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LIVROS DE ATOS
APRESENTAÇÃO
Graça e paz, da parte de Deus nosso pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo.
Numa serie de apostilas andaremos juntos, passo a passo com, o Senhor Jesus. Nos
evangelhos; seremos missionário com os apóstolos em atos; profetizaremos com Isaias,
Ezequiel, e outros profetas; caminharemos com Moisés pelo deserto, passaremos o Jordão
com Josué; venceremos todos os Golias ao lado de Davi em nome de Jeová; salmodiaremos
canções ao nosso Deus com “Asafe”, teremos a coragem de Débora, a sabedoria de Salomão,
a graça de Jesus, a visão de Paulo, a fidelidade de Samuel, amaremos e reclinaremos nosso
rosto no peito de Cristo, tal qual João.
Venha conosco, seja como os crentes de Beréia (At, 17.10-12), examinando cada dia
as escrituras, você estará tomando posse das bênçãos do Senhor, fortalecendo-se,
aprendendo e falando dessa palavra, você salvará tomando a ti mesmo como seus ouvintes.
(1 Tm 4:16).
Em Cristo Jesus,
A Diretoria
Ore a Deus dando-lhe graças e suplicando direção e iluminação do alto. Deus pode
vitalizar e capacitar nossas faculdades mentais quanto ao estudo da Palavra de Deus. Nunca
execute qualquer tarefa de estudo ou trabalhos da palavra de Deus sem primeiro orar.
2. Além da matéria a ser estudada , tenha à mão as seguintes fontes de consulta e refe-
rência:
A. Ao primeiro contato com a matéria procure obter uma visão global da mesma isto é como
um todo. Não sublinhe nada. Não faça apontamentos. Não procure referências na
Bíblia. Procure sim descobrir o propósito da matéria em estudos, isto é o que deseja
ela comunicar-lhe.
B. Passe então ao estudo de cada lição observando a SEQÜÊNCIA dos Textos que a
englobam. Agora sim à medida que for estudando sublinhe palavras frases e trechos-
chaves. Faça anotações no caderno a isso destinado.
C. Ao final de cada lição encontra-se uma revisão geral de cada parte do livro perguntas e
EXERCÍCIO que deverão ser respondidas ao termino de cada parte, que deverão ser
respondidas sem consulta ao texto correspondente. responda todas as perguntas que
for POSSÍVEL, logo em seguida volte ao texto e confira as suas respostas. Fazendo
assim VOCÊ chegara a um final do seu estudo, com um bom aprendizado quanto no
conhecimento intelectual e ESPIRITUAL.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 7
AUTORIA.................................................................................................................................................. 7
OBJEÇÕES À AUTORIA DE LUCAS.....................................................................................................7
ARGUMENTOS A FAVOR DA AUTORIA DE LUCAS...........................................................................7
DATA......................................................................................................................................................... 8
PROPÓSITO............................................................................................................................................. 8
Capítulo I - INSTRUÇÕES FINAIS E A ASCENSÃO DE JESUS............................................................10
1. Atos 1. 1-11...................................................................................................................................... 10
2. A Substituição de Judas - Atos 1.12-25...........................................................................................12
2.1. O Cenáculo (vv 12-14)............................................................................................................... 12
2.2. O caso de Judas ( vv 15-20)......................................................................................................12
2.3. A escolha de Matias (vv. 21-26).................................................................................................12
Capítulo II - A IGREJA REVESTIDA DE PODER....................................................................................15
1. A Relação entre o Reino e a Igreja..................................................................................................15
2. O Espírito Santo do Ponto de Vista do Velho Testamento...............................................................15
3. A Descida do Espírito Santo em Pentecostes – At 2.1-13................................................................16
4. O Sermão de Pedro - At 2.14-37......................................................................................................17
5. O Povo Atende ao Apelo - At 2.37-41..............................................................................................18
6. As Atividades dos primeiros Cristãos – At 2.42-47...........................................................................18
7. Compartilhamento espontâneo (vv. 44-47)......................................................................................19
Capítulo III - AS EVIDÊNCIAS DO PODER DO REINO – At 3.1-26........................................................21
1. A cura do paralítico (vv. 1-10).......................................................................................................... 21
2. Segundo sermão de Pedro (vv. 11-26)............................................................................................21
Capítulo IV - PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA IGREJA PRIMITIVA - At 4.1 - 6.7..........................22
1. Oposição da Parte dos Saduceus - At 4.1-2, 21..............................................................................23
2. O Aprisionamento de Pedro e João (vv. 1-4)...................................................................................23
3. O julgamento de Pedro e João (vv. 5-22).........................................................................................24
4. O Gozo da Igreja - At 4.23-31.......................................................................................................... 24
5. Um Sumário das Circunstâncias Vividas pelos Crentes e o Exemplo de Barnabé -At 4.32-37........25
6. A Decepção causada por Ananias e Safira - Atos 5.1-11.................................................................26
7. A Igreja Continua a Atuar com Poder - At 5.12-16...........................................................................26
8. Nova oposição dos Saduceus - At 5.17-42......................................................................................27
9. Igualdade de Tratamento Dentro da Comunidade - At 6.1-6............................................................28
10. Conclusão - At 6.7.......................................................................................................................... 29
Capítulo V - PERSEGUIÇÃO E CRESCIMENTO DA IGREJA - At 6.8-8.40...........................................31
1. A Acusação contra Estevão - At 6.8-15............................................................................................31
2. A Mensagem de Estevão - At 7.1-53................................................................................................32
2.1. Replica à acusação de estar falando contra Deus.....................................................................33
2.2. A acusação de estar falando contra a lei também é contestada................................................34
3. A Morte de Estevão - At 7.54-60......................................................................................................34
4. Paulo Entra em Cena - At 7.57-8.1-3...............................................................................................35
5. A Perseguição e Seus Efeitos sobre a Igreja - At 8.4-8....................................................................36
6. A Tentação de Perverter o Poder de Deus - At 8.9-13.....................................................................36
7. A Conversão do Etíope - At 8.25-40.................................................................................................37
Capítulo VI - PREPARAÇÃO PARA A EXPANSÃO ENTRE OS GENTIOS - At 9.1- 11.18.....................39
1. A Conversão de Paulo - At 9.1-19....................................................................................................39
2. Primeiros Dias do Discipulado de Paulo - At 9.19-30.......................................................................40
3. Um Sumário da Expansão da Igreja na Palestina - At 9. 31-43........................................................41
4. A Conversão do Cornélio - At 10.1-48..............................................................................................41
4.1 A visão do Cornélio - At 10.1-8...................................................................................................41
4.2. A visão de Pedro (vv. 9-22)........................................................................................................41
4.3. Pedro testifica a Cornélio (vv. 23-48).........................................................................................42
5. A defesa de Pedro, por sua associação com gentios (11.1-18).......................................................43
FATAD Prof. Jales Barbosa 4
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
INTRODUÇÃO
AUTORIA
com Paulo durante o seu período de prisão em Roma. Aliás, o livro termina com informações desse
período. Lucas estava com Paulo quando este escreveu, da prisão, a sua Carta aos Colossenses (cf Cl
4.10-14).
O fato de Lucas se reunir a Paulo em Filipos sugere que ele morava ali. A lista de saudações
em Colossenses distingue Lucas dos homens da circuncisão; por essa razão, é de se supor que Lucas
fosse gentio (cf Cl 4.11e ss.). Cl 4.14 afirma que ele era médico.
É possível que Lucas tivesse recebido do próprio Paulo as informações contidas em At 7.9;
11.25-30 e 12.25; 28.31. Lucas conhecia a Marcos e ambos estavam com Paulo quando este escreveu
Cl (cf. 4:10 e 14). Conforme At 12.12, a igreja em Jerusalém se reunia na casa da mãe de Marcos.
Marcos teve, certamente, conhecimento em primeira mão dos acontecimentos que antecederam a
Conferência de Jerusalém. A informação em At 6.1; 8.40 poderia ter sido obtida de Filipe, o qual
acolheu a Paulo e Lucas (cf. At 21.8).
DATA
Desde que as atividades de Paulo até o ano 62 a.D. se encontram incluídas em Atos, o livro
não poderia ter sido escrito antes dessa data. O fato de o livro não incluir a descrição da morte de
Paulo, indica, naturalmente, que deve ter sido escrito antes desse acontecimento. A tradição dá a morte
de Paulo ter ocorrido por volta do ano 65 a.D. Alguns eruditos fazem objeções a uma data anterior a
esta, porque o Livro de Atos foi escrito depois do Evangelho de Lucas, o qual dependeu do Evangelho
de Marcos. Entretanto, ambos foram companheiros de Paulo quando de sua prisão escreveu a Carta
aos Colossenses (cf. 4.1-14), provavelmente pouco tempo antes da morte de Paulo. Contudo, não está
totalmente fora de cogitação que os Evangelhos de Marcos e Lucas tenham sido ambos completados
por volta de 64 a.D. e Atos tenha sido escrito logo depois, antes da morte de Paulo.
PROPÓSITO
Uma história das Origens do Cristianismo – alguns eruditos acreditavam que Lucas desejou
que a sua obra fosse vista como uma história, e não simplesmente como uma cronologia de
acontecimentos. Donald Guthrie sugere que a obra fragmentária de Lucas dá a impressão de que o
propósito do autor era o de acompanhar a Paulo tão perto quanto possível.
O fato de omitir certos elementos, como, por exemplo, a visita de Paulo à Arábia e a
informação sobre a maioria dos apóstolos, revela que Lucas não se preocupou em escrever exata e
cientificamente a história da igreja primitiva. Ele, tanto quanto outros escritores dos livros da Bíblia,
visava um propósito teológico através da apresentação histórica. O seu objetivo era o de apresentar os
acontecimentos históricos de tal maneira que, através deles, os propósitos de Deus pudessem ser
vistos claramente.
Um Evangelho do Espírito Santo - O prólogo de Atos indica que a atividade de Jesus, iniciada
no Evangelho, seria continuada sob a orientação do Espírito no Livro de Atos (cf 1.2). Frank Stagg
afirma que a ênfase está na obra levada a efeito pelo Espírito, e não em uma doutrina a respeito do
Espírito. É verdade que há no livro uma grande obra do Espírito Santo. A Igreja veio a existir através do
batismo no Espírito Santo (2.38) a plenitude do Espírito equipou os discípulos para a unção da vitória
(2.4; 4.3; 8.17; 10.44; 19.6). Não há nenhuma diferença entre a obra do Espírito e a continuação da
atividade de Jesus (cf. 3.6; 4.10). Os apóstolos executaram as suas tarefas no poder do Espírito Santo
e no nome de Jesus Cristo. As duas frases são sinônimas.
Defesa do Cristianismo - Alguns eruditos usam a ênfase que Atos dá no fato de Paulo observar
as cerimônias judaicas para afirmarem que o propósito do livro era o de influenciar os leitores judeus a
olharem com melhores olhos para a Igreja Primitiva. Timóteo foi circuncidado e Paulo fez um voto
judaico. Há uma ênfase especial quanto ao cumprimento das predições do Velho Testamento a respeito
da Igreja. Outros eruditos acham que o propósito do autor era o de apresentar a Igreja às autoridades
romanas sob um aspecto positivo. As decisões e ações das autoridades romanas são criticadas. Os
FATAD Prof. Jales Barbosa 8
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
romanos que se mostraram simpáticos para com o evangelho merecem, no livro, um destaque especial.
Os judeus são apresentados como instigadores de tumultos surgidos contra o evangelho.
Jesus como Senhor Universal - O Evangelho de Lucas apresenta a Jesus como Senhor, tanto
dos judeus como dos gentios. O propósito principal do autor de Atos também parece ser o de
apresentar a Jesus como Senhor, tanto dos judeus como dos gentios. Alguns cristãos judeus tinham
tentado restringir o senhorio de Jesus ao povo judeu. Lucas mostra como o Reino de Deus inclui gentios
como judeus. A Igreja se iniciou com um movimento entre os judeus, mas o evangelho cruzou as
fronteiras do nacionalismo e racismo prejudiciais e tornou um movimento universal. Como gentio, Lucas
tinha um interesse especial em que o plano de Deus incluísse os gentios.
COMPLETE AS LACUNAS:
1. O livro de Atos é o elemento de ligação entre a recém-formada igreja de ___________ e dos
____________________com a sua igreja a qual as ____________foram escritas.
RESPONDA:
3. A afirmação que segue é certa ou errada? O livro de Atos é uma história completa dos apóstolos e da
igreja primitiva.
( ) Certa ( ) errada
4. Com exceção da lista de todos os apóstolos em Atos 1, somente três deles são mencionados mais
algumas vezes em Atos. São Eles?
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Anotações:
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COMPLETE AS LACUNAS:
4. Jesus disse que o reino de Deus era a dávida prometida pelo ________________________________
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A um pequeno grupo de discípulos tinha sido entregue a grande tarefa de levar o evangelho
até os confins da terra. Do ponto de vista humano a tarefa era impossível. Se o cometimento tivesse
sido limitado à Palestina, haveria uma de um cristão para trinta mil judeus sem salvação. Mas, se
acrescentarmos ainda o número de gentios, a responsabilidade seria multiplicada em muito. O
cumprimento, pois, da tarefa recebida era humanamente impossível.
Algumas questões têm sido levantadas em torno do significado da vinda do Espírito Santo no
dia de Pentecostes. Lucas tinha afirmado anteriormente que o Espírito estava; presente por ocasião do
nascimento de Jesus. Da mesma forma, ele descreve a unção de Jesus pelo Espírito por ocasião do
batismo. Lucas mostra que na oportunidade em que os Setenta saíram a realizar a sua tarefa, fizeram-
no acompanhados pelo poder do Espírito (Lc 10.17-24). O poder para a vitória, na tarefa de estabelecer
o Reino de Deus na terra, foi dado pelo Espírito Santo (Lc 11.14 e ss; Mt 12.28). De acordo com João,
Jesus ensinou que ninguém pode entrar no Reino, se não nascer do Espírito (Jo 3.5). João t0ambém
menciona o fato de que Jesus deu o Espírito Santo aos discípulos antes de sua ascensão. Estes textos
da Escritura parecem dificultar a compreensão dos acontecimentos do Dia de Pentecostes.
1. A Relação entre o Reino e a Igreja
Não é muito difícil encontrar-se quem se confunda na compreensão exata dos conceitos de
Reino de Deus e de Igreja. De acordo com os Evangelhos Sinópticos, Jesus usou mais a idéia de
Reino, enquanto a palavra foi por ele empregada apenas duas vezes. Com a expressão Reino, queria
ele significar o povo de Deus, que se submeteu ao controle divino e que constitui de servos leais ao seu
Rei.
A Igreja é composta daqueles que nasceram no, ou seja, (para o) Reino. Quando o povo de
Deus se reúne para cultuá-lo e servi-lo, ele é “a Igreja” (reunião). Os cidadãos do Reino são “a Igreja”,
mesmo quando estão espalhados, realizando as tarefas do Reino. A Igreja se estrutura e se organiza a
fim de realizar essas tarefas (trazendo outros para dentro do Reino e ensinando-os a viver como
cidadãos do Reino).
2. O Espírito Santo do Ponto de Vista do Velho Testamento
Em virtude da falta de espaço, a doutrina do Espírito como aparece no Velho Testamento só
poderá ser acordada de modo sumário. Entretanto. Esse sumário é importante para a melhor
compreensão, mais adiante dos acontecimentos do Pentecostes.
A doutrina Velho-Testamentária do Espírito não dá ênfase à pessoa do Espírito como separada
do Pai. Desde que Deus é Espírito. As suas atividades na história são realizadas ora por anjos
(mensageiros), ora pelo seu Espírito. O próprio poder criador de Deus é manifestado através do seu
Espírito (cf. Gn 1.2). A palavra hebraica para Espírito também significa "sopro ou vento" (Jo 3.5). O
Espírito do Senhor deu a Ezequiel a visão do vale de ossos secos (Ez 37.1 e ss). O "sopro" do Senhor
fez retornar vida àqueles ossos sem vida (Ez 37.5 e ss).
O Espírito agraciou homens com dádivas especiais, Tais como: sabedoria, compreensão e
habilidade manual (Ex 31.3). Os juízes de Israel foram agraciados com sabedoria e vitória nas guerras
pelo espírito de Deus (Jz 3.10). O Espírito de Deus deu a Sansão um poder fora do comum (Jz 14.16).O
Espírito do Senhor deu ao rei de Israel a qualidade de liderança (I Sm 16.13 e ss.).
Além de agraciar os homens com poder e sabedoria, o Espírito era a fonte da mensagem
profética (Mq 3.8) Miquéias considera que os falsos profetas não têm o Espírito do Senhor. Os falsos
profetas profetizavam conforme os seus próprios espíritos e não tinham visão do Senhor (Ez 13.3)
Desde Os primórdios da história de Israel. O espírito estava ligado à função profética (I Sm 10.6). 0s
verdadeiros profetas apresentavam a Palavra do Senhor, a qual, ao que parece, vinha a eles pela
instrumentalidade e atividade do Espírito de Deus. Aproximando-se o final do período profético. Joel
predisse que dias viriam em que Deus derramaria de seu Espírito sobre toda a carne, habilitando,
assim, todo o seu povo a profetizar. Aparece claramente a idéia de que o Espírito tornaria conhecida a
Palavra do Senhor ao seu povo através de sonhos e visões (Jl 2.28 e ss.). O conceito do papel do
Espírito Santo na atividade profética, É apresentado em I Pedro 1.21. A verdadeira profecia era
originária não da vontade ou mente humana, mas santos homens falaram a Palavra de Deus, enquanto
movido pelo Espírito Santo.
A Palavra de Deus trazia em si mesma no seu bojo, o poder. No ato da criação. Deus falou. E a
sua Palavra, ou a sua ordem, se transformou em realidade palpável. Os profetas que proclamavam a
Palavra do Senhor estavam seguros de que os acontecimentos preditos tornar-se-iam realidade. O
Espírito não somente revelou a Palavra do Senhor, mas tornava o acontecimento predito em realidade.
Desde que o Espírito era o instrumento da Palavra do Senhor, evidentemente não se poderia
admitir uma verdadeira profecia ou revelação divina sem que acontecesse a atividade do Espírito. Os
rabinos criam que a Lei de Moisés continha a revelação completa de Deus, entretanto, o Espírito não
continuou a sua atividade profética a partir de 400 a.C. A voz profética esteve silenciosa durante todo
esse tempo, até o aparecimento de João Batista. No Velho Testamento, são três as funções
importantes do Espírito Santo:
1) O Poder de Deus relativo à existência física, incluindo a criação e a implantação da vida.
2) O revestimento operado por Deus nos líderes políticos de Israel, qualificando-os para a sua
tarefa.
3) O revestimento operado por Deus nos profetas, capacitando-os a proclama a palavra do
Senhor.
A atuação do Espírito no nascimento e batismo de Jesus está intimamente ligada às duas
primeiras ênfases mencionadas no Velho Testamento. O corpo humano de Jesus foi resultado da
atuação do Espírito. Ele foi ungido como o líder escolhido por Deus ou o Messias pelo Espírito. Os
próprios discípulos, para que pudessem continuar o ministério de Jesus, também necessitaram da
plenitude do Espírito. Essa plenitude do Espírito foi prometida pelo Pai (Is 42.1 e ss, Lc 3.16). Jesus
instruiu os discípulos a permanecerem em Jerusalém até que tivessem recebido o que o Pai prometera
(At 1.4) e que estava relacionado com o batismo no Espírito Santo mencionado por João (At 1.5). A
promessa do Pai ou o batismo no Espírito Santo aconteceria "não muitos dias" após a ascensão
(aparentemente dez dias depois no dia de Pentecostes).
3. A Descida do Espírito Santo em Pentecostes – At 2.1-13
O Significado dos Símbolos (vv. 1-4)
Os discípulos tomaram consciência do fato de que o Espírito Santo. Estava descendo sobre
eles através dos sentidos da audição e da visão. Ouviram um ruído como de um vento impetuoso. O
vento era usado muitas vezes para simbolizar o Espírito invisível. Vento impetuoso trazia em si a idéia
de poder. O som capacitou os discípulos a compreenderem que o Espírito tinha vindo e os estava
enchendo de poder para a realização das tarefas do Reino.
O símbolo visível foi descrito pelos discípulos como o de línguas de fogo, que desceram sobre
cada um deles. Fogo geralmente traz consigo a idéia de purificação, mas línguas de fogo podem
significar o papel do Espírito na proclamação da Palavra de Deus. O verso 4 mostra que a plenitude do
Espírito Santo capacitou os discípulos a proclamarem a Palavra de Deus mesmo em outras línguas. A
plenitude do Espírito no dia de Pentecostes foi o cumprimento da promessa do Pai e da predição por
João que Jesus haveria de batizar os seus discípulos no Espírito Santo.
O Miraculoso Testemunhar dos Discípulos - (vv. 5-13)
Durante as festividades de Pentecostes, a cidade de Jerusalém estava movimentada pela
vinda dos judeus e dos prosélitos (gentios que tinham adotado o culto judaico e tinham aceitado os
rituais dos judeus). O ruído resultante da vinda do Espírito atraiu as multidões. Não está claro se o
milagre das outras línguas estava no falar ou no ouvir. Os discípulos, sendo galileus, estavam contando
como aconteceu a ressurreição de Jesus, e os ouvintes, provenientes das variadas partes do Império
Romano compreenderam a mensagem em sua própria língua ou dialeto. Os eruditos não têm perdido
explicar a natureza do milagre. Alguns acham que o fenômeno daquele dia seria o testemunho dos
discípulos falando mesmo aquelas outras línguas. Outros acham que estavam os discípulos falando as
línguas numa situação de êxtase espiritual, o que os levou a serem considerados como embriagados.
Os que ridicularizaram os discípulos teriam baseadas suas acusações mais na incrível "estória" da
ressurreição de Jesus, do que propriamente no fato de não compreenderem as línguas que estavam
falando. Pessoas embriagadas seriam capazes de muitas proezas: Assim, pessoas embriagadas
falariam tranqüilamente até de coisas que poderiam comprometê-las. A fala dos discípulos era
inteligível, mas a sua mensagem e coragem é que eram incríveis: Pessoas em pleno uso da razão não
poderiam agir assim tão loucamente, então foram considerados como embriagados.
É bem possível que os 120 discípulos. Depois de terem sido cheios do Espírito Santo.
discípulos tinham testemunhado as aparições do Senhor ressurreto e estavam convictos de que ele
tinha sido exaltado à destra de Deus. O ruído que o povo ouvira, as visíveis línguas como que de fogo,
e a aparentemente incrível mensagem a respeito da ressurreição de Jesus só poderiam ser
compreendidos como o cumprimento da promessa referente ao Espírito Santo.
Pedro concluiu o seu sermão dando ênfase ao fato de que a ressurreição e exaltação de Jesus
tornaram-no tanto Senhor quanto Messias (vv. 34-36). O povo rejeitou a Cristo em virtude de ele não
aceitar ser o tipo do Messias que eles desejavam. Mas Deus demonstrou a sua aprovação à natureza
messiânica, levantando-o dentre os mortos.
5. O Povo Atende ao Apelo - At 2.37-41
O Evangelho de João registra a promessa de que, quando o Espírito Santo viesse, haveria de
convencer ao mundo do pecado de não crer em Jesus. A promessa se mostrou real no dia de
Pentecostes. O povo foi levado a uma profunda convicção dessa realidade e pediu a Pedro, bem como
aos demais apóstolos a orientação a respeito de como proceder no caso.
A orientação dada foi: "Arrependei-vos e cada um seja batizado no nome de Jesus Cristo para
remissão dos pecados. E recebereis a dádiva do Espírito Santo". Arrepender-se significa “alguém mudar
a mente”. O povo tinha estado em situação de equívoco quanto à natureza do Messias. E ao seu
engano ainda acrescentaram a tragédia de crucificarem o Ungido do Senhor. Assim é que seria
necessário a eles mudarem as suas mentes a respeito de Jesus, e demonstrarem a sua nova atitude
para com ele, aceitando o batismo em seu nome. O batismo, no seu aspecto público, identifica o crente
perante o povo como discípulo de Jesus. Então, reconhecendo o seu engano e mudando a sua atitude
para com Jesus, de rejeição para aceitação, o que seria simbolizado através do batismo, experimentaria
o perdão de seus pecados.
Para as pessoas nascidas no (para o) Reino de Deus a base pela qual recebem a dádiva do
Espírito Santo é a aceitação de Jesus como Messias e Libertador. A orientação dada por Pedro aos
judeus não foi a “sejam batizados no nome de Jesus Cristo para (a fim de receber) o perdão dos
pecados”, mas “Sejam batizados... no nome de Jesus Cristo por (em razão de) eles terem sido
perdoados os pecados” (v. 33). Um criminoso recebe o castigo pelo (por causa de) seu crime, e não
para ser encorajado a praticar crimes. Um empregado recebe o seu salário pelo (por causa de) seu
trabalho. Esta tradução do texto está de acordo exatamente com a estrutura gramatical da construção
de frase grega, e ao mesmo tempo também está de acordo com os outros ensinos do Novo Testamento
a respeito de a salvação ser em razão da fé, e não do batismo.
Conforme o v. 39, Pedro explicou que a promessa do Pai referente ao revestimento de seus
servos com o Espírito Santo inclui os elementos das nações gentias - todos que estão longe (Is 42.1).
Não é qualquer gentio que pode adentrar o Reino, mas somente aqueles a quem Deus chamou a si.
Pedro mostrou, em sua mensagem, que a humanidade está dividida em dois grupos distintos, um é o
daqueles que sob o controle do Maligno, se opõem a Deus, e o outro, o daqueles que aceitando a
orientação do Espírito Santo, andam conforme os preceitos do Reino de Deus. O grupo dos que se
opõem a Deus e ao "seu Messias" já está condenado. Pedro advertiu o povo a se afastar "desta
geração perversa". E Lucas observa que cerca de três mil almas foram salvas naquele dia.
A conversão de elementos de várias nações no dia de Pentecostes explica a rápida expansão
do evangelho no mundo romano de então. Embora Lucas nada relate a respeito da origem das igrejas
em Roma e no Egito. E de se notar que ele menciona a presença de pessoas desses lugares em
Jerusalém, no dia de Pentecostes, onde e quando ouviram o evangelho.
6. As Atividades dos primeiros Cristãos – At 2.42-47
Em virtude do seu rápido crescimento a Igreja necessitou de providências igualmente rápidas
para o trabalho de Educação Religiosa, ou seja, o doutrinamento do povo. Não se sabe quantos
daqueles novos convertidos permaneceram em Jerusalém, mantendo o contato com os apóstolos.
Entretanto, tudo parece indicar a sua permanência por tempo suficiente para aprenderem o necessário
a respeito da vida e ensinos de Jesus. Lucas mostra que eles atentaram cuidadosamente para a
doutrina ou ensinos dos apóstolos. Os apóstolos se constituíram nos mais autênticos mestres daquilo
que Jesus ensinou e praticou. Talvez, em suas atividades didáticas, eles ajudassem os novos
convertidos a memorizar os principais ensinos de Jesus e também algumas de suas atividades mais
importantes. E perfeitamente aceitável que eles dessem grande ênfase ao fato de que a nova realidade
que o povo estava vivendo era o cumprimento das promessas feitas no Velho Testamento, e isto em
razão de a maioria ser constituída de judeus. Os encontros para o ensino eram acompanhados de
períodos de comunhão fraternal e regozijo mútuo diante do Senhor.
Não se sabe ao certo se o "partir do pão" se referia à celebração da ceia do Senhor ou se
refeições conjuntas feitas pelo povo. Pode ser que se reunissem cada noite em várias casas e fizessem
refeições conjuntas. Parece, por outro lado, haver indicações de que os discípulos combinariam
reuniões de confraternização com a celebração, na mesma ocasião, da ceia do Senhor. Os discípulos
experimentaram a presença e o poder de Deus através da oração; por essa razão mantiveram a
comunhão em oração. A sua experiência genuína da presença e do poder de Deus em suas vidas
gerou neles um sentimento de real temor ao Senhor e que resultou em muitos milagres, que ocorreram
por intermédio dos apóstolos. Lucas não dá um destaque especial aos milagres, porém não deixa de
mencioná-los como sinais que ratificavam a presença do poder do Deus entre o seu povo.
A comunhão fraternal é a tônica dominante na vida da Igreja Primitiva, enquanto os oficiais, a
organização ou estrutura da Igreja, os seus recursos, são considerados elementos secundários. Nem
sempre destacamos, em nosso meio, essa realidade quando, como batistas, definimos o que seja uma
igreja. Ao invés de definirmos a Igreja como "um corpo de crentes batizados", seria melhor dizermos
que é "a comunhão fraternal do povo de Deus, que pela fé é revestido do Espírito e que proclama
publicamente a sua relação com Cristo através do batismo".
7. Compartilhamento espontâneo (vv. 44-47)
O gozo da nova vida em Cristo suscitou um movimento espontâneo de compartilhamento de
bens. “Modernamente o ponto de vista comunista é o de que os bens materiais devem ser distribuídos a
todos igualmente. O comunista impõe ao seu povo o princípio da distribuição eqüitativa, entretanto, a
natureza pervertida do ser humano impede o pleno funcionamento desse princípio. Não há distribuição
eqüitativa nas sociedades comunistas, por partes daqueles que dominam as massas”.
A motivação básica, donde resultou o compartilhar de bens nessa primeira comunidade, foi o
amor, e não a imposição. Vários dos primeiros cristãos eram ricos. Os que tinham propriedades
venderam-nas a fim de repartir com os irmãos mais necessitados. Vários fatores contribuíram para que
eles adotassem essa atitude.
1) A realidade da presença de Deus e o gozo proveniente de uma jornada cristã plena do poder
do Reino fazia com que a satisfação com essa realidade suplantasse o apego aos bens materiais.
2). A crença na imediata volta de Cristo fez com que os bens materiais perdessem o seu
significado.
3) O amor e o carinho para com os necessitados resultaram em ações que satisfizessem às
suas necessidades
O gozo estampado na vida dos novos cristãos e o seu amor uns para com os outros e para
com Senhor deixou profundas impressões no povo não pertencente à igreja. Os primeiros cristãos
viviam uma constante de que o seu gozo e o êxito em suas vidas provinham do Senhor. Eles
permaneceram na atitude de louvar ao Senhor e de glorificar por tudo quanto estavam experimentando.
E assim o Senhor usou o seu testemunho diário a fim de conduzir muitos à salvação.
Apesar dos esforços empregados na construção desse tipo de vida em comum, aconteceram
sérios problemas. A decepção resultante da quantia conseguida com a venda das propriedades e a falta
de critério na distribuição dos bens se transformou muito cedo em sério impedimento para a
continuação da comunhão fraterna e do amor expresso pela entrega voluntária dos bens. Ainda hoje, a
decepção, a auto-afirmação e a discriminação continuam a solapar esse modelo de vida em
comunidade.
COMPLETE AS LACUNAS
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2.No Velho Testamento, o Espírito deu dávidas aos homens, tais como:
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3. Indique três fatos nos Evangelhos que trazem, aparentemente algumas difilculdades na compreensão
da vinda do espírito ao mundo por ocasião do pentecoste:
a)_________________________________________________________________________________
b)_________________________________________________________________________________
c)_________________________________________________________________________________
a) _________________________________________________________________________________
b)_________________________________________________________________________________
c)_________________________________________________________________________________
RESPONDA:
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8. Como o Evangelho se espalhou “até os confins da terra” como resultado do dia de pentecoste?
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de sua santidade e justiça. E isto contradiz o julgamento feito pelos judeus. Eles, na escolha que
fizeram, optaram por um salteador, em lugar de Jesus, que é o autor da vida. O próprio Pilatos, a
despeito de seu egoísmo, foi relativamente mais justo que os judeus, pois que desejou libertar a Jesus.
Os judeus manifestaram a sua perversidade ao escolherem um assassino em lugar do autor da vida.
Pedro afirmou que Deus levantou a Jesus da morte, e apontou para o coxo curado, como prova
evidente dessa realidade.
Em prosseguimento, Pedro se referiu ao fato de que o Velho Testamento contém profecias a
respeito do Messias. A expectativa judaica não era a de um Messias sofredor e isto porque não
estabeleciam ligação entre o servo de Isaías 53 e o Messias prometido. Pedro reconheceu o fato de que
o que o povo fez, fê-lo em sua ignorância da Escritura. E então admoestou o povo a que se
arrependesse, pois esta é a condição para o perdão de pecados.
Pela porta do arrependimento adentrariam o Reino de Deus, onde experimentariam a
suavidade da presença do Senhor. O arrependimento fará com que seja apressado o dia da volta de
Cristo. Quando tudo virá a ser como o foi previsto por Deus e proclamado pelos lábios de seus profetas.
O Reino (governo) de Deus será estabelecido por meio do arrependimento.
Pedro citou Dt 18.15-16; 19. Que prediz a vinda de um profeta semelhante a Moisés.
Conclamou o povo a prestar bastante atenção “Aquilo que o profeta dissera. O livro de Deuteronômio
era aceito pelos judeus como palavra autorizada de Deus. E se eles aceitavam a identificação que
Pedro fazia, de que Jesus era aquele de quem o profeta falara. Logicamente teriam de dar ouvidos ao
que Jesus dissera. Moisés declara que todo aquele que não desse ouvidos ao profeta dos últimos dias
seria destruído. Muitos dos judeus ouviram os ensinos de Jesus e perceberam que ele falava com
autoridade, e não como os fariseus e escribas. Pedro usou o texto da escritura para com ele
argumentar que o dia do qual os profetas falaram era chegado. E era exatamente Jesus o profeta de
Deuteronômio 18. Não tinha sido somente a Lei que predisse algo a respeito do Dia do Senhor. Mas
todos os profetas do Velho Testamento, a partir de Samuel, se referiram ao fato. Pedro acreditava que
aqueles eram os dias em que Deus iria abençoar de forma especial ao Seu povo e todas as famílias da
terra. E desde Que o "Dia" era chegado, os judeus só não poderiam receber as bênçãos que Deus tinha
reservado para eles se recusassem aceitar o arrependimento.
Estaria Pedro equivocado quanto à chegada dos últimos dias, nos quais o Reino de Deus seria
estabelecido? Havia realmente uma diferença entre as vidas dos que tinham crido e dos que tinham
rejeitado a Jesus? Parece que Pedro e os outros discípulos estavam tendo uma experiência de poder,
gozo e comunhão com Deus que lhes trouxe um novo tipo de vida. A novidade em suas vidas era o
resultado de eles estarem andando no poder do Reino de Deus. O Reino, estabelecido por Jesus,
alcançará o seu clímax em significado por ocasião da volta de Jesus.
Capítulo IV - PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA IGREJA PRIMITIVA - At 4.1 - 6.7
Muitos eruditos dizem que a Igreja teve o seu início com o Dia de Pentecostes. Outros dizem
que ela se originou em Cesáreia de Filipe por ocasião da chamada confissão de Pedro. Ainda uma
terceira corrente a firma que o princípio ocorreu quando Jesus chamou os discípulos. Conquanto o
gérmen da Igreja tinha surgido por ocasião da grande confissão de Pedro, com a ocorrência de uma
nova relação entre os discípulos e Jesus como Messias, baseada na fé, temos de aceitar o fato de que
a Igreja continuou em seu estado embrionário até o dia de Pentecostes. Com a vinda do Espírito,
ocorreram o nascimento da Igreja e o seu rápido desenvolvimento. Os primeiros meses de vida cristã se
caracterizaram por gozo, harmonia e vitória. Muitos judeus foram acrescidos à Igreja, tão logo o Espírito
os convenceu de seu erro em condenar a Jesus, e passaram então a aceitá-lo como o seu Messias.
Aceitar a Jesus como Messias significava adotar uma nova concepção do Reino. Não mais se
conservaria, para quem aceitasse a Jesus, a idéia de um Reino com forças militares e poder político, o
qual viesse a dominar outras nações, mas, pelo contrário, agora a idéia era a de que o poder de Deus
venceria as forças de Satanás. O Reino não traria consigo a idéia de extensão territorial, nem de
fronteiras nacionais. Não prometia que os judeus seriam superiores aos gentios; ao contrário, o que
acontecia era o oferecimento de uma vida nova, plena de poder e regozijo na comunhão com Deus e a
fraternidade com os outros irmãos. O poder se expressava através do livramento das garras de satanás,
trazendo a cura a organismos humanos aflitos e livrando almas do domínio do pecado. Expressava-se
ainda através das que conquistas que fazia, como resultantes do testemunho. Aqueles Que atendiam
ao apelo da mensagem e se arrependiam nasciam de novo e adentravam o Reino de Deus recebiam a
FATAD Prof. Jales Barbosa 22
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
dádiva do Espírito Santo. É difícil compreender o Reino de Deus sem usar a analogia de um reino
terrestre ou de uma nação. Entretanto, sempre é perigoso reduzir a sua natureza ao nível de um império
terrestre.
