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João D´Arc

Cristianismo
Sem Denominação
É Possível Ser Cristão Sem Pertencer
a Denominações Religiosas?

Escola da Verdade
Somente a Bíblia
8

Copyright©Escola da Verdade – Somente a Bíblia 2020


_____________________________________

Grangeiro, João D´Arc


Cristianismo Sem Denominação – É Possível Ser Cristão Sem
Pertencer a Denominações Religiosas? / João D´Arc
Belo Horizonte: Escola da Verdade – Somente a Bíblia, 2020.
100p.; 29cm
ISBN: 978-65-00-03641-1
1. Jesus Cristo – Doutrina, Cristianismo.
2. Jesus Cristo – Igreja, Divisão Religiosa.
3. Cristianismo – História / Reforma, Restauração.
4. Evangelismo – Vocação Cristã.
5. Teologia – Novo Testamento. I. Título.
_______________________________________
Todos os Direitos Desta Edição Reservados à
Escola da Verdade – Somente a Bíblia
©João D´Arc Grangeiro
Pedidos: (31) 9 8452-3670 - WhatsApp
escoladaverdade@gmail.com
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Apresentação
Em 31 de Outubro de 2017, igrejas
protestantes em todo o mundo celebraram 500
anos de uma reforma religiosa-política promovida
por um Monge Agostiniano, o alemão Martinho
Lutero – Ele protestou contra os abusos do
Papado em sua época e ficou conhecido as
rupturas que se deram a partir dali como “A
Reforma Protestante.” Quase 500 anos após o
Cisma de 1054 com a Igreja Ortodoxa Grega
separando-se do domínio Romanista, em 1517 o
Ocidente se dividira entre Católicos versus
Protestantes. Mas, o que mudou de fato no
Cristianismo? O que há para refletir 500 anos
depois? Hoje, o que podemos comemorar?
As 95 teses na porta do castelo de
Wittenberg ainda ecoam forte nos corações ou
foram relegadas ao museu do passado? Será que
hoje não temos mais que tomar posição contra
práticas abusivas do clero evangélico? Não se
vendem mais indulgências? Ninguém mais se
escandaliza com a busca de benefícios terrenos e a
retribuição financeira a líderes disfarçada de
ofertas? Os reais valores da fé cristã não são mais
desviados por teologias estranhas?
10

As consequências positivas da Reforma


são inegáveis. O mundo seu tornou melhor após
1517, a custo de muitas lutas levadas pelos seus
representantes após Lutero. Mas, há algo a ser
questionado a respeito do pluralismo religioso que
dela se gerou: O tema central da liberdade
religiosa até hoje não se consolidou com a
unidade primitiva dos seguidores do Cristianismo.
Os homens estão convergindo para a unidade,
simplicidade e pureza devidas a Cristo? A
“reforma” acabou? Não há mais o que se
contestar na religião atual? Calou-se o chamado
do retorno às origens perdidas sob o manto das
novas instituições criadas? Desapareceu o espírito
missionário que marcou a História? A reforma
protestante era tudo o que tinha para acontecer
até os dias atuais? As centenas de denominações
agora dividindo o mundo cristão não é uma
consequência da Reforma que precisa ser
repensada pelos filósofos e teólogos do
Cristianismo?
Só no Brasil, a diversidade é enorme.
Centenas de grupos confessionais vinculados e
estagnados às raízes da reforma, somados ao
pentecostalismo e aos novos evangélicos
neopentecostais. Um Cristo e uma Bíblia para
11

uma multidão de grupos sectários diferenciados –


O que pode justificar essa tamanha fragmentação
sempre constante do Cristianismo não católico?
Lembrar dos mais de 500 anos da
Reforma Protestante deve nos motivar a buscar
solucionar as dificuldades ainda existentes. Não
necessariamente devemos pensar em uma “Igreja
reformada sempre se reformando”; mas em ir
além, na direção de uma verdadeira Irmandade
não-denominacional. Esse tipo de apelo não é só
bíblico, ou seja, coerente com o Evangelho de
Jesus de Nazaré, mas necessário e possível. Os
reformadores do princípio provaram que podia
haver cristianismo sem catolicismo. Por que não
poderíamos desfrutar hoje de um verdadeiro
Cristianismo Sem Denominação?
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Minha Sincera Gratidão

Ao Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, seja a glória


pelos séculos dos séculos.

À minha querida família: Adriana, Joao Filipe, Pedro Paulo


e Lídia.

Ao meu amigo e irmão caríssimo Álvaro César Pestana.


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RESUMO DA OBRA

Tantos rótulos diferenciam os “cristãos”!


Tanta divergência doutrinária imposta pelas
autoridades religiosas do denominacionalismo! É
possível crer que os protagonistas desta onda que
faz “brotar” igrejas, contribuem para que o povo
“não-religioso” entenda, aprecie e deseje o
Movimento de Jesus iniciado no primeiro século?
Seria o Denominacionalismo antibíblico resultado
do não prosseguimento da Reforma em seus lemas
iniciais? Como entender a unidade do Cristianismo
conforme as instruções do Novo Testamento?
Existe fórmula para que homens livres se sujeitem a
Deus e não a credos e hierarquias?
À vista das questões levantadas acima, faz-
se necessário um reexame do conceito de
Autoridade Bíblica e a Unidade que esta impõe aos
discípulos de Jesus. Esse reexame bíblico honesto
pode fazer com que o processo que origina a cada
dia novas seitas sofra uma abrupta desaceleração,
pela convergência de mais indivíduos buscando
serem simplesmente cristãos.
Cristãos despidos da religiosidade formal,
litúrgica e excludente do Denominacionalismo.
14

Este sistema tem servido para separar os pretensos


discípulos de Jesus, cada qual em torno de Credos e
Autoridades Humanas divergentes entre si. Os
filhos da Reforma precisam voltar às Escrituras
Sagradas nos dias de hoje, e verificar que se exige
deles muito além de uma reforma. É necessário a
Restauração do Cristianismo do Novo Testamento.
O resultado de uma verdadeira restauração bíblica
da Igreja do Novo Testamento será um
Cristianismo Sem Denominação!
15

Sumário:

Introdução. ...........................................................16
1. A Confusão Religiosa Atual. .............................24
2. As Grandes e Pequenas Apostasias. ...................45
3. Jesus e o Ideal de Unidade. ................................59
4. Unidade: Necessidade, Possibilidade e Desafio...74
5. Princípios Mantenedores da Unidade Primitiva..94
6. Um Chamado à Restauração do Cristianismo. .108
Conclusões e Desafios. ........................................119
Glossário. ...........................................................129
Referências Bibliográficas. ...................................135
16

INTRODUÇÃO

Qualquer pessoa que observa o comportamento humano


não se verá livre de indagações. Ao observarmos o mundo
ocidental cuja base da civilização é o Cristianismo, a
Filosofia Grega e o Direito Romano, também somos levados
a indagações. Em qualquer tempo de questionamentos é
hábito recorrente de quem contesta lançar-se a soluções
superficiais ou a soluções mais profundas.
As ‘soluções’ superficiais às indagações em tempo de
crise levam a resultados paliativos, até rápidos; porém não
pondo fim ao problema real, apenas acalmando e protelando
sem definir e sanar a questão. O problema continua e não se
encontra resposta. Confunde-se resultado com solução.
O que faz com que se decida a buscar uma solução
profunda e sanar a questão principal é sempre a relevância
que se dá a qualquer dilema. Se para nós o dilema for fútil,
simples, sem impactos negativos, sem importância ou sem
sentimento de responsabilidade pessoal; então nos
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contentamos com paliativos – Tanto faz, qualquer forma


serve, e não se fala mais nisso.
Se por outro lado, o problema for considerado
gravíssimo, de responsabilidade pessoal, relevante ao
extremo; então não nos restará outra opção, a não ser
encararmos a situação real, sem racionalismos, e ir fundo até
acharmos a raiz do mal, o X da questão. Quando assim é
feito, nunca importa quem está certo, mas o que é certo!
Nesta obra não indagaremos sobre a Filosofia Grega
nem sobre o Direito Romano, como alicerces da nossa
civilização. Abordaremos questão muito mais relevante para
a vida humana, o Cristianismo. O que seria da vida humana
hoje com a Filosofia e o Direito, mas sem o Cristianismo? Se
com o alicerce do Cristianismo já existem tantas dificuldades
para as relações entre os povos, sem este grande ato divino na
História, o mundo e o ser humano seriam um caos maior.
Mas, o Cristianismo pode ser maior e melhor do que
tem sido até hoje. Sua profunda influência pode ser melhor
compreendida. Onde sua presença alcançar haverá sempre
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efeito positivo. Quem é cristão, independente do rótulo que o


distingue, espera isso!
Contudo, é fato que o Cristianismo no Brasil e no
mundo, precisa se tornar mais coerente consigo mesmo e
com seu ideal inicial, o ideal de Jesus. Para que a cristandade
encontre o caminho dessa coerência, que sem dúvida levará a
uma coesão de esforços na evangelização mundial, necessário
é tratar as contradições que incomodam. As contradições que
incomodam muitas vezes são deixadas de lado – sem
solução, sem aprofundamento e sem uma palavra final. Se,
entretanto, nos contentarmos com respostas superficiais,
talvez fiquemos sem sanar estas contradições, a preço de
manter a maior incoerência em torno do maior Nome da
História, Jesus Cristo.
“Acaso Cristo está dividido?” – Questionou retoricamente
Paulo aos coríntios,1 inexperientes na Verdade. A cristandade
se encontra em constante contradição, sempre tão dividida
dizendo seguir a Cristo. É Cristo autor de todas as divisões
no Cristianismo? Toda essa divisão era seu desejo?

1
1 Coríntios 1.13
19

As centenas de grupos religiosos católicos, protestantes,


evangélicos e carismáticos, de fato formam um só corpo?
Qual das denominações é a igreja certa, ou todas são certas?
É possível ser simplesmente cristão, sem fazer parte de
nenhuma denominação religiosa? É possível nos dias de hoje
seguir a Cristo sem estar sujeito às experiências, filosofias,
credos confessionais e líderes no Denominacionalismo?
Existe salvação para o homem fora deste sistema que
continua fragmentando o Cristianismo?
Essa grande contradição no Cristianismo, tem seu
impacto no indivíduo, tanto no religioso de carteirinha, como
no crente livre, pensante e fora do sistema. Pode o indivíduo
encontrar resposta profunda na busca do verdadeiro
Cristianismo? Pode ser motivado a iniciar um movimento de
volta à Bíblia, e ir além da Reforma, à uma restauração do
Cristianismo e à unidade primitiva? Pode redescobrir uma Fé
mais pura, genuína e autêntica, livre do cerceamento de
liderança religiosa? E mais, viver e desfrutar essa Fé em paz
como simplesmente um cristão?
20

A confusão atual do mundo religioso cristão é fato


facilmente demonstrável. Os indivíduos são levados ao
extremo da cegueira romântica diante das grandes diferenças
nas diversas correntes. E o único instrumento iluminador do
indivíduo, a Bíblia, tem sido suplantada pelos “pastores-
ungidos” da fé popular.
O Catolicismo foi a primeira grande apostasia geral do
Cristianismo, até certo ponto combatida pelos reformadores
no século XVI. Porém, nos dias atuais o “espírito de luta”
pelos lemas da Reforma está ausente ante o alastramento das
novas divisões religiosas, repletas de profetas, apóstolos e
patriarcas autodenominados. Essas são as pequenas, mas não
irrelevantes apostasias recorrentes no mundo evangélico. A
divisão aumenta e o Evangelho é deturpado ao surgimento de
cada novo grupo - as igrejas tradicionais ficam em silêncio!
Existe motivo justificável para essa omissão de cumplicidade?
Porém, o ideal de unidade está explícito na própria
Oração Sacerdotal de Jesus antes de sua morte. Jesus, o
fundador do Cristianismo, cujo Espírito agiu em seus
apóstolos, os quais transmitiram aos novos condiscípulos o
21

seu ideal, continua o mesmo! Os que dizem seguir Jesus


mostrarão incoerência e contradição aceitando e justificando
sem base no Novo Testamento o surgimento, a permanência
e a proliferação de divisões religiosas.
Mesmo havendo diferenças individuais entre os
discípulos, isto de modo algum é motivo para rupturas nas
irmandades locais. Muito menos razão para que se deseje
abrir igrejas, cada uma a seu próprio gosto. A unidade é sem
dúvida um grande desafio, mas a sua possibilidade é real. Se
Jesus orou pela unidade Ele não só cria que a mesma fosse
possível, mas proveria todas as condições para a mesma
através da Palavra perfeita.
O denominacionalismo desconhece os três princípios
mantenedores da unidade primitiva: Em doutrina,
unanimidade. Em opiniões, liberdade. Em tudo o mais, o
amor cristão. Seguindo estes princípios, evita-se que uma
opinião se transforme em doutrina, e que haja julgamentos e
separações por questões que não são especificadas na Bíblia.
Com amor, até uma questão de disciplina bíblica será
realizada no espírito de misericórdia, preservando a unidade
22

do Corpo. Nenhuma hierarquia não autorizada se faz


necessária para controlar as pessoas e à força manter a
unidade dos discípulos. Os homens só podem preservar a
unidade do Espírito, nunca cria-la.
As hierarquias não autorizadas tendem a cercear a
liberdade que foi uma marca do Cristianismo primevo. Onde
há o Espírito do Senhor existe liberdade, afirma o texto
sagrado. Toda a liberdade que um cristão exerce no serviço
de Cristo não pode ser subordinada ao capricho de outros
homens. O sumo sacerdócio de Cristo exclui qualquer casta
ou classe especial de servos, em detrimento de outros a serem
servidos. Em Cristo, todos podem ser servidos e servir
livremente, sem autorização de sínodos ou associações de
convenção, ou necessidade de uma bênção especial da
liderança-chefe. Martinho Lutero foi quem redescobriu e
declarou este sacerdócio universal de todos os crentes. Este
princípio declara que, debaixo da autoridade suprema da
Bíblia, os homens estão livres para buscar uma restauração da
Igreja de Cristo do Novo Testamento.
23

Frequentemente ignorado, o problema persiste.


Os indivíduos se confrontam todo dia com o problema da
divisão, do Denominacionalismo. O trabalho atual não
dispõe espaço para levantarmos outras questões relacionadas
à unidade e restauração, como por exemplo: Uma só
Conversão, uma só Adoração, uma só Oferta, uma só
Pregação, um só Governo, uma só Ceia, uma só Unção, uma
só Esperança, um só Testamento, uma só Doutrina, um só
Batismo, um só Corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma
só Missão, uma só Irmandade...
A limitação desta obra, no entanto, só demonstra a
relevância das questões que envolvem o
Denominacionalismo e suas consequências duvidosas para o
Cristianismo ideal. Outros tópicos são supridos em outros
materiais disponíveis de nossa autoria. No momento, porém,
demonstramos a necessidade de se estabelecer entre os
discípulos de Cristo, a real possibilidade de viverem uma Fé
como nos primeiros tempos, um Cristianismo sem
denominação!
24

