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RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar o Design Thinking como metodologia de ensino no campo das
disciplinas epistemológicas do curso de graduação em direito. Não buscando esgotar toda a
pluralidade científica que esta temática proporciona, objetiva-se aqui apenas introduzir a
metodologia, demonstrando como o assunto poderia trazer grandes benefícios e melhorias no
processo de ensino/aprendizagem, bem como, nas relações docente/discente em contextos de
crescente objetivação de nossa sociedade através das inovações tecnológicas. Através de uma
pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, esse artigo apresenta o que é o Design Thinking, o seu
procedimento metodológico e o modo como poderia ser pensado enquanto instrumento de
fortalecimento do processo pedagógico nas disciplinas epistemológicas que são, costumeiramente,
desprezadas na formação em direito. Buscando o desenvolvimento da criatividade e da inventividade,
procura-se mostrar como mesmo nessas disciplinas mais teóricas, o uso da experiência do aluno e o
trabalho investigativo e criativo tem uma enorme potencialidade de produzir um aprendizado
significativo na formação do discente.
ABSTRACT
The aim of this article is to present Design Thinking as a teaching methodology in the field of
epistemological disciplines of law degree. Not seeking to exhaust all the scientific plurality that this
theme provides, the objective here is only to introduce the methodology, demonstrating how the
subject could bring great benefits and improvements in the teaching / learning process, as well as in
the teacher / student relations in contexts of increasing objectification of our society through
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p.33021-33039, jun. 2020. ISSN 2525-8761
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Brazilian Journal of Development
technological innovations. Through a qualitative research of bibliographic nature, this article presents
what Design Thinking is, its methodological procedure and the way it could be thought as an
instrument for strengthening the pedagogical process in the epistemological disciplines that are
usually neglected in law education. Seeking the development of creativity and inventiveness, we seek
to show how even in these more theoretical disciplines, the use of student experience and investigative
and creative work has enormous potential to produce meaningful learning in student education.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este artigo se propõe a discutir o procedimento de ensino/aprendizagem chamado Design
Thinking dentro do contexto de metodologias ativas no ensino das disciplinas epistemológicas no
curso de Direito, tais como a sociologia do direito, a antropologia jurídica e os direitos humanos. Os
motivos que ensejaram no desenvolvimento das subsequentes discussões nascem de três questões
fundamentais, a saber: a) o processo de sobrevivência das instituições privadas de ensino superior no
Brasil; b) a necessidade de reciclagem docente nos processos de ensino; e c) as eminentes
transformações das habilidades de aprendizagem dos discentes em contextos de inovações
tecnológicas.
Assim, torna-se importante salientar que existe uma considerável rejeição do discente do
Direito em perceber a contribuição que estas ciências poderão promover em suas formações
profissionais. Considera-se isso tendo em vista que essas ciências, por um lado, contribuirão para o
desenvolvimento de competências e habilidades críticas, humanistas e sociais na solução de lides que
envolvam, por exemplo, a tutela de direitos fundamentais, humanos, difusos e coletivos, tais como a
bioética, as inovações tecnológicas, marcas e patentes, a fenomenologia da violência em sentido
abstrato e a própria sobrevivência da espécie humana. Já por outro lado, o campo de tensão oriundo
desta rejeição nos semestres iniciais dos cursos de Direito, leva a necessidade de se repensar as
políticas em currículo, bem como as práticas pedagógicas de ensino que consigam transformar os
processos de ensino/aprendizagem e a criatividade na sala de aula através de mecanismos ativos. Para
isso, necessita-se criar instrumentos pedagógicos que sejam capazes de reduzir o tratamento
periférico que estas disciplinas ocupam, tanto dentro das matrizes curriculares dos cursos de Direito,
quanto na perspectiva dos discentes da ciência jurídica na contemporaneidade, visto que muitas vezes
não valorizam os conhecimentos advindos destas disciplinas que estão para além da dogmática
jurídica e o ensino das leis.
Por conseguinte, o objetivo deste artigo é apresentar a metodologia do Design Thinking,
procedimento ainda pouco conhecido na prática pedagógica de ensino do Direito. Não buscando
esgotar toda a pluralidade científica que esta temática proporciona, objetiva-se aqui apenas introduzir
a metodologia, demonstrando como o assunto poderia trazer grandes benefícios e melhorias no
Dentro desta discussão, Melo (2018) destaca que as experiências com metodologias ativas
foram sendo introduzidas como propostas pedagógicas no ensino fundamental e médio e depois se
tornaram objeto de análise das instituições de ensino superior, visto que estas preocupadas com a
sobrevivência no mercado de ensino, foram impulsionadas a buscar melhorias consideráveis nos
distintos processos de ensino/aprendizagem, bem como nos mecanismos cognitivos de formação
profissional de seus professores, currículo e didáticas de ensino, buscando aumentar os instrumentos
avaliativos e a capacidade de memorização e redução das dificuldades de aprendizagem pelo
esquecimento, no estudo das normas jurídicas.
A este respeito, Rödiger (1985) recupera os achados do pioneiro estudo de Ebbinghaus (1965)
e sua subsequente tese acerca da “curva do esquecimento”. Segundo ressalta Henry Rödiger (1985,
p. 5):
Ebbinghaus ao buscar compreender o significado da memória e sua importância para
compreensão de todos os fenômenos em sociedade teria constatado que o sujeito, dentro de
Se partirmos do pressuposto que o Design tem como objetivo favorecer, melhorar, facilitar
as interações do homem em relação ao meio, pode-se afirmar que o Design está inserido na
própria concepção de projeto aliado a várias áreas do conhecimento. Não é princípio nem o
fim, é parte intrínseca do desenvolvimento de projetos voltados ao benefício do homem. Pode
o Design ampliar nossa capacidade manual através do desenvolvimento de ferramentas, ou
pode o Design ter como premissa a facilitação, a interação ágil entre os indivíduos por meio
do desenvolvimento de dispositivos, ou de novos sistemas, que frente as constantes inovações
tecnológicas e mediáticas, são repensados sistematicamente. Até mesmo pode facilitar a
interação entre indivíduos das mais diversas culturas (CONSOLO, 2016, p. 53).
A antropologia é uma área das Ciências Sociais que contempla métodos de cunho qualitativo
para estudos de comportamentos de uma comunidade. [....] seus métodos e técnicas são
amplamente aplicados no processo de Design para compreensão dos comportamentos indo
dos mais consolidados como observação, questionário, entrevista semiestruturada, Focus
Group e mapeamento, aos mais recentes como vídeo tour, vídeo re-enactment, Lurking entre
outros que são muitas vezes mais exploratórios. (CAMINHA et. al, 2018, p. 71).
Destarte, Anastassakis (2014) salienta que o DT pode antecipar muitos processos subjetivos,
principalmente, por despertar nestes atores a necessidade de não apenas compreender o contexto em
análise, mas também por propor soluções ao se fazer uso de pesquisas de campo de cunho
etnoantropológico e/ ou sociológicas através de distintos métodos interdisciplinares – questionários
com entrevistas, pesquisa-ação, estudo de caso, análise documental entre outras - originários da
abordagem de pesquisa qualitativa. Esse processo pode ser profundamente transformador para o
aluno, contribuindo para um processo dentro de sala de aula muito mais vivo e produtivo, muito
embora não se deva desprezar também as atividades de extensão universitária, como aulas de campo
e visita técnica especializadas, mas que podem támbem ser utilizadas sob o áuspice do DT.
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