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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE

ENSINO - UNIFAE

Sidney Kelly Santos

Condições de Ambiência Urbana:


Relação com a Qualidade de Vida e a Sustentabilidade

São João da Boa Vista


2016
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE
ENSINO - FAE

SIDNEY KELLY SANTOS

Condições de Ambiência Urbana:


Relação com a Qualidade de Vida e a Sustentabilidade

Dissertação apresentada como requisito necessário


para o curso de Mestrado Interdisciplinar em Educação,
Ambiente e Sociedade Stricto Sensu do Centro
Universitário das Faculdades Associadas de Ensino –
UNIFAE.

Área de concentração: Desenvolvimento Sustentável

Orientadora: Prof.ª. Drª. MÔNICA MARIA GONÇALVES

São João da Boa Vista


2016
FICHA CATALOGRÁFICA

S233c Santos, Sidney Kelly


Condições de ambiência urbana: relação com a qualidade de
vida e a sustentabilidade / Sidney Kelly Santos. - 2016.
135p. : il.

Dissertação (Mestrado acadêmico em Educação, Ambiente e


Sociedade) – Centro Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino, São João da Boa Vista, 2016.
Orientação: Profa. Dra. Mônica Maria Gonçalves.

1. Ambiência. 2. Ambiência urbana. 3. Qualidade de vida


urbana. 4. Sustentabilidade urbana. 5. Bairros. 6. Ambiência em
totalidade. I. Santos, Sidney Kelly. II. Título.
CDU 504
Condições de Ambiência Urbana:
Relação com a Qualidade de Vida e a Sustentabilidade

Dissertação aprovada em 05/09/2016

São João da Boa Vista


2016
Dedico este trabalho a quem muito contribuiu para
que todos os meus esforços fossem e sejam
valiosos, assim como o valor que dedico a cada um
deles. Minha amadíssima esposa, Roberta Ecleide, e
meus não menos amados filhos, Jorge Augusto e
Ulisses Gregório. Aos meus pais, Renato Santos
(sempre em meu coração) e Maria da Glória Kelly
Santos. Irmãos amados e queridos. Não posso
deixar de mencionar pessoas de grande valor, como
Norida Teotônio de Castro e Maria Cândida de
Oliveira Costa, boas amigas e conselheiras de todos
os momentos.
Agradecimentos de agora...

À Mônica Maria Gonçalves, pelo apoio no momento


crucial, pela disponibilidade e confiança. Também
Erica Passos Baciuk e Luciel Henrique Oliveira, pelas
palavras e incentivo – fundamentais! Sem este
amparo preciso, não teria chegado até aqui.

Mas há agradecimentos de antes e de sempre...

Em um mundo tão veloz, em que a maioria das


pessoas perdem a capacidade de olhar, e se
esgueiram pela própria velocidade de não poder ver,
aos que sempre me enxergaram pelo melhor que
sou. Pela capacidade de olhar devagar, captaram, na
totalidade, a forma mais correta. Por isso, são
especiais:

Davinson de Morais Ferreira Bueno


Romilson Cesar de Lima
Jose Donizeti Tagliaferro
Kessiley Alysson Correa Ferreira
Creio que as condições da história atual permitem ver
que outra realidade é possível. Essa outra realidade é
boa para a maior parte da sociedade. Nesse sentido, a
gente é otimista. A gente é pessimista quanto ao que
está aí. Mas é otimista quanto ao que pode chegar.

Eu fico por aqui e por aí, mas sempre no Caminho!

Milton Santos – Por uma outra globalização


RESUMO

Este trabalho versa sobre a Ambiência, articulação entre elementos que, usualmente
vistos como separados, são mais bem compreendidos como um todo. As formas de
agrupamento urbano na forma de cidades e, particularmente, de bairros apresentam
aspectos que podem ser identificados e avaliados. Estes aspectos permitem a análise
de outros indicadores, de Qualidade de Vida e de Sustentabilidade. A vida urbana traz
determinadas formas de estar junto, indicando que a urbanização, por ser esta
modalidade antrópica, tem influências próprias e específicas. Nesta especificidade, tem-
se índices de Ambiência Urbana, de Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade
Urbana. A Ambiência Urbana envolve Clima, Clima Urbano, Recintos Urbanos,
Vegetação, Vegetação e Vento, Ruas, Praças – mas também os Dispositivos
(estratégias específicas de ofertas de serviços primários ou de prestação de serviços,
como públicos, privados e outros). Da Qualidade de Vida Urbana, tem-se os aspectos:
Habitação, Saneamento Básico, Saúde, Educação, Transporte, Segurança,
Abastecimento, Assistência social, Cultura, Esporte, Outros Serviços de Infraestrutura,
Parâmetros Ambientais, Outros Serviços Urbanos, Variáveis Econômicas. E na
Sustentabilidade Urbana, encontram-se Água, Energia, Alimento, Verde, Sistema
Entorno, Saúde, Cultura, Morfologia, Habitat, Educação e Tecnologia, Planejamento
Uso e Ocupação, Poluição (como redução de danos), Resíduos, Infraestrutura Verde e
Transporte e Acessibilidade. Contemplar cada aspecto – particular – e a articulação –
todo – é a via que permite a delimitação da Ambiência em Totalidade, desde a história
de um bairro, as formas de estar junto, em comunidade e território e as interinfluências
daí decorrentes, apontando para a subjetividade de cada morador e para seu entorno.

Palavras-chave: Ambiência; Ambiência Urbana; Qualidade de Vida Urbana;


Sustentabilidade Urbana; Bairros, Ambiência em Totalidade.
ABSTRACT

This work deals with the ambience, articulation between elements, usually seen as
separated. These are best understood as a whole. Types of urban grouping in the form
of cities and, particularly, of neighborhoods or quarters feature aspects that can be
identified and evaluated. These features allow the analysis of other indicators of quality
of life and sustainability. Urban life brings certain forms of being together, indicating that
urbanization, being an anthropic modality, has its own specific influences. This
specificity, indexes urban ambience, quality of urban life and urban sustainability. Urban
ambience involves climate, urban climate, urban areas, vegetation, vegetation and wind,
streets, squares – but also the devices (specific strategies of primary service offerings or
to provide services, such as public, private, and others). Regarding the quality of urban
life, there are the following aspects: Housing, sanitation, health, education, transport,
security, supply, social welfare, culture, sport, other infrastructure services,
environmental parameters, other urban services, economic variables. And on urban
sustainability, there can be found water, energy, food, green, environment surrounding
system, health, culture, morphology, habitat, education and technology, planning use
and occupation, pollution (as harm reduction), waste, green infrastructure and
transportation and accessibility. Contemplating every particular aspect – and the
articulation – all of it - is the path that allows the definition of full ambience, from the
story of a neighborhood, the forms of being together, in community and territory and the
resulting inter-influence, pointing to the subjectivity of each resident and their
surroundings.

Keyword: Ambience; Urban Ambience; Quality of Urban Life; Urban Sustainability;


Neighborhoods, Full Ambience.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 13
1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 17
1.2 PERGUNTA PROBLEMA .................................................................................... 21
1.3 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 21
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................. 22
1.5 PRESSUPOSTO ................................................................................................... 22
2 APORTE TEÓRICO ............................................................................... 23
2.1 ESPAÇO URBANO, SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA ............... 23
2.1.1 AMBIÊNCIA URBANA ...................................................................................... 26
2.1.1.1 Clima ............................................................................................................ 33
2.1.1.2 Clima Urbano.............................................................................................. 35
2.1.1.3 Recintos Urbanos ...................................................................................... 38
2.1.1.4 Vegetação ................................................................................................... 40
2.1.1.5 Vegetação e Vento ..................................................................................... 44
2.1.1.6 Ruas ............................................................................................................. 45
2.1.1.7 Praças.......................................................................................................... 47
2.2 AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA URBANA E
SUSTENTABILIDADE URBANA ............................................................................... 49
2.2.1 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE QUALIDADE DE VIDA .......................................... 54
2.2.2 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA .......................... 57
3 MÉTODO................................................................................................ 61
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ANÁLISE .................................................. 61
3.2 INSTRUMENTOS ................................................................................................. 62
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA ......................................................................... 62
3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE GERAL ............................................................. 63
3.5 ROTEIRO DE ANÁLISE DAS IMAGENS ............................................................. 63
3.5.1 NOTAS E DIÁRIO DE CAMPO ..................................................................................... 63
3.5.2 MÉTODO ICONOGRÁFICO........................................................................................ 64
3.5.3 ARTICULAÇÃO IMAGENS, AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA
URBANA E SUSTENTABILIDADE URBANA – PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA .......... 66
4 RESULTADOS ....................................................................................... 68
4.1 AMBIÊNCIA URBANA ......................................................................................... 68
4.1.2 BAIRRO SANTO ANTÔNIO: BREVE HISTÓRICO E DELIMITAÇÃO ....................... 68
4.1.3 COLETANDO INFORMAÇÕES E IMAGENS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO –
DIÁRIO DE CAMPO ............................................................................................................... 73
4.1.3.1 Antes de tudo ........................................................................................................ 73
4.1.3.2 Em tempo ............................................................................................................... 75
4.1.3.3 Em tempo de observar (pela primeira vez) ....................................................... 77
4.1.3.3.1 Primeiro tempo ............................................................................................... 77
4.1.3.3.2 Segundo tempo .............................................................................................. 79
4.1.3.3.3 Terceiro tempo ................................................................................................ 81
4.1.4 ANALISANDO A AMBIÊNCIA URBANA DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO ............... 82
4.1.4.1 Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana, Sustentabilidade Urbana no
bairro Santo Antônio ....................................................................................................... 100
5 DISCUSSÃO ........................................................................................ 104
5.1 ARTICULAÇÃO DOS RESULTADOS À INTRODUÇÃO ................................... 104
5.2 Articulação teórica à Ambiência Urbana em Totalidade ............................... 112
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 118
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 122
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa de Mancha Climática do Brasil............................................... 33


Figura 2 – Ilustração das principais zonas climáticas do Brasil ......................... 35
Figura 3 – Ilustração do Domo Climático por influência do vento local .............. 36
Figura 4 – Ilustração Fator Céu Visível em porcentagem angular ...................... 40
Figura 5 – Quadro Síntese de arborização em vias públicas ............................. 43
Figura 6 – Croqui 1 do autor .......................................................................... 43
Figura 7 – Síntese Albedo ............................................................................. 44
Figura 8 – Síntese representação de permeabilidade de ventos ........................ 45
Figura 9 – Mapa Clima ZBBR 1.1 .................................................................... 83
Figura 10 – Gráfico Climático ........................................................................ 84
Figura 11 – Gráfico de Temperatura ............................................................... 84
Figura 12 – Maquete 3D ................................................................................ 86
Figura 13 – Maquete 3D ................................................................................ 86
Figura 14 – Gráfico de Alturas ....................................................................... 87
Figura 15 – Perspectiva do Bairro Santo Antônio ............................................ 88
Figura 16 – Fator de Céu Visível .................................................................... 89
Figura 17 – Desenho Humanizado.................................................................. 90
Figura 18 – Croqui 2 do autor ........................................................................ 92
Figura 19 – Croqui 3 do autor ........................................................................ 93
Figura 20 – Gráfico do autor 1 ....................................................................... 94
Figura 21 – Gráfico do autor 2 ....................................................................... 95
Figura 22 – Croqui 4 do autor ........................................................................ 96
Figura 23 – Mapa Simplificado do bairro e região ............................................ 98
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo dos aspectos de Ambiência Urbana ................................. 49


Quadro 2 – Critérios de análise da Qualidade de Vida ...................................... 56
Quadro 3 – Critérios de análise de Sustentabilidade Urbana ............................. 58
Quadro 4 – Dispositivos públicos, privados, outros ......................................... 99
Quadro 5 – Análise da Ambiência Urbana no Bairro Santo Antônio ............100-101
Quadro 6 – Análise da Qualidade de Vida Urbana no Bairro Santo Antônio .......101
Quadro 7 – Análise da Sustentabilidade Urbana no bairro Santo Antônio .........102
Quadro 8 – Análise Final 1 – Ambiência Urbana em Totalidade ........................105
Quadro 9 – Análise Final 2 – Ambiência Urbana em Totalidade ........................106
Quadro 10 – Análise Final 3 – Ambiência Urbana em Totalidade ......................107
Quadro 11 – Análise Final 4 – Ambiência Urbana em Totalidade ......................108
Quadro 12 – Análise Final 5 – Ambiência Urbana em Totalidade ......................110
Quadro 13 – Resultado de Ambiência Urbana em Totalidade ...........................114
Condições de Ambiência:
Relação com a Qualidade de Vida e a Sustentabilidade

Arquitetura é uma ciência e uma variedade de muitas outras


ciências, erudita por sua beleza, e seu julgamento formado
por essas obras que são realizadas fora do resto, as obras
de artes, ele é o filho de práticas e processos de raciocínio

VITRUVIUS, I a.C.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho discute as questões relativas à composição de uma comunidade


que, historicamente, insere-se como uma representação particular na cidade e
paisagem através das cidades e dos bairros. O direcionamento da articulação cidade-
bairro engloba ações, saberes, práticas e sujeitos, culmina na observação dos valores
humanos e sua expressão arquitetônica e ambiental; isto se faz através do conceito de
Ambiência Urbana. Neste conceito podem ser pensados outros conceitos
entrecruzados, por serem afeitos e necessários, como a Qualidade de Vida e a
Sustentabilidade. Desta forma, poderiam ser pensados e compreendidos os vínculos
solidários e coletivos entre os moradores como urbanidade.
Neste trabalho a observação do fato sobre a forma de relacionamentos e
composição de um bairro foi o ponto nodal para elaboração das questões abarcadas
em nome do tema Ambiência Urbana e suas relações com Qualidade de Vida urbana e
Sustentabilidade urbana em uma visão iconográfica. Tal tema se apresenta de acordo
com os parâmetros de Ambiência Urbana elaborados por Mascaró e Mascaró (2009).
A percepção do ambiente é facetada pelo comportamento sócio-espacial-urbano,
sendo que este último será dialogicamente contíguo às questões do território,
cartografia, mapa; assim como o espaço delimitador de um bairro, sua ordenação se dá
quanto ao público e privado, em dupla afetação pessoa-ambiente.

13
Arquitetura e Urbanismo, em sua suavidade, promovem um contato com o
conceito de Ambiência Urbana. Dimensionar o meio social humano e sua compreensão
quanto ao uso do espaço conduz a reflexões sobre os fatores históricos, uma
multiplicidade de vias que possibilitam inúmeras respostas.
Desta multiplicidade foi necessário um enfoque, recortado pela interface entre os
atores sociais e o ambiente em que vivem. Para tanto, a proposta de Mascaró e
Mascaró (2009) quanto à Ambiência Urbana e suas relações com a Qualidade de Vida
e a Sustentabilidade.
Será necessário, antes, pensar as formas pelas quais estes atores sociais se
organizam. A gregariedade, ou seja, a capacidade e necessidade de estar em grupo,
criando vínculos e trocas, está presente em muitos seres vivos e notadamente nos
humanos. No entanto, o ser humano, mais que estar em grupo, cria espaços
específicos para esta condição: as cidades.

Cidades são formas extraordinárias de vida coletiva – meios para nossas


interações em intensidades talvez impossíveis de serem alcançadas sem sua
espacialidade particular. Elas expressam nossa natureza profundamente
comunicativa, habitam nosso imaginário, amparam e ampliam nossa
capacidade de produzir as ideias, artefatos (MORAES NETTO, 2014, p.19).

É no espaço citadino que as possibilidades de estar e de ser se constroem,


mediadas, articuladas e referenciadas. Pelas formas institucionais, as cidades
compõem leis e regras que norteiam as práticas. Mas isso, assim como a complexidade
humana, faz-se de maneira ambígua e conflituosa.
A cidade pode ser pensada em contraposição ao espaço da natureza e ao
espaço rural – em que o tempo é medido pelas regras da natureza. Nas cidades, tidas
como urbanas, o tempo é (são) das regras, das leis, dos direitos e deveres. É dentro
das cidades, em suas menores unidades, que se compreendem as necessidades de
estar, na forma de bairros. Portanto, é nos bairros que as comunidades ganham as
suas principais características, das pessoas que se organizam culturalmente.
Compreender a cidade é a ação do Urbanismo. Este conceito diz da organização
do espaço, sua circulação e as legislações que regem o meio citadino. Do urbano

14
(cidade), ao Urbanismo (estudo das cidades), depreende-se a Urbanidade (formato e
ditames das ações humanas, os agrupamentos e seus contatos).
Góis (2008, p. 75) indica a cidade como lugar de viver, enquanto condição básica
da Urbanidade, como algo que lhe é próprio, sendo impossível negar-lhe o sentido e
muito menos negar o morador, sua existência e sua responsabilidade pelo lugar. E é
neste sentido que as cidades, assim como os bairros, carregam a vida social, por serem
impregnados de ações coletivas, por ser lugar de inclusão, mas que também transfere a
este lugar o direito à participação coletiva. Assim sendo, o bairro é um lugar de sentido
e territorialidade, de construção do cotidiano.
Podendo assim ser lido:

(i) a cidade como um modo de estruturar a experiência de cada um, tanto


temporalmente como espacialmente – um framing compartilhado de nossa
experiência no mundo; (ii) uma estrutura que converge práticas de
temporalidades distintas; um caleidoscópio que projeta atos passados ao
presente: em canais de movimento e lugares de atividade e memórias que
conectam atos na atualidade do agora; (iii) a cidade como coexistência de
diferentes “modos temporais e espaciais de ser” e como possibilidade de
encontro e reconhecimento do outro, um framing da experiência da alteridade.
Em outras palavras, a vida urbana envolve uma ambiguidade fundamental: ela
ampara diferentes experiências individuais e as relaciona em modos de
experiência em comum, sob forma da vida urbana. (MORAES NETTO, 2013, p.
236)

Há muitas formas de pensar o urbano, mas aqui o foco está nos conceitos de
Urbanidade, Urbanização e no Urbanismo. A Urbanidade também pode ser resumida
como a necessidade de os indivíduos estarem juntos de uma determinada forma.
Assim, a Urbanidade pode ser interpretada como sendo a cidade que experimenta e
compartilha o mundo, que pode ser observada e pontuada: do ponto de vista estrutural,
em um primeiro momento, e, em um segundo momento, como por camadas ou layers,
na explanação de Moraes Netto (2013).
Do ponto de vista estrutural, como primeiro ponto de articulação, têm-se práticas
temporais distintas em que cada uma opera, dentro dos atos do presente, o passado.
Rossi (1995) acrescenta que os traços de práticas anteriores se projetam em cada
presente urbano, assim como as práticas sociais que se interligam à questão do tempo.
Desta forma de olhar é afeita a ideia de caleidoscópio como já apontada, sob a forma

15
de canais de movimentos e lugares de atividades de memórias, que permeiam umas às
outras como engrenagens, nas formas atuais do agora (MORAES NETTO, 2013).
Em outras palavras, a cidade, como camadas/layers, vivenciada como
sobreposição aos modos temporais e espaciais de ser, atua como projetor de encontros
e reconhecimentos do outro. Isto pode levar à compreensão da Urbanidade como um
esboço de experiências da alteridade no sentido da Antropologia clássica, e, por assim
expressar a questão urbana, implica em uma ambiguidade (HOLANDA, 2006).

Assim, se desejamos usar o conceito de urbanidade para entender o modo de


experiência de um mundo que se apresenta imediatamente urbano devemos
entender o cruzamento entre a espacialidade particular das cidades, como
estruturas e projeções de ações conjuntas, por meio da ação coletiva. A
espacialidade urbana tem relação intrínseca aos ritmos variados da prática
(MORAES NETTO, 2013, p. 39).

A Urbanidade, então, refere-se às ações coletivas alinhadas às necessidades de


estar em grupo, como práticas de sobrevivência, de acordo com os aspectos físicos e
naturais, no sentido da Urbanização. A Urbanização acontece para que se possa
atender às questões da expansão das cidades, uma vez que, no entendimento urbano,
trata-se de um crescimento superior ao rural. Isto faz com que as cidades ganhem
dimensões superiores à demanda populacional, articulada à lógica atual (capitalista e
mercadológica) ou de expansão do mercado (FERRAZ, 1999).
Neste sentido, Rolnik (2004, p. 12) acrescenta que a possibilidade

Do espaço urbano deixou assim de se restringir a um conjunto denso e definido


de edificações para significar, de maneira mais ampla, a predominância da
cidade sobre o campo. Periferias, subúrbios, distritos industriais, estradas e vias
expressas recobrem e absorvem zonas agrícolas num movimento de
urbanização. No limite, este movimento tende a devorar todos os espaços,
transformando em urbana a sociedade como um todo.

Mais um ponto há que ser observado: do mesmo modo que se tem a expansão
urbana, encontram-se situações inversas pelas consequências deste inchaço. Depara-
se com a redução de alimentos e de recursos, abrigos ineficazes, precariedades
urbanas e de mão de obra marcada pela falta de qualificação. Também se observa que

16
não basta dar conta da natureza, mas, além disso, das relações entre as pessoas a
partir desta mesma expansão.
A Urbanização deve também pressupor um planejamento das formas destas
relações e, consequentemente, das cidades e de seus bairros. Seria através das leis e
das regras de convivência que se consolidariam tais relações. Finalmente, Urbanismo é
o estudo implantado para o processo de Urbanização, conforme indicado por Silva e
Romero (2011).
Progressivamente, as cidades, onde a oferta de oportunidades e de serviços são
apresentadas como um diferencial, passaram a alojar pequenos núcleos residenciais,
de ocupação irregular (as vezes com caráter regular), compostos por construções
precárias e improvisadas, cujas localizações se vinculavam à proximidade do trabalho e
às facilidades de mobilidade (PEQUENO, 2008). Ou seja, a não urbanização ou o não
planejamento provoca o aumento dos conflitos e das ambiguidades que fazem parte
das relações entre as pessoas e ao poder público enquanto políticas públicas de
viabilidades, indicando-se a saúde/doença da cidade em contraposição à saúde/doença
das comunidades e de cada cidadão (SANTOS, 2013), tornando as cidades espaços
urbanamente insustentáveis.
Por isso, contemplar a relação pessoa-ambiente / ambiente construído se articula
e deve ser observada. O conceito de Ambiência Urbana, em interface com os conceitos
de Qualidade de Vida e Sustentabilidade, permite compreender o intrincamento urbano
e suas formas.

1.1 JUSTIFICATIVA

O interesse por este tema está relacionado à formação profissional do autor, a


Arquitetura e Urbanismo, e sua preocupação na observação do espaço urbano. Como
professor, por outro lado, identifica que as condições não urbanizadas seriam a causa
da Sociopatologia das Cidades (SANTOS, 2013).
Para dar conta da pluralidade das relações nas cidades, há um conceito que, por
sua amplitude, combina com a discussão apresentada: Ambiência Urbana. A Ambiência

17
Urbana aponta para o estabelecimento do que vincula as pessoas, enquanto
moradores, arranjos e pactos sustentáveis e seus dispositivos, profissionais,
possibilidades e experiências, compondo ideias e sustentando a expressão do bairro no
município. Desta forma, Ambiência Urbana engloba os moradores (atores sociais), os
técnicos e o poder público, em uma dinâmica constante da humanização das cidades
(BESTETTI, 2014).

O meio ambiente é o conjunto utilizando-se de valores objetivos como forma,


função, cor, textura, ventilação, temperatura, iluminação, sonoridade e
simbologia. Cada um desses valores objetivos compõe o espaço dimensionado
e funcional, resultando no espaço da arquitetura e determinando o nível de
bem-estar de seus ocupantes. Há, porém, valores subjetivos que são adquiridos
culturalmente, de acordo com a experiência de vida, estabelecendo
significados, positivos ou negativos, em relação aos estímulos do ambiente
(BESTETTI, 2014, p. 602).

Na Ambiência Urbana haveria aproximação à saúde coletiva, apresentando a


cidade e a natureza como partes da Qualidade de Vida Urbana (QVU) em sua
dependência socioecológica. Portanto, esta parte do estudo é pensada em pontos
ramificados, coerentemente associados aos padrões ecológicos e aos processos
ecológicos. É viável que se conduza o pensar sobre a qualidade da paisagem para a
Qualidade de Vida em Ambiência Urbana, que é a forma de observar o todo como um
mosaico da paisagem para poder se ter a dimensão de uma Arquitetura Sociológica
(HOLANDA, 2006).
No tocante à Sustentabilidade, relacionada às questões urbanas, indaga-se
acerca de um conceito de bem durável, sobre os recursos ambientais que tenha suas
propriedades atendidas no tempo e no espaço, conforme o Art. 225, da Constituição
Federal (BRASIL, 1988, s.p.): “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia Qualidade de Vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”.
Inevitavelmente, portanto, a questão da Sustentabilidade Urbana se relaciona à
dimensão da Qualidade de Vida. Lembram Sousa et al. (1998) que, se o
desenvolvimento de uma cidade não é planejado – seguindo a lógica da falta –, as
condições básicas tais como alimentação, saúde, vestuário, moradia, transporte,
18
segurança pública e social, identidade cultural e familiar, educação e integração com as
questões da natureza não serão atendidas. Logo, Ambiência Urbana, Qualidade de
Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana também não o serão. Neste viés, estas
questões serão aqui entendidas como temas correlacionados.
Se, por um lado, esta correlação perpassa a qualidade ambiental, seus aspectos
psicológicos e socioculturais, por outro, trama as subjetividades das políticas públicas
que estão articuladas aos efeitos no meio sobre a conduta e o sentimento do homem
como um cidadão de deveres e direitos. Pode-se pensar, então, em Ambiência Urbana
tal como apresentada por Mascaró e Mascaró (2009): dentro da concepção de lugar,
como um conceito que vai de encontro à composição das necessidades aparentes de
uma população; ainda que, muitas vezes, marcado pelos interesses do poder público e
das políticas públicas.
Neste sentido, Ambiência Urbana se conecta às formas de estar na cidade (nos
bairros, idem) e faz pensar sobre outros temas, bastante próximos, como a Qualidade
de Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana. A organização das pessoas, de acordo
com as leis e as regras urbanizadas, implica na responsabilidade de cada um e do
poder público quanto às melhores formas de viver em sociedade. Talvez a mais forte
questão a ser relevada seja a do próprio lugar, o que este lugar pode falar de si e o que
o “eu cidadão” pode fazer para construir neste lugar o que dele se espera e o que dele
necessita.

