perspectiva,
existiriam delimitações que podem fracionar um espaço e manter uma forma gráfica de
observar uma determinada região. Isso permitiria, a partir de seu registro, distinguir
quais são produzidas em um território. As diferenças são expressas em formas de
resistências, contrastadas nos modos contínuos e lineares de forjar as existências das
relações humanas.
A tarefa do cartógrafo, portanto, seria a de recriar, na forma de um mapa, os
processos de subjetivação, diferentes lugares, ou, ainda, diferentes planos de
existência num mesmo território. O ato da cartografia nunca visa à produção fiel do
território, pois reconhece sua especificidade, qual seja, “mapear um território e explorar
a natureza, percorrendo espaços e nele identificando lugares – territórios dotados de
sentido – ou descobrindo paisagens – recortes do espaço organizados pela estética do
olhar” (PASAVENTO, 2005, p. 17).
A Cartografia Urbana – que também poderia ser pensada como Arquitetura
Social (HOLANDA, 2006) – apresenta-se como o acesso à história de um lugar e aos
grupos que dele participam (LEROY, 2010). Já a cartografia social abrange qualquer
aspecto territorial, seja urbano ou rural, buscando compreender a complexidade de
suas relações. As ambiguidades e conflitos dos grupos são tecidos importantes da
dimensão do território e é através deles que se organiza a Cartografia Urbana.
Qualquer território se traduz em disputas dentro do espaço, sendo a história do
lugar uma forma de diálogo. Esta história é sempre única; quando se vive uma história
de um espaço, os códigos recebidos e enviados são vivos em um fato distinto
(RAFFESTIN, C. 1993; SANTOS, 1994; SAQUET, 2007).
25
O que se pode observar é que várias são as camadas que compõem um bairro.
Assim como a explanação de Raffestin (1993) ao descrever as situações que podem
diferenciar a vida de uma cidade, nos bairros encontram-se outras referências como,
por exemplo, sua história de ocupação e apropriação do local, sua heterogeneidade de
articulações construídas durante o processo e a fabricação de intervenções sociais,
tanto pelo Estado (poder público), como pela Sociedade Civil Organizada. Estas
sobreposições de efetivação da existência humana sobre um território específico são
alinhavadas pelo discurso acerca dos direitos sociais, como os de moradia, trabalho,
educação, saúde, lazer e de segurança (SOUZA, 2006).
A construção do conhecimento sobre as formas das relações humanas, levando
em consideração as diversidades, expressa a realidade cotidiana e, não obstante, a
construção para o conhecimento mais amplo da sociedade. A compreensão do humano
é também, complexamente, a compreensão da humanidade, dialógica e diversamente,
logo:
O arquiteto olha o homem como ser individual dentro dos padrões de qualidade
e as cidades não como sendo um simples organismo capaz de preencher
satisfatoriamente e sem esforços as funções vitais próprias de uma cidade
qualquer, não apenas como URBES, mas como CIVITAS.
28
O termo Ambiência também é usado pelas áreas de Agricultura e Agronomia,
visando compreender e conhecer as condições de clima que favorecem o cultivo e as
características físicas, climáticas, de instalação e regionais na criação de animais.
Martins, Marchetti e Reis (2013) indicam que o avanço tecnológico (geoprocessamento)
tornou possível mapear e prever situações na direção de uma Ambiência Sustentável,
no sentido de uma agricultura de precisão.
A definição de Ambiência Urbana cabe também para a melhoria em locais de
trânsito, a partir do número de moradias legalizadas e normatiza uma série de conjuntos
de aplicações e estruturas sociais tal como a que se refere à permanência e ao
movimento das pessoas nos lugares e nas cidades1. É necessário que se olhe para a
rua; isto, para além de uma questão de segurança, é, também, uma forma de
apropriação ao espaço urbano. A ação de pessoas faz com que a rua, a vila, as praças
devem, aprioristicamente em estarem seguras, Jacobs (2011, p. 37) aponta que:
1
Ver, a este respeito, http://www.ambienciabrasilia.com.br/tag/relatorio-de-impacto-de-transito/ -
detalhes que não aparecerão aqui por fugirem ao tema do trabalho.
29
Todavia, ainda assim, existe a complexidade público/privado, bem como as
oposições binárias de organização do espaço. Segundo Lawrence (1997), estes
códigos binários são, a um só tempo, funcional, espacial, social e psicológico – sua
classificação é tanto a demarcação como a transferência entre qualquer dos polos do
código. Esta transferência se processa e reflete a questão do projeto, “onde o público
se torna privado, a frente se torna fundo, assim como o profano se torna sagrado”
(LAWRENCE, 1997, p. 73).
Os exemplos apresentados por Lawrence (1997) são exercícios de observação e
comprovação didática para a realização dos trabalhos e oferecem soluções práticas
para evoluir os projetos, por um lado, fundamentando as soluções clássicas. De outro,
expõem as tendências empregadas emocionalmente e harmonicamente aos conjuntos
projetados. Assim sendo, pode-se pensar que a estrutura de um projeto arquitetônico,
formal ou informal (particular e privado), é da ordem da complexidade do partido
tomado pelo idealizador – e é a partir desta complexidade que se pensa a Ambiência
em Arquitetura em sua função das ações binárias e seus modelos.
A definição de Ambiência em Arquitetura se ordena no sentido de compreender a
“relação pessoa-cultura-ambiente construído” (DUARTE et al., 2007, p. 07).
Completando-a, Tozzi (2005) indica que aos espaços construídos como desejo do lugar
acrescenta-se às visões cenário/abrigo que encerram a ideia de bairro. A Ambiência
busca entender a cidade, a vila, a casa, aprioristicamente observando suas relações
entre o entorno e seu interior, para que se apreenda não só o lugar, mas o homem em
sua totalidade, tomando lhe pela história, compartilhando os significados pela
moldagem do espaço.
Em se pensando o espaço, sua organização e seu meio físico, pode-se
acrescentar os conceitos estéticos e psicológicos, desde as atividades humanas, em
meio sócio-político-econômico. Para Duarte et al. (2007, p. 02), desde o projeto
arquitetônico, “um espaço pressupõe não apenas a imaginação desse espaço, mas,
também, a capacidade do indivíduo de interpretar os fatos do mundo e processá-los”. E,
ao fazê-lo, pode-se marcar a passagem entre a percepção que promove a integração
social e os atos integradores. Colocando este morador dentro das relações entre o
sujeito e o mundo à sua volta, captura-se este sujeito/morador como participante eficaz
30
da urbanidade. Ainda por este viés, este sinal tem um papel atuante, como a presença
nas relações, através de experiências individuais (MORAES NETTO, 2014).
Ambiência em Arquitetura, então, integra várias disciplinas onde o ambiente é o
hiato, pois é este o ponto de diálogo entre elas. A base, formada pelo homem, é o piso
que faz tramar entre as formas mais remotas e a aquisição deste elemento (JODELET.
2002, p. 33). Na ‘visão adaptativa’, Berlinck e Hogan (1978, pp. 118-120, passim)
apresentam que
2
Estes últimos serão articulados apenas no estudo do bairro, pois não são descritos por
Mascaró & Mascaró (2009).
32
públicos e privados – necessários à sobrevivência ou característicos para a cultura do
lugar.
A seguir, a explanação sobre cada um deles, resumidos a partir de Mascaró e
Mascaró (2009).
2.1.1.1 Clima
33
tipologias climáticas variam entre as regiões, abaixo tipificadas por Mascaró & Mascaró
(2009):
a) Úmido – os regimes de chuva abundam sem estação seca.
Encontra-se na região amazônica. Incluem-se temperaturas
superiores a 18ᵒC, uniformemente consideráveis por todo o ano, com
chuvas intensas na estação em que o sol está alto e seca no sol
baixo.
b) Subúmido – apresentando maior índice de chuvas no verão,
caraterística da região Sudeste. Esta região se distingue por ter
temperaturas médias superiores a 22ᵒC e abundância de chuvas.
c) Semiárido – a transição entre os climas úmido e árido tem
caraterísticas de estepes, que se vê na região Nordeste;
comparáveis às médias da disjunção transatlântica do deserto do
Kalahari. A massa de ar que vem da África alcança o litoral brasileiro
e progride sobre o oceano no feixe de ventos límpidos que divergem
do flanco do anticiclone. Esta característica contribui para uma fraca
nebulosidade, com forte insolação e as mais altas temperaturas
pelas fortes evaporações do território.
d) Árido – variação desértica com escassez de chuvas, clima
característico do Sertão brasileiro. Nesta região predomina a estação
seca com inverno fraco.
e) Montanhoso – apresenta clima ameno e verão brando, como na
Mata Atlântica. As ocorrências desta região concorrem com as
características do restante do Brasil, a média anual é de 18ᵒC, com
amplitude térmica. As chuvas são bem distribuídas e os índices
superam 1.250mm/ano, podendo apresentar baixas de amplitude
térmica nas regiões serrana e de planalto.
34
Figura 2 – Ilustração das principais Zonas climáticas do Brasil – Fonte: Mascaró e
Mascaró (2009, p.14)
O Clima Urbano se define pela interferência humana, impondo sua forma artificial
ao meio natural e isto faz reflexo diretamente no clima. Tanto nas grandes cidades
quanto em sua menor proporção (nos bairros), há grandes variações de clima urbano.
Em cada lugar observam-se possibilidades de Qualidade de Vida Urbana de acordo
com as questões relevantes, tais como a percepção humana da termodinâmica
(Conforto Térmico), o aspecto fisioquímico (qualidade do ar) e, finalmente, o aspecto
hidrometeórico (impacto pluvial).
Estes elementos podem ser percebidos na formação de eventos especiais como
as ilhas de calor, poluição do ar, mudança no balanço de radiação, redução das áreas
verdes, uso de matérias que absorvem muito a luz solar, cavidade (redução do fator de
visada do céu) cânions urbanos e inundações. O impacto sobre o Sistema Climático
Urbano (SCU) ocasiona anomalias pela conurbação urbana, que pode provocar
abafamento pela irradiação intensa sem que haja a quebra das ondas solares como no
caso das ilhas de calor, como apontam Monteiro (1975) e Mendonça e Monteiro (2003).
35
Os fenômenos acima apontados – termodinâmicos, fisioquímicos e
hidrometeórico – nada mais são que a compreensão do sistema climático que envolve
uma região. Para tal, uma observação acurada da topografia e dos modelos
morfológicos é a combinação de sua existência, sua relevância ordinal e seu porte em
relação à cidade, devendo ser objetivada para obtenção de predominância.
Em suma, o Clima Urbano deve ser percebido dentro de:
1) Configuração térmica ou resolução termodinâmica;
2) Qualidade do ar ou resolução físico-química;
3) Impacto meteorológico ou precipitações (impacto pluvial
concentrado).