O reino e a Igreja estão intimamente relacionados, mas não são a mesma coisa. Reino de
Deus é o domínio de Deus nos corações e vidas do povo independentemente de espaço geográfico ou
territorial. A igreja é composta de cidadãos do Reino que se reúnem a fim de dar expressão estrutural
ao Reino de Deus e executar a ordem da assim chamada Grande Comissão. A distinção entre a Igreja
Universal, composta de todos os crentes de Deus é mínima. O Reino de Deus é uma concepção judaica
e, ao que parece, era mais usada quando se falava aos judeus do que quando se falava aos gentios.
A palavra "Igreja" é proveniente da idéia grega cujo significado é o de “Assembléia" e a sua
concepção era mais usada entre os gentios. A palavra foi usada para comunicar a idéia de
"congregação de Israel" por ocasião de tradução do Velho Testamento do hebraico para o grego.
Os discípulos, ao mesmo tempo em que experimentavam a paz, a harmonia e a vitória, por
outro lado, muito cedo sentiram a oposição e as ameaças por parte dos judeus que não creram em
Jesus como o Messias. E os problemas não se limitaram aos de fora da Igreja. Muito cedo começaram
a se manifestar no seio da própria Igreja. Conquanto o primeiro sermão de Pedro fosse de caráter
universal, "sua aplicação prática, que incluía os gentios, tornou-se terrível dificuldade interna da Igreja”.
O sermão de Estevão também revelava a nova idéia teológica da universalidade, que teria de ser aceita
antes do Reino de Deus poder atravessar os limites das fronteiras do nacionalismo. E Estevão pagou
com a sua vida" o preço do seu ponto de vista.
1. Oposição da Parte dos Saduceus - At 4.1-2, 21
O rápido crescimento do cristianismo não podia deixar de alarmar o Sinédrio, que fora
responsável pela crucificação de Jesus. O Sinédrio era o principal conselho judicial dos judeus, mas,
sob o domínio romano, a sua atuação fora limitada aos aspectos religiosos. Era composto de líderes de
dois grupos religiosos entre os judeus, os fariseus e os saduceus. Os saduceus pertenciam à classe
aristocrática de sacerdotes. Mantinham suas ambições políticas e econômicas, ao mesmo tempo em
que procuravam manter-se nas boas graças dos romanos. E assim é que o rápido crescimento do
movimento cristão os atemorizou, pois que, se viesse a acontecer uma revolução, essa viria ocasionar
embaraços nas suas relações com os romanos. Grande parte de sua fortuna era constituída de
propriedades, as quais os romanos viriam a encampar, caso acontecesse uma revolução. Os cristãos,
porém, continuavam a pregar que Jesus estava vivo e que o Reino de Deus estava se estendendo na
terra.
2. O Aprisionamento de Pedro e João (vv. 1-4)
O Conselho controlava a ação das forças policiais do templo. Lucas menciona que os
sacerdotes e capitães do templo, juntamente com os saduceus, chegaram a aprisionar Pedro e João.
Os membros do Conselho estavam aborrecidos porque Pedro e João estavam assumindo o papel de
líderes religiosos e tinham proclamado que Jesus levantara dos mortos. Somente o Sinédrio poderia
conceder autorização a alguém para ser reconhecido oficialmente como líder religioso e intérprete da lei
mosaica.
Ora, a pregação de Pedro e João não somente enfraquecida a posição dos saduceus perante
os romanos, como também trouxe uma alteração da autoridade dos líderes religiosos sobre o povo.
Muita gente estava reconhecendo a Jesus como Senhor; isto resultava no enfraquecimento da
autoridade do Sinédrio. Se Jesus era o Messias e o Filho de Deus, o Sinédrio tinha cometido um
engano ao condená-lo à morte. Destarte, um de dois caminhos teria de ser seguido: admitir o terrível
equívoco ou proibir a pregação por parte dos discípulos. Os líderes, então, decidiram seguir o último
dos caminhos, dando ordens para que Pedro e João fossem presos. E Lucas observa, que essa
decisão não deu para o Sinédrio os resultados esperados, pelo contrário, aumentavam o número dos
que abraçavam a fé, chegando este rapidamente a 5.000 (v. 4). Os saduceus rejeitavam a doutrina da
ressurreição dos mortos. E, desde que os fariseus aceitavam tal doutrina, o fato de ser ela proclamada
pelos discípulos não se constituía para eles em razão suficiente para aprisioná-los. A ação contra os
discípulos foi principalmente precipitada por causa de os líderes sentirem o seu orgulho ferido e ao
mesmo tempo perceberem o enfraquecimento de sua posição. Cinco mil era um número bem
representativo de cristãos levando-se em conta o curto tempo de pregação e testemunho. Mesmo
considerando-se esse grande desenvolvimento em comparação à população total da Palestina, cerca
de quatro milhões de pessoas, o número de cristãos, a essa altura, era ainda de significação muito
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
pequena.
3. O julgamento de Pedro e João (vv. 5-22)
A fim de continuar a alcançar as boas graças dos romanos, mantendo a ordem entre os judeus,
os saduceus levaram Pedro e João a julgamento. Por outro lado, os fariseus se alegravam com o apoio
que recebiam dos discípulos quanto à doutrina da ressurreição dos mortos. O milagre levado a efeito
por Pedro e João, em nome de Jesus, tinha alvoroçado o povo. Os líderes religiosos decidiram abafar o
movimento antes de ele se espalhar mais. E então os discípulos foram conduzidos perante o Conselho.
Sinédrio era constituído de autoridades, anciãos e escribas. Os membros da família do sumo
sacerdote eram as autoridades. Os anciãos eram cidadãos com certo grau de liderança popular, e os
escribas eram os estudiosos da Lei, principalmente os fariseus. Caifás era o Sumo Sacerdote, O seu
sogro Anás tinha servido Sumo Sacerdote desde 6 A.D. até 15 A.D., e ainda depois dessa época era
considerado por alguns como Sumo Sacerdote de fato. Apesar de ser Caifás o Sumo Sacerdote, de
direito, àquela altura, Anás continuava a exercer grande influência.
O interrogatório começou com indagações a respeito da autorização para pregar. Pedro e João
eram homens simples, que não tiveram nenhum preparo específico para a liderança religiosa. O
Sinédrio reservava a si o direito de conceder a alguém o direito de se tornar intérprete oficial da Lei. E
agora esses dois homens assumiram o papel de intérpretes da lei sem terem sido oficialmente
credenciados para isso.
O mesmo Espírito que desceu sobre eles no dia de Pentecostes agora estava capacitando a
Pedro para a tarefa que tinha diante dele. O Espírito o encheu de coragem para testificar de Jesus
Cristo diante das autoridades. Não há termos de comparação entre o Pedro que negou a Jesus perante
uma criada e o Pedro que agora proclama corajosamente o nome de Jesus diante do Sinédrio.
O coxo que fora curado deu evidências do milagre acontecido, indicando, assim, a aprovação
divina à obra dos discípulos. Pedro não tomou para si as honras do milagre por ele operado. Ele
explicou que o poder atuante na cura fora o de Jesus, a quem o Sinédrio rejeitara e crucificara e a quem
Deus levantara dos mortos, dando, assim, a sua aprovação a ele. A teologia do Conselho não lhe
permitia negar a mão divina atuando na cura do coxo. Uma vez que o homem estava são diante deles,
havia possibilidade de negar a realidade do milagre ocorrido. Enquanto o Sinédrio arrogava a si o direito
da última palavra em assuntos religiosos, Deus contradizia as suas decisões, demonstrando a sua
vontade na cura do coxo. Em resumo, Pedro estava dizendo que recebera a autorização divina para a
sua tarefa, e não de um corpo judicial humano que não era infalível.
O Sinédrio não tinha como retrucar à resposta de Pedro e João. Eles tinham dado provas
infalíveis de sua autoridade para ensinar e do conhecimento da verdade. O fato de não terem uma
formação religiosa formal fez com que fossem tidos como homens simples e sem preparo, Mas eles,
tanto quanto o seu Mestre Jesus, foram capazes de refutar os argumentos de seus acusadores. O
Sinédrio não tinha condição de negar o milagre, de vez que o homem curado estava diante deles. Alem
disso, a sua atuação, aprisionando os dois homens, tinha colocado em perigo as suas relações com o
povo, que havia se alvoroçado acerca do milagre e da presença do Reino de Deus. Assim, reunido à
parte, o Conselho chegou à conclusão de que poderia exercer a sua autoridade proibindo a pregação
em nome de Jesus. Quando apresentaram a sua sentença aos discípulos, viram a situação mudar
radicalmente de rumo, quando Pedro colocou diante do Conselho a questão de que mais convinha
obedecer a Deus do que ao Sinédrio.
Pedro e João afirmavam que a sua experiência em Cristo era superior ao preparo que
recebiam os rabis na época. Eles entendiam que a sua tarefa era a de dar testemunho da experiência
audível e visível que tiveram. Um testemunho é aquilo que alguém compartilha com outrem a respeito
do que experimentou. Um professor relata aquilo que aprendeu de outros.
Os cristãos somente podem se constituir em boas testemunhas quando experimentaram, de
fato, a realidade da presença e poder divinos em suas vidas. E Pedro e João o experimentaram; e então
poderiam conter seu testemunho. Desde que o Sinédrio não pôde negar o fato de que a autoridade dos
discípulos vinha de Deus, somente os ameaçou e a seguir os soltou. Não daria bom resultado assumir
uma posição antagônica à do povo, que exaltava a Deus pela cura de um coxo de 40 anos.
4. O Gozo da Igreja - At 4.23-31
Depois de terem sido soltos, Pedro e João contaram aos seus amigos o que os príncipes dos
sacerdotes e os anciãos lhes disseram. E então o povo cristão se regozijou e exaltou a Deus porque o
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
incidente mostrou que as suas atividades eram protegidas e sustentadas pelo Senhor que criou os céus
e a terra. Mesmo sendo o Sinédrio uma coorte poderosa, não pôde causar tropeço ao propósito e
planos de Deus. Tinha já tentado impedir o desenvolvimento da atuação de Jesus. Condenando-o à
morte. Nem mesmo a própria morte do Filho de Deus pôde derrotar o propósito divino. O Reino de Deus
crescia mais rapidamente depois da morte de Jesus do que mesmo antes dela. A referência ao Salmo
2.1 e 2 expressam a confiança dos cristãos em que toda a sabedoria e força da parte dos inimigos não
resistiria diante do Senhor e do seu Cristo (ungido). Os judeus e gentios (romanos), sob a liderança de
Caifás, e Pôncio Pilatos, tinham tentado derrotar a obra de Deus em Cristo, mas não conseguiram. Os
discípulos estavam convictos de que a oposição continuaria a falhar; e assim eles não levavam em
conta as ameaças do Sinédrio. Aliás, ao contrário, pediam a Deus que os revestisse de coragem para
proclamarem a sua palavra, e de poder para realizarem milagres que viessem a honrar o nome de
Jesus. E o Senhor deu provas de que respondera às suas súplicas. O lugar em que estavam reunidos
se moveu. Como sinal da atuação do Espírito Santo. Os discípulos proclamavam a Palavra do Senhor
corajosamente.
Aparece de maneira patente, na primeira parte de Atos, que o revestimento com o Espírito
Santo não foi uma experiência válida de uma vez por todas. Os discípulos foram revestidos no dia de
Pentecostes (cf. At 2:4). Esta era a experiência da "promessa do Pai" e da palavra prenunciada por
João Batista de que Jesus batizaria os seus discípulos no Espírito Santo. Pedro estava entre aqueles
que foram revestidos naquele dia; contudo, ele teve nova experiência de revestimento do poder do
Espírito na ocasião em que ele se deparou com o Sinédrio (cf. At 4.8). Pedro por igual, estava entre
aqueles que foram revestidos de poder e coragem após a oração feita com essa finalidade (cf. At 4.31).
O pensamento é que o Espírito Santo pode conferir aos crentes uma capacitação especial para a
realização de tarefas específicas.
O revestimento com o Espírito Santo não é uma experiência que leve o indivíduo à perda de
sua racionalidade, nem tampouco é uma experiência puramente emocional. Ao contrário, é uma
experiência que resulta em fé e coragem para proclamar a Palavra de Deus. O revestimento com o
Espírito Santo proporcionou gozo aos cristãos primitivos e os moveu a experimentarem o grande anseio
de repartir com os não salvos aquela realidade que estavam vivendo no seu contato diário com o
Senhor. A sua própria experiência parece ter contribuído para que eles mesmos alcançassem uma
compreensão mais ampla do significado da Ressurreição e do Poder do Reino. Infelizmente, muitas
vezes acontece que o emocionalismo e a irracionalidade são confundidos com a genuína experiência do
revestimento com o Espírito. Pedro talvez em nenhuma outra ocasião esteve perante o Sinédrio. A
experiência vivida proporcionou-lhe ainda mais coragem e convicção da presença real de Deus, com o
seu poder para confirmar as suas palavras e obter os resultados.
5. Um Sumário das Circunstâncias Vividas pelos Crentes e o Exemplo de Barnabé -At 4.32-37
Lucas menciona de novo a unidade entre os crentes. A movida pelo Sinédrio não causou
divisão entre eles, nem tampouco impediu as suas atividades. Muitas vezes acontece que igrejas são
enfraquecidas por causa de divisões entre os seus membros como resultado de ciúmes e egoísmo. O
poder do Espírito livrou os discípulos dessas atitudes destruidoras. Ao invés disso, eles eram possuídos
por um espírito e amor tais que os levou voluntariamente a repartir as suas propriedades uns com os
outros. Os apóstolos continuavam a dar o seu testemunho no poder do Espírito Santo. A sua vida nova
no Reino era caracterizada por gozo e abundância, ao mesmo tempo em que iam experimentando
continuamente a graça divina, Parece que a pobreza alcançou muito cedo os cristãos de Jerusalém.
Talvez os que se opuseram à expansão do cristianismo tivessem exercido pressões econômicas sobre
eles. O fato de aceitar o cristianismo por vezes resulta no rompimento de certos laços sociais e na
eliminação de certos círculos econômicos. Elementos não cristãos muitas vezes têm se recusado a dar
emprego a crentes ou mesmo a manter relações comerciais com eles. Os necessitados, na Igreja
Primitiva, não foram negligenciados, mas assistidos por aqueles que, possuindo casas ou outras
propriedades, as venderam e entregaram o dinheiro aos apóstolos para ser distribuído com aqueles que
tinham necessidades. Lucas apresenta um discípulo profundamente dedicado à causa, cujo nome era
José, mas que foi chamado de Barnabé pelos apóstolos. O nome significa “filho da consolação".
Barnabé teve um significado muito especial no âmbito da Igreja Primitiva; contudo, ele foi, mais tarde,
sobrepujado em significação pelo seu mais ilustre companheiro, o apóstolo Paulo. Não se deve
esquecer que Barnabé deu o seu apoio a Paulo, enquanto os outros discípulos, temerosos, o rejeitaram,
a princípio, e se afastaram dele. Além disso, apoiou o jovem Marcos.
Talvez o nome "Barnabé” tivesse sido dado a José em virtude de o seu gesto de vender sua
propriedade e entregar como oferta à quantia recebida ter proporcionado grande conforto aos mais
necessitados. Ele era um homem rico natural de Chipre e que colocou à disposição dos apóstolos a
importância recebida. Proveniente da venda da propriedade. A sua generosidade não era motivada pelo
desejo de ser honrado e reconhecido; todas as indicações no sentido de ter sido ele um homem de
sentimentos e motivação básica era do amor a seus irmãos e a da honra ao seu Senhor. Barnabé era
sensível à necessidade dos outros e o seu desprendimento natural o moveu a atender aos
necessitados. A Igreja de hoje também precisa de muitos Barnabés.
6. A Decepção causada por Ananias e Safira - Atos 5.1-11
Ananias e Safira ficaram impressionados com a dedicação de Barnabé e as honrarias que
recebeu. Almejando o mesmo reconhecimento e honraria que Barnabé recebeu. Eles também
venderam só parte de sua propriedade e, alem disso, ainda entregaram aos apóstolos só parte da
importância recebida, para distribuição aos necessitados. Eles disseram que tinham entregado tudo.
Era costume sepultar-se alguém no dia de seu falecimento, mas no caso de Ananias e Safira
aconteceu algo não comum, ou seja, Ananias ser sepultado sem o conhecimento de sua esposa (v. 7).
Três horas depois do sepultamento, Safira compareceu perante Pedro. Ele lhe indagou se a
propriedade tinha sido vendida pelo preço indicado por Ananias, e ela o confirmou. A palavra que Pedro
disse a seguir contém três verdades chocantes:
1) A mentira dela, revelada pelo Espírito Santo.
2) A morte e sepultamento de seu marido lhe foram anunciados.
3) Ela foi informada de que, semelhantemente a seu marido, também seria levada dali e
sepultada.
E Safira morreu instantaneamente, sendo sepultada ao lado do seu marido. As mortes de
Ananias e Safira podem ter sido resultantes do choque que tiveram em virtude de ter sido descoberta a
sua mentira. Por outro lado. o fato de que ambos morreram da mesma forma não pode ser explicado
como tendo sido por razões naturais; isto, a despeito de Deus poder se utilizar de meios naturais para
cumprir os seus propósitos.
O incidente dá ênfase ao fato de que é perigoso tentar iludir a Igreja e o Espírito Santo com
atos não corretos. Jesus ensinou que o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo não poderia ser
perdoado. As mentiras de Ananias e Safira são do mesmo teor que o pecado dos fariseus que
atribuíram a atuação do Espírito como sendo da parte do maligno. Ananias e Safira estavam praticando
as obras de Satanás como sendo da parte do Espírito Santo. Em ambos o caso é perigoso tentar usar
erradamente o poder divino.
Pedro explicou que Ananias e Safira não foram obrigados a vender as suas propriedades e dar
o resultado da venda para auxílio aos pobres. Mesmo depois de vendidas as propriedades, não
necessitariam entregar toda a importância recebida. Eles poderiam ter decidido dar apenas uma parte à
Igreja, para a distribuição; teria sido uma atitude apreciável. O seu grande pecado foi a hipocrisia
caracterizada por parecer dar mais do que aquilo que estavam dando. Eles estavam vivendo a mentira.
E Pedro ainda acrescentou que a mentira deles era ao Espírito Santo. “É possível que eles tivessem
manifestado, de alguma forma, terem sido inspirados pelo Espírito a venderem a propriedade e a darem
o produto da venda para ser distribuído entre os pobres. Pedro disse que a sua mentira não fora aos
homens, mas a Deus. Eles pretenderam envolver o Espírito Santo como participante de seu crime”.
No verso 11 está pela primeira vez no livro de Atos a referência à comunidade cristã como
"igreja". Conquanto algumas versões usem o termo "igreja" em Atos 2.47, ali não aparece a palavra
ekklesia na línguagem original do Novo Testamento, ou seja, no grego. Apenas afirma que o Senhor
acrescentava, diariamente, ao grupo dos salvos, aqueles que iam se salvando. Na versão do Velho
Testamento para o grego a palavra ekklesia é usada para traduzir a palavra hebraica qahal, que
significa a "congregação" de Israel. Lucas usou o termo "igreja" certamente para dar à comunidade dos
salvos a idéia da "nova congregação" de Israel. Estava se tornando, passo a passo, mais evidente que
o novo tipo de comunhão não poderia mais ser identificado como uma seita do judaísmo.
7. A Igreja Continua a Atuar com Poder - At 5.12-16
A Igreja Primitiva continuava a experimentar a maravilhosa graça divina. Sinais e milagres
continuavam a ocorrer, dando provas de que realmente estava acontecendo a "nova era" do Reino de
Deus. O poder de Deus era evidenciado através das mãos dos apóstolos, seus servos.
A igreja cristã vinha sendo ameaçada da parte dos de fora, mas ela nem por isso procurou se
esconder. O seu lugar de reuniões era público - o Pórtico de Salomão. Não se sabe ao certo a que
grupo se refere a expressão "os outros" no versículo 13.
Talvez fossem judeus não crentes que tinham o cuidado de não interferir na atuação dos
apóstolos após terem ouvido a respeito do ocorrido com Ananias e Safira. "O povo" talvez fossem
aqueles que, vindo ao templo diariamente, tivessem os apóstolos em grande estima. Muitos dos que
criam continuavam a se unir ao Senhor. A cura de enfermos e a expulsão de demônios continuavam a
evidenciar a realidade da presença atuante do poder divino.
8. Nova oposição dos Saduceus - At 5.17-42
A ordem do Conselho proibindo os discípulos a pregarem a Jesus como sendo o Cristo não
tinha sido obedecida. O número dos que criam crescia rapidamente. A esta altura, o movimento cristão
já deixara de ser insignificante; já se transformara em seria ameaça à posição sustentada pelos
saduceus, bem como às tradições do judaísmo. Tornava-se necessário prender pela segunda vez os
apóstolos, visto que eles publicamente tinham desrespeitado a sentença dada pelo Sinédrio. Do ponto
de vista dos líderes judaicos, os apóstolos eram:
1) herejes que continuavam a proclamar que Jesus era o Messias, em franca oposição à
decisão do Conselho de que a alegação messiânica a respeito de Jesus era blasfema e digna de morte.
2) potencialmente perturbadores da ordem.
O orgulho nacionalista judaico reagia fortemente contra a presença dos conquistadores
romanos nas terras da Palestina. Durante as guerras dos Macabeus, Judá tinha conseguido uma
independência parcial do domínio grego. O povo estava confiante no fato de que, sob a liderança de
alguém como Davi ou Judas Macabeu, poderia conquistar independência completa para a sua terra.
Assim os saduceus temiam que um movimento popular como o cristão poderia resultar numa revolta
das massas judaicas, que seriam dominadas facilmente pelas forças romanas, se acrescentado a isto a
confiscação de seus bens. Destarte, os saduceus se encheram de ciúmes. Se a sua autoridade fosse
atingida, o respeito e honra de que gozavam da parte do povo declinaria.
Os apóstolos sabiam que, voltando à área do templo e continuando a proclamar a Cristo,
certamente seriam presos de novo. Os discípulos não tinham orado, pedindo que o Senhor os
dispensasse da responsabilidade de proclamar a Cristo publicamente, antes pelo contrário, que lhes
desse a coragem de pregar a Palavra com confiança. A segunda prisão tem alguns pontos de
semelhança com a primeira, enquanto também alguns de diferença. Na primeira vez só Pedro e João
foram presos, na segunda, todos os apóstolos o foram. Os saduceus tornaram-se tão violentos, nessa
segunda oportunidade, que começaram a pensar em matar os apóstolos.
Desta feita, ou seja, na segunda decisão·do Conselho, também os fariseus estavam
envolvidos. Os apóstolos receberam os costumeiros 39 açoites e novamente lhes foi ordenado que não
mais pregassem em nome de Jesus.
Os apóstolos foram libertos da prisão numa noite por um anjo ou mensageiro do Senhor. O
mesmo ordenou-lhes que retornassem à área do templo e proclamassem em sua inteireza a mensagem
da vida nova em Cristo.
Na manhã seguinte ocorreu uma tremenda confusão interna no Sinédrio, quando os guardas
vieram contar que a despeito de estar o cárcere fechado com toda a segurança, os apóstolos não se
encontravam mais nele. E logo a notícia de que eles estavam na área do Templo, proclamando o
evangelho. O capitão e os oficiais da guarda do Templo escoltaram os apóstolos da·do Templo até o
recinto em que se reunia·o durante as prisões, tomaram eles todo o cuidado para evitar a violência, pois
que esta poderia lhes custar um apedrejamento da parte do povo.
E então os apóstolos foram interrogados pelo Sumo Sacerdote, o qual, ao que parece, era o
presidente do Conselho. Ele verificou que os apóstolos continuavam a afirmar que Jesus era justo;
donde se devia concluir que os líderes judeus tinham sido injustos ao condenar um justo à morte. Se o
povo continuasse a aceitar o ensino dos apóstolos, o Conselho seria mais e mais desacreditado. E
Pedro novamente falou em nome do grupo, reafirmando: “Convém mais obedecer a Deus do que ao
homem” Corajosamente ele afirmou que Deus tornou Sem efeito o ato do Sinédrio, o qual condenou
Jesus à morte. Pedro experimentou o gozo e poder da vida nova pela fé em Jesus, “então
corajosamente proclamou que Deus exaltou a Jesus como Príncipe e Salvador, por meio de quem o
FATAD Prof. Jales Barbosa 27
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
povo de Israel poderia alcançar o perdão de seus pecados após o seu arrependimento. E então Pedro
novamente afirmou que a eles como apóstolos convinha mais obedecer a Deus do que aos homens.
Essa afirmação significaria porventura, que os cristãos, a fim de obedecer a Deus, deveriam sempre
desobedecer ás leis civis? O que Pedro afirmou foi a lealdade à pátria, família, sociedade importante,
mas a lealdade a Deus suplanta a lealdade a tudo o mais.
A corajosa afirmação de Pedro de que os líderes eram culpados de homicídio era
demasiadamente forte para que pudessem aceitá-la. Decidiram então matar os apóstolos, mas a sábia
sugestão de Gamaliel impediu que acontecesse essa tragédia. Gamaliel, pertencente à escola de Hillel,
era o que liderava os pronunciamentos dos fariseus. Provavelmente ele fosse um dos netos de Hillel, o
qual seguia uma linha de interpretação mais liberal da Lei, ao contrário de seu rival. Gamaliel também
era mestre de Paulo (cf. At 22.3).
Gamaliel lembrou ao Sinédrio que Deus tem a capacidade de demonstrar qual é a sua vontade.
O homem é que muitas vezes comete erros, por agir precipitadamente, no santo desejo de realizar, na
causa do Senhor, aquilo que a Ele compete. Gamaliel mostrou que se os cristãos estavam errados, eles
estavam trabalhando contra Deus e seriam derrotados por Ele. Mas se eles estavam dentro da vontade
de Deus, aqueles que se opusessem a eles e os perseguissem estariam lutando contra Deus. E
Gamaliel usou dois exemplos para fortalecer o seu argumento. Um grupo de insatisfeitos, liderados por
Teudas, foi mal sucedido (cf. Antig. XX, v. 1). Teudas liderou um grupo de seguidores ao rio Jordão,
prometendo-lhes que dividiria as águas como Josué o fez A insurreição foi dominada por Fadus, o
procurador romano, cujos soldados cortaram a cabeça de Teudas e mataram muitos dos seus
seguidores. A acuidade de Lucas, como historiador, tem sido posta em dúvida, porque o Teudas
referido por Josefo foi decapitado por Fadus, algum tempo depois, em 44 A.D., quando este último se
tornou procurador romano. A palavra de Gamaliel aconteceu cerca de 10 anos antes. A dúvida ainda
continua em aberto e sem solução.
Gamaliel também fez referência a Judas, da Galiléia, o qual liderou uma revolta contra os
romanos no ano 6. A.D., quando Cirônio tentou realizar um censo na Palestina, Judas e seus
companheiros foram derrotados por Herodes, o Grande, e dominados imediatamente pelos romanos.
Josefo afirma que o partido dos zelotes originou-se nesse movimento liderado por Judas.
As igrejas de hoje farão bem em seguir a lógica de Gamaliel. Deus e sua obra não poderão ser
derrotados pelos homens. Ele não precisa de homens que o defendam, nem quem livre a sua causa do
poder de Satanás. Deus precisa de homens que estejam em condições de serem usados por ele na
expansão a sua obra, ao invés de tentarem protegê-la.
9. Igualdade de Tratamento Dentro da Comunidade - At 6.1-6
Os judeus dividiam-se em dois grupos gerais:
1) Os hebreus, que mantinham as tradições dos Pais e se recuavam à associação com
estrangeiros; e,
2) Os gregos (helenistas) que eram tolerantes para com os gentios, dos quais aceitavam
alguns costumes.
Os apóstolos estavam mais intimamente identificados com os tradicionalistas e conservadores;
contudo, não eram tão restritos quanto os fariseus.
Os apóstolos eram, sem dúvida, os líderes da Igreja Primitiva. Eles eram responsáveis pela
distribuição de mantimentos aos necessitados, proclamavam o evangelho, pregavam a Palavra de Deus
e passavam muito tempo em oração. Com o crescimento da Igreja em número, as responsabilidades
administrativas de distribuição de alimentos aos pobres tornaram-se pesado fardo. Não se pode
compreender como foi possível acontecer que as viúvas helenas, as quais estavam tão de perto
relacionadas com os apóstolos como as viúvas hebréias, fossem freqüentemente negligenciadas. Os
Doze então solicitaram da Igreja que indicasse sete irmãos a quem coubesse a responsabilidade da
distribuição diária de mantimentos e do compartilhar da Palavra de Deus.
Os sete homens escolhidos são geralmente mencionados como tendo sido os primeiros
Diáconos; contudo, eles não foram chamados assim. Deveriam ser homens que tivessem as seguintes
qualificações especiais:
1) Deveriam gozar de boa reputação dentro da comunidade.
2) Deveriam ser cheios do Espírito.
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
Anotações:
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RESPONDA
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a)_________________________________________________________________________________
b)_________________________________________________________________________________
c)_________________________________________________________________________________
8. Apresente os problemas internos e externos enfrentados pela igreja primitiva, explicando como cada
um foi encarado.
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9. Porque a mensagem apostólica de que Deus levantou a Jesus dentre os mortos ofendeu aos lideres
judeus?
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Santíssimo Lugar),
O relacionamento do povo judeu com Deus tornara-se ritualista, legalista e formalista. As suas
cerimônias religiosas não tinham efeito nenhum sobre a sua maneira de tratar o próximo. A sua religião
era vazia, na sua comunhão pessoal com Deus, através da qual o Pai poderia participar e orientar a
vida diária de cada um.
A sua religião exaltava a nação judaica e eliminava a de outros povos também participarem
dado conhecimento de Deus. A vida judaica, tanto nacional quanto religiosa, estava centralizada no
templo e na Lei de Moisés. O tratamento que envolvia o templo ou a Lei de Moisés era levado muito a
sério. O centro das esperanças de Israel estava no templo, que, para eles, era o único lugar que
representava a presença de Deus. Eles esperavam que, da parte de seu Deus, fosse enviado um
Messias político, o qual viria a conduzi-los vitoriosamente sobre os seus inimigos. Os fariseus
acreditavam seriamente que o Messias viria quando a Lei fosse cumprida fielmente, ao menos por um
dia, pelos judeus. A afirmação de Estevão fazia cair em descrédito essas proclamações dos fariseus,
bem como enfraquecia as esperanças nacionais dos judeus. Lucas observa que o Conselho,
contemplando a Estevão. Via sua face como a de um anjo v. (15). A face de Moisés refletia a presença
de Deus quando ele desceu do monte Sinai. Um anjo é um mensageiro de Deus, e Estevão estava ali,
manifestando claramente a realidade de estar vivendo na presença direta de Deus, e por isso atuando
como seu mensageiro.
2. A Mensagem de Estevão - At 7.1-53
Deus não está limitado ao Templo
Tem sido sugerido que os pontos principais da mensagem de Estevão não respondiam
diretamente às acusações feitas a ele diante do Sinédrio. A breve narrativa de Lucas sobre a
controvérsia não procura apresentar os detalhes dos principais pontos da contenda. Um estudo mais
acurado da mensagem de Estevão, entretanto, revela que estava atingindo as acusações de maneira
muito mais ampla e profunda do que parece. Os adversários acusavam Estevão de falar contra o
templo, contra a Lei e contra Deus (cf 6.11 - 13).
Os judeus criam que havia um único Deus. Este Deus verdadeiro habitava em Jerusalém, na
casa preparada e destinada a ele. Jerusalém era chamada a Cidade Santa por causa da presença de
Deus entre o seu povo. Se os gentios quisessem adorar ao único Deus vivo, teriam de vir a Jerusalém,
acompanhar os rituais religiosos judaicos e se tornar prosélitos da religião dos judeus, para poderem ter
acesso a Yahweh. E Estevão refutou essa idéia. Quando o Sumo Sacerdote lhe perguntou a respeito
das acusações feitas contra ele, Estevão pregou um extraordinário sermão, provando, pelo Velho
Testamento, que Deus se manifestara também em outros lugares e não só no templo. Deus não era um
Deus nacional apenas dos judeus, mas um Deus universal para todos os povos.
A presença de Deus em Harã e no Egito (vv. 4-15). Yahweh apareceu a Abraão em Harã,
guiando-o para a terra de Canaã (cf. Gn 12.1 e ss.). Estevão demonstrou que Abraão, naquela
oportunidade, ainda não adentrava a terra, para possuí-la. Abraão recebeu a promessa de que os seus
descendentes a herdariam totalmente. Antes do cumprimento da promessa os israelitas foram escravos
no Egito durante cerca de 400 anos. Estevão descreveu as circunstâncias pelas quais os israelitas
passaram e que os levou à escravidão. A menção à escravidão egípcia foi feita a fim de provar ao
Sinédrio que Deus se utilizou José, mesmo através de circunstâncias adversas em terra estrangeira (cf.
v. 3).
Deus aprova Samaria (v. 16) Estevão citou ainda uma outra terra, com a qual os judeus não
queriam nenhuma comunicação, a fim de demonstrar o plano universal de Deus. Fez uma rápida alusão
ao fato do sepultamento de José e Jacó, narrado em Gênesis. Jacó foi sepultado em Macpela, em uma
cova que Abraão adquirira de Efrom (Gn 50.13). José foi sepultado em Siquém, em um campo que Jacó
comprou dos filhos de Hamor (Js 24.32). Se a terra da Judéia e a cidade de Jerusalém fossem
especialmente santificadas por Deus, argumentava Estevão que os Patriarcas deveriam ter sido
sepultados ali. Ao invés disso, eles foram sepultados com aprovação divina, na desprezada terra da
Samaria.
Presença divina em Midiã (vv. 17-37) - Estevão continuou a sua narrativa dos aparecimentos
de Deus a seu povo em terras outras. Fora da Judéia, referindo-se também às experiências de Moisés.
Aquela por meio de quem foi dada a lei nasceu no Egito. Deus não apareceu a ele em Jerusalém, mas
no deserto do monte Sinai (a terra dos midianitas ou Arábia) na sarça ardente (cf. v. 30 e 55.). O local
se transformou em lugar especialmente santificado.
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
A presença de Deus no deserto (vv. 38-50). A seguir, Estevão usou como argumento o
tabernáculo, que era desmontável, para mostrar que a presença de Deus não estava restrita a
Jerusalém. Nos tempos de Josué a presença de Deus estava simbolizada na Arca do Concerto, a qual
deu aos israelitas a coragem e capacidade para os inimigos das terras de Canaã (v. 45 e ss.). Muitos
anos mais tarde, o lugar da habitação para o Deus de Jacó, o Templo, foi construído por Salomão em
Jerusalém (v. 46 e ss.).
Evidentemente, na palavra de Estevão estava implícita a verdade de que Yahweh poderia ser
encontrado também por outros povos, em seus próprios territórios, não sendo necessário,
especificamente, tornarem-se prosélitos e virem a Jerusalém a fim de diante de Yahweh. O pensamento
e a prédica de Estevão carregava, em si, a diminuição e importância do Templo os adversários de
Estevão não puderam resistir à sua sabedoria e ao seu espírito, porque os seus argumentos estavam
solidamente plantados na Escritura.
Ele mostrou que Deus "não habita em templos construídos por mãos humanas", pois, como diz
o profeta: O céu é o meu trono e a terra é o escabelo de meus pés; que casa me construireis, diz o
Senhor, ou qual é o lugar do meu descanso? (v. 48 e ss.). O único Deus, o qual criou os céus e a terra,
não pode ser circunscrito a um templo. Ele é um Deus universal e pode ser encontrado em qualquer
nação. Não é necessário aos verdadeiros adoradores uma peregrinação longa e penosa a Jerusalém,
para participar da cerimônia e outras atividades religiosas no templo.