Definição: Ambiência de um espaço de permanência ou de um percurso e a


demarcação de seu caráter público ou privado são diretamente determinados
pelas suas dimensões. Portanto, o dimensionamento é fundamental, em
primeira instância, para um domínio das demandas de espaço a que
correspondem as diversas atividades e, em segunda instância, para a definição
de hierarquias e demarcação de diferenciações claras entre os espaços de
naturezas distintas (MACIEL, 2003, s.p.).

Este trabalho se justifica cientificamente pela possibilidade de presentificar, no


estudo de uma comunidade, os conceitos de Ambiência Urbana, compondo com
maiores detalhes a Ambiência Urbana em Arquitetura. Este é um conceito que permite
articular as várias faces do estabelecimento das pessoas nos espaços em que vivem,

19
trazendo discussões mais amplas e, paradoxalmente, específicas sobre as práticas
humanas.
Assim, o trabalho tem, também, relevância social, permitindo, com os moradores
deste bairro, compreender as questões elencadas (Ambiência Urbana, Qualidade de
Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana). E, por outro lado, levá-los a refletirem sobre o
que lhes seria melhor ou outra contribuição que venha a lhes ser relevante.
Estes temas devem vir a contribuir para que o observador tenha, na lógica, um
olhar diferenciado, sem destacar as constantes subjacentes aos problemas
comunitários e sociais. Que este estudo não seja aqui postado como uma mera
predileção, mas que busque na teoria recomendações efetivas. Também na área da
Arquitetura pode contribuir para a comunidade acadêmica, ciente que o modelo
apresentado seja também um alerta contra as ciladas das regiões em conflito
ambiental, social, sustentável e seus específicos.
A questão da Ambiência Urbana em Arquitetura envolve vários aspectos do
estabelecimento das pessoas no espaço em que vivem (casas, bairros, cidades,
países), de acordo com as formas de conduzir o cotidiano (cultura, linguagem e
hábitos). Das formas desta condução, em relação ao estabelecimento, podem ser
entendidas as situações de Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana.
Mascaró e Mascaró (2009) colocam que a Ambiência Urbana, tal como avaliada
nas cidades e condições de habitabilidade, deve ser importante ponto de estudo,
análise e delimitação de prognóstico, a partir da degradação ou impacto ambiental. Os
autores propõem o estudo e análise do microclima (resultado da combinação dinâmica,
pela falta ou a instabilidade de elementos físicos), bem como dos elementos biológicos
e antrópicos, levando ao diálogo entre as partes que transformam a paisagem em um
elemento único e inseparável – Imagem em movimento.
No conceito de Ambiência Urbana, para Mascaró e Mascaró (2009), está presente
a preocupação com sua qualificação. Todavia, este estudo propõe que não se pense a
Ambiência Urbana somente neste modelo, mas de acordo com a captura da imagem do
bairro, seja ela qual for.
Para estes autores, a Ambiência Urbana se define pelos seguintes elementos
norteadores (para facilitação de identificação, como condições do bairro): Clima, Clima
20
Urbano, Recintos Urbanos, Vegetação, Ruas e Praças. A partir destes elementos, o
conhecimento que se pretende obter é uma dimensão das amplitudes do bairro, como
uma fotografia de atuação dinâmica e estrutural (uma imagem em movimento), as quais
se configurariam como a Ambiência Urbana do Bairro Santo Antônio e sua iconografia.
Acrescem-se a estes elementos outros que são julgados importantes, relativos ao
trânsito das pessoas do bairro diante das condições do próprio bairro: dispositivos
públicos (Programas de Saúde da Família, Escolas, CRAS e Igrejas) e dispositivos
privados (Hotelaria e comércios locais). Unem-se os elementos apontados e as
condições do bairro, podendo ser refletidas e consideradas nas relações da Ambiência
Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana.
Para o desenvolvimento da pesquisa escolheu-se o bairro Santo Antônio, em São
João da Boa Vista, por ser um dos bairros mais antigo da cidade, por seu aporte
histórico e fundador da cidade, por suas caraterísticas peculiares de vivência e seus
códigos de interação.

1.2 PERGUNTA PROBLEMA

Partindo destas colocações, a pergunta que este estudo busca responder é:


Qual a relação entre as condições de Ambiência Urbana do bairro Santo Antônio e
a Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana?

1.3 OBJETIVO GERAL

- Examinar as condições de Ambiência Urbana de um bairro, através da


descrição iconográfica, suas relações com a Qualidade de Vida Urbana e a
Sustentabilidade Urbana.

21
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A - Identificar os aspectos relativos à Ambiência Urbana (Clima, Clima Urbano,


Recintos Urbanos, Vegetação, Ruas e Praças) e os Dispositivos (Públicos, Privados
e Outros) no bairro Santo Antônio.
B - Registrar as condições de Ambiência Urbana, de Qualidade de Vida Urbana e
de Sustentabilidade Urbana.
C - Analisar as relações existentes entre as condições de Ambiência Urbana,
Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana no bairro Santo Antônio.

1.5 PRESSUPOSTO

Há relação intrínseca entre Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e


Sustentabilidade Urbana quando se analisa um bairro.
Feita esta breve exposição, segue-se a apresentação do referencial teórico com
a conceituação de Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade
Urbana. Em seguida são apresentados os resultados, desde a história do bairro à
avaliação do bairro Santo Antônio, a partir da concepção de Mascaró e Mascaró (2009).
Estes resultados, aliados às fotografias do bairro e ao Diário de Campo, permitiram
alcançar os objetivos propostos. Finalmente é apresentada a discussão, na qual se
articulam todos os elementos do trabalho.

22
2 APORTE TEÓRICO

2.1 ESPAÇO URBANO, SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA

Um bairro, inserido na cidade, tem como ponto de partida sua história; marcas
que indicam os sinais do discurso do espaço urbano. Este discurso é tecido
sensivelmente pelos acontecimentos vivenciados por cada um na construção social das
relações cotidianas.
O espaço urbano, qual uma cartografia urbana, observa-se a construção do
todo nas representações de um espaço-local, não como um rebatimento, mas como
presentificação da realidade observada. De modo geral, a vida urbana é a vida dos
relacionamentos, em que as identificações e mudanças promovem acontecimentos
dentro do ideário destas mesmas representações.

A criação ou usufruto de lugares são práticas humanas e a disciplina da


arquitetura como ciência humana estuda relações entre os lugares e as
pessoas, do ponto de vista dos aspectos funcionais, bio-climáticos, econômicos,
sociológicos, topoceptivos, afetivos, simbólicos e estéticos. (HOLANDA, 2006,
p. 123)

As formas como as relações se dão em um bairro tramitam as questões do


território. As alterações espaciais e a passagem do tempo podem ter reflexos no espaço
físico, mas também modificam o espaço imaginário, as ideias sobre o espaço-local.
Como o que delimita o território está mais relacionado à dimensão cultural (das ideias),
todo espaço humano, mesmo o espaço físico, é de natureza antropológica (HOLANDA,
2006; SOUZA, 2006; MORAES NETTO, 2013).
Território, cartografia e mapa, na observação de Souza (2006), não são termos
fáceis de delimitar. Pode-se dizer que a compreensão neles abrigada ou tateia (toca) a
questão semiótica na integração da representação do signo (do palpável ao abstrato).
O processo que objetiva a ação aflora como ideia e se define na particularidade de
cada um, podendo ser pensado como metáfora do espaço ou como cartografias

23
subjetivas. Em se falando de semiótica do espaço, o que pode ser proposto é a
orientação dos efeitos de sentidos, no qual a noção do espaço conecte-se como
pensamento para construir sentido de análise.
Um território se qualifica como sendo este lugar que pertence ao interno e à
construção externa ou do privado ao particular (TEIXEIRA e ANDRADE, 2010). O mapa
seria a representação traçada e demarcada de uma região que arbitrariamente é
imposta dentro de uma área (também sobre suposição de determinada dimensão, um
decalque); é a composição entre o que está posto e seu intérprete; como considera
Lefebvre (1983, p.114) é “uma presença na ausência”.
Isto implicaria, para o ser humano, uma exterioridade demarcável para além de
sua representação,

Por essa abordagem e concepção (i) material, uma dimensão fundamental e


quase negligenciada em estudos territoriais ou tratada comumente como base
física, é a natureza exterior ao homem (ambiente). Assim merece atenção sem
a pretensão, evidente, de esgotar a temática ... talvez, possamos avançar a
partir do exposto, sobretudo a partir da possibilidade de se considerar, na
natureza do território, a natureza. (SAQUET, 2007, p.172).

Um mapa não é um território. Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística, s. d.), mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena,
dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na
superfície de uma figura planetária. Delimitado por elementos físicos, político-
administrativos, destinada aos mais variados usos (temáticos, culturais e ilustrativos),
um mapa é uma maneira de representar o espaço físico.
A etimologia da palavra cartografia deriva de três radicais: o primeiro traz o
sentido de carta, derivado do grego chártēs e do latim charta e tem como um de seus
significados a palavra mapa, de onde se deriva cartografia (carta + geografia). O
segundo radical é geo derivado do grego gēo, de gē (gés) e significa ‘terra’. O terceiro,
grafia, deriva-se do grego graphein e significa ‘escrever, descrever, desenhar’ (CUNHA,
2007, pp. 160, 384, 392, passim). Para desenhar este espaço onde se busca a
interatividade entre os elementos circundantes, dentre eles o homem em sua formação
social, portanto, a produção de cartografia é um ato de criação.

24
Na cartografia o objetivo fundamental seria “reconhecer uma multiplicidade de
enunciações existentes em um território, por meio de seus acontecimentos, e como eles
são agenciados por sujeitos e objetos” (SOUZA, 2006, p. 19). Nesta perspectiva,
existiriam delimitações que podem fracionar um espaço e manter uma forma gráfica de
observar uma determinada região. Isso permitiria, a partir de seu registro, distinguir
quais são produzidas em um território. As diferenças são expressas em formas de
resistências, contrastadas nos modos contínuos e lineares de forjar as existências das
relações humanas.
A tarefa do cartógrafo, portanto, seria a de recriar, na forma de um mapa, os
processos de subjetivação, diferentes lugares, ou, ainda, diferentes planos de
existência num mesmo território. O ato da cartografia nunca visa à produção fiel do
território, pois reconhece sua especificidade, qual seja, “mapear um território e explorar
a natureza, percorrendo espaços e nele identificando lugares – territórios dotados de
sentido – ou descobrindo paisagens – recortes do espaço organizados pela estética do
olhar” (PASAVENTO, 2005, p. 17).
A Cartografia Urbana – que também poderia ser pensada como Arquitetura
Social (HOLANDA, 2006) – apresenta-se como o acesso à história de um lugar e aos
grupos que dele participam (LEROY, 2010). Já a cartografia social abrange qualquer
aspecto territorial, seja urbano ou rural, buscando compreender a complexidade de
suas relações. As ambiguidades e conflitos dos grupos são tecidos importantes da
dimensão do território e é através deles que se organiza a Cartografia Urbana.
Qualquer território se traduz em disputas dentro do espaço, sendo a história do
lugar uma forma de diálogo. Esta história é sempre única; quando se vive uma história
de um espaço, os códigos recebidos e enviados são vivos em um fato distinto
(RAFFESTIN, C. 1993; SANTOS, 1994; SAQUET, 2007).

Quantas cidades foram cortadas em duas, secionadas por redes de


comunicação rodoviárias ou ferroviárias! A ambivalência surge em escalas
diferentes. O que pode ser visto como comunicação em pequena escala pode
ser visto como perda de comunicação em grande escala ... isso é
particularmente verdadeiro para as redes concretas: redes rodoviárias,
ferroviárias, de navegação. Essas redes que se traduzem por infraestruturas no
território partem e/ou ligam sempre pontos precisos específicos. É a própria
expressão da hierarquia dos pontos (RAFFESTIN, 1993, p. 12).

25
O que se pode observar é que várias são as camadas que compõem um bairro.
Assim como a explanação de Raffestin (1993) ao descrever as situações que podem
diferenciar a vida de uma cidade, nos bairros encontram-se outras referências como,
por exemplo, sua história de ocupação e apropriação do local, sua heterogeneidade de
articulações construídas durante o processo e a fabricação de intervenções sociais,
tanto pelo Estado (poder público), como pela Sociedade Civil Organizada. Estas
sobreposições de efetivação da existência humana sobre um território específico são
alinhavadas pelo discurso acerca dos direitos sociais, como os de moradia, trabalho,
educação, saúde, lazer e de segurança (SOUZA, 2006).
A construção do conhecimento sobre as formas das relações humanas, levando
em consideração as diversidades, expressa a realidade cotidiana e, não obstante, a
construção para o conhecimento mais amplo da sociedade. A compreensão do humano
é também, complexamente, a compreensão da humanidade, dialógica e diversamente,
logo:

Homem, centro estruturante (ou centro de perspectiva) porque ordena, distribui,


molda, cria enfim a Realidade através do Pensamento e da Ação, fazendo
História... Homem, centro estrutural (ou centro de construção) porque compõe
essa mesma Realidade como peça indispensável de sua arquitetura, como
ápice que ela, presentemente atinge. Homem, portanto, chave de compreensão
do Universo (CHARDIN, 1955, p. 29)

Portanto, a territorialidade é construída a todo o momento entre as trocas e as


intertrocas subjetivadas. Na observação de Saquet (2007), tais ações (trocas e
intertrocas) estariam entre os homens e a natureza orgânica e inorgânica, que são de
extrema importância para a sobrevivência de todas as espécies. Desta forma é vital que
estas atividades sejam produzidas nos espaços contidos pelo território – configurando a
Ambiência Urbana.

2.1.1 AMBIÊNCIA URBANA

Em qualquer direção para as quais se dirijam os apontamentos deve-se buscar o


melhor modo de viver e de conhecer, deve-se tender para, e atender as apropriações
dos arranjos; tanto no que diz respeito ao espírito do lugar quanto à vivacidade que
26
envolve este lugar. De acordo com Turgeon (2008, s.p.), do Instituto do Patrimônio
Cultural do Canadá, “o espírito do lugar é dado como um fenômeno relacional,
processual e pode ser uma grande ferramenta para a mobilização social, revitalização
cultural onde a proposta é viver juntos”.
É essencial que se leve em consideração os aspectos que envolvem o homem em
relação ao conceito de ambiente, uma vez que este enlace de estar em grupo também
pode ser entendido como uma construção da ação humana. A própria evolução
histórica deve ser, de alguma forma, repensada e recriada a cada momento. Porém, o
que se coloca é a responsabilidade com a existência (presente e futura) e promover as
condições com Qualidade de Vida para a Sustentabilidade, para todos os que
compõem a sociedade (MINAYO, 2003).
Nas palavras de Costa (2006), a cidade é a expressão palpável da humana
necessidade de contato, comunicação, organização e troca, em determinada
circunstância físico-social e em dado contexto histórico. Esta afirmação vem de
encontro às colocações acerca da civilização para Freud (1930), em que a fragilidade
dos seres humanos estaria por trás da necessidade e do amor. O coletivo é imposto ao
ser humano como condição de sobrevivência na civilização, marcando cada um em sua
qualidade. Logo, segundo Costa (2006, p. 115),

O arquiteto olha o homem como ser individual dentro dos padrões de qualidade
e as cidades não como sendo um simples organismo capaz de preencher
satisfatoriamente e sem esforços as funções vitais próprias de uma cidade
qualquer, não apenas como URBES, mas como CIVITAS.

A definição, que se pode relacionar ao espírito do lugar, é uma questão de


estudo bastante ampla, uma vez que está intimamente ligada às questões do lugar e à
Ambiência Urbana, como patrimônio da cultura geral. Desta maneira, o espírito do lugar
está para além do modo de viver, cunhado no uso através dos quais são feitos, neste
espaço, de acordo com Gomes (2008), indo aos efeitos que este lugar provoca; sua
essência define a pureza material e a exclusividade que acarreta em um sujeito a
cristalização de identidade, os conflitos sociais e étnicos.
Derivado do francês Ambiance, Ambiência conota um meio de equilíbrio e de
humanização favorável ao protagonismo. A participação para uma construção desta
27
Ambiência é ainda referente ao espaço como cenário, que alinha as relações humanas
e favorece as inter-relações de valores pessoais. Jacobs (2011) concebe a imagem da
cidade como reflexos de suas microestruturas e estas sobressaem às macroestruturas;
por assim ser, tudo que está no macro está no micro.
Para além da estrutura aparente, há as pequenas narrativas feitas em seu
cotidiano. Então, a compreensão do conceito de Ambiência Urbana pode ser entendida
como o espaço organizado e repleto de ânimo, de sentidos psicológicos, relativo às
atividades humanas. Por isso, despertam as paixões pessoais, portanto, físicas e
emocionais, que designam seu lugar, seu pertencer. Desta forma, traduzem suas
influencias ao entorno pela sua vida social e microeconomia faz animar os bairros,
como fios de fluxo espacial as ações sociais como identidade (MORAES NETTO,
2014).
Uma das primeiras definições da Ambiência no Brasil veio através de sua relação
com a saúde. Na definição do Ministério da Saúde (1999), a Ambiência em saúde deve:
1. Visar a confortabilidade focada na privacidade e individualidade dos sujeitos
envolvidos, ampliando elementos do ambiente que interagem com o homem
(sensações), que desta forma possam garantir conforto aos atores envolvidos
(funcionários e usuários);
2. Usar o espaço como uma ferramenta funcional e que possibilite a otimização
de recursos e o atendimento humanizado. Acolhedor e resolutivo.
Entende-se que a aplicação da ambiência em saúde seria também uma forma de
otimizar os serviços, agilizar as respostas de demandas e a produtividade dos
funcionários. Com isto, é possível melhorar os cuidados aos pacientes, observando a
estrutura do espaço alinhada as condições gerais.
O conceito de confortabilidade, acima mencionado, indica que

É importante conceber Ambiências confortáveis e acolhedoras, de modo a


favorecer a privacidade e individualidade dos usuários do serviço e
trabalhadores que usam o espaço; valorizando a utilização de componentes do
ambiente que interagem com as pessoas, em especial, a cor, a luz, as texturas,
os sons, aromas e a inclusão da arte nas suas mais diferentes formas de
expressão (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 6).

28
O termo Ambiência também é usado pelas áreas de Agricultura e Agronomia,
visando compreender e conhecer as condições de clima que favorecem o cultivo e as
características físicas, climáticas, de instalação e regionais na criação de animais.
Martins, Marchetti e Reis (2013) indicam que o avanço tecnológico (geoprocessamento)
tornou possível mapear e prever situações na direção de uma Ambiência Sustentável,
no sentido de uma agricultura de precisão.
A definição de Ambiência Urbana cabe também para a melhoria em locais de
trânsito, a partir do número de moradias legalizadas e normatiza uma série de conjuntos
de aplicações e estruturas sociais tal como a que se refere à permanência e ao
movimento das pessoas nos lugares e nas cidades1. É necessário que se olhe para a
rua; isto, para além de uma questão de segurança, é, também, uma forma de
apropriação ao espaço urbano. A ação de pessoas faz com que a rua, a vila, as praças
devem, aprioristicamente em estarem seguras, Jacobs (2011, p. 37) aponta que:

A demarcação do lugar se dá pela movimentação que nele se faz, e isto não é


somente em suas praças, ruas ou esquinas é o conjunto e em principal as
calçadas. Portanto para que a sua vida social seja segura vai depender dos
outros atores, que serão os olhos da rua [uma analogia às janelas].

Denota-se que um bairro é palco de intensa movimentação cotidiana que indica


marcas e trajetos que são criadas e organizadas pela população em função essencial
de viver. Assim, a forma de um bairro estaria condicionada ao seu estabelecimento. O
estabelecimento de um bairro, porém, estaria condicionado à sua história. Logo, a
história de um bairro determinaria seu estabelecimento e, por consequência, sua forma.
Deve-se pensar a Arquitetura como uma linguagem. Uma vez que busca
compreender a estrutura da sociedade e dar significado a partir do desenho
humanizado para construir o espaço e sua existência no contexto social, que pode ser
pensado também como espaço e a razão formal da arquitetura. Em Argan (2004),
portanto, subentende-se que morar é uma necessidade e de acordo com a história da
cultura.

1
Ver, a este respeito, http://www.ambienciabrasilia.com.br/tag/relatorio-de-impacto-de-transito/ -
detalhes que não aparecerão aqui por fugirem ao tema do trabalho.
29
Todavia, ainda assim, existe a complexidade público/privado, bem como as
oposições binárias de organização do espaço. Segundo Lawrence (1997), estes
códigos binários são, a um só tempo, funcional, espacial, social e psicológico – sua
classificação é tanto a demarcação como a transferência entre qualquer dos polos do
código. Esta transferência se processa e reflete a questão do projeto, “onde o público
se torna privado, a frente se torna fundo, assim como o profano se torna sagrado”
(LAWRENCE, 1997, p. 73).
Os exemplos apresentados por Lawrence (1997) são exercícios de observação e
comprovação didática para a realização dos trabalhos e oferecem soluções práticas
para evoluir os projetos, por um lado, fundamentando as soluções clássicas. De outro,
expõem as tendências empregadas emocionalmente e harmonicamente aos conjuntos
projetados. Assim sendo, pode-se pensar que a estrutura de um projeto arquitetônico,
formal ou informal (particular e privado), é da ordem da complexidade do partido
tomado pelo idealizador – e é a partir desta complexidade que se pensa a Ambiência
em Arquitetura em sua função das ações binárias e seus modelos.
A definição de Ambiência em Arquitetura se ordena no sentido de compreender a
“relação pessoa-cultura-ambiente construído” (DUARTE et al., 2007, p. 07).
Completando-a, Tozzi (2005) indica que aos espaços construídos como desejo do lugar
acrescenta-se às visões cenário/abrigo que encerram a ideia de bairro. A Ambiência
busca entender a cidade, a vila, a casa, aprioristicamente observando suas relações
entre o entorno e seu interior, para que se apreenda não só o lugar, mas o homem em
sua totalidade, tomando lhe pela história, compartilhando os significados pela
moldagem do espaço.
Em se pensando o espaço, sua organização e seu meio físico, pode-se
acrescentar os conceitos estéticos e psicológicos, desde as atividades humanas, em
meio sócio-político-econômico. Para Duarte et al. (2007, p. 02), desde o projeto
arquitetônico, “um espaço pressupõe não apenas a imaginação desse espaço, mas,
também, a capacidade do indivíduo de interpretar os fatos do mundo e processá-los”. E,
ao fazê-lo, pode-se marcar a passagem entre a percepção que promove a integração
social e os atos integradores. Colocando este morador dentro das relações entre o
sujeito e o mundo à sua volta, captura-se este sujeito/morador como participante eficaz
30
da urbanidade. Ainda por este viés, este sinal tem um papel atuante, como a presença
nas relações, através de experiências individuais (MORAES NETTO, 2014).
Ambiência em Arquitetura, então, integra várias disciplinas onde o ambiente é o
hiato, pois é este o ponto de diálogo entre elas. A base, formada pelo homem, é o piso
que faz tramar entre as formas mais remotas e a aquisição deste elemento (JODELET.
2002, p. 33). Na ‘visão adaptativa’, Berlinck e Hogan (1978, pp. 118-120, passim)
apresentam que

o meio urbano constitui um sistema de disponibilidade de recursos que podem


ser obtidos desde que uma rede de interação organizada o permita fazer e
continua apontando a importância de tal fator (Ambiência) facilita a rede de
interação que se baseia na cooperação e no auxilio mútuo, incluindo a
transmissão de informações, pois concilia a utilização desenvolvida e a
familiarização do sistema.

Segundo Santos (1987, pp. 41-42), “o cidadão é multidimensional. Cada


dimensão se articula com as demais na procura de um sentido para a vida. Isso é, o
que dele faz o indivíduo em busca do futuro, a partir de uma concepção de mundo”.
Muitas vezes, a Ambiência de um lugar tende a mostrar onde a ação deveria ser uma
âncora na realidade. Todavia, esta mesma realidade se decompõe pela condição ao
que ali se apresenta. A mudança de paradigmas, por sua vez, é de difícil captura pelos
moradores e pelos grupos que tentam reeducar para a democracia. Neste sentido, o
que pode ser perseguido é a partir dos pequenos momentos para a construção de um
protagonismo.
Do protagonismo a autonomia, cabe pensar que esta é uma passagem que deve
ser de articulação particularizada (própria ao sujeito) e que há corresponsabilidade
entre cada um são as condições que lhe envolvem; paradoxalmente sozinho e em
dependência. Assim, a autonomia também se condicionaria ao externo do sujeito,
mesmo que ele tenha participação na criação de um fato. A formação desta autonomia
de alguém está ligada, também, ao índice de informações a que se está exposto, sua
capacidade crítica, no exercício de seus conhecimentos, sua avaliação interpretativa e
reflexão. É, então, o protagonista da reflexão e da ação (CAMPOS, 2014).
Julga-se importante, neste momento, fazer uma breve explanação sobre as
condições socioculturais da contemporaneidade, quanto aos temas de protagonismo e
31
de autonomia, já que as épocas históricas são coadjuvantes dos processos de
composição dos indivíduos. No caso, especificamente, as formas de autonomia desta
contemporaneidade têm características próprias (JODELET, 2002).
Rego (2013), a partir de Habermas, considera a autonomia como um fundamento
motivacional e legitimador do que pode haver dentro de um julgamento da autonomia,
tanto grupal como para cada indivíduo, como sendo dentro do desejo decisório da
interioridade, ou melhor, como gostaria de ser e de viver. Esta forma de imaginar e de
elaborar estaria contida na atribuição de autonomia, desta forma, atribuindo-lhe plena
ciência de sua atuação com liberdade política, jurídica e social. Indica Rego (2013),
ainda sobre Habermas, que este seria o projeto da modernidade, conectado à busca de
sempre mais e maior bem-estar material (na forma de bens de consumo), elencando-se
itens novos para dar sentido de amplitude às realizações humanas. Por outro lado, esta
mesma lógica o leva a uma escravidão mascarada de consumo.
A confirmação da vivência social é também dada pelos espaços públicos em
sua qualidade, pelas atividades humanas que nela são produzidas. Isto pode ser
chamado aqui de dimensão das pessoas, tanto na forma de morar, quanto de lazer.
Pensando nisto, Herzog (2013, p. 77) ressalta: “cada ser vivo possui uma tremenda
complexidade, com características próprias e inerentes às suas relações com as outras
espécies e com o ambiente em que vive”.
Ambiência, de forma geral, e Ambiência Urbana, se articulam em função de
falarem das pessoas e das relações das pessoas com o espaço físico, as relações e a
constituição e construção das cidades. Mascaró e Mascaró (2009, s.p.), pensando
acerca da Ambiência Urbana, destacam que este conceito permite que se compreenda
“o modo como os valores de diferentes momentos da sociedade – enraizados em
projeções simbólicas sobre as contingências do meio natural” afetam a paisagem
urbana e o clima urbano.
Mascaró e Mascaró (2009) identificam ainda que os elementos da Ambiência
Urbana, por sua interdependência e interinfluência, sendo escalados como clima, clima
urbano, recintos urbanos, vegetação, ruas, praças, acrescidos de dispositivos2 –

2
Estes últimos serão articulados apenas no estudo do bairro, pois não são descritos por
Mascaró & Mascaró (2009).
32
públicos e privados – necessários à sobrevivência ou característicos para a cultura do
lugar.
A seguir, a explanação sobre cada um deles, resumidos a partir de Mascaró e
Mascaró (2009).