A configuração térmica também está relacionada à capacidade de produção
transformadora da energia pela ação humana na cidade. Por outro lado, a qualidade do
ar também recebe o impacto da ação antropogênica. No caso das cidades isso ocorre
através da formação de domo climático (como representado na imagem abaixo). Ou
seja, há um impacto do homem sobre o ambiente. Dentre os aspectos elencados, o
Conforto Térmico é o que poderia ser articulado aos temas de Qualidade de Vida e
Sustentabilidade.
36
As informações climáticas podem ainda ser consideradas como:
a) Macroclima – descrito em estações meteorológicas, diz do clima geral
de uma determinada região, sendo esta detalhada aos fatores de
insolação, nebulosidade, precipitações, temperatura, umidade
relativas, ventos e mais. As estações meteorológicas são
equipamentos que servem para correlacionar o caráter climático geral
e regional, mas também podem fornecer dados suficientes para uma
sondagem sobre uma provável influência urbana, como o crescimento
e sua intervenção em um determinado local.
b) Mesoclima – compreende a obtenção dos dados relevantes ao
macroclima requeridos em regiões topográficas como vales,
montanhas, vegetações, massas de águas, assim como massas
verdes de coberturas, dentre outras. Assim, estes fatores denotam as
possibilidades de uma topografia e os fatores relativos à ocupação
humana pela urbanização, pelo uso da terra, os padrões das
edificações, áreas abertas, adensamentos e padrões da vegetação.
c) Microclima - Os fatores relacionados ao microclima são obtidos
também pelas atuações humanas (antropométrico) sobre o entorno,
fazendo diferença quanto à Ambiência. É o fator atmosférico próprio
de um local ou de vários pontos de uma montanha, de um fundo de
vale, bem como os limites térmicos físicos identificáveis, como ruas,
praças e estações urbanas, que interferem em todas as condições
climáticas de uma região. Inclui ainda a irradiação solar ou, de acordo
com a incidência dos ventos, a reflexão nos leitos carroçáveis, as
condições de empraçamentos ou paisagismos públicos.
A este respeito cabe ainda destacar dois aspectos: A) Invariante de intensidade:
onde sempre é mais fresco, por exemplo; B) Ciclagem previsível: por exemplo,
amanhecer mais fresco, com tardes quentes e brisa ao entardecer.
O diferencial entre a Microclima e o Macroclima é que o caráter microclimático
evidencia fatores locais, atenuando ou não os fatores originários do meio externo e
interfere no contexto macroclimático. O mesoclima está associado a fatores isolados em
37
si mesmo, como a chuva que cai ou um vento que sopra sobre um determinado local,
de uma determinada altura, de acordo com uma determinada topografia. Todavia, esta
chuva e/ou vento por ser condicionada a uma característica externa ao recinto,
podendo quebrar os efeitos microclimáticos deste lugar.
O poder psicológico destes dispositivos não pode ser assim tão facilmente
posto de lado – os eixos, recintos, grelhas, centros e polaridades são funções
da experiência humana comum e do modo como são construídas as nossas
mentes. Assim, estas influências são impactos reais da forma das cidades, para
o bem ou para o mal e devem ser tomadas em consideração em qualquer teoria
normativa.
Ψ (FCV) = ( ___
d )
h
(MASCARÓ, 2015)
39
Considerando-se os cálculos de Aida (1982, citado por MASCARÓ, 2015),
observa-se a proporção de insolação, enquanto Geometria Urbana, indicando que
existe uma relação (h/d) com incidência entre 0,5 e 2,0; isto para uma região subtropical
úmida (referente à região Sul brasileira, local da pesquisa de Mascaró e Mascaró
(2009). Esta seria uma condição razoável para vias arborizadas.
2.1.1.4 Vegetação
42
Figura 5 – Quadro síntese de arborização em vias públicas –
Fonte: Sec. De Meio Ambiente e Sustentabilidade – Recife (2013)
Um dos eventos para uso racional da massa verde está na questão reflexiva do
sol. A variação do coeficiente reflexivo ou de reflexão (albedos) é uma condição
específica das folhagens, que podem ser classificadas em seu distanciamento, na sua
distribuição, na densidade do tronco, na translucidez (transparência), na sua coloração,
na espessura da folha, nos ângulos em relação à radiação solar, a filtragem. São
características de interceptação parcial da radiação solar; somando-se estas
características à interação de cada espécie, obtém-se a melhor condição climática em
um ambiente construído.
43
Albedo é a reflexão de um corpo não luminoso que difunde a luz recebida. A luz
sofre variação pelo uso do solo e pela composição da superfície. Desta forma, a ação
antrópica também tem influência sobre a reflexão quando se retira a vegetação para
composição urbana. Sabe-se que a massa verde absorve até 46% da radiação e ondas
curtas.
2.1.1.6 Ruas
45
local e afeta no uso energético das cidades, conforme destacado por Mascaró e
Mascaró (2009).
No desenho universal e morfológico, em seus planos dimensionais, apresentam
as fachadas das casas e dos edifícios, passeios e vegetação. Na rua, acontece a cena
urbana e se difunde o recinto urbano dentro dos planos longitudinais e horizontais. Faz-
se a delimitação entre as calçadas, espaço pedonal e leito carroçável, convoca o
traçado para a coordenação de distancias, é pertencente à arquitetura da cidade. A rua
é o espaço de movimento vivenciado, sendo suas condutas a razão de sua
procedência, “Além da figura pública ancoradas nas calçadas e de outras bem
conhecidas que ficam circulando, é bem capaz de haver muitas figuras públicas mais
diferenciadas numa rua urbana” (JACOBS, 2013, p. 74)
As propriedades de maior atuação das ruas são a absorvância, emitância e
refletância (RODRIGUES, 2014). Quando à sua largura, transmite conforto e confiança.
Uma outra característica é o plano lateral, com a presença da vegetação em um espaço
humanizado que coordena o desenho urbano.
1) Absorvância ou absorbância – Capacidade intrínseca de uma absorção de
frequência e radiação sendo ela especifica;
2) Emitância radiosa – que é a capacidade de um corpo transferir calor por meio
de ondas;
3) Refletância luminosa – é a capacidade de um corpo, sob uma luz, de
repassá-la ou desviá-la para um outro sistema.
Sua orientação diversificada pode favorecer a incidência de radiação, de ventos
e sensação térmica dos materiais e de sua morfologia microclimática. A partir de sua
orientação, assim como sua largura e altura, obtém-se a perspectiva de sua
representação e seu valor simbólico para a cidade, bairro ou vila onde se encontram –
comercial, residencial, industrial.
As ruas secas são caracterizadas por não possuírem leitos carroçáveis ou pelo
menor fluxo de veículos, não sendo arborizadas e bastante ensolaradas. As ruas
(quase) secas permitem fluxo restrito de veículos e pedestres, com poucas árvores e
pouca insolação. Já as ruas largas e secas têm um leve escoamento de veículos ou
46
têm um fluxo moderado, contam com passeios largos, de média arborização e uma
utilização moderada para circulação de pedestres.
Não obstante, a rua larga e úmida proporciona um índice moderado para
circulação de veículos, contam com passeios largos e grande número de árvores e seu
fluxo de pedestres também acontece.
2.1.1.7 Praças
47
pulmões da cidade, por permitirem frescor às suas mediações. Cumprem funções
básicas e principais que são cívicas, religiosas e comerciais, em que cada um destes
momentos se refere à característica do lugar.
As praças geralmente são escolhidas para que uma população se reconheça
como pertencente ao lugar e dela sejam donos. Em outras palavras, as praças reforçam
o empoderamento ao lugar, trazem consigo significados simbólicos e de percepção do
entorno (LENGEN, 2008).
A praça contém o fator de visibilidade, de civismo e de fé. É um espaço urbano
de grande significado para a cidade, de diversidade estética e de Arquitetura. É um
espaço cênico complementar à montagem figurativa do recinto urbano, cuja topografia
também pode ser pensada como fator de contemplação, unidade e prazer. A praça é
um espaço de vivências, por seus arranjos unificadores, em seus eixos e sua
conformidade de diálogo.
As tipologias para as praças também dependem de seu simbolismo e, para isso,
este volume oco deverá ter função. As praças secas são predominantemente sem
árvores, sobressaindo-se a iluminação, as fontes e chamando a atenção para sua
edificação principal, seu conjunto arquitetônico e sua cenografia. Além disso, tem o céu
visível intensamente.
As praças úmidas geralmente contam com jardins com traçado tradicional.
Combinações entre árvores a arbustos podem ter espelhos d´agua. Seu piso é
harmonioso e com combinação de materiais para favorecer o caminho e a observação.
As praças úmidas são, por sua natureza, locais de grande agradabilidade, são recintos
urbanos protegidos dos ventos e favoráveis aos passeios. Podem contemplar edifícios,
casas e comércios.
Pode-se resumir os elementos de Ambiência Urbana de acordo com o quadro
abaixo, para futura análise do bairro Santo Antônio:
48
Quadro 1 – Resumo dos aspectos de Ambiência Urbana
Aspecto Descrição Sim Não JUSTIFICATIVA
Clima
Clima Urbano
Recintos Urbanos
Vegetação
Ruas
Praças
Fluxo e trânsito
Dispositivos Públicos
Dispositivos Privados
Outros Dispositivos
Tais aspectos (ou condições do bairro) se orientam referidos uns aos outros de
forma dinâmica e isso reflete diretamente na forma de viver. Portanto, “repensar a
Ambiência urbana é refletir sobre Qualidade de Vida na cidade perante as atuais
condições de crise global e local” (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009, p. 167). É sobre a
Ambiência Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana que se
versa a seguir.
49
geração, a responsabilidade por suas condições de Qualidade de Vida na
sociedade e pela biosfera.
Pode-se dizer, a partir do exposto até aqui, que o estudo da Ambiência Urbana
parte do estudo de um espaço físico – dito cenário –, das representações das relações
sociais realizadas pelos atores sociais e suas conexões com o real, sem que se perca
de vista os valores referentes à cultura e seus meandros. E, por sua vez, por se tratar
de relações humanas, seu aspecto se define como a rede de fatores que perpassam
pela Qualidade de Vida e pela Sustentabilidade, para que estas mesmas relações
tenham sentido ao longo da vida, construindo memórias e afinidades entre as pessoas.