2.1. Replica à acusação de estar falando contra Deus
É bastante comum acontecer que pessoas dedicadas em sua vida religiosa tentem como
monopolizar o conhecimento da vontade de Deus. Os fariseus denunciaram e crucificaram a Jesus em
nome de Deus e de sua causa. Eles estavam convictos de que todo aquele que não concordasse com
eles estaria errado e conseqüentemente sujeito à ira divina. Os fariseus se consideravam como
instrumentos de Deus, punindo aqueles que contrariassem a sua posição, e achavam que com isto
estavam prestando um santo serviço a Deus. Constantemente, encontramos pessoas que acham ser
autoridade na interpretação da vontade de Deus. O seu zelo religioso em geral e motivado mais pelo
seu orgulho do que por uma atuação do Espírito Santo. O orgulho com freqüência leva à seguinte
posição: “Eu estou certo, e você errado", ou "Deus está comigo, eu sou correto:" O orgulho judaico
levava os fariseus a adotarem essa posição em relação a Jesus e a Estevão. Estevão mostrou que o
orgulho pecaminoso dos israelitas já vinha desde o tempo dos Patriarcas.
José, traído por seus irmãos enciumados, foi um perfeito paralelo da rejeição de Jesus por
parte de seu povo (v. 9). O fato de que Deus esteve com José durante a sua escravidão egípcia e
extraordinária prova de que ele não era “contra Deus”. José estava totalmente dentro do plano e
vontade de Deus, enquanto os seus irmãos estavam errados. Os líderes judaicos não deixar de
compreender as implicações a que Estevão os desejava conduzir no paralelo traçado entre José e
Jesus. Deus libertou a Jose das aflições que lhe aconteceram em razão da atitude de seus irmãos.
Assim Deus libertou o Jesus da morte a que foi conduzido por seus adversários.
Estevão usou a Moisés como um e exemplo da rejeição do Ungido de Deus por parte dos
israelitas. Já no principio da libertação do povo, eles se voltaram contra Moisés (cf. v. 24 e ss.). Moisés
sabia que os israelitas tinham compreendido que Deus os estava libertando por seu intermédio. Moisés
interveio e matou um egípcio quando este estava maltratando um israelita. No dia seguinte ele viu dois
israelitas brigando, e procurou pacificá-los, mas foi rejeitado por eles, talvez por terem ciúme dele. Do
mesmo modo. Jesus foi indicado por Deus como libertador.
Mas os líderes judaicos rejeitaram a Deus e ao seu plano, crucificando a Jesus. Moisés deveria
ter sido altamente admirado e honrado como um grande libertador, mas ele foi rejeitado logo que iniciou
o trabalho de libertação do povo do cativeiro egípcio. De modo idêntico, Jesus foi rejeitado pelos seus.
Moisés escreveu que: “O Senhor levantará dentre os seus irmãos um Profeta como eu; a ele
havereis de ouvir (Lv 37)”. Os líderes judaicos tinham os escritos de Moisés na conta de verdadeiro
tesouro, e estavam aguardando esse profeta semelhante a Moisés. O povo se recusou a o grande líder
nas jornadas pelo deserto. Eles tinham determinado voltar ao Egito. Foram castigados por Deus por
terem rejeitado o líder que ele providenciara para libertá-los. O mesmo acontecimento histórico se
repetiu nos dias de Estevão, em virtude de os líderes judaicos terem rejeitado o profeta semelhante a
Moisés (v. 37 e ss.).
Reino não é descrito em termos de poder político e militar. Mas com termos de poder divino. O Reino
não era limitado ao povo judeu, mas todas as nações seriam trazidas sob o seu domínio de divino Filho
do Homem. O “povo dos santos do Altíssimo” (Dn 7.27) seria vitorioso quando o Ancião de dias
interviesse na história através do Filho do Homem.
Estevão teve a sua participação no santo movimento de conquista do mundo, no qual o
domínio do Filho do Homem estava sendo estabelecido sobre todas as nações. Jesus retornara aos
céus e enviara o Espírito Santo, que revestia os seus servos com o poder necessário à implantação de
seu Reino. Os dois anjos, por ocasião da ascensão de Jesus, prometeram aos discípulos que ele
voltaria dos céus como para o céu o vistes ir “(At 1.11) Os discípulos deveriam proclamar o evangelho a
todo o mundo como o meio pelo qual o Reino seria implantado. Estevão, em sua morte, não estampava
derrota em sua face. A visão celestial o habilitava a contemplar a glória de Deus e de Seu vitorioso
Servo Filho-Rei à sua direita. Desde que o Reino não estava limitado a uma organização terrena ou
física, a morte não destruiria o movimento do Reino nem os seus cidadãos. Essa esperança e a
presença do Espírito de Deus deu a força que o capacitou a dizer: “Senhor Jesus, recebe o meu
espírito”. As suas últimas palavras foram características de um cidadão do Reino “Senhor, não lhes
imputes este pecado”. A morte de Estevão não significou a sua derrota, mas descanso da labuta e da
perseguição - "Tendo dito isto, adormeceu".
4. Paulo Entra em Cena - At 7.57-8.1-3
"Saulo" é o nome hebraico daquele que é mais conhecido pelo seu nome romano, “Paulo”.
Lucas mostra que ele tinha muito zelo religioso. O fato de que "as testemunhas depuseram as suas
vestes aos pés de um mancebo chamado Saulo", indica ter sido ele o líder do grupo que apedrejou
Estevão (7.58). Paulo estava inteiramente de acordo com a morte de Estevão (18.1). As emoções de
orgulho e ira cegam um homem em relação à verdade. Saulo era um fariseu que se orgulhava de
guardara Lei; contudo, ele se uniu a outros fariseus, em quebrar o sexto mandamento, quando matou a
Estevão.
Saulo nasceu em Tarso, sendo cidadão da mesma cidade, capital da Cilícia (At 9.11-22.3). Ele
era um fariseu (At 23.5) da tribo de Benjamim (Fp 3.5). O seu nome foi dado em honra ao primeiro rei
de Israel, que também era benjamita.
A língua usada nas ruas de Tarso era o grego. O interesse religioso de Saulo explica o seu
conhecimento de aramaico e hebraico. Ele tinha grande satisfação em sua herança, tanto da religião
judaica como da cidadania romana (At 22.2-28).
Embora Saulo fosse um fariseu (estritamente judaico) em seu treinamento religioso, ele
incorporou o espírito helenístico de Tarso. Na cidade comercial de sua juventude, ele teve contato com
as bênçãos materiais do Império Romano. Ele apreciava as rodovias romanas, pontes, portos e a paz
de que desfrutavam. Tinha por fundamento uma curiosa mistura entre o conservadorismo religioso e o
liberalismo nacionalista. Ele se caracterizava por um envolvimento profundo e real naquilo em que cria.
Saulo deveria ter cerca de vinte anos quando ingressou na escola rabínica dos fariseus, tendo
a Gamaliel como professor em Jerusalém. Sua vivacidade e zelo muito cedo fizeram com que se
constituísse líder dentre o seu grupo. O seu professor Gamaliel, era um fariseu conservador, mas não
possuía espírito nacionalista estreito. Tudo indica ter Gamaliel exercido uma grande influência sobre o
jovem Saulo. Este era fanático e radical ao tempo do apedrejamento de Estevão, mas esse seu zelo
contribuiu imensamente para que mais tarde se tornasse também uma testemunha fiel de Cristo.
A perseguição a Estevão desencadeou uma perseguição mais ampla contra a Igreja. Quando a
igreja em Jerusalém foi perseguida, os seus membros "se espalharam pelas regiões da Judéia e
Samaria, exceto os apóstolos" (8.1). O novo movimento dentro da Igreja, de libertação de um espírito
nacionalista judaico estreito. Não foi acompanhado pelos apóstolos, mas levado a efeito por outros
discípulos, como Estevão e Filipe.
Lucas menciona o respeito e a tristeza expressados por ocasião da cerimônia fúnebre de
Estevão. Muito ao contrário do que era esperado por Saulo. O movimento cristão, ao invés de ser
destruído com a morte de Estevão e a perseguição desencadeada contra a Igreja, fez com que o
cristianismo progredisse mais e se tornasse forte. Mas Saulo não era homem de se conformar com
derrotas. Assim, ele começou a devastar a Igreja, “entrando em cada casa e arrastando à prisão
homens e mulheres” (8.3).
dos apóstolos. Então ele ofereceu dinheiro para conseguir o poder ou o segredo do sucesso deles.
Talvez e!e imaginasse quão mais popular ainda ele se tornasse se viesse a conseguir a capacidade de
transmitir aos outros o poder de realizar milagres. A Igreja já tinha tido a experiência de perder dois de
seus membros, que procuraram perverter a pureza da comunhão. Pedro disse a Simão que ele
cometera um grande pecado, pretendendo obter o Espírito Santo para fins de interesses pessoais. A
"simonia" de Simão revelou que o seu coração não estava correto diante de Deus. Ele não tinha
experimentado real arrependimento. Os seus interesses eram egoístas. Ele próprio pretendia ocupar o
lugar que só cabia a Deus.
Pedro fez a Simão uma confrontação com a sua perversidade e perigo que corria. Por causa
do acontecimento desastroso de Ananias e Safira, que tentaram enganar a igreja e os apóstolos, Pedro
possivelmente fez diante de Simão descrição das coisas tristes que poderiam lhe sobrevir. E então
Simão rogou a Pedro que orasse por ele a fim de que nada daquilo lhe sobreviesse.
7. A Conversão do Etíope - At 8.25-40
Lucas mostrara de início como o evangelho se espalhara rapidamente entre os judeus e fora
levado a Samaria. O próximo passo era o de mostrar como o evangelho iria se expandir ainda mais, a
ponto de incluir prosélitos gentios.
Depois de Pedro e João terem constatado o avivamento ocorrido em Samaria, eles
continuaram o trabalho de pregar o evangelho a outras vilas dos samaritanos. Filipe recebeu orientação
especial do anjo (mensageiro) do Senhor para testemunhar ao eunuco etíope, um gentio temente a
Deus, na estrada de Jerusalém a Gaza. O Etíope era um prosélito do judaísmo e um "oficial de
Candace, rainha dos etíopes". Ele voltava de uma peregrinação a Jerusalém, onde fora fazer a sua
adoração ao Senhor. Nessa viagem de retorno, estava lendo o profeta Isaías. Filipe foi orientado pelo
Espírito a se juntar ao etíope, nessa sua viagem. Filipe ao se aproximar dele, ouviu que lia um texto de
Isaías 53. Então Filipe lhe indagou se estava compreendendo exatamente o que lia. O etíope respondeu
que, na verdade, necessitaria de um intérprete que lhe explicasse o significado da passagem. A sua
dúvida consistia em saber se o profeta dizia aquelas palavras em referência a si mesmo ou em
referência a alguém de uma das duas correntes judaicas de interpretação de que ele tinha
conhecimento. A resposta de Filipe foi a de que a Igreja Primitiva identificava o Servo Sofredor de Isaías
53 com Jesus.
O cumprimento da comissão de Jesus envolvia o espalhar do evangelho para além de
Samaria, ao mundo gentílico. O primeiro passo foi a conversão do gentio temente a Deus, o eunuco
etíope. Conquanto ele quisesse ser um prosélito do judaísmo, a sua mutilação física, como um eunuco,
poderia tê-lo impedido de contar com esse privilégio. Todavia, ele se sentia atraído ao monoteísmo e
aos altos ensinos morais do judaísmo. Depois de Filipe lhe ter apresentado Jesus, ele fez a penetrante
pergunta, "Que me impede de ser batizado?" O judaísmo lhe tinha impedido ou ao menos limitado a sua
total integração. Assim ele perguntava se a sua nacionalidade ou condição física também o impediriam
de ser cristão. E Filipe lhe assegurou que nada o impedia.
Tudo nos faz crer que o eunuco creu que Jesus era realmente o Messias. O verso 37 afirma: "E
disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o
Filho de Deus”. É o que se lê nos manuscritos mais antigos. Lucas não se importa em registrar tudo o
que Filipe compartilhou com o eunuco. E o etíope respondeu, pedindo para ser batizado. O seu pedido
indica que ele creu ser Jesus o Messias e estava disposto a se identificar publicamente com ele. E
Filipe mandou parar a carruagem, batizando o eunuco. E este, com a experiência da vida nova, encheu-
se de júbilo (cf.v.39).
COMPLETE AS LACUNAS
2. Uma vez que Estevão iniciou uma nova era histórica do cristianismo, Lucas diz que Estevão era
menor que os _____________________________________________________________________
RESPONDA
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7. Compare e contraste o conceito de Estevão referente ao reino com o conceito expresso em Daniel 7.
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Os samaritanos eram uma mistura de judeus e gentios. Depois de Filipe ter pregado a eles, e
muitos se terem convertido, a igreja em Jerusalém enviou Pedro e João para constatar as realidades
dessa nova área de desenvolvimento. A igreja não podia deixar de aceitar o fato de que Deus aceitara
os samaritanos, depois de se ter tornado óbvio que eles também receberam o Espírito Santo. O fato de
que o Espírito operava maravilhas por instrumentalidade de Filipe, entre os samaritanos, deu evidências
do plano divino de incluir os samaritanos em seus propósitos.
É interessante que Deus escolhesse exatamente aquele que reagiu mais fortemente contra a
inclusão dos gentios, para ser o primeiro, por meio de quem os gentios ouvissem o evangelho. A
conversão de Paulo não deixa dúvidas de que o evangelho é poder para mudar terminantemente vidas
pecaminosas. A sua conversão marca um significativo ponto de mudança na história da Igreja Primitiva.
Ele tinha sido o mais ardoroso opositor ao novo movimento e o que mais tinha lutado para destruí-lo.
Pedro e os outros apóstolos se davam por insatisfeitos em limitar o movimento aos judeus.
1. A Conversão de Paulo - At 9.1-19
Lucas apresenta a nova direção no desenvolvimento da Igreja Primitiva, descrevendo a
determinação, da parte de Saulo, de destruir a igreja nascente. Saulo era extraordinariamente zeloso
nas tradições dos pais. Ele se achegou ao Sumo Sacerdote e conseguiu dele documentos que o
autorizavam a extraditar judeus da sinagoga de Damasco. Saulo não se contentou em exterminar o
cristianismo só em Jerusalém. Ele foi ao encalço dos cristãos refugiados em outras cidades. Talvez
muitos tenham fugido para a área de Damasco porque lá havia uma boa população judaica. Tudo
parece indicar que o Sumo Sacerdote tinha autoridade para emitir documentos de extradição aos judeus
que tivessem, de alguma forma, ofendido a religião judaica. Paulo pretendia trazer esses cristãos de
volta a Jerusalém, para julgamento e possível condenação à morte.
É interessante observar como os cristãos continuavam o seu relacionamento com a sinagoga.
Começa, entretanto, a haver uma distinção entre eles e os cristãos não judeus. Eles começaram a ser
identificados como aqueles que "pertenciam ao Caminho" (v. 3), em virtude de sua ênfase à expressão
"o caminho do Senhor" (Is. 40.3). Por outro lado, a expressão poderia ter demonstrado a sua nova
maneira de viver.
É impossível explicar a experiência de Saulo no caminho de Damasco em termos de um
acontecimento natural. A experiência envolveu os sentidos da visão e da audição. Saulo foi atingido
repentinamente por um jato de luz, que o fez cair ao chão. Ele ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo,
Saulo, por que me persegues?" Algumas pessoas têm procurado dar, à experiência, uma explicação
psicológica. A mudança ocorrida na conduta de Paulo só pode ser explicada como resultado de um
encontro sobrenatural. A pergunta feita pelo Senhor a Saulo indica nitidamente a identificação que Ele
tinha com os seus seguidores, então perseguidos.
O testemunho de Estevão e a sua morte certamente ajudaram a preparar Saulo para a sua
experiência de conversão. Uma vez que Saulo era um estudioso do Velho Testamento, ele deve ter
estado atento ao fato de que os cristãos judeus helenistas estavam certos a cerca da inclusão dos
gentios no Reino. Mas ele intentava abafar as suas dúvidas com redobrado zelo pela sua religião.
Saulo é uma amostra autêntica daqueles que pretendem alcançar maior sucesso pelo caminho
dos próprios esforços e zelo. O ato de se prostrar no chão, diante do ressurreto, é símbolo da sua
realidade espiritual, em que, quebrado o seu orgulho, jaz agora humilde diante daquele a quem
intentara continuar perseguindo. E, em lugar de dirigir ele os planos para levar a cabo os seus
propósitos de destruir o movimento cristão, ei-lo sendo instruído pelo Senhor por meio de seus servos.
Os companheiros de Saulo, nessa sua jornada, ouviram uma voz, mas não viram ninguém. A
afirmação de Lucas em Atos 9.7 de que eles ouviram um som, mas não compreenderam as palavras, At
22.9 parece fazer uma afirmação que contradiz esta, ao dizer não ouviram a voz, entretanto, a estrutura
da língua grega permite compreender que eles ouviram uma voz.
Acontecimentos físicos são utilizados muitas vezes por Deus como símbolos para a
comunicação de verdades espirituais. Quando Saulo se levantou do chão nada podia ver. Talvez a sua
cegueira física simbolizava sua cegueira espiritual. A luz brilhante dos céus podia ter simbolizado a
descida da verdade espiritual. Saulo foi conduzido a Damasco a fim de aguardar os acontecimentos que
teriam lugar em sua nova experiência espiritual. Continuou cego durante três dias, tempo em que
também nada comeu nem bebeu.
FATAD Prof. Jales Barbosa 39
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
Esse período deu-lhe oportunidade de se concentrar durante três dias inteiros, refletindo sobre
a sua dramática experiência. O encontro com Cristo significava uma mudança completa em sua vida e
seus conceitos. Parte de seu zelo poderia ser que fosse motivado pelo seu desejo de se sobressair
como indivíduo. Duras tinham sido, até então, as suas oposições aos cristãos e denúncias, e agora,
era-lhe necessário ter de admitir que ele próprio estivera errado e que eles estavam certos. Ele, que
tinha se insurgido contra a inclusão de gentios no Reino de Deus, tornar-se-ia agora o Apóstolo aos
Gentios.
Lucas faz questão de destacar a reação de Ananias, demonstrando o terror que o nome
"Saulo" provocara entre os cristãos. O Senhor revelara a Ananias, em visão, que ele fosse à casa de
Judas e impusesse as mãos em Saulo, a fim de que este recobrasse a vista. Mesmo estando Saulo
orando, Ananias, que conhecia a sua fama, estava temeroso de se aproximar dele. Talvez ele temesse
que aquela atitude fosse uma cilada, pois que sabia que Saulo tinha vindo com documentos expedidos
pelo Sumo Sacerdote, dando-lhe autoridade para extraditar aqueles que se chamassem pelo nome de
Cristo. Somente depois que o Senhor lhe revelou que Saulo era um vaso escolhido por Ele para levar o
evangelho aos gentios, é que Ananias se acalmou e aceitou a incumbência de ir até lá. Aquele que
tinha causado tanto sofrimento aos cristãos estava agora pronto a sofrer por Cristo.
Ananias se dirigiu para a casa indicada e impôs suas mãos sobre Saulo, chamando-o de
"irmão". O Senhor Jesus atua através de seus servos quando estes se colocam à sua disposição para
servirem como vasos. Pelo ato da imposição das mãos, a visão de Saulo foi restaurada e ele foi cheio
do Espírito Santo (v. 17). A restauração de sua visão é descrita como algo semelhante a escamas,
caindo-lhe dos olhos. Depois de Saulo ter recobrado a sua visão, ele foi batizado e tomou alimento. O
batismo e a alimentação indicam que Saulo, depois da dramática e profunda experiência pela qual a
sua vida passou, tinha agora aceito a submissão total à vontade de Deus. Ele se agregou·aos
discípulos de Damasco e “imediatamente” começou a proclamar que Jesus é o Filho de Deus. A
experiência da conversão de Saulo é emocionante e encorajadora.
2. Primeiros Dias do Discipulado de Paulo - At 9.19-30
Lucas afirma que Saulo continuou com os discípulos por "alguns dias". Ele não se cansava
de proclamar Jesus como o Filho de Deus. Os que o ouviram na sinagoga estavam atônitos com a
reviravolta ocorrida na doutrina e vida de Saulo. Aquele que destruía os que "se chamavam por esse
nome" agora passou a persuadir a outros que cressem "nesse nome". Os discípulos, a princípio,
estavam um tanto desconfiados; os judeus não cristãos estavam impressionados. Saulo era profundo
conhecedor do Velho Testamento, ele mostrava aos judeus que viviam em Damasco, que Jesus era o
cumprimento das Escrituras Messiânicas.
Lucas não registra o retiro de Saulo na Arábia. É o próprio Saulo que revela ter passado ali um
período de três anos (cf. Gl 1.17-18). É possível que ele estivesse passando aquele tempo ali.
Estudando as escrituras do Velho Testamento. A sua experiência no caminho de Damasco fez com que
ele necessitasse reinterpretar o Velho Testamento e mudar a sua teologia. Ele precisava de algum
tempo para todo esse processo.
Em breve a surpresa dos judeus não crentes se transformou em desejo de matar Saulo. A
trama de sua morte sem apoio de um julgamento seria ilegal. Assim, os que tramavam a sua morte
vigiavam constantemente todas as saídas da cidade, a fim de evitar que ele escapasse às suas mãos.
É bem possível que tivessem planejado matá-lo, em lugar deserto, após segui-lo durante algum tempo
na estrada por onde estivesse viajando, depois de deixar a cidade. Quando o plano foi revelado a
Saulo, os discípulos o ajudaram a fugir, descendo-o num cesto, à noite, por uma abertura no muro da
cidade. A oposição da parte de seus concidadãos. Provavelmente, ajudou Saulo na sua decisão (o que
estava dentro do plano divino) de se voltar para os gentios.
Conforme Gálatas 1.6 e ss, Saulo não retornou imediatamente a Jerusalém, ele passou algum
tempo no Arábia e voltou a Damasco, antes de retornar a Jerusalém. A decepção de Paulo, em relação
com os judeus de Damasco, provavelmente ocorreu depois de seu retorno da Arábia.
Depois de Saulo ter deixado Damasco, ele seguiu para Jerusalém, onde ficou durante quinze
dias com Pedro, quando também viu a Tiago, o irmão do Senhor (cf Gl 1.18 e ss). Quando Saulo
chegou a Jerusalém, os discípulos tiveram medo dele, não crendo que fosse discípulo. Mesmo tendo, já
passados três anos ou mais, eles tinham bem vivas em suas lembranças a sua cruel perseguição e
morte de Estevão. Barnabé, homem de fé e de compreensão, e que, além nisso, se caracterizava pelo
interesse que demonstrava para com os outros, foi quem trouxe Saulo perante os apóstolos,
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
assegurando-lhes que ele experimentara uma conversão genuína. Embora quase completamente
desconhecido. Por falta de maiores informações Barnabé foi uma das grandes figuras do cristianismo
primitivo, ele estendeu sua mão a viúvas necessitadas, a um Saulo suspeito e a um João Marcos
rejeitado. As poucas referências a ele no livro de Atos são o suficiente para indicar que era um dos
líderes cristãos mais amadurecidos de seus dias.
O zelo de Paulo por Cristo muito cedo o levou a se envolver em argumentação com os judeus
helenistas em Jerusalém. Não se sabe ao certo quais as razões que o levaram a se opor a Saulo, visto
que tinham visão mais aberta em relação aos gentios. É possível que fosse ainda uma lembrança
íntima, quase inconsciente daquilo que Saulo praticara na sua perseguição a eles. Talvez até alguns
helenistas não cristãos tivessem sido atingidos também por aquela perseguição, E assim o esforço de
Saulo para trazer esses helenistas judeus a Cristo foram prejudicados pelo contínuo desejo, da parte
deles, de uma vingança.
Alguns dos irmãos em Jerusalém tendo ouvido a respeito da que estava sendo preparada
pelos judeus levaram Saulo até o porto de Cesárea, onde embarcou em um navio para Tarso. Contudo
não quiseram se identificar com ele, a fim de que não acontecesse de atraírem sobre si os resultados
da animosidade dos helenistas irritados.
3. Um Sumário da Expansão da Igreja na Palestina - At 9. 31-43
Depois de Lucas ter apresentado o Apóstolo, que seria enviado aos gentios, e ter narrado a
sua experiência com Cristo, volta ao assunto da expansão da igreja na Judéia, Galiléia e Samaria. Após
a conversão de Saulo, a igreja desfrutava de paz e continuava a crescer. Um exemplo de sua
prosperidade é o ministério de Pedro em Lida. Um homem chamado Enéas, que estivera acamado
durante oito anos foi curado. O milagre resultou em que muitos se voltassem para o Senhor.
Tabita (Dorcas, em grego), outra discípula fiel, adoeceu e morreu. Era uma crente
amadurecida, muito apreciada por sua gentileza e interesse pelos outros. As notícias dos milagres
operados através de Pedro em Lida chegaram também a Jope; então, os cristãos enviaram dois
representantes para convidar Pedro a ir imediatamente a Jope. Depois de Pedro ter sido atendido no
seu pedido de todos se retirarem do quarto em que jazia o corpo de Dorcas, ele orou para que a vida
fosse restabelecida àquele corpo, e a seguir disse: “Tabita, levanta-te”. Quando se espalhou por toda a
Jope a notícia da sua ressurreição, muitos creram no Senhor. Pedro continuou ainda durante algum
tempo em Jope, residindo com um certo curtidor chamado Simão.
4. A Conversão do Cornélio - At 10.1-48
4.1 A visão do Cornélio - At 10.1-8
Cornélio era um centurião romano, dedicado estudioso do judaísmo. Era um homem temente a
Deus, mas não um prosélito, visto que não tinha sido circuncidado e batizado (cf. 11.3). Um centurião
era comandante de 100 soldados pertencentes a uma coorte, por sua vez, era a décima parte de uma
legião Romana. Cornélio residia em Cesáreia, Quartel-General do Procurador de Samaria, Judéia e
Iduméia. Cesáreia já tinha sido uma grande cidade e em algum tempo foi chamada de Torre de Strabo.
A cidade fora reconstruída cerca de 12 a.C., por Herodes, o Grande, que lhe deu o nome em honra a
César Augusto. Era habitada por uma população mista de gentios e judeus.
Lucas descreve o gentio Cornélio com palavras elogiosas. Ele o apresenta como 1) um homem
devoto, 2) que temia a Deus, com toda a sua casa, 3) que dava muitas esmolas ao povo judeu. e 4) que
de contínuo orava a Deus. Embora pertencesse à nação que conquistara e governava o povo judeu,
caracterizava-se por respeitar esse povo.
Às três horas, a hora da oração, certa tarde, Cornélio teve uma visão, na qual um anjo de Deus
lhe dizia que as suas orações e feitos caridosos não passaram desapercebidos diante de Deus. Esses
atos de piedade, embora não lhe assegurassem a salvação, revelavam, entretanto, que estava disposto
a servir ao Senhor. Assim é que, ele foi instruído a enviar mensageiros a Jope, para buscarem a Pedro,
que iria lhe dizer o que fazer para ser salvo. Então Cornélio enviou dois de seus criados, provavelmente
jovens judeus, com Simão, o curtidor.
4.2. A visão de Pedro (vv. 9-22)
Enquanto os três homens se dirigiam a Jope, Pedro subiu, à tarde, ao terraço da casa em
que estava, a fim de orar. Lucas mostra que, às vezes, as visões estão relacionadas com desejos
naturais. Pedro estava com fome, e enquanto aguardava a hora da refeição teve visão. Nela, ele viu um
grande lençol com animais quadrúpedes, répteis e aves, descendo dos céus. Pedro recebeu a ordem
de matar e comer. Como bom judeu, ele recusou porque eram animais considerados imundos, e
comuns. A ordem foi dada uma segunda e terceira vez Depois a mesma voz disse o Pedro, "Não
considere imundo ou comum o que Deus purificou" (v. 15). A seguir o lençol foi recolhido ao céu.
A Lei judaica proibia comer carne de animais que:
1) ruminam, mas não tem unhas fendidas (Lv 11.4);
2) não tem barbatanas nem escamas (Lv 11.10);
3) se alimentam de lixo ou carne putrefata, como o abutre (Lv 11.13 e ss) ,
4) rastejam ou, são répteis (Lv 11.20-29);
5) são plantígrados entre os quadrúpedes (Lv. 11.27);
6) tiverem morrido de morte natural (Lv 11.39 e ss.).
A lei não proibia comer insetos, tais como gafanhotos e grilos, Pedro estava se apoiando na lei
judaica, quando se recusou a matar e comer os animais que havia no lençol. O propósito dessa visão
especial era mostrar a Pedro que não deveria ser considerado comum ou imundo tudo quanto Deus
criou, essa visão trazia o ensino especial de que a igreja cristã não estava mais sob o domínio da lei
judaica, a respeito de carne comum ou imunda.
A visão também se aplicava à relação entre judeus gentios. Os gentios tanto quanto os
judeus foram criados por Deus, e estes não os deveriam considerar comuns ou imundos. A igreja não
deveria manter os gentios fora de sua comunhão, à base do exclusivismo judaico. A visão foi manifesta
a Pedro com a finalidade de prepará-lo para a chegada dos criados de Cornélio. Fosse um gentio, Deus
o escolhera para a salvação. Havia necessidade de uma revelação especial a Pedro para que este
aceitasse a idéia de que gentio podia ter acesso à igreja cristã. A tradição judaica deixou quase que
totalmente fora do templo os gentios. Os gentios prosélitos circuncidados podiam ter acesso apenas ao
átrio externo do templo, mas não podiam se aproximar de Deus da mesma forma que um judeu, que
tinha direito ao acesso do átrio mais interior. A visão especial tinha por fim derrubar, dentro do coração
de Pedro, o muro que separava os judeus dos gentios. Os judeus não deveriam se considerar
superiores aos gentios dentro da igreja cristã.
Pedro não pôde compreender o significado da visão até o momento em que atendeu aos três
mensageiros de Cornélio à porta. Eles lhe contaram a respeito de sua missão e de como o anjo
orientara a Cornélio, para enviá-los. A narrativa da visão de Cornélio, e o convite para visitá-lo em sua
casa fez com que Pedro pudesse compreender o real significado da visão e também de expressão de
Jesus, quando disse que: "Nada há, fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar" (Mc 7.15),
de Jesus queria significar que todos os alimentos são por ele limpos (Mc 7.19).
4.3. Pedro testifica a Cornélio (vv. 23-48)
Pedro foi com os criados de Cornélio. Fez-se acompanhar de “irmãos de Jope". Sem a visão
especial da parte do Senhor, Pedro seguramente teria mantido a sua posição exclusivamente judaica e
não teria ido até Cornélio.
O profundo desejo de Cornélio, de receber a visita de Pedro é evidenciado pelos preparativos
que fez para a sua recepção. Ele se desobrigou de outros compromissos por quatro dias e convidou
todos os seus parentes e amigos mais achegados para que estivessem presentes quando Pedro
chegasse. A hesitação de Pedro é extraordinariamente contrastante com a atitude de expectativa de
Cornélio. Quando Pedro entrou na casa, Cornélio caiu a seus pés e o adorou.
Esse gesto da parte de um romano para com um judeu não era absolutamente comum. Pedro
"o ergueu", afirmando que ele também era apenas um homem. A visão que Pedro tivera em Jope teve o
seu significado ainda mais realçado quando, adentrando a casa, viu a grande reunião de gentios. Ele
teve o cuidado de explicar que não era permitido um judeu associar-se com estrangeiros, especialmente
entrar em suas casas; contudo. Deus tinha mostrado a ele, de maneira especialíssima, que ninguém
tem o direito de considerar a outrem comum ou impuro. Pedro sabia que, ao adentrar a casa de um
gentio, estava se expondo a severas críticas por parte de outros irmãos judeus (cf 11.2 e ss.). Mesmo
tendo a consciência de que estava agindo em conformidade com a orientação divina, sabia que não
seria fácil para ele, enfrentar face a face os seus irmãos judeus. Antes de fazermos um julgamento de
Pedro nessa circunstância convém que nos coloquemos em seu lugar e imaginemos como seria se
tivéssemos de quebrar os nossos próprios costumes e práticas nacionais e aceitar os dos estrangeiros,
para poder ajudá-los, especialmente em se tratando de elementos que pertencessem à nação que
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
Velho Testamento.
No Velho Testamento a relação com Deus estava expressa no Concerto. Aqueles que
adentravam a comunhão com Deus deveriam demonstrar a sua aceitação do Concerto, simbolizada na
circuncisão. Infelizmente, os judeus cristãos ainda não tinham se familiarizado com a idéia de que o
Novo Concerto teria também um novo símbolo. A Igreja teria de resolver o problema de como os
cristãos haveriam de demonstrar a sua relação com Jesus através de Cristo. Deveria o Novo Concerto
continuar a ser simbolizado pela circuncisão?
O orgulho também estava presente no fato desse requerer a circuncisão dos gentios. Mesmo
sendo o povo judeu dominado pelos romanos, considerava a sua nação superior a destes, por causa da
eleição divina. Eles confundiam eleição como honra, com eleição como serviço. Estrangeiros que
desejassem cultuar o Deus que se revelou por meio de Israel teria de se submeter aos rituais que o
identificassem coma nação judaica. O conceito de ingresso na religião e cidadania judaica pode ser
compreendido melhor quando se leva em conta a teologia rabínica, na qual agradar a Deus significava
simplesmente guardar a Lei, idéia essa que conduziria fatalmente à esperança de um messias político.
Pedro foi convocado a dar contas de sua associação com os incircuncisos. Então ele contou a
sua visão em Jope. Destacando as palavras da voz dos céus, “o que Deus purificou, não chames de
imundo" (v. 9). Continuou narrando que, quando chegaram a Jope os três homens de Cesaréia, "o
Espírito disse-me que os acompanhasse sem constrangimento" (v.12). E ele acrescentou que,
prudentemente levou mais seis judeus cristãos consigo, a fim de que acompanhassem pessoalmente os
acontecimentos relativos à conversão dos gentios. A visão de Cornélio acrescentou mais uma evidência
de que a atuação de Pedro coincidia exatamente com a vontade de Deus. E ainda, depois de o Espírito
Santo vir sobre os gentios, exatamente como acontecera com os judeus no Pentecostes, quem poderia
duvidar dos caminhos de Deus? O orgulho e o preconceito certamente levaram os judeus cristãos
primeiro a lamentar que Deus tenha dado também aos gentios a oportunidade do arrependimento e do
acesso à vida" (v. 18).
Com as experiências de Filipe e de Pedro, o evangelho tornou-se suficientemente livre para
incluir no seio da igreja os gentios tementes a Deus. Começara a batalha para a liberação completa e a
remoção do muro da separação entre judeus e gentios.
As portas da Igreja foram abertas apenas o suficiente para receber certos gentios, os mais
selecionados. Somente tementes a Deus que, tendo aceito o judaísmo, não tinham sido ainda
circuncidados, poderiam adentrar a Igreja. Certa cegueira causada pelo preconceito impediu os judeus
de convidar os gentios a participarem da igreja até a ocasião da manifestação especial da aprovação de
Deus ocorrida em Cesaréia. Cornélio e sua família foram revestidos pelo Espírito Santo, com a dádiva
de línguas, a fim de demonstrar aos cristãos judeus que esses gentios tinham também sido aprovados
por Deus como cidadãos do Reino.
Em Jerusalém, e aceitação do evangelho, que, a princípio, acontecia em ritmo acelerado,
começava agora a diminuir de intensidade. A perseguição fez com que os cristãos se espalhassem, e,
por onde quer que fossem, pregavam a Palavra. Consta na parte final do Livro de Atos, que Jerusalém
já não era mais o centro cristão de maior influência e crescimento. Enquanto os apóstolos lideravam
diretamente igreja em Jerusalém, ela ocupava posição de primazia e destaque, inclusive nas decisões a
respeito de questões doutrinárias, mas, com o decorrer do tempo, mesmo numericamente, os centros
de crescimento se deslocaram para outras áreas.
Os cristãos continuaram a lutar com o problema da relação do cristianismo com o judaísmo. De
vez que o cristianismo surgiu no seio da religião judaica, apresentava-se a seguinte indagação: Haveria
o cristianismo de reformar o judaísmo, ou seria melhor separar-se dele? São os seguintes os Fatores
importantes que criaram tensões entre os líderes judaicos e cristãos:
1) A aceitação da messianidade de Cristo e o nascimento espiritual para a entrada no Reino;
2) A atitude em relação à entrada de elementos não judeus para a entrada no Reino;
3) O senso de responsabilidade quanto à ordem de levar o evangelho aos gentios.
Por causa de seu passado judaico, os primitivos judeus cristãos não puderam concordar
plenamente com as realidades contidas nestes fatores. E assim, eles convocaram uma reunião
especial, da Igreja em Jerusalém, a fim de discutir sobre esses, assuntos, tendo sido essa a ocasião em
que se verificou que muitos gentios haveriam de nascer para o Reino e haveriam de solicitar a sua
entrada para a Igreja.
