Você está na página 1de 10

MANIFESTO EM DEFESA DOS PEDAGOGOS JURÍDICOS

Pedagogos atuantes no Poder Judiciário brasileiro, enquanto analistas judiciários


ou assumindo cargos congêneres, os chamados pedagogos jurídicos, protagonistas de um
novo campo teórico-prático nomeado Pedagogia Jurídica1, após mais de uma década de
serviços prestados à sociedade brasileira nos Tribunais de Justiça de quase todas as
unidades federativas, ainda têm muito a esclarecer sobre seu trabalho pioneiro aos
usuários dos serviços judiciais, magistrados e demais servidores do Judiciário. Isso
porque ainda é muito comum relatos de pedagogos que enfrentam situações nas quais o
seu papel e contribuição, nas variadas áreas em que atuam no judiciário, são questionados.

Nesse sentido, problematizar a compreensão profundamente enraizada de


Pedagogia e de pedagogo como unicamente vinculados à instituição escolar e às
dinâmicas próprias desta, bem como demonstrar a potencialidade e os benefícios do
trabalho pedagógico no âmbito jurídico, são os objetivos principais do presente texto, 1
apreciado e subscrito por pedagogos jurídicos de diferentes expertises, para além da área
infantojuvenil à qual foram majoritariamente vinculados no início de seus percursos
laborais.

Convém esclarecer que a dificuldade para compreender o que o pedagogo faz e


pode fazer nos Tribunais de Justiça é interna e externa às instituições, uma vez que está
fundada na própria confusão histórica que boa parte da sociedade faz acerca da identidade
deste profissional e da Pedagogia enquanto campo profissional e Ciência da Educação.
Entretanto, não se trata de uma defesa oportunista ou corporativista, mas calcada
precipuamente no entendimento de alertar os agentes dos poderes republicanos para a
promoção das dimensões educativa e pedagógica intrínsecas aos serviços públicos que
ofertam aos seus demandantes.

A princípio, importante destacar os estudos de Silva e Silva (20182; no prelo3),


pedagogos jurídicos membros de Equipes Interprofissionais da Infância e Juventude do

1
Conferir SILVA, P. R. da et al. As práticas do pedagogo nos tribunais de justiça brasileiros: a emergência
de uma pedagogia jurídica? Avaliação: Processos e Políticas – Volume 03... Campina Grande: Realize
Editora, 2020. p. 422-441. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/65282>. Acesso
em: 13/02/2021.
2
Monografia intitulada As práticas do pedagogo nos tribunais de justiça brasileiros: a emergência de uma
pedagogia (jurídica)?, apresentada ao término do curso de especialização em Intervenção Multiprofissional
Jurídica, oferecido pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda-PE.
3
Trata-se da versão revista e atualizada, em formato de livro, da monografia citada na nota de rodapé
anterior.
TJPE que, interessados no aspecto histórico da trajetória dos pedagogos jurídicos e a
partir de questionários recebidos de colegas de diversos estados do Brasil, constataram
que em alguns destes Tribunais há pedagogos completando, em 2021, 20 anos de
trabalhos prestados em Varas da Infância e Juventude e que os primeiros editais de
certames públicos com previsão de vagas para estes profissionais da Educação foram
publicados por Tribunais de Justiça da Região Norte do Brasil.

Tal longevidade laboral, embora rara entre os colaboradores das pesquisas citadas,
explica-se pela previsão dos serviços auxiliares nos artigos 150 e 151 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), a principal porta de entrada para os
pedagogos nos Tribunais de Justiça4. Em média, porém, os pesquisadores mencionados
identificaram que os pedagogos iniciaram seus trabalhos no Poder Judiciário a partir de
meados dos anos 2000 e que estão atuando em diversas frentes, extrapolando o que
originalmente se desenhou pelos setores de recursos humanos dos Tribunais.