A CONFUSÃO RELIGIOSA ATUAL

O problema da divisão religiosa entre grupos cristãos tão


divergentes da Palavra, não é tratado já há muito tempo.
Neste quesito os grupos religiosos acataram a política de boa
vizinhança, ou seja, resolve-se ignorar o problema, fingindo
não ter relevância para ser analisado friamente através da
Revelação Bíblica e da História. Já é de praxe essa tendência
por parte de todos, em especial das lideranças religiosas. A
aceitação mútua entre as várias denominações evangélicas,
de fato não existe. Tolerância não é aceitação.
Portanto, sistema evangélico continua deficitário,
mesmo parecendo tudo certo aos olhos dos adeptos do
movimento. Utopicamente creem que o Cristianismo ao
modo evangélico está perfeito. A maior parte dos guias de
todas as denominações mantém tal postura publicamente
ante o problema do Sectarismo Evangélico.
Em relação à convivência das denominações,
percebemos que internamente estes mesmos guias se
comportam diferente. Falam mal daquilo que consideram
25

errado nos religiosos que vivem fora dos portões da sua


denominação. No Denominacionalismo religioso, no
movimento protestante-evangélico em particular, as críticas a
outros grupos do segmento cristão são feitas de forma
indireta, velada e sarcástica. Logo se conclui, que a pretensa e
divulgada união em que os diversos grupos denominacionais
pensam viver, é falsa!
Os Calvinistas continuam contra os Arminianos (e vice-
versa), fingindo uma falsa tolerância. Os grupos
neopentecostais são vistos com muitíssima desconfiança pelas
denominações de tradição histórica reformada. E os grupos
oriundos dos movimentos de santidade situam-se no meio
desta balança sem pender totalmente para um dos lados. O
pentecostalismo de bairro, que cada dia abre pequenas portas
nas periferias, é intensamente criticado pelas denominações
mais estruturadas, como se não tivessem direito de existirem
fora de um grande momento de ruptura histórica. Sem deixar
de falar nas crescentes religiões como Adventistas,
Testemunhas de Jeová e Mórmons que, apesar de ainda
serem consideradas como seitas no alto clero das
26

denominações evangélicas, começam a serem aceitas como


genuinamente cristãs entre o laicato menos informado.
Fica óbvio que ignorar o problema da divisão e do
Denominacionalismo no Cristianismo, é contribuir para o
aparecimento de mais seitas até o fim dos tempos. Neste
presente trabalho a palavra ‘seita’ será aplicada a todas as
denominações religiosas que modificaram e dividiram através
dos séculos o Cristianismo Original, independente do
contexto histórico em que se surgiram ou das doutrinas
distintivas que as caracterizam especificamente. Ao invés de
criar e aceitar divisões é necessário inibir o brotar de novas
seitas e colocar a Cristandade no processo inverso, da
unidade de fato.
O erro para o religioso de carteirinha, envolvido no
sistema, é não tratar o problema. Este, na verdade, não vê
como problema ou pecado. Com sua visão distorcida do que
é o Cristianismo pelo próprio sistema, crê até ser uma
vantagem a existência e proliferação de grupos sectários. O
extremo do equívoco é considerar toda esta divisão e
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subdivisão, ocorrendo de tempos em tempos, como uma ação


divina direta no sistema, mantendo-o e renovando-o.
Qual impacto disso, para o religioso (não de carteirinha)
que transita no meio desta confusão de opções,
experimentando-as, com todas as diferenças? E para o
indivíduo que crê em Deus, mas ainda não se filiou a
nenhum grupo, por não saber ao certo qual grupo é o melhor?
E qual impacto para os ímpios, incrédulos e ateus, olhando as
discrepâncias entre tantos grupos religiosos dizendo-se
cristãos? O impacto desta realidade, admissível ou não, é
negativamente forte em todos os sentidos para o progresso do
Evangelho original.
O religioso (não de carteirinha) acaba por entender que
“todas as igrejas são certas” e que o que vale é a experiência
que cada grupo distinto lhe proporciona. Então, quando
sentir que uma determinada denominação não o está
preenchendo ou resolvendo seu problema, logo experimenta
outro grupo conforme sua conveniência. Este entende que as
igrejas existem para o servirem, e não tem interesse em saber
se as Escrituras ensinam uma vontade objetiva de Deus para
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todos. Vale o que o indivíduo quiser encontrar na religião, e


não a transformação espiritual que um único Deus deseja
operar em todos.2
O que ainda não se decidiu sobre nenhum grupo
religioso, temeroso fica de desagradar algum parente em
outra religião, entra em conflito com o cônjuge que o força a
seguir junto em determinada igreja, ou hesita em participar
de qualquer reunião religiosa por medo de sofrer abusos
físicos, pedidos de dinheiro, hipnotismo ou lavagem cerebral.
Geralmente este questiona ser Cristo aceitável de imediato,
mas quão difícil tarefa é decidir à qual igreja pertencer. Essa é
uma dificuldade real. Porém, quem se acha acomodado
nutrindo e promovendo o sistema sectário não consegue
conceber a legitimidade deste dilema. De acordo com o
Cristianismo original, sabemos que Deus nunca impôs ao
homem tarefa tão pesada de pensar sobre as várias
denominações existentes no mundo, e ter que se decidir por
uma delas.

2
2 Timóteo 4.3-4
29

Os homens declaradamente ímpios, incrédulos e ateus,


veem o Denominacionalismo que divide o Cristianismo em
diversas corporações religiosas, como prova de que religião
nenhuma é unânime e necessária para o homem viver
melhor, nem mesmo o Cristianismo. Portanto, o
Denominacionalismo não pode ser o Cristianismo autêntico e
original. Esse sistema dá motivo para criticarem o
Cristianismo com certa razão: Se os cristãos não conseguem
nem saber quem está certo entre si, como querem levar o
mundo para dentro desta confusão? E o que dizer dos
escândalos de clérigos enriquecendo a custa da fé do povo
simples, pedofilias, adultérios, problemas com a Justiça, etc.?
Além disso, as próprias divisões religiosas são motivo para
quem não deseja crer, não seguir e não obedecer. Aos ímpios,
incrédulos e ateus, esse mundo cristão dividido e conturbado
é um escândalo. E se é assim para os ateus, por que não o
será para muitos crentes? Teriam os crentes menos
capacidade de lógica e raciocínio?
Diante do quadro real, não ignorando mais o problema,
sem ser conivente com a postura adotada pelos líderes no
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sistema, como o homem livre pode julgar a questão das


divisões religiosas dentro do Cristianismo? Como entender a
sua complexidade e a influência sobre sua liberdade? Quais
os critérios a ele disponíveis para discernir qual caminho deve
tomar em relação às divisões? Participar de uma
denominação não seria se ausentar das outras? Será que
existe Cristianismo fora desse sistema? O direito de existir e
criar denominações se tornou o mais forte paradigma entre as
autoridades eclesiásticas!

O que se segue é um esforço de apresentar-lhe o


cristianismo sem as tradições acrescentadas por homens e
mulheres nos últimos 2.000 anos. Embora a maioria dessas
tradições recentes seja inocente, algumas são errôneas e
deveriam ser evitadas. Muitas pessoas estão confusas hoje
sobre o que é cristianismo, porque elas o associam a tradições
que obscurecem a verdade. Talvez você tenha sido
preconceituoso contra o cristianismo no passado, porque fora
desviado do caminho por uma forma inadequada, numa
igreja ou nas vidas individuais de alguns que se chamam de
cristãos. Se isto é verdade no seu caso [...] julgue o
cristianismo pelo projeto original do que deveria ser [...], pelo
modelo, dado a nós no Novo Testamento, de como os
cristãos e as igrejas devem ser. [...] julgue o cristianismo em
termos de Jesus Cristo. Você descobrirá que Jesus Cristo, o
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autor e fundador do cristianismo, de modo algum o


decepcionará. [...] Ele não tem erro (WILLIAMS, 2014, p.7)

A Liberdade que o Cristianismo oferece (Em Cristo) é o


que dá direito ao homem íntegro de julgar o Sistema
Denominacional hoje. Quando homens como John Wycliffe
e John Huss3 (1328-1415) se sentiram livres, em Cristo e no
espírito do Evangelho, de exercerem corajosamente seu
direito de julgar os paradigmas impostos pelo sistema
religioso dominante, abriu-se a brecha para a futura Reforma.
A liberdade de pensamento e juízo independente, iluminado
por um olhar de novo no Livro Sagrado será sempre o
primeiro passo em direção à libertação de sistemas
contraditórios ao Cristianismo original. Apenas essa atitude
corajosa de liberdade de pensamento, com foco sempre na
Bíblia, poderá levar ao encontro da vontade divina inicial.

Os documentos que compõem as Escrituras do Antigo e


do Novo Testamento, a Bíblia, são considerados como
autoridade pelos cristãos. Estes são o mais alto tribunal ao

3
Pré-reformadores na Inglaterra e na Boêmia, sucessivamente.
32

qual se pode dirigir para responder qualquer questão


religiosa. A Bíblia nos revela a vontade de Deus e registra
como Deus tem agido na História pela salvação da
humanidade (WILLIAMS, 2014, p. 47).

O homem que exerce seu livre pensamento tem direito


de julgar esse sistema, e concluir se o mesmo é divino ou
humano, pecaminoso ou virtuoso, se deve ser rejeitado ou
aceito, se salva ou corrompe, se liberta ou escraviza.
No exercício dessa atividade espiritual e intelectual, o
indivíduo dotado por Deus de consciência própria, necessita
sentir-se liberado das autoridades religiosas, que controlam as
denominações e determinam suas crenças e práticas. O
homem precisa exercer essa busca pela verdade olhando de
novo no Livro Sagrado, sem a ajuda das autoridades
eclesiásticas, que usam o sistema para perpetuarem seu
domínio religioso. Em geral essas autoridades religiosas
justificam o sistema no qual estão inseridos, mesmo que
muitas contradições sejam óbvias quando comparados
diretamente com a Bíblia.
33

Sem ajuda de autoridades religiosas humanas. Será


possível exercer liberdade de pensamento e julgamento sobre
o sistema com suas contradições, seus defensores e seus
resultados. Aprendendo a pensar com a Bíblia de novo, mas
agora totalmente fora da caixa. Sem o paradigma do
Denominacionalismo como única opção de Cristianismo
hoje. Estes são os passos iniciais para ser simplesmente
cristão sem ser religioso, e sem estar sujeito a qualquer
autoridade religiosa humana.

A maioria das pessoas é religiosa não por causa de


razões bíblicas, mas por meras razões humanas. Por
exemplo: ‘É uma igreja popular’; ‘É uma igreja com um
ambiente agradável’; ‘Minha mãe era membro daquela
igreja’; ‘Eu fui batizado naquela igreja logo que nasci’; ‘Casei-
me naquela igreja’; ‘É o melhor prédio da cidade’. Tais
razões não têm valor à vista de Deus e são palavras fúteis e
vazias para as pessoas que desejam ser guiadas por um
‘Assim diz o Senhor’. (BROWNLOW, 1977, p. 5)

O sentido da palavra “religioso” neste trabalho designa


a pessoa afiliada a qualquer denominação, submetida às suas
crenças particulares e obedientes às determinações de suas
34

autoridades eclesiásticas, quer através de concílios, comitês,


convenções, sedes, ou de carisma pessoal individual.
Religioso nesta proposta de análise não contempla o sentido
de piedoso, santo ou reverente a Deus.
O homem comum, com uma fé em Deus e na Palavra,
religioso de carteirinha ou não; e o homem comum que
observa de fora o mundo religioso sem ter se definido por
nenhuma denominação, podem chegar a uma conclusão a
respeito do Cristianismo fragmentado. Para chegar ao
conceito de ser possível ou não, tornar-se um discípulo de
Jesus sem se vincular a sistemas de hierarquias religiosas, será
necessário que rejeite guias religiosos falsos.
Homens como Guias e Mestres infalíveis na
interpretação da Bíblia devem ser rejeitados.4 Os grandes
líderes de movimentos religiosos, especialmente os atuais,
costumam se declarar os ungidos, e através de magnetismo
pessoal ou até erudição, interferem diretamente no modo
como as pessoas leem e entendem as Escrituras. Falam de si e
de suas igrejas como sendo resultado de uma inspiração

4
1 João 4.1
35

divina particular, à parte da teologia tradicional. Portam-se


como se tivessem uma capacidade especial para ver e dizer a
verdade escrita que o homem comum não pode acessar.
Portanto, se conclui que Mestres, Guias, Profetas, Pastores,
Pastoras, Bispos, Bispas, Apóstolos, Apóstolas, Missionários,
Missionárias, Patriarcas e etc., podem ser guias religiosos
falsos incapazes de conduzir com imparcialidade aquele que
deseja ser simplesmente cristão. Todo homem ou mulher que
procura exercer autoridade religiosa sobre outros, é
questionável. Na busca da verdade não há hierarquia humana
a ser respeitada.
Tradições Religiosas posteriores ao período do Novo
Testamento devem ser igualmente rejeitadas como não tendo
qualquer autoridade. Católicos, Protestantes e quase todas as
denominações mantém suas tradições por séculos, pensando
existir algo divino nelas. O fato de uma tradição ser antiga ou
aceita por todos dentro de um seguimento não significa que
seja verdadeira, ou resulte no tipo de vida aprovada por
Deus. O equívoco dos religiosos em relação às tradições é
não perceberem o quanto estas interferem, quando não
36

impedem, a obediência à Palavra de Deus. Portanto, guardar


uma tradição, defendê-la e impô-la constantemente a outros,
sem que a mesma esteja claramente autorizada e
exemplificada no Cristianismo do Novo Testamento, é
incorrer no risco de obedecer a preceito meramente humano,
como se fosse mandamento divino.5 Toda tradição religiosa
deve ser questionada em sua origem e propósito. O perigo do
“Tradicionalismo Religioso” é estacionar os homens a meio
caminho da verdade, ou perpetuar erros que serão
sobrepostos por outros equívocos, e mais outro, e mais
outro... Abandonar tradições humanas é pré-requisito
necessário em busca da verdade pura e simples.
Não é só a tradição católica que se equipara em
autoridade com a Bíblia. Como exemplo de tradições a se
porem de lado olhando de novo no Livro Sagrado estão os
Credos e Confissões delimitadoras de comunhão espiritual.
Se o homem livre para exercer seu pensamento e juízo tem
em suas mãos para estudo e análise criteriosa a Bíblia, logo
não é necessário declarar sua fidelidade a Credos

5
Marcos 7.6-13
37

Confessionais impostos pelas Convenções, Sínodos ou


Concílios humanos. A “profissão de fé” do indivíduo a um
sistema resumido de doutrinas nunca foi exigida no período
do Cristianismo primitivo, apenas a Confissão diária ao
Nome de Jesus Cristo como Filho de Deus e Senhor.
Conclui-se que Tradições, Credos e Confissões de Fé em
sistemas denominacionais são desnecessários e devem ser
rejeitados. A autoridade sobre o indivíduo que deseja apenas
ser discípulo de Jesus não é nenhuma Tradição de Fé. O
Credo de um indivíduo livre deve ser apenas a Bíblia.
Experiências místicas divergentes das orientações
bíblicas não podem servir para determinar uma verdade.6 A
verdade divina é geral e objetiva, valendo para todos ao
mesmo tempo com base nos seus mandamentos. Qualquer
experiência individual não serve para criar padrões religiosos
de conduta a serem seguidos por outros. O discípulo não
necessita de nenhuma experiência para ter certeza de
aprovação divina. A certeza da aprovação divina vem da

6
Gálatas 1.6-9
38

obediência pura e simples dos mandamentos expressos na


Bíblia.
Muito menos experiências religiosas inexplicáveis
servem para início e desenvolvimento de novas seitas no
Cristianismo. O Cristianismo está fragmentado demais para
que indivíduos que se baseiam em si mesmos, se declarem
agentes de um mover que não tem origem na Bíblia.
Portanto, todas as experiências místicas pessoais na religião
como aparições de anjos, visões, revelações, aparições de
ancestrais, sonhos e impressões pessoais não servem de guia
para quem deseja conhecer toda a verdade já revelada.7 A
história tem nos mostrado o que estas experiências com
anjos, visões, revelações e aparições têm provocado – Falsas
Previsões da volta de Jesus, retorno às Leis do Antigo
Testamento, outros Testamentos ditos de Jesus, traduções
particulares da Bíblia, Livros Sagrados à parte da Escritura,
regras de condutas estranhas às culturas locais, veneração de
profetas modernos, arquitetura específica de templos, e etc. A
ação divina coerente com a Bíblia, é convergente, sempre

7
João 16.12-13; Judas 3; 2 Pedro 1.3
39

levando à unidade. As experiências místicas religiosas são


próprias da psique humana, e são extremamente divergentes
se distanciando muito da teologia tradicional.8 A busca
dessas experiências é comumente incentivada em muitos
grupos atuais, desejando os adeptos tornarem a fé mais
tangível, o que é uma clara contradição de termos.
Relacionado até certo ponto ao tópico acima tratado, e
aparentemente menos nocivo que anjos, visões, revelações e
aparições, é a própria consciência humana. A obstinação de
coração pode ser um guia religioso falso. Ao racionalizar
sobre a verdade que ele próprio não quer ver, o homem pode
trair a si mesmo em não admitir a verdade. São estes capazes
de cauterizarem a própria consciência e resistirem à verdade.9
Crenças anteriores, pré-conceitos religiosos nele impregnados
profundamente, e sua circunstância de vida atual, podem
interferir embaraçando seu entendimento da verdade.
Sob a influência do ego, ao invés de olhar de novo no
Livro Sagrado fria e objetivamente, o homem permite que as

8
Gálatas 1.6-9; Colossenses 2.18-22
9
1 Timóteo 4.2; Atos 7.51
40

suas emoções conflitantes, impressões pessoais, e sentimentos


guiem a sua consciência, no lugar do que está escrito. É um
risco constante que se corre, ou seja, modificar o sentido da
Bíblia só porque nós mudamos. Um exemplo disso é a
condenação eterna, que muitos negam usando a própria
lógica pessoal independente de quantos textos sagrados a
revelem.10 O homem livre que deseja chegar ao pleno
conhecimento da verdade em todas as coisas, tem que
abandonar ditames traiçoeiros da consciência, ideia íntima,
emoção, sentimento ou impressão pessoal ao buscar na
Bíblia, o sentido da vida e o modo real de relacionar com
Deus. O plano de Deus revelado na Palavra sempre estará
acima das nossas questões pessoais.
A confusão religiosa do Cristianismo fragmentado não
mais será obstáculo a qualquer homem. Desde que este
consiga lembrar a gloriosa história da Bíblia até os nossos
dias. Ela permanece inalterada e se ergue poderosa a orientar
todos que rejeitam pastores-ungidos, tradições, anjos, visões,

10
Apocalipse 20.8
41

revelações, aparições, e até a si próprios.11 Disse Jesus:


“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará!” (João 8.32) –
Qual é a verdade por trás do grande conglomerado de igrejas
diferentes?
Os religiosos não são obrigados a ignorar o problema
das divisões adotando a postura dos seus líderes. As divisões
são um grande problema a ser tratado de frente,
especialmente por aqueles que desejam viver um
Cristianismo universal, promover a união ao invés de
justificar e incentivar as divisões.
O alto clero das denominações simplesmente ignora
todas as outras, longe de uma atitude de aceitação. Esse
tratamento exclusivista velado não revela uma irmandade
genuína, mas uma situação de autonomia, independência e
domínio religioso. São coproprietários independentes, de
posse do mesmo domínio, a cristandade.
A diferença entre o Denominacionalismo e a Igreja de
Cristo do Novo Testamento pode ser facilmente vista na
comparação de uma casa e um condomínio. Uma única casa