O termo Qualidade de Vida foi empregado pela primeira vez pelo presidente
americano Lyndon Johnson em 19643: “os objetivos não podem ser medidos através do
balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da Qualidade de Vida que
proporcionam às pessoas”. É neste conceito que se amparam as pesquisas dentro das
ciências sociais, filosóficas e políticas. As ciências médicas fizeram acréscimos em
torno deste conceito, fazendo com que este tema ganhasse o significado de condição
de saúde e bom funcionamento social, tendo como sinônimo a própria definição “vida
de ou com qualidade” (MINAYO, 2003).
Qualidade de Vida pode ser definida, também, por uma variedade de potencial
maior das condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus sentimentos e
comportamentos relacionados com seu funcionamento diário. Porém, não se limitando à
sua condição de saúde e às intervenções médicas (WHOQOL, 1988).
Para Nobre (1994), Qualidade de Vida é um dos pilares da reflexão sobre o ser
humano. Neste sentido, seria dar aporte à redução de males que afetam o homem. É
um conceito baseado na aplicação da atuação física e ambiental pautada pelo
comprometimento humano ao meio natural.
Rufino Netto (apud MINAYO, 2003) considera Qualidade de Vida como aquela que
oferece um mínimo de condições para que os indivíduos nela inseridos possam
desenvolver o máximo de suas potencialidades. Portanto, deve-se pensar a Qualidade
3
“For the ultimate test of our civilization, the ultimate test of our faithfulness to our past, is not in
our goods and is not in our guns. It is in the quality--the quality of our people's lives and in the
men and women that we produce” (JOHNSON, 27 de Agosto de 1964).
50
de Vida como sendo dimensionada quanto à possibilidade de que se desenvolvam as
potencialidades das pessoas no seu viver, desde trabalhar, amar ou produzir. Logo, a
Qualidade de Vida é um conceito que se compreende pelos fazeres cotidianos.
A noção de Qualidade de Vida está envolvida com múltiplas questões e, em face
desta multiplicidade, pode-se compreender a diversidade humana. Porém, acesso a
bens de consumo específicos (água, alimentação, habitabilidade, trabalho, educação,
saúde e lazer) são elementos que dizem diretamente das possibilidades de uma forma
realizável de bem-estar, de Qualidade de Vida. Para Matos (1998), devem ser incluídos
os modos de relevância das questões que abarcam o conforto.
A partir das considerações acima, pode-se pensar que as realizações pessoais e
grupais seriam índices de Qualidade de Vida. Atingir a satisfação relacionada à vida
social, ambiental e afetiva sem deixar de considerar a estética existencial, permitiria
efetuar uma síntese elementar de um grupo social. Todavia, esta busca de realizações
deve considerar, minimamente, a possibilidade de manutenção do grupo e vice-versa,
na direção da Sustentabilidade.
A questão da Sustentabilidade é um dos pontos de grande importância para se
pensar na viabilidade da vida humana. Nas palavras de Berté (2009), a civilização está
em um momento de transição entre a situação e exploração e a de ocupação. Tal
momento, de cunho extrativista, não é sustentável, impedindo a vida.
Vaz (1995) compreende que planeta e seres humanos deveriam ser considerados
quanto à ética do comportamento do homem em ação social (cuidando de si, dos
outros, do ambiente). A dimensão do cuidado vai de encontro ao meio ambiente e ao
coletivo.
Em 1972 ocorreu a publicação do Relatório do Clube de Roma (The Limits to
Growth) que denunciava os riscos globais e dos efeitos causados pela poluição, junto
aos esgotamentos dos recursos naturais. Nessa direção, é fundamental que se busque
um limite para o crescimento (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A conferência da ONU, no mesmo ano, 1972, sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente em Estocolmo, Suécia, teve a participação de 113 países. Foram
apresentados por Ignacy Sachs os cinco conceitos do Eco desenvolvimento (título
precursor ao Desenvolvimento Sustentável): Social, Econômico, Ecológico, Espacial e
51
Cultural. Em 1975 surgiu a elaboração do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND-1975/79) e a definição da propriedade para o controle da poluição industrial
(GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A noção relevante ao desenvolvimento sustentável entra em evidência
internacional em 1980, na apresentação do Relatório Word Conservation Strategy
(International Conservation of Nature/ Natural Resources) (UICN, 1980), em que os
objetivos globais deveriam ser: “alcançar o desenvolvimento sustentável pela
conservação dos recursos vivos” (LELÉ, 1991).
Esta discussão iria se consolidar no Relatório Brundtland (1987), depois sob o
tema Our Common Future (1991), com adesão política dos países em desenvolvimento,
gerando a Rio-92. Já em 1997, no Protocolo de Kyoto, no Japão, vê-se um relatório de
discussão e negociação para a redução obrigatória das emissões de gases do efeito
estufa, com a participação de países membros. O tratado continuou sua elaboração
com a participação de 187 países em 2009 (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
John Elkington, em 1999, concebeu o Triple Bottom Line (TBL) para pensar as
empresas e entrelaçarem os componentes do Desenvolvimento Sustentável:
prosperidade econômica, justiça social e proteção ao meio ambiente – o Tripé da
Sustentabilidade (Social – Econômico – Ambiental). Em Johanesburgo, 2002, a
Conferência Mundial Rio+dez instituiu a iniciativa Business Action For Sustenable
Development. Em 2006, no documentário de David Guggenheim, viram-se as questões
da degradação do planeta e o paradigma planetário (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
Em 2009, os desafios do planeta e da Sustentabilidade foram regredindo e sendo
levados ao esquecimento das responsabilidades para um futuro comum. Em 2009
surgiu novo fôlego para a questão, através da 15ª Conferência sobre o Clima, com a
participação de 25 chefes de estado nas Nações Unidas. Em Cancun, México, em
2010, com a participação de 194 países, houve a 16ª Conferência das Partes da
Convenção Quadro sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) – COP-16. A continuação
desta conferência se deu na África do Sul, na cidade de Durban, em 2011 e contou com
a presença de 200 países; a COP-17 deveria substituir o Tratado de Kyoto (GAMBA e
RIBEIRO, 2013).
52
A COP-18 aconteceu em Doha, no Qatar, com início tenso por ter que enunciar o
aumento da compra de créditos de Carbono e por decidir cobrar dos países os critérios
acordados em Kyoto que findariam em 2012. Alertando que as emissões de CO₂ em
2010 superariam os cálculos para 2020, os 190 países decidiram dilatar o acordo de
2012 para 2020 e os países desenvolvidos subsidiariam os países em desenvolvimento
para custear o desmatamento. Na COP-19, em 2013, na Polônia (Varsóvia), os 190
Países participantes anunciaram novo protocolo para cortar o uso de Gases de Efeito
Estufa/GEE (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A COP-20 em Lima, Peru, 2014, teve como objetivo o combate ao aquecimento
global e a redução de danos podendo ser entendido como impacto climático e a revisão
do INCD/Intended Nationally Determined Contributions (compromisso dos países na
redução das taxas de CO₂). Dos 196 países participantes, a estimativa será de uma
redução de 40% a 70%, revista em documentos trimestrais até Pré-2020 (quando o
Protocolo de Kyoto perder a validade e haverá nova revisão das metas). Com isto,
projeta-se a redução da temperatura em 2ᵒC no planeta. Em 2015, a COP-21 de Paris
propôs uma agenda de soluções em que as trocas foram as boas práticas e o fomento
de tecnologias para a mitigação do efeito estufa e das adaptações aos impactos
climáticos e financiamentos, mas também a troca de informações para a economia de
baixo carbono (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A Sustentabilidade passa a ser debatida no Brasil somente após a
redemocratização, criando, a partir da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), a Política
Nacional do Meio Ambiente.
55
Quadro 2 – Critérios de Análise de Qualidade de Vida
IQVU
TEMAS
ABRANGÊNCIA ENFOQUE
HABITAÇÃO Área superficial construída, padrão de Lugar
construção e conforto domiciliar. População
56
2.2.2 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA
Silva e Romero (2015, p. 05) destacam que o cuidado com o impacto ambiental
seria essencial para a “implementação de um metabolismo circular para o urbano”. Mas
isso, urbanisticamente falando, vai depender da
57
Quadro 3 – Critérios de Análise de Sustentabilidade Urbana
TEMAS SUSTENTABILIDADE URBANA
ABRANGÊNCIA ENFOQUE
ÁGUA Conservação, água da chuva, águas residuais, Lugar
sistema cíclico. População
ENERGIA Eficiência, conservação, fontes limpas e renováveis. Lugar
“aspectos vistos permitem concluir que são as práticas do meio social os fatores
provocadores das mudanças (positivas ou negativas) na qualidade do meio
ambiente, é, portanto, necessário ter algumas noções sobre o meio social. Para
isto olhá-lo por dentro, o que significa integrar-se no processo, observar e
absorver o movimento da sociedade como todas as suas variáveis
contextualizar-se”.
59
Sendo assim, a favor da inserção das duas dimensões – agrupamento urbano e
processo de agrupamento humano – os quatro elementos do quadripé da
Sustentabilidade Urbana (social, econômico, ambiental e governança) seriam
inseparáveis e deveriam ser contemplados para se refletir sobre todo e qualquer
espaço de ocupação humana. Mascaró (2010) define um projeto urbano sustentável, ou
Ecoprojeto, como o que aprimora o imperativo da Sustentabilidade Urbana na forma da
Ambiência Urbana; acrescenta que a empregabilidade de tecnologias seria um dos
elementos fundamentais para uma nova cultura de projetos, no sentido da pós-
urbanidade.
Segue-se a delimitação metodológica do trabalho e a proposta de análise dos
resultados.
60
3 MÉTODO
4
Plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDMH), bem como as
Unidades de Desenvolvimento Urbano (UDH), extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e
2010, conduzidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Fundação João
Pinheiro e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Fonte disponível em
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/sao-joao-da-boa-vista_sp#renda
61
pela Organização das Nações Unidas é de 17,9/1000. Na Educação, a taxa de
analfabetismo é de 95,15 da população entre 6 e 17 anos no ensino básico, com
defasagem em torno de até dois anos. A média de anos de estudo em 1020 foi de
11,04 anos.
Dentro do município, o bairro Santo Antônio está localizado nas coordenadas -
21° 59’05. 27” S Latitude, 46° 48’20. 13” O. A altitude é de 780m (ASSESSORIA DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA, 2003), a
ser indicado no item 5.
3.2 INSTRUMENTOS
62
3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE GERAL
63
3.5.2 MÉTODO ICONOGRÁFICO
67
4 RESULTADOS
68
mesmo distrito, ao qual São João da Boa Vista pertencia como área administrativa
(SCANAPIECCO, 2009; SÃO JOÃO DA BOA VISTA, s.d.).