1. Conversões Gentias em Antioquia - At 11.19-30
Como o evangelho foi levado a Antioquia. Lucas registra que Pedro reconheceu, na ocasião da
experiência da conversão de Cornélio, que a vinda do Espírito Santo sobre os gentios significava que
Deus os incluíra no plano da salvação. Desde que nasceram para o Reino de também não poderiam ser
impedidos de manifestarem publicamente, pelo batismo em nome de Jesus Cristo, a sua identificação
como os demais cristãos. Lembramos que o início da pregação aos gentios deu-se pela pregação de
Filipe, um dos sete. A Igreja agora estava disposta a reconhecer a realidade da salvação dos gentios,
depois da experiência de Pedro na casa de Cornélio. Mas, mesmo assim, a Igreja considerou
inicialmente o caso de Cornélio como uma exceção, em vez de considerá-lo como um plano divino para
com os gentios.
Deus tem condições de manifestar a sua vontade mesmo por meto de experiências
aparentemente negativas ou desagradáveis. Quando a perseguição que se levantou nos dias da morte
de Estevão espalhou os discípulos de Jerusalém. Alguns atravessaram a Fenícia e chegaram até
Antioquia. Lucas mostra como a pregação em Antioquia estava intimamente ligada à de Estevão. Os
refugiados procuravam inicialmente as comunidades judaicas a fim de compartilhar com elas a sua a
sua fé. Homens de Cirene, no norte da África, estiveram presentes no dia de Pentecostes e ouviram o
evangelho. Alguns dos cristãos foram a Chipre, como resultado da perseguição.
Tudo parece indicar que entre os acontecimentos relatados pelos versos 19 a 20 há um espaço
de tempo de vários anos. Imediatamente após a morte de Estevão, o evangelho ainda continuava a ser
pregado apenas entre os judeus. Alguns anos mais tarde. Cristãos de Chipre, No Mediterrâneo, e de
Cirene, no norte da África, homens de Deus, sobre os quais Estevão exerceu grande influência,
transferiu-se para Antioquia, na Síria. Estes testemunharam aos gentios. A pregação aos gregos, em
Antioquia, parece ter sido após a conversão do eunuco e de Cornélio.
1.1. A visita de Barnabé a Antioquia (w. 22-24)
A igreja em Jerusalém ainda não estava inteiramente convicta de que Deus aceitara em seu
Reino os gentios. Então enviaram um mensageiro, Barnabé, para constatar se era verdadeira a notícia
de que um grande número de gentios estava se convertendo ao Senhor. O fato de a igreja escolher
Barnabé como seu representante indica ter sido ele um homem maduro e digno de confiança.
Lucas destaca novamente, que Barnabé era homem de fé, o qual estava totalmente disposto a
acatar o plano divino. Quando ele constatou que a Graça Divina se estendia aos gentios, sua alma se
encheu do júbilo e encorajou os irmãos a prosseguirem nessa tarefa.
1.2. A ação educativa de Paulo em Antioquia (vv 25-26)
Tantos foram os que se converteram ao Senhor, que se tornou necessário um maior auxílio na
tarefa da instrução dos novos convertidos. E assim é que Barnabé partiu para Tarso, em busca do
Saulo. Ambos voltaram a Antioquia e instruíram o povo recém-convertido durante um ano inteiro. Os
gentios convertidos necessitavam de conhecimento do Velho Testamento.
Foi ali em Antioquia que pela primeira vez os discípulos foram chamados de "cristãos", e isto
pelos de fora da igreja. A palavra "cristão" era composta de duas partes, a primeira era aquela que
continha a idéia messiânica hebraica, e a segunda, o sufixo latino que indicava "adepto". Os cristãos
eram, pois, os "adeptos do Messias".
1.3. Atitude cristã diante de um período de fome (w. 27-30)
Ágabo e outros profetas vieram de Jerusalém a Antioquia, anunciando que um período de fome
haveria de sobrevir a todo o mundo. Lucas observa que isto aconteceu realmente no tempo do
imperador Cláudio (41-54 a.D.) Os historiadores romanos, Suetônio e Tácito, também afirmam que esse
período de fome ocorreu durante o reinado de Cláudio. Josefo, historiador judaico, afirma que um
período de fome ocorreu em Jerusalém cerca dos anos 44 a 48 a.D. A menos que Lucas não tenha
situado o capítulo 12 cronologicamente, o período a que Ágabo se refere deve ter ocorrido antes da
morte de Herodes em 44 a.D.
Os novos cristãos gentios expressaram a genuinidade de sua fé enviando uma contribuição
para aliviar as necessidades de seus irmãos na Judéia. Os cristãos em Jerusalém foram atingidos mais
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
seriamente pela fome, em virtude da discriminação econômica por parte dos judeus não cristãos. O
propósito do envio da oferta poderá ter sido duplo:
1) Uma de amor para com os necessitados;
2) Uma tentativa de diminuir a tensão entre os irmãos judeus eles próprios.
Saulo e Barnabé eram os representantes naturais para levarem a contribuição Judéia. Eles
eram judeus; destarte, seriam recebidos pelos irmãos da igreja em Jerusalém. Barnabé era muito
respeitado pelos cristãos de Jerusalém.
Ambos eram tidos em alta conta pelos cristãos gentios e judeus em Antioquia. Eles levaram a
oferta aos anciãos eram os homens maduros das sinagogas, que nelas serviam como líderes. A palavra
é usada alternadamente com a palavra "bispo" nas Epístolas pastorais (cf. Tt 1.5 e 7). Também é usada
como sinônimo de pastor e bispo em At 20.17-78.
2. Nova Perseguição na Judéia - At 12.1-25
A esta altura, Lucas retorna à história da igreja em Jerusalém. A breve introdução à história da
igreja em Antioquia denota que foi naquela oportunidade, dentro da expansão da Igreja Primitiva, que o
ponto-chave do processo se transferiu de Jerusalém para Antioquia.
2.1. A Perseguição de Herodes (vv.1-5)
Os doze tinham sido presos ao tempo da morte de Estevão, mas não foram condenados à
morte. Depois de um período de tranqüilidade, um terceiro movimento de perseguição contra a Igreja foi
levado a efeito por Herodes. Por causa de seus antepassados, os Herodes nunca se tomaram
benquistos pelos judeus. Herodes Agripa era o neto de Herodes, o grande Aristóbulo, pai de Herodes
Agripa, foi executado em 7 A.C por seu próprio pai, Herodes, o Grande. Desde que Herodes Agripa se
tornara amigo pessoal do Imperador Calígula 37-47. a.D., em Roma, este o transformou em rei da
Tetrarquia de Filipos e mais tarde da Galiléia e Peréia. A Judéia e Samaria foram acrescentadas ao seu
reino quando ele ajudou Cláudio (41-54 a.D.), a se tomar imperador romano, mediante a aprovação do
Senado. A fim de conquistar a simpatia dos judeus, Herodes utilizou-se da situação conflitante entre
judeus e cristãos para seu proveito. Então mandou executar Tiago e aprisionou Pedro.
A ação de Herodes e a reação dos judeus mostram que os cristãos tinham caído em situação
de desagrado diante dos judeus não cristãos em Jerusalém. Talvez por se ter espalhado entre eles a
notícia de que Pedro entrara na casa de um gentio, Herodes também decapitou Tiago, o irmão de João
e filho de Zebedeu. Pedro foi detido e preso durante a festa dos pães amos. A Páscoa e a festa dos
pães asmos são considerados como uma só festa. Naquela época, os sete dias de pães asmos
sucediam à páscoa, mas Lucas se refere aos oito dias como sendo de celebração da Páscoa. Agripa
tinha o cuidado de não violar os costumes dos judeus, assim, ele adiou a execução de Pedro para
depois da Páscoa.
2.2. A maravilhosa libertação de Pedro (vv 6-16)
A Igreja cria no poder da oração intercessória. Os cristãos criam que Deus tinha o poder para
tirar Pedro da prisão. As suas orações “foram ouvidas”. Pedro foi liberto a despeito do esquema do
segurança montado pelos soldados que o guardavam, cumprindo as quatro escalas de três horas cada
uma durante a noite. Pedro estava atado e dormindo tranqüilamente, quando o anjo apareceu na cela e
o instruiu a levantar-se rapidamente, Lucas inclui na narrativa o toque físico no lado de Pedro para
acordá-lo, a fim de suscitar a sua coragem e fé. Pedro estava dormindo tranqüilamente na noite que
precedia o dia de sua execução.
As correntes que prendiam Pedro aos dois soldados caíram, e ele seguiu o anjo através das
portas, para fora da prisão. Lucas registra que a Porta de ferro que dava para a cidade abriu-se por si
mesma. Pedro ao se encontrar na rua, o anjo o deixou.
O profundo sono em que Pedro caíra e os acontecimentos rápidos e impressionantes de sua
libertação deixaram-no aturdidos. Depois de se convencer de que não estava sonhando, ele
reconheceu que o Senhor o livrara da execução de Herodes. A seguir ele foi à casa de Maria, a mãe de
João Marcos, onde a igreja estava reunida em oração. A princípio, os discípulos ainda participavam dos
cultos e demais atividades religiosas no templo, e nas sinagogas, mas também mantinham encontro nos
lares para estudo, oração e comunhão fraterna quando os cristãos se separaram dos costumes e do
culto judaico. A casa de Maria seria, provavelmente, o lugar dos encontros regulares da comunidade
cristã primitiva. Poderá ter sido o lugar em que Jesus celebrou a ultima ceia, com os seus discípulos, e
mais razoável pensar-se que a ligação seja com a "igreja" no verso 1. Não é muito provável que os três
profetas e mestres ordenassem para um novo ministério os outros dois iguais a eles.
T. P. Smith sugere que a imposição das mãos não devesse ser considerada como ordenação
ao ministério, mas, sim, como a bênção da igreja para com aqueles homens indicados para uma nova
tarefa ou função. Ela falha por não explicar a diferença entre ordenação e indicação de homens para
funções ou tarefas específicas. A ordenação inclui as bênçãos da igreja e a garantia de sustento
aqueles chamados a um ministério especial. A imposição de mãos nas cerimônias judaicas simbolizava
a transferência de pecados do adorador arrependido para o animal que havia de ser sacrificado. A
ordenação, neste caso, simbolizava a comunicação da vida no Espírito Santo, feita pela igreja como um
corpo, por intermédio dos membros a quem estava ordenando. Na vida e ministério de Barnabé e
Saulo, desta forma, toda a igreja está representada. O Espírito Santo, atuando através da igreja e da
vida individual de seus membros, proporciona a participação de todo o corpo no ministério de cada um
dos seus membros. F.F. Bruce, mostra que não foi o ato da ordenação ou imposição das mãos que
qualificou a Barnabé a Saulo para a obra a que Deus os chamara; mas, por esse meio, a igreja toda
expressou a sua participação com os dois, no reconhecimento de sua divina chamada.
3.3. A missão em Chipre (vv 4-12)
Depois sob a liderança do Espírito Santo, liberaram a Barnabé e Saulo de suas
responsabilidades em Antioquia, eles navegaram para Chipre. Embarcaram em um porto marítimo
distante de Antioquia cerca de 25 quilômetros, e viajaram por mar, aproximadamente, 200 quilômetros.
Chegando a Salamina. Começaram a pregar nas sinagogas dos judeus. João Marcos os acompanhou e
é apresentado por Lucas como o huperetes dos missionários, que significa “ministro". A palavra era
usada pelos judeus para designar a pessoa que, na escola da sinagoga dava instruções sobre as
Escrituras. A tarefa de João Marcos parece ter sido a de apresentar, aos novos convertidos, os ensinos
e atividades de Jesus. Uma vez que o Novo Testamento só poderia ser produzido em manuscrito, e o
material a ser usado era muito dispendioso, os escritos contendo o registro dos ditos e atividades de
Jesus não seriam fáceis de serem interpretados. Possivelmente Marcos ajudasse aos povos crentes a
memorizarem as mais importantes afirmações de Jesus.
Embora Lucas não mencione especificamente nenhum grupo de cristãos, é bem possível que
houvesse alguns na ilha quando Barnabé e Saulo ali chegaram. Lucas afirma, em 11.9, que alguns dos
refugiados pregaram na ilha. Talvez Barnabé tivesse um desejo especial de ir a Chipre, em virtude de
ter nascido ali.
Parece que, se havia cristãos em Chipre, estariam somente entre os judeus. Barnabé e Saulo
certamente desejariam compartilhar o ponto de vista da igreja em Antioquia a respeito do recebimento
de gentios. Depois de Barnabé e Saulo terem viajando mais ou menos 60 quilômetros, atravessando a
ilha e chegando Pafos, a capital, encontraram o Procônsul romano Sérgio Paulo, que os convidou para
falarem do evangelho. Imediatamente, Bar-Jesus, o guia espiritual de Sérgio Paulo, se opôs a isto. Bar-
Jesus Significa "Filho de Jesus". Lucas o descreve como um judeu mágico e falso profeta. Ele se opôs,
temia perder a sua posição, junto ao Procônsul. Ele tentou desacreditar perante o Procônsul a
mensagem de Barnabé e Saulo, desviando-o assim da fé. O Espírito Santo dirigira a ida de Saulo e
Barnabé a Chipre, e a Sua presença foi o suficiente para atender às necessidades do momento. E
então, Saulo, cheio do Espírito Santo, disse: “ó filho do Diabo”, cheio de todo o engano e toda a malícia,
inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os caminhos retos do Senhor?" (v. 10 - IBB). O
falso profeta ficara cego. O incidente lembra a experiência de Saulo no caminho de Damasco.
Lucas afirma que Sérgio Paulo creu, mas nada se sabe a respeito de sua real conversão.
Depois de o seu orientador espiritual ter ficado cego, pela ação do Senhor, ele não podia negar que
Barnabé e Saulo possuíam um poder espiritual superior.
COMPLETE AS LACUNAS
1. A conversão de Saulo marca um significativo ponto de mudnça na igreja primitiva. O Evangelho não
mais estava limitado aos ____________________________________
3. Mencione quatro coisas que Saulo fez depois de restabelecida sua visão.
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___________________________________________________________________________________
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6. Porque foi necessária a manifestação do Espírito Santo por meio de línguas, após a mensagem de
Pedro a Cornélio?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
7. Apresente as duas provas que Pedro deu para convencer os cristãos de Jerusalém que Deus
aceitara os gentios.
a)_________________________________________________________________________________
b)_______________________________________________________________________________
A viagem de Paulo e Barnabé a Chipre e Ásia Menor marca o início de nova fase na da Igreja
Primitiva. A princípio, o evangelho foi apresentado primeiro aos judeus, e os cristãos permaneciam
ligados à sinagoga. Paralelamente, eles se reuniam nos lares para a instrução e fraternidade cristãs.
Paulo e Barnabé continuaram a usar a estratégia de participar dos cultos na sinagoga todas as vezes
que adentravam em nova cidade, mas a pressão opositora da parte dos Judeus, iria forçá-los a deixar a
sinagoga e partir para o contato com os gentios.
A princípio poderá parecer surpreendente que os judeus, espalhados pelo mundo gentílico,
cultivassem tão ferrenho nacionalismo e discriminação racial. O seu envolvimento requeria que
estivessem em constante contato com gentios. Entretanto, muito de sua discriminação era decorrente
do tratamento que recebiam dos gentios. Os orgulhosos romanos gostavam de humilhar os povos
através de atitudes de superioridade e arrogância. Assim, a identidade e dignidade judaicas
encontraram um refúgio na sinagoga. Quando este seu último refugio começou a ser ameaçado com o
desejo dos cristãos de agregar os gentios à igreja, muitos reagiram violentamente. Política e
socialmente, os judeus tinham de submeter-se aos romanos; entretanto, eles tentavam manter a sua
superioridade religiosa, a qual se concentrava nas sinagogas. Mesmo os gentios que se submetessem
aos costumes e ritos judaicos não recebiam nas sinagogas tratamento idêntico ao dos judeus. Paulo,
como cristão, advogava a igualdade entre judeus e gentios e não requeria dos gentios, aceitarem os
costumes judaicos. Muitos judeus se opuseram tenazmente à sua pregação, que forçou o cristianismo a
abandonar as sinagogas.
1. O Retorno de João Marcos de Perge na Panfília - At 13.13
Paulo, Barnabé e João Marcos, deixando Pafos, localizada no extremo oeste de Chipre,
navegaram para a província da Panfília. Ali, da cidade portuária de nome Atália, viajaram para Perge,
que distava daquela cerca de 9 km, rumo ao interior.
Desde que o nome de Paulo agora aparece primeiro, tudo indicar que se tomara o líder da
equipe. Marcos abandonou o grupo e retomou a Jerusalém. A razão que o levou a essa atitude tem
dado margem a muitas conjecturas. Seria, porventura, o fato de que Paulo, tomando-se líder do grupo,
suplantara a Barnabé, primo de João Marcos? Teria Paulo, quem sabe, uma atitude de domínio, e João
Marcos preferiria a sua liberdade, assim como gostaria de tomar as suas próprias decisões? Seria João
Marcos contrário à posição extrema, adotada por Paulo, em relação aos gentios? Sentir-se-ia infeliz
com a tarefa a ele delegada, ou teria ficado doente? De qualquer modo, a razão que o levou a
abandonar o grupo deve estar envolvida com algum desacerto com Paulo ou com a tarefa a ele
confiada, uma vez que Paulo se recusou terminantemente a aceitá-lo como companheiro na segunda
viagem missionária (cf. At 15.38 e ss.).
2. Testemunhando em Antioquia da Pisídia - At 13.14-52
2.1. A viagem a Antioquia (v. 14)
O percurso dos 150 km, de Perge, para o norte, a Antioquia uma cidade a 1.200m acima do
nível do mar era perigoso e difícil. A jornada os conduziu através do terreno acidentado da Cordilheira
de Taurus. A região era sujeita a freqüentes enchentes conquanto a região fosse parte da província
romana da Galácia, os soldados não tinham ainda conseguido eliminar os salteadores, que assaltavam
a qualquer viajante que a atravessasse.
Se a Carta de Paulo aos Gálatas se destinou às igrejas do sul da Galácia, então a informação
contida em Gl 4.13 e ss. dizia respeito à sua visita a Antioquia, nessa primeira viagem missionária. Gl
4.13 mostra que Paulo planejara, inicialmente, uma viagem à outra cidade, mas que uma enfermidade o
obrigara a mudar os planos. A referência à "enfermidade na carne" poderia ter significado a dificuldade
que tivera com os seus olhos (cf. Gl 4.15).
Os estudiosos estão divididos entre si, quanto à localização das igrejas às quais a Carta aos
Gálatas foi endereçada. Alguns acham que a carta foi enviada à região norte da Ásia Menor e outros
dizem que foi ao sul, região que incluía Antioquia. A Galácia tomou esse nome em virtude das guerras
dos gauleses, os quais habitavam à parte do interior Ásia Menor e se estendia pelo vale do rio Hales,
próximo ao Mar Negro. Essas tribos bárbaras foram mais tarde conquistadas pelos romanos e
passaram a constituir uma província que ocupava essa região chamada Galácia. Da província original
faziam parte a Frígia, a Pisídia e a Licaônia, na qual estavam localizadas as cidades de Antioquia,
Icônio, Listra e Derbe. A área ocupada primitivamente pelos gauleses é conhecida como "Galácia do
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Norte". A região da “Galácia do Sul” que os romanos incluíram, quando estabeleceram a província.
Antioquia era uma cidade que sofrera forte influência helênica. Os reis Selêucidas plantaram ali
colônias judaicas por razões comerciais, culturais e políticas. Quando lá chegou, Paulo visitou a
sinagoga e foi recebido entusiasticamente pelos judeus liberais.
2.2. Sermão em Antioquia (vv. 15-41)
No primeiro sábado após a sua chegada a Antioquia, Paulo e Barnabé assistiram a reunião na
sinagoga. Como de costume foram lidos textos da Lei e dos Profetas, e então o presidente da sinagoga
convidou os distintos visitantes para fazerem uma interpretação dos textos lidos, e os aplicarem as
necessidades dos que se achavam presentes. Paulo atendeu ao convite e usou a Escritura do Velho
Testamento, para apresentar a Jesus como Salvador. Paulo cria que Jesus Cristo era a consumação do
judaísmo, uma vez que o Velho Testamento anunciava a sua vinda.
Descendente de Davi (vv 16-23). O auditório de Paulo certamente estava familiarizado com a
história do Velho Testamento. Tanto judeus quanto gentios tementes a Deus se achavam presentes (v.
16). Paulo apresentou um panorama da história de Israel, procurando exaltar a realidade da promessa
feita a Davi, no sentido de que o seu trono permanecia estabelecido em seu "descendente". Paulo não
acentuou o papel político-militar do Messias, libertando a Israel de seus inimigos, entretanto, deu ênfase
ao fato de que, em sua tarefa de Libertador e Salvador, ele estabelecia a justiça. Davi tinha se
notabilizado por suas vitórias militares e por sua lealdade a Jeová, era um homem segundo o coração
de Deus “.
Paulo demonstrou que o plano de Deus não deixou de ser cumprido, a despeito da rebelião de
Israel. Deus elegera a Israel com propósitos bem definidos: cultuá-lo, viver de maneira justa em sua
presença e ser uma bênção para as nações do mundo. Deus merecia o culto e a obediência por parte
do povo, em virtude de tê-lo arrancado da escravidão do Egito. Apesar de sua rebelião no deserto,
Jeová não o abandonou. E ainda, assim mesmo, deu-lhes a terra de Canaã, cumprindo, desta forma, a
promessa feita a Abraão. Depois de possuir a terra o povo necessitava de um líder. Deus providenciou
juízes, que o orientassem na solução de seus problemas sociais, mas Ele mesmo continuava a ser o
seu Rei. Quando o povo pediu um rei, a fim de ser como as demais nações, Samuel se opôs ao pedido,
mas Deus o atendeu, na pessoa de Saul, filho de Quis. Saul, que foi escolhido dentre o povo, mais
tarde teve de ser rejeitado por causa de sua falta de justiça e rebelião.
Deus escolheu a Davi, que adorava tão somente ao Deus único "um homem segundo o meu
coração" e se preocupava em viver retamente, cumprindo a vontade de Deus em sua vida. E então foi
feita a Israel a promessa de que o trono de Davi seria mantido com um descendente seu. Cumprindo
essa promessa, Deus deu a Israel o seu Salvador e Libertador na pessoa de Jesus.
Jesus como Salvador: o tema do sermão (vv. 24-37). O assunto do sermão de Paulo foi: "Jesus
como Salvador”.O esboço de seu sermão é tipicamente apostólico.
1) A vida e ministério de Jesus (v. 24 e ss.)
Os rabinos afirmavam que, se Israel guardasse a Lei de maneira completa, ao menos por um
só dia, Deus enviaria o Messias. Entretanto, a preparação para a sua vinda não consistia na guarda da
lei, mas em arrependimento, que se expressava exteriormente através do batismo. Grande número de
judeus atendeu ao apelo de João; alguns pensaram ser ele próprio o Messias. Então João lhes informou
que ele não era o Messias, mas aquele que tinha por missão preparar o caminho para o Messias. O
sermão de Paulo indica o seu conhecimento do evangelho, o qual possivelmente ele tivesse recebido
de João Marcos, (cf.v.24 e ss), A afirmação de Paulo nesse texto assemelha-se à apresentada em Mc
1.4- 7 e Jo 1.19 e ss..
Paulo apresenta Jesus como um Messias que haveria de trazer liberdade completa ou
estabelecer um reino terreno. Ele deu ênfase ao fato de que Jesus era o Salvador, que daria ao homem
arrependido uma condição de perfeita comunhão com Deus.
2) Jesus e o pleno cumprimento do Velho Testamento (v. 26 e ss)
Os líderes judaicos que viveram em Jerusalém não reconheceram Jesus como o cumprimento
do que foi predito pelos Profetas, cujos textos eles liam cada sábado, por conseguinte, o mataram como
um impostor. Até mesmo a sua ação de condenarem a Jesus foi cumprimento das Escrituras. Paulo não
apresentou quais as escrituras que se cumpriram na rejeição de Jesus. A falha judaica em reconhecer a
Jesus como o ungido de Deus indica a sua cegueira. Isaías falou repetidamente da cegueira de Israel e
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da rejeição do "Servo".
3. A injusta morte e sepultamento de Jesus (v. 28 e ss.)
O sermão de Paulo denota que ele estava bastante familiarizado com o que dizia respeito ao
acontecimento da morte de Jesus.
Jesus tinha sido conduzido perante Pilatos e as acusações contra ele eram infundadas. Os
judeus requereram de Pilatos que executassem Jesus mesmo não tendo Pilatos achado qualquer crime
nele. Pilatos cedeu aos pedidos dos judeus a fim de manter a paz e deu ordens para que fosse
castigado antes de ser morto e depois crucificado (cf. Is 53). Paulo menciona que Jesus foi colocado em
urna sepultura a fim de dar ênfase à certeza de sua morte.
4. Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos (v. 30 e ss.)
A prova mais cabal de que Jesus é o Salvador escolhido por Deus foi a ressurreição, quando
Deus tomou sem efeito a ação maligna dos homens. As muitas aparições de Jesus aos seus discípulos
galileus não deixa dúvidas a realidade da sua ressurreição. Os que testemunharam as suas aparições
após a sua ressurreição tornaram-se testemunhas perante o povo.
Cumprimento da promessa divina (vv.32-37). Paulo deu ênfase ao fato de que Deus cumpriu a
sua promessa feita "a nós", os filhos daqueles pais a quem a promessa foi feita. A promessa foi a de
colocar no trono de Davi, descendente, que ocupasse para sempre a liderança do Reino (cf. 2 Sm 7.13).
Essa promessa foi cumprida em Jesus. A promessa de um trono permanente não poderia ser cumprida
em um ser humano, destinado a morrer e desaparecer. Paulo interpretou a expressão do Sl 2.7 "Tu és
meu Filho, hoje te gerei” , como significando que Jesus é o Filho divino de Deus, que foi gerado por
Deus no ato de ressuscitá-lo dentre os mortos. A promessa de que o descendente do Davi seria
estabelecido em um trono permanente só teria sentido em alguém que não viesse a desaparecer. Paulo
encontrou apoio velho-testamentário no Salmo 16.10, de que o cumprimento da promessa implicava em
ressurreição, "Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção".
O Salmo era interpretado como se referindo a Davi, mas Paulo demonstra não ser correta essa
interpretação, visto que Davi morreu e a sua sepultura prova que o seu corpo desapareceu. O Espírito
de Deus falara profeticamente através do Salmo, referindo-se ao "descendente" de Davi. Paulo, mesmo
não empregando o termo "Reino", falou do Reino Eterno, prometido ao descendente de Davi. E esse
descendente, cujo corpo não viria a desaparecer, é Jesus, ressuscitado dentre os mortos.
A exortação para que o povo cresse, o apelo (vv. 38.41). Paulo deu ênfase à responsabilidade
de Davi e de seus descendentes no sentido de que conduzissem o povo num viver justo perante o
Senhor. A Lei de Moisés não era capaz de livrar o povo de seus pecados e restaurá-lo à comunhão o
seu Pai Celestial, porém Jesus ofereceu o perdão dos pecados, e isto Paulo disse ao povo: "E de todas
as coisas... é justificado todo o que crê" (v. 39 - IBB). Esta afirmação faz parte da doutrina de Paulo, da
justificação ou a justiça pela fé.
Os gentios tinham percebido o porquê da atitude dos judeus. Eles se regozijaram e louvaram a
Deus quando ouviram que a Palavra do Senhor também os incluía. Lucas observa que os propósitos
preestabelecidos por Deus não podem ser impedidos. Os gentios, a quem também se destinava à vida
eterna, atenderam à mensagem de Paulo e creram (v. 48).
O evangelho alcançou, destarte, aqueles que dele se achavam mais afastados, isto é, os
gentios pagãos. Essa reação dos gentios trouxe ao mesmo tempo alegria e tristeza. O fato de os
gentios terem sido incluídos no plano de salvação trouxe regozijo, mas resultou também na auto-
exclusão dos judeus. Estes se recusaram a permanecer num mesmo nível religioso com os gentios.
Lucas observa que a Palavra do Senhor continuou a encontrar plena aceitação em toda aquela
região (v. 49). A receptividade da parte dos gentios pode ser comparada àquela ocorrida por parte dos
judeus no dia de Pentecostes e nos que o seguiram. A inveja dos judeus não ficou só na sua auto-
exclusão. Eles firmaram o propósito de destruir o ministério de Paulo e Barnabé da mesma forma como
Paulo havia tentado destruir a Igreja Primitiva. Os judeus inflamaram os líderes da cidade.
Possivelmente os "Dez Primeiros", que se constituíam numa espécie de junta de magistrados
encarregados de assuntos gerais nas cidades gregas. Eles influenciaram as senhoras da aristocracia
possivelmente unidas à sinagoga (v. 50). Essas deveriam ter certas ligações políticas, mas é possível
que eles tivessem sido acusados de causar distúrbios públicos e depois fossem presos. Após vários
sofrimentos (talvez quarenta açoites menos um, foram expulsos da cidade e área municipal a ela
Paulo utilizou-se da oportunidade para instruir o povo a respeito do Deus vivo (vv. 15-17). Ele
iniciou com a verdade religiosa básica de que existe apenas um único Deus, o qual é o Criador.
Explicou que ele era apenas um mensageiro desse Deus vivo. Que os deuses dos licaônios, Zeus e
Hermes, eram vaidade, isto é tinham existência real. Que esse único Deus não ficou sem testemunhas.
Os seus atos de benevolência, manifestados pelas chuvas do céu e as estações frutíferas, tinham
trazido alimento e alegria a eles. Em tempos idos, esse Deus tinha permitido que as nações seguissem
os seus próprios desejos. Entretanto, tinha o tempo qual, cada nação tinha a responsabilidade de
prestar ao Criador, culto e obediência. Estava errado o procedimento do povo, em oferecer o seu culto e
a sua lealdade a homens ou a ídolos, quando, na verdade, devem ser oferecidos ao Criador.
As notícias a respeito do trabalho dos apóstolos em Listra chegaram a Antioquia e a Icônio.
Judeu ciumentos, que se opunham ao sucesso do evangelho entre os gentios, utilizando-se da natural
volubilidade da massa popular, penetraram entre o povo e persuadiram-no de que os apóstolos
estavam errados (v. 19). As massas populares foram facilmente incitadas a apedrejar os apóstolos.
Como Paulo era o que falava, foi o principal alvo de apedrejamento, sendo a seguir carregado pelos
seus opositores para fora da cidade, e considerado morto (v. 19). Enquanto os discípulos estavam de
pé ao redor do corpo do amado Paulo, talvez planejando o seu sepultamento, ele se levantou, voltando
à cidade (v. 20). No dia seguinte, ele, com o auxílio de Barnabé, foram para Derbe, quase 50 km mais
adiante. Embora Lucas nada comente sobre a afirmação de que os inimigos o consideravam morto, o
fato de poder logo no dia seguinte estar em condições de fazer aquela viagem sugere que o seu
relacionamento foi um milagre operado pelo Senhor.
5. Visitas na volta a Antioquia da Síria (vv 21-28)
Derbe era uma pequenina cidade, onde Paulo e Barnabé pregaram sem que acontecesse algo
que Lucas julgasse necessário registrar. Apenas menciona que em Derbe muitos se tomaram
discípulos, significando assim que uma boa parte da pequena cidade se rendeu a Cristo.
Depois de realizar o trabalho em Derbe, Paulo visitou novamente os novos discípulos de Listra,
icônio e Antioquia (vv 21.23). Uma vez que as igrejas nessas cidades tinham sido estabelecidas havia
pouco tempo, era necessário dar-lhes algumas orientações ainda relativas ao evangelho, a fim de que
fossem solucionados alguns problemas iniciais que pudessem ter surgido, e encorajá-los a enfrentarem
eventuais perseguições. Os novos convertidos necessitavam compreender que o fato de terem
abraçado a fé não lhes asseguraria isenção de perseguições. A entrada para-o Reino era por uma porta
apertada (difícil) e estreita. A idéia de Reino de Deus, que é uma concepção, judaica, raramente era
usada entre os gentios.
Outra razão para tomar a visitar essas igrejas novas era a de constituir presbíteros. As igrejas
necessitavam de certa estruturação, especialmente aquelas que (entre os gentios) eram independentes
das sinagogas. Lucas menciona que "eles indicaram presbíteros em cada igreja" (v. 23 - NASB). A
palavra "indicaram" (ordenaram) originalmente significa "eleição por votação através do método de
levantar as mãos". Essa significação original da palavra bem pode ter sido usado por Lucas neste
sentido afirmando ter acontecido uma eleição formal e democrática. Ao mesmo tempo a seleção parece
ter sido orientada pelos apóstolos. A estruturação da igreja sob a liderança de presbíteros ou anciãos
provavelmente teria sido segundo o modelo da sinagoga judaica. Os presbíteros eram os responsáveis
pela orientação de todas as atividades religiosas da igreja. Depois de os presbíteros terem sido
indicados, a igreja passou algum tempo em oração e jejum. Lucas não menciona a imposição das
mãos. Paulo e Barnabé encomendaram os presbíteros e a igreja toda ao Senhor, antes de
prosseguirem em sua viagem de regresso a Antioquia da Síria.
A viagem de volta de Antioquia da Pisídia para Perge podia ser feita em poucos dias. Assim os
apóstolos utilizaram o seu tempo pregando em Perge, enquanto aguardavam um navio em Atália, o
porto da cidade de Perge (v. 25) Eles retomaram a Antioquia da Síria após um período de ausência de
18 meses ou mais. Eles tinham cumprido a tarefa a qual tinham sido encarregados de realizar. Deram
um relatório de sua missão à igreja que dela participara com eles. Lucas não menciona os perigos nem
a oposição encontrada pelos apóstolos, também dá ênfase a números estatísticos. A abertura da porta
da fé aos gentios era o alvo e o significado da missão (v. 27). Os gentios entraram para o reino por essa
porta da fé em Jesus Cristo, não pela circuncisão ou pela lei. Paulo e Barnabé continuaram a sua
comunhão com a igreja em Antioquia durante um período bem longo.
Embora a porta do Reino já tivesse sido aberta aos gentios, a luta em torno da questão ainda
não havia terminado. Nem todos os cristãos judeus concordavam com Paulo, de que o novo concerto
havia sido estabelecido pela fé, ao invés de o ser pela circuncisão. Alguns cristãos judeus foram da
Judéia a Antioquia e começaram a ensinar aos irmãos que eles precisavam ser circuncidados conforme
o ensino de Moisés para poderem ser salvos. O cristianismo nasceu do judaísmo. Do judaísmo, o que
deveria ser mantido e o que deveria ser rejeitado? Os cristãos mantinham o Velho Testamento, porque
fala a respeito de Cristo, mas rejeitavam muitos os costumes e tradições dos judeus, que não tinham
significado para a fé cristã. Desde que o Velho Testamento fala em circuncisão tanto quanto em
sábado, ambos deveriam ser mantidos pela igreja? A fim de dar soluções a esses problemas, reuniram-
se os líderes das igrejas de Antioquia e Jerusalém, em conferência, sobre o assunto. Os representantes
da conferência incluiriam os apóstolos e presbíteros. A igreja em Antioquia decidiu que Paulo, Barnabé
e certos líderes iriam a Jerusalém, a fim de tratarem da questão, se as tradições e costumes judaicos
deveriam ser mantidos pela igreja, ou não. As iniciativas apresentadas em Atos 15 geraram uma grave
crise para a igreja. A igreja tinha se deparado com problemas de engano, murmurações e simonia.
Agora enfrentava uma controvérsia doutrinária.
Tem sido feito esforços no sentido de harmonizar a visita de Paulo a Jerusalém. Como
apresentada em Atos 15, Como visitas mencionadas em suas epístolas. Tradicionalmente, os
estudiosos têm identificado visita de Paulo a Jerusalém, para a conferência, com a escrita em (Gl 2.1-
10). Alguns estudiosos mais recentes têm, sugerido que a visita mencionada em At 11.30 é que
correspondia à visita de Gl 2.1-10.
A epístola aos Gálatas está relacionada com os judaizantes que perverteram o evangelho de
Cristo, insistindo em que os gentios da Galácia deveriam observar os costumes da religião judaica.
Paulo mostrou que ele também anteriormente tinha sido zeloso com a tradição dos pais, mas quando foi
separado pela graça divina para pregar aos pagãos, ele não consultou carne nem sangue (cf. Gl 1.14 e
ss.). Depois de sua conversão, ele não foi a Jerusalém para receber a doutrina cristã da parte dos
apóstolos, mas à Arábia, e retornou a Damasco (Gl 1.17). Embora Paulo tivesse recebido informação a
respeito dos ensinos e atividades de Jesus da parte de Marcos, a sua compreensão de Cristo lhe
adveio de sua própria reinterpretarão do Velho Testamento, à luz da ressurreição.