11
1 João 4.1; Atos 17.10-11
42

onde habita uma única família com todos os filhos mais


jovens e mais velhos sob a guarda do mesmo Pai; e um
condomínio vertical onde apenas algumas áreas são de uso
comum entre tantas famílias distintas. Qual dos dois são o
Cristianismo e o Denominacionalismo?
O Cristianismo bíblico não pode ser figurativamente
representado como um condomínio vertical, repleto de
apartamentos com cada família distinta sob a tutela de pais
diferentes, fazendo dentro de suas áreas privativas suas regras
próprias. Verifica-se que as diversas igrejas evangélicas
possuem certa área comum (fé em alguns pontos básicos não
essenciais à salvação do homem). Contudo, essa área comum
é menor que cada uma das “áreas privativas”, onde cada seita
realmente opera e influencia a sociedade a seu modo.
Quem deseja ser simplesmente um filho de Deus, sem
ter que escolher qualquer denominação, precisa chegar a uma
conclusão sobre o sistema que continua multiplicando seitas
dentro do mundo cristão. Ele deve desviar os olhos de
qualquer fidelidade a Credos Confessionais, ignorar as
experiências místicas pessoais de indivíduos que exercem
43

influência religiosa, abandonar tradições sem origem divina e


policiar a sua própria consciência para submetê-la à verdade
escrita. Deste modo, estará apto a olhar de novo no Livro
Sagrado.
Um olhar sincero, honesto, varrido dos preconceitos que
agora ficam de lado. Um olhar aguardando confirmação ou
desconfirmação pelo que realmente está escrito e ordenado.
Não um novo olhar porque a verdade não está em nossos
olhos, mas sim um olhar de novo no lugar certo, pois, se a
verdade não se tornar clara logo de início, pelo menos será
possível estar mais perto de encontrá-la um dia. A
restauração da igreja é um processo constante, pois sempre
haverá a tendência de os homens mudarem a verdade, ao
invés de simplesmente se sujeitarem a ela.
A Bíblia passa então a ser a única autoridade confiável
para tratar da questão, se o homem deve ou não se submeter
às denominações e suas autoridades eclesiásticas. A Bíblia
sem as tradições. A Bíblia sem as aparições de santos e anjos.
A Bíblia sem o filtro dos preconceitos religiosos
anteriormente formados. A Bíblia sem a submissão cega a um
44

erudito por melhor que seja. A Bíblia sem a experiência das


unções dos cultos histéricos. Só a Bíblia, e tão somente a
Bíblia!
O homem que deseja chegar através de um só mediador,
Jesus Cristo. O homem que deseja fazer parte da Igreja e não
de seitas aprimoradas pelo esforço humano. Esse homem
livre e pensante, despido de toda vaidade intelectual e
revestido da humildade celestial... Esse homem ou mulher, só
precisa da Bíblia. Nela, desaparece a confusão religiosa atual.
45

AS GRANDES E PEQUENAS
APOSTASIAS

A palavra ‘Apostasia’ segundo Glover Shipp (1985, p.


286) é o “desvio da fé ou da Doutrina estabelecia por Cristo”.
Ampliando este conceito básico, podemos dizer que em
Teologia representa um afastamento do preceito imutável de
Deus, do seu mandamento, da sua palavra revelada no
Evangelho, da verdade da sã doutrina, daquele depósito
confiado à Igreja do primeiro século, aquele padrão das sãs
palavras de Jesus, ou seja, da doutrina antiga dos Apóstolos e
dos princípios elementares da doutrina de Cristo. Apostasia é
questão séria no Novo Testamento, porque permanecer na
Doutrina é essencial para permanecer em Deus!
Apostasia no Novo Testamento é considerada como
pecado, individual ou coletiva. Ocorre quando indivíduos ou
grupos de pessoas rejeitam o conjunto de crenças e práticas
que regeram o Cristianismo original. Felizmente, o Novo
Testamento escrito e completado contém a forma, o modelo e
46

o padrão do Cristianismo para todos os tempos e lugares. No


entanto, a doutrina do Novo Testamento ensinada em sua
essência, não visa alterar aspectos irrelevantes de uma
determinada cultura em seu tempo e espaço geográfico. Isso
não só é claro dentro do próprio Novo Testamento, como
também foi atestado pela Carta a Diogneto, documento
cristão do segundo século, cujo pequeno trecho abaixo diz:

Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros


homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou
costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias,
nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial
de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao
talento e especulação de homens curiosos, nem professam,
como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário,
vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de
cada um, adaptando-se aos costumes do lugar quanto à
roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de
vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na
sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como
cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria
estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira.
(PADRES APOLOGISTAS, 2014, p. 22-23)
47

Após cessarem as perseguições da igreja primitiva,


acelerou-se, conforme previsto pelos próprios apóstolos12, a
Grande Apostasia, que culminou no sistema religioso
conhecido como Catolicismo Romano. Portanto, a igreja
católica foi a primeira grande denominação da História.
Ainda que a igreja apóstata tenha ligação num processo de
desenvolvimento histórico com a Igreja que Cristo iniciou no
primeiro século, não pode ser considerada a primeira igreja.
O mais lógico é considerar o catolicismo como a Segunda
Igreja, bem diferente da Primeira Igreja que certamente foi
edificada por Cristo, seu Espírito e seus Apóstolos e Profetas
inspirados. O catolicismo romano universal foi fruto da
apostasia prevista, levada a efeito pela influência dos
imperadores que se seguiram a Constantino e dos bispos
ambiciosos pelo poder temporal. Afastados das raízes do
Cristianismo original, a nova igreja católica usou o poder do
império para dominar o mundo, e o império usou a igreja
para manter-se no poder. Segundo Thomas W. Phillips (1966,
p.239) a igreja apóstata é um “despotismo eclesiástico-político”.

12
Atos 20.28-30; 2 Tessalonicenses 2.3-6
48

A mudança organizacional e doutrinária foi tão grande


que seria total falta de lógica associar as duas igrejas como
sendo a mesma. Não existiu uma igreja em duas fases de sua
história, mas sim um processo histórico que ocultou a
verdadeira igreja de Cristo e sobre-exaltou uma igreja
humana, da terra. A igreja primitiva não tinha Papas,
Templos, Altares, Sacerdotes especificados, hierarquia,
instrumentos musicais, missas, veneração de santos e anjos,
dízimos, indulgências, unções ou poder de destruir, pilhar,
perseguir ou matar em nome de Deus. O catolicismo
desenvolvido a partir do século IV chegou ao ápice declarado
de apostasia em 606 d.C., quando Bonifácio III declarou que
o bispo de Roma seria o único a usar o título de Bispo
Universal. Deste ponto em diante o retorno às origens do
Cristianismo puro e autêntico não foi mais possível às
gerações subsequentes. A primazia de Roma estava firmada,
declarada e estabelecida com o selo imperial. Historicamente
este fato em 606 d.C., evitou que Constantinopla se tornasse
páreo para o controle de Roma sobre a cristandade da época.
49

Essa sede pelo poder ainda se vê nos dias de hoje no


modo como o Denominacionalismo religioso se expressa: Na
minha igreja...; O meu Pastor...; Os meus Pastores...; Meu
Ministério...; Sua Igreja...; Seu Ministério...; Nosso
concílio...; Nossa Convenção...; Qual é a sua igreja?; O meu
bispo...; Na nossa paróquia ou jurisdição... Sempre se
referindo a homens ou sistemas religiosos humanos. Sempre
tem alguém mandando, e esse alguém não é Jesus. O
Denominacionalismo também vive uma “unidade restritiva”
sob o nome de homens variados: Lutero, Calvino, Wesley,
Wingren, Berg, Miranda, Macedo, Moon e etc. São estes
alguns nomes sob os quais os religiosos creem que poderão
ser salvos, pois frequentemente os citam em suas conversas,
discursos e defesas.
Uma característica principal das apostasias é o papel
desempenhado por alguém que é aceito como autoridade
religiosa sobre o povo. Na grande apostasia foi a figura dos
bispos de Roma, que foram chamados depois de Papas. No
esparramar das seitas místicas do gnosticismo anterior ao
Papado foram os anticristos, negando a encarnação do Verbo
50

e dando uma versão mística e fantasmagórica do Evangelho.


E quando homens não se lançam como “autoridades
espirituais,” o próprio povo que os seguem, venerando-os, os
exaltam como patrono de algum movimento específico. Este
é o caso alguns dos reformadores, até hoje mencionados com
frequência, e suas memórias e teologias reverenciadas pelos
adeptos. Mostra-se com isso que o fundamento para a fé e
prática religiosa é humano, estacionado nos feitos de uma
pessoa em dado momento histórico, e não no Novo
Testamento.
Apostasias se tornaram comuns na Cristandade desde
então. Hoje existem muitas apostasias no Movimento
Evangélico; contudo, não são chamadas “apostasias” por
parecer de menor escala de influência do que a grande
Apostasia do passado. Esse modo ameno de ver as novidades
evangélicas é consequência da antiga aceitação do
Cristianismo fragmentado.
Quando o desvio foi geral e de grande domínio na
Primeira Apostasia, mesmo após mil anos de um período de
Trevas na ignorância das Escrituras, houve uma ruptura com
51

aquele sistema, e a autoridade religiosa do Papa foi


questionada. Hoje novos papas têm surgido, mas sob título de
Patriarca, Pastor, Missionário, Apóstolo, Profeta e Bispo, etc.
Com nítida autoridade religiosa sendo exercida sobre
milhares de fiéis ignorantes das Escrituras, modificando e
introduzindo práticas estranhas ao Cristianismo tradicional.
Enquanto isso, as denominações anteriores nada protestam
contra as novas apostasias de domínio, poder e escravidão
espiritual; não reagem diante dos mini-papados que
continuam renegando o único e soberano Senhor.
Quem dera os protestantes de hoje voltassem a ser como
os primeiros que protestaram contra o abuso do domínio
papal sobre as almas dos homens e sua liberdade. Mas, tudo
tem uma razão de ser. Os Protestantes não protestarão, pelos
menos abertamente, contra tudo que veio a ser fruto da
ruptura que o próprio movimento criou contra a igreja
romana. Sendo assim, se não for a favor de Roma é pelo
Protestantismo. A maioria dos movimentos que dividem a
Cristandade no crescente número de denominações são filhos
do Protestantismo, tendo surgido em seu seio e sendo pelo
52

meio endossado e alimentado, incluindo o Pentecostalismo e


o Neopentecostalismo atuais. As igrejas protestantes
tradicionais estão cedendo cada vez mais espaço para um
protestantismo renovado, carismático e emocional.

O espírito da Grande Reforma foi o de liberalismo


individual, na busca da salvação. Por isso, surgiu a
mentalidade de cada indivíduo escolher o caminho certo para
ele, imitando assim o raciocínio dos israelitas no Velho
Testamento: ‘... cada um fazia o que achava reto.’(Juízes
21.25). Para ambos, os judeus e os reformadores, o resultado
foi um fracasso. Além deste espírito de inteira independência
religiosa, havia uma reação fortíssima contra o sistema
católico [...] ‘salvação através de obras meritórias’. Os
reformadores Lutero, Calvino, Knox e outros rejeitaram a
base de ‘obras meritórias’, passando para o outro extremo: a
salvação por fé somente. Enfatizavam, não só a salvação
individual, mas a experiência individual. [...] cada homem
deveria ter uma ‘experiência’ de salvação, uma visão, uma
revelação... Por seguir esta dimensão mais flexível na fé,
baseada em visões pessoais, foram fundadas, através dos
séculos, centenas de seitas, cada qual afirmando ter recebido
diretamente de Deus uma nova revelação (SHIPP, 1985, p.
13-14)
53

Os protestantes se orgulham do seu feito histórico contra


o Catolicismo. Estão comemorando 500 anos em 2017. Mas,
foi somente contra o catolicismo. Se no século XIX, os
protestantes continuassem fiéis com a mesma firmeza do
passado aos seus lemas iniciais, teriam entrado no
Movimento de Restauração e abandonado credos
confessionais e estruturas, para seguirem o Cristianismo não-
denominacional. Hoje, o Cristianismo continua se dividindo
religiosamente, a cada nova esquina onde alguém sente que o
Espírito lhe falou alguma coisa.
Outra possível razão para o silêncio protestante diante
das consideradas pequenas, porém não irrelevantes
apostasias, é o interesse comercial. Sabemos pela história que
a antiga reforma recebeu suporte de classes sociais,
interessadas em aumentar os lucros da burguesia e recolher
seus impostos. A Reforma eclodiu não porque fosse apenas
um movimento genuinamente espiritual, mas porque outros
setores sociais, inclusive reinos, queriam sair da sombra do
controle político do Bispo de Roma. Hoje o
Denominacionalismo é lucrativo, pois um cantor de uma
54

denominação pode ganhar dinheiro se apresentando em


outra, os seminários teológicos recebem alunos de todas as
crenças, os dizimistas migram de uma igreja para outra, um
“pastor-humorista” que atrai multidões pode servir ao
interesse de avivamento rápido para líderes em decadência, e
as lojas de artigos religiosos evangélicos atendem a todo
cliente chamando de irmão. O sectarismo não combatido
abertamente faz com que os negócios do mundo evangélico
continuem em alta, com cada loja vendendo todo tipo de
material, desde um pequeno crucifixo a uma bateria musical,
tendo o máximo de clientela! Quem será hoje o protestante a
protestar contra um funk gospel? Com que direito? Os
“irmãos” podem se sentir ofendidos! O cliente sempre tem
razão?
O mundo protestante, apesar de valorizar suas raízes
históricas, relembrar seus lemas iniciais e ser consciente da
sua herança espiritual, não se opõe às pequenas apostasias
como se opôs à Grande Apostasia de mais de um milênio. O
Denominacionalismo é, portanto, o resultado do insucesso da
Reforma Protestante em continuar através da história a sua
55

vocação inicial de volta à Bíblia. Os protestantes, por mais


tradicionais que se considerem, não hão de condenar
abertamente os novos movimentos de visionários e
adivinhos, que se deixam possuir de espíritos duvidosos -
Como um pai não ousaria matar os próprios filhos. A
Reforma Protestante foi eficaz em ajudar as nações a sacudir
o jugo imposto pela religião oficial, mas foi incapaz de
reconduzir os que ficaram perdidos fora do catolicismo a
unidade universal, alicerçada na própria Escritura que
devolveram ao povo.
É plausível afirmar que, apostasia é apostasia, seja ela
grande ou pequena, seja atingindo quase o mundo inteiro
como foi no passado, seja atingindo uma parcela significativa
de almas em escalas menores e sistemas diferentes. O sistema
denominacional como um todo, é um tipo de apostasia, pois
o mesmo nunca existiu nos tempos do Novo Testamento.
Um tipo de apostasia composta por diversos novos apóstatas
sectários, tolerados por aqueles que a princípio, protestaram
contra a primeira e grande apostasia. O Catolicismo sempre
teve cabeça, que nunca fora Cristo, mas os Papas. O
56

Denominacionalismo tem muitas cabeças, os fundadores de


sistemas doutrinários divergentes e os líderes de novas seitas,
que tranquila e pacificamente coexistem sem se excluírem
oficialmente. Certamente, é lógico pensar que o próprio
Cristo, ou mesmo seus Apóstolos, jamais foram os
idealizadores de algo tão dividido, controverso e
contraditório quanto o Denominacionalismo.
Deve ser admissível ao homem livre e pensante,
religioso de carteirinha ou não, ou que observa de fora do
sistema religioso, que existem de fato muitas autoridades
religiosas no mundo atual. Toda denominação ou
movimento religioso humano tem uma ou mais autoridade
religiosa: O Papa, o Edir Macedo, R. R. Soares, Martinho
Lutero, Berg e Wingren, Santiago, João Calvino, Davi
Miranda, Wesley, White, Smith, Russel, McPherson,
Convenções, Sínodos, Confissões, Credos, livros revelados,
manuais de conduta, etc.

Para sermos bíblicos no nomear coisas bíblicas, não


podemos usar títulos que não estejam recomendados na
Bíblia. Chamar alguém de ‘Pai’ ou ‘Padre’ no sentido
57

religioso é condenável. Chamar alguém de ‘Reverendo’ é


blasfêmia: Só Deus deve ser reverenciado. O caso da palavra
mestre é interessante... [...] Não há contradição, mas apenas a
proibição de usar um título funcional como um título
honorífico. [...] Isto é usurpação de um título que descreve a
função, para servir de ferramenta de bajulação daquele outro,
que recebeu um dom pela graça e agora recebe homenagens
por causa do que recebeu sem mérito. [...] Quando se exige
um título, geralmente a vaidade pessoal está em jogo. Nomes
bíblicos para coisas bíblicas. É o caminho da unidade, da sã
doutrina, do aprofundamento de nossa herança espiritual e
da pregação de um evangelho que corresponde com a
simplicidade ao ensinado por Jesus e seus apóstolos. Nomes
bíblicos para coisas bíblicas. (PESTANA, 2000, p. 13).