O rio Caudaloso, hoje conhecido como Jaguari-Mirim, fora uma via de
comunicação importante para a região; inclusive para a formação religiosa, já que
através dele chegara o primeiro padre a celebrar as missas na fazenda do senhor
Antônio Machado, o Padre Matheus José Leite. Nestes primeiros tempos era montado
um altar portátil para celebrar as missas. De acordo com documentos locados no
Cartório do 1º Ofício de Moji-Mirim, em Março de 1825 o Senhor Antônio Manuel de
Siqueira (tido como um dos irmãos Machado) foi quem doou parte de sua fazenda para
que se chegasse ao título de Freguesia (ARTEN, 2008, SCANAPIECCO, 2009).
Com a chegada do título de Freguesia, era necessário também um padre que
pudesse ficar permanentemente, e que este padre fosse autorizado pelo então Cônego
João Jose Vieira Ramalho. Fora designado o Padre Joaquim Feliciano de Amorim
Sigar. Com ele a capela foi curada e nomeada, de acordo com a Câmara Municipal da
cidade de São João da Boa Vista (SP) (ARTEN, 2008).
Nos relatos dos autores acima indicados, existe um ponto de convergência no
tocante ao Cônego João José Vieira Ramalho, (que poucos anos depois se tornou
Monsenhor), datado de 1846. Na segunda assembleia que consagrou a vitória ao
religioso, este elaborou o plano de divisão dos quarteirões e as divisões das terras
(primeiro plano para o urbanismo da cidade de São João da Boa Vista). Os moradores
da região Sudeste (onde se encontra o bairro Santo Antônio) não ficaram de todo
confortáveis com as alterações e, em especial, com a demolição da antiga Igreja de
Santo Antônio; houve revoltas e descontentamentos (ARTEN, 2008).
Ainda segundo Arten (2008), as reclamações feitas pelos moradores não foram
retornadas pelo já Monsenhor João Ramalho, gerando uma relação pouco favorável às
questões do atual bairro e a nova cidade que apontava. A própria troca do nome do
vilarejo de Santo Antônio do Jaguari para São João da Boa Vista não era agradável aos
moradores em questão, mesmo porque Santo Antônio era o Santo de devoção do
doador das terras (Sr. Antônio Manuel de Siqueira); levando-se em consideração que
este povo já estava ali alocado.
69
A divisão das terras, em conjunto com a proibição da navegabilidade do Rio
Jaguari-Mirim, teria sido um modo para garantir um melhor controle pelo Império, já que
era por este rio que se burlava o fisco da coroa. A união deste fato com a quadrícula ou
da formação das quadras propostas pelo Monsenhor João José Ramalho foram marcas
importantes para a região e mais ainda para o bairro Santo Antônio.
Nos dias atuais, São João da Boa Vista conta com um programa extenso de
Plano Diretor, cuja meta é pensar a cidade para 2050 (SÃO JOÃO DA BOA VISTA,
2015). Por isso, o plano diretor tem o nome de São João da Boa Vista 2050, que
contempla os seguintes eixos estruturadores:
1. Coesão Social
2. Desenvolvimento Sustentável
3. Mobilidade
4. Valorização do Ambiente Natural e Construído e da Paisagem
5. Desenvolvimento Econômico
Estes eixos foram descritos como vetores de linha de desenvolvimento,
pensando-se o futuro que a cidade pretende alcançar com propostas de significância e
relevância. Tudo aponta para que se possa obter uma cidade com Qualidade de Vida,
equidade e suporte ambiental, sem que se perca a valoração dos dispositivos aplicados
como participação e direito à cidade.
Os eixos possuem vários objetivos, considerando-se valores históricos,
ambientais e de patrimônio da cidade. A partir deles, consideram-se:
Promover o crescimento da cidade de forma equânime e responsável, no
sentido da Sustentabilidade.
Ações que colaborem para a convivência, a diversidade, o respeito mútuo
e a tolerância, associados ao aprimoramento da segurança urbana.
Qualificam-se os espaços públicos e a sua manutenção, assim como a
conservação destes locais, promovendo a segurança dentro dos usos
adequados e a circulação nos espaços.
Garantir os serviços e equipamentos urbanos para todos do município, de
acordo com sua diversidade. Para isso, considerar mobiliário, espaço e
70
equipamentos urbanos, uso e acesso às vias públicas com tratamento e
garantias de uso eficaz.
Avaliar as diretrizes distributivas dos serviços relacionados ao território,
promovendo as garantias de atendimento a toda população. Esta proposta
tem dois grandes vetores: a proposta de alcance público e a forma de
propagação dos equipamentos para que o desenvolvimento aconteça,
para além das inclusões propostas ao território.
Análise da logística do transporte, de passageiros e de cargas que
promovam o crescimento e o desenvolvimento do município, buscando
soluções práticas para viabilidade de seus moradores, sob a atenção a
norma vigente da ABNT-NBR 9050 de acessibilidade e edificações.
Nos aspectos de habitação e saneamento, que indicam a qualidade da
habitação no município, ações e projetos que focam o saneamento,
incorporando as demandas ao acesso a habitação, o fornecimento de
água e esgotamento, sem que se impacte o meio ambiente, procurando
legalizar todas as irregularidades que possam acontecer nas redes de
fornecimento e esgotamento.
No Plano Diretor não aparece nenhum bairro em especial, sendo elencadas as
regiões da cidade quanto a seus problemas e direcionamentos. Logo, não se contempla
o bairro Santo Antônio.
O Plano Diretor recebeu grande contribuição do projeto São João + Verde.
Iniciado oficialmente em 10 de abril de 2014, confluiu as ações isoladas de coleta
seletiva, arborização urbana e recuperação de mananciais, associando-se às
demandas da sociedade civil (ONGs e ambientalistas), todos preocupados com “a
necessidade de preservação ambiental frente ao acelerado crescimento da cidade”
(SÃO JOÃO MAIS VERDE, 2014, s.p.).
Este projeto atua de várias formas: grupos de trabalho, reuniões, palestras,
comunicação para sensibilização e mobilização. E tem três eixos estratégicos:
colaboração e participação social, comunicação horizontal, transparência, regularidade
e controle de resultados.
71
Especificamente quanto ao bairro Santo Antônio, destaca-se a iniciativa do
Conselho Comunitário de Segurança/CONSEG que, em 2015, através do projeto
Redescobrindo o Santo Antônio, desenvolveu atividades no bairro, com o objetivo de
“buscar soluções de maneira participativa às questões de saúde, educação, segurança
e ambientais” (CONSEG, 2015, s.p.). Estas atividades foram conduzidas em grupos
com os moradores, representantes da sociedade civil, da prefeitura municipal e
interessados, no sentido de construir o que a comunidade queria fazer com tais
questões.
Esta abordagem se fez em três etapas, nas quais os participantes tinham que
responder: “como é nosso bairro, como desejamos que ele seja e o que podemos fazer
para que ele se torne o que desejamos” (CONSEG, 2015, s.p.). Foram 60 participantes,
divididos em oito grupos de até doze pessoas, no primeiro encontro. No segundo e
terceiro encontros, participaram 45 moradores.
No relatório encontra-se uma visão de forma reprodutiva às discussões expostas,
seguindo um parâmetro do discurso estabelecido (uma reprodução do que lhes é dito)
dentro do discurso da participação social:
Aspectos positivos: bairro próximo ao centro, dispositivos privados
prestados à população (supermercado, cabeleireiro, hotel), dispositivos
públicos (creche, escolas, polícia ambiental, postos de saúde) e
dispositivos outros – de natureza assistencial/filantrópica (APAE, Igrejas,
Pastoral). Outras colocações: moradores antigos, todos se conhecem,
população unida.
Aspectos negativos: situações de violência, de mato, sujeira e terrenos
baldios, desemprego, jovens sem atividade, gravidez na adolescência,
ausência de farmácia, topografia acidentada, problemas com tráfico de
drogas, dependentes químicos e alcoolismo. Outras colocações: o bairro
só tem uma saída e uma entrada, “como se fosse uma ponte” (CONSEG,
2015, s.p.), ruas com buracos, iluminação ruim, falta espaço comunitário,
lentidão no atendimento à saúde (exames), poucos auxiliares e médicos
no posto de saúde, falta de projetos sociais, de lazer e educativos, falta
de segurança.
72
Nos encontros buscou-se estabelecer, com os participantes, linhas de ações que
permitam a obtenção de melhoria dos aspectos negativos. O Projeto Redescobrindo
Santo Antônio continua tentando priorizar e corresponder às demandas elencadas junto
ao poder público. Como exposto, não se pode melhorar o que não é fundamentado em
um protagonismo e autonomia.
Para iniciar a exposição dos resultados, o direcionamento será a identificação e
descrição dos aspectos da Ambiência Urbana (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009), em que
se pode elencar aspectos concernentes ao bairro Santo Antônio, parte da cidade de
São João da Boa Vista e arredores quanto a: clima, clima urbano, recintos urbanos,
vegetação, ruas, praças, acrescidos de dispositivos – públicos e privados.
“Mas nos confins da cidade, onde ouvi dizer que começa a natureza, ela própria
não está lá, e sim a natureza-antologia”.
Joseph Roth – Berlim, 2006.
73
O que podemos fazer para que ele se torne o que desejamos (e não, o que
queremos que seja feito).
O que podemos fazer.
Posteriormente, a partir deste momento anterior, houve convite para a
participação (como ouvinte) de um evento para incentivar o protagonismo social no
Bairro Santo Antônio. Este grupo já tentava se reunir no sentido de coesão para
enfrentamento dos problemas do bairro, formado por pessoas que, de alguma forma,
conviviam com os moradores e que, também, de alguma maneira, tinham voz
permanente com estes moradores. Era um grupo heterogêneo, com representantes
religiosos, políticos, conselheiros municipais, profissionais da área de educação, da
saúde e comerciantes.
Com este grupo procurou-se restabelecer a construção do grupo anterior (Projeto
Escuta Social do bairro Santo Antônio). Questionados sobre o material que
desenvolveram, receberam-se respostas evasivas - “pode deixar que lhe envio” ou “vou
procurar se ainda as tenho” – mas sem resultado efetivo.
Neste novo agrupamento, a visão de uma formação para o protagonismo social e
a autonomia destes moradores colocava em pauta a necessidade de se ouvir os
moradores. Contudo, no grupo, estes não estavam presentes; uma exceção era de um
profissional da educação.
A primeira oradora de uma das reuniões era uma professora universitária que
buscava, em seu diálogo, levar o grupo à própria compreensão, indagando sobre o que
estariam fazendo ali. No entanto, o diálogo não se estabeleceu, pois aos participantes
não parecia claro como este protagonismo se estabeleceria e como isto levaria a uma
maior autonomia ao bairro Santo Antônio.