1. Três anos após a sua conversão (cerca de 37 A. D).
Paulo passou quinze dias com Pedro. Em Jerusalém (Gl 1.18). Ao que tudo indica, Tiago, o
irmão do Senhor tinha se tornado o líder principal da igreja a essa altura (Gl 1.19). Paulo mencionou
outra visita sua a Jerusalém quatorze anos mais tarde (Gl 2. 1). Barnabé e Tito o acompanharam, e ele
foi "por revelação" (Gl 2.1 e ss.). Durante essa visita, ele discutiu particularmente com Tiago, Pedro e
João a respeito do problema da circuncisão (cf. Gl 2.1 -19). Deve-se notar que Paulo, em sua Carta aos
Gálatas, dá ele próprio a informação de que visitou Jerusalém, a fim de se encontrar com os apóstolos.
Apenas duas vezes, a primeira visita, para uma conferência com Pedro (cerca de 37 a.D.), descrita em
Gl 1.18 e ss. aconteceram vários anos antes de outra, feita com Barnabé, a fim de levar uma oferta por
causa de um período de fome (cerca de 43 a.D. At 11.30). A segunda viagem a Jerusalém para uma
conferência ocorreu quatorze anos depois da primeira (cerca de 48-50 a.D.). Na narrativa de Gálatas,
Paulo não menciona a viagem feita com Barnabé, para levar o auxílio aos pobres por ocasião da fome,
em virtude de não se tratar de viagem feita para conferência com os apóstolos. Ele realmente tinha feito
três viagens a Jerusalém antes do ano 50 a.D., mas somente duas foram para conferenciar com os
apóstolos.
2. A Viagem a Jerusalém (vv 2-4).
Paulo, Barnabé e “alguns outros dentre eles” foram indicados pela igreja em Antioquia, para
irem com seus representantes oficiais à conferência em Jerusalém. Em sua viagem a Jerusalém eles
atravessaram a Fenícia e Samaria. Eles visitaram as igrejas naquelas regiões e lhes contaram a
respeito da conversão dos gentios. O fato de a notícia da conversão dos gentios ter trazido “grande
alegria a todos os irmãos”, favoreceu de um modo especial a posição de Paulo e Barnabé na
conferência.
Quando Paulo e sua comitiva chegaram a Jerusalém, foram calorosamente recebidos pela
liderança da igreja os apóstolos e os presbíteros. Antes da conferência Paulo contou tudo o que Deus
fizera por meio de seu ministério entre os gentios. Esse encontro antes da conferência com os
FATAD Prof. Jales Barbosa 56
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
apóstolos e presbíteros poderá ter sido o mesmo que a comunicação "e lhes expus o evangelho que
prego entre os gentios. Mas em particular aos que eram de destaque, para que de algum modo não
estivesse correndo ou não tivesse corrido em vão" (Gl 2.2 - IBB).
3. A Realização da Conferência (vv. 5-11)
Os fariseus que creram que Jesus era o Messias prestaram muita atenção relato de Paulo e
Barnabé sobre a fé dos gentios (v. 6). Eles reagiram insistindo em que esses gentios deveriam ser
circuncidados e obrigados a guardar a Lei de Moisés. Lucas nada diz a respeito de se esses fariseus
“eram aqueles” que teriam ido a Antioquia e ali tivessem debatido com Paulo e Barnabé. Gl 2.1 afirma
que Paulo levou consigo para Jerusalém a Tito, um gentio não circuncidado. Se Gl 2 se refere à
conferência de Jerusalém, a hostilidade dos fariseus pode ser bem compreendida. A lei da impureza
fazia com que os judeus olhassem os gentios como impuros. Alguns dos crentes que pertenciam ao
grupo dos fariseus manifestaram claramente o seu antagonismo e oposição às práticas de Paulo e
forçaram a realização da conferência.
A conferência teve início com um debate sobre o problema levantado pelos fariseus crentes. O
problema não era mais em torno de "pode um gentio ser salvo?" Todos o admitiam sem dificuldade. O
problema se situava em "o que os gentios precisam fazer para serem salvos?" Todos estavam de
acordo em que tanto os gentios como os judeus precisavam crer no nome de Jesus Cristo e que Jesus
é o Libertador ungido por Deus. A questão que estava causando toda a dificuldade girava em torno da
necessidade ou não de os gentios serem circuncidados e de serem obrigados ou não a guardar a Lei de
Moisés. Poderiam os judeus cristãos se associar aos gentios não circuncidados sem se corromperem?
Deveriam os gentios cristãos permanecer na igreja em posição inferior, como acontecia com os
tementes a Deus na sinagoga?
Os fariseus rigorosos temiam que os gentios não conseguissem manter o elevado padrão
moral do judaísmo. Os seus temores não eram totalmente infundados. O Novo Testamento mostra que
alguns gentios abusaram de sua liberdade a ponto de se tornarem antinomianistas (contra a Lei). Eles
levaram a doutrina cristã da liberdade ao excesso da licenciosidade. O cristão não pode viver sem
alguma lei nem pode prestar o seu culto sem alguma forma, naquela ocasião Paulo não estava
admitindo uma libertação da lei moral do Velho Testamento, se não liberdade em relação aos costumes
cerimoniais e nacionalistas dos judeus. Muitos costumes Tinham surgido, que os fariseus observavam
rigorosamente. Entretanto esses costumes não tinham significado religioso para os gentios. Paulo
considerava a circuncisão e os regulamentos da guarda do sábado como costumes sem significado
para os gentios. As leis contra homicídio, adultério e idolatria eram leis morais e religiosas que
precisavam ser guardadas. A distinção entre costumes sem significação e leis válidas é baseada no
efeito que isto tem sobre o indivíduo em seu relacionamento como seu próximo e com Deus.
O progresso feito na conferência parece ter sido muito pequeno até o momento em que Pedro
se levantou e expôs a sua experiência quanto à conversão de Cornélio. Pedro era tido como um dos
que mantinham uma posição de judeu cristão radical. Entretanto, ele não achava que os gentios
deveriam ser obrigados a aceitar os costumes da sociedade judaica.
1) Pedro não tinha dúvidas de que Deus escolhera também os gentios para a salvação. Uma
vez que ele deu o Espírito Santo a eles "exatamente como o fez conosco" (v. 8).
2) Argumentou no sentido de que os gentios não fossem considerados inferiores na igreja
cristã porque Deus "não fez nenhuma distinção entre nós e ele, purificando os seus corações pela fé"
(v. 9).
3) Pedro considerou ainda que, desde que Deus não colocou "jugo no pescoço" dos gentios,
por que deveria os cristãos judeus impor requisitos judaicos aos gentios que eles próprios não podiam
guardar? (v. 10). E, ao invés de dizer que os gentios são salvos pela fé, do mesmo modo que os judeus,
Pedro usou expressão contrária, dizendo: "Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus,
do mesmo modo que eles também" (v. 11 - IBB). O argumento de Pedro era o de que também os
cristãos judeus eram salvos pela fé e não pela circuncisão ou por guardarem as tradições dos pais.
Os argumentos de Pedro foram decisivos. As evidências por ele apresentadas tomavam claro
que discordar significava opor-se a Deus. Deus fizera conhecer a sua vontade a Pedro por meio de uma
visão especial. O seu preconceito quase o levara ao desejo de rejeitar a revelação que recebera através
da visão, mas ele sabia que não poderia se opor a Deus. A multidão compreendeu a verdade que ele
dissera e "se calou e escutava a Barnabé e a Paulo" (v. 12)
FATAD Prof. Jales Barbosa 57
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
continuaria a ser lida e proclamada cada sábado. Para os judeus, a lei não sofreria qualquer prejuízo.
Por outro lado, os gentios não seriam carregados com certos costumes e leis de importância
secundária. A conferência de Jerusalém é a explicação para o fato de que muitos costumes e festas
judaicas não eram observados na igreja cristã, embora apresentados no Velho Testamento. Até o
sábado, como dia de culto, tinha se tomado objeto de tantos costumes de importância secundária para
os gentios, que a igreja adotou o primeiro dia da semana, em lugar do sétimo, como o seu dia de
adoração. A conferência não resolveu totalmente a questão da observância de costumes judaicos por
parte da igreja cristã. Ainda hoje, há certos grupos que continuam a ensinar que não será salvo aquele
que não guardar o sábado (o sétimo dia) e que deixe de observar as leis referentes às coisas limpas e
as imundas. "Interessante que os Adventistas do Sétimo Dia selecionam apenas alguns dos costumes
judaicos, para os guardar. Eles continuam a tropeçar na doutrina de que a salvação é pela fé, e não
pelas obras da lei (guarda de certos costumes)".
5. A Decisão da Conferência (vv 22-29)
Desde que Tiago não tomou uma posição radical, as suas sugestões encaminharam a
fundamentação de um acordo. Talvez nem todos que estavam presentes estivessem totalmente de
acordo. Mas Lucas não faz menção de qualquer oposição à sugestão. Ele observa que os apóstolos e
presbíteros, com "toda a igreja", concordaram com a sugestão. Era exatamente importante que a igreja
em Jerusalém participasse na decisão. Pois era exatamente uma daquelas igrejas que precisavam
aceitar a idéia de que os gentios deveriam poder ser admitidos na igreja pela fé, e não pela circuncisão.
A posição da igreja em Antioquia prevaleceu.
Paulo, Barnabé, Barsabás e Silas foram designados a levar uma carta, contendo a decisão
da conferência, à igreja em Antioquia. A carta assegurava às igrejas dos gentios que a igreja em
Jerusalém não apoiava a posição de homens da Judéia, os quais ensinavam que os gentios precisariam
ser circuncidados e guardar os costumes de Moisés. Ela mostrava que os irmãos da Judéia que foram a
Antioquia impor os seus pontos de vista não o estavam fazendo com o total apoio da igreja em
Jerusalém (v.24).
A conferência pôde obter o sucesso que alcançou e chegar ao acordo a que chegou, em
virtude de os seus participantes terem sido dirigidos pelo Espírito Santo (v. 28). A vida no Espírito não
escraviza ao uso de certos costumes e regulamentos, mas, pelo contrário, o Espírito dá liberdade e
orientação para um serviço cristão real.
6. O relatório perante a Igreja em Antioquia (vv. 30-35)
Os mensageiros autorizados trouxeram a carta perante a da igreja em Antioquia. Depois de a
carta ter sido lida perante o povo reunido, houve regozijo pelo conforto e exortação que a mesma
trouxe. Parece que a igreja em Antioquia era composta basicamente de gentios. Judas e Silas, além da
carta, acrescentaram ainda alguma coisa de sua própria observação e entusiasmo pelo que viram
acontecer. A tristeza causada por aqueles que diziam falar em nome daqueles que em nome da igreja
em Jerusalém estava, assim, oficialmente afastada. Uma vez completada a sua missão, os irmãos da
igreja em Jerusalém retornaram em paz. O verso 34, omitido por alguns manuscritos, acrescenta que
Silas permaneceu em Antioquia. Paulo e Barnabé continuaram em Antioquia por mais algum tempo,
ensinando e pregando.
Capítulo X - VISITAS AS IGREJAS NA SÍRIA, CILÍCIA E GALÁCIA – At 15. 36-16.5.
1. Separação entre Paulo e Barnabé (w. 36-41).
Lucas deixa-nos a impressão de que a decisão tomada em Jerusalém resolveu o problema do
relacionamento entre judeus e gentios. Seguiu-se um tempo de paz, no qual os apóstolos se
entregaram à pregação e ao ensino. Passados alguns meses, Paulo sugeriu a Barnabé que voltassem a
visitar "os irmãos por todas as cidades em que temos anunciado a palavra do Senhor, para ver como
estavam (v. 36 - IBB). Barnabé achou interessante a sugestão, e desejou que levassem consigo a João
Marcos. Paulo não aceitou a idéia, visto que Marcos os abandonara na Panfília. A discordância chegou
a tal ponto que Paulo e Barnabé tomaram caminhos diferentes. Barnabé tomou consigo a Marcos e se
encaminhou para Chipre. Paulo escolheu a Silas, o qual tinha sido um dos representantes oficiais de
Jerusalém a Antioquia, seguiu pela Síria, Cilícia e Galácia.
A discordância entre Paulo e Barnabé, a respeito do João Marcos, indica não ter obtido êxito
total ainda a iniciativa quanto ao relacionamento entre os judeus e gentios. As sugestões de Tiago
deixaram os livres dos costumes judaicos, mas em que os cristãos judeus poderiam continuar a praticar
os costumes de Moisés. Uma das interpretações que se dava à Lei de Moisés era a de que os judeus
não poderiam se associar com gentios incircuncisos. Esse plano foi adotado, sutilmente, por parte
daqueles que, em virtude de sua posição radical não compareceram conferência, levando os judeus a
uma estrita observância dos costumes dos pais. Os costumes judaicos impediam aos judeus até
entrarem em casas de gentios, nesta forma, a comunhão fraterna em congregações mistas foi
totalmente prejudicada.
João Marcos tinha estado ligado à igreja em Jerusalém; também Barnabé. Embora ambos
estivessem dispostos a receber os gentios na igreja, e bem possível que nenhum dos dois se sentisse
muito à vontade na presença de gentios circuncisos. Provavelmente não percebessem tão claramente
quanto Paulo os aspectos doutrinários e de comunhão fraternal implicados na questão. Conquanto
Lucas não diga explicitamente que a discordância entre Barnabé e Paulo nasceu da questão da
associação com os gentios, e carta de Paulo aos Gálatas indica ter sido essa questão fonte da tensão
entre eles.
Não se sabe ao certo se Gl 2.6 e ss. se referem à conferência de Jerusalém. É bem possível
que a razão por que Paulo escreveu aos gálatas fosse o aparecimento de judaizantes, que tentaram
desacreditar Paulo perante as igrejas por ele estabelecidas. Eles podem ter insinuado que Paulo foi
convocado pelos líderes de Jerusalém a comparecer perante eles no concílio de Jerusalém a fim de
defender a sua posição. Paulo afirma que "esses, digo, que pareciam ser alguma coisa (na
conferência), nada me acrescentaram" (Gl 2.6 - IBB). Ele mostrou que Tiago, Cefas e João, que eram
colunas na igreja, tiveram a percepção suficiente para notar que Deus, por sua graça, o tornara em
apóstolo aos gentios; e desta forma, estenderam às suas mãos de comunhão a Paulo e Barnabé
encorajando-os a partir para os gentios (Gl 2.9).
Tudo parece indicar que, após a conferência de Jerusalém, Pedro veio a Antioquia. Pedro
demonstrou boa vontade em se associar com os gentios, chegando mesmo a comer com eles, até
chegarem alguns judeus rigorosos da parte de Tiago (Gl 2.11 e ss.). “Mas quando eles chegaram, se foi
retirando, e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão" (Gl 2.12 - IBB). A atitude de Pedro
influenciou a Barnabé e aos outros judeus em Antioquia (Gl 2.13). Paulo lembrou a Pedro que ele
admitira que os judeus eram salvos tanto quanto os gentios (At 15.11); assim, por que exigiriam os
judeus que os gentios vivessem como judeus? (cf Gl 2.14).
Desde que as sugestões de Tiago permitiam que os judeus moderados escolhessem observar
ou não os costumes de Moisés. Os judeus moderados como Pedro e Barnabé estavam dispostos a
viver como gentios enquanto entre gentios, e como judeus entre os judeus. Essa maneira de proceder
foi pacífica até judeus radicais entrarem em cena. Aparentemente, esses judeus impuseram a sua
pressão social sobre Pedro e Barnabé a fim de que observassem os costumes judaicos mesmo
enquanto a Antioquia. Os costumes judaicos exigiam uma associação com gentios incircuncisos
independentes de eles serem cristãos ou não. Pedro e Barnabé cederam à pressão e deram aos
gentios a impressão de que os se consideravam superiores os cristãos gentios. O incidente ao qual
Paulo se refere em Gálatas revela os quantos eram delicadas as relações entre Paulo e Barnabé. Uma
vez que Paulo sentia com todo o que o seu comissionamento era aos gentios. Poderia ter temido que
Barnabé e João Marcos viessem a colocar em perigo o sucesso de sua missão.
Depois da separação de Paulo e Barnabé, Paulo tomou condigo a Silas, a fim de visitar as
igrejas na Síria e Cilícia. O propósito dessa visita era dar a elas um reforço tanto no ensino quanto no
encorajamento a prosseguir na fé cristã. Barnabé tomou consigo a João Marcos e seguiu para Chipre.
2. As Visitas às Igrejas da Galácia - At 16.1-5
Lucas dá ênfase a dois fatos em conexão com essa segunda visita às igrejas da Galácia.
Timóteo, natural de Listra, tomou-se companheiro de Paulo, e Paulo Compartilhava com as igrejas a
decisão da conferência de Jerusalém.
Alguns intérpretes têm acusado a Paulo de inconsistência, em virtude de ter circuncidado a
Timóteo. Timóteo era filho de Eunice, senhora judia crente, sendo o seu pai um grego. Eunice ensinou a
Escritura a Timóteo, e é possível que tivesse desejado a sua circuncisão. Vários judeus residiam em
Listra, mas não havia ali sinagoga nem liderança judaica para executar o rito.
Paulo não procurava hostilizar deliberadamente os judeus. Ele se mantinha firme na defesa
da liberdade dos gentios e da doutrina da salvação pela fé independentemente da guarda dos costumes
judaicos. Entretanto, ele não negligenciava os costumes judaicos quando risco ao seu trabalho. A
circuncisão de Timóteo era um ato de compromisso, mas disposição de coerência com o acordo feito
em Jerusalém de que os judeus continuariam a guardar os costumes de Moisés. A circuncisão não
haveria de ser requerida de gentios, nem era necessária à salvação. Paulo era judeu e Timóteo também
era assim considerado em razão da nacionalidade de sua mãe e do ensino das Escrituras e costumes
judaicos a ele comunicados. Mas Timóteo também gentio por causa de seu pai (v. 3). Uma vez que
Timóteo haveria de desempenhar o seu ministério tanto entre judeus quanto entre gentios, era de bom
senso que fosse circuncidado a fim de evitar qualquer impedimento de os judeus aceitarem a fé.
Aqueles que considerassem a Timóteo como gentio não teriam dificuldade de se associarem a ele em
virtude de ter atendido plenamente às exigências feitas aos prosélitos.
Embora as decisões da conferência de Jerusalém fossem designadas especificamente "aos
irmãos dentre os gentios em Antioquia, na Síria e na Cilícia" (15.23 – IBB), Paulo as entregou também
às igrejas da Galácia, quando da visita a elas. As experiências de Paulo em sua primeira viagem
missionária a Antioquia da Pisídia, Icônio e Listra revelam a profundidade de significado de decisões
feitas. A carta de Paulo aos Gálatas as evidências da seriedade desses problemas. Desde que as
decisões da igreja em Jerusalém apoiavam a posição de Paulo, era de bom alvitre comunicá-las
também na Galácia.
Atos 16.5 se constitui em uma afirmação sumária de que Lucas demonstra ter completado mais
uma etapa em sua história do crescimento da Igreja Primitiva. Sendo essa a ocasião em que a carta de
Jerusalém é mencionada pela última vez, temos indicação clara de que a essa altura se encerra a
história da conferência. R.B. Rackham afirma que este parágrafo é real conclusão do capítulo da
história que começa em Atos 13.1. As igrejas tinham sido ameaçadas pelos falsos judaizantes, mas as
decisões de Jerusalém que apoiaram a posição de Paulo, trouxeram estabilidade doutrinária. "Assim as
igrejas eram confirmadas fé" e dia a dia cresciam em número.
Capítulo XI - O MINISTÉRIO DE PAULO NA MACEDÔNIA - At 16.6-17.15
mente ir a Éfeso logo no início da segunda viagem, mas Lucas mostra que ele foi impedido “pelo
Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia" (v. 6 - IBB) Lucas, não explica a maneira de que o Espírito
Santo se utilizou para impedir a Paulo de pregar a quem quer que fosse, na Ásia.
A seguir, Paulo se dirigiu para o norte. Na província da Bitínia havia um bom número de
cidades florescentes. Novamente, o "Espírito de Jesus" impediu a Paulo de visitar aquelas cidades,
levando-lhes o evangelho. Pedro, possivelmente, pregou na Bitínia alguns anos depois.
A província da Ásia não deve ser confundida como continente da Ásia. As províncias da Ásia,
Macedônia e Acaia, constituíam um grande centro cultural greco-romano. Cada uma dessas províncias
era banhada pelo Mar Egeu. Depois de os apóstolos terem sido impedidos de entrar na Bitínia, eles
atravessaram a Mísia, mas não pregaram ali (v. 8). Chegaram a Troas, que era o principal porto da
Mísia, nome dado à região geográfica do noroeste da Ásia. Troas situava-se à margem de um dos
principais caminhos que seguiam em direção a Roma.
Ao chegar à colônia romana de Troas, Paulo recebeu orientação divina por meio de uma visão.
Ele viu um homem da Macedônia que insistentemente o convidava a atravessar o mar e entrar na
Macedônia com o evangelho (v. 9). Paulo contou a visão aos seus companheiros, e eles chegaram à
conclusão de que o Senhor os chamava para pregar o evangelho na Macedônia (v. 10).
O verso 10 contém o primeiro sinal da assim chamada "secção nós". O autor passa a usar dia
para frente a pessoa do plural, o que indica a sua identificação com o grupo. O autor não apresenta o
seu nome, mas presume-se que foi Lucas, o qual possivelmente morava em Troas naquela ocasião.
Embora Lucas tivesse se juntado à equipe ali, a sua participação na decisão mostra que ele era um
recém-convertido ou alguém com pequeno conhecimento do evangelho.
2. Testificando em Filipos (vv. 11-40)
A Macedônia fora governada depois de 360 a.C. por Filipe da Macedônia e por seu filho
Alexandre, o Grande. Filipe conduziu os seus exércitos nas vitoriosas conquistas aos gregos, e
Alexandre conquistou o Império Persa. Filipos recebera esse nome em homenagem a Filipe II.
O grupo missionário experimentou uma boa travessia, puderam navegar diretamente a
Samotrácia, no primeiro dia, e a Neápolis, no segundo dia, percorrendo uma distância de
aproximadamente 200 km (v. 11) Neápolis servia de porto a qual se achava a uma distância de cerca de
16 km dali.
O autor observa que Filipos era a principal cidade da Macedônia e uma colônia romana,
onde se haviam estabelecido soldados romanos aposentados (v. 12). Isto explica o seu forte orgulho e
influência romana, embora a cidade esteja, historicamente, muito ligada à cultura grega. Sendo colônia
romana Filipos desfrutava do direito de possuir governo próprio, posse da terra e algumas vezes
dispensa de impostos.
Filipos tinha uma localização estratégica. A sua cidadela estava construída sobre um monte de
ladeiras íngremes, contemplando do alto um lago pantanoso. A cidade guardava o principal caminho
entre o Oriente e o Ocidente.
Poucos judeus moravam em Filipos; assim, não havia sinagoga. No sábado, os apóstolos se
agregaram a um grupo de senhoras à beira do rio, onde se reuniram para orar. Paulo e o seu grupo
foram convidados a falar. Lucas dá ênfase à sua participação na pregação, usando o pronome da
primeira pessoa do plural (v. 13). Sem dúvida, os apóstolos compartilharam às mulheres a história de
Jesus.
2.1. A Conversão de Lídia (vv. 14 e 15)
Uma das senhoras é alvo de observação especial no livro de Atos, por causa de seu
significado para a igreja em Filipos. Lídia era da cidade de Tiatira, na província da Ásia (v. 14). A cidade
de Tiatira localizava-se na região da Lídia. O fato de aquela senhora ter o nome de sua terra mostra
que, provavelmente, ela não pertencia à aristocracia, mas era uma escrava liberta. Muitas vezes os
escravos recebiam o nome de sua terra. Lídia tinha acumulado uma riqueza considerável por causa de
sua ocupação de vendedora de tecidos de púrpura. O tingir do pano de púrpura era uma indústria lídia,
que florescia em Tiatira.
Lídia prestava cuidadosa atenção às palavras de Paulo. O Senhor, pelo Santo Espírito, abriu-
lhe o coração para atender pela fé às palavras ditas (v. 14). Lucas observa que ela e todos os de sua
casa foram batizados. Isto aconteceu também no caso de Cornélio, do carcereiro de Filipos e de Crispo,
FATAD Prof. Jales Barbosa 62
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
em Corinto.
O versículo não sustenta o batismo infantil, Não se pode afirmar que a expressão "sua casa"
também inclua seus filhos pequenos. Certamente que os seus criados e agregados, estavam incluídos,
mas não há indicação de que tivessem sido salvos por força da fé exercitada por Lídia. Provavelmente o
seu exemplo e influência se constituíram em fatores muito significativos para a aceitação das coisas
ditas por Paulo. O mesmo Senhor abrira o coração dela achava-se presente para os corações deles.
A alegria de Lídia, na sua recém-encontrada fé, manifestou-se no desejo de providenciar
hospedagem para aqueles que lhe trouxeram o evangelho. Os apóstolos, ao que parece, sentiram a
fidelidade dela ao Senhor, porque a batizaram, e então, ela insistiu em que Paulo e seus companheiros
permanecessem hospedados em sua casa (v. 15). Observa que a sua casa se tomou em lar para os
quatro missionários e a primeira igreja de Filipos (cf. v. 40).
Lucas dedica uma boa parte de sua narrativa a descrição dos acontecimentos em Filipos;
contudo, dá poucas informações sobre a igreja. Os apóstolos tornaram-se bem conhecidos na cidade
em razão de seus ensinos a respeito da religião única. Eram reconhecidos como judeus que receberam
a missão especial de seu Deus. A julgar pela Carta aos Filipenses, a Palavra se estendeu rapidamente
e a igreja foi organizada sem demora. Clemente e Epafrodito tornaram-se obreiros valorosos na causa
do evangelho. A Carta aos Filipenses revela que certas senhoras se tomaram proeminentes na obra da
evangelização. A igreja foi organizada sob ar liderança de bispos (supervisores da igreja) e diáconos, ou
servos da igreja. É bem possível que Lucas tivesse ficado como ponto de apoio à obra da igreja, e
atuado como presidente do corpo de líderes eclesiásticos.
2.2. A cura da jovem escrava (vv. 16-24)
O autor passa rapidamente, do contato inicial com as senhoras, ao incidente que provocou a
expulsão de Paulo e Silas da cidade. O primeiro conflito entre o Cristianismo e as práticas gentílicas não
foi por causa de doutrina, mas por causa de dinheiro. Os senhores da jovem usavam o seu “espírito de
adivinhação” para seu proveito, a fim de enriquecerem. Adivinhação vem da palavra "python", Conforme
a mitologia grega, Python era a serpente em Delfos que encarnava um deus. A pessoa que possuísse o
“espírito de Python" haveria de ter o poder de fala inspirada. De acordo com Plutarco, os sacerdotes de
Python eram ventríloquos. A jovem escrava em filipos era dotada de ventriloquismo e ela perdeu esse
poder de falar, quando o espírito de Python foi expulso dela.
Dia após dia, a jovem escrava seguia a Pedro, Silas, Timóteo e Lucas, quando eles se dirigiam
ao lugar de oração. Continuamente ela clamava: "são servos do Deus Altíssimo esses homens que vos
anunciam um caminho de salvação" (v. 17 - IBB) ela representava os gentios, que ansiavam pela
divindade suprema e pela salvação que pudesse libertá-los dos espíritos malignos. “Deus Altíssimo” é o
título usado freqüentemente, nos Evangelhos, pelos possessos de espíritos malignos, para se referirem
ao Deus dos judeus. Enquanto ouvia a Paulo e seus companheiros no seu ensino, ela chegou à
conclusão de que estavam proclamando um caminho de libertação da ruína. Lucas deixa transparecer
que o espírito de Python dentro da jovem reconheceu a verdade proclamada por Paulo e a levou a
apresentar repetidamente o oráculo. Ela olhava para Paulo e Silas como sendo escravos inspirados do
Deus a quem serviam. O seu oráculo aborreceu ou irritou a Paulo e Silas porque implicava em que o
seu trabalho era semelhante ao dela em que o sucesso da propagação do evangelho estava
dependendo do testemunho de espíritos malignos.
Paulo ordenou em nome de Jesus Cristo que o espírito maligno saísse dela. O nome de Jesus
Cristo representava seu poder e autoridade. Um feito realizado em seu nome significava que o poder
provinha de Cristo e não da pessoa que realizava o milagre. A saída do espírito de Python, da jovem se
evidenciou na perda de sua capacidade acontecimentos futuros. Os seus senhores perceberam
imediatamente que a sua fonte de renda fora destruída. Não tiveram pena da jovem escrava nem
simpatia para com a missão de Paulo e Silas. Eram totalmente dominados pelo interesse-próprio. Pode
ser que a pregação de Paulo e Silas tenha afetado os seus negócios, por fazer o povo deixar de dar
ouvidos a adivinhos.
Lucas descreve o tratamento grosseiro que os cruéis senhores da jovem escrava deram a
Paulo e Silas. Eles foram arrastados ao largo do mercado e levados perante as autoridades ou
principais magistrados (vv. 19 e 20). O preconceito dos romanos contra os judeus “Estes homens,
sendo judeus, estão perturbando muito a nossa cidade, e pregam costumes que não é lícito receber
nem praticar, sendo nós romanos” (vv. 20 e 21 - IBB). A sua acusação era feita em termos que viessem
a mexer nesse preconceito do povo e das autoridades. Seus planos alcançaram pleno êxito. Desde que
a nação judaica tinha a reputação de ser rebelde, a associação do nome “judeu” com um tumulto trouxe
a reação imediata por parte da Multidão (v. 22).
A mensagem de Paulo e Silas poderia provocar a religião tradicional romana, mas o judaísmo,
com o qual estava identificado, não era considerada religião ilegal. A queixa contra os missionários
principalmente envolvia a idéia de proselitismo. Aos judeus era permitido ter a sua própria religião
enquanto não tentassem influenciar os romanos a aceitarem as suas convicções. A religião judaica
tinha já sido a fonte inicial das tensões entre os judeus e Roma.
Por causa do perigo em potencial do surgimento de tumultos, caso muitos dos romanos
aceitassem a pregação de Paulo, os magistrados se reuniram à massa popular em considerarem a
Paulo e Silas como culpados. O seu castigo foi o de serem açoitados com varas. A roupa de Paulo e
Silas foi arrancada deles, o que acrescentou a vergonha ao sofrimento provocado pelos açoites. Ao que
parece a massa popular participou do açoitamento. Depois eles foram amarrados na prisão sem
qualquer atenção para com as suas feridas. O carcereiro recebeu ordens de dar atenção especial a que
estes presos, fossem mantidos com segurança, desde que eram considerados prisioneiros políticos
perigosos. Os seus pés foram atados ao tronco, tendo sido eles recolhidos a prisão interior, uma
câmara geralmente cavada na rocha, no lado da encosta íngreme da montanha sobre a qual a cidadela
estava construída.
2.3. Uma libertação milagrosa (vv. 25-26)
A despeito dos maus tratos e dos sofrimentos, Paulo e Silas mantinham a sua fé no Senhor, o
que resultou em gozo e vitória. À meia-noite os prisioneiros continuavam surpresos, ouvindo-os orar e
cantar louvores a Deus. Os prisioneiros ouviam atentamente as palavras daqueles companheiros
incomuns. E como Paulo e Silas oravam para que a vontade de Deus fosse feita quanto ao seu
testemunho, eles aguardavam uma resposta. A resposta veio através de terremoto, que abalou os
alicerces de todo o edifício e desprendeu das paredes as correntes dos presos. O movimento das
paredes fez com que as portas se abrissem. Contudo, os presos não fugiram de imediato, visto estarem
sob o impacto do medo e do pânico.
O terremoto acordou o carcereiro, o qual se apressou em entrar na prisão, sabendo de sua
responsabilidade quanto aos prisioneiros sob sua guarda, uma vez que pagaria com a sua própria vida
pela fuga de qualquer deles. Quando viu as portas abertas, concluiu que os presos teriam fugido. Para
não passar pela desafortunada vergonha de ser julgado pela sua falta e condenado à morte. O
carcereiro arrancou a sua espada e se dispôs a se suicidar. A voz de Paulo, procedente de dentro da
prisão impediu-lhe essa ação. Paulo lhe informou que nenhum dos presos fugira.
2.4. A conversão do carcereiro de Filipos (vv. 29-34)
O susto provocado pelo terremoto, o temor pela possível fuga dos presos e a surpresa de ouvir
a voz de Paulo desarmaram o arrogante e desesperado carcereiro. Algumas horas antes, quando, ao
anoitecer, foi incumbido de guardar com segurança a Paulo e Silas, ele estava mais consciente de sua
posição do que do bem-estar humano. Talvez, ainda um pouco antes, tivesse ouvido os ensinos desses
dois homens. A resposta às suas orações, dada por meio do terremoto, convenceu-o de que eles eram
homens de Deus. Depois de os seus auxiliares lhe terem trazido uma luz, ele saltou dentro da prisão e
se prostrou diante de Paulo e Silas. Após tê-los trazido para fora, indagou-lhes: "Senhores, que me é
necessário fazer para me salvar?" (v. 30 - IBB). Sem dúvida, o tratamento áspero que dera àqueles
presos feridos acrescentou o seu sentimento de culpa.
Quando o gentio pagão perguntou a respeito dos requisitos necessários à salvação, os
missionários judeus, responderam: "Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa" (v. 31 - IBB).
Paulo não deu qualquer indicação de que batismo, circuncisão ou outro rito judaico fosse requisito
necessário à salvação. Esta afirmação não significa que pela fé do carcereiro também a sua casa
viesse a ser salva. A afirmação ensina que a mesma fé requerida do carcereiro é a requerida da parte
de seus familiares, escravos e agregados. Não havia um plano de salvação para um oficial romano e
outro para escravos ou criados.
Paulo e Silas provavelmente deram uma explicação mais ampla da vida e ministério de Jesus,
o propósito de sua morte, a vitória, de sua ressurreição e a promessas de sua segunda vinda. Jesus
Cristo é o rei ungido por Deus, o qual dá o poder do Espírito Santo a qualquer pessoa que creia nele. A
fé do carcereiro e dos de sua casa provou ser genuína pelas ações que seguiram. O carcereiro lavou as
feridas dos apóstolos e atendeu as suas necessidades. Ele foi batizado logo ar seguir, com outros de
sua casa.
A experiência de uma salvação genuína traz consigo uma vida nova e muito gozo. O perdão
dos pecados, a renovação do homem interior pelo Espírito Santo e a comunhão com outros que tiveram
experiência idêntica resulta em uma vida abundante. O carcereiro levou os seus presos para a sua
própria casa, não temendo mais a sua fuga. A sua experiência tinha gerado um relacionamento especial
de compreensão e confiança para com os seus presos especiais. A disposição de eles como judeus
comerem na casa de um gentio e a mudança de atitude do carcereiro, de um superior sobre os presos
para a de servo de seus presos, indica as tremendas transformações que ocorreram, operadas pelo
evangelho.
Embora os magistrados possam não ter compreendido totalmente os ensinos de Paulo e Silas,
eles perceberam que estes eram homens que falavam com autoridade divina. Talvez o terremoto tenha
estado associado com milagres de cura. O chefe dos magistrados enviou ao carcereiro mensagem pela
polícia, para que soltasse os apóstolos. Ao que parece, o carcereiro se alegrou com a palavra de que
aos seus presos especiais era garantida a liberdade. Ele os animou a "irem em paz" (v. 36).
A lei romana proibia terminantemente o açoitamento público de romanos. Os magistrados se
descuidaram em verificar isto no caso de Paulo e Silas. Os juízes ordenaram o castigo sem lhes
permitirem falar. Paulo proclamar a sua cidadania romana em meio a todo o barulho, teria sido inútil.
Depois de a turba ter se aquietado e os magistrados terem dado conta de si, Paulo enviou uma palavra
a respeito de sua cidadania romana, e do conseqüente tratamento injusto que recebera. Os presos
surpreenderam os magistrados na sua violação da justiça romana. Os magistrados tinham cometido o
engano de admitir que, sendo Paulo e Suas, judeus, não seriam cidadãos romanos. As autoridades
tiveram de reconhecer publicamente o seu erro e inocentar os presos, acompanhando-os desde a
obscuridade da prisão até as ruas da cidade. Conscientes da sinceridade de sua ofensa, os
magistrados rogaram aos apóstolos que abandonassem Filipos. A posição e as vidas daqueles oficiais
romanos corriam perigo por causa de seu flagrante desrespeito à justiça romana.
