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CURSO:
A PEDAGOGIA JURÍDICA E O
ASSESSORAMENTO TÉCNICO AO
JUDICIÁRIO
MÓDULO II
AUTORIA:
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 19
1 Lorem
2 double
UNIDADE 2
Se você já atua ou não como pedagogo(a) jurídico(a) já deve ter se deparado com a
pergunta: “Mas o que faz um pedagogo no Tribunal de Justiça?” ou... “Pedagogia
Jurídica? O que é isso?”
Muitos de nós que atuamos no judiciário, tivemos que buscar as respostas somente
depois que começamos nossa caminhada nesse novo contexto de atuação de
pedagogos(as) e nesse percurso temos construído a prática pedagógica jurídica e
também, a partir dela, o aparato teórico para subsidiá-la (FRANCO, 2008), por meio
de estudos, pesquisas e produção do conhecimento sobre o assunto. Nesse
caldeirão da fabricação pedagógica (HOUSSAYE et.al., 2004), isto é, na reunião
mútua e dialética entre teoria e prática, pautando-nos nos fundamentos da
Pedagogia, seguimos renovando a ciência pedagógica.
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campo de conhecimento, com especificidades e características próprias. Por isso,
algumas perguntas são fundamentais para um olhar mais aproximado, tais como:
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Pedagogia Jurídica, trata-se essencialmente de uma compreensão da pedagogia
freireana voltada ao ensino do Direito” (BERNARDES; MELO; SANTOS, 2021, p.44),
uma didática de ensino do Direito.
Enfim, chegamos ao sentido defendido por Bernardes, Melo e Santos (2021, p.49)
de que a Pedagogia “é o campo epistemológico que se dedica aos estudos e
compreensões dos fenômenos educativos”, que “a educação é o seu objeto
epistêmico” e que o(a) pedagogo(a) “é o profissional que emprega em sua prática
elementos e intenções, de cunho pedagógico, destinados ao fenômeno educativo”.
Além disso, em concordância com Franco (2008, p.84), que a práxis pedagógica
configura-se no “exercício do fazer científico da pedagogia sobre a práxis educativa”.
Diante disso, assim como as referidas autoras, pelos motivos expostos e pelos
elementos epistemológicos e ontológicos em destaque no Módulo I, estamos
falando da Pedagogia Jurídica como a Pedagogia, a ciência da e para a
educação, desenvolvida por pedagogos(as) no Sistema de Justiça.
Além disso, para a compreensão desse sentido atribuído à Pedagogia Jurídica, outra
pergunta a ser respondida é: “Por que Jurídica?”. Isso porque outros adjetivos
poderiam ser apropriados, tais como: Pedagogia Forense ou Pedagogia Judiciária ou,
ainda, Pedagogia Judicial.
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▪ “forense” - de etimologia latina (forensis), está relacionado aos foros judiciais,
aos tribunais de justiça. Logo, a adjetivação da Pedagogia nessa perspectiva
reduziria o fazer pedagógico ao locus dos fóruns, ou seja, ao espaço físico
onde funcionam os órgãos do Poder Judiciário em determinada comarca;
Portanto,
Nessa lógica, vamos à resposta da primeira pergunta que lançamos no início desta
Unidade: “O que é Pedagogia Jurídica? (definição)”:
A PEDAGOGIA JURÍDICA...
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E quem é o(a) pedagogo(a) jurídico(a)?
O ECA, além de incorporar inovações trazidas pela Constituição Federal (CF) de 1988
e por Tratados Internacionais1, no reconhecimento da criança e do adolescente
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Citam-se: a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1959), o Pacto de San José da Costa Rica (Convenção
Americana de Direitos Humanos) de 1969, ratificado pelo Brasil em 1992, que estabeleceram as Regras Mínimas
das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude, também denominada de Regras de
Pequim ou de Beijing (1980), a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Resolução 44/25
da ONU, 1989), entre outros.
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como sujeito de direitos, a serem protegidos e garantidos pelo Estado, pela
sociedade e pela família com prioridade absoluta (art. 227, CF, 1988), inaugura o
paradigma da proteção integral na legislação brasileira em substituição à “doutrina
da situação irregular” presente no Código de Menores de 1979, cujos objetivos
perseguidos se vinculavam mais à vigilância de “menores” e não à sua proteção.
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das “providências necessárias para a implantação de equipe interprofissional” em
todas as comarcas do estado, para atender as “causas relacionadas a família,
crianças e adolescentes” (BRASIL, 2006b), em observância aos art. 150 e 151 do ECA.