No TJPE, por exemplo, os concursos públicos de 2007, 2012 e 2017 foram os


primeiros a destinar vagas para pedagogos. Entre os profissionais demandados pela
2
instituição desde as primeiras convocações, atualmente 38 compõem o quadro funcional
efetivo, estando a maioria deles distribuída pelas equipes técnicas a serviço dos Juízos
competentes em matérias infantojuvenis das mesorregiões metropolitana, agreste e sertão
de Pernambuco. A Instrução Normativa nº 09/2013, emanada da presidência do TJPE, é
o documento que apresenta as atribuições básicas dos membros destas equipes –
geralmente formadas por assistentes sociais, pedagogos e psicólogos –, deixando
explícito que outras atribuições podem ser designadas pelas autoridades judiciais. Trata-
se, assim, de um ato normativo que observa a evolução como fenômeno inerente ao
campo do trabalho em geral e ao Judiciário em específico, onde as adequações, inovações
e aperfeiçoamentos precisam ser constantes e refletir a realidade social e as necessidades
da população atendida – neste caso, das crianças, dos adolescentes e de seus familiares.

Em compasso com esta evolução, entendida a potencialidade pedagógica das


realizações das diversas instituições sociais, especialmente dos atos realizados por
magistrados e servidores no Poder Judiciário, passados mais de 20 anos desde o ingresso
do primeiro pedagogo no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), são quase 200

4
Conferir o livro organizado pelas pedagogas jurídicas pernambucanas Simony Freitas de Melo e Gidair
Lopes dos Santos: Pedagogia jurídica: as práticas do pedagogo no Judiciário, publicado pela editora
UFPE, em 2015. Conferir também o vídeo Pedagogia Jurídica: Ronaldo Bastos entrevista Simony Freitas
e Gidair Lopes. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zV-4Xkg3oMI>. Acesso em:
27/02/2021.
pedagogos efetivos e outras centenas de credenciados Brasil adentro. Observa-se que os
administradores dos recursos humanos dos Tribunais têm ampliado o olhar sobre o que o
pedagogo pode fazer nos Fóruns de nosso país e em outras unidades judiciárias, seja para
a composição das supracitadas equipes interprofissionais, seja em outros setores que
compõem os Tribunais, como demonstram Silva e Silva (2018).

A pesquisa destes autores evidencia que dezenas de pedagogos estão hoje atuantes
nas creches vinculadas à instituição judiciária, nas Escolas Judiciais, nas Coordenadorias
de Infância e Juventude, nas Centrais de Depoimento Especial, nas Varas dos Crimes
contra Crianças e Adolescentes, nas Varas de Família, nas Varas de Execução de Penas
Alternativas, nas Coordenadorias e Varas de Violência Doméstica e Familiar Contra
Mulher, nos Juizados Especiais do Torcedor, nos Memoriais de Justiça, nos programas
de Justiça Restaurativa, entre outras áreas ainda não mapeadas por estudos mais
detalhados.

Ainda na perspectiva da evolução da compreensão a respeito do campo de atuação


do pedagogo e do pedagogo jurídico em especial, é preciso considerar a publicação de
3
documentos como o da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e
Defensores Públicos da Infância e Juventude (ABMP), O Sistema de Justiça da Infância
e da Juventude nos 18 anos do ECA: Desafios na Especialização para a Garantia de
Direitos de Crianças e de Adolescentes5 e o Provimento nº 36/20146, do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). O primeiro sugere a inclusão de pedagogos nas equipes
técnicas da Infância e Juventude e o segundo, atualmente ainda descumprido por muitos
Tribunais, explicita o pedagogo como membro natural das equipes técnicas aludidas,
tradicionalmente compostas por assistentes sociais e psicólogos até aquele momento.

A ABMP (2008, p. 72) advogou tal inclusão argumentando que “Se o ponto de
partida é o reconhecimento da complexidade das demandas apresentadas ao sistema de
Justiça para decisão, não se pode esperar que todas elas sejam equacionadas por um corpo
técnico de tão circunscrita formação”. Isso baseando-se nas competências do pedagogo
social, conforme delineadas pela Profa. Dra. Evelcy Monteiro Machado: “O Pedagogo
social [...] lida com uma série de especialidades que, na classificação de Quintana, são
as seguintes: atenção à infância com problemas (abandono, ambiente familiar