2.1.1.1 Clima

O clima é definido por suas características de temperatura, de tipologia e da


movimentação e direção de ventos, chuvas, umidade relativa do ar, para além das
determinadas condições que podem predominar em um lugar e sua relação com as
coordenadas geográficas, o tempo e estado atmosféricos correlacionado a
determinados momentos garantem o fenômeno e suas variações. Cada fator diferencia
uma região e em meio as suas variações correlatas existe uma constante previsível de
sua constituição climática. Por ser uma determinante constate, ou melhor, uma feição
característica e permanente do ciclo temporal aplicado e pontual, derivado as suas
infinitas variações, configura-se o clima regional.

Figura 1 – Mapa de mancha climática do Brasil – Fonte: IBGE (2016)

As relações climáticas e regionais do Brasil são de caraterísticas tropicais, já que


está situado entre a Linha Equatorial e o Trópico de Capricórnio. Portanto, suas

33
tipologias climáticas variam entre as regiões, abaixo tipificadas por Mascaró & Mascaró
(2009):
a) Úmido – os regimes de chuva abundam sem estação seca.
Encontra-se na região amazônica. Incluem-se temperaturas
superiores a 18ᵒC, uniformemente consideráveis por todo o ano, com
chuvas intensas na estação em que o sol está alto e seca no sol
baixo.
b) Subúmido – apresentando maior índice de chuvas no verão,
caraterística da região Sudeste. Esta região se distingue por ter
temperaturas médias superiores a 22ᵒC e abundância de chuvas.
c) Semiárido – a transição entre os climas úmido e árido tem
caraterísticas de estepes, que se vê na região Nordeste;
comparáveis às médias da disjunção transatlântica do deserto do
Kalahari. A massa de ar que vem da África alcança o litoral brasileiro
e progride sobre o oceano no feixe de ventos límpidos que divergem
do flanco do anticiclone. Esta característica contribui para uma fraca
nebulosidade, com forte insolação e as mais altas temperaturas
pelas fortes evaporações do território.
d) Árido – variação desértica com escassez de chuvas, clima
característico do Sertão brasileiro. Nesta região predomina a estação
seca com inverno fraco.
e) Montanhoso – apresenta clima ameno e verão brando, como na
Mata Atlântica. As ocorrências desta região concorrem com as
características do restante do Brasil, a média anual é de 18ᵒC, com
amplitude térmica. As chuvas são bem distribuídas e os índices
superam 1.250mm/ano, podendo apresentar baixas de amplitude
térmica nas regiões serrana e de planalto.

34
Figura 2 – Ilustração das principais Zonas climáticas do Brasil – Fonte: Mascaró e
Mascaró (2009, p.14)

2.1.1.2 Clima Urbano

O Clima Urbano se define pela interferência humana, impondo sua forma artificial
ao meio natural e isto faz reflexo diretamente no clima. Tanto nas grandes cidades
quanto em sua menor proporção (nos bairros), há grandes variações de clima urbano.
Em cada lugar observam-se possibilidades de Qualidade de Vida Urbana de acordo
com as questões relevantes, tais como a percepção humana da termodinâmica
(Conforto Térmico), o aspecto fisioquímico (qualidade do ar) e, finalmente, o aspecto
hidrometeórico (impacto pluvial).
Estes elementos podem ser percebidos na formação de eventos especiais como
as ilhas de calor, poluição do ar, mudança no balanço de radiação, redução das áreas
verdes, uso de matérias que absorvem muito a luz solar, cavidade (redução do fator de
visada do céu) cânions urbanos e inundações. O impacto sobre o Sistema Climático
Urbano (SCU) ocasiona anomalias pela conurbação urbana, que pode provocar
abafamento pela irradiação intensa sem que haja a quebra das ondas solares como no
caso das ilhas de calor, como apontam Monteiro (1975) e Mendonça e Monteiro (2003).
35
Os fenômenos acima apontados – termodinâmicos, fisioquímicos e
hidrometeórico – nada mais são que a compreensão do sistema climático que envolve
uma região. Para tal, uma observação acurada da topografia e dos modelos
morfológicos é a combinação de sua existência, sua relevância ordinal e seu porte em
relação à cidade, devendo ser objetivada para obtenção de predominância.
Em suma, o Clima Urbano deve ser percebido dentro de:
1) Configuração térmica ou resolução termodinâmica;
2) Qualidade do ar ou resolução físico-química;
3) Impacto meteorológico ou precipitações (impacto pluvial
concentrado).
A configuração térmica também está relacionada à capacidade de produção
transformadora da energia pela ação humana na cidade. Por outro lado, a qualidade do
ar também recebe o impacto da ação antropogênica. No caso das cidades isso ocorre
através da formação de domo climático (como representado na imagem abaixo). Ou
seja, há um impacto do homem sobre o ambiente. Dentre os aspectos elencados, o
Conforto Térmico é o que poderia ser articulado aos temas de Qualidade de Vida e
Sustentabilidade.

Figura 3 – Ilustração do Domo climático por influência do vento local –


Fonte: Mascaró e Mascaró (2009, p. 33)

36
As informações climáticas podem ainda ser consideradas como:
a) Macroclima – descrito em estações meteorológicas, diz do clima geral
de uma determinada região, sendo esta detalhada aos fatores de
insolação, nebulosidade, precipitações, temperatura, umidade
relativas, ventos e mais. As estações meteorológicas são
equipamentos que servem para correlacionar o caráter climático geral
e regional, mas também podem fornecer dados suficientes para uma
sondagem sobre uma provável influência urbana, como o crescimento
e sua intervenção em um determinado local.
b) Mesoclima – compreende a obtenção dos dados relevantes ao
macroclima requeridos em regiões topográficas como vales,
montanhas, vegetações, massas de águas, assim como massas
verdes de coberturas, dentre outras. Assim, estes fatores denotam as
possibilidades de uma topografia e os fatores relativos à ocupação
humana pela urbanização, pelo uso da terra, os padrões das
edificações, áreas abertas, adensamentos e padrões da vegetação.
c) Microclima - Os fatores relacionados ao microclima são obtidos
também pelas atuações humanas (antropométrico) sobre o entorno,
fazendo diferença quanto à Ambiência. É o fator atmosférico próprio
de um local ou de vários pontos de uma montanha, de um fundo de
vale, bem como os limites térmicos físicos identificáveis, como ruas,
praças e estações urbanas, que interferem em todas as condições
climáticas de uma região. Inclui ainda a irradiação solar ou, de acordo
com a incidência dos ventos, a reflexão nos leitos carroçáveis, as
condições de empraçamentos ou paisagismos públicos.
A este respeito cabe ainda destacar dois aspectos: A) Invariante de intensidade:
onde sempre é mais fresco, por exemplo; B) Ciclagem previsível: por exemplo,
amanhecer mais fresco, com tardes quentes e brisa ao entardecer.
O diferencial entre a Microclima e o Macroclima é que o caráter microclimático
evidencia fatores locais, atenuando ou não os fatores originários do meio externo e
interfere no contexto macroclimático. O mesoclima está associado a fatores isolados em
37
si mesmo, como a chuva que cai ou um vento que sopra sobre um determinado local,
de uma determinada altura, de acordo com uma determinada topografia. Todavia, esta
chuva e/ou vento por ser condicionada a uma característica externa ao recinto,
podendo quebrar os efeitos microclimáticos deste lugar.

2.1.1.3 Recintos Urbanos

Os Recintos Urbanos estão diretamente associados às condições do microclima,


com todas as suas nuanças e diferenciais, indo ao encontro à forma que se observa na
vegetação, ruas e parques, dentre outros, até a forma das edificações como proteção
ou eventos naturais de maior ou menor incidência. Este elemento consolidador
possibilita a qualidade climática e pode prevenir contra impactos da ordem natural ou
antrópicos. O condicionante Recinto Urbano colabora para a Qualidade de Vida.
Quando se atua em prol da sociedade, reduz-se a desigualdade e amplia-se o grau de
satisfação das necessidades básicas e o nível de bem-estar, associadas às identidades
das pessoas, gerando protagonismo ambiental.
De acordo com a Sustentabilidade local e a planificação das cidades, pode-se
observar a medida de controle ambiental urbano que contribui, nos bairros, para a boa
fluência dos lugares ou utilização de elementos públicos. Isso também se relaciona ao
bom uso da energia (ou sua dispersão). Pode-se pensar aqui sobre a identificação dos
moradores aos bairros, na forma de percepção do lugar, ou clareza sócio-espacial
(Massa verde/vegetação (suficiente ou não), sol, qualidade térmica, qualidade
atmosférica e pavimentação).
A influência obtida pelo microclima urbano é um reflexo dos demais espaços,
podendo ser aberto, de uso público e ou privado em todas as suas variações. Isto quer
dizer que o Recinto Urbano considera todos os elementos circundantes, como praças,
ruas, pátios, jardins, parques e edificações; espaços que, em menor ou maior grau de
proteção e abrigo, indicam os elementos de controle ambiental urbano.
Pode-se dizer, em relação aos Recintos Urbanos, que sendo espaços
delimitados pela natureza e assim percebidos em um plano bidimensional – ou seja,
piso e parede –, estes elementos são, por sua característica, interventores na condição
38
climática de relevância e de grande influência na ordem senso-ambiental (MASCARÓ e
MASCARÓ, 2009). Aqui, por analogia, pode-se também considerar os Recintos
Urbanos como espaço intersticial positivo, uma pequena área na estrutura orgânica,
que, em Arquitetura, considera-se como um espaço resultante da disposição e
agregação dos edifícios (GUERRERO, 2008).
Em Lynch (1981, p, 81) esta condição é referida como

O poder psicológico destes dispositivos não pode ser assim tão facilmente
posto de lado – os eixos, recintos, grelhas, centros e polaridades são funções
da experiência humana comum e do modo como são construídas as nossas
mentes. Assim, estas influências são impactos reais da forma das cidades, para
o bem ou para o mal e devem ser tomadas em consideração em qualquer teoria
normativa.

Segundo Mascaró (2009; 2015), os Recintos Urbanos se definem como uma


Arquitetura sem Teto, de acordo com o Fator de Céu Visível (Ψ FCV). A incidência da
radiação solar no recinto urbano atuará em conformidade da distância entre as
edificações (d) em relação à altura das mesmas (h). Desta forma, a termofísica das
fachadas (superfícies urbanas), contando ou não com vegetação, podem ser pensadas
como temas legislativos urbanos, revistos e aplicados para promover o conforto para a
população, e compor as normas reguladoras que favoreçam a vida urbana. Para esta
região, chegou-se a 0,62, usando-se a fórmula:

Ψ (FCV) = ( ___
d )
h

(MASCARÓ, 2015)

Esta observação entre a insolação e a capacidade de acesso ao sol leva à


casualidade perceptiva, em que a melhor situação para as cidades tropicais seria a
menor taxa de irradiação solar no ambiente urbano; assim, o resultado da fórmula
apresentada pode ser trabalhado. Ao se ampliar a relação de h/d, tem-se a
possibilidade de mitigar os impactos desfavoráveis a condição climática. Mascaró
(2015) aponta ainda que esta aplicação é viável para cidades onde o clima configura
seco, mas que não pode ser da mesma forma utilizada em climas úmidos, porque ao
ampliar os espaçamentos entre as edificações também diminui o fluxo de ar.

39
Considerando-se os cálculos de Aida (1982, citado por MASCARÓ, 2015),
observa-se a proporção de insolação, enquanto Geometria Urbana, indicando que
existe uma relação (h/d) com incidência entre 0,5 e 2,0; isto para uma região subtropical
úmida (referente à região Sul brasileira, local da pesquisa de Mascaró e Mascaró
(2009). Esta seria uma condição razoável para vias arborizadas.

Figura 4 – Ilustração Fator Céu Visível em Porcentagem angular –


Fonte: Mascaró e Mascaró (2015, p. 46)

Observa-se que a utilização dos cálculos para a situação de insolação apontada


pelo método de Aida (1982) sugere que há reflexão lumínica direta sobre uma
superfície testada em uma avenida sem recuos de jardins (com medições entre 10:00h
e as 14:00h). A abóbada celeste aparece aberta e foram obtidos os valores de
400W/m². Nas fachadas, no entanto, este valor cai para 70W/m² nas áreas urbanas,
onde há 100 hab/ha. Utilizando-se tecnologias, como o Diagrama de PLEIJEL, para
uma área densamente ocupada, tendo em média 200 hab/ha, este valor cai para
30W/m² (redução de luz direta em superfície). Desta forma, Mascaró (2015) diz que há
uma ligação entre Ambiência Urbana e a morfologia do recinto urbano.

2.1.1.4 Vegetação

As massas verdes estão diretamente envolvidas com a Qualidade de Vida (QV) e


também com a Qualidade de Vida Urbana (QVU), bem-estar, percepção sensorial,
equilíbrio com a natureza, favorecimento às matas nativas e ciliares, proteção de
mananciais, colaboração com a fauna e a flora. E seus efeitos proporcionam benefícios
para o meio urbano.
40
O fator vegetativo, para além do valor decorativo para a paisagem urbana, tem
seu reconhecimento também para a Qualidade de Vida; muito mais que a composição
para a harmonização, a vegetação agrega sensações para o espaço público. Tais
elementos naturais promovem uma trama na movimentação social, podendo ser
classificado em sua interdependência no tempo e no espaço, formando conjuntos
indissociáveis de caráter único, evolutivamente permanente; o que leva o observador
citadino a uma percepção de agradabilidade, frescor, dentre outras percepções
mentais, de cunho estético de um ecossistema equilibrado.
Portanto, as massas verdes, em sua contribuição para a Qualidade de Vida
urbana (QVU) e paisagísticas, contribuem para a redução da temperatura do ar urbano,
favorecem a ocupação de áreas livres, mesmo as que são impróprias para o uso
coletivo, como jardins, áreas particulares, clubes e escolas, mas favorece ao pedestre
quando sombreiam as passagens, perfumam e agregam valores psicológicos (conforto
térmico e acústico). As massas verdes coadunam com a percepção da cidade, uma vez
que esta é literalmente visual. Quando se cria e atribui valor para definir um espaço
visual contribui-se com uma alternativa menos onerosa à sociedade e adiciona
qualidade aos espaços humanizados dentro das cidades, bairros, praças e ruas, dentre
outros.
Os benefícios ecológicos são grandiosos, proliferação de espécies naturais,
polinização e inserção de aves e insetos para biodiversidade e equilíbrio natural. A
beleza do espaço (cênico) pela elaboração de espécies diferentes, promove a cobertura
colorida e a composição texturizada entre folha, flores, frutos, hastes e gavíneas. Estes
arranjos se somam à satisfação dos usuários, agregam valor econômico às
propriedades e estimulam o bem-estar.
A motivação para o uso de um espaço qualificado atua sobre as sensações
emocionais, colabora para o estado físico e mental das pessoas e reduz o sentido de
opressão, sendo esta opressão um dos fatores para o adoecimento psíquico de reflexo
físico como dito por Santos (2013). A função da vegetação garante o domínio do plano
urbanístico, assim como prioriza e qualifica os espaços de circulação. Desta forma,
reduz a temperatura interna do ambiente e, combinando os materiais, produz conforto
ambiental.
41
A utilização de massas verdes proporciona limitações e noções espaciais, com
sombras e arejamento em locais de permanência. Proteção e locais sombreados são
desejáveis para a Ambiência Urbana em Recintos Urbanos. Estas massas verdes
proporcionam redução de energia em períodos quentes, e são, ainda, filtros naturais
dinâmicos para a atmosfera.
A comunhão entre massas verdes e Recintos Urbanos são fortes aliados para as
benesses sociais, tanto para a Qualidade de Vida quanto para a Sustentabilidade
urbana e social, já que colaboram para a melhoria da qualidade do ar, ventos e chuvas.
Todavia, a elaboração de coberturas verdes deve ser cuidadosamente estudada; isto é,
deve-se conhecer qual é a espécie adequada para proporcionar os benefícios
esperados. A classificação das espécies é uma forma de controlar e compor ambientes
harmônicos ou ambientes cênicos.
Então, sobre isso, pode-se compreender a Tipologia, em N1, N2 e N3 – a
observação destes fatores favorece, tanto para a composição de eixos visuais, quanto à
propriedade do Recinto Urbano, o controle de usos de elementos urbanos, a interação
com conjuntos urbanos:
 N1: vegetação de pequeno porte, altura de até 6m ou dimensão da copa entre
3m a 6m. Cabem as trepadeiras, as frutíferas e as cítricas.
 N2: porte médio, altura entre 6m a 12m. Nesta classificação as magnólias,
plátanos e jacarandás (copa entre 5m e 20m de diâmetro).
 N3: grande porte, acima de 12m e copa entre 7m a 38m – palmeiras, ciprestes e
o cedro.

42
Figura 5 – Quadro síntese de arborização em vias públicas –
Fonte: Sec. De Meio Ambiente e Sustentabilidade – Recife (2013)

Um dos eventos para uso racional da massa verde está na questão reflexiva do
sol. A variação do coeficiente reflexivo ou de reflexão (albedos) é uma condição
específica das folhagens, que podem ser classificadas em seu distanciamento, na sua
distribuição, na densidade do tronco, na translucidez (transparência), na sua coloração,
na espessura da folha, nos ângulos em relação à radiação solar, a filtragem. São
características de interceptação parcial da radiação solar; somando-se estas
características à interação de cada espécie, obtém-se a melhor condição climática em
um ambiente construído.

Figura 6 – Croqui 1 do autor – Fonte: Mascaró e Mascaró (2009, p.68)

43
Albedo é a reflexão de um corpo não luminoso que difunde a luz recebida. A luz
sofre variação pelo uso do solo e pela composição da superfície. Desta forma, a ação
antrópica também tem influência sobre a reflexão quando se retira a vegetação para
composição urbana. Sabe-se que a massa verde absorve até 46% da radiação e ondas
curtas.

Figura 7 – Síntese Albedo – Fonte: MACHADO (2012, p. 03)

As tipologias vegetativas dos grupamentos também devem ser observadas nas


composições dos espaços: 1) isolada, 2) homogênea e 3) heterogênea. A composição
destes espaços livres contribui para a classificar o uso e criar espaços de transição. A
classificação, para além da composição, também executa a função delimitadora entre
áreas, sugerindo uma organização entre espaços.

2.1.1.5 Vegetação e Vento

Para que se tenha uma melhora no ambiente urbano é preciso pensar na


sensação de conforto e seus reguladores. Um deles é o vento, uma vez que o
deslocamento do ar estimula a evaporação e a perda de calor por convecção. As
barreiras podem ser:
a) Obstrução;
b) Reflexão;
c) Filtragem;
44
d) Condução;
e) Bloqueio de fluxo de ar;
f) Redução da velocidade do vento pela permeabilidade da barreira;
g) Direcionamento de fluxo.
Elementos podem ser usados para manipular a condição ambiental urbana e o
conforto, qualificam o espaço e condicionam o valor térmico dos ambientes, como
dispositivos permeáveis e harmonizantes climáticos. É condição favorável à vegetação
e ao vento, promovendo melhora na temperatura e na umidade relativa do ar.

Figura 8 – Síntese representação de permeabilidade de ventos –


Fonte: Mascaró e Mascaró (2009, p. 68)

Estes fatores, vegetação e vento, são também reguladores de sensações


térmicas de suma importância para favorecer a Qualidade de Vida Urbana no bairro;
assim como os ambientes circundantes. Com isto, suaviza-se a velocidade dos ventos,
direcionadas para a ampliação da viabilidade permeável e a troca de gazes (miasmas).

2.1.1.6 Ruas

Este elemento de uso público é também um elemento organizador de fluxo que


correlaciona as tramas urbanas; dentro da história das cidades é um marco da
Engenharia e da Arquitetura. Pressupõe-se que a rua seja um elemento que pode
arejar, deixar penetrar a luz nos espaços públicos e privados. É também considerada
um elemento instaurador do microclima, como já observado por sua influência quanto à
insolação, os ventos e a temperatura. Além disso, compreende a umidade climática

45
local e afeta no uso energético das cidades, conforme destacado por Mascaró e
Mascaró (2009).
No desenho universal e morfológico, em seus planos dimensionais, apresentam
as fachadas das casas e dos edifícios, passeios e vegetação. Na rua, acontece a cena
urbana e se difunde o recinto urbano dentro dos planos longitudinais e horizontais. Faz-
se a delimitação entre as calçadas, espaço pedonal e leito carroçável, convoca o
traçado para a coordenação de distancias, é pertencente à arquitetura da cidade. A rua
é o espaço de movimento vivenciado, sendo suas condutas a razão de sua
procedência, “Além da figura pública ancoradas nas calçadas e de outras bem
conhecidas que ficam circulando, é bem capaz de haver muitas figuras públicas mais
diferenciadas numa rua urbana” (JACOBS, 2013, p. 74)
As propriedades de maior atuação das ruas são a absorvância, emitância e
refletância (RODRIGUES, 2014). Quando à sua largura, transmite conforto e confiança.
Uma outra característica é o plano lateral, com a presença da vegetação em um espaço
humanizado que coordena o desenho urbano.
1) Absorvância ou absorbância – Capacidade intrínseca de uma absorção de
frequência e radiação sendo ela especifica;
2) Emitância radiosa – que é a capacidade de um corpo transferir calor por meio
de ondas;
3) Refletância luminosa – é a capacidade de um corpo, sob uma luz, de
repassá-la ou desviá-la para um outro sistema.
Sua orientação diversificada pode favorecer a incidência de radiação, de ventos
e sensação térmica dos materiais e de sua morfologia microclimática. A partir de sua
orientação, assim como sua largura e altura, obtém-se a perspectiva de sua
representação e seu valor simbólico para a cidade, bairro ou vila onde se encontram –
comercial, residencial, industrial.
As ruas secas são caracterizadas por não possuírem leitos carroçáveis ou pelo
menor fluxo de veículos, não sendo arborizadas e bastante ensolaradas. As ruas
(quase) secas permitem fluxo restrito de veículos e pedestres, com poucas árvores e
pouca insolação. Já as ruas largas e secas têm um leve escoamento de veículos ou

46
têm um fluxo moderado, contam com passeios largos, de média arborização e uma
utilização moderada para circulação de pedestres.
Não obstante, a rua larga e úmida proporciona um índice moderado para
circulação de veículos, contam com passeios largos e grande número de árvores e seu
fluxo de pedestres também acontece.

2.1.1.7 Praças

Nas colocações apresentadas por Mascaró e Mascaró (2009), quando se pensa


a possibilidade de um lugar, uma imagem quase sempre remete a um espaço especial,
tanto de ideias como também de deleite, um local para a celebração da vida e de
visitação. Um destes elementos certamente é uma praça. Este elemento, praticado na
Grécia antiga, o Ágora, fora a primeira praça a se dialogar sobre as questões referentes
e de possibilidade para todos. Estes elementos unificadores se reproduziram e
ganharam força e foram se modernizando de acordo com a expansão das cidades e
suas divisões como os bairros e as vilas.
As praças são, por si só, um lugar de encontro, de visitação e descanso.
Geralmente, apresentam casas e edifícios que a circundam e dão significado à sua
existência. Assim, é um espaço propício à Ambiência Urbana. O conceito por trás do
que se considera uma praça é o de VOLUME OCO entre edificações. É o que se define
como lugar único e peculiar, ao qual se atribui sentido simbólico e também amenizador
do microclima em sua proximidade. Também harmoniza os espaços urbanos, além de
produzir economia de consumo energético aos conjuntos arquitetônicos circunvizinhos.
Este volume oco dá personalidade ao lugar, centralidade e reforça as referências
da população. É enriquecedor por fomentar a Ambiência Urbana e a urbanidade pela
possibilidade de trocar ideias e informações. É fecundo e atuante, pertencente ao jogo
dos espaços entre os planos cheios e vazios que podem receber uma iluminação (como
elemento estruturante) diferenciada durante a noite marcando a obscuridade
circundante (SANTORO, 2008).
Não por menos, a praça engendra reformulações sociais e é lugar de abrigo às
ideias fortuitas da comunidade. São oásis urbanos, também reconhecidos como

47
pulmões da cidade, por permitirem frescor às suas mediações. Cumprem funções
básicas e principais que são cívicas, religiosas e comerciais, em que cada um destes
momentos se refere à característica do lugar.
As praças geralmente são escolhidas para que uma população se reconheça
como pertencente ao lugar e dela sejam donos. Em outras palavras, as praças reforçam
o empoderamento ao lugar, trazem consigo significados simbólicos e de percepção do
entorno (LENGEN, 2008).
A praça contém o fator de visibilidade, de civismo e de fé. É um espaço urbano
de grande significado para a cidade, de diversidade estética e de Arquitetura. É um
espaço cênico complementar à montagem figurativa do recinto urbano, cuja topografia
também pode ser pensada como fator de contemplação, unidade e prazer. A praça é
um espaço de vivências, por seus arranjos unificadores, em seus eixos e sua
conformidade de diálogo.
As tipologias para as praças também dependem de seu simbolismo e, para isso,
este volume oco deverá ter função. As praças secas são predominantemente sem
árvores, sobressaindo-se a iluminação, as fontes e chamando a atenção para sua
edificação principal, seu conjunto arquitetônico e sua cenografia. Além disso, tem o céu
visível intensamente.
As praças úmidas geralmente contam com jardins com traçado tradicional.
Combinações entre árvores a arbustos podem ter espelhos d´agua. Seu piso é
harmonioso e com combinação de materiais para favorecer o caminho e a observação.
As praças úmidas são, por sua natureza, locais de grande agradabilidade, são recintos
urbanos protegidos dos ventos e favoráveis aos passeios. Podem contemplar edifícios,
casas e comércios.
Pode-se resumir os elementos de Ambiência Urbana de acordo com o quadro
abaixo, para futura análise do bairro Santo Antônio:

48
Quadro 1 – Resumo dos aspectos de Ambiência Urbana
Aspecto Descrição Sim Não JUSTIFICATIVA
Clima
Clima Urbano
Recintos Urbanos
Vegetação
Ruas
Praças
Fluxo e trânsito
Dispositivos Públicos
Dispositivos Privados
Outros Dispositivos

Tais aspectos (ou condições do bairro) se orientam referidos uns aos outros de
forma dinâmica e isso reflete diretamente na forma de viver. Portanto, “repensar a
Ambiência urbana é refletir sobre Qualidade de Vida na cidade perante as atuais
condições de crise global e local” (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009, p. 167). É sobre a
Ambiência Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a Sustentabilidade Urbana que se
versa a seguir.