Do lugar de ouvinte, refletia-se que, se havia, mesmo, esta intenção, de levar
protagonismo aos moradores do bairro, isto deveria ser feito na presença destes.
Todavia, a reunião se mantinha entre os presentes, não se conduzindo para o convite
efetivo aos moradores.
Em novas reuniões, as poucas falas não traziam reciprocidade nem profundidade
no sentido da intenção primeira. Neste contexto, foi solicitado que o autor deste estudo
conduzisse a reunião seguinte.
74
Iniciou-se a apresentação, pois, na qualidade de mestrando e professor. Buscou-
se ouvir cada um e que cada um conseguisse escutar o outro em suas demandas, no
sentido reflexivo, mesmo que isso fosse demorado ou, por vezes, desagradável.
A proposta era composta de dois momentos. No primeiro, apresentou-se o
documentário “A banalidade do mal”, de Hannah Arendt, para suscitar a percepção
sobre o outro; no caso, perceber o morador do bairro. No segundo momento,
conversou-se acerca desta questão, mas com pouca adesão dos participantes, que
demonstraram não conseguir relacionar a importância da participação dos moradores
neste grupo com o momento de discussão.
Sugeriu-se, então, que se buscassem multiplicadores – representantes do bairro
– que, de dentro do bairro, favorecessem o diálogo próximo às soluções de
viabilidades. Esta sugestão era uma aposta que traria riscos de debates ou de conflitos,
mas permitiria construir mais acerca do protagonismo social e da autonomia social.
O grupo não se manteve, informou-se que estariam em intervalo, findo o qual,
avisariam. Isto não aconteceu.
4.1.3.2 Em tempo
Mesmo sem ter obtido êxito neste primeiro encontro, continuou-se a olhar o
bairro Santo Antônio como espaço a ser compreendido. A partir do lugar da Arquitetura
e do Urbanismo, via-se a viabilidade de entender o bairro como objeto de estudo para
este trabalho; sendo neste sentido a busca por artigos e estudos afins a esta ideia de
leitura de um bairro.
Uma temática a este respeito já havia sido delineada por ocasião do projeto de
pesquisa apresentado por ocasião do ingresso no Mestrado – Ambiência em Centros
de Atenção Psicossociais/ CAPS’s – e encontrou-se proposta semelhante nos autores
Mascaró e Mascaró (2009), sob o título de Ambiência Urbana.
Nos meses seguintes, a procura por um agente de ligação foi-se firmando na
costura dos elementos elencados pelos autores, estabelecendo-se um elo de diálogo
com o bairro observado e suas questões históricas. A cada leitura era possível pensar
no bairro de forma mais clara, na forma de leitura de sua realidade, a construção do
75
lugar. Logo de início, a reflexão de um espaço às margens da cidade, resultado da
própria constituição da sua história.
Como ponto de partida para a Ambiência Urbana, em função da peculiaridade
dos mecanismos observados, seguiu-se a sequência dos elementos indicados pelos
autores (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009): Clima, Clima Urbano, Recintos Urbanos,
Vegetação, Ruas e Praças. Com a leitura do texto de Nahas (2005), encontrou-se a
Qualidade de Vida Urbana e, com Silva e Romero (2015), a Sustentabilidade Urbana.
Sendo assim, houve um esforço para entender o bairro Santo Antônio em sua
pluralidade, sem deixar de nela identificar os aspectos teóricos. Para isso, foi
necessário entender como se dava a relação das pessoas com o bairro e isto se
mostrou nos Dispositivos Públicos, Dispositivos Privados e Outros – detalhes não
indicados por nenhum dos autores mencionados.
O diálogo entre a Ambiência Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a
Sustentabilidade Urbana parecem fazer parte de um todo neste pensamento e,
portanto, caberia a formulação de um Índice de Ambiência Urbana (IAU) – que viria a se
tornar, posteriormente, no tema Ambiência em Totalidade. Os elementos para compor
este trabalho foram configurando, no tempo, determinada velocidade, tramada pela
expectativa e pela configuração produzida pelo olhar ao bairro Santo Antônio.
Retomando a observação do bairro, antes visto no fim do dia, quando da
oportunidade das reuniões, raramente na manhã, era hora de conhecer seu cotidiano e
avaliar o que dele se dizia; por exemplo, de sua periculosidade, seria real?
Para comprovar o que se dizia, recorreu-se ao meio de conhecer o bairro através
de um de seus residentes. Começou-se a procurar pessoas próximas que teriam
acesso ao bairro. Encontrou-se um funcionário da universidade que se prontificou à
condução; não sem antes fazer questão de apresentar outros bairros da cidade, com
marcações bem definidas, praças, espaços recreativos, ruas arborizadas, elementos e
equipamentos urbanos, todos com as mesmas características.
Eis que, finalmente, no bairro Santo Antônio, como observador, uma sombra
passante, recebiam-se alertas sobre o perigo de estar adentrando em lugar
desconhecido, talvez perigoso, dizendo que só se poderia chegar até certo limite: - “Só
vou lhe levar até aqui, daqui para lá eu não vou – tem muito traficante aqui”.
76
4.1.3.3 Em tempo de observar (pela primeira vez)
A percepção do bairro Santo Antônio era a de que seria como outros tantos
lugares, com problemas e arranjos internos, que diferiam por questões puramente
adjacentes à sua construção; portanto, não se encontrariam surpresas; nem mesmo
deste perigo. Mas era hora de andar pelo bairro, conferir seus lugares, sua gente, sua
vitalidade e suas concepções.
Andar pelas ruas foi um momento em que se sentia a observação das pessoas,
os olhares, eram quase índices de que eu era uma invasão. Mas era uma troca de
lugares breves, após quase três horas de observação, de andar lentamente, refletindo-
se sobre o que se via, na troca de olhares, mas próximo o bastante para que se desse
sequência ao estudo que se desenvolvia.
E a experiência de estar neste lugar de observação contribuiu para o que se
estava pensando. Mesmo que houvesse receio do que se poderia encontrar, por não se
saber se a teoria se aplicava à realidade da forma imaginada, entendia-se que era este
o caminho.
77
parecia acobertar uma cisma mútua. As imagens foram sendo capturadas no quarteirão
que continha a escola Monsenhor Antônio David.
Em cada imagem liam-se os aspectos apontados pela pesquisa: Recinto Urbano
(seu estabelecimento como propriedade do espírito do lugar), Vegetação (e sua
influência dentro do espaço vivenciado), a aridez do espaço referente ao Clima Urbano
ou a sua falta. Caminhando pelo quarteirão, observando-se seus espaços, ainda
olhares súbitos e fugidios, que traziam sentimento de alerta.
Ao final deste quarteirão, alguns assobios, e uma voz falava em um tom alto e
forte:
- Ô, você!!!!
Esta interpelação aconteceu no momento da foto de uma árvore, por volta das
4h30 da tarde, com tempo abafado, quente, fazendo transpirar (a cisma ou o calor?). A
pessoa se aproximou, um homem que vestia uma bermuda quadriculada, uma camiseta
surrada, óculos escuros e boné torto na cabeça. Aproximou-se e questionou:
- E aí? O que ‘cê tá fazendo, tirando foto da casa dos outros? Pode fazer isso
aqui, não, moço! Sabe que isso não pode fazer, né?
A resposta foi que estava-se fotografando a rua, e que não se estava ali para
atrapalhar a vida dos outros.
Ao que ele respondeu:
- Sei não! Num sei quem é você!
Então fez-se a apresentação de ser estudante de mestrado, buscando conhecer
o ambiente do bairro (através de suas ruas) e que tudo o que fosse levantado comporia
uma pesquisa. E o homem perguntou:
- É isto, mesmo, moço?
E como se poderia confirmar que o que se dizia era verdade? Então, apresentou-
se um cartão de visitas e conversou-se um pouco mais. Desta vez, amigavelmente.
A postura do morador era compreensível, era como se interrogasse em nome de
outrem; como sinal de respeito e honestidade do encontro, apertou-se sua mão. Ao que
parece, a oferta foi assim entendida e nenhuma objeção foi feita.
78
No entanto, não se deixou de pensar que tudo poderia ter tido um outro final,
havia um risco na situação. Todavia, prezar as relações humanas faz parte deste risco.
Sempre há regras e existe a chance de ganhar, perder ou empatar.
As pessoas não são diferentes neste sentido, mesmo morando em bairros de
grande, médio ou pequeno poder aquisitivo. São pessoas que atuam com as regras que
lhes são disponíveis e às quais estão expostas; no fundo, o que procuram é ser
tratadas com respeito.
Mas o que estava ali para fazer, deveria ser feito. Estava próximo ao dia em que
se deveria retornar e completar o trabalho. E, mais uma vez, a caminho do bairro Santo
Antônio!
Chegando ao bairro, próximo à rua do Hotel Mansão dos Nobres, encontrou-se
um jovem que estava na calçada brincando com uma menina de cerca de dois anos;
falavam e riam descontraidamente. Após cumprimentos, perguntou-se se algumas
imagens poderiam ser feitas.
Ele disse que poderia, “mas sabe como é!”
Então, a partir da rua de baixo, começaram as fotos. Aparentemente estava tudo
bem, tirando o calor costumeiro, o ar abafado e quente.
Quase na finalização, viu-se um grupo de bicicleta (o mesmo das semanas
anteriores? Não se saberia dizer...).
Olharam e um deles se aproximou, dizendo:
- E aí, que ‘cê tá aqui tirando foto? Andando de um lado pro outro, quê que é
isto? Acho que tô até querendo ganhar uma máquina, ‘cê vai me dá esta aí”?
81
Disse-lhe que até se poderia dar, mas e se isso atrapalhasse um trabalho que
terminaria com melhoria para o bairro? Foi feita nova apresentação, do lugar de um
arquiteto que estava ali para fazer um trabalho de observação do bairro, para promover
- quem sabe? – uma melhoria futura. As imagens permitiriam avaliar a realidade local e
que, pelas imagens, comprovariam a necessidade de se pensar objetivamente
situações viáveis para o melhor aproveitamento do material humano, com tudo que
existe no bairro Santo Antônio. Tudo isso poderia estar nas conclusões.
A surpresa dos jovens se mesclava com alguma desaprovação. Saíram com um
olhar diferente dos que se obteve até então, olhando para trás e balbuciando algo que
não fazia sentido; era algo entre eles, caminhando e pedalando. Desta vez, sentiu-se
que não deveria tornar a encontrá-los, sabia que existia uma intenção maliciosa, que
estes não se conduziam como os jovens e o homem dos encontros anteriores.
Pareciam respeitar uma ordem hierárquica, das regras do bairro.