5
Disponível em: <https://www.ufrgs.br/napead/projetos/estacaopsi/anexos/Desafios_Sistema_Justica.pdf
>. Acesso em: 13/02/2021.
6
Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/files//provimento/provimento_36_05052014_07052014134459.p
df>. Acesso em: 27/02/2021.
desestruturado...); atenção à adolescência (orientação pessoal e profissional, tempo
livre, férias...); atenção à juventude (política de juventude, associacionismo,
voluntariado, atividades, emprego...); - atenção à família em suas necessidades
existenciais (famílias desestruturadas, adoção, separações...); - atenção à terceira
idade; atenção aos deficientes físicos, sensoriais e psíquicos; pedagogia hospitalar;
prevenção e tratamento das toxicomanias e do alcoolismo; prevenção da delinqüência
juvenil; atenção a grupos marginalizados (imigrantes, minorias étnicas, presos e ex-
presidiários); promoção da condição social da mulher; educação de adultos animação
sócio-cultural” (ABMP, 2008, p. 79, grifos nossos).

José Carlos Libâneo7, pesquisador e professor titular da PUC-GO, reconhecido


pela argumentação que tece na defesa do trabalho do pedagogo em ambientes não
escolares acompanhado de autoras como as pedagogas Selma Garrido Pimenta –
professora e pesquisadora na Universidade de São Paulo (USP) – e Maria Amélia do
Rosário Santoro Franco – líder do grupo de pesquisa Pedagogia Crítica: Práticas e
Formação, da Universidade Católica de Santos (UCS) –, sustenta há décadas aquilo que 4
o sociólogo Carlos Rodrigues Brandão repisou nas reedições de seu livro seminal O Que
é Educação8, a saber, que os fenômenos educacionais – potencialmente pedagógicos –
não ocorrem apenas entre os muros da escola, como representa o senso comum. Antes, é
compreendida em seu sentido mais amplo de formação humana e visa à constituição do
sujeito integral (LIBÂNEO, 2010). Sob esse ponto de vista, a Pedagogia é o “[…] campo
do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação” (LIBÂNEO, 2010,
p.30) em espaços escolares e não escolares, articulando teoria e prática para a produção
pedagógica, sendo o ensino apenas uma de suas dimensões.

Alinhados à percepção do psicanalista francês Jacky Beillerot no tocante à rápida


expansão do domínio da Pedagogia na contemporaneidade – manifesta na expressão
sociedade pedagógica9 –, Libâneo e Brandão significam teoricamente o que se observa
no cotidiano das instituições não escolares, inclusive nas práticas pedagógicas que nos
últimos anos vêm sendo implementadas nos Tribunais de Justiça. Com base neste
conhecimento dilatado, não é mais possível restringir o trabalho do profissional da

7
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
8
BRANDÃO, C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1981. Trata-se de um livro de referência
nos cursos de Pedagogia.
9
Conferir o texto do professor e pesquisador José Leonardo Rolim de Lima Severo: A sociedade
pedagógica: demandas e possibilidades contemporâneas de ensino e aprendizagem na perspectiva da
pedagogia social. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/1291>. Acesso em:
13/02/2021.
Pedagogia à escola ou, mesmo dentro dos Tribunais, às produções das equipes técnicas
que assessoram magistrados da Infância e Juventude ou de Família.

Como se deduz dos textos legais e acadêmicos, é reducionista confundir o trabalho


do pedagogo com o do pedagogo escolar, notadamente com o do pedagogo-professor.
Isso não significa negar a docência como base da formação do pedagogo ao longo da
maioria dos mais de 80 anos de fundação do Curso de Pedagogia no Brasil10, antes tem
o objetivo de destacar a Pedagogia “[...] como um campo de estudos sobre o fenômeno
educativo, portadora de especificidade epistemológica” (FRANCO et al, 2011, p. 60)11
que tem por objeto “a educação humana nas várias modalidades em que se manifesta na
prática social” (idem, p. 61), não se restringindo a apenas uma das dimensões da atuação
pedagógica, mas a incluindo em um leque amplo de possibilidades demandadas pela
sociedade contemporânea, ainda em processo de construção.