2.2 AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA URBANA E


SUSTENTABILIDADE URBANA

De acordo com as colocações de Minayo (2003), todos os pressupostos que se


tenta debater sobre saúde e ambiente são atravessados por dois pontos fundamentais:
 A essencialidade das relações entre os seres humanos e a natureza. Isto
remete às formas do ecossistema geral, passando do nível local ao
planetário. O que configura o sistema fechado de Capra (2002, apud
MINAYO, 2006) sobre o sistema de rede e as mudanças do processo
contínuo. Para que se entenda alguma coisa é preciso entendê-la como
tal e em determinado contexto; ou seja, como componente de um sistema
maior, que é o seu ambiente.
 Deriva dessa relação que o conceito de ambiente se refere a algo
construído e reconstruído pela ação humana, demandando, a cada

49
geração, a responsabilidade por suas condições de Qualidade de Vida na
sociedade e pela biosfera.
Pode-se dizer, a partir do exposto até aqui, que o estudo da Ambiência Urbana
parte do estudo de um espaço físico – dito cenário –, das representações das relações
sociais realizadas pelos atores sociais e suas conexões com o real, sem que se perca
de vista os valores referentes à cultura e seus meandros. E, por sua vez, por se tratar
de relações humanas, seu aspecto se define como a rede de fatores que perpassam
pela Qualidade de Vida e pela Sustentabilidade, para que estas mesmas relações
tenham sentido ao longo da vida, construindo memórias e afinidades entre as pessoas.
O termo Qualidade de Vida foi empregado pela primeira vez pelo presidente
americano Lyndon Johnson em 19643: “os objetivos não podem ser medidos através do
balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da Qualidade de Vida que
proporcionam às pessoas”. É neste conceito que se amparam as pesquisas dentro das
ciências sociais, filosóficas e políticas. As ciências médicas fizeram acréscimos em
torno deste conceito, fazendo com que este tema ganhasse o significado de condição
de saúde e bom funcionamento social, tendo como sinônimo a própria definição “vida
de ou com qualidade” (MINAYO, 2003).
Qualidade de Vida pode ser definida, também, por uma variedade de potencial
maior das condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus sentimentos e
comportamentos relacionados com seu funcionamento diário. Porém, não se limitando à
sua condição de saúde e às intervenções médicas (WHOQOL, 1988).
Para Nobre (1994), Qualidade de Vida é um dos pilares da reflexão sobre o ser
humano. Neste sentido, seria dar aporte à redução de males que afetam o homem. É
um conceito baseado na aplicação da atuação física e ambiental pautada pelo
comprometimento humano ao meio natural.
Rufino Netto (apud MINAYO, 2003) considera Qualidade de Vida como aquela que
oferece um mínimo de condições para que os indivíduos nela inseridos possam
desenvolver o máximo de suas potencialidades. Portanto, deve-se pensar a Qualidade

3
“For the ultimate test of our civilization, the ultimate test of our faithfulness to our past, is not in
our goods and is not in our guns. It is in the quality--the quality of our people's lives and in the
men and women that we produce” (JOHNSON, 27 de Agosto de 1964).

50
de Vida como sendo dimensionada quanto à possibilidade de que se desenvolvam as
potencialidades das pessoas no seu viver, desde trabalhar, amar ou produzir. Logo, a
Qualidade de Vida é um conceito que se compreende pelos fazeres cotidianos.
A noção de Qualidade de Vida está envolvida com múltiplas questões e, em face
desta multiplicidade, pode-se compreender a diversidade humana. Porém, acesso a
bens de consumo específicos (água, alimentação, habitabilidade, trabalho, educação,
saúde e lazer) são elementos que dizem diretamente das possibilidades de uma forma
realizável de bem-estar, de Qualidade de Vida. Para Matos (1998), devem ser incluídos
os modos de relevância das questões que abarcam o conforto.
A partir das considerações acima, pode-se pensar que as realizações pessoais e
grupais seriam índices de Qualidade de Vida. Atingir a satisfação relacionada à vida
social, ambiental e afetiva sem deixar de considerar a estética existencial, permitiria
efetuar uma síntese elementar de um grupo social. Todavia, esta busca de realizações
deve considerar, minimamente, a possibilidade de manutenção do grupo e vice-versa,
na direção da Sustentabilidade.
A questão da Sustentabilidade é um dos pontos de grande importância para se
pensar na viabilidade da vida humana. Nas palavras de Berté (2009), a civilização está
em um momento de transição entre a situação e exploração e a de ocupação. Tal
momento, de cunho extrativista, não é sustentável, impedindo a vida.
Vaz (1995) compreende que planeta e seres humanos deveriam ser considerados
quanto à ética do comportamento do homem em ação social (cuidando de si, dos
outros, do ambiente). A dimensão do cuidado vai de encontro ao meio ambiente e ao
coletivo.
Em 1972 ocorreu a publicação do Relatório do Clube de Roma (The Limits to
Growth) que denunciava os riscos globais e dos efeitos causados pela poluição, junto
aos esgotamentos dos recursos naturais. Nessa direção, é fundamental que se busque
um limite para o crescimento (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A conferência da ONU, no mesmo ano, 1972, sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente em Estocolmo, Suécia, teve a participação de 113 países. Foram
apresentados por Ignacy Sachs os cinco conceitos do Eco desenvolvimento (título
precursor ao Desenvolvimento Sustentável): Social, Econômico, Ecológico, Espacial e
51
Cultural. Em 1975 surgiu a elaboração do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND-1975/79) e a definição da propriedade para o controle da poluição industrial
(GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A noção relevante ao desenvolvimento sustentável entra em evidência
internacional em 1980, na apresentação do Relatório Word Conservation Strategy
(International Conservation of Nature/ Natural Resources) (UICN, 1980), em que os
objetivos globais deveriam ser: “alcançar o desenvolvimento sustentável pela
conservação dos recursos vivos” (LELÉ, 1991).
Esta discussão iria se consolidar no Relatório Brundtland (1987), depois sob o
tema Our Common Future (1991), com adesão política dos países em desenvolvimento,
gerando a Rio-92. Já em 1997, no Protocolo de Kyoto, no Japão, vê-se um relatório de
discussão e negociação para a redução obrigatória das emissões de gases do efeito
estufa, com a participação de países membros. O tratado continuou sua elaboração
com a participação de 187 países em 2009 (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
John Elkington, em 1999, concebeu o Triple Bottom Line (TBL) para pensar as
empresas e entrelaçarem os componentes do Desenvolvimento Sustentável:
prosperidade econômica, justiça social e proteção ao meio ambiente – o Tripé da
Sustentabilidade (Social – Econômico – Ambiental). Em Johanesburgo, 2002, a
Conferência Mundial Rio+dez instituiu a iniciativa Business Action For Sustenable
Development. Em 2006, no documentário de David Guggenheim, viram-se as questões
da degradação do planeta e o paradigma planetário (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
Em 2009, os desafios do planeta e da Sustentabilidade foram regredindo e sendo
levados ao esquecimento das responsabilidades para um futuro comum. Em 2009
surgiu novo fôlego para a questão, através da 15ª Conferência sobre o Clima, com a
participação de 25 chefes de estado nas Nações Unidas. Em Cancun, México, em
2010, com a participação de 194 países, houve a 16ª Conferência das Partes da
Convenção Quadro sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) – COP-16. A continuação
desta conferência se deu na África do Sul, na cidade de Durban, em 2011 e contou com
a presença de 200 países; a COP-17 deveria substituir o Tratado de Kyoto (GAMBA e
RIBEIRO, 2013).

52
A COP-18 aconteceu em Doha, no Qatar, com início tenso por ter que enunciar o
aumento da compra de créditos de Carbono e por decidir cobrar dos países os critérios
acordados em Kyoto que findariam em 2012. Alertando que as emissões de CO₂ em
2010 superariam os cálculos para 2020, os 190 países decidiram dilatar o acordo de
2012 para 2020 e os países desenvolvidos subsidiariam os países em desenvolvimento
para custear o desmatamento. Na COP-19, em 2013, na Polônia (Varsóvia), os 190
Países participantes anunciaram novo protocolo para cortar o uso de Gases de Efeito
Estufa/GEE (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A COP-20 em Lima, Peru, 2014, teve como objetivo o combate ao aquecimento
global e a redução de danos podendo ser entendido como impacto climático e a revisão
do INCD/Intended Nationally Determined Contributions (compromisso dos países na
redução das taxas de CO₂). Dos 196 países participantes, a estimativa será de uma
redução de 40% a 70%, revista em documentos trimestrais até Pré-2020 (quando o
Protocolo de Kyoto perder a validade e haverá nova revisão das metas). Com isto,
projeta-se a redução da temperatura em 2ᵒC no planeta. Em 2015, a COP-21 de Paris
propôs uma agenda de soluções em que as trocas foram as boas práticas e o fomento
de tecnologias para a mitigação do efeito estufa e das adaptações aos impactos
climáticos e financiamentos, mas também a troca de informações para a economia de
baixo carbono (GAMBA e RIBEIRO, 2013).
A Sustentabilidade passa a ser debatida no Brasil somente após a
redemocratização, criando, a partir da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), a Política
Nacional do Meio Ambiente.

A Política Nacional do Meio Ambiente (1981)37, p. ex., tornou obrigatória a


avaliação de impacto ambiental e o licenciamento das atividades poluidoras; a
Constituição Federal (1988)38 incorporou no artigo 225 questões relacionadas
ao Meio Ambiente, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo, possibilitando mais tarde a criação de leis específicas. (ARRUDA e
QUELHAS, 2010, p. 05).

Desta forma, os documentos emitidos pelas empresas passam a respeitar as


decisões do Desenvolvimento Sustentável, de acordo com o Tripple-Bottom Line –
Social/Econômico/Ambiental (ELKINGTON, 1999). A Política Nacional do Meio
Ambiente criou o Licenciamento Ambiental que vai regular as ações e decisões
53
relativas à exploração dos recursos naturais com possível degradação. A regulação
governamental indica que, sem o direcionamento das políticas públicas, o tema do
ambiente fica descoberto (BRASIL, 2004; BRASIL, 2009).
Apresentadas as linhas gerais de cada item – Qualidade de Vida e
Sustentabilidade – serão apresentados os critérios para análise da Qualidade Vida
Urbana e da Sustentabilidade Urbana, a serem usados para estudo do bairro Santo
Antônio.

2.2.1 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE QUALIDADE DE VIDA

Todo ambiente urbano se constitui em um ecossistema antrópico, ou melhor, um


ambiente artificialmente constituído para acondicionar a vida humana; quanto mais alto
o nível de urbanização, maior a desvinculação entre o homem e a natureza
(FORANTINI, 1991). Neste sentido, de acordo com Nahas (1992, p. 14-24) a Qualidade
de Vida Urbana tem grande importância dentro dos debates políticos e científicos por
sua relação com o aumento da degradação ambiental. Segundo esta autora, para
mensurar as questões que abarcam a qualidade de vida urbana, seria necessário
ampliar a educação, reduzir a violência e combater a pobreza, levando-se em conta
que:
O dimensionamento da qualidade ambiental assume lugar de destaque no
debate político internacional, remetendo instrumentalmente à formulação e
avaliação de políticas públicas (da mesma forma que os indicadores sociais) e
conceitualmente à noção de sustentabilidade do desenvolvimento humano
(NAHAS, 1992, p. 3).

Em Qualidade de Vida Urbana, como comentam Nahas, Ribeiro, Steves,


Moscovith e Martins (2000, p.77), devem-se estabelecer instrumentos para mensurar o
acesso espacial aos bens e serviços de cidadania. Ou seja, deve-se destacar o
apontamento direto ao planejamento municipal, monitorando as condições de vida na
cidade como um todo. Para tanto, é preciso que tais indicadores sejam atualizados e
mantidos como escopo conceitual.
Os sistemas de indicadores, como o de IQVU, agregam um conjunto de
informações que denunciam uma expressão de diversos níveis. Neste estudo, os
indicadores apontam para o acesso a bens e serviços urbanos e as considerações de
54
acordo com o usuário. Nahas (2000, p. 13) atribui ao conceito de Qualidade de Vida
Urbana a noção de equidade na distribuição e acesso da população a “bens de
cidadania” e a noção de qualidade ambiental visando o desenvolvimento sustentável.
Nahas (2005, p. 14) apresenta um cálculo para os índices, mas deve-se “definir a
regionalização intra-urbana a ser empregada no cálculo dos indicadores uma vez que
estes se destinam ao dimensionamento espacial e setorial das disparidades no interior
da cidade”. Isto poderá contribuir para uma visão mais homogênea do espaço e sua
ocupação, no sentido de fornecer informações úteis para os setores governamentais.
No entanto, há uma ressalva quanto à possibilidade de imprecisão quando são
utilizados em bairros e em regiões administrativas, por não terem geoprocessamento
bem delimitado ou por serem heterogêneos em sua conformação. Devido a isso, optou-
se pelo norteamento destes índices de forma qualitativa, a serviço do tema principal do
trabalho, a Ambiência Urbana.
A seguir, a descrição dos itens, no formato de um quadro – Indicador de
Qualidade de Vida Urbana (IQVT):

55
Quadro 2 – Critérios de Análise de Qualidade de Vida
IQVU
TEMAS
ABRANGÊNCIA ENFOQUE
HABITAÇÃO Área superficial construída, padrão de Lugar
construção e conforto domiciliar. População

SANEAMENTO Taxa de ruas, ou área coberta pelos Lugar


BÁSICO serviços de coleta de lixo, água e esgoto.
SAÚDE Leitos hospitalares, clínicas, postos de Lugar
saúde, equipamentos odontológicos, População
mortalidade infantil e peso ao nascer.

EDUCAÇÃO Equipamentos e qualidade do ensino: Lugar


Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio.
TRANSPORTE Tempo de deslocamento, sistema viário e Lugar
oferta de veículos.

SEGURANÇA Ocorrências criminais, equipamentos e Lugar


atendimento policial.

ABASTECIMENTO Equipamentos e preço alimentos Lugar

ASSISTÊNCIA Equipamentos Lugar


SOCIAL
CULTURA Equipamentos, patrimônio, eventos, Lugar
presença de público. População
ESPORTE Equipamentos, promoções e público. Lugar
População

OUTROS SERV.DE Ruas ou área com redes de energia Lugar


INFRA ESTRUTURA elétrica, telefonia e pavimentação.

PARÂMETROS Risco/terreno, cobertura vegetal, registros Lugar


AMBIENTAIS de ruídos e de fiscalização de veículos

OUTROS SERVIÇOS Bancos, agências de correio, postos de Lugar


URBANOS gasolina, pontos de táxi, bancas de revista
e telefones públicos.
VARIÁVEIS Receita municipal per capita, fontes de População
ECONÔMICAS receita municipal.
Nahas (2005, p. 18)

A seguir, apresentam-se as condições e critérios para análise da


Sustentabilidade Urbana. Também esta exposição contribuirá para o tema da
Ambiência Urbana.

56
2.2.2 CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE URBANA

A Sustentabilidade buscaria a interação entre os centros urbanos e as estruturas


naturais, procurando o melhor ajuste possível. Assim, poderia haver um diálogo entre
essas partes, com objetivos estáveis, construindo um cidadão de atuação sustentável
no seu dia-a-dia. A tentativa do sustentável é uma antítese ao consumo pelo consumo,
no sentido de uma vida para todos, com qualidade.
A análise do Tripé da Sustentabilidade fornece informações importantes que,
aliadas à discussão de Silva e Romero (2015), podem ser aprimoradas. Os autores
pensam que a noção de Sustentabilidade deve ser incorporada à dimensão urbana; a
urbanização transforma o espaço natural (ambiente) em espaço edificado, de acordo
com as necessidades humanas de morar, conviver e se abrigar. Portanto, os autores
defendem a Sustentabilidade Urbana como o termo correto a ser pensado a partir da
Arquitetura.

A Sustentabilidade urbana deve propor novas formas de apropriação do


espaço, condizentes com as necessidades emergenciais apresentadas à
sociedade global hoje, e coerentes com a sinergia e equidade entre as esferas
sociais, ambientais, econômicas e de governança; em conformidade com o
quadripé da Sustentabilidade. (SILVA e ROMERO, 2015, p. 214).

Silva e Romero (2015, p. 05) destacam que o cuidado com o impacto ambiental
seria essencial para a “implementação de um metabolismo circular para o urbano”. Mas
isso, urbanisticamente falando, vai depender da

Redução considerável do consumo, por meio de aplicações tecnológica


ambientais, mudança de hábitos e promoção de um programa de educação
ambiental efetivo, redução de resíduos e poluentes, estabilização demográfica,
promoção eficaz de um sistema de reutilização de recursos e energia (SILVA e
ROMERO, 2015, p. 215)

A Sustentabilidade precisa ser dimensionada na urbanização das cidades e sua


ausência ou presença estaria intrinsecamente ajustada aos mecanismos
governamentais de funcionar de acordo com sua viabilidade. Seguem-se os índices de
Sustentabilidade Urbana, também adaptado para a forma de um quadro:

57
Quadro 3 – Critérios de Análise de Sustentabilidade Urbana
TEMAS SUSTENTABILIDADE URBANA
ABRANGÊNCIA ENFOQUE
ÁGUA Conservação, água da chuva, águas residuais, Lugar
sistema cíclico. População
ENERGIA Eficiência, conservação, fontes limpas e renováveis. Lugar

ALIMENTO Agricultura local, mercado, oferta de alimentos,


alimentos orgânicos, hortas comunitárias, defensivos População
agrícolas naturais.
VERDE Preservação, verde urbano e rural, fauna e flora,
corredores verdes. Lugar
SISTEMA ENTORNO Redução de matérias primas, impacto no entorno,
menor dependência, redução de recursos. Lugar
SAÚDE Cidade saudável, saúde pública, longevidade,
qualidade de vida. População
CULTURA Manifestações culturais, patrimônio cultural, Lugar
identidade e história, espaço e cultura. População
MORFOLOGIA Densidade, compacidade vida urbana, vias de Lugar
acesso, espaços públicos, edifícios.
HABITAT Habitabilidade para todos, qualidade de vida, Lugar
equidade ambiental e socioeconômica, senso de População
comunidade, coesão social.
EDUCAÇÃO E Produção/inovação tecnológica, educação de População
TECNOLOGIA qualidade, polos tecnológicos, universidades,
ecotecnologias, tecnologias verdes.
PLANEJAMENTO/USO Mapeamento continuo, urbanismo paramétrico, uso Lugar
E OCUPAÇÃO de geotecnologias, tecnologias verdes.
POLUIÇÃO Redução de pesticidas, do uso de amianto, redução População
(REDUÇÃO) de poluentes aéreos, remoção de metais pesados.
RESÍDUOS Reciclagem de lixo eletrônico e de resíduos sólidos, Lugar
compostagem.
INFRAESTRUTURA Plantio de árvores, tetos verdes, manejo de águas da Lugar
VERDE chuva, conservação de habitats / solo, drenagem
ecológica.
TRANSPORTE/ACESS Redução do carro, mobilidade eficaz, transporte Lugar
IBILIDADE público, programa pedonais, acesso a todos. População
Silva e Romero (2015, p. 217)

Toda organização urbana deve ser afeita a um planejamento. Neste sentido,

O planejamento é um processo profundo da consciência humana ante as suas


próprias necessidades e as exigências da realidade objetiva, e que visa
humanização. Num outro sentido, todo planejamento é um pensar e um agir
metódicos, direcionado para a construção de uma realidade desejável e
58
possível (visão de futuro), seja para um indivíduo, grupo, comunidade, cidade,
município, região ou nação (GÓIS, 2008, p. 74).

Pode-se refletir, então, a partir de uma possível relação entre os arranjos da


Qualidade de Vida, a Sustentabilidade e a Ambiência Urbana. Nessa direção, a
construção de um planejamento viável garantiria a conclusão de práticas, no meio
social, acerca dos fatores que provocam mudanças na qualidade do meio ambiente e,
também, na expectativa que garanta a forma de viver e atuar em todos os seus
aspectos, promovendo Sustentabilidade e Qualidade de Vida.
Neste mesmo sentido, a Ambiência – no sentido urbano – tem ligação mais
abrangente (com o meio, os objetos e entre as pessoas), uma vez que se buscam as
relações primordiais, o favorecimento das práticas e das técnicas de convívio, levando-
se em conta o andamento da sociedade para um patamar atuante. Pode-se equivaler
isto às considerações de Berté (2009, p. 58) sobre o meio social, dentro dos

“aspectos vistos permitem concluir que são as práticas do meio social os fatores
provocadores das mudanças (positivas ou negativas) na qualidade do meio
ambiente, é, portanto, necessário ter algumas noções sobre o meio social. Para
isto olhá-lo por dentro, o que significa integrar-se no processo, observar e
absorver o movimento da sociedade como todas as suas variáveis
contextualizar-se”.

Ambiência Urbana, Qualidade de Vida e Sustentabilidade se relacionam,


também, quanto às dimensões anteriormente indicadas como autonomia e, em
especial, ainda de Berté (2009), as concernentes à ética do fazer social. Este fazer
social se mostra nas relações estabelecidas no bairro.
No entanto, Elias e Scotson (1964) fazem algumas ressalvas quanto às formas
de compreensão do meio urbano/humano. Para os autores, não existiria

Separação conceitual e metodológica entre dois tipos de pesquisa — a que


investiga a estrutura dos agrupamentos humanos num dado momento e a que
investiga a estrutura dos processos durante os quais eles se transformam
naquilo que são (...) Tratava-se de episódios pequenos, mas característicos dos
processos a longo prazo e em larga escala a que costumamos referir-nos com
termos como “industrialização”, “urbanização” ou “desenvolvimento
comunitário”. Sem visualizar a inserção desses episódios nesses processos,
dificilmente poderíamos fazer-lhes justiça. (ELIAS E SCOTSON, 1964, p. 52)

59
Sendo assim, a favor da inserção das duas dimensões – agrupamento urbano e
processo de agrupamento humano – os quatro elementos do quadripé da
Sustentabilidade Urbana (social, econômico, ambiental e governança) seriam
inseparáveis e deveriam ser contemplados para se refletir sobre todo e qualquer
espaço de ocupação humana. Mascaró (2010) define um projeto urbano sustentável, ou
Ecoprojeto, como o que aprimora o imperativo da Sustentabilidade Urbana na forma da
Ambiência Urbana; acrescenta que a empregabilidade de tecnologias seria um dos
elementos fundamentais para uma nova cultura de projetos, no sentido da pós-
urbanidade.
Segue-se a delimitação metodológica do trabalho e a proposta de análise dos
resultados.

60
3 MÉTODO

Esta é uma pesquisa exploratória, descritiva e de abordagem qualitativa. A


análise qualitativa considerou o Método de Pesquisa Iconográfico. Este reflete acerca
das condições imagéticas, permitindo o reconhecimento do lugar estudado, cuja
reflexão sobre as condições das imagens do lugar responde as condições para o
reconhecimento em estudo (LIMA e CARVALHO, 1997; TITTONI e MAURENTE, 2007).
A imagem, como fotografia, indicou elementos de Ambiência Urbana, bem como
de Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade Urbana. Além disso, o bairro foi
observado através de um Diário de Campo. Ambas as fontes de informações permitiram
a compreensão do espaço do bairro quanto à sua historicidade, em duas dimensões de
leitura:
a) A linguagem visual (produção fotográfica),
b) Registro do bairro (anotações e observações).

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ANÁLISE

Há informações do município de São Joao da Boa Vista – S.P que são


relevantes, ainda que não sejam especificamente do bairro. Neste sentido, julgou-se
importante destacar algumas destas informações.
De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil4, o IDHM é de
0,797 – considerado alto em função dos aspectos de Longevidade (estimativa de vida
de 77,2 anos), Educação e Renda (renda per capita de R$998,31 em 2010).
Nos aspectos de saúde, encontra-se uma taxa de mortalidade infantil de
9,5/1000 nascidos vivos, índice considerado baixo, já que os parâmetros preconizados

4
Plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDMH), bem como as
Unidades de Desenvolvimento Urbano (UDH), extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e
2010, conduzidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Fundação João
Pinheiro e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Fonte disponível em
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/sao-joao-da-boa-vista_sp#renda

61
pela Organização das Nações Unidas é de 17,9/1000. Na Educação, a taxa de
analfabetismo é de 95,15 da população entre 6 e 17 anos no ensino básico, com
defasagem em torno de até dois anos. A média de anos de estudo em 1020 foi de
11,04 anos.
Dentro do município, o bairro Santo Antônio está localizado nas coordenadas -
21° 59’05. 27” S Latitude, 46° 48’20. 13” O. A altitude é de 780m (ASSESSORIA DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA, 2003), a
ser indicado no item 5.

3.2 INSTRUMENTOS

Foram utilizados como instrumentos de análise a observação (no Diário de


Campo) e as fotografias do bairro (Recinto Urbano, Mobiliário Urbano, Edificações, etc).
Para as fotografias foi utilizada uma câmera digital Olimpus, modelo M760. Para a
observação fez-se a articulação entre as Imagens/Fotografias do bairro e o Caderno de
campo. A fim de possibilitar a organização do observador (caderno de campo e
fotografias), foi elaborado um check list, baseado em Mascaró e Mascaró (2009).

3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA

O autor fez observações in loco, além de coletar as fotografias de pontos do


bairro, usando, como critério, o local e ângulo que permitissem avaliar melhor os
aspectos de Ambiência Urbana, de Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade
Urbana. Esta coleta teve a duração de sete dias não consecutivos. Após a impressão
das fotos, estas foram analisadas com base no check list indicado no Apêndice I.