CLIMA
A classificação bioclimática da região de São João da Boa Vista pode ser
demonstrada pelo programa ZBBR 1.1 (RORIZ, 2004, 2005):
82
Figura 9 – Mapa clima ZBBR 1.1 – Fonte: Programa ZBBR 1.1 (RORIZ, 2004, 2005)
83
qualidade do ar e a Qualidade de Vida dos moradores dentro do princípio dos ventos
dominantes.
Como não existe uma central meteorológica na cidade de São João da Boa
Vista, os dados climáticos obtidos advêm do programa clima-tempo (Fig. 10 –
CLIMATE-DATA, s.d.). Neste, relata-se que o clima é tropical quente, não possibilitando
um inverno com rigor. No verão, os dias são quentes, com brisas mais frescas nas
madrugadas. Por se encontrar ao pé de uma serra, a barreira natural intercepta a
massa de ar, provoca chuvas orográficas (chuvas de relevos), ocasionalmente fortes e
copiosas. A média anual de chuva é de 1.140mm, concentradas em meses mais
quentes (como descrito no gráfico) junto aos meses de outubro.
84
A temperatura média da cidade de São João da Boa Vista fica entre 28°C, com
máximas de 34°C e a mínima chegando aos 15°C, no inverno. Já no verão, a média
chega a 22°C, sendo a mínima de 18°C e a máxima 37°C (Fig. 11). As últimas geadas
registradas em São João da Boa vista ocorreram em 1870, depois 1886, 1902 e 1918.
Os ventos são predominantes geralmente a Leste e Sudeste, portanto cruzado, como
mostra ZBBR 1.1.
CLIMA URBANO
Ao observar o Bairro Santo Antônio em sua relação como um sítio de aplicação
de projeto, e de mesmo sentido, observa-se sua malha viária, sua interferência no
ambiente, sem deixar de olhar o entorno, história e função urbana em sua delimitação
semirural. Percebe-se a atuação e o Clima Urbano, principalmente seu microclima.
Observa-se, como fenômeno atmosférico, a insolação e seus ventos parcos que
tangenciam seus recintos, como objeto de variação de sentido e intensidade, com
regularidade.
Seu ciclo ao longo do dia fornece pouca variação. Durante o dia, um ameno ar,
indo quase ao mormaço, tardes quentes e noites que vão ao abafamento e as brisas
mais frescas, em uma definição termodinâmica.
Em consonância como a definição sobre o Clima Urbano e também pela ação
antropométrica. Esta ação ocasiona variações no lugar, de acordo com a intensidade e
seus reflexos, observa-se que, no bairro Santo Antônio, há quebra na dimensão
termodinâmica.
Podem ser observadas também a presença de alguns elementos verticais, a
formação de ventos regionais ou a deformação do domo climático urbano sob influência
de ventos locais. No bairro Santo Antônio, a maioria das construções é de casas de
pavimento tipo térreas. Esta presença variante não se evidencia.
85
Figura 12 – Maquete 3D – Fonte: Geo-Mapa SJBV Ass. Gestão Planj. (2016) 5
O ponto mais baixo do bairro Santo Antônio é o Rio Jaguari Mirim, com uma
elevação topográfica de 745m, conta uma altura máxima de 806m tendo como
referência o cemitério São João Batista (Fig. 14 em 3D. Corte 1 – detalhe – sem
escala); como se, em nível plano, o bairro Santo Antônio ficasse ilhado entre duas
grandes massas (volume):
5
Estas maquetes foram elaboradas a partir dos mapas obtidos na Assessoria de Planejamento e Gestão da cidade
de São João da Boa Vista – Levantamento topográfico.
86
Figura 14 – Gráfico de alturas – Fonte: Topographic-Map (2015)
87
Figura 15 - Perspectiva do bairro Santo Antônio, (perspectiva voo de pássaro focando o
trecho entre ruas Cel. José Procópio e Salomão Abdal). Fonte: GOOGLE MAPS, 2015
RECINTOS URBANOS
A relação com uma ‘arquitetura sem teto’ se conecta à dimensão do Clima
Urbano. Se, por um lado, a visão do todo legitima o individual, é pela comunhão ao
88
Recinto Urbano que se pode avaliar a condição vivenciada no bairro. Condições que se
referem às disposições das ruas do bairro Santo Antônio, indicando orientação no
sentido Leste/Oeste.
Tal orientação tende a provocar insolação e desconforto térmico produzido pelas
ondas de calor, transferidas pelas paredes e a penetração direta dos raios solares pelas
janelas das casas, como demonstrado no programa ZBBR 1.1. Ao se estudar o Recinto
Urbano juntamente ao FCV (Fator de Céu Visível), esta leitura denota o comportamento
climático e seus efeitos para que se atende a condição dos elementos urbanos e, desta
forma, ser possível um manejo proporcional ao ambiente urbano.
Observando a condição do FCV e sua relação, como já dito, pela distância em
(d) e a altura (h), chega-se a uma estimativa da condição solar que recebe e a reflexão
nas superfícies bidimensionais:
Fig. 16 – Fator de Céu Visível – bairro Santo Antônio – entre 10:00h e 11:00h. Rua.
Antônio Lucio dos Santos. Imagem 2. Fonte: GOOGLE MAP, 2015
89
mitigam a presença do maciço em projeção à rua, calçada e aos elementos
bidimensionais, como escreve Rodrigues (2014). Deste modo, os bloqueios vegetativos
se colocam como elementos preventivos de ação do Recinto Urbano.
Levando as premissas de Mascaró (2015) para o bairro Santo Antônio e sua
geometria Urbana, aplicando no mesmo intervalo cronológico em condições viáveis
próximas, obteve-se o índice de 82% (Imagem 2) como parâmetro dimensional que
quantifica o céu visível no bairro Santo Antônio. Pela morfologia urbana regional, o que
se identifica são que as condições se apresentam mais severas nesta região, levando-
se em consideração o Recinto Urbano e a Ambiência Urbana, em que as temperaturas
elevadas se intensificam com a presença de concreto e a cobertura de leito carroçável
por asfalto.
Portanto, para os cálculos das áreas abertas (11,00 m de altura x 13,05m
distância), que apresentam elementos de reflexibilidade e emissividade de energia
térmica, há aumento de temperatura, agravado pela pouca vegetação. Se, por um lado,
obtém-se estas informações locais, por outro, a existência de distanciamento viário,
produz um aspecto positivo, pois a distância (d) dá a possibilidade de alamedar a rua.
90
As bases de dados angulares se relacionam à vegetação existente (como elemento
construtivo) nos Recintos Urbanos.
VEGETAÇÃO
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a necessidade de que existam as reservas
de vegetação em quaisquer cidades, inclusive por seus efeitos psicológicos. Mascaró e
Mascaró (2009) destacam vantagens estratégicas da utilização de árvores nas ruas e
nos bairros, norteando a Ambiência Urbana.
No bairro Santo Antônio a aridez é prejudicial às questões da Qualidade de Vida;
portanto, também à Sustentabilidade, pois não possibilita uma sensação de bem-estar.
O desequilíbrio ambiental se faz devido à falta de vegetação ao longo das ruas e
avenidas. Pode-se perceber a absorção da irradiação solar em toda sua extensão.
Percebe-se que há uma sensação de esvaziamento devido à entrada da temperatura
mais alta, imprópria ao coletivo ativo do bairro Santo Antônio, desfavorecendo a
circulação de pedestres.
A qualidade do ar é um fator a ser observado juntamente com o conforto térmico.
Pode-se ainda perceber que o cenário paisagístico urbano fica desfalcado deste
importante elemento para percepção psicológica do lugar. Portanto, a falta desta
cobertura arbórea é notória para o microclima, o isolamento de pequenas copas
distribuída pelo percurso não tipifica significativamente para o resfriamento do lugar. Na
afirmação em Mascaró e Mascaró (2009, p. 61) a respeito dos agrupamentos arbóreos,
a radiação solar em áreas expostas é de 3 a 4 °C menores e a umidade relativa do ar,
sob a vegetação, é entre 3 e 10% (informação confirmada por LIMA, 2009).
Nesta orientação visual sobrepõem-se as caracterizações ambientais tais como
os benefícios estéticos e funcionais para o convívio humano e as dimensões destes
benefícios quanto à morfologia. O espaçamento e o arranjo favorecem o conforto
térmico e visual e podem gerar segurança quando há um projeto urbano para a
Sustentabilidade.
91
VEGETAÇÃO E VENTO
Para a Ambiência Urbana um dos aspectos importantes a ser pensado é o
conforto térmico, bem como os fatores reguladores, destacando-se o deslocamento de
ar, a filtragem e o direcionamento do fluxo. Também interfere na interação popular na
efetivação deste fenômeno, uma vez que o conforto térmico é relativo à percepção que
as pessoas fazem do espaço, mesmo que não saibam da sua interferência nisto.
Como se nota, o bairro Santo Antônio tem baixo índice do uso deste elemento
estruturante. O efeito é a tendência ao isolamento por parte dos seus moradores, baixa
interatividade e a dificuldade de entendimento sobre a propriedade pública como
elemento estruturador, que seria a própria rua. A figura 19 demonstra que o projeto
sendo pensado, como forma de qualificar os ambientes, trabalha a possibilidade de
direcionar ou conduzir os ventos para as casas ou para a rua. De mesma forma, a figura
20, com fator também psicológico, porém ambos estão em consonância para trabalhar o
social. Presenciando a vida urbana entre os meses julho de 2015 a janeiro de 2016,
observou-se que o fluxo dos ventos seriam brandos e que, algumas vezes, apresentaram
calmarias, fazendo com que a sensação de ausência de conforto térmico se intensifique.
92
Figura 19 – Croqui 3 do autor
RUAS
A organização do bairro Santo Antônio, como já demarcado, teve seu início
através da navegabilidade do rio Jaguari-Mirim. O bairro Santo Antônio é composto por
duas grandes Avenidas – a primeira, Avenida Dr. Luiz Gambeta Sarmento (Quadro 1),
(85,53% constituídos de casas, sobrados ou similares, 14,47% de apartamentos ou
conjuntos de domicílios e 15,63% de estabelecimentos comerciais) (CONSULTARCEP,
19/11/2015).
15,63
14,47
85,53
A segunda via de acesso do bairro é a Rua Coronel José Procópio (Quadro 2),
(84,21% residências e poucos estabelecimentos comerciais).
94
Figura 21 - Gráfico do Autor 2
Entre a Rua Coronel Procópio e a Avenida Dr. Luiz Gambeta Sarmento (Quadro
1), encontra-se a Rua São Francisco, pertencente também ao Jardim Dona Tereza
(bairro contíguo que tem 93,06% de residências domiciliadas e 7,30% de apartamentos
ou conjuntos residenciais).