Em geral estas autoridades recebem ou exigem títulos


honoríficos, atribuindo-lhes dignidade divina, superioridade
aos membros comuns, e posição a ser respeitada: Pastor,
Padre, Pai espiritual, Bispo, Superintendente, Presidente,
Fundador, Patriarca, Apóstolo, Profeta, Irmão, Reverendo,
Presbítero, Mestre, Líder, Guia, Profetiza, etc. Contudo, é
lícito verificar se há autenticidade nessas atribuições ou se
trata de uma usurpação espiritual, ou seja, uma clara
apostasia. E o resultado geral destas pequenas apostasias é a
58

manutenção de um Cristianismo sempre fragmentado e


aumento constante da confusão religiosa no mundo.
Deveria o homem, que tem fé em Deus e Jesus como
único Mediador, sujeitar-se a tais autoridades religiosas
promotoras do Denominacionalismo? A Bíblia como a única
Palavra de Deus deve ser considerada a autoridade para o
homem confiar e obedecer. Ela exercerá sua autoridade sobre
cada indivíduo, fazendo-o somente um filho de Deus, como
foram os discípulos de Jesus no primeiro século. A Bíblia
deve ser autoridade para os “leigos!”. Certamente existirá
graça fora de qualquer apostasia, não importando o seu
tamanho. A Bíblia é a fonte comum, pura e cristalina, aonde
cada homem ainda pode beber, e depender da única
autoridade válida. A Bíblia jamais admite ou exime os
apóstatas e suas apostasias.
59

JESUS E O IDEAL DE UNIDADE

O esforço para reunir os discípulos dispersos pelo


Denominacionalismo sectário cristão pode ser visto e tratado
de várias maneiras: Alguns acham que um apelo de
restauração à unidade primitiva do Cristianismo é
desnecessário; outros consideram impossível um abandono
de tantos credos em nossos dias; e ainda outros são
radicalmente contra um movimento de restauração e volta à
Bíblia. Mas, o que há no desejo de restauração do
Cristianismo do Novo Testamento que possa mostrar ser
justo e legítimo a todos?
Além da questão da salvação espiritual em si, existe algo
que torna esse apelo tão ou até mais atrativo que a Reforma
Protestante: A unidade dos discípulos de Jesus! Não uma
unidade superficial como se supõe existir no meio evangélico
em geral, mas uma unidade de fato em: Um só Senhor, uma
só Fé, um só Batismo, uma só Esperança da vocação cristã,
um só Espírito, um só Deus e uma só Igreja.
60

O apelo de restauração e unidade é único. Não existe


restauração sem a unidade. Portanto, quem rejeita a
restauração do Cristianismo acaba rejeitando um movimento
de unidade para todos os discípulos de Jesus. E a rejeição de
qualquer proposta séria, que leve a efeito a unidade dos
cristãos, pode ser muito contraditório e até condenável, se
nos basearmos no desejo de Jesus e no resto do Novo
Testamento.
Consideremos a priori a ideia de que Cristo realmente
teve o desejo de constituir no mundo uma comunidade de
discípulos que pudessem influenciar não só a palestina no
primeiro século, mas todos os povos pelos séculos futuros.
Uma vez existindo esta tal comunidade fora do controle de
homens do mundo, como seria a mesma conduzida? A igreja
de Cristo é incontrolável pelo homem, mas controlada por
Cristo! Não foi este desejo humano, de controlar o
incontrolável, que produziu outras formas de buscar a
unidade forçada entre os discípulos ditos de Jesus? O
papismo é um exemplo do homem forçando para unir o que
está destinado a ser unido apenas pelo Espírito.
61

Críticos do Cristianismo como instituição, acusam o


Catolicismo Romano de resultar de um conluio de
imperadores e bispos para a formação da Igreja. Eles
argumentam pelos Evangelhos que Jesus nunca intencionou
construir uma igreja, e que o texto de Mateus 16.13-20, onde
Pedro aparece como rocha sobre a qual Jesus estabeleceria
sua igreja, não seja autêntico. Porém, é de consenso da
Crítica Textual afirmar que o texto referido não deixa de ser
encontrado em nenhum manuscrito antigo do tal Evangelho.
Portanto, isto torna o texto autentico sem sombra de dúvidas,
segundo Domenico Grasso (1967, p. 181-189). Entretanto, a
interpretação sobre o papel de Pedro é que ganha destaque no
debate do texto, uma vez que sua autenticidade é confirmada.
Que Jesus resolveu construir uma comunidade no
estabelecimento do Reino, isto é fato. Mas, em que e como,
esta comunidade se fundamentaria e se organizaria, de forma
a ter coesão mundial? Buscou-se aí, uma tentativa de fazer
com que o texto de Mateus 16.13-20 inferisse que Pedro
estaria ali, recebendo um governo hierárquico sobre a igreja,
com o poder de legislar e julgar sobre a mesma. Como no
62

mundo antigo cabia também aos reis julgar, logo o


pensamento evoluiu para um sentido monárquico do
Primado de Pedro. Ou seja, dentre os Doze Apóstolos, Jesus
entregou uma responsabilidade maior a Pedro. A progressão
desde argumento é que Pedro teria como seus sucessores os
bispos de Roma, os quais exerceriam poder monárquico
sobre a igreja em nome de Pedro, sobre o qual Cristo teria
fundado sua Igreja. Esta monarquia de governo é que dá
unidade à igreja segundo a visão católica. (Grasso, 1967, p.
189-208).
Essa herança de pensar na unidade como um fator
humano, levada a efeito pelos homens, faz muitos buscarem
uma restauração às avessas. O povo perdido na confusão
religiosa acha então para si um novo profeta ungido ou porta-
voz divino, capaz de revelar tudo que na religião anterior
estivera errado, e aguardando deste novo “monarca religioso”
toda a verdade. Os novos adeptos separam a este “Guru” um
senso comum de obediência, dando uma unidade forçada e
restritiva ao novo grupo religioso.
63

Muitos grupos religiosos conseguem sua coesão restrita


centrada em personalidades que atrai por um título, posição
hierárquica, superestrutura organizacional, ou até mesmo
fama no meio gospel-carismático. Os membros das
denominações dizem com naturalidade: Sou do pastor
Fulano...; Pertenço a tal convenção...; Ou, participo do ministério
tal. Estão unidos por causa da doutrina ou do trabalho de um
homem, seu carisma ou genialidade. Logo, os
denominacionais mantêm a ideia do Catolicismo, tendo
unidade dentro de cada grupo restrito, mas não apoiada em
Jesus, sim nos homens que representam cada grupo em
particular. As fórmulas para unidade restritiva dos grupos,
dentro e fora do Protestantismo, são mecanismos para
controle sobre os que creem de determinado modo (e crendo
sempre desse modo o movimento não acaba). Isto não se
compara à verdadeira unidade espiritual segundo o Novo
Testamento, gerada pelo Espírito.13
A unidade gerada pelo Espírito é resultante de uma só
fé, um só Senhor, um só batismo, uma só Esperança da

13
Efésios 4.3
64

vocação cristã, um só Espírito, um só Deus e um só Corpo


(igreja). O homem não fabrica unidade divina e espiritual
como existia no primeiro século, esta verdadeira unidade é
gerada pelo Espírito, o máximo que os discípulos podem
fazer é preservá-la, nunca a inventar, substituí-la, ou induzir à
mesma pela força.
É simples, quando não justificamos o
Denominacionalismo: Se alguém divide o corpo já deixou de
preservar a unidade do Espírito; se acredita em mais de uma
doutrina e prática de fé, ou se sua esperança está no
materialismo religioso, e até crê em muitos batismos, já não
está sendo coerente com um mesmo Senhor, Espírito e Pai.
Não é coerente que pessoas que dizem seguir o mesmo Deus
não tenham a mesma fé (doutrina), nem o mesmo batismo, e
dividam a igreja em tantas seitas diferentes. O
Denominacionalismo pode ser uma opção, mesmo dividindo
os discípulos. Porém, o que divide e mantém os discípulos
afastados da possibilidade de unidade gerada pelo Espírito,
não pode ser a opção certa, nem divina.
65

A opinião de muitos eruditos na religião é levada em


conta quando o assunto é divisão no Cristianismo. Mas, com
cada um querendo defender o seu “terreno cercado” será
difícil achar um perito renomado que desqualifique o
Denominacionalismo. As denominações não são opções
válidas, deve-se ressaltar o retorno à unidade do Espírito.
Porém, se deixarmos o verdadeiro fundador do Cristianismo
nos dar a sua visão sobre a unidade do Espírito, talvez
consigamos algum consenso sobre como devemos encarar as
divisões religiosas recorrentes na história da cristandade.
Certamente, o maior perito em matéria de unidade, é Jesus
Nazareno.
Que Jesus tinha a intenção de estabelecer uma
comunidade mundial que divulgasse seu Nome como
Salvador pelo mundo é inquestionável. Semelhantemente não
é questionável nem difícil entender a vontade de Jesus para os
membros do seu Corpo, a Igreja. O assunto se torna
complexo, e de debate renhido, quando os grupos buscam
seus interesses para permanecerem divididos por nomes,
credos e doutrinas particulares, ao invés de focarem no
66

interesse óbvio de Jesus. “A questão é: se as denominações querem


ser unidas, por que não abandonam seus nomes? Talvez porque não
querem ser tão unidos: querem preservar o que é seu.” (Pestana,
2000, p. 14).
Cristo Jesus é o fundador do Cristianismo. Cristianismo
pode ser usado como sinônimo para Igreja, pois jamais
existiria um sem a outra. Só existe Cristianismo por causa da
igreja que veio antes, e que espalhou pelo mundo antigo o
movimento de Jesus. A igreja de Cristo foi geradora do
movimento que elevou o Nome e as ideias de Jesus Cristo
acima de toda personalidade influente do planeta. Uma única
igreja no primeiro século estabeleceu o movimento de Jesus
no mundo, e isto não poderia ter ocorrido se não houvesse
preservado a unidade do Espírito.
A primeira igreja promoveu a unidade do Espírito,
enquanto o Catolicismo posterior se estabeleceu com base na
unidade da espada imperial. As igrejas resultantes da
Reforma produziram uma unidade através de Credos e
Confissões de Fé oficiais, sendo completamente aderidos nas
jurisdições em que se estabeleciam. Muitas dessas novas
67

denominações protestantes ainda eram instrumentos do


Estado para interesses das novas classes dominantes, o que
resultou em perseguição e conflito entre grupos protestantes
emergentes. Mais tarde, livres da influência estatal, a maior
parte das denominações resultante da renovação da Reforma
inicial, trocou as Confissões e Credos exclusivos pelas Juntas,
Convenções, Sínodos, Comitês, Concílios e Associações de
igrejas distintas. Mas, isto estaria longe de ser uma unidade
gerada pelo Espírito, como tanto desejou o próprio Jesus
Cristo.

Já consideramos a evidência do perdão e a organização


da igreja de Cristo e adiantaremos agora que os cristãos eram
um grupo unido sob a orientação do Espírito Santo. A oração
de Cristo indica claramente que deveriam ser unidos ainda
hoje, como o eram nos tempos apostólicos, para
convencerem e converterem o mundo. (PHILLIPS, 1966, p.
254).

O desejo de unidade partiu do próprio Jesus antes


mesmo da igreja existir, por isso a unidade não é somente
desejável, mas também possível. A oração de Jesus a Deus
68

deve ser atendida por todos que desejam agradar ao fundador


do Cristianismo, o mesmo edificador da Sua Igreja, um só
Corpo.

E não rogo somente por estes, mas também por aqueles


hão de crer em mim pela sua palavra; Para que todos sejam
um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também
eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me
enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que
sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para
que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo
conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a
eles como me tens amado a mim.” (João 17.20-23).

O mundo religioso precisa ser mais honesto consigo


mesmo: Podem os batistas dizer serem totalmente um com os
metodistas? Podem os metodistas dizer serem um com os
seguidores do Evangelho Quadrangular? Podem estes
seguidores da igreja Quadrangular serem um com os
Luteranos, e estes com os da Assembleia de Deus
Pentecostal? Ainda que eles tenham algumas crenças comuns
e práticas similares, a resposta é óbvia. Não existe a unidade
69

pela qual Jesus rogou ao Pai entre as denominações. Nunca


existirá enquanto houver o Denominacionalismo.
A unidade de Jesus com o Pai, a qual ele rogou para
todos os futuros crentes, não é uma união superficial em
algumas crenças básicas. Portanto, por mais pontos comuns
que tenham, não refletem as denominações a unidade bíblica
verdadeira. Podemos resumir as crenças básicas das
denominações evangélicas no verso de uma folha de papel,
mas precisaríamos de muitos maços para alistar as crenças e
práticas específicas divergentes de cada uma. O Filho e o Pai
Celestiais não possuem tal união superficial. Certo é que
Deus, Pai e Filho, não possuem união, mas sim unidade.
União pode existir até o ponto onde duas coisas diferentes se
encontram. Unidade é a qualidade de ser único, de não poder
ser dividido, de harmonização, concordância, coerência e
uniformidade (uma só forma e padrão).
A unidade do Pai e do Filho é vista em todos os
Evangelhos, mas em especial no Evangelho de João, onde
essa oração sacerdotal do Senhor está inserida. Quando
alguém lê o Evangelho de João percebe que o Deus-unigênito
70

(Jesus) está no seio do Pai14; que o Pai nele faz o seu trabalho
e diz através dele a sua doutrina; que o Filho nada faz sem o
Pai lhe mostrar; que a glória do Pai está no Filho; e quem vê
o Filho vê o Pai, porque o Filho e o Pai são um!15 Então,
diante desses fatos sobre a unidade de Deus e Jesus,
compreende-se que a unidade desejada é mais profunda e
complexa do que o superficialismo religioso. Ante o
surgimento a cada dia de novas seitas e novos “profetas”, as
denominações permanecem mudas sem protestar.

Passando além dos onze, Jesus ora por aqueles que vierem
a crer em mim por intermédio da sua palavra. A palavra dos
apóstolos não teve origem neles [...] mas, eles irão proclamá-
la e viver de acordo com ela. Os que creem está no presente,
mas na realidade é uma ação futura. Eles não poderiam
tornar-se crentes sem a palavra apostólica [...]. Esta parte da
oração refere-se a toda a igreja, que veio a existir através da fé
obediente à palavra apostólica. Os apóstolos continuam
falando através das suas palavras no Novo Testamento, e o
Espírito Santo ainda faz uso da palavra deles para provar o
erro do mundo [...]. Ele já tinha orado pelos onze, para que
fossem um (v.11) e agora pede para que todos que crerem

14
João 1.18;
15
João 10.30
71

nele mediante a palavra apostólica sejam um em união com


Ele. [...] A unidade pedida por Jesus envolve a permanência
na Doutrina (2 Jo 9), apoiada na palavra de Deus. O Pai está
no Filho, o Filho nos crentes, e todos se tornam
aperfeiçoados na unidade. (PACK, 1983, p. 272-274).

É necessário que se chegue a alguma conclusão sobre a


unidade: A unidade é uma doutrina estabelecida claramente
no Novo Testamento, ou não? Poderia a unidade ser tratada
com relativismo secundário? Se, todavia, concluirmos que a
unidade proposta na Bíblia para a igreja é uma doutrina
normativa, conclui-se também que o Denominacionalismo
seja pecado, porque impede a unidade verdadeira.

A Igreja de Cristo, sendo uma instituição histórica,


todas as coisas que a ela se referem devem ser determinadas à
luz da história. O Seu Autor, seus fundamentos, condições de
filiação, organização, oficiais, ordenanças, deveres dos
membros, disciplina, recompensas, só podem ser
determinadas pela história e esta história nos é dada pelas
Escrituras Cristãs. A base para toda discussão e investigação
deve ser a pergunta: O que é que a história inspirada diz a
esse respeito? [...] O fato de que Cristo instituiu uma igreja e
que instituiu só uma, é aceito por todos. (PHILLIPS, 1966, p.
236).
72

A unidade é importante; a unidade é necessária; a


unidade tem objetivos divinos; a unidade não deve ser
confundida com união; a unidade é gerada por Deus, pelo
Espírito; a unidade é essencial; a unidade é desejável; a
unidade precisa ser alvo das orações; a unidade é possível e
alcançável, a unidade aperfeiçoa a igreja verdadeira; a
unidade dos discípulos coloca a igreja em unidade com Deus
e com Jesus; a unidade atingida no primeiro século deveria
continuar após a morte dos apóstolos; a unidade evangelizará
o mundo; a unidade mostra o amor do Pai pelo Filho; a
unidade mostra ao mundo que Deus ama seu povo; a
unidade é indispensável – A oração sacerdotal de Jesus
continua a proclamar estes fatos.
O apelo de unidade não vem de qualquer movimento de
restauração, mas do próprio Jesus. Um genuíno movimento
de volta à Bíblia apenas atende à oração sacerdotal de Jesus.
Reconhece que as divisões são o inverso do que Jesus orou
antes de padecer pela existência da Sua Igreja.
Nas Escrituras, encontramos Jesus orando pela unidade
perfeita do seu povo. A partir daí cada discípulo terá uma
73

reação: Ou volta à Bíblia e procura restaurar a Igreja pela


qual Jesus morreu, colocando-se também em oração pela
unidade dos discípulos. Ou, ignora a oração sacerdotal e se
contenta em seguir denominações que continuarão dividindo
a cristandade através dos séculos. Todos querem que Jesus
atenda as suas orações por curas, trabalho e relacionamentos;
mas, quantos estão dispostos a ouvir e contribuir para que a
oração sacerdotal de Jesus seja atendida?
Será que Jesus consideraria uma restauração da igreja
inviável, desnecessária ou impossível? Se o Mestre foi capaz
de pedir a unidade de todos os discípulos, é porque podemos
reproduzir e preservar a unidade do Espírito vista no Novo
Testamento, mesmo nos dias atuais. Esse é o desejo de Jesus
Cristo, autor e consumador da Fé. Sabemos muito sobre o
coração de Jesus ouvindo sua oração.
O ideal da unidade é justo e legítimo, pois é o ideal do
único Senhor e Proprietário da Igreja, Jesus. Quando o povo
religioso olhar de novo no Livro a oração do Senhor estará lá
para orientar. “Jesus Cristo, ontem e hoje é o mesmo; e o será
eternamente” (Hebreus 13.8).
74

UNIDADE: NECESSIDADE, POSSIBILIDADE


E DESAFIO

A unidade como desejada por Jesus, em sua oração


sacerdotal no capítulo 17 do Evangelho de João, é sem
dúvida um grande desafio. Tão grande que mesmo quem
defende o Cristianismo e tem um conceito de “sã doutrina”,
não propõe ou menciona tal desafio. Ou eles não sabem por
onde começar, ou não desejam a unidade. Essa restauração
começa exatamente pela sã doutrina do Novo Testamento.
Contudo, a proposta desse retorno à unidade do Espírito tem
custos elevadíssimos.