Os pedagogos jurídicos, reunidos no I Encontro Nacional de Pedagogia Jurídica,


realizado na Escola Judicial do TJGO12, em outubro de 2018, admitiram que lhes falta 5
evidenciar melhor e de modo mais persistente, interna e externamente aos seus locais de
trabalho, a substância de seus afazeres. No entanto, não estão inertes. Na ocasião,
escreveram a Carta de Goiânia13, contendo deliberações importantes para a categoria,
como a ampliação de estudos com vistas a sistematizar os fundamentos teórico-práticos
dessa atuação.

A bem da verdade, antes mesmo do I Encontro Nacional de Pedagogia Jurídica,


no ano de 2015, pedagogas do TJPE publicaram livro descrevendo seus fazeres no
Judiciário pernambucano, através da obra Pedagogia Jurídica: As Práticas do Pedagogo
no Judiciário. E mais recentemente, observa-se a articulação e mobilização desses
profissionais voltadas a estudos e pesquisas acadêmicas e inclusão em grupos de cientistas
sociais vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).

10
Sobre a história do curso de Pedagogia no Brasil, ver: BISSOLI DA SILVA, C. S. Curso de Pedagogia
no Brasil: história e identidade. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
11
FRANCO, M. A. S. et al. As dimensões constitutivas da Pedagogia como campo de conhecimento.
Revista Educação em Foco. Ano 14, n. 17, julho, 2011. p. 55-78. Disponível em: <http://revista.uemg.br/
index.php/educacaoemfoco/article/view/103/138>. Acesso em: 27/02/2021.
12
Extensa matéria sobre o evento pode ser lida na edição nº 22 da Revista TJGO, disponível em:
<http://docs.tjgo.jus.br/institucional/departamentos/comunicacao_social/revista_TJGO_2017_2019_n22.p
df>. Acesso em 13/02/2021.
13
Disponível em: <https://www.facebook.com/pedagogiajuridica/posts/323864218415014>. Acesso em:
27/02/2021.
Movimentação essa que vem resultando na publicação de diversos textos
acadêmicos, como a coletânea de artigos a ser publicada durante 2021, organizada pelos
professores Gerlaine Belchior – da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) –
e Leonardo Severo – da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – e pela pedagoga
jurídica Talita Medeiros (TJPB); o livro dos pedagogos jurídicos Pedro Silva e Myrelle
Silva (TJPE), também prestes a ser publicado, e a monografia da pedagoga jurídica Cyntia
Bernardes (TJGO)14, que está sendo reeditada também para publicação, mais outros
relatórios de trabalhos de conclusão de cursos de graduação e de pós-graduação lato e
stricto sensu em instituições de ensino espalhadas por todo o país. Recentemente, a jurista
e mestra em Educação Sara Barros defendeu uma das primeiras dissertações com foco na
atuação dos pedagogos jurídicos15, somando-se ao trabalho pioneiro16 da pedagoga
jurídica Riane Conceição Ferreira Freitas, do TJPA.

Assim, acumulam-se subsídios teóricos e técnicos elementares para a constatação


do trabalho diversificado executado por estes profissionais, conforme testemunha o 6

próprio CNJ ao reproduzir matéria jornalística do TJGO, datada de 2018: “Os locais de
lotação dos pedagogos pesquisados são variados e abrangem as Varas de Família,
Criminais, Execuções Penais Alternativas, Infância e Juventude, bem como
Coordenadorias da Infância e Juventude, Escolas Judiciais e Centrais de Depoimento
Acolhedor.”17 Desse modo, evidencia-se que no diálogo interdisciplinar que se deseja
consolidar no Poder Judiciário, o pedagogo tem muito a contribuir não só com as infâncias
e as adolescências brasileiras, público historicamente vinculado à ciência pedagógica,
mas, também, com os adultos em conflito com a lei e entre si, a partir, por exemplo, dos
conceitos de ressocialização e socioeducação – mistos, híbridos, interdisciplinares, mas
essencialmente pedagógicos desde seu nascedouro.