62
3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE GERAL

As fotografias oriundas do local (Bairro Santo Antônio) foram analisadas


primeiramente como imagens, de acordo com o Método Iconográfico (LIMA e
CARVALHO, 1997; TITTONI e MAURENTE, 2007). Posteriormente, as fotografias
foram articuladas aos temas deste estudo, baseando-se nos quadros de Ambiência
Urbana (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009), Qualidade de Vida Urbana (NAHAS, 2005) e
Sustentabilidade Urbana (MASCARÓ, 2015; SILVA e ROMERO, 2015) anteriormente
apresentados (vide itens 2.2 e 2.3).

3.5 ROTEIRO DE ANÁLISE DAS IMAGENS

3.5.1 NOTAS E DIÁRIO DE CAMPO

Para analisar as imagens do bairro Santo Antônio, fizeram-se anotações sobre


as fotografias (identificadas como Imagens), precisando as situações e locais
fotografados através do Diário de Campo. Estas notas aparecem sob as fotografias,
permitindo ao leitor identificar localidades, descrever a qualidade e a experiência
sensível do lugar. Também foram feitos croquis de situações ou momentos de
observação, com o fim de permitir melhor compreensão dos aspectos elencados para
análise.
Tal procedimento não configura um método geral de abordagem documental
(álbuns) de natureza iconográfica, ainda que se usem imagens em referência a
períodos passados. As imagens foram utilizadas, produzidas e organizadas guardando
a sua coerência e sua produção.
O Diário de Campo buscou dar coesão às fotografias para que viessem a compor
Imagens, apresentando os espaços não registrados. Além disso, possibilitou delimitar o
alcance das fotografias e as situações registradas. Tais registros permitiram a criação
de categorias que foram analisadas de acordo com seu conteúdo.

63
3.5.2 MÉTODO ICONOGRÁFICO

Dentro das vivências humanas, a exposição, às imagens fazem parte do


cotidiano. Das mais diversas maneiras, estas imagens nos contaminam e contam
nossas histórias, podendo ser na televisão, no cinema, nos desenhos ou até mesmo
nas suas formas mais remotas e canhestras, com as figuras rupestres das cavernas
aos traçados das formas artísticas.
Deparando-se com as imagens, o homem se questiona e deduz várias
considerações, indo desde o estudo metodológico ao reconhecimento histórico da
formação de um povo e suas consequências para a posteridade. A fotografia pode ser
uma forma de expressão destas imagens.
Entende-se, neste trabalho, que as imagens são as situações capturadas pelas
fotografias. Neste sentido, as fotografias são qualificações de lugares ou situações que
indicam a existência do campo da realidade, mas que também podem se encontrar na
ordem da generalização e da estagnação. Em Tittoni e Maurente (2007, p. 37), vê-se
que a fotografia traz outra possibilidade à existência, dando-lhe novo sentido: “a
fotografia poderia, então, mostrar o que nem sempre pode ser descrito e dar visibilidade
a aspectos do trabalho “invisíveis”, inclusive para o próprio trabalhador”. No cerne da
pesquisa, como indicam as autoras acima, pode-se compreender a iconografia como
uma proposta identificativa na forma do observador ter acesso a outras informações
sobre a realidade local.
A iconografia também deve ser entendida como proposta documental, sendo a
fotografia um mediador que, simbolicamente, pode indicar detalhes da participação
popular e de convívio, e, portanto, de afirmação em vários sentidos da organização do
espaço vigente.

A noção de imagem como equivalente a uma realidade sensível, passível de


ser apreendida pelos sentidos, reduz o material iconográfico a uma
documentação periférica. Por muito tempo, este foi o tratamento dispensado à
fotografia. Seu papel restringia-se, no máximo, a corroborar informações
verbais, ilustrando textos de história e arquitetura. Lima e Carvalho (1997, p. 14)

Desta forma, ao se buscar a aproximação pelos propostos teóricos, a leitura da


imagem é entendida como conceito, leitura fotográfica, como interpretante. Isto faz da
64
imagem uma ideia que constrói a realidade. Portanto, uma imagem em movimento com
sentido, uma linguagem.
Esta linguagem aponta para as proporções sociais que afirmam a
contemporaneidade da construção das cidades e seus seguimentos como o locus da
pluralidade, da convivência e de seus atores no reconhecimento do outro, e, portanto, a
construção do espaço de convivência estampado em um signo (linguagem não-verbal).
Em comparação, Pignatari (2004) faz a análise sobre o pensamento analógico, icônico
por ser individual, espacial e singular, mas no qual existe uma sintonia, uma
sincronicidade aos acontecimentos de relação casual, do pensamento lógico, simbólico
e verbal e que esta analogia está vinculada ao ego passado, acontecendo mesmo
quando não se tem consciência das camadas (Layers) temporais/históricas.
Dufrenne (2002) estabelece a relação da imagem como linguagem, autêntica em
sua produção. Esta seria uma busca pela novidade em si mesma, no que se crê ver,
autêntica. O autor sugere que a arte (fotografia) não é uma explanação do exterior e
sim do interior de sua prospectiva; portanto, seu corpo é singular.
Canavacci (apud CARVALHO e BONI, 2009. p. 142) refere que a pluralidade de
signos está espalhada por toda a cidade; portanto, também nos bairros. Tais signos
seriam responsáveis pela polifonia da cidade (das muitas vozes), ou como a cidade se
evidencia por sua história, pela multiplicidade, pela transversalidade, pois em tudo
comunicaria seu sentido.
Dentro da proposta iconográfica, é possível obter resultados ambientais que
levam o pesquisador a análises que transcendem a imagem. Desta forma, a imagem é
uma ferramenta para conduzir à metáfora do conhecimento. Pode-se, portanto, extrair
das imagens de um bairro seus signos urbanos e sua lógica imagética e, assim, sua
identidade, conduzindo à reflexão do tema proposto neste trabalho, respondendo à sua
pergunta-problema.
Dos valores de identificação de uma imagem decorrem seu motivo e a condição
prévia de analise iconográfica, observam-se os detalhes de sua história e as
representações desta. Para que se obtenha uma leitura do método ou da questão
iconográfica, escolheram-se alguns descritores icônicos, propostos por Lima e Carvalho
(1997):
65
 Descritores Icônicos gerais: morfologia/ formato (vertical, horizontal,
dimensões), ao tipo de luz (natural, artificial, direta ou indireta),
 Descritor icônico específico: enquadramento (posição da cena, variação
de enquadramento, permitindo outro posicionamento e ângulo de
observação).

3.5.3 ARTICULAÇÃO IMAGENS, AMBIÊNCIA URBANA, QUALIDADE DE VIDA


URBANA E SUSTENTABILIDADE URBANA – PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA

Em primeiro plano, a proposição de Mascaró e Mascaró (2009) a respeito da


Ambiência Urbana é indicada para avaliação do bairro santo Antônio. Em seguida são
indicadas as análises dos itens – Qualidade de Vida Urbana (NAHAS, 2005) e de
Sustentabilidade Urbana (SILVA e ROMERO, 2015). De acordo com as colocações de
Lima e Carvalho (1997) e Tittoni e Maurente (2007), pode-se fazer a associação da
imagem enquanto documento aplicada às vivencias reais. Em Mascaró e Mascaró
(2009), tais imagens indicaram a captura das vivências advindas da modelagem social,
demonstradas nos estabelecimentos humanos na forma de bairros. Estas imagens
foram tomadas como linguagem visual, produzidas pela e na experiência real,
referentes às observações do lugar.
A partir desta reflexão, pensou-se em, durante a coleta das imagens, registrar a
descrição e compor o que se via a partir do impacto recebido. Isto foi feito como um
caderno de campo. As leituras dos autores, desde o início, aliadas ao estudo das
colocações de Arten (2008) e de Scanapiecco (2015), permitiram o cruzamento de
informações que sustentaram a confecção do caderno de campo como ferramenta de
coleta de dados e de análise dos resultados. No caderno de campo, pois, as
informações históricas, uma forma de estar em contato com o bairro e seus
personagens imagéticos, os atores sociais e as figuras urbanas.
As Imagens foram articuladas aos quadros indicativos dos itens Ambiência
Urbana, de Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade Urbana, em se pensando
cada aspecto e sua identificação nas Imagens. Esta articulação pode ser dimensionada
no Apêndice I.
66
Na trama dos três itens, o urbano perpassa. E o urbano é referente às
articulações entre o humano e o meio, entre os humanos, entre eles, e o que resulta, no
meio, destas articulações. Isto gerou a proposta de um único aspecto – Ambiência
Urbana em Totalidade –, indicando todos os pontos articulados.
Apresentam-se, a seguir, os resultados.

67
4 RESULTADOS

Apresentam-se, a seguir, os itens de Ambiência Urbana (MASCARÓ E


MASCARÓ, 2009), de Qualidade de Vida Urbana (NAHAS, 2005) e de Sustentabilidade
Urbana (SILVA e ROMERO, 2015), agora analisados quanto ao bairro Santo Antônio.
Para cada um dos itens uma série de aspectos foram analisados de acordo com a
proposta de cada autor.

4.1 AMBIÊNCIA URBANA

4.1.2 BAIRRO SANTO ANTÔNIO: BREVE HISTÓRICO E DELIMITAÇÃO

A história do bairro Santo Antônio se confunde com a formação da cidade de São


João da Boa Vista, no estado de São Paulo. Alguns fatos aqui narrados vêm de fontes
históricas que não se comprovam (por pertencerem ao registro da transmissão oral).
Segundo Scannapieco (2009), as narrativas que são aceitas como oficiais dão conta de
que a cidade foi fundada pelos fazendeiros Antônio Machado de Oliveira e os cunhados
Inácio Cândido e Francisco Cândido, em 1821, vindos de Itajubá.
Arten (2008) indica que as primeiras famílias a se instalarem por estas terras,
foram as do Guarda-Mor, José Antônio Dias de Oliveira e sua esposa Ana Franco de
Oliveira e seus filhos, que vinham de Caldas em 1817. Ao comprar a fazenda Campos
Tristes, José Antônio Dias trouxe consigo dezoito escravos e a dama de companhia da
senhora Ana, uma índia que era chamada de Rosa, além de muito luxo para a época;
junto a eles, alguns agregados (pessoas para trabalhar e residir).
Dentro da Câmara Municipal de São João da Boa Vista registros encontrados
contêm afirmações que podem dar um norte diferenciado aos fatos oficiais e oficiosos,
como mostra a data de recenseamento da família Franco de Oliveira em 1822 e, no
mesmo ano, a extinção do direito de passagem (navegabilidade) no rio Caudaloso do

68
mesmo distrito, ao qual São João da Boa Vista pertencia como área administrativa
(SCANAPIECCO, 2009; SÃO JOÃO DA BOA VISTA, s.d.).
O rio Caudaloso, hoje conhecido como Jaguari-Mirim, fora uma via de
comunicação importante para a região; inclusive para a formação religiosa, já que
através dele chegara o primeiro padre a celebrar as missas na fazenda do senhor
Antônio Machado, o Padre Matheus José Leite. Nestes primeiros tempos era montado
um altar portátil para celebrar as missas. De acordo com documentos locados no
Cartório do 1º Ofício de Moji-Mirim, em Março de 1825 o Senhor Antônio Manuel de
Siqueira (tido como um dos irmãos Machado) foi quem doou parte de sua fazenda para
que se chegasse ao título de Freguesia (ARTEN, 2008, SCANAPIECCO, 2009).
Com a chegada do título de Freguesia, era necessário também um padre que
pudesse ficar permanentemente, e que este padre fosse autorizado pelo então Cônego
João Jose Vieira Ramalho. Fora designado o Padre Joaquim Feliciano de Amorim
Sigar. Com ele a capela foi curada e nomeada, de acordo com a Câmara Municipal da
cidade de São João da Boa Vista (SP) (ARTEN, 2008).
Nos relatos dos autores acima indicados, existe um ponto de convergência no
tocante ao Cônego João José Vieira Ramalho, (que poucos anos depois se tornou
Monsenhor), datado de 1846. Na segunda assembleia que consagrou a vitória ao
religioso, este elaborou o plano de divisão dos quarteirões e as divisões das terras
(primeiro plano para o urbanismo da cidade de São João da Boa Vista). Os moradores
da região Sudeste (onde se encontra o bairro Santo Antônio) não ficaram de todo
confortáveis com as alterações e, em especial, com a demolição da antiga Igreja de
Santo Antônio; houve revoltas e descontentamentos (ARTEN, 2008).
Ainda segundo Arten (2008), as reclamações feitas pelos moradores não foram
retornadas pelo já Monsenhor João Ramalho, gerando uma relação pouco favorável às
questões do atual bairro e a nova cidade que apontava. A própria troca do nome do
vilarejo de Santo Antônio do Jaguari para São João da Boa Vista não era agradável aos
moradores em questão, mesmo porque Santo Antônio era o Santo de devoção do
doador das terras (Sr. Antônio Manuel de Siqueira); levando-se em consideração que
este povo já estava ali alocado.

69
A divisão das terras, em conjunto com a proibição da navegabilidade do Rio
Jaguari-Mirim, teria sido um modo para garantir um melhor controle pelo Império, já que
era por este rio que se burlava o fisco da coroa. A união deste fato com a quadrícula ou
da formação das quadras propostas pelo Monsenhor João José Ramalho foram marcas
importantes para a região e mais ainda para o bairro Santo Antônio.
Nos dias atuais, São João da Boa Vista conta com um programa extenso de
Plano Diretor, cuja meta é pensar a cidade para 2050 (SÃO JOÃO DA BOA VISTA,
2015). Por isso, o plano diretor tem o nome de São João da Boa Vista 2050, que
contempla os seguintes eixos estruturadores:
1. Coesão Social
2. Desenvolvimento Sustentável
3. Mobilidade
4. Valorização do Ambiente Natural e Construído e da Paisagem
5. Desenvolvimento Econômico
Estes eixos foram descritos como vetores de linha de desenvolvimento,
pensando-se o futuro que a cidade pretende alcançar com propostas de significância e
relevância. Tudo aponta para que se possa obter uma cidade com Qualidade de Vida,
equidade e suporte ambiental, sem que se perca a valoração dos dispositivos aplicados
como participação e direito à cidade.
Os eixos possuem vários objetivos, considerando-se valores históricos,
ambientais e de patrimônio da cidade. A partir deles, consideram-se:
 Promover o crescimento da cidade de forma equânime e responsável, no
sentido da Sustentabilidade.
 Ações que colaborem para a convivência, a diversidade, o respeito mútuo
e a tolerância, associados ao aprimoramento da segurança urbana.
Qualificam-se os espaços públicos e a sua manutenção, assim como a
conservação destes locais, promovendo a segurança dentro dos usos
adequados e a circulação nos espaços.
 Garantir os serviços e equipamentos urbanos para todos do município, de
acordo com sua diversidade. Para isso, considerar mobiliário, espaço e

70
equipamentos urbanos, uso e acesso às vias públicas com tratamento e
garantias de uso eficaz.
 Avaliar as diretrizes distributivas dos serviços relacionados ao território,
promovendo as garantias de atendimento a toda população. Esta proposta
tem dois grandes vetores: a proposta de alcance público e a forma de
propagação dos equipamentos para que o desenvolvimento aconteça,
para além das inclusões propostas ao território.
 Análise da logística do transporte, de passageiros e de cargas que
promovam o crescimento e o desenvolvimento do município, buscando
soluções práticas para viabilidade de seus moradores, sob a atenção a
norma vigente da ABNT-NBR 9050 de acessibilidade e edificações.
 Nos aspectos de habitação e saneamento, que indicam a qualidade da
habitação no município, ações e projetos que focam o saneamento,
incorporando as demandas ao acesso a habitação, o fornecimento de
água e esgotamento, sem que se impacte o meio ambiente, procurando
legalizar todas as irregularidades que possam acontecer nas redes de
fornecimento e esgotamento.
No Plano Diretor não aparece nenhum bairro em especial, sendo elencadas as
regiões da cidade quanto a seus problemas e direcionamentos. Logo, não se contempla
o bairro Santo Antônio.
O Plano Diretor recebeu grande contribuição do projeto São João + Verde.
Iniciado oficialmente em 10 de abril de 2014, confluiu as ações isoladas de coleta
seletiva, arborização urbana e recuperação de mananciais, associando-se às
demandas da sociedade civil (ONGs e ambientalistas), todos preocupados com “a
necessidade de preservação ambiental frente ao acelerado crescimento da cidade”
(SÃO JOÃO MAIS VERDE, 2014, s.p.).
Este projeto atua de várias formas: grupos de trabalho, reuniões, palestras,
comunicação para sensibilização e mobilização. E tem três eixos estratégicos:
colaboração e participação social, comunicação horizontal, transparência, regularidade
e controle de resultados.

71
Especificamente quanto ao bairro Santo Antônio, destaca-se a iniciativa do
Conselho Comunitário de Segurança/CONSEG que, em 2015, através do projeto
Redescobrindo o Santo Antônio, desenvolveu atividades no bairro, com o objetivo de
“buscar soluções de maneira participativa às questões de saúde, educação, segurança
e ambientais” (CONSEG, 2015, s.p.). Estas atividades foram conduzidas em grupos
com os moradores, representantes da sociedade civil, da prefeitura municipal e
interessados, no sentido de construir o que a comunidade queria fazer com tais
questões.
Esta abordagem se fez em três etapas, nas quais os participantes tinham que
responder: “como é nosso bairro, como desejamos que ele seja e o que podemos fazer
para que ele se torne o que desejamos” (CONSEG, 2015, s.p.). Foram 60 participantes,
divididos em oito grupos de até doze pessoas, no primeiro encontro. No segundo e
terceiro encontros, participaram 45 moradores.
No relatório encontra-se uma visão de forma reprodutiva às discussões expostas,
seguindo um parâmetro do discurso estabelecido (uma reprodução do que lhes é dito)
dentro do discurso da participação social:
 Aspectos positivos: bairro próximo ao centro, dispositivos privados
prestados à população (supermercado, cabeleireiro, hotel), dispositivos
públicos (creche, escolas, polícia ambiental, postos de saúde) e
dispositivos outros – de natureza assistencial/filantrópica (APAE, Igrejas,
Pastoral). Outras colocações: moradores antigos, todos se conhecem,
população unida.
 Aspectos negativos: situações de violência, de mato, sujeira e terrenos
baldios, desemprego, jovens sem atividade, gravidez na adolescência,
ausência de farmácia, topografia acidentada, problemas com tráfico de
drogas, dependentes químicos e alcoolismo. Outras colocações: o bairro
só tem uma saída e uma entrada, “como se fosse uma ponte” (CONSEG,
2015, s.p.), ruas com buracos, iluminação ruim, falta espaço comunitário,
lentidão no atendimento à saúde (exames), poucos auxiliares e médicos
no posto de saúde, falta de projetos sociais, de lazer e educativos, falta
de segurança.
72
Nos encontros buscou-se estabelecer, com os participantes, linhas de ações que
permitam a obtenção de melhoria dos aspectos negativos. O Projeto Redescobrindo
Santo Antônio continua tentando priorizar e corresponder às demandas elencadas junto
ao poder público. Como exposto, não se pode melhorar o que não é fundamentado em
um protagonismo e autonomia.
Para iniciar a exposição dos resultados, o direcionamento será a identificação e
descrição dos aspectos da Ambiência Urbana (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009), em que
se pode elencar aspectos concernentes ao bairro Santo Antônio, parte da cidade de
São João da Boa Vista e arredores quanto a: clima, clima urbano, recintos urbanos,
vegetação, ruas, praças, acrescidos de dispositivos – públicos e privados.

4.1.3 COLETANDO INFORMAÇÕES E IMAGENS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO –


DIÁRIO DE CAMPO

4.1.3.1 Antes de tudo

“Mas nos confins da cidade, onde ouvi dizer que começa a natureza, ela própria
não está lá, e sim a natureza-antologia”.
Joseph Roth – Berlim, 2006.

Antes de chegar ao bairro Santo Antônio, antes mesmo de conhecê-lo, o


conhecimento que existia – de acordo com outro direcionamento do estudo – é que era
um local em que ações de delimitação haviam acontecido; uma destas ações foi o
projeto Escuta Social do bairro Santo Antônio. As informações obtidas indicavam que o
trabalho fora interessante, mas com poucos detalhes.
Neste projeto, o objetivo era saber o que os moradores tinham a dizer e o que
estes pretendiam mudar e como isto aconteceria. Buscava-se fazer com que os
moradores pudessem explanar sobre as condições do meio social em que estavam
imersos, através dos seguintes temas:
 Como é nosso bairro.
 Como desejamos que ele seja.

73
 O que podemos fazer para que ele se torne o que desejamos (e não, o que
queremos que seja feito).
 O que podemos fazer.
Posteriormente, a partir deste momento anterior, houve convite para a
participação (como ouvinte) de um evento para incentivar o protagonismo social no
Bairro Santo Antônio. Este grupo já tentava se reunir no sentido de coesão para
enfrentamento dos problemas do bairro, formado por pessoas que, de alguma forma,
conviviam com os moradores e que, também, de alguma maneira, tinham voz
permanente com estes moradores. Era um grupo heterogêneo, com representantes
religiosos, políticos, conselheiros municipais, profissionais da área de educação, da
saúde e comerciantes.
Com este grupo procurou-se restabelecer a construção do grupo anterior (Projeto
Escuta Social do bairro Santo Antônio). Questionados sobre o material que
desenvolveram, receberam-se respostas evasivas - “pode deixar que lhe envio” ou “vou
procurar se ainda as tenho” – mas sem resultado efetivo.
Neste novo agrupamento, a visão de uma formação para o protagonismo social e
a autonomia destes moradores colocava em pauta a necessidade de se ouvir os
moradores. Contudo, no grupo, estes não estavam presentes; uma exceção era de um
profissional da educação.
A primeira oradora de uma das reuniões era uma professora universitária que
buscava, em seu diálogo, levar o grupo à própria compreensão, indagando sobre o que
estariam fazendo ali. No entanto, o diálogo não se estabeleceu, pois aos participantes
não parecia claro como este protagonismo se estabeleceria e como isto levaria a uma
maior autonomia ao bairro Santo Antônio.
Do lugar de ouvinte, refletia-se que, se havia, mesmo, esta intenção, de levar
protagonismo aos moradores do bairro, isto deveria ser feito na presença destes.
Todavia, a reunião se mantinha entre os presentes, não se conduzindo para o convite
efetivo aos moradores.
Em novas reuniões, as poucas falas não traziam reciprocidade nem profundidade
no sentido da intenção primeira. Neste contexto, foi solicitado que o autor deste estudo
conduzisse a reunião seguinte.
74
Iniciou-se a apresentação, pois, na qualidade de mestrando e professor. Buscou-
se ouvir cada um e que cada um conseguisse escutar o outro em suas demandas, no
sentido reflexivo, mesmo que isso fosse demorado ou, por vezes, desagradável.
A proposta era composta de dois momentos. No primeiro, apresentou-se o
documentário “A banalidade do mal”, de Hannah Arendt, para suscitar a percepção
sobre o outro; no caso, perceber o morador do bairro. No segundo momento,
conversou-se acerca desta questão, mas com pouca adesão dos participantes, que
demonstraram não conseguir relacionar a importância da participação dos moradores
neste grupo com o momento de discussão.
Sugeriu-se, então, que se buscassem multiplicadores – representantes do bairro
– que, de dentro do bairro, favorecessem o diálogo próximo às soluções de
viabilidades. Esta sugestão era uma aposta que traria riscos de debates ou de conflitos,
mas permitiria construir mais acerca do protagonismo social e da autonomia social.
O grupo não se manteve, informou-se que estariam em intervalo, findo o qual,
avisariam. Isto não aconteceu.

4.1.3.2 Em tempo

Mesmo sem ter obtido êxito neste primeiro encontro, continuou-se a olhar o
bairro Santo Antônio como espaço a ser compreendido. A partir do lugar da Arquitetura
e do Urbanismo, via-se a viabilidade de entender o bairro como objeto de estudo para
este trabalho; sendo neste sentido a busca por artigos e estudos afins a esta ideia de
leitura de um bairro.
Uma temática a este respeito já havia sido delineada por ocasião do projeto de
pesquisa apresentado por ocasião do ingresso no Mestrado – Ambiência em Centros
de Atenção Psicossociais/ CAPS’s – e encontrou-se proposta semelhante nos autores
Mascaró e Mascaró (2009), sob o título de Ambiência Urbana.
Nos meses seguintes, a procura por um agente de ligação foi-se firmando na
costura dos elementos elencados pelos autores, estabelecendo-se um elo de diálogo
com o bairro observado e suas questões históricas. A cada leitura era possível pensar
no bairro de forma mais clara, na forma de leitura de sua realidade, a construção do
75
lugar. Logo de início, a reflexão de um espaço às margens da cidade, resultado da
própria constituição da sua história.
Como ponto de partida para a Ambiência Urbana, em função da peculiaridade
dos mecanismos observados, seguiu-se a sequência dos elementos indicados pelos
autores (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009): Clima, Clima Urbano, Recintos Urbanos,
Vegetação, Ruas e Praças. Com a leitura do texto de Nahas (2005), encontrou-se a
Qualidade de Vida Urbana e, com Silva e Romero (2015), a Sustentabilidade Urbana.
Sendo assim, houve um esforço para entender o bairro Santo Antônio em sua
pluralidade, sem deixar de nela identificar os aspectos teóricos. Para isso, foi
necessário entender como se dava a relação das pessoas com o bairro e isto se
mostrou nos Dispositivos Públicos, Dispositivos Privados e Outros – detalhes não
indicados por nenhum dos autores mencionados.
O diálogo entre a Ambiência Urbana, a Qualidade de Vida Urbana e a
Sustentabilidade Urbana parecem fazer parte de um todo neste pensamento e,
portanto, caberia a formulação de um Índice de Ambiência Urbana (IAU) – que viria a se
tornar, posteriormente, no tema Ambiência em Totalidade. Os elementos para compor
este trabalho foram configurando, no tempo, determinada velocidade, tramada pela
expectativa e pela configuração produzida pelo olhar ao bairro Santo Antônio.
Retomando a observação do bairro, antes visto no fim do dia, quando da
oportunidade das reuniões, raramente na manhã, era hora de conhecer seu cotidiano e
avaliar o que dele se dizia; por exemplo, de sua periculosidade, seria real?
Para comprovar o que se dizia, recorreu-se ao meio de conhecer o bairro através
de um de seus residentes. Começou-se a procurar pessoas próximas que teriam
acesso ao bairro. Encontrou-se um funcionário da universidade que se prontificou à
condução; não sem antes fazer questão de apresentar outros bairros da cidade, com
marcações bem definidas, praças, espaços recreativos, ruas arborizadas, elementos e
equipamentos urbanos, todos com as mesmas características.
Eis que, finalmente, no bairro Santo Antônio, como observador, uma sombra
passante, recebiam-se alertas sobre o perigo de estar adentrando em lugar
desconhecido, talvez perigoso, dizendo que só se poderia chegar até certo limite: - “Só
vou lhe levar até aqui, daqui para lá eu não vou – tem muito traficante aqui”.
76
4.1.3.3 Em tempo de observar (pela primeira vez)

A percepção do bairro Santo Antônio era a de que seria como outros tantos
lugares, com problemas e arranjos internos, que diferiam por questões puramente
adjacentes à sua construção; portanto, não se encontrariam surpresas; nem mesmo
deste perigo. Mas era hora de andar pelo bairro, conferir seus lugares, sua gente, sua
vitalidade e suas concepções.
Andar pelas ruas foi um momento em que se sentia a observação das pessoas,
os olhares, eram quase índices de que eu era uma invasão. Mas era uma troca de
lugares breves, após quase três horas de observação, de andar lentamente, refletindo-
se sobre o que se via, na troca de olhares, mas próximo o bastante para que se desse
sequência ao estudo que se desenvolvia.
E a experiência de estar neste lugar de observação contribuiu para o que se
estava pensando. Mesmo que houvesse receio do que se poderia encontrar, por não se
saber se a teoria se aplicava à realidade da forma imaginada, entendia-se que era este
o caminho.