Tem chegado de novo a hora de pessoas com fé e visão


chamar o mundo religioso a restaurar a fé e a igreja do
Novo Testamento. Vamos voltar à Bíblia para [...]
reconstruir a igreja da maneira que Jesus instruiu no
primeiro século. Qualquer outra base para a religião não foi
aceitável no primeiro século e não é no vigésimo. Jesus
condenou as tradições humanas que levam pessoas a
ignorar a lei de Deus (Marco 7.4-9). Paulo nos ensina a
rejeitar qualquer ensinamento mesmo se for de um anjo,
que ensina doutrinas diferentes (Gálatas 1.6-9). Como
75

então devem agir as pessoas que procuram obedecer a Deus


hoje? Primeiro, devemos pensar bem na ideia de
restauração a nível pessoal. É preciso fixar nossos olhos em
Cristo e imitar a vida dele em tudo. Restauração começa
comigo, não com uma organização. Esperar que um grupo
volte às raízes do Cristianismo acaba decepcionando.
(Robb, 1990, p. 3).

Dificilmente alguém influente do Movimento


Evangélico dirá: “Deixemos tudo o que é propriamente inventado
por nós, denominações, e voltemos essencialmente ao que está na
Bíblia, nada mais e nada menos.” Que reações de religiosos e de
clérigos este indivíduo que deseja ser cristão sem participar de
denominação pode esperar? Deixá-lo-iam em seus púlpitos
isso proclamar? Haveria probabilidade de ser aceito e ter seu
apelo atendido? Pressupomos que seria mais provável ser ele
difamado e perseguido, chamado de herege ou
endemoninhado; porque conclamou uma volta à Bíblia e à
unidade primitiva. Perderia também o apoio financeiro das
organizações religiosas que o sustentassem.
76

O apelo por restauração e unidade acaba sendo em


outras palavras, um chamado ao arrependimento.16 Contudo,
a tendência é sempre manter o status quo da religião,
especialmente se há vantagens pessoais para seus
administradores. O preço do grito de restauração e unidade
pode ser o isolamento do mundo religioso sectário, que não
aceita admitir que suas divisões contrariam o Evangelho de
Cristo. Um evangelho que diz: Aceite a Cristo e escolha a igreja
que lhe parecer melhor; não é o verdadeiro Evangelho, mas uma
perversão.
Biblicamente falando nenhum ser humano tem direito
de escolher a igreja à qual pertencer. No Novo Testamento,
desde Atos 2, Cristo sempre teve a Sua Igreja e acrescentava
cada salvo ao seu Corpo. As denominações não são o Corpo
de Cristo. Segue abaixo uma comparação apropriada de
Leroy Brownlow (1977, p.57-58):

16
Jeremias 6.16
77

DENOMINACIONALISMO CRISTIANISMO SEM DENOMINAÇÃO


Formado por muitos corpos ou igrejas. Tem um corpo ou igreja (Mt 16.18; 1 Co 12).
Foi fundado pelos homens. Foi Fundada por Cristo (Mt 16.18).
É liderado por homens. Cristo é o Cabeça (Ef 1.22-23).
Segue credos humanos. A Bíblia é o único Credo (2 Tm 3.16-17).
Usa muitos nomes humanos. Glorifica a Deus como Cristão (1 Pe 4.16).
Segue os homens. Condena que se siga homens (1 Co 1.1-13).
Múltiplas igrejas desconhecidas à Bíblia. É a única Igreja conhecida na Bíblia (Rm 16).
Afirma que ser membro do Corpo não é Ser membro da Igreja de Cristo é essencial
essencial para a Salvação. para a salvação (Ef 5.23).
Prega e aceita muitos evangelhos. Outros Evangelhos são condenados (Gl 1.9).
Reescreve os credos de tempos em tempos. A Bíblia permanece a mesma (Mt 24.35).
Tem muitas crenças. Há uma Fé (Ef 4.5).
Tem muitos batismos. Há um batismo (Ef.4.5).
Filia-se e desfilia-se a igrejas diversas. Deus adiciona à Igreja (At 2.47).
Afirma estar vivendo nos ramos da igreja. Jesus disse: “Permanecei em mim”.
Anda de acordo com diversas regras. Segue a mesma e uma só regra.
Agradece a Deus por diversas igrejas. Jesus orou pela unidade (Jo 17.20.21).
Afirma que a doutrina não importa. “Cuida de ti mesmo e da Doutrina, continua
Que cada igreja tem a sua doutrina. nestes deveres, fazendo assim, salvarás
Que existem várias formas de chegar a Deus. tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”
(1 Tm 4.16).

Em regra, tudo o que é importante no plano divino é


deturpado. A família tradicional tem sido rejeitada por uma
família renovada e dividida, instável e passível de desintegrar-
se facilmente. Assim também a igreja, família de Deus em
Cristo, alicerçada sobre o fundamento dos Apóstolos e
78

Profetas com Jesus sendo a Pedra Angular,17 também tem


sido deturpada e sua restauração indesejada. Mas, se alguém
observar olhando de novo no Livro Sagrado, sem o falso pré-
conceito de que o Denominacionalismo sempre existira, verá
que as possibilidades de restauração da igreja do Novo
Testamento são mais simples e reais do que os evangélicos
são levados a pensar.
O Dr. Eddie Cloer (2003, p. 17-27), resumiu como hoje
a igreja que Cristo edificou pode simplesmente ressurgir em
qualquer lugar. Segundo o Dr. Cloer, os três passos simples
para Cristo estabelecer sua igreja hoje são: 1. Pela Pregação
do Evangelho; 2. Pela obediência ao Evangelho; 3. Pela
vivência do Evangelho. De acordo com este doutor em
ministério, basta reproduzir a pregação exata do sermão de
Pedro em Atos 2; exigir dos que tiverem fé que se
arrependam e sejam batizados para a geração de nova vida; e
a partir de então, esse novo grupo de cristãos passe a viver
com a leitura da palavra, a ajuda mútua, a Ceia do Senhor e
uma vida de oração - e está feito! Este grupo crescerá

17
Efésios 2.19-20
79

espiritualmente e recomeçará o ciclo pelo qual Jesus


estabelece sua igreja em cada lugar, sem a mínima
necessidade de credos, hierarquias e controle humano sobre
os membros de Cristo. De acordo ainda com este
pensamento, todo poder para o estabelecimento e expansão
do Cristianismo puro e simples se restringe à Palavra de
Deus. Como a boa semente, em qualquer lugar que for
plantada, dará sempre os mesmos frutos, conforme a sua
espécie - cristãos apenas!
A unidade então, não é forçada por outro grupo sobre os
novos discípulos, ou imposta por um conjunto de “doutrinas
especificamente distintas”; mas, pela simples obediência ao
Evangelho antigo. Quando se analisa profundamente a Igreja
original e se despe de tudo o que não é ordenado no Novo
Testamento, há sim, a possibilidade de unidade entre
discípulos, sem a necessidade de “Convenção
Administrativa” composta por eles próprios. O controle então
fica por conta do Céu, onde está a sede da verdadeira igreja
80

de Cristo, segundo a Bíblia.18 Jesus é quem controlará tudo


por meio da sua Palavra. Difícil seria para os que detêm
cargos e posições oficiais, abrirem mão do controle e
influência que exercem nas organizações que representam.
A própria Bíblia servindo como modelo de tudo torna
possível a restauração da igreja e a unidade do Espírito.
Modelo de pregação, modelo de resposta ao Evangelho,
modelo de batismo, modelo de fé, modelo de organização
autônoma de congregações, modelo de contribuição e ajuda
mútua entre discípulos, modelo de adoração pública, modelo
de serviços, modelo de papéis para homens e mulheres,
modelo de aliança, modelo de sacerdócio, modelo de tudo
que é necessário para a reprodução fiel da primeira igreja.
Se os discípulos, sendo simplesmente cristãos sem
denominação, buscarem fazer tudo seguindo o modelo
(padrão) exemplificado no Novo Testamento, as diferenças se
tornarão mínimas, devido o objetivo principal de fazer tudo
segundo as Escrituras. A possibilidade de unidade do
Espirito, por um movimento de restauração do Cristianismo

18
Filipenses 3.20; Hebreus 1.3
81

do Novo Testamento é realizável. Cada vez que alguém


abandona sua tradição religiosa herdada do sistema, exceto a
Bíblia como a Palavra de Deus e a fé de que existe uma
igreja, esse processo de restauração é iniciado. A verdadeira
igreja poderá ser encontrada e reproduzida através das
páginas do Novo Testamento. Essa busca humilde e sincera
através das Escrituras converge em unidade ao invés de
divisões. Todas as divisões no Cristianismo são injustificáveis
uma vez que se entenda qual é a igreja certa.
A Reforma Protestante teve seus méritos e deixou seu
legado histórico na cristandade. Mas, 500 anos depois
desconfiamos que ela tenha se tornado um fim em si mesmo.
Além do rompimento com a Grande Apostasia, devia ter
levado os homens de volta à única fonte, à unidade primitiva
do Espírito, à igreja do Novo Testamento. O fim, o objetivo
da dita Reforma deveria ser a restauração completa do
Cristianismo puro, simples, genuíno e autêntico do Novo
Testamento, como talvez parecesse pretender a princípio.
Como este fim não foi atingido pelo Protestantismo, é
necessário ir muito além da Reforma Protestante. É preciso
82

buscar uma restauração do Cristianismo capaz de atender a


Oração Sacerdotal do Salvador, que por todos os crentes
intercedeu.
O Catolicismo Romano mantém sua unidade, o
Protestantismo Evangélico não tem unidade. O Catolicismo
tem uma unidade global forjada na premissa do Primado de
Pedro. A unidade do Catolicismo é forçada, mas não é e
nunca foi a unidade do Espírito. O Denominacionalismo não
pode ter a unidade primitiva, pois mais espalhou os
discípulos de Cristo do que os reuniu em uma só fé, um só
Senhor e um só batismo. A única unidade que conseguem é
esfacelada, restritiva a cada grupo separado, por autoridades
distintas constituídas por homens ou instituições superiores,
que não pode ser aceita por todas as denominações.

O Protestantismo não tem certamente a unidade da fé,


do governo e da comunhão. O princípio de livre exame, na
interpretação das Escrituras, proclamado por Lutero e aceito
por todos os protestantes, levou o Protestantismo a dividir-se
em muitíssimas correntes e denominações, cada uma delas
possuindo um credo em parte ou em tudo divergindo do
credo das outras. As divergências referem-se muitas vezes a
83

verdades fundamentais, como a divindade de Cristo e a


eficácia dos sacramentos. Os próprios protestantes sentem
hoje as suas divergências como um escândalo e procuram
dar-lhes remédio através do Movimento Ecumênico. Não
têm unidade de governo; cada igreja tem um chefe a parte, e
muitas vezes nenhum governo. O Rei da Inglaterra por
exemplo é o chefe da Igreja Anglicana, assim como o
Imperador da Alemanha foi o chefe da Igreja Luterana. Por
conseguinte, o Protestantismo não tem nem mesmo unidade
de comunhão, impossível sem unidade de governo. (Grasso,
1967, p. 224).

O resultado da Reforma Protestante é o


Denominacionalismo. Quinhentos anos depois das 95 teses
pregadas por Lutero na catedral alemã de Wittenberg, deve
haver muito a comemorar, exceto a unidade. O
Denominacionalismo com suas inúmeras divisões e disputas
não pode ser a igreja que Jesus planejou no seu eterno
propósito.19 Uma restauração se faz necessário, simplesmente
por atender melhor aos anseios de Jesus quanto à unidade do
Espírito.

19
Efésios 3.8-12
84

Sem as atitudes que mostrem o desejo de ser unido num


só Corpo, ninguém conseguirá atingir junto a outros o
propósito de ser a igreja de Cristo. O apóstolo Paulo, pediu
toda humildade, mansidão, longanimidade e amparo mútuo,
num esforço diligente de preservar a unidade do Espírito num
forte elo de paz (Efésios 4.1-3). A Restauração do
Cristianismo à unidade primitiva só não é possível aos
religiosos, quando lhes falta a humildade, a mansidão e a
longanimidade. As pessoas egoístas logo desejarão se
sobreporem a outros, e não serão capazes de dar suporte
espiritual para os que inda não possuem pleno conhecimento
da Verdade. Toda humildade é necessária num processo de
restauração genuína, até mesmo para reconhecer que tudo se
opera pela vontade divina, não por força humana.
O apelo de restauração e unidade chama o mundo
religioso cristão ao arrependimento, a um avivamento no
sentido de voltar a olhar de novo no Livro. O coração dos
religiosos precisa perguntar pelo velho caminho da Palavra de
Deus, e voltar a andar nele. Como disse o profeta Jeremias,
ao Israel que sentia vergonha da Palavra de Deus:
85

A quem falarei e testemunharei, para que ouçam? Eis


que os seus ouvidos estão incircuncisos e não podem ouvir;
eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa;
não gostam dela. [...] Assim diz o SENHOR: Ponde-vos a
margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas,
qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para
a vossa alma; mas, eles dizem: Não andaremos. (Jeremias
6.10, 16).

Cristo sempre chamou seu povo a uma unidade através


do ensino dos apóstolos. Os apóstolos e profetas inspirados
no primeiro século tinham a mente de Cristo para guiar o seu
povo.20 Em Corinto, Paulo exortou os irmãos a
permanecerem unidos e não deixar que nada nem ninguém
os dividissem. Portanto, as divisões devem ser evitadas e não
ignoradas. Uma das metáforas preferidas de Paulo para
referir-se à igreja, era o Corpo de Cristo.
A cabeça é uma, juntamente com o Corpo, ambos são
inseparáveis. E o corpo, está todo ligado, vinculado e
articulado, através de cada parte, para cumprir suas funções
neste mundo perdido.21 Paulo afirma enfaticamente que os

20
1 Coríntios 2.16
21
Efésios 4.15-16
86

dons são do Espírito, os serviços são a Cristo e Deus realiza


todas as coisas através dos membros do Corpo. O Corpo é
um, embora tenha muitos membros, todos estes membros
constituem um só Corpo.22
Não cabe na metáfora do Corpo, a ideia de que cada
denominação seja um ministério pelo qual Cristo age no
mundo, pois os cristãos individualmente é que representam
os membros do Corpo. Não se deve inserir um elemento
novo (denominações, seitas) que não podem ser reconhecidos
no contexto da passagem. Uma passagem da Escritura não
pode significar em nossos dias o que jamais significou para
seus leitores originais.
Os serviços diversos possibilitados pelos dons diferentes
concedidos a cada cristão, gera uma variedade de realizações
mediante o poder de Deus. Estes “serviços” produzidos pelos
membros em algumas versões são traduzidos como
“ministérios”, mas a palavra ministério nunca significou uma
denominação religiosa na Bíblia. Ministério é cada tipo

22
1 Coríntios 12.4-6; 1 Coríntios 12.12-27
87

serviço, que os cristãos individualmente executam, com dons


pessoais que receberam de graça e por graça.

Para que não haja divisão no Corpo; pelo contrário,


cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos
outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem
com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se
regozijam. Ora, vós sois Corpo de Cristo; e, individualmente,
membros desse Corpo. (1 Coríntios 12.25-27).