Entendemos que nenhum campo profissional surge pronto e acabado nem abarca,
por mais experimentados que sejam seus saberes, métodos e instrumentos, a

14
BERNARDES, C. A. de A. Pedagogia jurídica: contribuições em Varas de infância e juventude do
Estado de Goiás. Trabalho Final de Curso (Especialização) – Universidade Federal de Goiás, Unidade
Acadêmica Especial de Educação, Programa de Pós-Graduação Especialização em Ensino Interdisciplinar
em Infância e Direitos Humanos, Catalão, 2019. 110 f. [mimeo].
15
Pedagogia Jurídica: a atuação de pedagogas nas equipes multidisciplinares do Fórum da Infância e
Juventude de João Pessoa-PB. Resumo disponível em: <https://sigaa.ufpb.br/sigaa/public/programa/
defesas.jsf?lc=pt_BR&id=1906>. Acesso em 14/02/2021.
16
O Trabalho do pedagogo no Tribunal de Justiça do Pará: os desafios da inovação no exercício
profissional. Dissertação de Mestrado disponível em: <http://ppgedufpa.com.br/bv/arquivos/File/dissert
riane.pdf>. Acesso em: 27/02/2021.
17
Conferir em: <https://www.cnj.jus.br/infancia-justica-goiana-possui-3-maior-numero-de-pedagogos-do-
pais/>. Acesso em: 13/02/2021.
complexidade dos fenômenos humanos; também, que “os pedagogos que atuam no
âmbito jurídico, em um continuum (re)construir de suas práticas, e no empenho de
produzir o conhecimento pedagógico inerente a elas, estão forjando um novo campo do
conhecimento teórico-prático da Pedagogia, uma nova práxis pedagógica associada ao
Direito e voltada especialmente a sujeitos em situação de vulnerabilidade”
(BERNARDES, no prelo)18.

Para tanto, torna-se necessária e urgente a superação de paradigmas que se pautam


em uma lógica positivista de leitura da realidade, a fim de possibilitar o “olhar o mundo
com as lentes da interdisciplinaridade” (PAGANINI; LIMA, 2015, p. 9)19, buscando
romper com a fragmentação do conhecimento disciplinar em vista da produção de novos
saberes diante de temas complexos. Isso corrobora o posicionamento da ABMP, no
sentido de que tal postura “[…] requererá não apenas procedimentos cognitivos
sistêmicos, dialéticos, seletivos e abertos, mas a estruturação efetiva dos aparelhos
institucionais para que este conhecimento se produza” (ABMP, 2008, p. 42).

Dada a sua recente aparição e nomeação, é compreensível que a Pedagogia 7


Jurídica aparente se apresentar insipiente ao observador menos familiarizado, o que não
significa dizer, como demonstramos, que tal percepção corresponda à realidade ou que
este novo campo profissional-acadêmico-científico não contenha potências ainda pouco
exploradas ou mesmo ignoradas por alguns pedagogos e seus formadores. Além dos
investimentos acadêmicos pessoais acima elencados, os pedagogos jurídicos têm
participado enquanto colaboradores de inúmeras pesquisas de graduandos curiosos e
ávidos por ingressar tanto no Poder Judiciário como no Ministério Público e na
Defensoria Pública, instituições do Sistema de Justiça onde igualmente registramos a
presença de pedagogos como servidores efetivos.

Tal movimento fomenta mais pesquisas e induz à reorganização dos currículos


dos cursos de Pedagogia, embora seja realidade que alguns são resistentes à preparação
para o mercado da Educação Não Escolar, criando barreiras internas ao progresso da
própria Pedagogia. Sem esmorecer ante a esta realidade, cumprindo agenda definida na
plenária final do I Encontro Nacional de Pedagogia Jurídica e adiada em razão da

18
Vide nota de rodapé 13.
19
PAGANINI, J.; LIMA, F. da S. A interdisciplinaridade como instrumento de efetivação dos direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes: a erradicação do trabalho infantil um desafio im
(possível)?. Seminário Internacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea,
2015. Disponível em: <https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/13099/2231.>
Acesso em: 27/02/2021.
pandemia da COVID-19, pedagogos jurídicos de todo Brasil organizarão e realizarão em
2021 a segunda edição deste evento, comprometidos com a criação da Associação
Nacional de Pedagogos Jurídicos (ANPEJUD), sem desconsiderar o debate sobre a
criação do Conselho Federal de Pedagogia, em trâmite no Congresso Nacional há
algumas legislaturas20.