Em seguida, o CNJ publica também a Resolução nº 94/2009, que “determina a
criação de Coordenadorias da Infância e Juventude no âmbito dos Tribunais de
Justiça dos Estados e do Distrito Federal”, cuja estrutura também deve conter equipe
multiprofissional, preferencialmente do quadro de servidores do Judiciário (art. 3º,
§ 2º). Essas Coordenadorias, consoante o artigo 2º da referida Resolução, são órgãos
permanentes de assessoria das Presidências dos Tribunais estaduais na matéria da
Infância e Juventude.
Essa expansão de atribuições às equipes foi validada pela própria legislação, tendo
em vista que outras leis, relacionadas a outras áreas, foram incorporando a
demanda por equipes interprofissionais para assessoramento aos magistrados,
como vê-se:
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▪ Lei da Alienação Parental (Lei n° 12.318/2010);
▪ O Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), que prevê a presença
do perito para assistir o juiz, quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico;
▪ Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência.
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Além do Distrito Federal, foram citados os seguintes estados nos resultados: Ceará, Rio Grande do Norte, Acre,
Alagoas, Bahia, Piauí, Tocantins, Pará, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul,
Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
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Em 2012, o CNJ, em parceria com o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), realizou outra
pesquisa, cujo relatório foi publicado com o título:
“Justiça Infantojuvenil: situação atual e critérios de
aprimoramento”. Nele, identifica-se a indicação do
pedagogo “como o mais recente profissional a se
somar aos já estabelecidos assistentes sociais e
psicólogos, ou seja, aos auxiliares de juízes […]” (SILVA;
SILVA, 2018, p.46).
Mas foi a pesquisa dos pedagogos jurídicos Pedro Rodrigo Silva e Mirelly Shirleide
Silva (2021), publicada no livro “As práticas do pedagogo nos Tribunais de Justiça
Brasileiros: a emergência de uma Pedagogia (Jurídica)?”, que mapeou, sistematizou
e contextualizou pela primeira vez a inserção e atuação de pedagogos(as) no
judiciário em nível nacional.
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meio do Provimento nº 36/2020 (BRASIL, 2014) quanto ao cumprimento dos art. 150
e 151 do ECA (BRASIL, 1990).
Também, concluem que “[...] a porta de entrada para a maior parte das pedagogas
que chegaram aos fóruns foram precisamente as Equipes Interprofissionais da
Infância e Juventude” (SILVA;SILVA;MELO, 2021) e constatam uma realidade um
tanto quanto animadora se comparada aos números de 2012 (43 profissionais), já
que identificaram incialmente a presença de 148 profissionais, e em publicação
recente e atualizada (SILVA; SILVA; MELO, 2021) foram 171 pedagogos(as) jurídicos
pertencentes aos quadros dos Tribunais brasileiros, distribuídos conforme quadro
a seguir.
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contundente, trata-se de um campo promissor em oportunidade de inserção para
outros pedagogos.
Podemos, então, afirmar que a entrada dos pedagogos nos Tribunais estaduais,
embora tenha sido regida por uma regulamentação nacional, tem ocorrido de
forma diversificada e heterogênea, com uma quantidade de pedagogos que tem se
mostrado ainda insuficiente, considerando que alguns estados não incluíram
profissionais desta área em suas equipes.
Ante o exposto, percebe-se que foi em face da demanda social exposta e pela
competência inerente ao profissional da pedagogia no que tange o conhecimento
específico sobre educação, e desta como formação humana, que pedagogos e
pedagogas parassam a compor os serviços auxiliares das equipes interprofissionais
para oferecer subsídios aos magistrados nas decisões judiciais.
Vale reiterar, portanto, que a partir da abertura deste novo campo profissional
para a atuação de pedagogos(as) desencadeia-se um processo de construção
teórico-prática da Pedagogia Jurídica enquanto campo de conhecimento em
construção, de modo que os subsídios teóricos para a práxis pedagógica-
jurídica vem se ampliando desde então.
As principais obras publicadas até então, além do livro de Silva e Silva (2021), são:
“Pedagogia Jurídica: as práticas do Pedagogo no Judiciário” (MELO;SANTOS, 2015),
considerado a certidão de nascimento do campo da Pedagogia Jurídica; “Pedagogia
Jurídica no Brasil: questões teóricas e práticas de um campo em construção”
(AMARAL; SEVERO; ARAÚJO, 2021) e “Pedagogia Jurídica: contribuições do pedagogo
em Varas de Infância e Juventude” (BERNARDES, 2021).
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Ainda assim, como salientam Galo e Melo (2021, p.106), “é possível afirmar que a
produção teórica sobre a Pedagogia Jurídica não tem acompanhado a disseminação e
profusão de práticas realizadas por pedagogos nesse âmbito, provocando um
esvaziamento epistemológico do seu fazer profissional, que muitas vezes se efetiva de
modo intuitivo e teoricamente frágil”.