A unidade e fraternidade num só Corpo será um desafio


contínuo. Essa diversidade de dons e serviços será necessária
para a edificação espiritual dos membros desse Corpo – Uns
aos outros! A unidade na diversidade de dons, talentos,
corações, habilidades, experiências e personalidades é a
vontade de Deus, pois cada ser humano é único e diferente
pelo desejo divino. Contudo, nenhum membro do Corpo tem
direito de começar “outro corpo”, sua própria igreja, pois a
única Igreja que tem o direito de existir foi estabelecida por
Cristo a cerca de 2.000 anos. A igreja é uma só, e possui
todos os membros que estão em Cristo, mas nenhum membro
pode possuir a igreja, nem sequer uma pequena parte dela;
88

sendo apenas Cristo o Salvador deste Corpo.23 Então, os


cristãos que se dispuserem a voltar a Bíblia devem entender
sua responsabilidade individual no trato com outros; e com as
atitudes certas preservarão a unidade do Espírito.

Existe um só corpo, ou seja, uma só igreja, aquela


edificada por Cristo. [...] Os ramos da videira de Cristo são
pessoas e não igrejas. Jesus nos ensinou que os membros do
corpo são indivíduos (João 15.5-6). Em 1 Coríntios 12.27
vemos que nós somos individualmente membros do seu corpo.
[...] A existência de diversas denominações não é desejável.
Cristo orou pela unidade dos seus seguidores (João 17.20-21).
Paulo rogou pela unidade dos irmãos e pela fé evangélica (1
Coríntios 1.10 e Filipenses 1.27). Em Efésios 2.11-22; 3.10-11
e 4.3-6; Paulo destacou a necessidade da unidade cristã. A
Bíblia condena o partidarismo, ou seja, o
Denominacionalismo (João 17.21; 1 Coríntios 1.10 e
Filipenses 2.1-4). (SHIPP, 1985, p. 19-20).

O fato de cada discípulo ser diferente em: Idade,


personalidade, tempo de conversão, experiências na vida,
habilidades adquiridas, inclinações naturais para certas áreas
específicas, e acrescentando-se a tudo isso os dons diversos

23
Efésios 5.23
89

do Espírito; é maravilhoso para o bom andamento do Corpo.


Ao invés de usar essas diferenças para competir uns com os
outros, ou abrir seu Ministério; os cristãos devem buscar
trabalhar como um Corpo bem coordenado, para a Glória de
Jesus. O homem livre de pensamento que exerce seu direito
de julgar todas as coisas e reter o que é bom, ao envolver-se
num despertar de volta à Bíblia, deve aceitar o desafio de
buscar uma plena unidade com outros interessados na igreja
do Novo Testamento.
Com toda humildade, mansidão e longanimidade, o
cristão ávido por unidade e restauração, deve usar seu
diferencial individual para complementar os outros,
mostrando a coesão orgânica do Corpo vivo de Cristo. Os
comprometidos com o desafio da unidade por um
movimento de restauração devem entender a importância do
relacionamento ‘uns aos outros’ no Novo Testamento. Sem
compreender toda a relevância da relação ‘uns aos outros’
ordenada na Palavra, não haverá verdadeira unidade ou
restauração.
90

Não é suficiente amar, é necessário dar oportunidade


aos irmãos para que possam exercer amor para conosco. É
essencial que o amor de Cristo flua em duas direções. Tem
que viver de tal forma que propicie um ambiente de amor em
‘mão dupla’ dentro da igreja. Quem ordena é Jesus.
(PESTANA, 1989, p. 12).

O entendimento correto do relacionamento de “uns aos


outros” é um antídoto eficaz contra partidarismos, vanglória,
soberba, detrimento de uns, favorecimento de outros,
divisões, escândalos, abusos e autoritarismo.24 Longe da
divisão entre clero e leigo, ou de se considerar ovelha
chamando outro de meu Pastor; os discípulos, respeitando
funções diferentes no corpo, se relacionarão na base da
igualdade de filhos de Deus, nunca como subalternos de
hierarquias humanas. Com este entendimento e prática, o
relacionamento entre discípulo-discípulo fica em Horizontal,
porque em Vertical todos se relacionam diretamente com
Cristo, o Cabeça da Igreja, seu Rei e Pastor Supremo.
Muitos considerarão difícil esse desafio da unidade.
Uma grande parte sente melhor com alguém mandando

24
Filipenses 2.1-4
91

neles, ditando-lhes as regras da piedade; e até podendo culpa-


los se vierem a perecer no caminho. Evangélicos ignoram
erros grotescos de líderes, acreditando piamente que, sendo
apenas ovelhas ficarão sem responsabilidade nos tropeços
continuados de seus guias (caso creiam em condenação). Isso
resulta da ideia hierárquica predominante, pois estão numa
relação de ‘uns SOBRE os outros’.25 É como se inventassem um
novo provérbio na religião: Eu posso até ser cego se meu
Guia enxergar.26 Os cegos espirituais podem ser curados para
que a sua fé se apoie no poder de Deus.27 Não existe desculpa
para quem se subjuga a homens e não se sujeita diretamente a
Deus.
Parece haver uma associação inconsciente indevida, da
figura do pastor como se fosse o próprio Jesus, em carne. Os
crentes querem receber a bênção através da oração do pastor
com a imposição de suas mãos; que o líder ore por qualquer
problema seu crendo que a oração dele será mais forte
(intercessora ou mediadora). Nas conversões evangélicas, o
25
Colossenses 2. 18-19
26
Mateus 15.12-14
27
1 Coríntios 2.1-5
92

pastor pede que o indivíduo recite suas palavras para que


Jesus entre no seu coração; e finalmente, ora para que receba
(através da sua oração) o perdão de todos os seus pecados!
Inconscientemente, o crente acredita que Deus o perdoou,
através da ação do pastor. Inicia-se uma relação de
submissão.
As penitências e confissões aos padres católicos se
assemelham a isso, com a diferença que o processo é repetido
muitas vezes. Um mediador humano na conversão, uma
espécie de sacerdote, no lugar da obediência irrestrita ao
Evangelho. Essa não é uma relação saudável e nem
horizontal entre discípulos. Essa confusa relação equivocada
torna difícil o crente ver seu Pastor-Padre-Guia-Profeta-Líder,
simplesmente como igual aos outros, ou igual a si.
Parece-nos que o Denominacionalismo não só distancia
um grupo sectário de outros, mas também distorce a relação
entre homens no mesmo grupo. No verdadeiro Corpo de
Cristo, homens livres servem-se e respeitam-se apenas como
irmãos, filhos do mesmo Pai, e herdeiros da mesma graça de
vida. Os discípulos não terão o mesmo nível de maturidade
93

espiritual na prática de ‘uns aos outros’, pois sempre haverá


neófitos28 chegando para aprender. Notório que os mais
amadurecidos serão os mais humildes em tratar os irmãos.
Com crescimento espiritual vem o desenvolvimento em toda
humildade.
O Desafio é grande. Envolve uma mudança nos
indivíduos, não em estruturas religiosas destinadas a
perpetuarem-se como se deu com o Catolicismo. Para um
retorno à unidade do Espírito será necessário restaurar-nos
em relação aos demais discípulos. A restauração da unidade é
tanto necessária como possível, além de desejável. O grande
desafio é não deixar que as diferenças individuais criem
conflitos de interesses e orgulho. Arrogância e ambição
camuflam o legítimo desejo de vivermos uma relação ‘uns
aos outros’, tão saudável quanto nos recomenda a Bíblia. A
unidade do Espírito é necessária, possível e desejável. O
discípulo de Jesus tem toda condição, obedecendo a Palavra,
de ousar nesse grande desafio.

28
Neófito significa o recém-plantado, o novo convertido.
94

OS PRINCÍPIOS MANTENEDORES DA
UNIDADE PRIMITIVA

O homem simples e livre pode ser simplesmente cristão,


sem sujeitar-se a autoridade religiosa humana ou a Credos,
Confissões de Fé, denominações e suas hierarquias. Um
homem livre, em submissão a Deus, vivendo um
Cristianismo não-denominacional, é tanto bíblico como
possível.
Contudo, não pode ignorar que o Cristianismo do Novo
Testamento, o Cristianismo não-denominacional, é vivido
numa relação de ‘uns aos outros’ com os demais seguidores
do Caminho. Abandonando a relação ‘uns SOBRE os outros’
do Denominacionalismo, o homem livre do sistema deve se
unir a outros discípulos para seguir a Cristo. Seguirão juntos
numa relação de igualdade como filhos de Deus, respeitando
suas diferenças de crescimento espiritual, e em cada
circunstância aprendendo a sujeitarem-se uns aos outros no
95

temor de Cristo.29 “Os primeiros cristãos, pois, estavam


visivelmente unidos. Unidos em sentimentos, desejos, propósitos,
objetivos, interesses, sob um mesmo Líder ou Governador; tal qual
deveria ser a união entre todos os crentes” (PHILLIPS, 1966, p.
279).
Obedientes ao Evangelho do Novo Testamento, tendo
realizado os termos da Salvação espiritual em Cristo, que
inclui o batismo para remissão dos pecados, os simplesmente
cristãos devem perseverar na doutrina dos apóstolos, na
comunhão, no partir do pão e nas orações. 30 A partir deste
ponto, devem se unir para trabalharem como um corpo bem
coordenado, mediante os dons espirituais e talentos
individuais, a fim de fazerem novos discípulos de Jesus,
expandindo assim a Sua igreja.
Mas, como poderão estes discípulos de Cristo a partir de
agora, reunindo e servindo como uma igreja de Deus,
manterem-se unidos à medida que crescem e se espalham? A
resposta desse aparente dilema deve ser buscada no período

29
Efésios 5.21
30
Atos 2.42
96

áureo da Igreja unânime do primeiro século, no Novo


Testamento. Os mesmos princípios que mantiveram a igreja
sem fragmentação no passado devem ser usados hoje para
manter a mesma unidade do Espírito.

Esta entidade santa, a igreja, necessita ser inteiramente


unida. Ninguém tem o direito de separar o Corpo de Cristo
em denominações ou seitas. Na área de doutrina deve haver
sempre acordo baseado naquilo que a Bíblia diz. Somente na
área de opinião (onde a Bíblia não fala) há flexibilidade.
(SHIPP, 1985, p. 260).

O apóstolo Paulo estabeleceu pelo mundo gentio em


várias cidades do vasto império romano uma igreja. Esta
igreja do Senhor Jesus apenas era dividida em termos de
localizações distritais, nunca em nomes, doutrinas ou práticas
de fé. Portanto, em cada cidade havia uma só igreja que não
diferia das demais em termos essenciais de adoração,
organização, missão e cooperação (De Jerusalém a Roma).
Portanto, deve-se perguntar: Como aqueles primeiros irmãos
mantiveram uma coesão espiritual em toda parte, sem que
houvesse qualquer hierarquia entre os discípulos e entre as
97

congregações locais? Eles aprenderam do próprio apóstolo


que os iniciara em Cristo, como ser inteiramente unidos na
mesma disposição mental e no mesmo parecer, sem que as
divisões dominassem seus corações inclinados ao sectarismo.
Em suma, os três princípios básicos para alcançar e
manter o Corpo bem ajustado e consolidado, segundo a justa
cooperação de cada parte, efetuando seu próprio
crescimento;31 podem ser resumidos nas palavras: Amor,
Liberdade e Doutrina. A doutrina sempre foi muito
importante para a unidade da igreja. Portanto, em doutrina é
necessário unanimidade, em opiniões é necessário dar
liberdade aos irmãos, e em todas as situações, deve-se agir
com amor cristão.
Estes princípios são vistos em todas as epístolas
paulinas, especialmente em Romanos e na Primeira Carta aos
Coríntios. Citamos alguns trechos para rápida verificação.
Antes dos trechos citados, damos uma síntese de qual dos três
princípios da Unidade do Espírito é ensinado na passagem.

31
Efésios 4.15-16
98

Unanimidade em Doutrina – “Rogo-vos, porém,


irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis
todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões; antes
sejais inteiramente unidos na mesma disposição mental e no
mesmo parecer.” (1 Coríntios 1:10).
Unanimidade em Doutrina - “Estas coisas, apliquei-as
figuradamente, a mim e a Apolo, para que por nosso
intermédio, aprendais isto: não ultrapasseis aquilo que está
escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro.”
(1 Coríntios 4:6).
Amor em todas as demais coisas que não envolvem a
Doutrina - “Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos,
sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento
ensoberbece, mas o amor edifica.” (1 Coríntios 8:1).
Em opiniões temos liberdade, mas nunca liberdade
ilimitada - “Mas vede que essa liberdade não seja de alguma
maneira escândalo para os fracos.” (1 Coríntios 8:9).
O princípio do amor ao próximo acima de manter uma
liberdade individual - “E pela tua ciência perecerá o irmão
fraco, pelo qual Cristo morreu. Ora, pecando assim contra os
99

irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra


Cristo. Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão,
nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se
escandalize.” (1 Coríntios 8:11-13).
Unanimidade em Doutrina - “Para que, concordemente,
e a uma voz, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo.” (Romanos 15.6).
Em opiniões divergentes devemos aceitar o outro sem
impor-lhe coisa alguma - “Acolhei ao que é débil na fé, não,
porém para discutir opiniões.” (Romanos 14.1).
Não há espaço para criticar e rejeitar um irmão que
serve a Cristo com opinião diferente naquilo que não é
essencial para a salvação - “Quem és tu, que julgas o servo
alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas
estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar.”
(Romanos 14.4).
Em questões de uso da consciência em opiniões
pessoais, sobre detalhes não revelados, cada irmão será
julgado por Deus - “Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu,
100

também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos


de comparecer ante o tribunal de Cristo.” (Romanos 14.10).
Abrir mão da liberdade individual, do próprio direito de
fazer algo com conhecimento, é demonstração do amor
limitando nossa liberdade à consciência do outro - “Bom é
não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas
em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se
enfraqueça.” (Romanos 14.21).
A preocupação com a harmonia do Corpo de Cristo está
acima da liberdade individual e dos gostos pessoais de cada
irmão - “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e
para a edificação de uns para com os outros.” (Romanos
14.19).
Outras passagens destes princípios mantenedores da
unidade do Espírito poderiam ser citadas. Os trechos
referidos acima, demonstram que a atitude dos cristãos deve
mudar, de acordo com o princípio aplicado ou assunto em
questão. Entender cada princípio e como eles se relacionam é
vital à prática da unidade.
101

A ‘síndrome Nós-Eles’ é a doença que mais mata


cristãos em todo o mundo. Ela é caracterizada por sintomas
que vão desde um simples desinteresse pela igreja, até que,
em seu estado mais avançado e grave, chega a gerar brigas,
discussões e afastamentos da fé. [...] A ideia é que, ao invés
de viver no esquema ‘Nós-Eles’(como o mundo), vamos viver
no esquema ‘Uns aos Outros’. Este é o desejo de Deus para
sua assembleia e o exercício do Cristianismo é ‘uns aos
outros’. (PESTANA, 1989, p.11).

Quando se trata da Doutrina, todos os cristãos são


obrigados a pensar, falar e agir da mesma forma segundo a
vontade de Deus revelada, através dos Apóstolos de Cristo e
Profetas inspirados no primeiro século. O Novo Testamento é
o guia infalível neste processo de unidade na doutrina.
Thomas Campbell, um pregador presbiteriano, chegou à
América em 1807. Os presbiterianos o censuravam por ser ele
muito liberal, e ele se retirou desse grupo. Numa reunião [...]
numa velha casa de fazenda, Campbell falou e concluiu sua
palestra concitando-os a adotarem o seguinte princípio: Onde
a Bíblia fala, nós falamos; onde a Bíblia se cala, nós nos
calamos. [...] Havia muitas verdades fundamentais que eles
não haviam ainda compreendido, mas este princípio guiou-os
àquelas verdades, uma por uma. [...] O princípio de falar
onde a Bíblia fala e calar onde a Bíblia cala, vagarosa, mas
seguramente quebrou os grilhões do Denominacionalismo.
(Brownlow, 1977, p. 60-61).
102

Quando, porém, se tratar de opiniões sobre condutas e


pensamentos particulares, de algo não especificamente
ordenado e revelado como Doutrina, sendo não essencial
para a salvação; neste caso, cada um dá ao próximo a
liberdade para crescer e responder diante de Deus.
Além de Unidade em Doutrina e Liberdade nas
Opiniões, o Amor é o terceiro e essencial princípio para a
manutenção da unidade do Espírito. Quando qualquer
liberdade individual colocar em risco a vida espiritual de um
irmão mais fraco, e ameaçar dividir o Corpo; por amor os
crentes envolvidos deverão abandonar o exercício legítimo de
tal direito (liberdade individual), em benefício da união e
crescimento espiritual de todos.
A observância fiel a estes princípios bíblicos evita muitos
motivos que no mundo religioso acaba em divisão e na
existência de novos grupos. Evita que meras opiniões se
transformem em Doutrina. Entendendo estes princípios
ninguém vai impor ou limitar a liberdade dos outros,
alegando atribuição divina para conduzir a vida particular
dos membros de Cristo.
103

O modo de consumir, divertir, descansar, educar a


família, vestir, passar férias, seguir uma dieta, cuidar do
corpo, trabalhar, entretenimento, escolher uma carreira,
comemoração de datas festivas, relacionar com parentes e
amigos, e uma série de outras questões pertencem a esta
categoria de opiniões, onde cada irmão tem a sua liberdade.
Nestas áreas específicas cada um usa sua liberdade e evita
julgar o outro que segue uma opinião diferente. Aconselhar
alguém ao uso melhor da sua liberdade, quando se tem mais
crescimento espiritual, não significa impor, pois haverá
tempo para o crescimento espiritual de todos na vida pessoal.
Notemos bem que “as opiniões” estão no plural, porque
são muitas. Cada um pode ter a sua liberdade sobre certos
detalhes individuais, e o mais importante é que estas opiniões
poderão mudar quando houver mais crescimento espiritual.
O que ocorre com as opiniões e o uso da liberdade com o
passar do tempo, nunca ocorrerá com a Doutrina. A
Doutrina de Deus é imutável desde que o Novo Testamento
se tornou completo.
104

O princípio do Amor em todas as circunstâncias,


protege a igreja de pecar e ser contraditória. Ao tratar
problemas de disciplina bíblica, de má conduta, pecados
sérios e desvios doutrinários, a igreja o faz com misericórdia
cristã. Tratam-se as situações mais delicadas com o espírito
de brandura,32 buscando mais a conversão e reconciliação
que a exclusão. O amor jamais formaria uma “Santa
Inquisição”33 ou produziria uma noite de São Bartolomeu34.
O amor do Espírito, pelo contrário, é o vínculo da Perfeição,
o vínculo da Paz! Thomas Campbell em 1809 escreveu um
resumo destes princípios, como segue abaixo:
Não deverá haver cisão ou divisão descaridosa entre elas
(as igrejas, nota do autor). Elas devem receber-se umas às
outras, como Cristo Jesus também as recebeu para a glória de
Deus. E, para este propósito, todas elas devem seguir a
mesma norma, pensar e falar a mesma coisa, e devem ser
perfeitamente unidas no mesmo pensamento e no mesmo
parecer. Que para isso, nada deve ser imposto aos cristãos
como artigo de fé, nem exigido deles como condições de
comunhão, a não ser que seja expressamente ensinado e

32
Gálatas 6.1-2
33
Tribunal católico contra heresias na idade média.
34
Massacre da repressão ao Protestantismo na França em
1572
105

ordenado a eles pela Palavra de Deus. Mais ainda, nada


dever ser admitido como obrigação divina em sua
constituição e em sua conduta, a não ser que seja
expressamente ordenado pela autoridade de nosso Senhor
Jesus Cristo e seus apóstolos à Igreja do Novo Testamento,
em termos explícitos ou através de precedente aprovado.
(Thomas Campbell, Declaração e Tratado, Apud,
MATHENY, 1990, p. 8-9).