Por fim, longe da pretensão de esgotar a presente defesa, mas a reticenciando, os


pedagogos jurídicos estão disponíveis para dirimir ou suscitar dúvidas em torno de seu
trabalho e do trabalho interdisciplinar definido pela legislação e requerido pela população
usuária dos serviços judiciais. É sabido que cotidianamente há muitos desafios impostos
à instituição judiciária, em especial no tocante à prestação jurisdicional. Os pedagogos
jurídicos se dispõem a contribuir para aperfeiçoá-la com uma postura interdisciplinar,
dialógica e comprometida com emancipação dos sujeitos (FRANCO, 200821; FREIRE,
199622), em especial aqueles em situação de vulnerabilidade.

E, cientes da responsabilidade social inerente ao conjunto de atividades


desempenhadas pelo pedagogo no Judiciário, devido ao impacto, não apenas nos
8
processos decisórios dos magistrados, mas, essencialmente, na vida das pessoas
envolvidas nos processos judiciais, assim como das potencialidades pedagógicas latentes
nos mais variados espaços institucionais, a Pedagogia Jurídica como a concebemos
pretende estimular novos debates, movimentos, itinerários e práticas nos meandros
institucionais em que vem sendo erguida.

Brasil, 27 de fevereiro de 2021.

(ano do centenário de nascimento do patrono da educação


brasileira, educador e advogado Paulo Reglus Neves Freire)

1. Alessandra Gonçalves Pinheiro - 2ª Vara da Infância e Juventude da Comarca


de Rio Branco (TJAC)
2. Alexandra Alves Wanderley - Equipe Interprofissional da 2ª Vara da Infância e
Juventude da Capital (TJPE)
3. Aline Bastos de Carvalho - VEPMA (TJPA)