Por isso o nosso empenho neste Curso! Nosso objetivo é que você possa se
apropriar dos elementos necessários a uma práxis comprometida, ética e
fundamentada, tendo em vista o impacto que a sua atuação técnica tem na
vida das pessoas, para além dos processos judiciais.
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de existir, seu sentido ontológico) e; Para quem? (sujeitos que recebem a ação
pedagógica).
Nesta perspectiva a
intervenção
pedagógica no
Judiciário, que está
direcionada por duas
finalidades
fundamentais: uma
jurídica e outra
pedagógica, de modo
que não se restringem
ao aspecto técnico ou ao assessoramento técnico em si, sua finalidade jurídica, que
envolve também os direitos e deveres dos cidadãos, mas essencialmente tem como
alvo a emancipação dos sujeitos envolvidos nas lides processuais, especialmente
aqueles em situação de vulnerabilidade.
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Disponível em aula ministrada por Ana Paula Galo e Simony Freitas Melo:
https://www.youtube.com/watch?v=CIyh5F7Bo8U&list=PLTDJfmByybx7t33WbujFJUpBlvWqSytvz&index=21&t=559
0s
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favor da humanização, da equalização de oportunidades, da
construção da justiça e da paz entre os homens […]. (FRANCO,
2008, p.73, grifo nosso)
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REFERÊNCIAS
AMARAL, Maria Gerlaine B.; SEVERO, José Leonardo Rolim; ARAÚJO, Talita Medeiros
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em construção. Fortaleza: Ed. UECE, 2021. Disponível em:
BERNARDES, Cyntia A. de Araújo; MELO, Simony, Freitas de; SANTOS, Gidair Lopes
dos. Sentidos e significados da Pedagogia Jurídica: uma defesa do uso do termo pelo
profissional da Pedagogia que atua no âmbito jurídico In: AMARAL, Maria Gerlaine
B.; SEVERO, José Leonardo Rolim; ARAÚJO, Talita Medeiros de. (og.) Pedagogia
Jurídica no Brasil: questões teóricas e práticas de um campo em
construção.Fortaleza: Ed. UECE, 2021. p.35-54 Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1-7cYP1L1Ttb3eytsQtYiFsvR33Ye8-
Q5/view?usp=drivesdk
19
[1990]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso
em: 15 agos. 2022.
20
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GALO, Ana Paula Villar; MELO, Simony Freitas de. Fundamentos teórico-
metodológicos da prática pedagógica nas ações de medida de proteção no âmbito
das Varas da Infância e da Juventude In: AMARAL, Maria Gerlaine B.; SEVERO, José
Leonardo Rolim; ARAÚJO, Talita Medeiros de. (og.) Pedagogia Jurídica no Brasil:
questões teóricas e práticas de um campo em construção. Fortaleza: Ed. UECE, 2021.
p.104-128. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1-
7cYP1L1Ttb3eytsQtYiFsvR33Ye8-Q5/view?usp=sharing
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário jurídico. 23ª São paulo: Rideel, 2019.
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São Paulo: Cortez, 1994.
LIBÂNEO, J.C. Pedagogia e Pedagogos para quê? 12 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
LIBÂNEO, J.C. Pedagogia como Ciência da Educação: objeto e campo investigativo In:
PIMENTA, Selma G.; SEVERO, José Leonardo R. de L. Pedagogia: teoria, formação
profissão. 1 ed. São Paulo: Cortez Editora, 2021. p.152-187
22
PAULA, Heloisa Vitoria de Castro de; PAULA, Maristela Vicente de. Direitos
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Catalão, 2015.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo: Olho d’Água,
2001.
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A presença de pedagogas nos Tribunais de Justiça do Brasil: tessituras, artefatos e
fazeres da Pedagogia Jurídica In: AMARAL, Maria Gerlaine B.; SEVERO, José Leonardo
Rolim; ARAÚJO, Talita Medeiros de. (og.) Pedagogia Jurídica no Brasil: questões
teóricas e práticas de um campo em construção. Fortaleza: Ed. UECE, 2021. p.129-
152 Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1-
7cYP1L1Ttb3eytsQtYiFsvR33Ye8-Q5/view?usp=sharing
SILVA, Mirelly Shyrleide Praseres da; SILVA, Pedro Rodrigo da. As práticas do
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(Jurídica)? Curitiba: CRV, 2021. p.28-62.
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Dissertação (Mestrado Profissional) - Curso de Pós-Graduação (Mestrado) em
Prestação Jurisdicional em Direitos Humanos, Universidade Federal do Tocantins,
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http://umbu.uft.edu.br/bitstream/11612/327/1/Esmar%20Cust%c3%b3dio%20Venc
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