A montagem da quadrícula ou desenho morfológico do bairro Santo Antônio tem
estrutura irregular. Em se pensando o montante das estruturas viárias do bairro,
encontram-se (junto aos bairros vizinhos) 64 ruas comunicantes. Somam-se 45 ruas em
cardo (verticais) e decumanus (horizontais), além de seis transversais em quarteirões
fechados, 17 sem saída e mais uma em desconformidade (em “V”).
Todas as estruturas viárias contam com pavimentação asfáltica, meio-fio,
esgotamento e água encanada. Portanto, há infraestrutura qualificada aos interesses
sociais e comunitários.
95
Figura 22 – Croqui 4 do autor – Rua. Coronel José Procópio
No croqui 4 (Fig. 22), indica-se a cena urbana em sua prática cotidiana do bairro
Santo Antônio, onde os planos dimensionais são narrados em sua veracidade,
fachadas, passeios, elementos urbanos de um Recinto Urbano. O que se observa nesta
forma de expressão seria a imagem em movimento, o silêncio e a aridez em
contraponto à exposição vegetativa anteriormente apresentada. A presença de dois
elementos – uma cobertura e a sombra de um maciço – aponta para a composição de
vida humana, de ações conjuntas de práticas usuais. A rua é, portanto, um lugar
dinâmico de acontecimentos.
PRAÇAS
O projeto da cidade prevê a presença de três praças (Anexo I), mas dois destes
volumes ocos não foram implantados, ou sofreram modificações por questões do
planejamento do uso do solo. Aparece apenas um destes volumes, próximo à Igreja
(Imagem 15, Apêndice I).
96
DISPOSITIVOS PÚBLICOS, PRIVADOS E OUTROS
Nas cidades e nos bairros o trânsito das pessoas se faz diante de fazeres que
envolvem questões de sobrevivência e de organização do uso do espaço. Como visto
anteriormente, nas situações humanas a urbanização não é só a delimitação do espaço
físico, mas como este espaço é habitado (GÓIS, 2008; JACOBS, 2011; NETTO, 2013,
2014).
Para este trânsito, entendem-se os dispositivos públicos, privados e outros:
Dispositivos públicos são aqueles que viabilizam o funcionamento do bairro
e/ou o acesso a serviços primários (saúde, educação, saneamento, energia),
são fornecidos e gerenciados pelo poder público, a partir de verba pública,
cuja função é dar acesso aos direitos da cidadania.
Dispositivos privados prestam serviços (bancos, lojas, supermercados, etc.),
usam verba privada e não são gerenciados pelo poder público.
Outros dispositivos prestam serviços gratuitos à população, mas sem verba
pública nem privada, advindos de ordem assistencial ou terceiro setor.
Segue-se mapa físico do bairro Santo Antônio. Juntamente há um resumo dos
dispositivos públicos e privados e outros dispositivos, que não são facilmente
identificáveis como um ou outro. E, em seguida, a disposição destes dispositivos no
mapa do bairro. Tais dispositivos, além de necessários, tramam a continuidade de
produções comuns e cotidianas, abordam as sobreposições sociais e suas áreas de
trânsito, encontros e informações internas.
A Figura 23, abaixo, foi obtida junto à Assessoria de Planejamento e Gestão e
Desenvolvimento da Prefeitura de São João da Boa Vista. No mapa podem ser
identificados o bairro e os dispositivos públicos, os dispositivos privados e outros.
97
Figura 23 – Mapa simplificado do bairro e região – do autor, sobre a plataforma da
imagem de satélite Google (2015).
98
Quadro 4 – Dispositivos Públicos, Privados e Outros
99
4.1.4.1 Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana, Sustentabilidade Urbana no
bairro Santo Antônio
VARIÁVEIS X A renda per capita média de São João da Boa Vista foi
ECONÔMICAS avaliada em R$ 998,31 (2010).
101
Os aspectos da Qualidade de Vida Urbana se voltaram para a questão da
ocupação do solo, dos espaços e suas formas de uso. Assim, conseguiu-se identificar
mais detalhes do bairro Santo Antônio, que deram outros elementos de compreensão
ao item seguinte: Sustentabilidade Urbana.
102
Cada quadro foi compreendido para dar subsídio à discussão do item seguinte.
Mas algumas articulações se mostraram necessárias para se chegar à composição dos
três itens.
O item de Ambiência Urbana, cerne deste trabalho, indicou, através do quadro
sintetizador, que os aspectos físicos são avaliáveis e pensados de forma negativa, já
que a vegetação se apresenta em pouca quantidade e sem planejamento urbano. No
item de Ambiência Urbana os serviços da esfera pública estão assegurados, dando
acesso aos bens primários como se pode notar na imagem 3 (Apêndice I).
Quando se passou ao quadro de Qualidade de Vida Urbana, porém, encontra-se
insuficiência. Mesmo havendo muitos aspectos contemplados, a quantidade e talvez
qualidade dos serviços ofertados ao bairro, em nível primário (água, energia,
saneamento, segurança, saúde e educação) e de prestação de serviços, pôde ser
aventada como insuficiente.
No item Sustentabilidade Urbana os aspectos se mostraram em negatividade,
não sendo possível afirmar sua existência, chegando-se a pensar em ausência do item.
Isso parece condizer com a breve reflexão acima, anterior, acerca da Qualidade de
Vida Urbana, quanto à sua insuficiência, mesmo em se pensando a parcialidade da
positividade em vários aspectos, como apresentam as imagens 1, 3, 4 e 13 (Apêndice
I).
Quando se observaram as imagens 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 (Apêndice I),
destaca-se a energia radiosa com formação de ondas de calor em cada Recinto
Urbano, provocado pelo Albedos; coeficiente de reflexão da luz solar, a partir da “albus”
(luz branca), difundindo-se sobre uma superfície. A partir deste fenômeno, observou-se,
também, alteração no clima, uma vez que esta luz branca provoca aquecimento de
superfície e a sensação psicológica de abafamento, isolamento e cansaço físico.
A seguir, a discussão dos resultados e a articulação de toda a proposta do
trabalho.
103
5 DISCUSSÃO
104
Para bem compreender esta articulação, desde a pergunta-problema, organizou-
se os três itens (Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade
Urbana) em um quadro comparativo de todos os seus aspectos, tal como se apresenta
no Quadro de Análise Final, em que a junção dos aspectos foi nomeada de Ambiência
Urbana em Totalidade.
A topografia. Assim como os usos incorretos das massas verdes, não favorecem
os aspectos físicos, pelo estado crítico quanto a Ambiência Urbana, diante dos
aspectos: Clima, Vegetação, Vegetação e Vento. Notoriamente, percebe-se que o
bairro se encontra em um pequeno declive (Fig. 12 – maquete 3D), em que o aspecto
Clima tem como predominância ser quente e úmido. Devido à presença do Rio Jaguari-
Mirim, a escolha da Vegetação não parece ser a mais correta para a melhoria do clima.
Este mesmo apontamento também se faz perceptível quando se incorpora o
aspecto Vento. A formação do DOMO (Fig. 3), como já apresentado, demonstra que o
vento que seria de melhor qualidade se perde em função da topografia da cidade. O
que parece ser possível seria a utilização dos ventos canalizados pelo próprio Rio
Jaguari-Mirim; com a utilização correta da vegetação como já demonstrado em 2.2.5, no
tema (9) Direcionamento de Fluxo.
106
Já na indicação de Qualidade de Vida Urbana, este item se apresenta como
Parâmetros Ambientais. Esta apresentação se faz pela qualidade ambiental urbana e
que depende de ações, de avaliação do plano diretor e uma correta utilização das
leituras de indicadores para o fortalecimento entre as ações e a participação social.
No item Sustentabilidade Urbana a empregabilidade de elementos verdes é de
extrema necessidade para que se tenha avanço no quesito da Arquitetura sociológica.
O emprego destes elementos proporciona consolidação no meio urbano; disso decorre
a necessidade de planejamento e monitoramento das ações. Por exemplo, quando se
reduz a poluição (que pode incidir na acidez das águas de chuvas), melhora-se a saúde
da população.
110
econômica e ecologicamente sustentável, possa ser melhor aproveitada, e acontecesse
com mais frequência e liberdade. O transporte é oferecido aos moradores com pontos
de aprovação pela existência e negativos quanto ao tempo de espera.
O transporte é disponibilizado com carros em bom estado de conservação, com
acessibilidade, mas o atendimento poderia estar mais próximo às necessidades da
população. As calçadas apresentam-se em boa dimensão, porém não têm um padrão;
o que dificulta a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida. Em alguns casos, um
simples ajuste no nível das calçadas já resolveria grande parte deste problema, sem
onerar o município; poderia ser feito, em mutirão, pela população.
A cultura, enquanto agente de formação social, não foi identificável. Para o
esporte, há um campo de futebol em boas condições de uso em que se identificaram
vestiários. O bairro conta ainda com duas piscinas em bom estado de uso.
Sobre as variáveis econômicas, não se encontraram índices do bairro, somente
do município; estes se revelaram favoráveis de boa qualidade. Em relação a estes
índices, pensando-se somente em renda per capita, talvez haja uma divergência para
menos, em se avaliando o padrão das construções e a falta de investimentos mais
significativos.
Os dispositivos privados são a veia econômica de um lugar, oferecendo serviços
necessários para que aconteça o abastecimento das residências, das pessoas e a
circulação de informações. Logo, comércio, bancos e correios são essenciais em um
bairro. Os pontos de irradiação descritos no mapa (Fig. 22 – Mapa simplificado do bairro
e região) apontam para a fragilidade destes serviços quanto às distâncias percorridas;
indica ainda que o poder aquisitivo da população talvez não seja atraente para
investimentos maiores.
Não se sabe, claramente, se há situações de vulnerabilidade social. Tem-se,
para pensar a respeito, as informações do CONSEG (2015) e os índices do IDHM.
Destes, sabe-se que a situação dos pontos de tráfico de drogas e de gravidez na
adolescência seriam desfavorecedores. Mas, novamente, o IDHM do município sugere
baixa vulnerabilidade, não se podendo avaliar, especificamente, o bairro.
Parece faltar, no bairro, uma proposta de redução de resíduos efetiva que
abarque temas que levem seus cidadãos a praticas recicláveis. Não se conseguiu
111
avaliar, também, qual a frequência e qualidade da coleta do lixo doméstico ou se há
coleta seletiva.
Nos aspectos alimento/abastecimento, não foram identificadas hortas
comunitárias, sugerindo a existência eventual de plantio de agricultura particular. Em
termos de Sustentabilidade Urbana, é importante o compartilhamento das práticas e
dos bens de consumo. Estas formas, porém, precisam da interdependência da
coletividade e do poder público, no sentido de uma sociedade com equidade. Talvez
caiba um estudo para um polo de informação agrícola e fomento às práticas de plantio.