20
Conferir em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2195353>
. Acesso em: 13/02/2021.
21
FRANCO, M. A. S. Pedagogia como ciência da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
22
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 65. ed. Rio de
Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2020.
4. Alíney Maria Inojosa Leandro - Vara Regional da Infância e Juventude de
Arcoverde (TJPE)
5. Amanda Emilene Arruda (TJTO)
6. Ana Carolina Martins Lôbo - EIIJ da Comarca de Bezerros (TJPE)
7. Ana Celina Nunes França - Coordenadoria da Infância e Juventude (TJCE)
8. Ana Paula Villar Galo - Núcleo de Apoio Interprofissional do Fórum de
Camaragibe (TJPE)
9. Andreson Carlos Elias Barbosa (TJPA)
10. Aronildo Pereira Rodrigues Albuquerque - Defensoria pública do Estado do
Tocantins, Regional de Dianópolis/TO
11. Carmen Silvia Bomfim dos Santos Rocha - Coordenadora Pedagógica da Escola
Judicial (TJBA)
12. Cindy Michelle da Silva - Equipe Interprofissional do Juizado da Infância e
Juventude (TJGO)
13. Cynthia Maurício Nery - Corregedoria Geral de Justiça (TJPE)
14. Cyntia A. de Araújo Bernardes - Secretaria Interprofissional Forense (TJGO)
15. Daiane Lins da Silva Firino - Escola Superior da Magistratura da Paraíba
(TJPB)
16. Daniel Benedito das Neves Paz - Fórum de Breves (TJPA)
17. Deiseane Louise Santos Oliveira - CEJUS Processual (TJAL)
18. Deusimar Rodrigues de Alencar - CEJAI (Tribunal de Justiça do Ceará)
19. Deuzivaldo José de Barros Góes - Equipe Interprofissional da Vara da Infância
e da Juventude (TJRR) 9
20. Dircilene Ferreira da Silva - Vara da Infância do Paulista (TJPE)
21. Edite Lucas de Araújo Trindade - Vara da Infância e Juventude de Boa Vista
(TJRR)
22. Eliana Tavares de Aquino Cuéllar - Vara de Execução de Penas e Medidas
Alternativas de Porto Velho (TJRO)
23. Elizabeth Salet Aguiar - Vara de Execução de Penas Alternativas do Recife e
Região Metropolitana (TJPE)
24. Fabiana Kelmene Lira de M. Dias (TJPE)
25. Fabíola de Melo Rodrigues (TJPA)
26. Fernanda Silva Martins - Equipe Interprofissional Varas de Família (TJGO)
27. Fernando Alves (Enfam/STJ)
28. Francisca Hilderlene Gonçalves de Oliveira Macedo - GGEM (TJTO)
29. Fredson de Lima Pinheiro - Justiça Restaurativa (TJAC)
30. Gabriela Maria Severien dos Santos - Juizado do Torcedor (TJPE)
31. Gidair Lopes dos Santos - Núcleo de Apoio Psicossocial (TJPE)
32. Haroldo Nascimento da Cruz - Equipe interprofissional/Vara da Infância e
Juventude de Jaboatão dos Guararapes (TJPE)
33. Jemima G. B. Cavalcante - Comarca de Palmas (TJTO)
34. Joana Dark Amorim S. e Castro (TJPE)
35. José Paixão Moreira Martins - Políticas Públicas e Execução de MSE
(JIJ/TJAP)
36. Keilla C. dos Reis B. de Carvalho - Coordenadoria da Inf. e Juventude (TJPE)
37. Kesia Braga Fernandes - Vara da Infância e Juventude de Campina Grande
(TJPB)
38. Keury Juliana Santos Silva de Urcino - Equipe Interprofissional 11ª Região
(TJGO)
39. Laylla Nayanne Dias Lopes - Centro de Memória e Cultura (TJGO)
40. Letícia Carla dos Santos Melo Hampel - 1ª Vara de Infância e Juventude de
João Pessoa (TJPB)
41. Lívia Regina Ferreira Silva Lima - Vara da Infância e Juventude de Goiânia
(TJGO)
42. Luciana Maria Santos Moura Assad (TJPA)
43. Luzia Sousa Araújo - Esmam (TJMA)
44. Maria do Socorro Belarmino de Souza - 2ª Vara da Infância e Juventude de João
Pessoa (TJPB)
45. Marlene Feitosa de Sousa (TJPA)
46. Meire Rise Pinho Oliveira (TJPE)
47. Michele Golam dos Reis - Complexo Social de Campo Mourão (TJPR)
48. Milene Figueredo Pereira - Equipe Interprofissional 10ª Região (TJGO)
49. Mirelly Shyrleide Praseres da Silva - Equipe Interprofissional da Comarca de
Limoeiro (TJPE)
50. Paula Costa Cabral (TJDFT)
51. Pedro Rodrigo da Silva - EIIJ da Comarca de Moreno (TJPE)
52. Priscila Barcellos - Coordenadoria da Infância e Juventude (TJPE)
53. Rejane Maria Caldas Gadelha de Paiva - Núcleo de Acompanhamento ao 10
Trabalho de Apuração dos Processos de Conhecimento/Infracional (TJPE)
54. Renata de Assis Machado - Equipe Interprofissional do Juizado da Infância e da
Juventude de Aparecida de Goiânia (TJGO)
55. Riane Conceição Ferreira Freitas - Coordenadoria Estadual das Mulheres em
Situação de Violência Doméstica e Familiar (TJPA)
56. Ronia Lima Barbosa - Vara Regional da Infância e Juventude de Petrolina
(TJPE)
57. Sidneia Santos de Sousa (TJPA)
58. Silvana Azevedo Santos - Comarca de Abaetetuba (TJPA)
59. Simony Freitas de Melo - Escola Judicial (TJPE)
60. Simony Souza e Silva - Equipe Interprofissional da 7ª Região (TJGO)
61. Talita Medeiros de Araújo (TJPB)
62. Viviane Costa de Souza de Albuquerque - Vara Regional da Infância e
Juventude de Caruaru (TJPE)
63. Wliane da Silva Ribeiro - Vara Regional da Infância e juventude da 7ª
Circunscrição - Caruaru (TJPE)

Você também pode gostar