4.1.3.3.1 Primeiro tempo

As incursões passaram a se dar sem acompanhante. Na primeira delas, chegou-


se ao Posto de Saúde da Família/ PSF. Tentou-se conversar com as agentes de saúde,
buscando um guia para o bairro, mas foi em vão. Com um pouco de coragem e a
necessidade de obter dados para a pesquisa, seguindo-se o julgamento próprio na
busca de solução, caminhou-se para aquilo que seria o primeiro dia de fotografias e
questionamentos pessoais. Todavia, tal ímpeto não foi suficiente e as fotos não foram
feitas.
Dias se passaram.
Entendia-se pela necessidade de estar ali e, mais ainda, fotografar os caminhos
no bairro. Seguindo-se pela Rua Luiz Gambeta Sarmento, era possível perceber os
olhares das pessoas, de estranhamento, curiosidade, espanto e tanta coragem que

77
parecia acobertar uma cisma mútua. As imagens foram sendo capturadas no quarteirão
que continha a escola Monsenhor Antônio David.
Em cada imagem liam-se os aspectos apontados pela pesquisa: Recinto Urbano
(seu estabelecimento como propriedade do espírito do lugar), Vegetação (e sua
influência dentro do espaço vivenciado), a aridez do espaço referente ao Clima Urbano
ou a sua falta. Caminhando pelo quarteirão, observando-se seus espaços, ainda
olhares súbitos e fugidios, que traziam sentimento de alerta.
Ao final deste quarteirão, alguns assobios, e uma voz falava em um tom alto e
forte:
- Ô, você!!!!
Esta interpelação aconteceu no momento da foto de uma árvore, por volta das
4h30 da tarde, com tempo abafado, quente, fazendo transpirar (a cisma ou o calor?). A
pessoa se aproximou, um homem que vestia uma bermuda quadriculada, uma camiseta
surrada, óculos escuros e boné torto na cabeça. Aproximou-se e questionou:
- E aí? O que ‘cê tá fazendo, tirando foto da casa dos outros? Pode fazer isso
aqui, não, moço! Sabe que isso não pode fazer, né?
A resposta foi que estava-se fotografando a rua, e que não se estava ali para
atrapalhar a vida dos outros.
Ao que ele respondeu:
- Sei não! Num sei quem é você!
Então fez-se a apresentação de ser estudante de mestrado, buscando conhecer
o ambiente do bairro (através de suas ruas) e que tudo o que fosse levantado comporia
uma pesquisa. E o homem perguntou:
- É isto, mesmo, moço?
E como se poderia confirmar que o que se dizia era verdade? Então, apresentou-
se um cartão de visitas e conversou-se um pouco mais. Desta vez, amigavelmente.
A postura do morador era compreensível, era como se interrogasse em nome de
outrem; como sinal de respeito e honestidade do encontro, apertou-se sua mão. Ao que
parece, a oferta foi assim entendida e nenhuma objeção foi feita.

78
No entanto, não se deixou de pensar que tudo poderia ter tido um outro final,
havia um risco na situação. Todavia, prezar as relações humanas faz parte deste risco.
Sempre há regras e existe a chance de ganhar, perder ou empatar.
As pessoas não são diferentes neste sentido, mesmo morando em bairros de
grande, médio ou pequeno poder aquisitivo. São pessoas que atuam com as regras que
lhes são disponíveis e às quais estão expostas; no fundo, o que procuram é ser
tratadas com respeito.

4.1.3.3.2 Segundo tempo

Em outro momento de coragem, retornou-se às ruas do bairro Santo Antônio.


Desta vez com mais precaução, o destino foi a Rua Coronel José Procópio. Antes de
fotografar, encontrou-se um grupo que parecia estar à espera de um ônibus.
Um pouco adiante, diante de um portão, um homem com cerca de cinquenta
anos. Cumprimentou-se uma senhora, também com cerca de cinquenta anos, que
estava acompanhada de uma jovem (cerca de quinze anos):
- Olá, como vai? Tudo bem?
A senhora respondeu com um leve aceno de cabeça e murmurou que estava
sim, tudo bem (parecia tímida).
- Será que eu poderia fazer algumas fotos da rua? Indagou-se.
A senhora olhou com certa reprovação, dizendo que não saberia responder,
olhando furtivamente para um outro ponto da rua, onde estava um grupo de jovens de
bicicleta. Em tom de desconfiança, apontou com o queixo, como quem dissesse: “tome
cuidado com eles!”.
Voltou-se então para o homem que ali estava, com a mesma indagação. Ele
pouco respondeu (parecia dar valor ao silêncio), mas era notável sua preocupação em
falar com aprovação ou não.
De repente, o homem olhou e falou:
- Sabe que aqui é perigoso, sabia?
Respondeu-se em concordância.
Ele disse: “então, não faça isto”.
79
Ao perceber que a preocupação deles era com o grupo que se concentrava mais
no alto da rua, pensou-se em ir até este grupo.
- Olá, gostaria de fazer algumas imagens da rua, será que não iria incomodar
vocês? Perguntou-se a eles.
- É da rua, mesmo? Questionou o jovem.
- Sim. É que estou fazendo levantamento para um estudo e seria importante para
a elaboração deste trabalho que pudesse olhar para o bairro através de fotografias.
Em seguida, este jovem perguntou:
- ‘Cê sabe o que é isto aqui? Sabe que é uma boca, né? Olha, não pode sair
imagem de ninguém, é complicado!
- Sim, eu sei. Ele retribuiu com um sorriso.
- Pode, sim... pode fazer suas fotos, mas pra quê que é?
Explicou-se que era a possibilidade de um projeto para o bairro, a partir das
situações e vivências dos moradores e sua relação com o ambiente, como isso
aconteceria nas condições reais deste lugar. Talvez isso permitisse algumas melhorias,
pois se intentava apresentar este trabalho a alguns órgãos da política da cidade.
- Bom, se é pra melhorar, então, está bem. Aqui está mesmo precisando de um
trato. Olha só procê vê, lá embaixo, o campo de futebol está que é puro mato. A
piscina nem dá pra usar, as ruas têm mato e precisando de um trato... aqui, não
tem nada. Agora, tem uma coisa: num pode ir ali embaixo – apontando para as
ruas mais ao fundo – ali num pode ir.
Respondeu-se que estava bem.
Munido desta permissão, a caminhada pelas ruas foi menos insegura,
fotografando-se e observando cada situação. Detalhe: um ponto de ônibus que foi
retirado, coisa que estava presente em uma foto passada. As ruas solitárias, a falta de
pessoas e, de vez em quando, um pequeno grupo de bicicleta passava; como se
estivessem vigiando, nada diziam, apenas entre eles gírias que eram de difícil
decodificação. Iam e voltavam sempre do mesmo modo, lento e de olhar intimidador,
continuou-se com a proposta.
A proposta do jovem dava uma garantia de segurança, as imagens foram feitas.
Em direção ao campo de futebol, a piscina e as ruas menores entre elas, não se
80
adentrou além da permissão. Já no campo de futebol, enquanto fazia outras imagens,
outro grupo se aproximou e assobiaram para alguém que estava lá embaixo (dentro do
Campo de futebol), gesticularam e continuou-se a fotografar para outro lado.
O pequeno grupo seguiu, bem devagar, em direção ao ponto de ônibus.
Constatei que o campo de futebol estava com o gramado bem aparado, as coberturas
em ordem e a piscina limpa. Tudo estava vazio, mas muito bem cuidado.
Para evitar surpresas, a solução foi sair de lá. Próximo à APAE, estacionando em
uma vaga, via-se o grupo que continuava a subir. Fora do carro, aguardou-se alguns
minutos. Ainda no bairro, passou-se no supermercado para comprar água; a tarde
estava muito quente!
Durante alguns dias, a ideia de ser interpelado pelos jovens de bicicleta não foi
esquecida. Ao que parecia, pela forma de olhar, havia ali, sim, uma intenção talvez
escusa ou perigosa, mesmo que meramente exploratória.

4.1.3.3.3 Terceiro tempo

Mas o que estava ali para fazer, deveria ser feito. Estava próximo ao dia em que
se deveria retornar e completar o trabalho. E, mais uma vez, a caminho do bairro Santo
Antônio!
Chegando ao bairro, próximo à rua do Hotel Mansão dos Nobres, encontrou-se
um jovem que estava na calçada brincando com uma menina de cerca de dois anos;
falavam e riam descontraidamente. Após cumprimentos, perguntou-se se algumas
imagens poderiam ser feitas.
Ele disse que poderia, “mas sabe como é!”
Então, a partir da rua de baixo, começaram as fotos. Aparentemente estava tudo
bem, tirando o calor costumeiro, o ar abafado e quente.
Quase na finalização, viu-se um grupo de bicicleta (o mesmo das semanas
anteriores? Não se saberia dizer...).
Olharam e um deles se aproximou, dizendo:
- E aí, que ‘cê tá aqui tirando foto? Andando de um lado pro outro, quê que é
isto? Acho que tô até querendo ganhar uma máquina, ‘cê vai me dá esta aí”?
81
Disse-lhe que até se poderia dar, mas e se isso atrapalhasse um trabalho que
terminaria com melhoria para o bairro? Foi feita nova apresentação, do lugar de um
arquiteto que estava ali para fazer um trabalho de observação do bairro, para promover
- quem sabe? – uma melhoria futura. As imagens permitiriam avaliar a realidade local e
que, pelas imagens, comprovariam a necessidade de se pensar objetivamente
situações viáveis para o melhor aproveitamento do material humano, com tudo que
existe no bairro Santo Antônio. Tudo isso poderia estar nas conclusões.
A surpresa dos jovens se mesclava com alguma desaprovação. Saíram com um
olhar diferente dos que se obteve até então, olhando para trás e balbuciando algo que
não fazia sentido; era algo entre eles, caminhando e pedalando. Desta vez, sentiu-se
que não deveria tornar a encontrá-los, sabia que existia uma intenção maliciosa, que
estes não se conduziam como os jovens e o homem dos encontros anteriores.
Pareciam respeitar uma ordem hierárquica, das regras do bairro.

Estes três momentos de observação serão destacados e analisados junto ao


material da discussão, à frente. Segue-se, antes, a análise da Ambiência Urbana.

4.1.4 ANALISANDO A AMBIÊNCIA URBANA DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO

Assim com a sequência de Mascaró e Mascaró (2009), inicia-se pelo Clima, de


acordo com a ordem apontada pelos autores anteriormente:

 CLIMA
A classificação bioclimática da região de São João da Boa Vista pode ser
demonstrada pelo programa ZBBR 1.1 (RORIZ, 2004, 2005):

82
Figura 9 – Mapa clima ZBBR 1.1 – Fonte: Programa ZBBR 1.1 (RORIZ, 2004, 2005)

A figura 9 exposta indica o posicionamento da cidade de São João da Boa Vista


– S.P, uma Z3, o que podemos observar são dados que vão de sua Localização
hemisférica (latitude e Longitude), com estimativa de clima local estimado e sua bio-
climática. Conta ainda com a unidade de watts por metro quadrado, seus avanços
horários e o seu fator solar, que pertence ao levantamento deste trabalho e que será
mencionado e aplicado como parâmetro de estudo em uma rua, utilizando o cálculo
para o Fator Céu Visível (FCV).
Dentro do programa, pode-se perceber que o fator solar proporciona uma
entrada maior de 4,0% indo até 6,5%. No inverno isto provoca um aquecimento solar da
edificação, mesmo em paredes pesadas, e que permite a insolação dos ambientes.
No verão há boa ventilação cruzada. Isto pode ser traduzido como um melhor
aproveitamento dos espaços internos, usando a ventilação horizontalmente, para
melhor aproveitamento das brisas. Já na vertical pode-se utilizar os diferenciais de
pressão por fachadas seletivas; como, por exemplo, brise soleil e persianas nas
aberturas internas. O uso de claraboias poderia ser uma solução adequada para a
região de acordo com o Princípio de Bernouilli (1938). Assim, ampliar-se-iam a

83
qualidade do ar e a Qualidade de Vida dos moradores dentro do princípio dos ventos
dominantes.

Figura 10 – Gráfico Climático – Fonte: Climate-data.org (s.d.)

Como não existe uma central meteorológica na cidade de São João da Boa
Vista, os dados climáticos obtidos advêm do programa clima-tempo (Fig. 10 –
CLIMATE-DATA, s.d.). Neste, relata-se que o clima é tropical quente, não possibilitando
um inverno com rigor. No verão, os dias são quentes, com brisas mais frescas nas
madrugadas. Por se encontrar ao pé de uma serra, a barreira natural intercepta a
massa de ar, provoca chuvas orográficas (chuvas de relevos), ocasionalmente fortes e
copiosas. A média anual de chuva é de 1.140mm, concentradas em meses mais
quentes (como descrito no gráfico) junto aos meses de outubro.

Figura 11 – Gráfico de temperatura – Fonte Climate-data.org (s.d.)

84
A temperatura média da cidade de São João da Boa Vista fica entre 28°C, com
máximas de 34°C e a mínima chegando aos 15°C, no inverno. Já no verão, a média
chega a 22°C, sendo a mínima de 18°C e a máxima 37°C (Fig. 11). As últimas geadas
registradas em São João da Boa vista ocorreram em 1870, depois 1886, 1902 e 1918.
Os ventos são predominantes geralmente a Leste e Sudeste, portanto cruzado, como
mostra ZBBR 1.1.

 CLIMA URBANO
Ao observar o Bairro Santo Antônio em sua relação como um sítio de aplicação
de projeto, e de mesmo sentido, observa-se sua malha viária, sua interferência no
ambiente, sem deixar de olhar o entorno, história e função urbana em sua delimitação
semirural. Percebe-se a atuação e o Clima Urbano, principalmente seu microclima.
Observa-se, como fenômeno atmosférico, a insolação e seus ventos parcos que
tangenciam seus recintos, como objeto de variação de sentido e intensidade, com
regularidade.
Seu ciclo ao longo do dia fornece pouca variação. Durante o dia, um ameno ar,
indo quase ao mormaço, tardes quentes e noites que vão ao abafamento e as brisas
mais frescas, em uma definição termodinâmica.
Em consonância como a definição sobre o Clima Urbano e também pela ação
antropométrica. Esta ação ocasiona variações no lugar, de acordo com a intensidade e
seus reflexos, observa-se que, no bairro Santo Antônio, há quebra na dimensão
termodinâmica.
Podem ser observadas também a presença de alguns elementos verticais, a
formação de ventos regionais ou a deformação do domo climático urbano sob influência
de ventos locais. No bairro Santo Antônio, a maioria das construções é de casas de
pavimento tipo térreas. Esta presença variante não se evidencia.

85
Figura 12 – Maquete 3D – Fonte: Geo-Mapa SJBV Ass. Gestão Planj. (2016) 5

Por outro lado, a morfologia do lugar pode fornecer informações mais


abrangentes e substanciais. A localização do bairro Santo Antônio é em um fundo de
vale, é desta forma que o domo climático acontece (Figura 13, Maquete 3D – sem
escala):

Figura 13 – Maquete 3D – Modelo Maquete em 3D. Corte1.

O ponto mais baixo do bairro Santo Antônio é o Rio Jaguari Mirim, com uma
elevação topográfica de 745m, conta uma altura máxima de 806m tendo como
referência o cemitério São João Batista (Fig. 14 em 3D. Corte 1 – detalhe – sem
escala); como se, em nível plano, o bairro Santo Antônio ficasse ilhado entre duas
grandes massas (volume):

5
Estas maquetes foram elaboradas a partir dos mapas obtidos na Assessoria de Planejamento e Gestão da cidade
de São João da Boa Vista – Levantamento topográfico.
86
Figura 14 – Gráfico de alturas – Fonte: Topographic-Map (2015)

Para que se mitigue a insolação no plano bidimensional, poder-se-ia utilizar de


elementos vegetativos, favorecendo os albedos; ou melhor, a relação entre a
quantidade de luz refletida e a quantidade de luz recebida do sol. No bairro Santo
Antônio, há quebra na dimensão termodinâmica, conforme a figura 15.
Para equilibrar a sensação do Clima Urbano desta região, a predominância da
não utilização de maciços colabora para que o impacto solar ocorra com grande
intensidade e, devido às curvas de nível em que está localizada, ocorre a baixa
frequência de ventos (vide Imagem 1 das ruas Cel. José Procópio e Salomão Abdal em
destaque, na qual se pode perceber grande distância sem cobertura verde – Apêndice
I). Este é um evento que aparece com grande frequência, percorrendo todo o bairro.

87
Figura 15 - Perspectiva do bairro Santo Antônio, (perspectiva voo de pássaro focando o
trecho entre ruas Cel. José Procópio e Salomão Abdal). Fonte: GOOGLE MAPS, 2015

Como indica a figura 16, dentro do estudo da climatologia, as variabilidades e


anomalias têm espelhamento no tempo e no espaço. Portanto, os efeitos do avanço
populacional urbano conferem modificações diretamente na atmosfera local. Fatores
como ventos fracos ou intensidade de calmarias e inserção de luz solar têm como
agravante a sensação da intensidade das ilhas de calor, pela estabilidade e estagnação
do ar. Com isso, o acúmulo de energia destes fatores condiciona ainda mais o
aquecimento (MASCARÓ e MASCARÓ, 2009).
Grandes quadras sem proteção, indicativos da volumetria ocupacional urbana,
conduzem a um balanço peculiar dentro da questão energia radiante solar, decorrentes
de outros fatores poluentes como alto índice de partículas suspensas no ar, tipo de
pavimentação das ruas, estrutura comercial variante, tipo e cor das construções
(MASCARÓ e MASCARÓ, 2009). O bairro Santo Antônio tem relação física e histórica
com o entorno preponderantemente semirural. Portanto, é limitado pelo Rio Jaguari-
Mirim e, por causa deste, há a possibilidade de recepção úmida que amplia a sensação
de abafamento e calor; ou seja, sua relação hidrometeórica.

 RECINTOS URBANOS
A relação com uma ‘arquitetura sem teto’ se conecta à dimensão do Clima
Urbano. Se, por um lado, a visão do todo legitima o individual, é pela comunhão ao

88
Recinto Urbano que se pode avaliar a condição vivenciada no bairro. Condições que se
referem às disposições das ruas do bairro Santo Antônio, indicando orientação no
sentido Leste/Oeste.
Tal orientação tende a provocar insolação e desconforto térmico produzido pelas
ondas de calor, transferidas pelas paredes e a penetração direta dos raios solares pelas
janelas das casas, como demonstrado no programa ZBBR 1.1. Ao se estudar o Recinto
Urbano juntamente ao FCV (Fator de Céu Visível), esta leitura denota o comportamento
climático e seus efeitos para que se atende a condição dos elementos urbanos e, desta
forma, ser possível um manejo proporcional ao ambiente urbano.
Observando a condição do FCV e sua relação, como já dito, pela distância em
(d) e a altura (h), chega-se a uma estimativa da condição solar que recebe e a reflexão
nas superfícies bidimensionais:

Fig. 16 – Fator de Céu Visível – bairro Santo Antônio – entre 10:00h e 11:00h. Rua.
Antônio Lucio dos Santos. Imagem 2. Fonte: GOOGLE MAP, 2015

A figura 17 aqui apresentada demonstra que a abertura solar intensa provoca,


durante todo o dia, forte irradiação sobre os elementos edificáveis. Mostra ainda que o
movimento solar produz reflexão sobre a superfície, ampliando a sensação de
desconforto térmico. Assim, pode-se perceber que a falta de maciços para a redução
térmica é um fato facilmente demonstrável.
Observa-se, ainda, que a movimentação solar sobre este maciço isolado faz com
que a sombra se projete para diante, debelando as ondas de calor sobre o piso
asfáltico, conforme apresenta o sistema albedo. Pode-se acrescentar que as ações

89
mitigam a presença do maciço em projeção à rua, calçada e aos elementos
bidimensionais, como escreve Rodrigues (2014). Deste modo, os bloqueios vegetativos
se colocam como elementos preventivos de ação do Recinto Urbano.
Levando as premissas de Mascaró (2015) para o bairro Santo Antônio e sua
geometria Urbana, aplicando no mesmo intervalo cronológico em condições viáveis
próximas, obteve-se o índice de 82% (Imagem 2) como parâmetro dimensional que
quantifica o céu visível no bairro Santo Antônio. Pela morfologia urbana regional, o que
se identifica são que as condições se apresentam mais severas nesta região, levando-
se em consideração o Recinto Urbano e a Ambiência Urbana, em que as temperaturas
elevadas se intensificam com a presença de concreto e a cobertura de leito carroçável
por asfalto.
Portanto, para os cálculos das áreas abertas (11,00 m de altura x 13,05m
distância), que apresentam elementos de reflexibilidade e emissividade de energia
térmica, há aumento de temperatura, agravado pela pouca vegetação. Se, por um lado,
obtém-se estas informações locais, por outro, a existência de distanciamento viário,
produz um aspecto positivo, pois a distância (d) dá a possibilidade de alamedar a rua.

Figura 17 – Desenho humanizado – Fonte: Amorim (2014, p. 18)

Outro ponto a se considerar quanto ao Recinto Urbano seria o diagrama


apresentado por Amorim (2014) figura 17, é representativo de um processo em que se
destaca analiticamente a condição de uma imagem. É, portanto, uma forma de
pensamento sobre a própria imagem capturada; é também um processamento gráfico.

90
As bases de dados angulares se relacionam à vegetação existente (como elemento
construtivo) nos Recintos Urbanos.

 VEGETAÇÃO
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a necessidade de que existam as reservas
de vegetação em quaisquer cidades, inclusive por seus efeitos psicológicos. Mascaró e
Mascaró (2009) destacam vantagens estratégicas da utilização de árvores nas ruas e
nos bairros, norteando a Ambiência Urbana.
No bairro Santo Antônio a aridez é prejudicial às questões da Qualidade de Vida;
portanto, também à Sustentabilidade, pois não possibilita uma sensação de bem-estar.
O desequilíbrio ambiental se faz devido à falta de vegetação ao longo das ruas e
avenidas. Pode-se perceber a absorção da irradiação solar em toda sua extensão.
Percebe-se que há uma sensação de esvaziamento devido à entrada da temperatura
mais alta, imprópria ao coletivo ativo do bairro Santo Antônio, desfavorecendo a
circulação de pedestres.
A qualidade do ar é um fator a ser observado juntamente com o conforto térmico.
Pode-se ainda perceber que o cenário paisagístico urbano fica desfalcado deste
importante elemento para percepção psicológica do lugar. Portanto, a falta desta
cobertura arbórea é notória para o microclima, o isolamento de pequenas copas
distribuída pelo percurso não tipifica significativamente para o resfriamento do lugar. Na
afirmação em Mascaró e Mascaró (2009, p. 61) a respeito dos agrupamentos arbóreos,
a radiação solar em áreas expostas é de 3 a 4 °C menores e a umidade relativa do ar,
sob a vegetação, é entre 3 e 10% (informação confirmada por LIMA, 2009).
Nesta orientação visual sobrepõem-se as caracterizações ambientais tais como
os benefícios estéticos e funcionais para o convívio humano e as dimensões destes
benefícios quanto à morfologia. O espaçamento e o arranjo favorecem o conforto
térmico e visual e podem gerar segurança quando há um projeto urbano para a
Sustentabilidade.

91
 VEGETAÇÃO E VENTO
Para a Ambiência Urbana um dos aspectos importantes a ser pensado é o
conforto térmico, bem como os fatores reguladores, destacando-se o deslocamento de
ar, a filtragem e o direcionamento do fluxo. Também interfere na interação popular na
efetivação deste fenômeno, uma vez que o conforto térmico é relativo à percepção que
as pessoas fazem do espaço, mesmo que não saibam da sua interferência nisto.

Figura 18 – Croqui 2 do autor

Como se nota, o bairro Santo Antônio tem baixo índice do uso deste elemento
estruturante. O efeito é a tendência ao isolamento por parte dos seus moradores, baixa
interatividade e a dificuldade de entendimento sobre a propriedade pública como
elemento estruturador, que seria a própria rua. A figura 19 demonstra que o projeto
sendo pensado, como forma de qualificar os ambientes, trabalha a possibilidade de
direcionar ou conduzir os ventos para as casas ou para a rua. De mesma forma, a figura
20, com fator também psicológico, porém ambos estão em consonância para trabalhar o
social. Presenciando a vida urbana entre os meses julho de 2015 a janeiro de 2016,
observou-se que o fluxo dos ventos seriam brandos e que, algumas vezes, apresentaram
calmarias, fazendo com que a sensação de ausência de conforto térmico se intensifique.