Estes princípios de Amor em Tudo, Liberdade em


Opiniões e Unidade em Doutrina estão no Novo Testamento.
O conhecimento, divulgação e prática destes princípios são
normativos para toda a cristandade, se quiserem retornar à
unidade primitiva. Contudo, especialmente na questão
doutrinária, um sério reexame se faz necessário, visto que o
próprio Denominacionalismo é inexistente na Bíblia. Se a
doutrina é imutável e nela todos os discípulos de Jesus devem
ser unânimes, logo se faz extremamente necessário uma
busca profunda dentro do Novo Testamento, sobre as
questões essenciais de fé e prática da igreja primitiva.
Nessa unidade em doutrina, muitas questões não podem
ser ignoradas: O batismo é de um só tipo e propósito. A
adoração é congregacional e espiritual. A organização da
106

igreja inclui homens amadurecidos em funções especificas


sem indicar hierarquia ou posição privilegiada sobre os
demais discípulos. As diferenças entre as duas Alianças
bíblicas precisam ser aplicadas corretamente, sendo a Igreja o
novo Israel espiritual de Deus. A missão e o trabalho da
Igreja é a Pregação do Evangelho, para a salvação dos
Perdidos e a edificação dos salvos. Os princípios bíblicos que
mantiveram a igreja de Cristo unida no passado podem
nortear os discípulos hoje, se eles falarem onde a Bíblia fala, e
calarem onde a Bíblia se cala. O zelo ardente conduz de volta
a Deus os que se sentem livres para buscar uma verdadeira
unidade, como descrita na oração sacerdotal de Jesus.
A autoridade religiosa será sempre a questão principal.
A Bíblia é a fonte desses verdadeiros princípios. Se o homem
livre e pensante, que tem fé em Deus e acredita em Jesus,
continuar deixando que homens e sistemas dominem a sua
mente e os conduza sob seus pés, não haverá restauração e
nem unidade. Estes princípios de unidade do Novo
Testamento não devem ser ignorados sob nenhuma
circunstância.
107

Paulo aos Anciãos em Éfeso, em discurso de despedida,


deixa claro que, mesmo na ausência física dos apóstolos, a
unidade poderia continuar: “Encomendo-vos ao Senhor, e a
Palavra da sua graça, que tem poder para vos santificar, e dar
herança entre todos os que são santificados.” (Atos 20.32).
Sem a restauração da unidade do Espírito a cristandade
continuará sendo sectária; as igrejas serão apenas reinos
particulares de quem não devolve a autoridade a Jesus sobre
o povo.
Deus, através de Jesus exerce toda a sua autoridade por
meio da Escritura, pois a Bíblia é a única que tem a
prerrogativa de ser a Palavra de Deus definitiva. A verdadeira
igreja deve ser Coluna e Baluarte da Verdade, e ser protegida
contra desvios para ter a Salvação garantida pela Palavra.
Portanto, sem começar por unidade em Doutrina, nunca
haverá a verdadeira unidade pela qual Jesus rogou. Em
Doutrina, unidade. Em Opiniões, liberdade. E em todas as
coisas, o Amor.
108

UM CHAMADO A RESTAURAÇÃO DO
CRISTIANISMO

Uma restauração do Cristianismo do Novo Testamento


pode dar coerência aos cristãos, retirando todos os rótulos
que os acompanham e os dividem. Romper com o paradigma
denominacional é o maior e mais difícil desafio para os
protestantes evangélicos. Abrir mão de tradições não faz
parte da cultura evangélica e sim criá-las. O
Denominacionalismo é um sistema fortemente estabelecido,
com interesses eclesiásticos interligados entre os diversos
grupos independentes. À luz da oração de Jesus pela unidade
espiritual de todos os seus seguidores, o sistema sectário do
atual Cristianismo não é o ideal, sendo contagioso e
antibíblico. E isso deve ser reconhecido e admitido mesmo a
contragosto.

No Novo Testamento há um só Pastor (Jesus), uma só


Verdade, um só Espírito, um só Senhor, um só corpo (igreja)
e uma só doutrina. Todavia, os homens mudaram o plano
109

original de Deus, dando origem no decorrer dos tempos às


suas investidas ambiciosas de ‘lobos vorazes’ – falsos profetas
e falsos cristos. Eles criaram diante de Cristo outras religiões
estranhas a sua doutrina. Sabemos, entretanto, que a
fundação humana de várias igrejas, tira dele o direito que
recebeu do Pai e a unidade que precisa existir entre os seus.
Diante das divisões religiosas e apostasias que reinam em
toda parte, o Cristianismo perdeu, em grande parte, a sua
credibilidade. Cristo jamais pode ser o Cabeça sobre um
Cristianismo dividido e fragmentado, como nos dias de hoje
(SHIPP, 1985, p. 10).

Com a Bíblia sendo considerada a única autoridade


religiosa, acima de Credos Confessionais, ungidos mil e
hierarquias humanamente estabelecidas; levantar-se-á um
novo olhar no Livro Sagrado, à procura de algo mais
significativo que não fora encontrado na Reforma do
Catolicismo Romano – Uma restauração do Cristianismo em
suas raízes originais.
Homens e mulheres precisam resgatar sua liberdade
como sacerdotes de Cristo. No primeiro século, o sacerdócio
foi exercido por todos os santos do Altíssimo. Com o passar
do tempo e o desenvolvimento gradativo da grande apostasia,
foi se estabelecendo um sacerdócio especial centrado nos
110

bispos proeminentes, chegando ao ponto de ser dividido num


Alto e Baixo Clero hierarquizado. Os que deste sistema
passaram a fazer parte não mais precisavam ser anciãos
qualificados,35 bastava apenas ter ambição suficiente para
comandar gente piedosa. A hipocrisia se tornou a
característica necessária para o seu exercício, e sempre com
altos privilégios nunca alcançados pelos leigos.
Diferente do relacionamento horizontal de ‘uns aos
outros’ da doutrina dos apóstolos no primeiro século, se
criara um conjunto de sacerdotes especializados separados e
acima dos demais cristãos. Os pobres cristãos leigos, agora
sem acesso direto a esta cúpula, se tornaram uma massa cada
vez mais distante do conhecimento e relação direta com
Deus, a ponto de necessitarem do Clero para tudo em sua fé,
até mesmo para alcançar uma graça, orientação, perdão e
oração.
Não de forma diferente, atuam as denominações
evangélicas, pois existe uma clara divisão de tratamento entre
os que se julgam Pastores e os que se subjugam Ovelhas. As

35
1 Timóteo 3.1-7; Tito 1.5-9
111

ovelhas aguardam dos pastores as visões, as revelações, os


sonhos, as orações fortes, as campanhas, as histórias
inspiradoras, as unções, as determinações ministeriais, a
celebração da santa ceia, os casamentos, os batismos, a
imposição de mãos e até o Espírito Santo; enquanto os
Pastores recebem tratamentos de honra, dízimos, primícias,
ofertas, presentes, salários altos, salas Vips separadas nos
congressos, títulos honoríficos, etc.
Dentro do rebanhão evangélico a atuação dos crentes-
ovelhas se resume a, sentir forte emoção no louvor, ser
tomados por êxtases cada vez mais exóticos, e dar dinheiro
ao pastor para fazer a obra evitando assim que o devorador
entre na sua pobre vida. Além de tudo isto, os pastores são
vistos como autoridades que só podem ser questionadas
diretamente por Deus, segundo suas próprias ovelhas são
como líderes ungidos pelo próprio Deus, e “ai daquele que falar
contra o ungido do Senhor” (Gênesis 20.3-71 Samuel 24.10; 1
Crônicas 16.22) - Afirmam orgulhosas as ovelhas, como se
seus líderes fossem comparáveis a reis como Saul, profeta
como Abraão, ou o povo de Israel dos tempos bíblicos).
112

Contrariando assim tantas advertências do Novo Testamento


quanto a evitar e julgar falsos mestres e “pastores que a si
mesmos se apascentam” (2 Timóteo 4.1-3; 2 Pedro 2.1-3; 1 João
4.1; Judas 12).
Muito se discute e se defende a autoridade do Pastor,
mas pouco ou nada se ouve sobre a autoridade da Bíblia! Se
as ovelhas têm seus pastores, por que iriam precisar da Bíblia?
Os nomes mudaram, mas de Cleros e Leigos o
Denominacionalismo sempre será repleto!
A Bíblia não ensina e tão pouco ordena o Sacerdócio
praticado no Catolicismo, Protestantismo e
Denominacionalismo. Martinho Lutero reconheceu, pelas
Escrituras, o sacerdócio de todos os santos, ou crentes.
Contrariando o clero formal do Catolicismo, Lutero afirmou:
Quanto à unção recebida do papa ou do bispo, a
tonsura, a ordenação, a consagração e as vestes diferentes das
dos leigos, tudo isto pode produzir um hipócrita e um boneco
ungido, mas nunca um homem cristão ou espiritual. Desta
forma, todos nós somos consagrados sacerdotes pelo batismo,
como diz São Pedro, ‘vós sóis um sacerdócio real e reino de
113

sacerdotes’(I Pedro 2:9) e no livro de Apocalipse, ‘E nos


fizeste para nosso Deus (pelo teu sangue) sacerdotes e
reis’(Apocalipse 5:10). [...] Isto é assim, porque em casos de
necessidade, qualquer homem pode batizar e absolver, o que
não seria possível se não fôssemos todos sacerdotes. Este
grande poder e graça do batismo e do estado cristão eles
anularam e nos fizeram esquecer pela sua lei eclesiástica.
(BETTENSON, 1983, p. 241-242).

Vale lembrar que, o livre sacerdócio dos crentes é para


que todos sirvam a Deus, segundo a sua vontade por meio de
Jesus Cristo; não para inventar igrejas.
Seguindo a ideia bíblica do sacerdócio universal: Todo
discípulo fiel pode ensinar o Evangelho a outros
pessoalmente, sem necessidade de um culto ou evento onde
se apele à emoção do ouvinte pela eficácia de um perito em
oratória. Todo discípulo fiel pode batizar um crente
arrependido para remissão de pecados, sem sequer avisar ou
pedir permissão a terceiros. Todo discípulo fiel pode abrir a
casa para reunir os irmãos e partir o pão (santa ceia) em
114

memória do amor de Deus no sacrifício de Jesus; a cada


domingo sem vínculo de “célula” com denominação.
Qualquer discípulo fiel de Jesus pode recolher ofertas de
irmãos conhecidos com intuito de ajudar necessitados ou
enviá-las a um pregador do Evangelho. Qualquer discípulo
fiel pode fazer um estudo sério de textos bíblicos e apresentar
a uma congregação de outros discípulos, que por sua vez
julgará livremente a lógica e coerência do seu ensino.
Qualquer discípulo fiel pode compor um cântico novo e
ensinar os irmãos para louvarem a Deus em adoração.
Qualquer número de discípulos fiéis à sã doutrina, sem
formar ou representar qualquer denominação ou Associação,
podem cooperar no trabalho de divulgação do Evangelho. E
cada núcleo de discípulos que serve como uma congregação
prestará contas diretamente a Deus no dia do Juízo e não a
uma junta, convenção, mentoria, sínodo, conselho, comissão
ou tribunal eclesiástico.

As igrejas locais são autônomas, prestando contas a


Cristo e não a qualquer sistema humano. As igrejas locais
não são uma organização, mas sim, um organismo. A ligação
115

entre as diversas congregações é fraternal e não


organizacional, sendo cada um dos adeptos, de qualquer das
congregações, membros do mesmo corpo. Esta ligação
revela-se através do amor demonstrado entre os irmãos e as
igrejas. Esse mesmo amor traz paz e unidade para os irmãos e
as congregações. No esquema bíblico, não pode existir
qualquer organização terrestre superior às igrejas locais;
nenhuma sede, nenhuma hierarquia, nenhuma sociedade... A
única sede da igreja encontra-se nos céus. (SHIPP, 1985, p.
270).

A unidade verdadeira é doutrinária e prática (amor),


não organizacional e não controlada por certos indivíduos.
Quando a organização se torna excessiva e permanente,
acaba se transformando em controle excessivo de um ou mais
homens sobre a maioria. Qualquer tipo de controle excessivo
gerará uma hierarquia que não é saudável. A hierarquia dará
em falta de liberdade aos membros, e a falta de liberdade em
restrição, competição, amargura, escravidão espiritual e
divisão. Este processo pode e deve ser evitado para não inibir
o sacerdócio de todos os santos!
Só o mínimo de organização é necessário para que as
coisas essenciais aconteçam regularmente: Pregação da
116

Palavra, ensino e edificação Espiritual, comunhão, amor,


serviço, adoração e benevolência.
O Dr. Glover Shipp (1985, p. 269-270) em seu livro
Análise de Doutrinas, explica o sacerdócio de Cristo e do
cristão da seguinte forma:

“A igreja tem um só cabeça e um só mediador, Jesus Cristo;


sendo ele também Sumo Sacerdote sobre ela. Todos os cristãos
sinceros são sacerdotes de Cristo. Por isso, estes têm o direito e a
obrigação de louvar a Deus, orar, sacrificar sua vida a seu serviço,
abrir novas congregações, batizar, ensinar e fazer todas as outras
obras da igreja. Não existe uma classe especial ou hierárquica de
sacerdotes dos cristãos. [...] Desde que todos os cristãos são sacerdotes,
qualquer um deles pode anunciar a mensagem de Cristo, batizar,
iniciar uma nova congregação e trabalhar com ela, porque estão
unidos ao ministério do Sumo Sacerdote, Cristo Jesus. O Sacerdócio
Real de Deus tem acesso direto a Ele, oferecendo sacrifícios
agradáveis a Deus. No Cristianismo não há separação entre leigo e
clero (como havia no judaísmo e em muitas das igrejas de hoje).
Todos são sacerdotes, sendo Cristo o sumo sacerdote. Assim como
Cristo se sacrificou por nós, nós também temos um sacrifício a
oferecer.”

O homem livre, que ousa ser simplesmente cristão sem


sujeitar-se a autoridade humana na religião, pode exercer o
117

seu sacerdócio e provocar uma restauração do Cristianismo


bíblico, trazendo muitos irmãos de volta à unidade primitiva
do Espírito. Um novo olhar no Livro Sagrado pode fazer com
que o religioso, de carteirinha ou não, redescubra a sua
liberdade em Cristo; não mais permanecendo debaixo do
jugo da servidão denominacional.

[...] Aqueles que são salvos, não o são por pertencerem a


qualquer denominação, mas sim, pela fé em Cristo Jesus.
Todos partidos, ou denominações, admitem que um homem
pode ser cristão sem ser metodista, presbiteriano ou
episcopal. Todos admitem que os primitivos cristãos, os
primeiros seguidores de Cristo, não pertenciam a qualquer
denominação e eram realmente cristãos. Nosso atual
objetivo, portanto, seria fazer homens cristãos, discípulos de
Cristo, filhos de Deus e nada mais. (PHILLIPS, 1966, p.
278).