Sustentabilidade Urbana e Qualidade de Vida Urbana são itens altamente
dependentes da saúde e da educação, pois o pensamento ecológico é um aprendizado
constante e cotidiano. O impacto destes saberes para a economia, para a convivência e
para a melhoria da população é imensurável, reduzindo a vulnerabilidade – ou seja,
incide nas questões sociais de forma direta.
Como já mencionado anteriormente, em Holanda (2006), Cartografia é resultado
de construção das articulações entre a história e as representações de determinado
espaço ou local. Sendo assim, pode-se pensar que todo espaço humano é artificial,
criado para melhor acomodar ou dar suporte de vida a espécie humana. Logo, é
essencial que se aprofunde a compreensão das relações deste humano com os outros
e com o espaço em questão, entendendo se há (ou não) a busca pelas situações que
agregam (ou não) o conforto, aumentam (ou diminuem) o contato pessoal, bem como
todas as formas de interação.
113
Quadro 13 – Resultado de Ambiência urbana em Totalidade
ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO
ASPECTOS URBANA DE VIDA URBANA
GERAIS URBANA
ASPECTOS Clima Parâmetros Verde X
FÍSICOS Vegetação ambientais Infraestrutura verde
Vegetação e
vento
USO URBANO Clima urbano Água X
DOS Recinto Energia
ASPECTOS urbano Sistema entorno
FÍSICOS
ASPECTOS Rua Habitação Habitat
URBANOS Praça Outros Parcelamento e
– Serviços/ uso/solo
OCUPAÇÃO Infraestrutur Ocupação X X
a Morfologia
URBANA DO
ESPAÇO Saneamento Poluição (redução)
básico
Dispositivos Saúde Saúde
públicos Educação Educação e X X
Assistência Tecnologia
social
Resíduos
Trânsito Transporte Transporte /
ASPECTOS
Acessibilidade X
URBANOS
– Abasteci- Alimento
SOCIO - mento X X
ECONOMICO
- POLÍTICOS Cultura Cultura X
Esporte X
Variáveis X
Econômicas
Dispositivos Outros
privados Serviços X X
Urbanos
Outros X
114
A cartografia de uma cidade, como designado por Holanda (2006), voltando ao
aporte teórico, de início, indica sua história e sua teia de relações, demonstrando, no
território, os conflitos, as disputas, códigos, interdições e permissões. No bairro Santo
Antônio, quando se pensa sua história e sua morfologia, nas referências e nas imagens,
sobressai um bairro pouco assistido, pouco cuidado. Em uma visão sociológica, a
própria história mostra que, talvez, o comércio ilícito também seja uma resposta às
questões colocadas para a sobrevivência do bairro. Viu-se, nas imagens, nos relatos e
nas interpelações sofridas pelo autor da parte dos moradores, um bairro à margem, que
pode responder às demandas da própria cidade.
A falta de praças, de transporte público (em maior quantidade e com mais
frequência dentro do bairro) e vias de acesso parecem restringir a mobilidade, a
convivência e as atividades de lazer, com possível prejuízo para a delimitação da
comunidade e o estabelecimento do território. O relatório do CONSEG (2015) indica,
por outro lado, que os moradores identificam as restrições e solicitam a participação do
poder público quanto às melhorias.
Estar em um espaço, para os seres humanos, é oferecer também as condições
de troca, de comunicação e de alianças sociais. Estar em grupo, em um local
(ambiente), implica nas condições estabelecidas de estar lá. O homem transforma o
ambiente, mas é transformado por este, em reciprocidade contínua.
A Ambiência em Totalidade é o conceito que abarca isso efetivamente e pode
ser pensado em várias medidas, inclusive para um bairro. Permite a compreensão,
então, de pessoa-cultura-ambiente construído, que se ordena em espaço antes
imaginado, interpretado e processado (DUARTE et al., 2007).
Se o meio urbano é a condição de construção das cidades, no bairro se dá o
mesmo. Para o bairro Santo Antônio, pode-se pensar na imagem de algo sem
delimitação de uma comunidade que favoreça os moradores. As imagens elencadas e o
diário de campo revelam uma comunidade isolada na própria cidade, sem valor
específico e em busca de melhorias. Seria essa a definição de bairro-ponte?
Ao se verem em um “bairro ponte”, os moradores parecem identificar que as
pessoas passam por ele, mas quem fica são os moradores. Talvez uma analogia às
dificuldades vivenciadas em seu cotidiano.
115
Nesta analogia, enquanto “bairro ponte”, é uma surpresa a fala dos moradores. De
um lado, pela facilidade com que cada uma das partes dentro de um bairro pode ser,
assim, reconhecida pela organização dos espaços. De outro, esta fala parece legitimar
o bairro como elo de ligação, tentando estruturar uma identidade do ambiente pelos
pontos que une. Mas, finalmente, há uma particularidade nesta fala, que indica
movimento, deslocamento ou desorganização, que assigna o bairro.
Ambiência em Totalidade é uma observação das particularidades no todo (dos
aspectos aos itens) e do todo nas particularidades (dos itens aos aspectos). É a
avaliação da capacidade de apuração mediante os eventos e a formação histórica de
um lugar, entendendo-se as necessidades intrínsecas aos agrupamentos humanos.
Através deste estudo, caracterizaram-se os pontos de maior e menor relevância
para a efetiva conquista do desenho urbano e as subjetividades. Também se incluíram
elementos que favoreceram o lugar na trama do entorno natural (físico) e antrópico,
avaliando impactos e refletindo acerca da aplicabilidade dos instrumentos disponíveis
ao estudo de observação particular.
Ambiência em Totalidade foi também dimensionada como estratégia de
avaliação de humanização dos espaços, equilibrando-se elementos de composição
espacial, bem como a participação popular para o protagonismo eficiente. Ambiência
em sua Totalidade é uma conjectura sobre o cenário/espaço para as realizações
sociais, seus desdobramentos quanto à política, economia e o ambiente que
contribuam com a coletividade, favorecendo valores culturais, esportivos e de lazer;
abrangência substancial para as dimensões moral, física e psicológica das atividades
humanas.
Desta forma, a Ambiência Urbana está para além da configuração do espaço
físico, está também na subjetividade da coalisão das condições físicas do lugar,
humanizado; está ainda na afirmação das políticas públicas para a saúde, cultura,
trabalho, educação e educação comunitária (educar para a coletividade), focando na
premência das relações do morador, como trabalhador e protagonista, corresponsável
pelo espaço que vive e ocupa. Ambiência em totalidade, por fim, talvez seja a forma
como se percebe e se vivencia o espírito do lugar, e transformá-lo em valores e ações
116
contribuintes para a sociedade, talvez seja espelho que melhor reflita a interpretação de
uma identidade, na presentificação.
117
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
CAMPOS, R. O. Psicanálise e saúde coletiva. 2ª. Ed. São Paulo: Hucitec, 2014
122
CLIMA. São João da Boa Vista – São Paulo, SP. Disponível em
http://www.guiasaojoao.com.br/guiasaojoao/000/pag/acidade/geografia.htm - Acesso
em 17 de janeiro de 2016.
DUARTE, R. C.; et. Al. Projeto metáfora: explorando ferramentas de análise das
Ambiências. FAU.UFRJ. Rio de Janeiro, 2007.
ELKINGTON, J. Cannibals with Forks - The Tipple Bottom Line of 21st Century
Business. Capstone, 1999.
GÓIS, C. W. L. Saúde comunidade pensar e fazer. São Paulo: Aderaldo & Rothschild,
2008.
GOOGLE MAPS. 2 [Trecho da Rua Antônio Lucio dos Santos]. [03/2012]. Nota (R.
Antônio Lucio dos Santos, altura do número 70 em frente à Escola Estadual Monsenhor
Antônio David E.M.F). Disponível em: GOOGLE EARTH. Produção do autor. Acesso
em: 10/10/2015
123
HERZOG, C. P. Cidades para Todos: (re)aprendendo a conviver com a natureza. Rio
de Janeiro: Mauad X/Inverde, 2013.
JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2011. 3ª edição. Coleção Cidades.
JODELET, D. A cidade e a memória. In: DEL RIO, V., DUARTE, C. R. & RHEINGANTZ,
P. A. (Orgs.). Projeto do Lugar. Colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo.
Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2002 (Coleção Proaro).
124
LEVANTAMENTO Topográfico de São João da Boa Vista. Disponível em http://pt-
br.topographic-map.com/places/S%C3%A3o-Jo%C3%A3o-da-Boa-Vista-4019618/ -
Acesso em 10 de maio de 2016.
MONTEIRO, C. A. F. Teoria e clima urbano. São Paulo, 1975, 244p. Tese (Livre
Docência). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo.
125
_______________________ A urbanidade como devir do urbano. Urbanidades. EURE
Santiago, v. 39, n. 118, set. 2013. Disponível na internet:
http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0250-
71612013000300010&lng=es&nrm=iso – Acesso em 26 jun. 2014.
ROLNIK. R. O que é a cidade. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2004. Coleção Primeiros
Passos.
RORIZ, M. ZBBR. Versão 1.1. Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-
Graduação em Construção Civil. Laboratório de Eficiência Energética em Edificações -
LABEEE. São Carlos, 2004. Disponível no site:
http://www.labeee.ufsc.br/downloads/softwares/zbbr – Acesso em 04/04/2105.
126
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Ed. 7. São
Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2012.
SÃO JOÃO DA BOA VISTA. Câmara Municipal. Surgimento das Câmaras Municipais
no Brasil. História. Disponível na internet: http://www.camarasjbv.sp.gov.br/historia.php -
Acesso em 24-04-2015.
127
________________________________. Sustentabilidade Urbana Aplicada: análise dos
processos de dispersão, densidade e uso e ocupação do solo para a cidade de Cuiabá,
Estado de Mato Grosso, Brasil. EURE (Santiago) 41 (122): 209-237, Enero 2015.
Disponível na internet: http://www.scielo.cl/pdf/eure/v41n122/art10.pdf - Acesso em 22
de novembro de 2015.
TOZZI, D. Arquiteto Decio Tozzi – Architect Decio Tozzi. São Paulo: D’Auria, 2005
128
UNIVERSIDADE Federal do Rio Grande/ FURG. O Efeito Estufa, Albedo, Calor
Específico. Disponível na internet:
http://www.mudancasclimaticas.c3.furg.br/index.php?Itemid=913&option=bloco_texto&id
_site_componente=1330 – Acesso em 12/09/2015.
VAZ, C. H. L. Ética e Razão Moderna. Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 22, n.68,
1995.
129