92
Figura 19 – Croqui 3 do autor

A interdependência entre vegetação e vento no bairro Santo Antônio se


manifesta, como já explanado, com ventos cruzados, acometido pelo domo atmosférico
natural. Desta forma, pode-se dizer que um projeto que qualifique esta situação deveria
primar para uma atuação de forma unívoca. Toda via, considerando os ventos como aqui
apresentam de forma rasas e pelo desconhecimento como eventos naturais e de atuação
em prol do social, nestes croquis 2 e 3 se pode observar como a própria vegetação pode
produzir um efeito qualificador do meio ambiente e favorecer a Ambiência Urbana.
Desta forma, Mascaró e Mascaró (2009) propõem que, para que se tenha uma
melhora no ambiente urbano, é preciso pensar na sensação de conforto e seus
reguladores. Um deles é o vento, uma vez que o deslocamento do ar estimula a
evaporação e a perda de calor por convecção. As barreiras podem ser: Obstrução,
Reflexão, Filtragem, Condução, Bloqueio de fluxo de ar, Redução da velocidade do
vento pela permeabilidade da barreira e Direcionamento de fluxo.
Estes elementos podem ser usados para manipular a condição ambiental urbana
e conforto, qualificando o espaço e condicionando o valor térmico dos ambientes, sendo
usados como dispositivos permeáveis e harmonizantes climáticos. Esta condição é
favorável à vegetação e ao vento, provocando uma melhora na temperatura e na
umidade relativa do ar. Estes fatores, vegetação e vento, são também reguladores de
sensações térmicas de suma importância para favorecer a Qualidade de Vida no bairro,
assim como os ambientes circundantes. Com isto, suaviza-se a velocidade dos ventos,
direcionadas para a ampliação da viabilidade permeável e a troca de gazes (miasmas).
93
A função da vegetação garante o domínio do plano urbanístico, assim como
prioriza e qualifica os espaços de circulação. Assim, reduz-se a temperatura interna e,
combinando os materiais, produz conforto ambiental.

 RUAS
A organização do bairro Santo Antônio, como já demarcado, teve seu início
através da navegabilidade do rio Jaguari-Mirim. O bairro Santo Antônio é composto por
duas grandes Avenidas – a primeira, Avenida Dr. Luiz Gambeta Sarmento (Quadro 1),
(85,53% constituídos de casas, sobrados ou similares, 14,47% de apartamentos ou
conjuntos de domicílios e 15,63% de estabelecimentos comerciais) (CONSULTARCEP,
19/11/2015).

AV. DR . LUIZ GAMBETA SAR MENTO


domicilios Edificios Comercial

15,63

14,47

85,53

Figura 20 - Gráfico do Autor 1

A segunda via de acesso do bairro é a Rua Coronel José Procópio (Quadro 2),
(84,21% residências e poucos estabelecimentos comerciais).

94
Figura 21 - Gráfico do Autor 2

Entre a Rua Coronel Procópio e a Avenida Dr. Luiz Gambeta Sarmento (Quadro
1), encontra-se a Rua São Francisco, pertencente também ao Jardim Dona Tereza
(bairro contíguo que tem 93,06% de residências domiciliadas e 7,30% de apartamentos
ou conjuntos residenciais).
A montagem da quadrícula ou desenho morfológico do bairro Santo Antônio tem
estrutura irregular. Em se pensando o montante das estruturas viárias do bairro,
encontram-se (junto aos bairros vizinhos) 64 ruas comunicantes. Somam-se 45 ruas em
cardo (verticais) e decumanus (horizontais), além de seis transversais em quarteirões
fechados, 17 sem saída e mais uma em desconformidade (em “V”).
Todas as estruturas viárias contam com pavimentação asfáltica, meio-fio,
esgotamento e água encanada. Portanto, há infraestrutura qualificada aos interesses
sociais e comunitários.

95
Figura 22 – Croqui 4 do autor – Rua. Coronel José Procópio

No croqui 4 (Fig. 22), indica-se a cena urbana em sua prática cotidiana do bairro
Santo Antônio, onde os planos dimensionais são narrados em sua veracidade,
fachadas, passeios, elementos urbanos de um Recinto Urbano. O que se observa nesta
forma de expressão seria a imagem em movimento, o silêncio e a aridez em
contraponto à exposição vegetativa anteriormente apresentada. A presença de dois
elementos – uma cobertura e a sombra de um maciço – aponta para a composição de
vida humana, de ações conjuntas de práticas usuais. A rua é, portanto, um lugar
dinâmico de acontecimentos.

 PRAÇAS
O projeto da cidade prevê a presença de três praças (Anexo I), mas dois destes
volumes ocos não foram implantados, ou sofreram modificações por questões do
planejamento do uso do solo. Aparece apenas um destes volumes, próximo à Igreja
(Imagem 15, Apêndice I).

96
 DISPOSITIVOS PÚBLICOS, PRIVADOS E OUTROS
Nas cidades e nos bairros o trânsito das pessoas se faz diante de fazeres que
envolvem questões de sobrevivência e de organização do uso do espaço. Como visto
anteriormente, nas situações humanas a urbanização não é só a delimitação do espaço
físico, mas como este espaço é habitado (GÓIS, 2008; JACOBS, 2011; NETTO, 2013,
2014).
Para este trânsito, entendem-se os dispositivos públicos, privados e outros:
 Dispositivos públicos são aqueles que viabilizam o funcionamento do bairro
e/ou o acesso a serviços primários (saúde, educação, saneamento, energia),
são fornecidos e gerenciados pelo poder público, a partir de verba pública,
cuja função é dar acesso aos direitos da cidadania.
 Dispositivos privados prestam serviços (bancos, lojas, supermercados, etc.),
usam verba privada e não são gerenciados pelo poder público.
 Outros dispositivos prestam serviços gratuitos à população, mas sem verba
pública nem privada, advindos de ordem assistencial ou terceiro setor.
Segue-se mapa físico do bairro Santo Antônio. Juntamente há um resumo dos
dispositivos públicos e privados e outros dispositivos, que não são facilmente
identificáveis como um ou outro. E, em seguida, a disposição destes dispositivos no
mapa do bairro. Tais dispositivos, além de necessários, tramam a continuidade de
produções comuns e cotidianas, abordam as sobreposições sociais e suas áreas de
trânsito, encontros e informações internas.
A Figura 23, abaixo, foi obtida junto à Assessoria de Planejamento e Gestão e
Desenvolvimento da Prefeitura de São João da Boa Vista. No mapa podem ser
identificados o bairro e os dispositivos públicos, os dispositivos privados e outros.

97
Figura 23 – Mapa simplificado do bairro e região – do autor, sobre a plataforma da
imagem de satélite Google (2015).

98
Quadro 4 – Dispositivos Públicos, Privados e Outros

DISPOSITIVOS DISPOSITIVOS OUTROS


PÚBLICOS PRIVADOS

3. Escola Monsenhor 11. Hotel Mansão dos 1. Igreja de Santo Antônio


Antônio David (Ensino Nobres (esta igreja não foi
Fundamental e Ensino construída sobre a capela
Médio) 16. Grupo de Teatro antiga).

4. Creche Celina Virga - 17. Clube da SABESP 2. Associação de Pais e


Escola Municipal Maria Amigos dos excepcionais
Luiza Azevedo Costa e Melo (APAE)
(Educação Infantil)
6. Lar Santo Antônio
5. Área de lazer
7. Pastoral da Criança
10. Posto de Saúde
(Programa de Saúde da 8. Lar São José –
Família) Sociedade São Vicente de
Paulo
14. SABESP/ Companhia de
Saneamento Básico do 9. Igreja do Evangelho
Estado de São Paulo - Quadrangular
Corpo de Bombeiros/ Polícia
Militar do Estado de São 12. Grupo de escoteiros –
Paulo Curupira

18. EMEB – Maria de 13. Associação Dona Cida


Lurdes Teixeira
15. Asilo São Vicente de
19. EMEI – Fernando Paulo
Furlaneto

20. Áreas Institucional

Fonte: Resultado de Pesquisa Elaborado pelo autor

Diante das colocações acima pode-se depreender que os aspectos da Ambiência


Urbana propostos por Mascaró e Mascaró (2009) são uma ferramenta de avaliação
urbana bastante viável e que permitem a compreensão de um bairro para além do que
se vê cotidianamente. Nos próximos itens esta compreensão será articulada aos
aspectos da Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade Urbana; estes
apresentados na forma dos quadros já descritos nas páginas 57 e 59. Para tanto,
optou-se por dispor a Ambiência Urbana, já descrita, na forma de quadro, permitindo,
posteriormente, a articulação entre os quadros na discussão dos resultados.

99
4.1.4.1 Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana, Sustentabilidade Urbana no
bairro Santo Antônio

A partir da exposição acima, pode-se entender a seguinte configuração da


Ambiência Urbana no bairro Santo Antônio, de acordo com check-list anteriormente
proposto. Para todos os quadros a seguir, colocou-se SIM para a possibilidade de
identificação do item e NÃO quando ocorreu o contrário.
As justificativas se orientaram pela subdivisão dos aspectos em um grupo que se
refere mais às questões físicas (Clima, Clima Urbano, Recinto Urbano Vegetação,
Vegetação e Vento), ao imobiliário urbano (Ruas, Praças), à movimentação urbana
(trânsito) e aos dispositivos (públicos, privados e outros).

Quadro 5 – Análise de Ambiência Urbana no Bairro Santo Antônio


AMBIÊNCIA URBANA
TEMAS SIM NÃO JUSTIFICATIVA
CLIMA X
Condição ambiental e urbanismo verde parco em toda sua
CLIMA
extensão. Uso incorreto das tipologias vegetais para cobertura de
URBANO X ruas e dificuldade perceptiva para obtenção de aptidão das áreas
verdes. Pouca inter-relação das áreas verdes e o relevo, devido à
condição topológica. Configuração espacial facilita o fenômeno
RECINTO X Domo Climático sobre o ambiente, condição de ciclagem previsível,
identificado como relevo natural. Condição favorável de ventos no
URBANO sentido N–S, favorecida pela direção do Rio Jaguari-Mirim e sua
VEGETAÇÃO X conformação topográfica. Ventos fracos nas coordenadas L–O. A
cidade de São João da Boa Vista tem a predominância de ventos
nas coordenadas NORDESTE. Ponto favorável quanto à não
VEGETAÇÃO X apresentação de vetores poluentes. A incidência solar pelo FCV
E VENTO (Ψ) tem significância potencial para a produção de energia
sustentável.
RUAS X
A homogeneidade e a diversidade nos espaços de deslocamento
da trama urbana (arejamento e inserção de luz) são responsáveis
PRAÇAS por auxiliar o microclima e o mesoclima, pertencentes à morfologia
X de planos de acessibilidade de fluxo. Ruas largas e secas, com
pouco sombreamento e volume de energia solar. Sobre praças, há
pequeno volume oco próximo à igreja de Santo Antônio. A região
conta com um pequeno espaço contemplativo de caráter seco
longe do ponto de origem. O trânsito viário é favorável, mas
TRÂNSITO X pedestres ou cultura pedonal são desfavorecidos; não há ciclovias
ou espaços arejados para deslocamentos, pela baixa implantação
de elementos verdes.
DISPOSITIVOS X Os dispositivos públicos estão presentes direta (educação, saúde)
PÚBLICOS* ou indiretamente (transporte, saneamento, energia e
abastecimento), permitem acesso aos bens primários, colaborando
para a cidadania e a participação dos moradores.
DISPOSITIVOS X Dispositivos privados não parecem atuar diretamente para as
PRIVADOS* situações dos moradores. Não há dispositivos privados que
100
acessem prestação de serviço importante, como bancos e correios.
Outros* X Aparecem dispositivos de origem religiosa e cunho filantrópico em
sua maioria.

A seguir, apresenta-se o quadro de Qualidade de Vida Urbana, a partir da


proposta de Nahas (2005):
Quadro 6 – Análise de Qualidade de Vida Urbana no bairro Santo Antônio
TEMAS QUALIDADE DE VIDA URBANA
SIM NÃO JUSTIFICATIVA
HABITAÇÃO As residências respeitam a área de superfície,
X (afastamento, uso do solo), não se identificou um padrão
determinado (econômico) e as de divisões internas,
observando as fachadas em sua disposição.
SANEAMENTO X Há coleta de lixo, serviços de abastecimento e
BÁSICO esgotamento. Encontram-se 98,11% da população com
banheiro e água encanada (2010).
Há 01 (um) posto de saúde (Estratégia de Saúde da
SAÚDE X Família), com duas equipes, atendimento ambulatorial
(clínico geral) e especialidades (pediatria e ginecologia),
com 01 dentista, 12 agentes de saúde, dois enfermeiros.
Conta ainda com apoio do NASF, que tem uma equipe
para cobrir todo o município. Mortalidade infantil no
município é de 9,45% (2010)
EDUCAÇÃO X Há uma escola municipal (creche, de níveis I e II, com
117 vagas) e uma escola estadual (para Ensino
Fundamental II). Não há escolas de Ensino Fundamental
I.
TRANSPORTE X Apenas uma linha, com intervalos de aproximadamente
vinte e cinco minutos.
SEGURANÇA X Rondas locais de viaturas da polícia militar.
ABASTECIMENTO X Dois mercados pequenos, um supermercado.
ASSITÊNCIA X Não há dispositivos de Assistência Social, CRAS/
SOCIAL CREAS (Centro de Referência em Assistência Social/
Centro de Referência Especializado em Assistência
Social) no bairro, mas a unidade do município atende os
moradores.
CULTURA X Há um grupo de teatro, que se encontra fora do bairro.
Não se identificou manifestações de cultura, patrimônios
culturais e espaço para tais manifestações.
ESPORTE X Campo de futebol, piscina em uso.
OUTROS SERV. X O bairro conta com ruas pavimentadas em toda sua
INFRAESTRUTURA extensão, possui rede de telefonia e energia elétrica,
pontos de ônibus.

PARÂMETROS X Conta com risco/terreno (vetores) e cobertura vegetal


parca. Não apresenta registros de ruídos nem
fiscalização de veículos.
AMBIENTAIS

OUTROS SERV. X Bancos, agências de correios, postos de gasolina, táxi,


URBANOS bancas de revistas não estão presentes. Moto-táxi, bar?
Restaurante, estes serviços não foram identificados.

VARIÁVEIS X A renda per capita média de São João da Boa Vista foi
ECONÔMICAS avaliada em R$ 998,31 (2010).

101
Os aspectos da Qualidade de Vida Urbana se voltaram para a questão da
ocupação do solo, dos espaços e suas formas de uso. Assim, conseguiu-se identificar
mais detalhes do bairro Santo Antônio, que deram outros elementos de compreensão
ao item seguinte: Sustentabilidade Urbana.

Quadro 7 – Análise de Sustentabilidade Urbana no bairro Santo Antônio


TEMAS SUSTENTABILIDADE URBANA
SIM NÃO JUSTIFICATIVA
ÁGUAS X Não se identificaram sistemas de conservação
hídrica de águas pluviais, residuais ou um sistema
cíclico para este item.
ENERGIA X Não se identificaram pontos de conservação de
energia, atendimento por fontes limpas e
renováveis.
ALIMENTO X Não se identificaram hortas comunitárias, nem
agricultura local.
VERDE X Não foram identificados corredores verdes, há
parca incidência do verde urbano e rural.
SISTEMA ENTORNO X Nada foi identificado neste quesito. Assim como as
questões de impacto de entorno e recursos.
SAÚDE X Há assistência em saúde pública, mas não há
informações que permitam avaliar longevidade. A
partir do quadro de Qualidade de Vida Urbana,
com onze dos quatorze aspectos identificados
como presentes, há indícios de Qualidade de Vida.
O Índice de Desenvolvimento Humano foi de 0,797
em 2010, considerado alto, em função da
Longevidade, da Renda e da Educação. A
estimativa de vida é de 77,2 anos.
CULTURA X Há um grupo de teatro, que não pertence ao bairro.
Não se identificaram manifestações ligadas à
cultura, patrimônios culturais e espaço físico para
apresentações.
MORFOLOGIA X Há vias de acesso que atendem as necessidades
locais e de fluxo.
HABITAT X A ausência de praças e de vegetação tende a
comprometer a habitabilidade e conforto. Não é
possível avaliar a qualidade das construções nem
houve coleta de informações específicas sobre a
existência de coesão social.
EDUC. E X Não é possível avaliar.
TECNOLOGIA
PLANEJAMENTO/USO X De acordo com o Geo-Dados da cidade, o espaço
E OCUPAÇÃO é não parametrizado pelo Urbanismo e sem
tecnologias verdes.
POLUIÇÃO X Não é possível avaliar.
(REDUÇÃO)
RESÍDUOS X Não se recicla o lixo eletrônico e ou compostagem.
INFRAESTRURURA X Não há infraestrutura verde.
VERDE
TRANSPORTE / X Há linha de transporte público (ônibus), mas sem
ACESSIBILIDADE vias específicas para pedestres ou cultura pedonal.

102
Cada quadro foi compreendido para dar subsídio à discussão do item seguinte.
Mas algumas articulações se mostraram necessárias para se chegar à composição dos
três itens.
O item de Ambiência Urbana, cerne deste trabalho, indicou, através do quadro
sintetizador, que os aspectos físicos são avaliáveis e pensados de forma negativa, já
que a vegetação se apresenta em pouca quantidade e sem planejamento urbano. No
item de Ambiência Urbana os serviços da esfera pública estão assegurados, dando
acesso aos bens primários como se pode notar na imagem 3 (Apêndice I).
Quando se passou ao quadro de Qualidade de Vida Urbana, porém, encontra-se
insuficiência. Mesmo havendo muitos aspectos contemplados, a quantidade e talvez
qualidade dos serviços ofertados ao bairro, em nível primário (água, energia,
saneamento, segurança, saúde e educação) e de prestação de serviços, pôde ser
aventada como insuficiente.
No item Sustentabilidade Urbana os aspectos se mostraram em negatividade,
não sendo possível afirmar sua existência, chegando-se a pensar em ausência do item.
Isso parece condizer com a breve reflexão acima, anterior, acerca da Qualidade de
Vida Urbana, quanto à sua insuficiência, mesmo em se pensando a parcialidade da
positividade em vários aspectos, como apresentam as imagens 1, 3, 4 e 13 (Apêndice
I).
Quando se observaram as imagens 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 (Apêndice I),
destaca-se a energia radiosa com formação de ondas de calor em cada Recinto
Urbano, provocado pelo Albedos; coeficiente de reflexão da luz solar, a partir da “albus”
(luz branca), difundindo-se sobre uma superfície. A partir deste fenômeno, observou-se,
também, alteração no clima, uma vez que esta luz branca provoca aquecimento de
superfície e a sensação psicológica de abafamento, isolamento e cansaço físico.
A seguir, a discussão dos resultados e a articulação de toda a proposta do
trabalho.

103
5 DISCUSSÃO

5.1 ARTICULAÇÃO DOS RESULTADOS À INTRODUÇÃO

Apresentam-se as articulações finais do trabalho, desde a Pergunta-problema,


ao objetivo geral, aos objetivos específicos e a hipótese em direção aos resultados. Da
mesma forma, os resultados serão articulados ao referencial teórico, buscando-se dar
coesão à reflexão ora empreendida.
Inicialmente, a articulação se fará quanto à pergunta-problema. As condições de
Ambiência Urbana do bairro Santo Antônio estão em consonância com a proposta de
Mascaró e Mascaró (2009). A partir da análise do bairro, e destes autores, foi possível,
inclusive, a aproximação a vários dos aspectos de Qualidade de Vida Urbana (NAHAS,
2005) e de Sustentabilidade Urbana (SILVA e ROMERO, 2015).
Em relação ao objetivo geral e aos objetivos específicos, foi possível registrar e
descrever os aspectos da Ambiência Urbana, assim como correlacionar os aspectos de
Qualidade de Vida Urbana e de Sustentabilidade Urbana. Pode-se apontar, inclusive,
que em todos os itens os aspectos foram identificados e analisados de acordo com
suas definições, permitindo compreender sua identificação.
Na referência ao pressuposto, este foi confirmado. Há uma relação intrínseca
entre Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana. Os
itens de Ambiência Urbana dão ênfase aos aspectos físicos, não aparecendo outros,
também importantes, como os que se referem às dimensões econômicas e políticas;
nem os também inseridos pelo autor (dispositivos públicos, privados e outros).
No entanto, os aspectos físicos sofrem o impacto das formas como as
dimensões econômico-políticas se organizam e como direcionam o formato urbano de
ocupação. Dessa forma, quando se considera a dimensão urbana, e que a ocupação
humana implica em articulação complexa e interdependente, há uma articulação
intrínseca entre os itens.

104
Para bem compreender esta articulação, desde a pergunta-problema, organizou-
se os três itens (Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade
Urbana) em um quadro comparativo de todos os seus aspectos, tal como se apresenta
no Quadro de Análise Final, em que a junção dos aspectos foi nomeada de Ambiência
Urbana em Totalidade.

Quadro 8 – Análise Final 1 – Ambiência Urbana em Totalidade

ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE DE SUSTENTABILIDADE


ASPECTOS URBANA VIDA URBANA
GERAIS URBANA
ASPECTOS Clima Parâmetros Verde
FÍSICOS Vegetação ambientais Infraestrutura verde
Vegetação e
vento
USO URBANO Clima urbano Águas
DOS ASPECTOS Recinto urbano Energia
FÍSICOS Sistema entorno
Habitação Habitat
ASPECTOS Ruas Outros serviços/ Planejamento/ Uso e
URBANOS – Praças infraestrutura Ocupação
OCUPAÇÃO Morfologia
URBANA DO Saneamento básico
ESPAÇO Poluição (redução)
Dispositivos Saúde Saúde
públicos* Educação Educação e
Assistência social Tecnologia
ASPECTOS
URBANOS –
SÓCIO- Resíduos
ECONÔMICO- Trânsito Transporte Transporte/
POLÍTICOS Acessibilidade
Abastecimento Alimento
Cultura Cultura
Esporte
Variáveis
Econômicas
Dispositivos Outros Serviços
privados* Urbanos
Outros*
Santos (2016)

Neste quadro, os itens – Ambiência Urbana, Qualidade de Vida Urbana e


Sustentabilidade Urbana – foram reagrupados em Aspectos Gerais. Os Aspectos
105
Gerais vão desde os Aspectos Físicos (elementos da natureza que não são eliciados
antropicamente) ao Uso Urbano dos Aspectos Físicos (como a Urbanização se organiza
enraizando-se nos Aspectos Físicos), passando pelos Aspectos Urbanos ou Ocupação
Urbana do Espaço (estritamente antrópica, refere-se às formas como a Urbanização
demarca o espaço e seu uso, portanto, como URBE), até chegar, finalmente, aos
Aspectos urbanos Sócio-Político-Econômicos (as formas e vias de manutenção urbana
do uso como CIVITAS, dentro do que os movimentos humanos de agrupamento e
legislação permitem).
Desta forma, pode-se estabelecer tanto a complexidade como a especificidade
das relações entre os aspectos. Mesmo quando não há equivalência direta, pode-se
entender que há articulação e, por vezes, sobre determinação.

Quadro 9 – Análise Final 2 – Ambiência urbana em Totalidade

ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO


ASPECTOS URBANA DE URBANA
GERAIS VIDA
URBANA
ASPECTOS Clima Parâmetros Verde
FÍSICOS Vegetação ambientais Infraestrutura verde X
Vegetação e
vento

A topografia. Assim como os usos incorretos das massas verdes, não favorecem
os aspectos físicos, pelo estado crítico quanto a Ambiência Urbana, diante dos
aspectos: Clima, Vegetação, Vegetação e Vento. Notoriamente, percebe-se que o
bairro se encontra em um pequeno declive (Fig. 12 – maquete 3D), em que o aspecto
Clima tem como predominância ser quente e úmido. Devido à presença do Rio Jaguari-
Mirim, a escolha da Vegetação não parece ser a mais correta para a melhoria do clima.
Este mesmo apontamento também se faz perceptível quando se incorpora o
aspecto Vento. A formação do DOMO (Fig. 3), como já apresentado, demonstra que o
vento que seria de melhor qualidade se perde em função da topografia da cidade. O
que parece ser possível seria a utilização dos ventos canalizados pelo próprio Rio
Jaguari-Mirim; com a utilização correta da vegetação como já demonstrado em 2.2.5, no
tema (9) Direcionamento de Fluxo.
106
Já na indicação de Qualidade de Vida Urbana, este item se apresenta como
Parâmetros Ambientais. Esta apresentação se faz pela qualidade ambiental urbana e
que depende de ações, de avaliação do plano diretor e uma correta utilização das
leituras de indicadores para o fortalecimento entre as ações e a participação social.
No item Sustentabilidade Urbana a empregabilidade de elementos verdes é de
extrema necessidade para que se tenha avanço no quesito da Arquitetura sociológica.
O emprego destes elementos proporciona consolidação no meio urbano; disso decorre
a necessidade de planejamento e monitoramento das ações. Por exemplo, quando se
reduz a poluição (que pode incidir na acidez das águas de chuvas), melhora-se a saúde
da população.

Quadro 10 – Análise Final 3 – Ambiência urbana em Totalidade

ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO


ASPECTOS URBANA DE URBANA
GERAIS VIDA
URBANA
USO Clima urbano Águas
URBANO Recinto Energia X
DOS urbano Sistema entorno
ASPECTOS
FÍSICOS

O espaço é afetado pela urbanização, logo, o Clima Urbano se apresenta


ineficiente ou pouco eficaz, devido à pouca exploração de elementos verdes corretos.
Isto torna o bairro Santo Antônio quente e úmido, a inserção solar é intensa, sofrendo
variações através da carta solar e da pavimentação asfáltica, fazendo-se pensar que a
melhor opção de pavimentação seria a utilização de blocos. Isto seria favorável,
também, para o Recinto Urbano, que, por sua vez, traria melhoria no percentual
ambiental microclimático, com possibilidade de melhor controle ambiental.
As questões de Sustentabilidade Urbana também seriam favorecidas pelo melhor
controle ambiental, que traria previsibilidade ao manejo de problemas com o ambiente;
obtendo-se economia nas casas e para a cidade como um todo. Em todas as imagens,
é possível identificar forte incidência solar. Nestes casos, a utilização de captadores
solares favoreceria a manutenção das casas com baixos índices de consumo de
107
energia hidrelétrica. Da mesma forma, poder-se-ia usar energia fotovoltaica para
alimentação interna das casas e pequenos comércios, como são apresentados no
bairro.
O sistema entorno é formado pelo meio natural e o antrópico e estes são inter-
relacionados, e que condiciona a forma de vida e da sociedade, incluindo os valores
humanos. Indo um pouco mais adiante, pode ser percebido que os sistemas físicos e
antrópicos são interligados. No bairro Santo Antônio, esta interligação parece se fazer
pela articulação das pessoas, mais do que a possibilidade de trânsito nas vias.