Lucas não mostra quantos membros de igreja se encontravam no lar de Lídia. Quando os
apóstolos entraram na casa: "e vendo os irmãos, os confortaram, e partiram" (v. 40 - IBB).
Embora Lucas tivesse ido com Paulo e Silas ao lugar de oração, não foi preso. Ele usou
pronomes da terceira pessoa (ele, eles) em lugar da primeira (eu, nós), para descrever a experiência da
prisão de Paulo e Silas. Depois, de o grupo deixar Filipos, Lucas continua usando pronomes da terceira
pessoa. Ao que parece, Timóteo acompanhou a Pedro e Silas, mas Lucas permaneceu, a fim de dar
assistência à nova igreja.
RESPONDA
a)_________________________________________________________________________________
b)_________________________________________________________________________________
c)_________________________________________________________________________________
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7. Qual foi o primeiro problema doutrinário com o qual a nova igreja se deparou?
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8. Quem se opôs a doutrina pregada por Paulo, referente à salvação dos gentios?
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a)_________________________________________________________________________________
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b)_________________________________________________________________________________
da praça do mercado para assaltarem a casa do Jáson. Enquanto a turba aguardava defronte da casa,
os malvados entraram na casa e procuraram pelos apóstolos. Como Paulo e Silas não se encontravam
ali naquela hora, eles lançaram mão de Jáson e o arrastaram juntamente com outros levando-os
perante os politarcas. Enquanto caminhavam pelas ruas, eles clamavam: "Estes que têm transtornado o
mundo chegaram também aqui" (v 6 - IBB). Embora a acusação fosse exagerada, mostra, com bastante
clareza o impacto que o cristianismo estava causando no mundo de então.
Jáson e seus companheiros foram arrastados perante as autoridades com traição: "Todos eles
procedem contra os decretos de César, dizendo haver outro rei, que é Jesus" (v. 7 - IBB). Jesus estava
sendo apresentado como rival de César, e então Jáson e seus companheiros estavam sendo acusados
de lealdade àquele que estava competindo com César. A acusação; que satisfazia os propósitos dos
judeus, foi completada quando eles conseguiram inflamar os ânimos da massa popular e dos
magistrados. Os oficiais decidiram deixar o caso para o outro dia; então, recebendo fiança de Jáson e
seus companheiros, soltaram-nos. Os líderes e a povoada cidade procuraram ser cautelosos. Evitando
a aparência de uma revolução, desde que Tessalônica poderia perder a sua posição de cidade livre se
permitissem uma confusão.
Paulo e Silas deixaram a casa de Jáson discretamente à noite e partiram para Beréia. O
penhor e o acordo que as autoridades receberam da parte de Jáson e seus companheiros teriam
perdido o seu significado, se ficasse provado que eles continuavam a proteger os homens acusados.
4. A Aceitação em Beréia (vv. 10-15)
Beréia distava cerca de 60 km de Tessalônica e também se situava na província da
Macedônia. Tinha uma colônia de judeus, bem como uma sinagoga. Lucas contrasta a nobreza de
atitude dos judeus de Beréia com a baixeza dos homens de Tessalônica. Eles levaram a sério a sua
cidadania e, ao que parece participavam ativamente das atividades da cidade. Lucas apresenta a idéia
de que eles eram generosos, liberais e de mente aberta. Eles estavam dispostos a estudar a Palavra de
Deus e receberam com muito interesse as palavras de Paulo; mesmo assim, não eram ingênuos. Eles
examinavam as Escrituras diariamente, a fim de verem se a interpretação de Paulo e a aplicação que
fazia a Jesus eram coerentes. Muitos dos judeus com vários gentios da aristocracia, tanto homens
como mulheres, creram nos ensinos de Paulo e receberam a Jesus como Senhor e Salvador. Os judeus
que não creram em Cristo também manifestaram oposição.
Chegou a Tessalônica a notícia de que a Palavra de Deus, pregada por Paulo, estava tendo
excelente recepção em Beréia. Da mesma forma que os judeus de Icônio e de Antioquia da Pisídia, os
judeus de Tessalônica foram a Beréia para inflamar o povo contra Pauto. Os novos convertidos
chegaram logo à conclusão de que a solução era enviar Paulo para outro lugar. Desde que ele era o
objeto da confusão. Parece que bom número dos novos crentes escoltou a Paulo até o mar, com o fim
de protegê-lo ou de lhe demonstrar o seu respeito e gratidão (v. 14). Uma escolta menor acompanhou-o
até Atenas (v. 15). Silas e Timóteo permaneceram em Beréia para fortalecer a nova igreja. E
interessante que Paulo sofria forte oposição por parte dos judeus, Ao passo que Silas e Timóteo parece
terem continuado a obra sem oposição. Quando a escolta deixou Paulo em Atenas. Ele mandou recado
por eles, para Silas e Timóteo, para que viessem ter com ele tão logo quanto possível. O fato de Paulo
ter sido acompanhado por um grupo de Beréia até Atenas poderia indicar querele não estivesse
passando bem. Era, portanto, evidente que ele não quisesse ficar em Atenas sem os seus
companheiros, que o sustentavam na obra.
Capítulo XII - O MINISTÉRIO DE PAULO EM ATENAS ATOS - At 17. 16- 34
Ácaia e Macedônia estavam intimamente relacionadas, tanto política como socialmente. Vez
por outra, tornavam uma só província sob o poderio romano. Quando Paulo visitou Atenas, Acaia era
província separada, cuja capital era Corinto.
Atenas gozava do privilégio de ser considerada o centro cultural e intelectual do mundo.
Sócrates e Platão nasceram ali, enquanto Aristóteles, Zenão e Epicuro ensinaram em suas ruas. O
grego atico, que era o dialeto ateniense, era a base do grego koinê (grego comum), que se tornou a
língua universal com as conquistas de Alexandre, o Grande.
Atenas era uma cidade livre, regida não pelo demos (povo), mas por um conselho conhecido
como o Areópago. O Areópago parece referir-se mais a um conselho do que a um lugar. Esse conselho
tinha também autoridade sobre tudo o que era ensinado. Atenas dava a impressão de ser uma cidade
muito religiosa. Desde que ídolos, altares e templos enchiam suas ruas. O Areópago servia como um
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mundo em justiça é a sua ressurreição da morte. Por causa dos ensinos dos profetas, os judeus
estavam aguardando o Dia do Senhor quando o mundo todo viria a ser julgado em justiça. Paulo estava
convicto de que esse dia tinha chegado com Jesus, desde que Deus demonstrou, pela ressurreição,
que ele era o Ungido.
É provável que os epicureus zombassem da idéia de ressurreição dos mortos, visto que eles
criam na desintegração da alma por ocasião da morte. Os estóicos talvez tivessem sido mais receptivos
e tenham desejado ouvir outra vez sobre o assunto (v. 32). Alguns de ambos os grupos pode ser que
tenham se convencido do erro de sua filosofia; contudo, o intelectual, constitui-se em barreira à fé, não
facilmente quebrável.
Lucas observa que alguns homens se uniram ele e creram, “entre os quais Dionísio, areopagita
e uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros” (v. 34 - IBB). Contrariamente a alguns estudiosos,
esta informação não deixa a impressão de que Paulo tenha falhando em Atenas. Ele não tentou
competir em sagacidade com os filósofos. Ele deu testemunho de que Deus levantou a Jesus da morte
e convidou os seus ouvintes a se arrependerem. Desde que ele estava falando a homens sem
conhecimento do Velho Testamento, é facilmente compreensível que não se utilizasse das Escrituras
para provar o seu cumprimento na morte e ressurreição de Jesus.
Capítulo XIII - TESTEMUNHANDO EM CORINTO E EFESO - At 18.1-20.1
Paulo, em sua segunda viagem missionária, depois de deixar Atenas, continuou a testificar em
Corinto. Ele passou mais de dezoito meses ali; então viajou por terra, de Éfeso a Jerusalém, e dali para
Antioquia. A sua chegada a Antioquia marcou o fim da sua segunda viagem missionária, mas não foi o
término da campanha na área do Egeu.
Paulo desejou muito visitar Éfeso em suas primeiras duas viagens, mas foi impedido de fazê-lo
até o fim da segunda viagem. Ele passou alguns dias em Éfeso e prometeu voltar se esta fosse “a
vontade de Deus” (18.21). Ao que tudo indica, foi da vontade de Deus que ele pregasse a Cristo ali.
Depois de rápida passagem por Antioquia Paulo partiu para “sua terceira viagem Missionária
(18.23). Sua primeira preocupação foi a de visitar as igrejas na Galácia e na Frigia. A rota seguida foi
mais ou menos a mesma que a da primeira parte da segunda viagem. Depois de ter visitado as igrejas
na Frígia, não foi impedido de entrar na Ásia, como nas ocasiões anteriores. Ele permaneceu três anos
em Éfeso e circunvizinhanças antes de passar novamente pela Macedônia e Acaia, em sua última visita
à região”.
A atividade em Éfeso encerrou a campanha na área do Egeu. Quando Paulo deixou esta
cidade, sentiu que devia ir a Jerusalém. O seu plano era o de reunir uma oferta das igrejas gentias da
Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia para os cristãos judeus pobres de Jerusalém, que estavam passando
por uma fase de tremenda necessidade; então, ele viajou pela Macedônia e Acaia, antes de ir a
Jerusalém. A viagem proporcionou-lhe oportunidade de apresentar a sua despedida às igrejas e aos
amigos cristãos, que não mais veria.
Capítulo XIII – PAULO EM CORINTO E EM ANTIOQUIA DA SÍRIA- AT 18.1-20.1
1. Paulo em Corinto – At 18.1-17
A viagem a Corinto, a capital de Acaia, foi de 80 Km. Corinto era um centro comercial, com
uma população cosmopolita, sendo a maior de todas as cidades que Paulo visitou. Tinha sido destruída
pelos romanos no ano 146 a.C., sendo reconstruída por Júlio César cem anos depois. Como capital da
província, era o lugar da residência do procônsul, sendo leal a Roma. A sua situação estratégica
garantia-lhe grande prosperidade. Os portos de Corinto eram Cencréia, no Golfo de Egina, e Lechaéia,
no Golfo de Lepanto, e lhe ofereciam o controle do tráfico entre Roma e a Ásia. A viagem ao redor do
cabo de Malia era longa e perigosa. Assim, as cargas dos navios, eram retiradas em um porto e
transportadas via terrestre, atravessando o istmo de Corinto, sendo carregadas novamente nos navios
no outro porto, para daí seguirem o seu destino.
A prosperidade e um grande número de marinheiros, cujo trabalho impedia o estabelecimento
de uma vida familiar aumentava a imoralidade da cidade. “A imoralidade era até consagrada pela
religião, pois o templo de Afrodite Pandemos possuía mil sacerdotes ‘hieróduli’ ou prostitutas
consagradas”.
Paulo parece ter feito de Corinto o seu quartel-general para as suas atividades na Acaia;
contudo, Lucas dedica apenas 17 versículos a esse ministério de 18 meses. Maiores detalhes do
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LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
ministério em Corinto temos nas cartas escritas aos coríntios. Lucas preocupa-se basicamente com a
separação entre a sinagoga e a igreja, e com o fato de o procônsul romano, Gálio ter-se recusado a
julgar a questão que a sinagoga levantou contra a igreja.
1.1. Primeiros Contatos em Corinto (vv. 2-5)
Paulo travou conhecimento com um judeu chamado Áquila, natural de Ponto (uma região
acidentada no nordeste de Ásia Menor). Representantes de Ponto estiveram em Jerusalém no dia de
Pentecostes (cf. Atos 2:9). Áquila e sua esposa Priscila tinham acabado de chegar da Itália, de onde
tinham sido expulsos pelo Imperador Cláudio.
Suetônio (Vida de Cláudio, XXV, 4) afirma que os judeus foram expulsos de Roma por causa
de constantes tumultos promovidos por um certo "Chrestus". Provavelmente a referência seja a Cristo,
mas o que ocorreu no caso foi mais uma vez à troca de letras, muito comum entre os escritores
romanos. O decreto da expulsão deverá ter acontecido no nono ano do governo de Cláudio, portanto,
entre 25 de janeiro de 49 a.D. e 24 de janeiro de 50 a.D. Áquila deverá ter chegado a Corinto no
princípio do ano 50, e Paulo, alguns meses depois (v. 12 e ss.).
Talvez Áquila e Priscila já fossem cristãos quando Paulo os encontrou. Paulo precisava de
sustento material; então ele se associou com eles na profissão de fazer tendas. Eles se tomaram
amigos íntimos de Paulo para o resto de suas vidas. Quando Paulo defende as suas razões quanto à
pregação do evangelho, ele lembra aos coríntios o fato que se sustentou a si próprio enquanto em
Corinto. Ele trabalhava duramente a semana e pregava o evangelho no sábado (cf. l Co 9 e II Co 11.7 e
ss.).
Ao que parece, Paulo prosseguiu tentando persuadir judeus e gregos a aceitarem a Cristo
como Senhor (v.4), mas tudo indica ter havido pouco progresso (v. 6). Ele estava fisicamente fraco e
emocionalmente deprimido o que poderia ter sido resultante de enfermidade (cf. l Co 2.3). A chegada de
Silas e Timóteo trouxe grande ânimo ao seu espírito. Gaio e Estevão foram os primeiros frutos na Acaia
(Cf. I Co 1.14-16).
Quando Silas e Timóteo chegaram, parece que Paulo foi aliviado do seu trabalho manual. Há
indicações também de que a igreja em Filipos lhe enviou uma oferta em dinheiro, e assim ele pôde se
dedicar inteiramente ao ensino da Palavra (v. 5). Os seus companheiros também trouxeram notícia de
que a igreja na Macedônia prosseguia na fé e no amor. Essas notícias deram grande animo ao
apóstolo.
1.2. Separação da Sinagoga (vv. 6-11)
Embora Paulo ensinasse aos judeus com toda a sinceridade que Jesus era o Cristo, eles, além
de não o aceitarem como tal, blasfemavam contra ele. E assim, desde que eles deliberadamente
rejeitaram a Palavra de Deus, Paulo sentia que não mais seria responsabilizado por eles. O seu sangue
cairia sobre as suas próprias cabeças (v. 6). Paulo então, mais uma vez tornou aos gentios.
Ao deixar a sinagoga, encontrou a casa de Tito Justo, logo na porta ao lado (v. 7). Os esforços
de Paulo para ganhar os judeus não foram totalmente em vão. Crispo, o presidente ou dirigente da
sinagoga, com toda a sua casa creram no Senhor. Lucas informa que muitos gentios estavam aceitando
a Cristo e sendo Batizados (v. 8).
Desta feita não foi a perseguição que levou Paulo a deixar a cidade, contudo parece que a sua
vida correu algum perigo. Ele teve da parte do Senhor uma visão, na qual recebeu mensagem de ânimo
e de instrução para a pregar (v. 9). Deus lhe assegurou a sua proteção contra os ataques dos homens.
O Senhor não permitiria que ele fosse atingido até que o povo da cidade predestinada à vida eterna
pela presciência divina tivesse a oportunidade de manifestar a sua fé. A estada de Paulo nas igrejas da
Macedônia tinha sido cortada repentinamente por perseguições, mas em Corinto a sua permanência se
estendeu por dezoito meses.
1.3. O julgamento perante Gálio (vv. 12-17)
Gálio deve ter se tomado procônsul da Acaia um pouco antes de os judeus acusarem a Paulo
perante ele. Provavelmente ele assumiu o posto em 1 de julho de 51 a.C. (V. 12), Paulo deve ter
chegado a Corinto no Fim de 50 ou princípio de 51 a.D. Os judeus não obtiveram êxito em tentar
amedrontar a Paulo com ameaças; então procuraram soluções legais para o terem fora da cidade. Os
judeus, como nas outras cidades, ficaram enciumados quando ouviram a Paulo ensinando aos gentios
não lhes ser necessário guardar a lei cerimonial de Moisés. Os judeus acusaram a Paulo de persuadir
"os homens a adorarem a Deus contrariamente a lei" (v. 13). A resposta de Gálio à acusação
FATAD Prof. Jales Barbosa 71
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
apresentada a sua interpretação de que a lei, que Paulo era acusado de transgredir, era a judaica, e
não a romana. Gálio parece que tinha pouca paciência com os judeus (v. 14). Ele se recusou a julgar a
querela entre os judeus referente a seus costumes religiosos e ordenou aos oficiais que fizessem o
grupo se retirar da coorte. Parece que não sabia fazer a distinção entre o judaísmo e o cristianismo.
Lucas não diz quem espancou a Sóstenes, o chefe da sinagoga R.B. Rackham chega
conclusão de que recusa de Gálio diante do ódio dos judeus aos gentios a oportunidade de pegar a
Sóstenes e espancá-lo sem terem de temer a represália da parte dele. Por outro lado, ele ter sido
espancado pelos próprios judeus por ter tratado do caso de Paulo conforme eles gostariam que fosse
tratado.
2. O Retomo de Paulo a Antioquia da Síria – At 18.18-22
Paulo permaneceu em Corinto "ainda muitos dias" depois de ter sido levado perante Gálio. À
distância dali até Antioquia da Síria era cerca de 2.400 km. Os seus planos incluíam, provavelmente,
uma viagem a Jerusalém, a fim de cumprir um compromisso que tinha feito consigo mesmo (v. 18). Nos
dias de Paulo o voto de narizeu havia sido modificado.
Ao invés de se abster de vinho e de cortar o cabelo por toda a vida, poder-se-ia fazer o
compromisso até por um período mínimo de trinta dias. O início desse período era marcado pelo corte
do cabelo. Ao fim do período a cabeça era raspada. Os judeus que estivessem em terras estrangeiras
muitas vezes aguardariam a sua chegada a Jerusalém para cortar o cabelo. Então, o cabelo era
queimado no fogo do sacrifício. Talvez Paulo tivesse se comprometido consigo mesmo com o voto de
nazireado a fim de manifestar a Deus a sua gratidão pelo êxito alcançado no seu trabalho entre os
gentios, tanto quanto ainda pela preservação de sua vida nas ocasiões de perseguições dos inimigos.
Paulo não era contrário aos costumes judaicos. Como judeu, fez o compromisso de nazireado
e participava das festas judaicas, em Jerusalém, sempre que possível. Tinha, entretanto, todo o cuidado
para ter a doutrina da salvação pela fé. Os gentios não seriam obrigados a cumprir costumes judaicos a
fim de serem salvos.
Paulo levou consigo a Priscila e Áquila quando partiu de Cencréia, um dos portos marítimos de
Corinto. O fato de ser mencionado primeiro o nome de Priscila bem pode indicar que ela era, dos dois, a
dotada de maior fervor evangelístico. Enquanto o navio estava no porto de Éfeso, Paulo aproveitou uns
poucos dias a fim de compartilhar a sua fé com os judeus na sinagoga. Os judeus lhe rogaram que
permanecesse com eles por mais tempo. Então, Paulo deixou a Priscila e Áquila em Éfeso, a fim de
continuar a obra. Em duas ocasiões anteriores, Paulo desejou ir a Éfeso, e finalmente conseguiu
realizar o seu sonho. A sua visita foi breve, mas ele prometeu voltar, se assim Deus permitisse (v. 21).
O navio de Paulo o trouxe à cidade de Cesaréia, na costa de Samaria. Paulo "subiu... e saudou
a igreja" (v. 22). Não se sabe se essa igreja era a em Cesaréia ou a em Jerusalém. Ele provavelmente
visitou a igreja em Jerusalém antes de descer "a Antioquia" (v. 22). A chegada de Paulo a Antioquia
marca o que é tradicionalmente chamado de sua segunda viagem missionária.
3. A Igreja em Éfeso - At 18.23-19.41
Éfeso era uma cidade rica e populosa da Ásia, e, além disso, era a capital e o centro
administrativo da província da Ásia. Roma concedera a Éfeso a categoria de "cidade livre", Em sua
terceira viagem missionária, Paulo permaneceu ali por três anos. Talvez, durantes esse tempo a sua
atuação tivesse atingido as cidades circunvizinhas de Esmirna, Filadélfia, Colossos, Laodicéia,
Hierópolis e Mileto.
O famoso templo de Ártemis situava-se nas proximidades de Éfeso. A deusa grega Ártemis (a
Diana latina) atraía muitos peregrinos ao seu suntuoso templo, no qual serviam milhares de sacerdotes
e outros ministros. Os efésios sabiam que a deusa era a razão da entrada de muita riqueza em sua
cidade; por isso, eles davam todo o seu apoio a ela. Tanto para os gregos quanto para os romanos,
Diana era a inocente deusa da caça; contudo, a sua imagem era indecente, com quatro fileiras de seios.
Ela tinha sido a deusa da natureza ou da fertilidade antes do surgimento da cultura na Ásia Menor.
Embora o culto a Diana não incluísse imoralidade e prostituição, contribuía, entretanto, para o
desenvolvimento da superstição e a orática da magia. A magia veio a se constituir em uma das
especialidades de Éfeso, dando como resultado uma curiosa mistura de cultura e filosofia helênica com
superstição oriental. Não é, pois, de se estranhar que a igreja ali se deparasse mais adiante com o
perigo de ser influenciada e levada à heresia pelo tipo de cultura que a cercava. Paulo advertiu os
presbíteros de Éfeso quanto ao cuidado que deveriam tomar em relação aos falsos mestres (cf. 20.29 e
FATAD Prof. Jales Barbosa 72
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
ss.).
Às Epístolas a Timóteo, foram escritas quando ele se achava em Éfeso; nelas, Paulo dá
grande ênfase ao "guardar a fé". Mais tarde, o apóstolo João viveu em Éfeso e sentiu a grande
necessidade de combater o gnosticismo.
3.1. A visita de Paulo à Galácia e à Frigia (v. 23)
Tem-se pensado que, durante a permanência de Paulo em Antioquia, ele teria ouvido de
Timóteo as informações sobre as perturbações doutrinárias que as igrejas da Galácia estavam
enfrentando. Paulo, então escreveu a sua Epístola aos Gálatas a fim de refutar os ensinos dos
judaizantes, que estavam insistindo também ali que os gentios eram obrigados a cumprir os costumes
de Moisés. Os judeus de Antioquia da Pisídia e de Icônio se opuseram duramente a Paulo em sua
primeira visita a essas cidades. Não é, pois, surpresa que eles continuassem na tentativa de frustrar os
seus ensinos depois de sua partida.
Lucas não se demora em narrar qualquer acontecimento especial nessa visita de Paulo às
igrejas da Galácia e da Frígia. Sabemos apenas que ele gastou o tempo necessário para ensinar os
discípulos em cada cidade, "fortalecendo todos os discípulos" (v. 23).
3.2. As atividades de Apolo (vv. 24-28)
Apolo era um judeu de Alexandria, cidade em que a cultura helênica era muito forte. Filo, outro
judeu Alexandrina, tentou harmonizar a filosofia grega com o judaísmo. Outros judeus ali também
interessavam pelos ensinamentos gregos.
Apolo é descrito como "um homem eloqüente, e poderoso nas Escrituras" (v. 24). Não há
dúvida de que se tratava de homem de vasta cultura. Destarte, é bem provável que tivesse a filosofia
grega e a retórica, a qual incluía princípios de oratória. Por isso era orador exímio, com facilidade de
comunicar os seus pensamentos com clareza e lógica. Como judeu, tinha profundo conhecimento das
escrituras do Velho Testamento.
É interessante notar que Apolo e os doze de Éfeso (cf. 19.1 e ss.) tinham sido discípulos de
João Batista. Apolo tinha aceito o ensino de João, de que o Dia do Senhor era chegado, ocasião em
que Deus haveria de estabelecer o seu Reino; contudo, não recebera a instrução de que o Reino tinha
chegado em Jesus Cristo. Não era possível compreender que, para ser possível Deus cumprir a sua
promessa a respeito do Reino eterno, era necessário que o Messias sofresse, morresse e ressurgisse.
Priscila e Áquila comunicaram a Apolo uma compreensão maior do "caminho de Deus" (v. 26).
Eles compreendiam bem a importância do sofrimento e ressurreição do Messias, uma vez que tinham
estado em Jerusalém no dia de Pentecostes (alguns de Ponto estiveram lá), além do que tinham
recebido instruções de Paulo, que morava com eles.
Lucas deixa de mencionar se Apoio recebeu o Espírito Santo e foi batizado depois de receber
instruções mais completas. Por isso não é surpresa que ele tivesse ido para a Acaia, centro do
helenismo, a fim de trabalhar com a igreja de Corinto. Para isso, ele foi encorajado pelos discípulos de
Éfeso, os quais escreveram à igreja em Corinto, recomendando Apoio. Lucas observa que ele foi
instrumento de grande fortalecimento para o trabalho em Corinto, por causa de sua habilidade em
argumentar com os judeus, utilizando-se das escrituras do Velho Testamento para provar que Jesus era
o Cristo (v. 28).
3.3. O Trabalho de Paulo em Éfeso (19:1-41)
Os doze discípulos de João (vv. 1-7). Paulo voltou a Éfeso depois de Apolo ter seguido para
Corinto. Lucas registra o acontecimento interessante da descoberta que Paulo fez ali, de doze
discípulos de João Batista.
João convidou o povo a se arrepender, porque o Dia do Senhor tinha chegado. Os judeus
acreditavam que Deus os tinha abandonado, deixando-os expostos aos seus inimigos, isto em razão de
terem pecado, cultuando ídolos. O povo era convidado a se arrepender diante do Senhor, o qual voltaria
lhe dispensar as suas bênçãos. João anunciou que o Dia do Senhor era chegado e o povo deveria se
arrepender e aguardar o aparecimento do Messias (o escolhido, ou ungido de Deus) (cf. Mt 3). Os doze
tinham crido em João, haviam-se arrependido, tendo sido batizados, demonstrando, assim, a sua
purificação espiritual. Eles estavam esperando o Messias, mas não tinham ouvido que Jesus o era, e
então não tinham ainda entrado para o Reino, recebendo o Espírito Santo (nascido de novo) pela fé em
Jesus. Ao que parece, os doze não tiveram conhecimento da vida, ministério, morte e ressurreição de
Jesus. Embora Apolo parece ter tido conhecimento do nascimento e ministério de Jesus, ele não podia
aceitar que o Messias precisava sofrer, morrer e ressurgir a fim de ser o rei eterno.
A vinda do Espírito Santo à vida de uma pessoa não segue determinado ao longo da narrativa
de Atos. Conforme 8.17 e 19.6, a vinda do Espírito estava ligada com a imposição das mãos. O falar
línguas e profetizar (19.6) são evidências de que os doze tinham recebido o Espírito Santo. No caso de
Cornélio, o Espírito veio sobre tementes a Deus enquanto Pedro pregava (10.44). Os doze em Éfeso
foram balizados em nome do Senhor Jesus antes de ter recebido o Espírito. Cornélio recebeu o Espírito
antes do batismo. O fato de ter recebido o Espírito foi à razão seu batismo. Embora nenhum padrão
seja apresentado para o recebimento do Espírito Santo, Lucas deixa claro que tanto os judeus quanto
os gentios que cressem em Jesus receberiam o poder do Reino, a investidura a qual os capacitaria a
proclamar a mensagem de Cristo.
Este trecho da narrativa de Atos deixa claro que Éfeso fora alcançada pelo evangelho antes da
chegada de Paulo. Lucas explica como aconteceu. O sou propósito parece ter sido o de mostrar quão
necessária era a interpretação que Paulo deu à morte e ressurreição de Cristo, a fim de corrigir
conceitos errados e incompletos a respeito de Cristo.
O poder da Igreja (vv. 8-12). É fácil compreender a razão porque Paulo não deu ênfase ao
aspecto de Reino de Deus em sua atuação nas províncias romanas. Ele já tinha sido acusado de ser
traidor de César. A expressão "Reino de Deus" poderia facilmente ser compreendida como tendo
significado político. A palavra ekklesia (igreja) já era aceita entre judeus e os tementes a Deus como um
termo religioso, referindo-se ao povo de Deus, por causa de ser usado na Septuaginta (a tradução do
Velho Testamento para o grego). Paulo preferiu usar esta palavra, em lugar da expressão "Reino de
Deus", contudo, usou -a, vez por outra, quando em contato com judeus (v. 8).
Depois de alguns dos judeus fecharem as suas mentes e corações a Jesus como o Messias,
Paulo decidiu novamente separar-se da sinagoga. "A multidão", possivelmente é a dos gentios
tementes a Deus, então Paulo se retirou com eles da sinagoga antes de entrarem em confusão, pelos
argumentos dos judeus. O cristianismo era comumente chamado de "o caminho" (v. 9).
Depois de Paulo se retirar da sinagoga, ele ensinava "diariamente na escola de Tirano" (v. 9). A
escola era provavelmente constituída de uma sala de preleções ao lado de um ginásio de esportes,
usado por gramáticos poetas e filósofos para as suas preleções. O meio ambiental poderia incluir
jardins, alamedas e colunatas. Ali, todos os que estivessem passeando (schol - escola) poderiam parar
para ouvir schol mais tarde veio a significar a preleção.
A decisão de Paulo de se utilizar daquela sala de preleções ofereceu ao povo que vinha a
Éfeso a oportunidade de ouvir a Palavra de Deus, enquanto fazia o seu relax. Paulo fez as suas
preleções ali diariamente durante dois anos. Lucas chega a afirmar que "todos os que habitavam na
Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos" (v. 10).
Os judeus tinham rejeitado os ensinos de Paulo acerca do Reino de Deus, provavelmente,
porque ele mostrou que pessoas de todas as nações poderiam dele participar. Os ensinos de Paulo a
respeito do poder do reino ficaram comprovados como verdadeiros pelos milagres especiais operados
intermédio das mãos de Paulo (v. 11). O uso de lenços e aventais ou toalhas foi uma adaptação ao tipo
fé supersticiosa, própria dos efésios. Aquelas peças que tocavam o corpo de Paulo eram levadas aos
doentes e colocadas sobre os seus corpos. O acontecimento é idêntico ao narrado em 5.12-16, onde a
sombra de Pedro possuía o poder de trazer cura aos enfermos. O poder para a cura certamente não
procedia nem das peças de roupa nem da sombra, mas do Senhor. As peças de roupa serviam de
ponto de apoio para aquela fé supersticiosa. O povo creu que o Jesus que Paulo pregava tinha o poder
de curar, mas a sua fé necessitava de sinais tangíveis - algo que pudesse ser visto e percebido.
Os filhos de Ceva (vv. 13-18) alguns judeus exorcistas que observavam os milagres operados
pelas mãos de Paulo tentaram perverter o uso do poder divino. Eles acharam que o nome "Jesus" seria
uma palavra mágica, a qual poderia ser usada para se atingir fins pessoais. Magia e espiritualismo falso
eram amplamente praticados em Éfeso. A experiência dos judeus exorcistas, os "sete filhos de um certo
Ceva, um judeu e chefe de sacerdotes" (v. 14), serviu de advertência ao povo no sentido de que o
poder de Deus não está aí para ser usado indevidamente.
Dois dos exorcistas usaram o nome de Jesus diante de um endemoninhado. Da mesma forma
os demônios apresentados nos Evangelhos, esse demônio também reconheceu que Jesus era
poderoso e que conhecia a Paulo, mas não temia o falso poder espiritual dos filhos de Ceva. O
FATAD Prof. Jales Barbosa 74
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
endemoninhado "saltou sobre eles, e os dominou", prevaleceu contra eles, de tal modo que da casa em
que estavam nus e feridos (v.16). As notícias desse acontecimento se espalharam rapidamente entre
todos os judeus e gregos em efésios.
A falsa espiritualidade dos mágicos e exorcistas estava exposta à reprovação pública, e o
nome de Jesus foi glorificado. Muitos creram que Ele realmente era o Rei escolhido por Deus; por isso,
confessaram os seus pecados e demonstraram o seu arrependimento através de seus atos e atitudes.
As práticas malignas foram abandonadas. Aqueles que se orgulhavam de ser mágicos queimaram os
seus livros publicamente, o que significava uma retratação pública. O elevado valor em prata, pelo qual
os livros todos foram avaliados, foi calculado tomando-se por base o alto custo do material empregado,
bem como da mão de obra utilizada na cópia dos volumes (v. 19). Lucas conclui esse trecho de sua
narrativa mencionando que a palavra de Deus crescia poderosamente (v. 20).
Planos futuros (vv. 21 e 22) - O verso 20 contém a oitava síntese que Lucas faz. A frase
"depois de encerradas essas coisas" indicado término dá segunda grande campanha de Paulo e que
uma nova etapa se iniciar. R. B. Rackham acha que no verso 21 está a indicação do começo da terceira
divisão no ministério de Paulo. O Espírito Santo impeliu Paulo a visitar Jerusalém, depois de mais uma
visita às igrejas da Macedônia e de Acácia. Mais tarde ele sentiu que deveria ir também a Roma (v. 21).
Durante a sua temporada de três anos em Éfeso, Paulo escreveu ao menos uma e
eventualmente até mesmo três cartas à igreja em Corinto. Éfeso serviu também de quartel-general a
uma vasta campanha na Ásia. Além disso, é possível que Paulo tivesse estado preso também em
Éfeso, mas Lucas nada diz a respeito, nem da campanha, nem da prisão.
Lucas menciona uma viagem planejada à Macedônia e Acácia (cf 19.21; 20.1 e ss.), mas não
menciona a oferta das igrejas gentias na Galácia, Macedônia e Ásia, para os cristãos de Jerusalém, os
quais atravessavam uma fase de penúria (cf. l Co 16.1-3). Paulo certamente considerava que a oferta
haveria de atenuar as tensões ainda existentes nas relações entre judeus e gentios. Ele escreveu a
respeito dos planos de visita a Macedônia antes de chegar a Corinto, e ali passar o inverno (l Co 16.5 e
ss.). As prováveis notícias a respeito das dificuldades existentes nas igrejas da Macedônia teriam
chegado a Paulo ali; então, enviou a Timóteo e a Erasto adiante de si a fim de pronto encaminhamento
às soluções até a sua chegada (At 19.22). Ele esperava permanecer em Éfeso Pentecostes do ano
seguinte (l Co 16.8).
Ao que parece, os planos de Paulo mudaram depois da partida de Timóteo e Erasto. Ele se
deparou com problemas em Éfeso. Os quais quase o levaram à morte (l Co 1.10). Alguns estudiosos
acreditam que ele tivesse sido levado à arena a fim de lutar contra animais ferozes; outros acreditam
que a linguagem é simbólica (l Co 15:32). Lucas se preocupa em incluírem sua narrativa os perigos
enfrentados por Paulo em Éfeso.
A controvérsia com Demétrio (vv. 23-41). O autor de Atos já mostrou o grande impacto que o
evangelho causou em Éfeso. A controvérsia com Demétrio, um ourives, é mais uma evidência da
extraordinária influência da igreja. Esta controvérsia não foi resultado de instigação da parte dos judeus,
mas da parte dos gentios, cujos interesses pessoais estavam sendo afetados. A razão apresentada
para justificar o tumulto era de caráter religioso, porém a causa real era outra em que entravam em jogo
aspectos econômicos. Demétrio era fabricante de imagens de prata, da deusa Artêmis (Diana), negócio
altamente rendoso; entretanto, depois de Paulo pregar alguns meses em Éfeso, o mercado de vendas
de ídolos teve sensível baixa. Peregrinos que vinham pára adorar Artêmis também adquiriam muitas
vezes imagens de prata para levarem consigo para casa. A influência do ministério de Paulo estava
conduzindo a uma diminuição de compra de imagens, chegando a ponto de levantar não pequeno
alvoroço acerca do Caminho (v. 23). Demétrio reuniu os demais artífices e lhes disse que em quase
toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desviando muita gente (do culto a Diana), dizendo não serem
deuses, os que são feitos por mãos humanas (v. 26). Mesmo que tivesse havido algum exagero nessa
afirmação, ela revela que a atuação de Paulo tinha influenciado grandemente não só a Éfeso, quanto a
toda a região ao redor.
Demétrio apelou não só aos aspectos econômicos dos colegas, mas também às emoções
religiosas. Ele lhes fez ver que, se Paulo continuasse a sua pregação livremente, em breve a grande
deusa Diana estaria sendo desacreditada. Ainda mais, o seu argumento incluiu um toque no orgulho
nacional, ao afirmar que o povo de todas as partes do mundo deixaria de vir a Éfeso para cultuar (v. 27).
Muita gente se movimentou ao sentir a sua religião ameaçada. E assim ss originou grande confusão,
em que o povo começou a gritar: "Grande é a Diana dos Efésios:" (v. 28).