Agora, o crente hesitante, que analisava de fora,


indeciso e temeroso de fazer a escolha errada, sabe que não
escolherá qualquer denominação para se afiliar. Cristo orou
pela unidade dos discípulos que creem apenas pela palavra e
não por tradições. Cristo continua a salvar seus seguidores,
118

fora e à parte do Denominacionalismo que se desenvolvera,


complicando o caminho simples da igreja do Novo
Testamento. Um chamado para restauração do Cristianismo
é justo, legítimo, benéfico, desejável, possível, bíblico e
necessário em todas as épocas.
119

CONCLUSÕES E DESAFIOS

É possível ser cristão, simplesmente seguidor de Jesus,


sem estar sujeito a líderes religiosos, ou sem vincular-se a
qualquer denominação? Esta é uma discussão e análise sobre
a necessidade e validade de denominações religiosas,
continuamente dividindo o Cristianismo. O assunto é
teologicamente relevante, pois existem argumentos sólidos
para justificar e apontar, a necessidade constante de uma
restauração em busca da unidade do Espírito, que existiu
antes da grande apostasia.
O Cristianismo do Novo Testamento é uma realidade
revelada eternamente nas Escrituras. Este Cristianismo é não-
denominacional. O verdadeiro Cristianismo nunca deixou de
existir depois de Jesus cumprir a promessa de estabelecer a
sua Igreja. A verdadeira igreja não deixou de existir e nunca
precisou ser reformada sendo que jamais envelhecera no
Eterno Propósito de Deus. A Igreja de Cristo sempre está em
um lugar de honra para quem queira encontrá-la e reproduzi-
la – Na Palavra de Deus! A responsabilidade de viver a fé da
120

maneira correta, uma vez que Deus apontou a direção da Sua


Vontade, é do homem.
O Denominacionalismo veio a existir séculos mais
tarde, após a Grande Apostasia ser questionada. Uma rápida
fragmentação como fruto da Reforma Protestante proliferou
as denominações. O controle de cada grupo diferente que
surgia sob designações próprias foi assegurado através de
Credos Confessionais, e cada partido resolveu se organizar do
modo que conviesse, segundo a Teologia dominante do
lugar. O Denominacionalismo então se desenvolveu,
multiplicou-se, renovou-se nos movimentos de santidade, e
dividiu-se mais no Pentecostalismo que brotara de seu meio.
E este último braço do Protestantismo, pouco a pouco foi
sendo absorvido pela cristandade, e agora descansa
acomodado.
Outras denominações surgiram contrariando e
rejeitando tanto coisas boas como coisas más do
Protestantismo. Queriam resolver o que o Protestantismo
sequer ousava mencionar, suas divisões, suas organizações
distintas, seu Calvinismo enraizado, e seus credos distintivos.
121

Segundo cada grupo protestante, seus credos distintos foram


baseados na Bíblia; os quais na prática se tornaram tão ou
mais importantes que a própria Bíblia. A solução dessas
novas denominações, consideradas pelos protestantes como
seitas, foi em parte o abandono da Bíblia para seguirem
outras fontes de revelações: Profetizas e Profetas, Anjos,
Placas de Bronze, Adivinhadores do Fim do mundo, Novos
Mestres com suas Novas Traduções Inspiradas. Esses grupos
sentiam que algo estava errado no mundo religioso
protestante com tantas divisões e incoerências, talvez até
imaginassem que algo estivesse errado com a Bíblia que eles
usavam; e cada um tentou resolver a seu modo. Infelizmente,
mais sectarismo surgiu e os seguidores de novas seitas
multiplicaram-se pela América do Norte, e a cristandade se
transtornou para pior.
Embora os protestantes rejeitassem esses grupos, por
terem uma posição definidamente elitista, também o faziam
por se apoiarem em “porta-vozes” de novas revelações. Essa
foi a forma incoerente desses novos grupos “resolverem” o
problema da divisão e falta de unidade, com mais divisão e
122

novas revelações. Contudo, nesta mesma linha de “Arautos


do Divino” seguiu-se mais tarde o movimento pentecostal;
com cada pessoa crendo ser receptora de novas revelações,
sentindo-se autorizadas para abrir sua própria “igreja”. E
desde que fossem dotadas das “experiências do espírito
pentecostal”, o resto da forma do movimento ficava ao gosto
do profeta. O quadro religioso atual está longe de ser uma
situação de unanimidade em fé e prática cristã, mas de
confusão espiritual total. A tendência é surgir mais novidade
do que autenticidade no cenário religioso.
Do mar de denominações, o que emergirá como nova
opção para os homens? Com tantas opções, como o homem
livre poderá escolher dentre tantas igrejas Batistas,
Metodistas, Presbiterianas, Luteranas, Anglicanas,
Adventistas, Carismáticas, Assembleias, Quadrangular,
Universal, Mundial, Internacional, Episcopal, Deus é Amor,
etc.? Qual seita é a certa? Quais são as erradas? O que a Bíblia
diz sobre cada uma delas? Quais dessas religiões são
mencionadas no Novo Testamento? Felizmente, o
Denominacionalismo não foi deixado por Deus na Escritura,
123

para a difícil escolha de qualquer ser humano. O homem


pode ser livre de culpa por não participar de nenhuma
denominação.
A grande apostasia só se desenvolveu a partir do quarto
século. Entretanto, Deus já desde o primeiro século conduzia
os homens a Cristo pela doutrina dos Apóstolos. A Reforma
Protestante eclodiu só 1.517 depois de Cristo. Martinho
Lutero recorreu em parte à Escritura, onde toda a verdade já
estava revelada no Novo Testamento desde o final do
primeiro século. O movimento evangélico e o pentecostal
cresceram no berço do Protestantismo, sendo muito recente
em relação ao aparecimento do Senhor Jesus a cerca de 2.000
anos. Desde sempre Jesus tem salvado os obedientes à Sua
Palavra. Então, parece razoável concordar que as pessoas já
eram salvas por obedecer ao Evangelho, muito antes do
Catolicismo se desenvolver, de eclodir a Reforma e do
Denominacionalismo se multiplicar. Hoje, o homem deve
confiar novamente, que para ser salvo é preciso ser discípulo
de Jesus, e será então o próprio Cristo que o acrescentará à
igreja d’Ele!
124

Vejamos: Havendo lugar onde não exista denominação


religiosa; contudo, se existir ali apenas o Evangelho sendo
transmitido, isto bastará para a Salvação das pessoas e o
desenvolvimento da unidade primitiva entre os novos
discípulos de Jesus. Também é verdade que, em qualquer
lugar onde exista uma ou mais denominações, não haverá
impedimento nenhum para que homens livres obedeçam
apenas ao Evangelho e nele confiem para serem salvos,
independente das seitas já existentes no lugar. Os discípulos
de Cristo então, buscando restauração da sã doutrina e da
vida santa, podem existir num mundo cheio de
denominações, sem nunca participar de nenhuma delas.
Como? Mantendo as mesmas características da igreja do
Novo Testamento, e a primeira delas, embora não a única, é
ser não-denominacional!
Cristianismo e Denominacionalismo. Sonho divino
versus realidade humana e histórica. Estabelecimento original
versus mudança gradativa. Revelação de Deus versus a
Responsabilidade do homem. Sementes diversas Frutos
divergentes. Uma boa semente, um único tipo de fruto, um
125

discípulo, um nome, uma igreja. Somos chamados a uma


decisão...
A boa semente é a Palavra de Deus. O fruto que a
Palavra de Deus gera é apenas um discípulo de Jesus. Jesus
orou pela unidade dos seus discípulos. O discípulo fiel
obedecerá à vontade de Jesus e não criará, participará ou
justificará seitas e partidos divisórios. O que é simplesmente
cristão entende na Palavra a unidade do Espírito e usará a
sua liberdade das autoridades humanas, para promover uma
restauração, um Cristianismo como no princípio, sem
denominação. Cristianismo que remete a Cristo, na beleza de
um relacionamento correto de ‘uns aos outros’.
A Bíblia, para cada cristão livre, serve para que este
aprenda a se submeter a Deus, sem deixar de cooperar com
outros discípulos. As autoridades no mundo religioso não
podem suplantar a Palavra na vida de cada crente. Deveria
partir destas, o discurso de que cada homem deve ler sua
Bíblia por si mesmo e submeter-se unicamente a autoridade
dela.
126

O homem pode ser livre de autoridade humana


hierárquica. Mas, não pode viver o Cristianismo bíblico
dissociado de outros discípulos, com os quais formará uma
parte do Corpo de Cristo na Terra. Contudo, todos devem
observar os princípios mantenedores da unidade do Espírito,
expressos no Novo Testamento. Somente estes princípios de
unidade em doutrina, liberdade em opiniões e amor em tudo,
podem evitar a fragmentação indesejada.
Não pode ser Cristo o autor da confusão religiosa atual,
e por isso, seus discípulos precisam de critérios bíblicos para
avaliar o quadro de fragmentação da Cristandade. Todas as
autoridades religiosas humanas devem ser rejeitadas como
sendo pequenas apostasias, ignoradas pelas denominações
mais estruturadas em vista de interesses escusos. O
Denominacionalismo deve ser visto como grave problema de
divisão religiosa, sendo totalmente contrário ao ideal de
unidade do próprio Jesus; ou seja, divisão não é a solução do
Espírito nem do Novo Testamento.
Um movimento de volta à Bíblia com desejo intenso de
restauração daquela unidade desejada por Cristo, apesar de
127

grande desafio é também uma grande possibilidade – O


respaldo da Escritura é a Oração Sacerdotal de Jesus! Esse
apelo por uma restauração não partirá da cúpula das
organizações religiosas, eles não a querem; a liberdade das
massas em direção a Cristo significa uma perda de controle
sobre seus reinos particulares, então essa voz deverá ressoar
do homem comum, que deve redescobrir não só a sua
liberdade, mas talvez acima de tudo, o exercício do seu
Sacerdócio Real.
As organizações se tornam obsoletas quando cada
discípulo descobre a honra de ser sacerdote servindo
diretamente a Deus sob a direção do Sumo Sacerdote, Jesus.
Credos são desnecessários quando cada homem descobre que
a Bíblia tem os princípios da unidade do Espírito – deve-se
olhar de novo no Livro Sagrado. Hierarquias eclesiásticas são
invenções humanas que contradizem diretamente a Bíblia, a
qual ensina o serviço humilde e o tratamento igualitário de
uns para com os outros.
Denominacionalismo é divisão e subdivisão no
Cristianismo; divisões são partidos, partidos são seitas, seitas
128

são heresias, e heresia é pecado. A Reforma foi uma boa


tentativa que nos deixou basicamente dois legados: A Bíblia e
as denominações com suas organizações distintas e seus
credos confessionais. Se ficarmos só com a Bíblia, teremos
extraído o melhor daquele momento histórico.
Então, de posse da Bíblia, para onde deve ir o homem
livre e pensante? Rumo à restauração do Cristianismo
revelado no Novo Testamento, à unidade do Espírito. Jesus é
a raiz, a fonte, o alicerce e o fundamento histórico da Igreja e
do cristão. Somente retornando à simplicidade e pureza de
Cristo, se descobre a beleza de viver um Cristianismo sem
denominação.

FIM
129

Glossário:

Apostasia: Desvio da fé ou da Doutrina estabelecida por Cristo.


Apóstolo: Primeiramente, uma testemunha ocular da vida, morte e
ressurreição de Cristo. Título usurpado por falsos mestres nos dias de
hoje. Em grego significa um “embaixador, mensageiro extraordinário,
enviado especial da parte de alguém”.
Autoridades Religiosas: Indivíduos carismáticos, poderes decisórios,
comitês, concílios, escritos ou outras formas consideradas como fontes
de uma revelação divina.
Calvinismo: Sistema Teológico da Reforma Protestante, exposto e
defendido por Calvino (1509-1564), que prega a predestinação
incondicional e a eleição para a vida ou condenação.
Carismático: Líder religioso que possui qualidade extraordinária de
liderança ou magnetismo pessoal.
Credo: Corpo oficial de crenças de determinado grupo religioso, ou
profissão de fé.
Denominação: Termo atribuído às seitas, congregações ou facções
religiosas; grupos eclesiásticos distintos.
130

Denominacionalismo: O movimento que considera lícito e concorda


com a existência de diversos grupos com nomes, credos e práticas
distintas que dividem a cristandade.
Episcopal: Sistema de organização baseado em bispos e arcebispos,
os quais são dirigentes de distritos.
Evangélico: Qualquer religioso filiado ou influenciado por
denominações que possuem uma ramificação direta ou indireta do
antigo Protestantismo.
Fato: Realidade; coisa ou ação feita; aquilo que é real, comprobatório.
Hierarquia: Ordem e subordinação dos poderes eclesiásticos.
Intercessor: Aquele que intercede, mediador.
Jurisdição: Controle legal ou espiritual sobre uma região, distrito ou
igreja. Faculdade concedida a um clérigo para exercer as suas ordens
numa determinada diocese.
Leigo: No denominacionalismo, o grupo de seguidores das
autoridades religiosas, em contraste com o clero. As massas de
cristãos não convocados para cargos especiais na igreja. Esta distinção
não existe no Novo Testamento.
Liberalismo Religioso: O conjunto de ideias e doutrinas que visam
assegurar a liberdade individual na interpretação do conteúdo da
doutrina cristã.
131

Liturgia: O culto público e oficial instituído por uma igreja como


ritual.
Magnetismo: Influência exercida de um indivíduo sobre a vontade de
outros.
Mediação: Ato de mediar ou interceder entre Deus e os homens, ou
entre homens entre si. No Novo Testamento o único ser qualificado
para mediar entre Deus e os homens é Jesus Cristo.
Metodismo: Movimento religioso, muito rígido, fundado no século
XVIII, João Wesley (1703-1791), cujos adeptos procuravam seguir
um método de estudo bíblico e vida, rigorosamente dentro dos padrões
divinos.
Organismo: No Novo Testamento a igreja é considerada um corpo
vivo, um organismo; sendo todos os cristãos membros desse único
corpo. Em total contraste com uma organização humana.
Partidarismo: Grupo ou pessoa que segue uma ideia sectária,
proselitismo.
Pastor: Conforme o Novo Testamento refere-se aos homens mais
velhos e experientes que cuidam de irmãos numa congregação local
que está sujeita a Cristo. No Novo Testamento sempre foi usado no
plural, pastores, referindo-se ao serviço dos anciãos dedicados á
visitação. Nunca nenhum cristão é chamado de “Pastor” ou “Meu
132

Pastor” no Novo Testamento. A Palavra “Pastor” no singular foi usada


somente para Deus e Jesus.
Patriarca: No sentido eclesiástico, os bispos que administravam as
igrejas nas principais cidades do império romano (Alexandria,
Antioquia, Jerusalém, Constantinopla e Roma). Hoje é usado em
algumas denominações para um líder graduar-se acima de apóstolo.
Pentecostal: Relativo ao Pentecostes ou ao Pentecostalismo, religião
que se baseia na doutrina exclusiva do Espírito Santo.
Predestinação: Doutrina que ensina uma determinação formada
antecipadamente por Deus, de conduzir certos indivíduos à salvação e
à vida eterna, condenando outros á morte eterna.
Presbítero: Um cristão mais velho, um ancião, que juntamente com
outros anciãos servem visitando os irmãos de uma congregação, ou
igreja local. Nunca serve sozinho no Novo Testamento, e nem exerce
domínio de chefia sobre outros membros do Corpo.
Protestantismo: Religião dos protestantes, qualquer movimento
religioso que tenha surgido direta ou indiretamente da Grande
Reforma.
Religião Subjetiva: Religião baseada no sentimentalismo, que é
relativa e individual; válida somente para um indivíduo específico.
133

Religioso: No contexto da pesquisa, significa alguém totalmente


submisso aos dogmas, revelações, regras e costumes impostos por
aqueles, ou aquilo que considera sua Autoridade Religiosa.
Revelação: Para cristãos, a comunicação aos homens dos desígnios de
Deus e da verdade que estes envolvem, sobretudo através da Palavra
consignada nos livros sagrados.
Restauração: Movimento de volta à Bíblia com ênfase na Unidade do
Espírito entre todos os crentes.
Reverência: Respeito marcado pelo temor em relação às coisas
sagradas; submissão e veneração.
Reverendo: Na Bíblia, esta expressão é única e exclusivamente
reservada para Deus e só aparece em Salmo 111.9. No
Denominacionalismo, entretanto, é usado como título honorífico
aplicado aos pastores e outros oficiais na religião.
Sacerdócio: No Novo Testamento, o ministério ou a função dos
cristãos diante de Deus, da igreja e do mundo, nas atividades
espirituais, associado ao ministério do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.
Seita: Sistema religioso de uma comunidade fechada que professa a
mesma doutrina. Doutrina partidária que prega leis religiosas de cunho
radical. As denominações de modo geral.
134

Teologia: Ciência que trata de Deus e de filosofias e sistemas


pertencentes a sua natureza. Ensinos, atributos e relações da divindade
com os homens.
Tradição: Conhecimento ou prática resultante de transmissão oral ou
de hábitos inveterados; transmissão de valores espirituais através de
gerações.
Veneração: Reverência, culto, devoção, adoração.
Visões Celestiais: Ideia de uma revelação particular ao homem, para
comprovar sua eleição, salvação, chamado, ou capacidade profética.
135

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