Quadro 11 – Análise Final 4 – Ambiência urbana em Totalidade

ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO


ASPECTOS URBANA DE URBANA
GERAIS VIDA
URBANA
ASPECTOS Habitação Habitat
URBANOS Ruas Outros serviços/ Planejamento/ Uso e X X
– Praças infraestrutura Ocupação
OCUPAÇÃO Morfologia
URBANA Saneamento
DO básico Poluição (redução)
ESPAÇO

A ocupação urbana do espaço traz a percepção quanto aos aspectos urbanos e


ao uso e a ocupação do solo. De um lado, há identificação positiva e, de outro, negativa
(destacado em sublinhado).
Em princípio, nota-se que as ruas têm dimensões favoráveis, calçadas de média
largura e boa conservação. Todavia, outros elementos, como as praças, não foram
identificados. Assim, para o item de Ambiência Urbana, a ocupação urbana do espaço é
desfavorável. O mesmo pode se dizer quanto a políticas de redução da poluição, em
que não se encontrou nenhuma medida específica para o bairro.
Para o item de Qualidade de Vida Urbana, em habitação, há favorabilidade –
compreendendo-se como satisfatórios o planejamento e o uso do solo. Há respeito das
construções em relação ao assentamento no terreno e à infraestrutura respeitam o
afastamento e é positivo, assim como se observa a presença de infraestrutura de bens
primários (saneamento, equipamentos de sinalização e transportes públicos). É
108
oferecida à população um sistema de transportes, porém, identificou-se falta de
estrutura de parada e embarque de passageiros como é percebido na Imagem 14
(Apêndice I).
A questão da Sustentabilidade Urbana no aspecto Habitat, como anunciado
anteriormente, apresenta a falta de praças, o uso incorreto da cobertura verde,
tornando o item insuficiente. Volumes ocos são fatores de coesão social, dão sentido à
presença e ao pertencimento espacial comum, promovem senso de integração ao
conjunto em que se vive.
O planejamento e o uso e ocupação do solo se apresentam satisfatórios, as
casas respeitam o distanciamento e o índice de permeabilidade do solo. Desta forma,
morfologicamente falando, as vias que fazem a ligação do bairro conseguem fluir o
trânsito e comunicar aos outros bairros.
As visitas ao bairro indicam ser possível constatar que existe um sistema de
recolhimento de resíduos e eliminação da poluição, mas não foi possível avaliar se há
uma política para redução destes resíduos ou de reaproveitamento. Contudo,
encontram-se, no bairro Santo Antônio, recicladores em dois pontos – na Avenida Luiz
Gambeta Sarmento e o outro na Rua Cel. José Procópio – porém, não se pode saber
se estes recicladores fazem retirada de todas as formas de resíduo. Também não está
explicitado no bairro qualquer sinalização sobre coleta de resíduos ou tratamento
específico.
No Plano Diretor há indícios de tratamento de resíduos e o Projeto São João +
Verde contempla, integralmente, a questão. Mas em nenhum dos documentos, com
exceção do CONSEG (2015), aparecem ações direcionadas ao bairro Santo Antônio.
Claro que qualquer medida que se dirija ao município terá impacto sobre este bairro,
mas registra-se a omissão ou a pouca menção às suas questões.
Pensando-se na relação entre os itens e o poder público, dimensionou-se, no
quadro abaixo, a oportunidade de se ter melhor compreensão das dimensões de
análise, relacionando-se este quadro com o quadripé da proposta de Silva e Romero
(2015), a governança. Por este é que se pôde avaliar as relações entre as pessoas e a
urbanização. De um lado, há identificação positiva e, de outro, negativa (destacado em
sublinhado)
109
Quadro 12 – Análise Final 5 – Ambiência urbana em Totalidade

ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO


ASPECTOS URBANA DE URBANA
GERAIS VIDA
URBANA
ASPECTOS Dispositivos Saúde Saúde
URBANOS – públicos* Educação Educação e X X
SÓCIO- Assistência Tecnologia
ECONÔMICO- social
POLÍTICOS
Resíduos
Trânsito Transporte Transporte/ X
Acessibilidade
Abastecimento Alimento X X
Cultura Cultura X
Esporte X
Variáveis X
Econômicas
Dispositivos Outros X X
privados* Serviços
Urbanos
Outros*

No aspecto dos Dispositivos públicos, para a Ambiência Urbana e Qualidade de


Vida Urbana, encontra-se atenção à Saúde e à Educação; ambos bem avaliados no
relatório do CONSEG (2015), ainda que julgados insuficientes em quantidade. As
demandas em Assistência Social, todavia, são contempladas apenas no âmbito
municipal.
Nos itens de Sustentabilidade Urbana os Dispositivos públicos apareceram como
inexistentes quanto ao controle de poluição e de resíduos; tal como já identificado na
discussão do Quadro 3 da Análise Final. De forma geral, pode-se dizer que a oferta dos
Dispositivos públicos poderia ser mais bem explorada e ofertada. Neste quesito,
coletividade e poder público deveriam andar juntos.
Quanto ao aspecto do trânsito, destaca-se que as distâncias para os serviços
internos do bairro são, no geral, boas. Mas as distâncias de irradiação são longas
(Figura 24, acima) e como falta cobertura verde, tornam-se cansativas. Não se
percebem ciclovias, todavia há um fluxo de bicicletas; uma prática pedonal informal,
identificada no Diário de Campo. Faltam cuidados maiores para que esta prática,

110
econômica e ecologicamente sustentável, possa ser melhor aproveitada, e acontecesse
com mais frequência e liberdade. O transporte é oferecido aos moradores com pontos
de aprovação pela existência e negativos quanto ao tempo de espera.
O transporte é disponibilizado com carros em bom estado de conservação, com
acessibilidade, mas o atendimento poderia estar mais próximo às necessidades da
população. As calçadas apresentam-se em boa dimensão, porém não têm um padrão;
o que dificulta a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida. Em alguns casos, um
simples ajuste no nível das calçadas já resolveria grande parte deste problema, sem
onerar o município; poderia ser feito, em mutirão, pela população.
A cultura, enquanto agente de formação social, não foi identificável. Para o
esporte, há um campo de futebol em boas condições de uso em que se identificaram
vestiários. O bairro conta ainda com duas piscinas em bom estado de uso.
Sobre as variáveis econômicas, não se encontraram índices do bairro, somente
do município; estes se revelaram favoráveis de boa qualidade. Em relação a estes
índices, pensando-se somente em renda per capita, talvez haja uma divergência para
menos, em se avaliando o padrão das construções e a falta de investimentos mais
significativos.
Os dispositivos privados são a veia econômica de um lugar, oferecendo serviços
necessários para que aconteça o abastecimento das residências, das pessoas e a
circulação de informações. Logo, comércio, bancos e correios são essenciais em um
bairro. Os pontos de irradiação descritos no mapa (Fig. 22 – Mapa simplificado do bairro
e região) apontam para a fragilidade destes serviços quanto às distâncias percorridas;
indica ainda que o poder aquisitivo da população talvez não seja atraente para
investimentos maiores.
Não se sabe, claramente, se há situações de vulnerabilidade social. Tem-se,
para pensar a respeito, as informações do CONSEG (2015) e os índices do IDHM.
Destes, sabe-se que a situação dos pontos de tráfico de drogas e de gravidez na
adolescência seriam desfavorecedores. Mas, novamente, o IDHM do município sugere
baixa vulnerabilidade, não se podendo avaliar, especificamente, o bairro.
Parece faltar, no bairro, uma proposta de redução de resíduos efetiva que
abarque temas que levem seus cidadãos a praticas recicláveis. Não se conseguiu
111
avaliar, também, qual a frequência e qualidade da coleta do lixo doméstico ou se há
coleta seletiva.
Nos aspectos alimento/abastecimento, não foram identificadas hortas
comunitárias, sugerindo a existência eventual de plantio de agricultura particular. Em
termos de Sustentabilidade Urbana, é importante o compartilhamento das práticas e
dos bens de consumo. Estas formas, porém, precisam da interdependência da
coletividade e do poder público, no sentido de uma sociedade com equidade. Talvez
caiba um estudo para um polo de informação agrícola e fomento às práticas de plantio.
Sustentabilidade Urbana e Qualidade de Vida Urbana são itens altamente
dependentes da saúde e da educação, pois o pensamento ecológico é um aprendizado
constante e cotidiano. O impacto destes saberes para a economia, para a convivência e
para a melhoria da população é imensurável, reduzindo a vulnerabilidade – ou seja,
incide nas questões sociais de forma direta.
Como já mencionado anteriormente, em Holanda (2006), Cartografia é resultado
de construção das articulações entre a história e as representações de determinado
espaço ou local. Sendo assim, pode-se pensar que todo espaço humano é artificial,
criado para melhor acomodar ou dar suporte de vida a espécie humana. Logo, é
essencial que se aprofunde a compreensão das relações deste humano com os outros
e com o espaço em questão, entendendo se há (ou não) a busca pelas situações que
agregam (ou não) o conforto, aumentam (ou diminuem) o contato pessoal, bem como
todas as formas de interação.

5.2 Articulação teórica à Ambiência Urbana em Totalidade

Neste trabalho, pôde-se observar o diálogo entre os autores, desde as questões


da urbanização e da reurbanização de espaços citadinos, como a tentativa de se
encontrar outro enfoque sobre o planejamento. Ressalta-se a dificuldade no
estabelecimento deste enfoque, dada a tendência aos modelos ortodoxos, como diz
Jacobs (2011).
Destacaram-se, também, os apontamentos de Moraes Netto (2014), ao indicar
as formas de apropriação social, quase experiências corporais, que aparecem nas
112
cidades. Tais apontamentos se relacionariam às colocações de Lefebvre (1983), que
articula as práticas sociais à apropriação do espaço em uso; muitas vezes, marcado
pela ideia de uso ideal, pelo pragmatismo ou pela funcionalidade.
Em Nahas (2013), a condução das investigações sobre a Qualidade de Vida
Urbana – que deveria balizar as práticas vivenciadas no cotidiano de uma cidade por
cada cidadão, na construção de um corpo de morar e viver – indica que as cidades e
bairros tendem a desvalorizar as questões primordiais; caminhos perdidos, então. A
visão sofisticada e idealizada da sociedade banaliza as piores situações fazendo com
que se julguem normais a falta de estrutura, de espaços de convivência e a ausência de
qualidade no fazer viver.
Também em Elkington (1999), pode-se pensar que a Sustentabilidade Urbana
tende a ser apresentada como um modismo, um elemento de lucro, e não de
necessidade (essencial) urbana. Anda-se, pois, à beira do abismo, quem irá perder será
a espécie humana (BERTÉ, 2009).
Finalmente, nesta articulação, Mascaró (2015) refere que há como fazer um
pouco mais, transpondo, para as cidades e bairros, a qualificação para todos,
priorizando-se a convivência e a permanência entre as pessoas.
Assim, vários autores foram apresentados ao longo do trabalho e alguns deles
permitiram a compreensão de como as cidades se organizam e como as pessoas
influenciam as formas desta organização; ainda que também se pense nisso como
interinfluência. Não há um começo, mas a continuidade deste movimento, em ambas as
direções (do social e do indivíduo) é identificável no espaço das cidades. E, neste caso,
no bairro Santo Antônio.
As informações para confirmar estas questões foram vistas como Ambiência em
Totalidade, tal como se demonstrou adiante.

113
Quadro 13 – Resultado de Ambiência urbana em Totalidade
ITENS/ AMBIÊNCIA QUALIDADE SUSTENTABILIDADE SIM NÃO
ASPECTOS URBANA DE VIDA URBANA
GERAIS URBANA
ASPECTOS Clima Parâmetros Verde X
FÍSICOS Vegetação ambientais Infraestrutura verde
Vegetação e
vento
USO URBANO Clima urbano Água X
DOS Recinto Energia
ASPECTOS urbano Sistema entorno
FÍSICOS
ASPECTOS Rua Habitação Habitat
URBANOS Praça Outros Parcelamento e
– Serviços/ uso/solo
OCUPAÇÃO Infraestrutur Ocupação X X
a Morfologia
URBANA DO
ESPAÇO Saneamento Poluição (redução)
básico
Dispositivos Saúde Saúde
públicos Educação Educação e X X
Assistência Tecnologia
social
Resíduos
Trânsito Transporte Transporte /
ASPECTOS
Acessibilidade X
URBANOS
– Abasteci- Alimento
SOCIO - mento X X
ECONOMICO
- POLÍTICOS Cultura Cultura X
Esporte X
Variáveis X
Econômicas
Dispositivos Outros
privados Serviços X X
Urbanos
Outros X

Este quadro sintetizou todas as respostas dos quadros de Ambiência em


Totalidade, como agrupamento dos Quadros 5 – Análise de Ambiência Urbana no
bairro Santo Antônio, Quadro 6 – Análise de Qualidade de vida urbana no Bairro Santo
Antônio e do Quadro 7 – Análise de Sustentabilidade Urbana do Bairro Santo Antônio.

114
A cartografia de uma cidade, como designado por Holanda (2006), voltando ao
aporte teórico, de início, indica sua história e sua teia de relações, demonstrando, no
território, os conflitos, as disputas, códigos, interdições e permissões. No bairro Santo
Antônio, quando se pensa sua história e sua morfologia, nas referências e nas imagens,
sobressai um bairro pouco assistido, pouco cuidado. Em uma visão sociológica, a
própria história mostra que, talvez, o comércio ilícito também seja uma resposta às
questões colocadas para a sobrevivência do bairro. Viu-se, nas imagens, nos relatos e
nas interpelações sofridas pelo autor da parte dos moradores, um bairro à margem, que
pode responder às demandas da própria cidade.
A falta de praças, de transporte público (em maior quantidade e com mais
frequência dentro do bairro) e vias de acesso parecem restringir a mobilidade, a
convivência e as atividades de lazer, com possível prejuízo para a delimitação da
comunidade e o estabelecimento do território. O relatório do CONSEG (2015) indica,
por outro lado, que os moradores identificam as restrições e solicitam a participação do
poder público quanto às melhorias.
Estar em um espaço, para os seres humanos, é oferecer também as condições
de troca, de comunicação e de alianças sociais. Estar em grupo, em um local
(ambiente), implica nas condições estabelecidas de estar lá. O homem transforma o
ambiente, mas é transformado por este, em reciprocidade contínua.
A Ambiência em Totalidade é o conceito que abarca isso efetivamente e pode
ser pensado em várias medidas, inclusive para um bairro. Permite a compreensão,
então, de pessoa-cultura-ambiente construído, que se ordena em espaço antes
imaginado, interpretado e processado (DUARTE et al., 2007).
Se o meio urbano é a condição de construção das cidades, no bairro se dá o
mesmo. Para o bairro Santo Antônio, pode-se pensar na imagem de algo sem
delimitação de uma comunidade que favoreça os moradores. As imagens elencadas e o
diário de campo revelam uma comunidade isolada na própria cidade, sem valor
específico e em busca de melhorias. Seria essa a definição de bairro-ponte?
Ao se verem em um “bairro ponte”, os moradores parecem identificar que as
pessoas passam por ele, mas quem fica são os moradores. Talvez uma analogia às
dificuldades vivenciadas em seu cotidiano.
115
Nesta analogia, enquanto “bairro ponte”, é uma surpresa a fala dos moradores. De
um lado, pela facilidade com que cada uma das partes dentro de um bairro pode ser,
assim, reconhecida pela organização dos espaços. De outro, esta fala parece legitimar
o bairro como elo de ligação, tentando estruturar uma identidade do ambiente pelos
pontos que une. Mas, finalmente, há uma particularidade nesta fala, que indica
movimento, deslocamento ou desorganização, que assigna o bairro.
Ambiência em Totalidade é uma observação das particularidades no todo (dos
aspectos aos itens) e do todo nas particularidades (dos itens aos aspectos). É a
avaliação da capacidade de apuração mediante os eventos e a formação histórica de
um lugar, entendendo-se as necessidades intrínsecas aos agrupamentos humanos.
Através deste estudo, caracterizaram-se os pontos de maior e menor relevância
para a efetiva conquista do desenho urbano e as subjetividades. Também se incluíram
elementos que favoreceram o lugar na trama do entorno natural (físico) e antrópico,
avaliando impactos e refletindo acerca da aplicabilidade dos instrumentos disponíveis
ao estudo de observação particular.
Ambiência em Totalidade foi também dimensionada como estratégia de
avaliação de humanização dos espaços, equilibrando-se elementos de composição
espacial, bem como a participação popular para o protagonismo eficiente. Ambiência
em sua Totalidade é uma conjectura sobre o cenário/espaço para as realizações
sociais, seus desdobramentos quanto à política, economia e o ambiente que
contribuam com a coletividade, favorecendo valores culturais, esportivos e de lazer;
abrangência substancial para as dimensões moral, física e psicológica das atividades
humanas.
Desta forma, a Ambiência Urbana está para além da configuração do espaço
físico, está também na subjetividade da coalisão das condições físicas do lugar,
humanizado; está ainda na afirmação das políticas públicas para a saúde, cultura,
trabalho, educação e educação comunitária (educar para a coletividade), focando na
premência das relações do morador, como trabalhador e protagonista, corresponsável
pelo espaço que vive e ocupa. Ambiência em totalidade, por fim, talvez seja a forma
como se percebe e se vivencia o espírito do lugar, e transformá-lo em valores e ações

116
contribuintes para a sociedade, talvez seja espelho que melhor reflita a interpretação de
uma identidade, na presentificação.

117
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitas são as relações que se tem com as cidades. No conceito de Ambiência


Urbana, requerem-se as práticas urbanas e as ações que fazem vínculos às pessoas,
aos moradores e à sociedade. Não há como destacar uma coisa da outra e esse
intrincamento é indissociável.
Pode-se pensar, então, que os humanos agem em socioecologia, o jeito de estar
em contato com o espaço, através das disposições físicas e das práticas com as
pessoas. Talvez se pense que a condução dos padrões ecológicos, envolto na
qualidade da paisagem, seja relativa ao bem-estar; estar esse que, nas construções,
faz pensar em uma Arquitetura sociológica.
Nesta observação, o pensamento de Santos (2012) quanto à dimensão
sociológica tem precisão, como possibilidade de transformação na realidade, que se
divide em ações de leis objetivas e a criação de condições propícias; na medida do
possível e diante do contraste entre o real e o ideal. Portanto, com este trabalho,
sugeriu-se a saída do binômio bom-ruim, no sentido de buscar entender se há o
direcionamento para um caminho de melhor estabelecimento das cidades.
Ainda em se pensando na contribuição de um trabalho, é a dimensão sociológica,
em sentido amplo, que sustenta a formação do homem. Não só como unidade de uma
situação, enquanto cada pessoa, mas como cidadãos em sociedade – sujeitos de
direitos e deveres para com sua comunidade.
O cerne disto, o urbanismo, é o que permite tomar o cidadão como
multidimensional, mas em retroalimentação com as cidades. Ou seja, não somente a
moradia, nem a divisão física (em ruas, praças ou construções) nem os aspectos
climáticos ou de manutenção citadina (saneamento, luz, etc), mas o intrincamento de
todas as relações que remetem a um projeto plural.
Inevitável e necessário lembrar Mascaró (2015), que traz a concepção de um lugar
enquanto constructo da composição necessária à população, que envolve tanto o poder
público quanto a coletividade nas ações para a reafirmação de uma Urbanidade como
ponto focal, na elaboração de uma cidade onde todos têm sua parte de estar, estando
118
juntos. Neste sentido, forma-se a Ambiência Urbana que estabelece este cidadão em
sua localização no próprio espaço.
Este tema também conecta as condições do viver (estar, fazer e pensar) aliadas à
Qualidade de Vida Urbana e à Sustentabilidade Urbana. Portanto, concernem ao
sentido social, pelas possibilidades de articulação entre as pessoas e os espaços em
que vivem; são múltiplas as condições, mas todas pertinentes ao humano. Logo, a
Ambiência Urbana pode também ser definida como relativa aos aspectos que
circundam as pessoas no espaço em que vivem, indistintamente de sua cultura,
posição socioeconômica ou quaisquer outras questões, sem atribuição moral.
Dentre as contribuições da Ambiência Urbana, pode-se averiguar, por outro lado,
as interferências de favorecimento ou não do bem-estar das pessoas – no sentido da
Qualidade de Vida e da Sustentabilidade – indicando caminhos de contribuição nas
cidades e nos bairros. Bairros são pedaços das cidades que podem ser réplicas dos
mesmos problemas, permitindo a observação e interferência em menor escala.
Os aspectos da Ambiência Urbana evidenciam esta possibilidade de identificação
e interferência, principalmente quando se aliam as condições dos Dispositivos públicos,
privados e outros. Estes aspectos proporcionam o dimensionamento do bairro, sua
estrutura e sua dinâmica, tendo a Ambiência Urbana em Totalidade como moldura, já
que Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana também aí se articulam.
Quando se toma a análise deste bairro, desde sua história, seu passado, a
dinâmica de suas imagens, vê-se um panorama da atualidade e pensam-se novas
possibilidades de estudo. Talvez, focando-se na montagem da Ambiência Urbana em
Totalidade, pensar urbanizações de pequeno porte, de outros bairros, para avaliar se a
proposta aqui disposta se reproduz com delicadeza e precisão.
Por outro lado, pensar novo estudo que, a partir da Sustentabilidade Urbana,
como ponto de partida, chegue à Qualidade de Vida Urbana e à Ambiência Urbana, em
caminho inverso. E que, em seguida, pudesse levantar pontos de intervenção na
morfologia de sítios urbanos e no uso menos degradante do espaço físico.
Estes possíveis novos trabalhos poderiam indicar intervenções específicas, como
se fez no Projeto de Renzo Piano (para Postdamer Platz, em Berlim) ou o Planejamento
para Boston (em Massachusetts, denominado Emerald Necklace, de Frederick Law
119
Olmsted). Assim como estes projetos aqui mencionados, ao se lançar um olhar para o
futuro, ainda se olha para o passado e para as contribuições que se fazem no presente,
como já disse Argan (2004).
Se cada um dos pontos perpassa pelo filtro da vida urbana, é pela identificação
espacial que um arquiteto se compreende neste espírito do lugar. Em suaves mutações
no ambiente urbano, sua construção e sua funcionalidade são a presença do olhar às
características que configuram os espaços incidentes, na noção de localização dos
indivíduos, em sua orientação e identidade; sensibilidade abrangente e universal no
mesmo momento em que se obtém a percepção projetual.
Por conseguinte, na relação do bairro, traduzem-se as alterações pela passagem
do tempo, pela interinfluência com o meio e pelos espaços delimitados na forma de um
território. Esta é a natureza antropológica da urbanização.
Ao se pensar o território como lugar de presença e ação, compreende-se este
espaço como rede estruturadora para a constituição da vida urbana em suas
necessidades; como moradia, trabalho, educação, saúde, lazer, segurança e
mobilidade, questões que são apontadas em quaisquer reuniões de bairros menos
favorecidos.
Em qualquer lugar, composto pelas pessoas, há uma identidade na estrutura,
identificável ou não pelos moradores. Por vezes, identificável por observadores, esta
identidade traz as experiências da cidade, suas imagens, suas possibilidades e limites.
Percebendo-se isso, pode-se levantar chances de melhoria.
Explorar as relações humanas enquanto elemento estruturante é laminar o
conhecimento social, é também ter ciência de sua extensão complexa dialógica e
diversificante. Para cada caso, um envoltório lhe é constituído para dar conta deste
pensar/ação da história e da realidade, sua arquitetura enquanto ser universal. Este
olhar transmite o ser relacional e universal nos padrões sociais e de qualidade para a
cidade e para o bairro, como um organismo capaz de funcionar dentro das cidades.
Cada um, com seus pares, consigo mesmo, particular e cidadão.
É possível que assim, olhando o bairro Santo Antônio, algumas sombras fiquem
presentes. Podem não destoar do todo da Cidade de São João da Boa Vista. Uma
delas é a pouca arborização, que poderia contribuir para a qualidade do ar, da cidade e
120
das imediações. A presença do domo climático natural também é real, mesmo que
quanto a isto pouco possa ser feito, mesmo assim, não seria impossível um estudo para
suavizar esta realidade, no aproveitamento dos ventos cruzados e uma vegetação
apropriada.
Pode-se ainda ressaltar que todo este trabalho tenha importância para o bairro
Santo Antônio e para o Plano Diretor. A partir deste trabalho, sugere-se a implantação
de sistemas viáveis à Qualidade de Vida Urbana e Sustentabilidade Urbana e focar na
condição de Ambiência Urbana, que por ela se relaciona.
Para este ou qualquer bairro, ordenar projetos para que se obtenha o bairro para
os moradores, em que os moradores possam dizer de si, sem intermediários, como
protagonistas e pertencentes à cidade é algo a ser continuamente conquistado. De um
lado, como pesquisador, a partir da lógica acadêmica, o rigor e a precisão são
necessários. Do lado do profissional, do urbanista, uma nova forma de olhar que só
acontece no cotidiano das relações, na escuta dos detalhes dos moradores, dos
agentes, das práticas e das ações comunitárias.
Não, não é uma novidade o que este trabalho mostra, está vivo em Vitruvius,
enquanto pai da arquitetura (gostaria de dizer Moderna) com mais de dois mil anos,
ainda aqui presente na academia, na ciência, como forma de viver e de melhor viver,
com o olhar voltado a Qualidade Urbana e Sustentabilidade Urbana. Para os dias
atuais, estas práticas, que envolvem as políticas públicas com olhares voltados ao
cidadão, através da Ambiência Urbana, formam cidadãos prontos para a cidade e para
a urbanidade.
Ter a compreensão de que o fator tempo poderia ter sido um pouco mais
generoso para este trabalho – se melhor qualidade tivesse este tempo –, talvez
trouxesse mais detalhes das imagens, das pessoas, com entrevistas e relatos maiores,
ampliando as questões ou especificando as respostas.
Enquanto pesquisador, sempre falta mais um ponto de análise, um quadro, uma
estatística, um levantamento de campo. Sempre falta mais uma palavra, mais uma
consideração.
Nenhum trabalho se finda em si mesmo, pontos ficam a descoberto. Pensar e
pesquisar é infindo. Mas novas pesquisas, novos estudos virão. Por certo.
121
REFERÊNCIAS

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ARRUDA, L. & QUELHAS, 0. L. G. Sustentabilidade: um longo processo histórico de


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