Os artífices não foram bem sucedidos em localizarem Paulo, eles arrebataram a Gaio e a
Aristarco. Os quais tinham vindo com Paulo da Macedônia e os levaram ao teatro. Embora a Ásia fosse
governada por um procônsul, Éfeso era uma cidade livre, e muitos assuntos eram decididos pelo demos
ou povo. Três vezes por mês o povo se reunia em sua ekklesia (assembléia). Havendo necessidade,
poderiam ser convocadas assembléias extraordinárias. Um presidente eleito pela assembléia, ou oficial
de registro da cidade, presidia a reunião, era responsável por cuidar da duração estabelecida para o
encontro, e convocava e encerrava a assembléia. Uma assembléia extraordinária foi convocada para
julgar a Gaio e a Aristarco.
O presidente imediatamente solicitou à multidão para que mantivesse a ordem e evitasse que
as emoções fossem causa de decisões irracionais (v. 35). Ele advertiu que era absolutamente
desnecessário defender Artêmis ou informar a qualquer cidadão que Éfeso era a guardiã do templo da
grande deusa. Artêmis era representada por uma pedra sagrada, que, segundo a tradição, teria caído
do céu (talvez fosse um meteoro) (v.25b). Uma vez que a assembléia tinha poder limitado, o oficial de
registro da cidade sugeriu que Demétrio e seus colegas se dirigissem aos procônsules que se achavam
reunidos ali naquela ocasião. Se eles não ficassem satisfeitos com a decisão dos procônsules, o
assunto poderia ser considerado em uma assembléia regular (v. 39). O oficial de registro lembrou que o
tumulto poderia ser interpretado como uma revolta contra Roma, e ainda mais poderia resultar na perda
do privilégio de ser considerada cidade livre. No fundo, a verdade é que ele não achava que as
acusações de Demétrio e seus companheiros mereceriam a convocação de uma assembléia
extraordinária.
Além dos procônsules e do presidente da assembléia é necessário um terceiro grupo de
oficiais políticos (v. 31). Quando Paulo viu os seus companheiros sendo conduzidos ao teatro, teve
ímpetos de também entrar no teatro e falar ao povo. Nisto ele foi impedido pelos asiarcas (chefes da
Ásia), seus amigos particulares, os quais acharam que ele se arriscaria demais.
Os asiarcas eram oficiais provinciais. Cada província tinha um conselho, constituído de
representantes das principais cidades, ao qual competia cuidar dos negócios da província. A sua
principal tarefa era a de providenciar quanto ao culto provincial devido ao imperador romano. O
propósito desse culto era uma prova de lealdade ao império e o vínculo de sua unidade. Em conexão
com o culto comum ao imperador, aconteciam as festas provinciais, com jogos e festivais. O presidente
do conselho provincial presidia também as festas e os jogos. O título dado a ele era o de "governador
da província" (asiarcas). E interessante notar que exatamente aqueles que eram responsáveis pelo
culto ao imperador se tomaram amigos particulares de Paulo.
Ekklesia (o termo neo-testamentário para igreja) é usado em referência a uma assembléia
secular do povo em At 19:32, 39 e 41. A palavra refere-se a um tipo de organização do povo, a qual se
reunia em ocasiões determinadas a fim de tratar de assuntos pertinentes aquele povo. Embora a
organização tivesse um presidente encarregado da convocação, era o povo, em regime democrático,
que estabelecia quais os assuntos a serem tratados. E, uma vez que esse termo específico foi tomado
para designar a igreja do Novo Testamento, é evidente que esta deveria seguir a mesma linha
administrativa. Essa assembléia espiritual deveria ter um líder que convocasse e presidisse uma
organização democrática. Esse líder não se constituía em autoridade para decidir pela assembléia. As
suas responsabilidades seriam determinadas pela assembléia que o elegera. E ele era responsável pela
execução dessa responsabilidade perante essa mesma assembléia.
Lucas apresenta ainda o interessante incidente ocorrido (v. 33 e ss). Os judeus mantinham
uma posição fanática contra a idolatria. Alexandre talvez com a finalidade de evitar que os judeus
fossem identificados como cristãos, como orador que era, tentou conseguir o uso da palavra. Mas, logo
que os gentios perceberam que ele era judeu, redobraram em gritar durante duas horas "Grande é a
Diana dos efésios" (v.34). Só depois que se cansaram é que o oficial de registro da cidade pode obter a
atenção dele e mostrar-lhes a sua estultícia (v.36 e ss.).
4. Paulo Deixa Éfeso - At 20.1
O alvoroço em Éfeso fez com que Paulo deixasse a cidade imediatamente. Durante o ano
seguinte o apóstolo viajou pela Macedônia e Acaia a fim de encorajar as igrejas, antes de fazer a sua
última viagem a Jerusalém.
Depois da longa permanência de Paulo em Éfeso, ele tinha determinado fazer uma viagem a
Jerusalém, a fim de levar a oferta das igrejas gentias. Antes, porém, era-lhe necessário passar pela
Macedônia e Acácia para recolher a oferta e se despedir das igrejas onde ele trabalhou
aproximadamente 7 anos.
A viagem de Paulo a Jerusalém teve muitas paradas. Em várias oportunidades, os seus
amigos tentaram dissuadi-lo de ir àquela cidade, onde certamente enfrentariam problemas. Porém, em
virtude da profunda convicção de Paulo a propósitos dos planos divinos e a sua confiança em Deus, na
execução de seus planos, a despeito da oposição, ele permaneceu firme em sua decisão.
Paulo seguiu o conselho dos irmãos em Jerusalém e participou dos costumes judaicos,
Contudo, a inimizade dos judeus contra ele era tão grande que eles movimentaram o povo, criando um
tumulto, o qual resultou em seu aprisionamento. A vontade de Deus não pode ser anulada. O servo do
Senhor, como tinha uma oportunidade extraordinária de testemunhar a oficiais políticos, e a
perseguição a ele oferece a oportunidade de uma sonhada viagem a Roma.
1. A última visita à Macedônia e a Acácia - At 20.2-6
A ocasião em que Paulo deixa Éfeso marca o início dos seus planos, de encerramento das
atividades na área do mar Egeu. Pode ser que, sair de Éfeso, quisesse ir diretamente a Corinto, mas
delongou a sua viagem a fim de evitar mais um encontro penoso com os coríntios (II Co 1.23-2.1). Tito
tinha sido enviado a Corinto com uma carta Paulo esperava encontrá-lo em Troas com notícias da igreja
em Corinto (I Co 2.12-13).
Paulo saiu de Troas para a Macedônia e visitou as igrejas. Ele "exortou grandemente" (v. 2) a
cada igreja. O seu maior interesse era o de recolher as ofertas para os santos em Jerusalém e dar as
suas últimas instruções às novas igrejas, que certamente seriam assaltadas por elementos depois da
saída de Paulo. Mais tarde ele fez referência à liberdade das igrejas pobres da Macedônia, na ocasião
em que procurou se esforçar para orientar a igreja em Corinto, em suas cartas (II Co 8.1 e ss).
Lucas sintetiza a última visita de Paulo a Macedônia e Acácia em apenas uma sentença (vv. 2
e 3). Ele diz que Paulo se demorou meses, na Grécia, no inverno. Nada menciona sobre qualquer
cidade e chama a Grécia pelo seu nome primitivo “Helas" ao invés de usar "Acaia". O nome romano (v.
2), é provável que Paulo tenha se hospedado, quando em Corinto, na casa de Gaio (cf. Rm 16.13), e
tenha escrito a sua carta aos romanos durante esse período de três meses de permanência na Grécia.
Depois de todas as lutas contra os judaizantes, os quais continuamente insistiam em que os gentios
deveriam guardar os costumes de Moisés, Paulo sistematizou toda a doutrina da justiça pela fé, nessa
sua Carta aos Romanos. Quando escreveu, estava se preparando para a perigosa viagem a Jerusalém
(cf. Rm 15.31). Depois de visitar ele pretendia ir até Roma e mesmo até a Espanha (cf. Rm 15.22-32).
Com o intuito de evitar quaisquer dúvidas a respeito de sua honestidade quanto à entrega da
oferta em Jerusalém, Paulo solicitou que fossem indicados alguns que o acompanhassem nessa missão
(v 4, cf. II Cr 9.21). Possivelmente desejaria reunir os representantes das várias igrejas em Troas, mais
uma conspiração contra a sua vida, movida pelos judeus obrigaram-no a deixar a cidade antes da
época programada [v. 3]. Ele voltou à Macedônia deve ter passado algum tempo na província do Ilírico,
antes do encontro programado em Troas (cf. Rm 15. 19). É possível que a sua visita ao Ilírico tenha
sido antes do inverno em Corinto. Quando Paulo de volta, pela Macedônia, Sópater, de Beréia, e de
Aristarco e Segundo, de Tessalônica, possivelmente tenham se unido ao grupo de mensageiros das
igrejas (v. 4). Caio e Timóteo, de Derbe (Galácia), já estariam com Paulo. Tíquico e Trófimo devem ter
chegado a Troas, vindo da Ásia (Éfeso) antes da chegada de Paulo (v. 5). Dois dos manuscritos mais
antigos do Novo Testamento trazem, a esta altura, uma nota na qual consta que os representantes das
igrejas iriam se encontrar com Paulo em Troas. Seria realmente muito mais natural que os da Ásia e
Galácia o encontrassem em Troas, do que atravessarem até a Macedônia e depois voltarem com ele de
lá (v. 5). Talvez, Timóteo, que estava com Paulo, tenha sido enviado adiante, a Troas, enquanto Paulo e
Lucas permaneceram em Filipos até depois da Páscoa.
O emprego da primeira pessoa do plural no verso 5 mostra que Lucas se reuniu a Paulo em
Filipos. Ele permaneceu ali até depois dos dias dos pães asmos, talvez abril de 57 a.D. A sua viagem a
Troas durou cinco dias, e eles permaneceram em Troas durante sete dias (v. 6).
partida, os judaizantes haveriam de atacar o seu caráter a fim de desviar os discípulos dos ensinos
recebidos dele. As suas cartas aos Gálatas e Coríntios deixam transparecer que ele estava sendo
acusado de pregar por dinheiro, prestígio e posição social pessoal. Ele, então, assegurou aos
presbíteros que em seu trabalho buscou tão-somente servir ao Senhor em humildade, sem a
preocupação de tirar qualquer vantagem pessoal ou de explorar o povo. Todas as recompensas
materiais que recebera não poderiam nem sequer ao menos apagar as tristezas que experimentou da
parte dos judeus em sua conspiração contra ele.
Verso 19. Embora o ponto de vista de Paulo a salvação pela fé sem a necessidade de guardar
os costumes de Moisés lhe tivesse trazido muitas perseguições, ele não temia proclamar vigorosamente
que isto era o que tinha recebido do Senhor. Ele não deixava de proclamar essa mensagem, mesmo
sabendo que os judeus poderiam reagir com violências. Ele disse tanto a judeus quanto gregos, que
uma real ligação com Deus só era estabelecida por meio da fé em Cristo, e não por guardar os
costumes de Moisés (v. 21).
Paulo tinha sido advertido de que, ao chegar a Jerusalém, haveria de se deparar com tristezas
e aflições (v. 23). Entretanto, ele se sentia impelido pelo Espírito Santo a ir a Jerusalém; e então não
queria deixar de cumprir a vontade do Senhor e evitar assim quaisquer dificuldades pessoais. A maior
parte de seu ministério tinha sido entre os gentios. De sua Carta aos Romanos, sabemos que ele sentia
grandemente a situação de seu próprio povo. Ele desejava tanto que todos eles pudessem
experimentar o amor e o poder de Deus que vêm pela fé no Senhor Jesus Cristo. Do verso 24
dependemos que Paulo sentia a obrigação compartilhar também o Evangelho da Graça com os judeus
em Jerusalém antes de ter completado a tarefa para a qual o Senhor o convocara.
O apóstolo sabia que não retornaria à Ásia (v. 25). A afirmação não significa que ele esperava
morrer em Jerusalém, mas que a sua expectativa era a de se dirigir a outras províncias depois de ter
estado em Jerusalém. Paulo sentia que o seu trabalho na Ásia e províncias vizinhas tinha sido
completado, "estou limpo do sangue de todos" (v. 26 - IBB). Paulo tinha usado sabiamente o seu tempo,
em o plano divino em todos os lugares por onde passaria (v. 27). Ele proclamou o plano divino de incluir
os gentios no Reino de Deus, embora essa proclamação lhe custasse a rejeição de seus próprios
concidadãos o propósito completo de Deus incluía a união de gregos e judeus dentro da igreja".
O verso 28 reflete aspectos do conceito de liderança no seio da Igreja Primitiva. Lembremos
que Paulo estava se dirigindo aos presbíteros da igreja em Éfeso (v. 17). O termo "ancião" (ou
presbítero) foi adotado do seu uso no conceito judaico de liderança na sinagoga e no sinédrio. Os
líderes das instituições sociais judaicas eram os chefes das famílias ou "anciãos". A sociedade judaica
de cunho patriarcal favorecia formas aristocráticas de governo das instituições. Os anciãos eram
homens experimentados, que tinham autoridade sobre a menor instituição social, que é o lar. O chefe
dos anciãos de sinagoga era o responsável pelos cultos nas sinagogas.
Uma vez que a igreja em Éfeso se reunia nos lares, estava dividida em unidades menores ou
grupos cuja constituição era determinada pela localização geográfica e facilidades de comunicação.
Provavelmente pertencessem também à igreja em Éfeso as congregações nas cidades vizinhas. Um
grupo de anciãos da igreja veio ter com Paulo, e cada unidade menor da igreja tinha mais do que um
ancião, não se sabe ao certo.
O verso 28 apresenta os anciãos como guardiões, pastores e supervisores (bispos). A igreja é
chamada "o rebanho", que deve ser protegida contra falsos mestres. Os anciãos deveriam ter cuidado
consigo mesmos a fim de se guardarem das doutrinas dos judaizantes e dos gnósticos; além disso,
deveriam ser os supervisores da igreja, sob a orientação do Espírito Santo. A um supervisor (bispo)
cabia apenas cuidar da congregação e protegê-la, não dirigi-la. Os anciãos-bispos foram instruídos a
“apascentar a Igreja de Deus". Os pastores guiam, guardam e alimentam o rebanho. Um ancião-bispo
haveria de ser um líder experimentado e respeitado, guardando o rebanho de doutrinas falsas,
alimentando-o com a palavra de Deus e conduzindo-o na prática da vontade de Deus, atendendo às
necessidades do mesmo. Ele é o responsável perante o Espírito santo por essas atividades. Ninguém
deveria escolher essa posição movida por razões de ambição ou de orgulho.
A igreja pertence a Deus. É identificada como "a Igreja de Deus", significando o povo de Deus.
Os cristãos ficaram em lugar dos israelitas como povo de Deus. Foram adquiridos (comprados) com o
sangue do próprio Deus. Paulo não fez distinção entre o sangue derramado por Cristo e o de Deus, no
verso 28. Sangue representa vida, Deus entregou a vida do seu próprio filho, a fim de que a igreja
sua ida até lá significava a sua morte. A firme convicção de Paulo não era produto de uma simples
obstinação, mais do que isso era o resultado de uma firmeza de caráter. Ele estava convicto de que a
doutrina da salvação só pela fé e a unidade de gentios e judeus dentro da igreja eram princípios
fundamentais, revelados por Deus em todo o Velho Testamento e por Cristo.
A última etapa da viagem é descrita no verso 15, "Depois destes dias... (IBB). Muitos judeus
estavam se dirigindo a Jerusalém para a Festa de Pentecostes, a qual acontecia cinqüenta dias após a
Páscoa. Alguns discípulos de Cesaréia se uniram a Paulo e seus companheiros. A viagem era mais ou
menos de cem quilômetros, e assim não era possível percorrer essa distância em um dia apenas.
Destarte, o grupo passou uma noite numa pequena aldeia em que morava Maáson. Este era um dos
primeiros discípulos, tendo feito parte, provavelmente, do grupo dos 120 que participaram da vinda do
Espírito Santo no Pentecostes. Uma vez era originário de Chipre pensa-se que ele deve ter levado o
evangelho àquela ilha, por onde Paulo e Barnabé iniciaram a sua primeira viagem missionária.
6. Acontecimentos que Culminaram com o Aprisionamento de Paulo – At 21.17-40
As apreensões de Paulo foram parcialmente aliviadas quando, chegando a Jerusalém, foi
cordialmente recebido pelos cristãos dali, que lhe deram um tratamento autêntico de fraternidade cristã
(v. 17). No dia seguinte, Paulo teve um encontro com Tiago e outros anciãos, os quais glorificaram a
Deus quando ouviram de Paulo as experiências a respeito da atuação divina entre os gentios. Eles
informaram a Paulo, por outro lado, que muitos dos crentes judeus continuavam a ser zelosos da lei.
Tinha sido combinado na Conferência de Jerusalém que os cristãos judeus continuariam as suas
práticas, guardando a lei mosaica, mas que não obrigariam os gentios a fazê-lo.
Um dos pontos principais estava na circuncisão das crianças. Os cristãos de Jerusalém tinham
recebido a notícia de que Paulo estaria ensinando aos judeus que viviam entre os gentios a não
circuncidarem os seus filhos, nem praticarem os costumes de Moisés. E, desde que um dos principais
dentre os costumes judaicos era o que os judeus não se associassem a gentios incircuncisos, seria
impossível que houvesse judeus e gentios em uma mesma igreja, se os judeus continuassem a manter
seus costumes e os gentios não fossem circuncidados, então, a fim de que pudesse haver melhor união
nas igrejas mistas, é bem possível que Paulo tenha insistido com os judeus a abrirem mão da prática
dos costumes judaica, a fim de poderem se associar com os gentios incircuncisos.
Os cristãos da igreja em Jerusalém não tinham esse problema. Eles podiam se regozijar com
Paulo quanto às bênçãos de Deus sobre o seu ministério entre os gentios. Mas, por outro lado, eles
também sabiam do problema que se criara por causa de sua recepção cordial a Paulo e de sua relação
fraternal com ele nessa ocasião. Então eles sugeriram que Paulo demonstrasse publicamente, que não
era contrário à prática dos costumes. E isto ele faria procedendo a um rito de purificação juntamente
com outros quatro homens que tinham feito voto. Outrossim, recomendaram que ele todas as despesas
que envolviam a prática do rito, a fim de que os judeus vissem que Paulo não se opunha à guarda da lei
e dos costumes judaicos.
O propósito de Paulo em ir a Jerusalém não era remediar o problema entre os cristãos judeus e
gentios, mas muito pelo contrário, tentar contribuir para maior aceitação mútua. A sugestão dos líderes
de Jerusalém estava absolutamente de acordo com a decisão da conferência e não agredia a liberdade
dos gentios companheiros de Paulo, que não foram obrigados a cumprir a lei mosaica enquanto em
Jerusalém. Quanto a Paulo, como era judeu, não havia problema em que procedesse conforme os
costumes judaicos, então ele participou do rito da purificação e concordou em pagar as despesas, não
somente as suas, mas também dos outros quatro que estavam cumprindo o seu voto. Quando o voto do
nazireado estava cumprido, com o raspar a cabeça e queimar o cabelo no altar, eram oferecidos em
sacrifício dois cordeiros, um carneiro, um pão e um bolo com farinha, e ainda oferta de bebidas. Era
considerado como prática de piedade, para os judeus mais abastados, custear as despesas do
oferecimento de sacrifícios, aos irmãos pobres que não dispusessem de recursos. Esse ato
demonstraria publicamente que Paulo era a favor dos costumes judaicos.
Proceder à purificação significava uma demonstração pública para os judeus, de que Paulo e
os quatro outros homens tinham estado sob o voto do nazireado, mas que os dias do voto tinham sido
completados. Tudo parece indicar que Paulo passava pelo templo com cada um dos quatro,
demonstrando, assim, a sua participação com eles no voto cumprido (v. 26).
Quando chegou o último dia da prática do rito de purificação, alguns judeus não cristãos, da
Ásia, viram Paulo no templo em Jerusalém. Imediatamente eles lançaram mão dele e tumultuaram a
recebera do Senhor: “Vai, porque eu te enviarei para longe aos gentios” (v. 21 - IBB). No instante em
que mencionou a palavra "gentios" a multidão reagiu violentamente e pedia a sua morte (v. 22).
8. O Apelo de Paulo à sua Cidadania - At 22.23-30
A multidão ouvia atentamente, até que Paulo mencionou aos gentios. Essa única palavra
confirmava a sua suspeição resultou em que o julgassem como traidor; digno de morte. Os judeus se
expressaram, conforme o costume oriental, a rasgar as vestes e lançar pó pelo ar.
O tribuno romano, não entendeu a razão da reação dos judeus. Então determinou arrancar a
verdade do próprio Paulo, utilizando-se do açoite, para que Paulo confessasse porque os judeus
clamavam contra ele. Paulo foi estendido, pelos soldados romanos, para o açoitamento brutal, que, às
vezes resultava em morte do açoitado. Paulo aguardou até o último instante para usar privilégio da
cidadania romana a fim de evitar o suplício. Súditos e escravos de Roma eram muitas vezes
maltratados pelos soldados romanos, mas era absolutamente ilegal o espancamento vergonhoso e
público de um cidadão ou a sua condenação sumária sem um cuidadoso e apurado exame do crime
praticado. O fato de Paulo invocar a sua cidadania romana agravava ainda mais a sua situação perante
os judeus.
Lucas mostra que os centuriões e o tribuno reconheceram a gravidade de sua ação, ao
maltratarem um cidadão romano. Paulo não esperou mais, para revelar ao tribuno, que ele era um
cidadão livre (v. 28). O tribuno ficou tremendamente receoso, pois que ele sabia estar em falta por ter
prendido Paulo (v. 29). Então ele instalou um julgamento particular, onde compareceriam os
acusadores, que apresentariam as suas razões contra Paulo. A identidade judaica de Paulo não o
beneficiava mais, assim ele se viu forçado a se utilizar sua origem romana.
9. Paulo perante o Sinédrio - At 23.1-10
Uma vez que as acusações contra Paulo lhe pareciam envolver aspectos da lei dos judeus,
Lísias decidiu levar Paulo para ser julgado pelo Sinédrio. Diante do Sinédrio, Paulo não se sentia como
um criminoso, mas na situação de igual para igual. Ele olhou detidamente para o Conselho e se dirigiu a
eles chamando-os "irmãos" (v. 1). Paulo já ocupara o seu lugar entre eles, tanto nos bancos como entre
os discípulos. Ele estava acostumado a tratar com procônsules, asiarcas e outros líderes, tanto judaicos
quanto gentios.
Paulo informou o Conselho de sua absoluta convicção quanto ao estar fazendo a vontade de
Deus (v. 1). O sumo sacerdote Ananias reagiu violentamente a essa afirmação de Paulo e ordenou que
lhe batessem na boca. O tipo de reação, conforme Josefo, eram bem característica de Ananias, o qual é
descrito como tendo sido avarento e cruel. Ele teria adquirido grandes fortunas utilizando-se de meios
violentos. Paulo, por sua vez, reagiu espontaneamente, com as seguintes palavras: "Deus te ferirá a ti,
parede branqueada" (v. 3 - IBB). Ele estava sendo julgado como tendo quebrado a lei, mas Ananias
acabara de quebrar a lei também, dando ordens que a contrariavam. Então alguém lembrou a Paulo
que ele estava falando com o "Sumo Sacerdote de Deus" (v. 4). E, uma vez que, a Escritura afirma;
"Não dirás mal do príncipe do teu povo" (v. 5 - IBB), Pauto reconheceu que tinha cometido um erro.
Então, ele disse quê não sabia tratar-se do sumo sacerdote. Ele certamente estava se referindo à do
homem que dera a ordem. Paulo respeitava a função e não o homem que a ocupava.
Paulo viu uma última oportunidade de comunicar a esperança em Cristo com os seus irmãos.
Os seus acusadores não tinham nenhuma disposição de admitir a causa real da acusação era outra.
Eles se estribavam em razões religiosas, em sua oposição a ele. Paulo tinha conseguido algum
progresso em seu esforço de convencê-los de que todo o seu trabalho na Causa fora em obediência à
vontade de Deus. Ele conseguiu conduzir o assunto até o ponto da controvérsia doutrinária quando
percebeu que estava perante um grupo em que uma parte era de saduceus e a outra de fariseus.
A sua esperança cristã estava baseada na ressurreição dos mortos. Ele discordava dos
fariseus, no aspecto em que reconhecia que a esperança cristã incluirá tanto judeus quanto gentios.
Habilmente, não mencionou esse aspecto, porque sabia que a base principal do problema que estava
enfrentando situava-se exatamente na área de não aceitação dos gentios por parte dos judeus, em
virtude de seu orgulho nacional.
Então, Paulo afirmou que estava sendo julgado porque pregava a ressurreição dos mortos. Ele
pertencera ao sinédrio e conhecia a diferença de dois grupos quanto à doutrina da ressurreição, aos
anjos e dos espíritos. A sua afirmação incendiou o conflito entre os dois grupos, e os fariseus vieram em
seu auxílio. Eles declararam não achar mal nenhum nele (v. 9). O grupo sacerdotal aristocrático, dos
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saduceus, continuou a sua oposição a Paulo. Os fariseus argumentavam que, se Deus falara a Paulo, o
Sinédrio não teria o direito de causar qualquer impedimento, ou mesmo de condenar o seu trabalho. O
debate entre as duas partes se tornou tão acirrado que o capitão decidiu levar Paulo antes que fosse
agredido pelos membros do Sinédrio.
10. O Apoio Divino e a Libertação - At 23.11-35
Deus se manifestou a Paulo em visão, na qual ele foi confortado e orientado. Ele viera a
Jerusalém convicto de que ainda tinha por tarefa testemunhar por Cristo aos judeus. Tanto ele próprio
quanto o evangelho foram totalmente rejeitados pelos judeus. Paulo desejara ir a Roma, e nessa
oportunidade foi-lhe assegurado que ele também haveria de testemunhar ali (v. 11).
A relação de Paulo com a cidadania romana assegurou-lhe julgamento honrado, mas não a
proteção quanto à astúcia dos judeus. Quarenta judeus fanáticos, talvez zelotes, organizaram uma
conspiração contra ele e fizeram um voto de que não comeriam nem beberiam enquanto não tivessem
matado a Paulo (v. 12). Os quarenta provavelmente fossem sicários, que conduziam armas,
escondendo-as sob as roupas, com as quais assassinavam os seus inimigos enquanto se misturavam
ao povo. Eles combinaram com o Sinédrio que Paulo seria trazido de novo perante o Conselho para
maiores investigações. E então os zelotes planejaram matá-lo antes que chegasse ao recinto do
Sinédrio (vv. 14-15). O seu plano teria dado certo se o sobrinho de Paulo não o tivesse avisado disto (v.
16). A informação foi dada a Lísias, que tomou conhecimento dela e decidiu transportar Paulo para
Cesaréia durante a noite (vv. 17-23). Duzentos soldados, setenta cavaleiros, e duzentos homens com
lança, de uma força militar especial, foram encarregados, de conduzir com a máxima segurança esse
prisioneiro importante. Lísias tinha consciência da delicadeza da situação e por isso estava determinado
a evitar que o seu prisioneiro fosse morto.
O capitão orientou o sobrinho de Paulo para que não contasse a ninguém aquilo que ele sabia
a respeito do assunto. Lucas não nos informa sobre como o sobrinho de Paulo tomou conhecimento do
plano dos zelotes. Nem, tampouco, explica o que aconteceu aos quarenta homens quando o seu plano
falhou. Uma vez que foi providenciado mais de um cavalo para Paulo, deduz-se facilmente que havia
alguns companheiros com ele (v.24). Nenhum outro prisioneiro é mencionado, mas é possível que
algum companheiro de Paulo tivesse sido preso com ele (cf. 27.2). O julgamento deste companheiro
não era importante, desde que ele não significava para os judeus tanta ameaça como a que Paulo
representava.
Cláudio Lísias escreveu uma carta a Félix, o governante da província (vv. 25-30). Explicou as
condições pelas quais estava enviando Paulo com tanta cautela e acrescentou a informação sobre a
cidadania romana de Paulo. Mencionou o plano que fez com que ele decidisse transportar Paulo para
Cesáreia com tanta urgência e declarou a inocência de Paulo quanto a qualquer crime digno de morte
ou de aprisionamento (v. 29). Os soldados partiram com a carta e o seu prisioneiro, e percorreram a
distância de cerca de cinqüenta quilômetros, até Antipátride, durante a noite. Desde que a distância era
suficiente para colocar Paulo a salvo dos zelotes, os soldados que marchavam a pé retomaram a
Jerusalém no dia seguinte (v. 32). Uma viagem como essa teria sido impossível a que não tivesse o
treinamento militar. Os cavaleiros prosseguiram a viagem e entregaram Paulo e a carta ao governador.
Paulo foi guardado com toda a cautela no pretório (palácio) de Herodes, o qual servia de residência ao
governador ou procurador romano.
11. O Julgamento de Paulo perante Félix - At 24.1-27
11.1. O caso contra Paulo (vv. 1-9)
O governador programou o julgamento de Paulo para a ocasião em que chegassem os seus
acusadores. Mas Paulo não teve de esperar muito tempo à chegada do sumo sacerdote Ananias, que
veio com alguns anciãos e um orador ou advogado, chamado Tértulo, o qual colocou o caso de Paulo
diante do procurador.
"Tértulo iniciou o seu discurso com a saudação pessoal, característica da oratória romana.
Comentou a sua missão de paz, correção de erros e a que judeus tinham para com o governo de Félix.
De fato, Félix era homem de caráter duvidoso, mas haveria alguma base para a apreciação de Tértulo.
Ele tinha eliminado os bandidos quando assumiu o poder. O historiador Tácito (Hist. V. 9) disse que
Félix "divertia-se com as crueldades e paixões ardentes, e manejava o poder real com a mentalidade de
um escravo". A sua terceira mulher era Drusila, uma judia.
As acusações de que criara discussões entre os judeus e que era líder da seita dos nazarenos
tinham conotações políticas. É claro que a "seita dos nazarenos" se referia aos cristãos, cujo líder era
Jesus de Nazaré. Paulo era acusado de violação religiosa, por profanar o templo (v. 6). O verso 7 é
omitido nos manuscritos mais antigos. Tértulo pressionou a Félix para que examinasse com toda a
urgência, a fim de estabelecer a procedência de suas acusações (v. 8). Os judeus que acompanharam
Tértulo confirmaram o que ele disse.
11.2. A defesa de Paulo (vv. 10-21)
Paulo negou duas das três acusações feitas por Tértulo. Ele negou que fosse um agitador e
que tivesse feito o tumulto em Jerusalém (v. 12), pois que tinha vindo a Jerusalém para adorar apenas
doze dias antes (v. 11). Reconheceu parcialmente a segunda acusação, segundo a qual era o líder mais
ardoroso da seita "cujo caminho eles chamavam de heresia" (v. 14), mas negou que os seguidores do
"caminho" tivessem rejeitado o culto a Deus conforme a Lei e os profetas (v. 14). Como seguidor do
"caminho", Paulo afirmava ser um judeu mais leal que os seus acusadores. "A seita" dava ênfase à
ressurreição tanto de justos como de injustos, doutrina ensinada pelos fariseus (v. 15). Os fariseus
também insistiam que a pessoa deveria ser inculpável diante de Deus, pela observância da Lei. Paulo
somente mantinha uma consciência sem culpa diante de Deus e dos homens, mas tinha ido além
daquilo que lei estabelecia por ter trazido uma oferta para o seu próprio povo (vv. 16 e 17).
Paulo refutou a terceira acusação de que ele profanara o templo, afirmando: "certos judeus da
Ásia, me encontraram no templo, purificado; não estava misturado à multidão, nem tão pouco metido
em tumulto" (V.18. NASB). Os judeus da Ásia é que foram realmente os responsáveis pelo tumulto.
Paulo lembrou aos seus acusadores havia sido ouvido pelo Sinédrio, que não foi capaz de estabelecer
a sua culpabilidade quanto a ato menos digno (cf. 23.1-10) Os próprios fariseus tinham defendido a
proclamação que ele fizera quanto e ressurreição, no Conselho.
11.3. A decisão de Félix (vv. 22-27)
A ênfase que Paulo dera à doutrina básica do cristianismo, que é a que se refere à
ressurreição, fez com que os fariseus absolutamente não pudessem apoiar os saduceus e condenarem
a Paulo como hereje. E assim, desde que não havia acordo entre os acusadores de Paulo e o seu
testemunho contradizia as suas acusações, Félix achou por bem proceder a uma investigação mais
profunda, antes de tomar qualquer decisão. Paulo foi guardado com cautela, mas foi-lhe concedida
certa liberdade; assim, Lucas deixa transparecer Félix não considerava Paulo culpado de qualquer
crime que coubesse à sua coorte decidir.
Félix era casado com a judia Drusila, filha de Agripa II, que foi quem matou Tiago. Ela era irmã
de Agripa II e de Berenice (cf. 25.23). Drusila nascera em 38 a.D. e se casara com Azizo, rei de
Emessa, com a idade de quinze anos. Ela e Berenice tinham ciúmes uma da beleza da outra, e então
cada qual procurava passar a outra para trás, nas oportunidades do galgar posições sociais. Drusila
abandonou a Azizo, para se tomar a terceira mulher de Félix.
Félix tinha algum conhecimento do cristianismo e desejava conhecê-lo melhor. Ele e Drusila
convidaram, então, Paulo para lhes falar "a respeito da fé em Cristo" (v. 24). Paulo não usava as suas
oportunidades diante das autoridades romanas para a sua própria defesa, mas para testemunhar de
Cristo. As palavras de Paulo quanto à justiça, temperança e juízo vindouro aplicava-se diretamente à
ambição monetária de Félix a sua paixão de suborno (v. 26), de poder político e social, e auto-
recompensa. Da mesma forma, a mensagem se aplicava a Drusila, controlada pela vaidade, pelo ciúme
e pela ambição social. Embora Félix reconhecesse a inocência de Paulo, manteve-o preso, na
esperança de receber dinheiro, por um lado, e, por outro, para agradar aos judeus (v.27). Ao invés de
se arrepender, ao se conscientizar de sua culpa. Félix despediu-se de Paulo com a desculpa fraca de
que não tinha tempo de continuar a ouvi-lo (v. 25). E assim, Paulo continuou preso em Cesaréia até que
Festo se tomou procurador.
QUESTIONÁRIO
1. Faça a ligação entre os lugares visitados e a respectiva viagem, colocando a letra antes do número
da viagem.
3. Quais os passos que Paulo dava no estabelecimento de um novo trabalho em uma cidade?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
COMPLETE
a) No_______________________________________________________________________________
b) Na_______________________________________________________________________________
c) Na_______________________________________________________________________________
7. Apresente os argumentos que Paulo usa para demonstrar que Deus é criador.
a) _______________________________________________________________________________
b) _______________________________________________________________________________
c) _______________________________________________________________________________
d) _______________________________________________________________________________
e) _______________________________________________________________________________
8. Quais as áreas visitadas por Paulo nas quais estabeleceram igrejas em cada uma de suas três
viagens missionárias?
b) ______________________________________________________________________________
c) ______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
11. O que é tomado como marco do encerramento da segunda viagem missionária de Paulo?
_________________________________________________________________________________
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O propósito de Lucas ao escrever o livro de Atos, era o de mostrar que Jesus de Nazaré era o
Senhor e rei do Universo. Ele tinha especial interesse em indicar o senhorio de Cristo sobre os gentios,
sendo ele próprio um dentre eles. A fim de o seu propósito era necessário demonstrar as conquistas
geográficas, sociais e nacionais do evangelho sob o poder do Espírito Santo. Não se propunha Lucas a
montar uma história completa de toda a expansão do evangelho, mas incluir o suficiente para mostrar
que Cristo é o Senhor de todos os povos.
Lucas mostra como pessoas de todos os níveis sociais eram trazidas para o Reino. Muitos dos
que, a princípio, aceitaram o evangelho tanto em Jerusalém quanto na Galiléia, pertenciam à classe dos
pobres. Logo depois começaram a se converter os sacerdotes. Mais a adiante, o evangelho vencendo
as barreiras nacionalistas dos judeus, foi pregado a um oficial da rainha etíope. Durante a primeira
viagem missionária, converteu-se um governador romano. Em um sem-número de ocasiões, Paulo
tivera a oportunidade de compartilhar das verdades do evangelho com oficiais romanos. Em Atenas, ele
teve ocasião de falar aos intelectuais. Lucas mostra que o cristianismo não estava limitado a uma
determinada nação, nem a determinado grupo social. Cristo é o Senhor de todos.
O propósito de Lucas em mostrar que Cristo é o Senhor de todos, só se completou quando o
testemunho do evangelho foi levado a Roma. Paulo não foi o pioneiro nessa tarefa, entretanto a sua
contribuição à igreja em Roma, por meio da carta que lhe dirigiu, bem assim como a sua visita pessoal a
ela, merece o destaque dado por Lucas, em Atos, de sua viagem a Roma. Lucas descreve, antes de
mais nada, as circunstâncias que ocasionaram a referida viagem. Depois passa as experiências
ocorridas durante a mesma. O livro termina com um breve relato da recepção que Paulo teve por parte
dos cristãos e o seu ministério entre os gentios de Roma. Uma vez que a igreja em Roma foi se
tomando aos poucos, predominantemente gentia, pode-se compreender o significado da contribuição de
Paulo a ela.
1. O Apelo a César - At 25.1-12
Durante os dois anos de sua prisão em Cesaréia, Paulo não foi mantido isolado totalmente.
E bem possível que ele tivesse tido a oportunidade de permanecer em casa particular gozando de
liberdade, a despeito de estar algemado a um soldado. Foi-lhe permitido ter consigo os seus amigos e
cooperadores. Talvez Filipe e outros cristãos de Cesaréia, o visitassem constantemente. Lucas e
Aristarco, possivelmente estivessem continuamente ao seu lado. Acredita-se que as chamadas
epístolas da prisão destinadas aos Efésios, Colossenses a Filemon, tenham sido escritas de Cesaréia.
Félix, como procurador, foi sucedido por Festo, entre os anos 55 a 59 a.C. Embora não se
saiba exatamente qual a ocasião de sua chegada a Cesaréia, uma data do fim desse período é a que
melhor se ajusta cronologia de Lucas. O julgamento de Paulo perante Festo ocorreu cerca de 58 ou 59
a.D.
Ao compartilhar o seu terceiro dia de governo, Festo viajou para Jerusalém e ali foi abordado
especialmente, a respeito de Paulo. Sendo responsável pela manutenção da paz na sua província, ele
procurou as boas graças do povo. Sabendo do desejo do procurador, de agradar aos judeus, os
principais sacerdotes lhe fizeram um pedido que pensavam, não lhes haveria de negar. Eles pediram
que Paulo fosse trazido de volta a Jerusalém para julgamento. O Sinédrio estava montando um
esquema, exatamente idêntico ao plano dos sicários, de assassinarem a Paulo, caso ele viesse a ser
transportado de Cesaréia a Jerusalém. Festo manifestou o seu espírito de equilíbrio e de sabedoria,
negando o atendimento ao pedido, oferecendo, entretanto, a alternativa de reabrir o julgamento de
Paulo, caso os líderes judaicos desejassem renovar as suas acusações a ele.
Festo, como romano, não se achava ainda, suficientemente em condições de compreender as
leis próprias dos judeus e tão poucas as acusações que faziam contra um dos seus. Parece que ele
estava convicto de que Paulo não era culpado de algo que fosse propriamente crime, mas iniciando a
sua atividade como procurador não poderia simplesmente ignorar o pedido que os líderes lhe estavam
fazendo.
FATAD Prof. Jales Barbosa 88
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
Depois de oito ou dez dias, Festo retornou a Cesaréia e os líderes judaicos o acompanharam,
para o julgamento de Paulo (v. 6). Lucas não repete as acusações feitas a Paulo. Ele, apenas, diz que
eles trouxeram "contra ele muitas e graves acusações, que não podiam provar" (v. 7 – IBB). Pela defesa
apresentada por Paulo, deduzimos que estava sendo novamente acusado, de quebrar a lei religiosa dos
judeus (ensinando que a circuncisão não era pré-requisito para a comunhão com Deus), de quebrar o
culto público no templo (eles achavam que ele introduzira um gentio dentro do templo) e de sedição
(pregava lealdade a Jesus, como Rei é não a César).
Conquanto os judeus não pudessem provar as suas acusações contra Paulo desejava
demonstrar aos judeus algum favor; então, ele decidiu que Paulo iria a Jerusalém e o seu caso seria
examinado novamente pelo Sinédrio. Festo planejava estar presente ao julgamento (v. 9). Mesmo que
ele não entendesse de legislação judaica, pensava talvez que reabrir o julgamento perante o Sinédrio
lhe traria oportunidade de conhecer melhor o caso.
Paulo se recusou a ser julgado novamente perante o Sinédrio. Ele sabia muito bem que o seu
povo tinha feito decisões baseadas puramente em emoções ao invés de o serem à base da justiça
objetiva. Ele já tinha estado uma vez perante o Sinédrio, onde se defendera das acusações falsas,
ciúmes e preconceito tinham cegado os olhos dos judeus; daí não haver mais razão para voltar ao
contato com os membros do Sinédrio. O tribunal de César não encontrou crime em Paulo, naquilo em
que se dizia ter errado perante os judeus. Paulo concordava em que deveria ser morto, desde que
tivesse cometido um crime digno de morte (v. 11). Mas, uma vez que não pudessem declará-lo culpado
de algum crime, ele se recusava a ser conduzido perante a multidão judaica a qual poderia facilmente
ser induzida a condutas irracionais. Paulo não temia a morte, mas não via razões para ser levado de
volta a Jerusalém, para ser ali assassinado. As suas mãos estavam limpas do sangue dos judeus.
Haveria de dar contas de suas ações, diretamente a Deus. Então, apelou a César (v. 11).
Os direitos de um cidadão romano eram criteriosamente assegurados. Se algum cidadão
achava que o seu caso não estava sendo julgado de forma correta, em sua província, ele poderia apelar
para que fosse julgado perante César. Paulo já tinha sido julgado e considerado inocente, mas o
procurador decidira pelo seu retorno a Jerusalém, onde ele sabia que haveria de ser morto. Não havia
outra alternativa senão apelar para César. O apelo de Paulo possibilitou a Festo a oportunidade de se
livrar da responsabilidade do caso sem prejudicar a sua posição política. Se Festo tivesse soltado a
Paulo, os judeus teriam ficado furiosos. Se tivesse condenado a Paulo, teria agido contrariamente a
justiça romana. No seu parecer pessoal, Paulo era inocente e deveria ser solto (cf. 26. 31 e ss.).
2. Caso Paulo, discutido com Agripa II - At 25:13-27
Agripa II era filho de Herodes Agripa, o qual tinha sido rei da Judéia até 44 a.D. (cf. At 12).
Agripa II tinha sido levado à coorte de Cláudio, mas por ter apenas 17 anos por ocasião da morte de
seu pai, não lhe foi dado o reino do Pai. Entretanto, mais tarde, lhe foi-dado o principado de seu tio, o rei
Herodes de Calcis, quando este faleceu. O rei Herodes era casado com Berenice, irmã de Agripa. Mais
tarde, Cláudio encarregou Agripa II, da responsabilidade de indicar o sumo sacerdote dos judeus e
mudar Calis para algum principado no norte da Palestina. A Agripa II foi também dado o título de rei.
Das três irmãs de Agripa (Berenice, Mariane, e Drusila) duas são mencionadas no livro de
Atos. Drusila já foi apresentada como a terceira esposa de Félix. Berenice, depois da morte de seu tio e
primeiro marido Herodes, se uniu a seu irmão. Agripa II, em Roma. Notícias escandalosas começaram a
circular na sociedade romana a respeito dessa relação incestuosa. Então Berenice abandonou a cidade
e se casou com Polemo, um soberano da Cilícia. Mas logo se separou dele retornou ao seu irmão.
Tanto Drusila como Berenice são famosas pela sua indecência.
Era costume na época, que príncipes e soberanos apresentassem os seus respeitos a um novo
governador logo no início de seu mandato. Assim é que, Berenice e Agripa II chegaram a Cesaréia para
essa finalidade, logo depois da posse de Festo. (v. 13). A sua visita, que tinha sido planejada para ser
breve, veio a ser longa (v. 14). Uma vez que Festo, não tinha conseguido mais para enviá-lo a César,
analisou com Agripa II, o caso, e buscou o seu conselho. Agripa já era oficialmente conhecido como
autoridade em assuntos concernentes à política religiosa judaica. Ele era judeu de nascimento, porém
romano de formação e de coração.
Festo e Agripa examinaram detalhadamente o caso Paulo. Ele reconheceu que por ocasião do
julgamento de Paulo, os seus acusadores apresentaram "acusações contra ele de crimes que eu não
conheço" (v. 18 -NASB). Festo revelou a sua impressão de que o ponto nevrálgico do problema entre
Paulo e seus acusadores situava-se na área da ressurreição de Jesus (v. 19). Além disso, sendo
romano, reconhecia Festo, a sua absoluta incompetência para cuidar de casos ligados a questões
religiosas dos judeus. Paulo se recusara a voltar a Jerusalém a fim de se submeter a um exame mais
profundo do problema e apela a César.
Agripa II veio a ter bastante interesse no caso de Paulo. Talvez tivesse tido notícias das
pregações do famoso apóstolo e estivesse bem por dentro da controvérsia entre os fariseus e
saduceus, quanto à ressurreição. Conquanto nada soubesse a respeito de Jesus, desde que passara
em Roma a maior parte de sua vida até então, estava familiarizado, no entanto, com a esperança
messiânica judaica. Embora a vida imoral de Agripa, não estivesse em acordo com a mensagem que
Paulo pregava, a sua atitude de simpatia para com os romanos de um lado, e do outro, a sua
familiaridade com as tradições judaicas, davam-lhe as condições naturais para um julgamento imparcial
e bem fundamentado.
A vaidade e ambição social de Berenice e Agripa são reveladas pela pompa com que se
conduziam esses soberanos insignificantes (v. 23). Conquanto, fosse Festo, a autoridade máxima local,
deu, entretanto, ao jovem rei a oportunidade de fazer um discurso público com a aparência de
autoridade. A audiência foi programada para ser realizada no auditório do palácio, o rei ocupou o
assento normalmente destinado ao governador da província, mas o governador reservou para si o
direito do veredicto final. Festo apresentou o prisioneiro Paulo ao rei Agripa, reconhecendo ainda mais
uma vez que ele não encontrava no réu, nenhum crime digno de morte (v. 25). Afirmou que o propósito
da audiência era o de obter mais dados que pudessem ser apresentados ao imperador para o
julgamento de Paulo (vv. 26 e 27).
3. O Testemunho de Paulo Perante Agripa II - At 26.1-29
3.1. O discurso de Paulo – At 26.1-23
Paulo não perdeu a oportunidade de falar a um rei judaico. Um procurador o príncipe da
cidade, e os comandantes das tropas militares. Quando ele foi cotidado a falar, por Agripa.
Lucas descreve o discurso de Paulo como a sua defesa (v. 1), mas ele combinou defesa com
testemunho do evangelho.
Paulo iniciou a sua palavra com um cumprimento delicado ao rei. Disse que se sentia feliz pela
oportunidade de apresentar o seu caso a Agripa II, que conhecia os costumes e controvérsias dos
judeus. E uma vez que os seus ouvintes compreendiam o que significava o orgulho e a lealdade de um
judeu aos costumes dos Pais. Paulo fez referenciará sua vida pregressa. Embora estivesse sendo
acusado de falar contra a Lei de Moisés, ninguém poderia se esquecer do fato de que ele fora fariseu,
Seita judaica que primava pela severidade na guarda da Lei (v. 5). Paulo passou rapidamente de sua
experiência pessoal à interpretação do Velho Testamento.
Deus prometera às doze tribos que haveriam de se constituir em uma grande nação, teriam o
seu próprio território e lhes seria dado um rei eterno (v. 7). A promessa divina quanto à grandiosidade
da nação seria cumprida no estabelecimento do Reino de Deus. A maior bênção do Reino de Deus foi a
ressurreição. Pela qual o povo de Deus seria constituído em um Reino eterno. O Reino não
desapareceria mesmo que desaparecesse o povo como tal.
Paulo explicou que tinha rejeitado, na prática, plano divino e conspirado contra Jesus e os seus
seguidores (vv. 9-11). Ele tinha se envolvido pessoalmente na oposição ao cristianismo por uma
experiência de encontro pessoal com o Senhor dos céus e da terra. Ele descreveu essa sua experiência
como sendo uma luz do céu, cujo brilho era mais claro que o do sol. Ele ouvira uma voz falando em
língua hebraica:
"Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões" (v. 14 -
IBB). Ele então descobriu que o Senhor dos céus e da terra era Jesus, a cuja causa ele estava
promovendo oposição. O condutor de bois usava uma tara grossa com uma ponta aguda em sua
extremidade para tanger os bois a fim de se movimentarem. Os bois ainda não suficientemente
amansados, freqüentemente não obedecem quando tangidos pelo aguilhão, de sorte que se torna
necessário empregar-se a vara com mais severidade. Da mesma forma, a não obediência à vontade do
Senhor Jesus, só trazia como conseqüências a frustração e a sensação de punição. Essa experiência
demonstrou a Paulo, a estultícia de rebelião e então preferiu submeter -se ao Senhor (v. 16). A vontade
de Cristo era a de que Paulo pregasse o evangelho aos gentios a fim de que eles também
participassem do Reino de Deus.
FATAD Prof. Jales Barbosa 90
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
No verso 18 Paulo apresenta uma extraordinária síntese de sua posição quanto ao Reino. Ele
cria que, em Cristo, tinha chegado o Dia do Senhor, quando o povo de Deus seria libertado do domínio
de Satanás o qual tenta exercer o seu governo no mundo, e seria feito participante do Reino. A
humanidade ainda em trevas; ignora a verdade e a realidade da vida. Gente com mentalidade mundana
pensa que a vida existe apenas a fim de satisfazer as paixões, as ambições pessoais e as possessões
materiais. Aqueles cujas vidas são controladas por esses valores estão andando em trevas e sob o
domínio de Satanás. O divino Libertador foi enviado na pessoa do Filho de Deus, e perdoa os pecados
daqueles que se arrependem e confere a vida oferecida pelo Reino aos que crêem nele como Messias.
Aqueles que renunciam à vida mundana, de pecado e crêem em Cristo, são transportados das trevas
para a luz. Esses descobrem a realidade da vida, na comunhão com Deus.
Em conformidade com o verso 18, Paulo cria na realidade do Reino de Deus, mas não
estabelecia qualquer igualdade com organização terrena. A sua concepção era a de uma realidade
espiritual superior, na qual ou é Satanás ou é Deus, quem domina a vida individual do homem. Deus,
por meio de Cristo, passa a dominar a vida de uma pessoa, quando esta, pela fé, convida a Cristo a se
tornar o seu rei. Qualquer pessoa que tome essa decisão descobre a luz, a realidade e o significado da
vida tanto para agora quanto para a eternidade. A vida precisa ser vivida em um plano que esteja acima
do nível presente e material. É o Espírito Santo quem capacita para a vida nesse novo nível, quando o
homem, pela fé, adentra o Reino de Deus.
Paulo afirmou mais uma vez que a alteração ocorrida em sua primitiva posição de lealdade aos
costumes judaicos e em sua interpretação do Velho Testamento, não foi o resultado de sua própria
determinação, antes pelo contrário uma dádiva divina (v. 19). Desastroso teria sido para ele, se tivesse
continuado na desobediência de "recalcitrar contra os aguilhões". Não poderia em hipótese alguma,
opor-se a Deus. E, em obediência àquela visão celestial, é que ele proclamara aos judeus de Damasco,
Jerusalém e toda a Judéia que, tanto eles, quanto os gentios precisavam se arrepender e praticar atos
próprios de quem se arrependeu (v. 20).
Paulo tinha sido acusado de trair a Deus falando contra a Lei de Moisés. A sua chamada a um
arrependimento genuíno e a uma verdadeira justiça não poderia significar de forma alguma, uma traição
à vontade de Deus. E a despeito disto, alguns judeus o agarraram enquanto estava no templo e
tentaram matá-lo (v. 21). O fato de que Paulo se encontrava perante Agripa, naquela hora, a fim de dar
o seu testemunho, era a maior prova de que Deus aprovara o seu trabalho e por isso, o tinha
preservado da morte. Paulo disse que toda a sua argumentação estava baseada no Velho Testamento
e na interpretação de Moisés e dos profetas (v. 22). Ele via claramente o Velho Testamento falando que
o Messias divino haveria de sofrer e de ser levantado dos mortos (v. 23).
Antes de sua experiência no caminho de Damasco, Paulo adotava o ponto de vista tipicamente
judaico, de que o Messias divino seria vitorioso e governaria em poder e esplendor. Essa esperança
ainda não tinha se tomado em realidade por que aqueles que, anteriormente, poderiam satisfazer a
essas perspectivas, acabaram sempre em fracasso e morte. Deus cumpria a sua promessa de um
Messias eterno e de um Reino, quando a própria morte foi derrotada. A morte foi derrotada pela
ressurreição de Jesus e ele foi o primeiro a proclamar a luz da nova vida no Reino de Deus ao povo
judaico e aos gentios (v. 23). A vida e os conceitos de Paulo foram totalmente reformulados porque o
Senhor Jesus ressurreto lhe apareceu e o capacitou a compreender essas verdades.
3.2. As reações à mensagem de Paulo - At 26.24-32
A exclamação de Festo (vv. 24-26). Em virtude da realidade da vida nova em Cristo,
experimentada por Paulo, ele se emocionou ao apresentar os fatos, o que fez com que Festo o
considerasse fora de si. Certamente Festo ignorava quase por completo a Escritura dos judeus bem
assim como a sua interpretação, mas pode ser que tivesse alguma familiaridade com o conceito de
ressurreição, que também era ensinado pelas religiões, as mais variadas e misteriosas, entre os gregos
e romanos. Entretanto, esse tipo de ressurreição era o símbolo do reaparecimento dos sinais de vida,
após o inverno. Paulo, no entanto, falava de juma pessoa que fora ungida por Deus para estabelecer
um Reino eterno constituído de gente que ressuscitaria para uma vida eterna. O conceito do ungido de
Deus, ser vitorioso pelos caminhos da humildade e do sofrimento, era estranho tanto aos romanos
quanto aos judeus.
A vida gloriosa que Paulo apresentava, como resultarão de submissão em lugar de resultante
de auto-afirmação, não cabia no entendimento de Festo. Em seu estado de total confusão ele exclamou
que Paulo estava doente. Paulo respondeu que não estava doente, antes proferia palavras de verdade,
FATAD Prof. Jales Barbosa 91
LIVROS DE ATOS DOS APÓSTOLOS
em absoluto "são juízo" (v. 25). Então, Paulo olhou para Agripa buscando o apoio deste à sua
afirmação. Certamente Agripa sabia que as palavras de Paulo eram sensatas, e que o cristianismo era
o cumprimento das profecias do Velho Testamento. O cristianismo crescera rapidamente e não era mais
um movimento obscuro e sem significação. Não só como movimento, mas também como verdade, o
cristianismo já era largamente conhecido. As doutrinas cristãs da ressurreição dos mortos e da vinda do
Messias eram doutrinas básicas também do judaísmo conseqüentemente seriam do conhecimento de
Agripa.
A reação de Agripa (vv. 27-29). Quando Paulo olhou para Agripa, o seu entusiasmo por Cristo,
o levou mais uma vez ao anseio de ver o seu ouvinte fazendo a sua decisão (v. 27). Sabendo que os
judeus aceitavam o Velho Testamento como a Palavra de Deus autorizada, Paulo estava convicto de
que Agripa cria naquilo que ele estava dizendo, porque as suas palavras estavam baseadas nos
profetas. A resposta que Agripa deu a Paulo, conquanto seja usada como texto para muitos sermões, é
uma expressão que não tem sido, na maioria das vezes, traduzida exatamente conforme no original. O
que Agripa queria dizer era: "Paulo, você pensa que é tão fácil fazer de mim um cristão?". Embora
Agripa estivesse interessado nos argumentos de Paulo e na sua interpretação do Velho Testamento,
tudo parece que ele se sentiu embaraçado por ter sido solicitado tão diretamente a sustentar a posição
de Paulo, diante dos dignitários da cidade. Por outro lado, Paulo em nada diminuiu o seu zelo, mesmo
diante da frustração vivida com as duas autoridades políticas. Ele complementou as suas palavras
expressando o seu profundo desejo de que não só Agripa, mas todos que o ouviram, pudessem viver a
experiência real que ele vivia, exceto as suas cadeias (v. 29).
A conclusão a que Aqripa chegou, no caso de Paulo (vv. 30-32). Lísias tinha achado que Paulo
não cometera crime digno de prisão ou morte; a mesma, foi a idéia de Festo. Agripa se retirou com o
governador e Berenice, por alguns instantes, para uma breve conferência. Também ele concordava com
Lísias e Festo que não havia em Paulo, crime digno de morte ou de prisão. A conclusão a que Agripa
chegou foi a de que Paulo poderia ser posto em liberdade, se não tivesse apelado para César. Alguns
intérpretes acham que Paulo agiu precipitadamente, apelando para César. Temos de lembrar,
entretanto, que se ele não tivesse tomado essa decisão ele teria sido levado de volta a Jerusalém onde
seguramente, a morte o aguardava.
A experiência de Paulo revela por outro lado, a providencial solução divina, no momento exato.
Paulo prometera que ainda visitaria Roma. E assim, mesmo a prisão não poderia impedir a
concretização do plano divino, pelo contrário, estaria contribuindo para a sua realização.
4. A Viagem de Paulo a Roma - At 27.1-28.15
4.1. De Cesaréia a Bons Portos (27.1-8)
Não era muito convidativo iniciar uma viagem no começo do inverno, pois o mar se tornava
traiçoeiro e agitado. A navegação durante os meses de inverno era quase impraticável. Frank Stagg
sugere que a viagem é uma boa ilustração da própria vida e ministério de Paulo. “Todo o seu ministério
foi tormentoso; ele foi rejeitado inúmeras vezes; muitas foram às ocasiões em que ele esteve deprimido;
porém as suas decisões de longo alcance, muito significaram para a história subseqüente."
Ao descrever a viagem, o autor vai enfocando sempre a profunda confiança que Paulo
mantinha no seu Senhor, mesmo nos momentos mais delicados, ele demonstrou ser realmente um
profeta e um verdadeiro líder espiritual no decorrer de toda uma viagem de seis meses ou mais.
Tudo indica que o autor uma vez mais, acompanha Paulo nessa viagem, e isto porque ele volta
a usar a primeira pessoa do plural. "Outros prisioneiros" (de espécies diferentes) também estavam
sendo conduzidos a fim de serem entregues em Roma.
Aristarco de Tessalônica é mencionado como companheiro de Lucas e de Paulo (v. 2). Ele é
chamado de "preso comigo" em Cl 4.10.
Paulo foi entregue aos cuidados de Júlio, o qual conseguiu embarcar o grupo em um navio
costeiro que os conduziria até Mira, na Lícia. O tempo próprio para a navegação já se acabara, de sorte
que não havia naquele porto, navio algum com destino direto a Roma.Talvez Júlio desejasse ir até
Éfeso, depois cruzar o mar Egeu até Corinto, e do outro lado do istmo tomar outro navio para Roma.
No primeiro dia de viagem chegaram a Sidom, depois de um percurso de aproximadamente
110 km. A essa altura Paulo já conquistara o respeito e a confiança de Júlio, o qual lhe permitiu visitar
os seus amigos enquanto o navio permanecesse em Sidom. Paulo não estaria passando bem, o que
explica a presença de Lucas (um médico) com ele. Uma vez que já tinham começado a soprar os
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ventos do oeste, o navio velejou ao abrigo de Chipre, ao invés de atravessar o mar aberto. O progresso
na viagem era pequeno, ao longo da costa da Cilícia e da Panfília.
Em Mira, Júlio conseguiu passagem em um navio de cereais, o qual insistiria em prosseguir
viagem, vindo de Alexandria e indo para a Itália. Os ventos de noroeste continuavam a soprar e
amarravam a marcha do navio. O navio foi parcialmente abrigado dos ventos contrários, pela ilha de
Creta, até que finalmente se alcançou Bons Portos, na costa sudoeste de Creta.
4.2. A tempestade na viagem a Malta (27.9-44)
O "jejum" era a cerimônia religiosa judaica, que acontecia perto do início de outubro, tempo em
que a navegação era muito perigosa. De vez que, o navio não pode prosseguir a sua marcha depois de
rodear a parte sudoeste de Creta e tomara direção noroeste. Com ventos contrários, permaneceu em
Bons Portos, vários dias. Paulo advertiu ao centurião e ao capitão do navio a continuação da viagem
resultaria em grande prejuízo tanto no que se refere à carga. Quanto ao navio, quanto ainda em vidas
(v. 10). O centurião e a tripulação do navio concordaram em que a viagem para a Itália deveria ser
adiada até que tivesse passado os meses de inverno, mas acharam que se deveria seguir pela costa
noroeste de Creta, até Fênix, o qual era um porto mais apropriado a essa finalidade (v. 12).
Depois de alguns dias, o vento mudou para direção sul e se tomou mais brando, então, o
centurião e o capitão acharam que seria a oportunidade de chegarem até Fênix (v. 13). O navio
progredia razoavelmente ao longo da costa de Creta, até que vento mudou repentinamente rumo a
nordeste (chamado euro-aquilão) e lançou o navio no mar aberto (vv. 14 e 15). O navio foi arrastado ao
largo da pequena ilha de Clauda, no sudoeste de Creta. A ilha deu à tripulação, alguma proteção e uma
oportunidade de reforçar o casco do navio, amarrando-o com cabos (vv. 16 e 17). Sem saberem o rumo
que estavam tomando, a tripulação temia dar em areia movediça na costa da África nas imediações de
Cirene, então, abaixando as velas deixaram o navio ser carregado pela tempestade. Quando esta se
tornou mais violenta, a carga e os equipamentos do navio foram lançados ao mar (vv. 18 e 19).
Sem o auxílio de uma bússola, o capitão não poderia determinar a direção na qual estavam
sendo arrastados. Os antigos marinheiros dependiam do sol e das estrelas para a navegação (v. 20).
Ao passo que a tempestade ia demorando mais e mais dias, ia também diminuindo a esperança de
escaparem com vida (v. 20). O balanço do navio impedia a preparação dos alimentos, e nenhum dos
passageiros tinha condições emocionais de se alimentar, o que estava fazendo com que todos fossem
ficando com fome. Quando todas as esperanças tinham se acabado Paulo ali estava para animar a
todos. Lembrou que se tivesse sido ouvido em Creta, todo o perigo e prejuízo, teria sido evitado (v. 21).
O maior interesse de Paulo não estava em lembrar a eles "o que ele tinha dito" mas em lhes demonstrar
que a palavra do Senhor a ele revelada era digna de toda a confiança. Paulo informou aos 276
companheiros de bordo que, embora o navio fosse se perder, nenhuma vida seria atingida. A sua
profecia era baseada na mensagem recebida de Jesus por meio dum anjo. O Deus de Paulo era capaz
de lhe manter a vida a fim de que ele pudesse cumprir a vontade divina que determinara o
comparecimento de Paulo perante César.
Na décima oitava noite os marinheiros perceberam que o navio se aproximava da terra (v. 27).
As âncoras foram baixadas a fim de evitar que porventura o navio desse sobre rochedos. Os
marinheiros tentaram fugir num pequeno bote, mas Paulo os surpreendeu no ato e advertiu o centurião
e soldados que os marinheiros eram necessários para o controle do navio. Se os marinheiros fugissem
haveria perda de vidas; mas, se todos se unissem nenhuma vida se perderia. Os soldados, então,
cortaram os cabos do bote e o deixaram cair no mar. Essa ação evitaria a fuga dos marinheiros, mas
por outro lado os privaria a eles próprios também do uso do tão necessário bote. Paulo passou o
restante da noite encorajando os passageiros, a se alimentarem, desde que precisariam das forcas para
alcançarem a costa (vv 33 e 34). E mais uma vez lhes assegurou que ninguém morreria. Ele próprio
demonstrou a sua fé, pela ação de tomar o pão, dar graça e comer (v. 35). A capacidade de liderança
de Paulo e a sua firmeza de caráter evidenciaram-se extraordinariamente durante toda a tempestade.
Depois de terem comido, tanto os passageiros quanto tripulação, o restante do trigo foi lançado
no mar. Amanhecendo o dia, avistaram uma praia dentro de uma praia e então a tripulação determinou
dirigir para ali o navio. Levantadas às âncoras, foi alçada a vela principal. Um recife impediu o navio de
alcançar a praia, mas ficou bem perto de modo que alguns puderam facilmente alcançá-la a nado. O
navio encalhado começou a destroçar com a força das ondas, obrigando todos a abandoná-lo de vez E,
uma vez que os soldados eram responsáveis por seus prisioneiros, decidiram matá-los a fim de que não
fugissem e assim os colocassem na situação de terem de pagar com as suas próprias vidas a fuga de
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seus prisioneiros, conforme estabelecia a lei romana. Entretanto, a gratidão e a afeição com o apóstolo,
fizeram com que se ele impedisse os homens de levarem a efeito os seus propósitos. Ele instruiu o
povo a bordo, a alcançar a praia a nado, ou pela utilização de tábuas e outros pedaços do navio
destroçado. Lucas faz questão de mencionar a promessa do Senhor, dada a Paulo, de que ninguém
morreria, se cumpriu (v. 44).
5. O inverno em Malta (28:1-10)
A ilha onde o navio encalhou, chamava se Melita (Malta v. 1). Os nativos foram muito gentis e
ofereceram todo o conforto que puderam.
Quando Paulo lançava um feixe de varas no fogo, uma víbora saltou e picou a sua mão. Os
nativos certamente tinham observado as algemas de Paulo e chegaram à conclusão de que ele deveria
ser um homicida. Assim quando viram a víbora dependurada na mão de Paulo, acharam que a “justiça
divina” não lhe permitiria escapar da morte, nessa segunda vez. Entretanto, quando o apóstolo lançou
no fogo a víbora, nada lhe acontecendo, fez com que os nativos chegassem a outra conclusão, ou seja,
a de que, ao invés de criminoso, ele seria um deus (v. 6).
Paulo sempre aproveitava as oportunidades para desempenhar o seu ministério, mesmo
quando as circunstâncias externas eram contrárias. A caminho de Roma como prisioneiro, e tendo
acabado de viver uma dura experiência de tempestade e naufrágio, a sua saúde parece não ter estado
muito boa àquela altura. Mesmo assim, Paulo não perdeu a oportunidade de exercer o seu ministério,
durante os três meses que ali passou, atendendo as necessidades do povo dali. Públio, um dos homens
mais destacados da ilha, tinha demonstrado especial atenção a seus companheiros. O pai de Públio
ficou doente e foi curado pela instrumentalidade de Paulo. Quando este foi visitá-lo e orou por ele,
impondo-lhe as mãos, Lucas mostra que a fama de Paulo se espalhou pela ilha e todos os doentes
vieram a ele e foram curados (v. 9). Lucas não menciona se alguém se converteu e se foi organizada
uma igreja ali. Contudo, sabemos que Paulo, passando ali três meses, não deixaria de proclamar o
evangelho.
6. A etapa final da viagem (28.11-15)
Tinha passado o inverno em Malta, um outro navio alexandrino, que não pudera alcançar
Roma em tempo. A embarcação foi preparada para continuar a viagem mais ou menos no princípio de
março, e Júlio providenciou passagem para os seus passageiros nesse navio. Chamava-se "Dioscuri"
em homenagem aos irmãos, Castor e Pólux, filhos de Zeus e padroeiros dos navegantes.
O navio parou três dias em Siracusa e depois seguiu para Régio. Dali, em dois dias o navio
alcançou Puteoli, o porto mais próximo de Roma, que se situava a cerca de 220 km dali. Paulo
encontrou irmãos em Puteoli e pode passar com eles sete dias, antes de prosseguir viagem. Quando
Paulo e seus companheiros seguiram para Roma, um grupo de irmãos veio ao seu encontro no Fórum
de Ápio. Quinze quilômetros mais adiante, veio de encontro a eles a fim de lhes dar as boas vindas a
Roma, Paulo se sentiu altamente reanimado em todas essas manifestações de carinho cristão (v. 15).
Lucas não registra a origem da igreja em Roma. Quando Paulo escreve a sua carta aos
Romanos, parece que a igreja já era forte. Ele expressou o seu desejo de contribuir para o
fortalecimento da fé dos romanos e ao mesmo tempo ser fortalecido por eles.
7. As atividades de Paulo em Roma - At 28.16-31
7.1. O encontro de Paulo com os judeus de Roma (vv 17-22).
Três dias depois de chegar a Roma, Paulo teve um encontro com os líderes judeus dali. Uma
vez que as informações dadas em Jerusalém, pelos judeus da Ásia a respeito das atividades
missionárias de Paulo não conferiam com a verdade, quis ele que os judeus de Roma não tivessem
também informações falsas. Quis também lhes explicar as razões de sua prisão e porque apelara a
César.
Lucas sintetizou a narrativa de Paulo acerca dos acontecimentos que culminaram com a sua
prisão. Menciona as acusações feitas a Paulo, sua defesa e o seu apelo a César. A afirmação no verso
19 significa o reconhecimento da parte de Paulo, de que o seu apelo César foi um ato de deslealdade à
sua própria nação.
Os líderes judeus lhe disseram que não tinham recebido nenhuma carta da Judéia nem
qualquer má informação da parte dos judeus da Ásia. Estavam, entretanto, interessados em conhecer
os ensinos do cristianismo, uma vez que tinham ouvido, que se falava contra "essa seita", por toda parte
(v. 22).
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Com a afirmação: "Por esta causa, pois, vos convidei, para vos ver e falar; porque pela
esperança de Israel estou preso com esta cadeia" (v. 20. IBB), Paulo queria significar que o cristianismo
estava intimamente ligado ao judaísmo, ele não achava que o cristianismo se constituía em seita, mas
em cumprimento do judaísmo. Os judeus de Roma pensavam que o cristianismo fosse uma seita do
judaísmo.
7.2. A pregação do evangelho por Paulo em Roma (vv. 23-31)
Os líderes judeus tinham manifestado algum interesse em conhecer mais a respeito dos
ensinos do cristianismo. Em dia marcado, Paulo lhes explicou as escrituras do Velho Testamento, que
se referiam ao Reino de Deus e ao Messias. Certamente ele mostrou como o prometido descendente
de Davi, só poderia cumprir a promessa quanto a um Messias eterno, pela sua ressurreição. Alguns
dentre os judeus creram, outros não. Então Paulo se aborreceu com aqueles que não creram. Citou Is
6.9 e ss., para mostrar que os israelitas não poderiam ouvir nem compreender porque tinham fechados
os seus ouvidos e não poderiam ver porque tinham fechado os seus olhos. Paulo fez a aplicação
dessas palavras proféticas, inspiradas pelo Espírito Santo, aos judeus que rejeitaram a sua mensagem.
A última palavra que lhes disse foi que a mensagem dali frente seria dirigida aos gentios, os quais sabia
ele, haveriam de aceitá-la (v. 28).
O verso 29 é omitido em muitos dos manuscritos mais antigos. O verso diz que quando Paulo
"disse essas palavras, os judeus se despediram" (v. 29). Então Lucas passa imediatamente, à
afirmação sintética, de que Paulo permaneceu dois anos em Roma, ensinando aqueles que vinham a
ele. Ele deixa transparecer que, depois de Paulo ter mencionado os gentios, os judeus não se
dispensaram mais a ouvir os seus ensinos. Sendo Paulo um cidadão romano, e do outro lado, os judeus
de Roma, não muito apreciados do imperador não havia perigo de que eles tentassem impedir os seus
ensinos.
Lucas iniciou o livro de Atos com a questão levantada pelos discípulos, a respeito do
estabelecimento do Reino de Deus. Jesus lhes respondeu que não era de sua conta, a preocupação
com "tempos ou estações", mas que lhes cabia a tarefa de proclamar o evangelho em todo o mundo.
Lucas encerra o seu livro com a note de que Paulo anunciou o Reino de Deus em Roma. A questão dos
discípulos, sobre quando Deus haveria de restaurar o Reino a Israel, foi respondida. O Reino não
estava mais limitado a Israel, mas se compunha das pessoas que o aceitavam, qualquer que fosse a
nação ou a classe social a que pertencessem. O Reino ia sendo estabelecido pelo poder do Espírito
Santo à medida que os que criam iam testemunhando e proclamando as boas novas de que todos que
se arrependerem e crerem nascerão espiritualmente para o Reino de Deus.
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BIBLIOGRAFIA
PFEIFFER, Charles F. & HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody – Vol. IV. 1ª Edição,
Editora Batista Regular, São Paulo, 2001.
HISDEBRANDT – WILF – Teologia do Espírito Santo de Deus no Antigo Testamento Ed. Academia
Cristã.
MAPAS