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Teosofia - Uma Sabedoria Viva

Para que se possa compreender satisfatoriamente a S.T. e o seu trabalho é necessário


entender o significado da palavra Teosofia. Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que a S.T.
não é uma religião, e a Teosofia não é um credo. Este fato já está evidenciado no primeiro
objetivo da S.T..

A origem da palavra Theosophia é grega e significa primária e literalmente Sabedoria Divina.


Foi cunhada em Alexandria, no Egito, no século III d.C. por Amônio Saccas e seu discípulo
Plotino que eram filósofos neo-platônicos. Fundaram a Escola Teosófica Eclética e também
eram chamados de Philaletheus (Amantes da Verdade) e Analogistas, porque não buscavam a
Sabedoria apenas nos livros, mas através de analogias e correspondências da alma humana
com o mundo externo e os fenômenos da Natureza. Assim, em conformidade com seu terceiro
objetivo, a S.T., enquanto sucessora moderna daquela Escola antiga, almeja tal busca da
Sabedoria não pela mera crença, mas pela investigação direta da Verdade manifesta na
Natureza e no homem. Dizia Blavatsky: “o verdadeiro Ocultismo ou Teosofia é a ‘Grande
Renúncia ao eu’, incondicional e absolutamente, tanto em pensamento como em ação – é
Altruísmo”. “Teosofia é sinônimo de Verdade Eterna”, Divina, Absoluta, Paramarthika Satya ou
Brahma-Vidya, que são seus equivalentes muito mais antigos na filosofia oriental. Teosofia,
portanto, é uma Sabedoria Viva, o ideal que o verdadeiro teósofo busca alcançar e manifestar
em sua vida diária como serviço à Humanidade.

A adjetivação teosófica na denominação da S.T. significa, desta forma, uma sociedade cujos
objetivos refletem esta Sabedoria, ou que nesta têm sua inspiração. Isto não que dizer que
todos os membros da S.T. possuam esta Sabedoria ao tentar realizar tais objetivos. Quer dizer,
apenas, que uma sociedade “teosófica” é uma sociedade cujos objetivos podem trazer
benefícios imensos ao mundo, desde que compreendidos e realizados apropriadamente.

A palavra teosofia adquiriu também uma significação secundária de verdade relativa, conhecida
na filosofia oriental como Vyavaharika Satya. É a pálida imagem daquela Sabedoria Divina e
Eterna refletida na limitada esfera do pensamento humano e sua história, que seria preferível
denominar de Filosofia Esotérica, Filosofia Oculta ou Pensamento Teosófico, para melhor
distinguí-la de sua significação primária, pois como dizia Krishnamurti; “A palavra, o símbolo,
não é a coisa”. Constitui-se naquele “corpo de verdades que forma a base de todas as
religiões e que não pode ser reivindicado como exclusiva por nenhuma”. Tal é o objeto daquele
estudo comparativo que busca encontrar as verdades relativas naquelas três esferas do
pensamento humano: religioso, filosófico e científico, conforme consta no segundo objetivo da
S.T.. Encontra-se nos escritos das origens da S.T.: “As doutrinas fundamentais de todas as
religiões se comprovarão idênticas em seu significado esotérico, uma vez que sejam
desagrilhoadas e libertadas do peso morto das interpretações dogmáticas, dos nomes
pessoais, das concepções antropomórficas e dos sacerdotes assalariados”.
INTRODUÇÃO
A Sabedoria Perene é um título genérico para o conhecimento
universalizado que está na base de todas as religiões da
humanidade, ressalvadas as diferenças de cultura,
temperamento e tradição dos diversos povos.
A denominação “Sabedoria Perene” é mais adequada
atualmente do que o desgastado vocábulo “esoterismo”,
minado pela vulgarização, pelo mau uso e pela associação
com feiras de berimbelas, onde se vendem todos os
apetrechos de esoterismo para uso doméstico.
Nossa sociedade de consumo tem a incrível capacidade de
transformar as coisas mais sérias em artigos fast food e
consumi-los com a mesma frivolidade com que adquire
aparelhos de barbear descartáveis.
Todavia, nossa sociedade consumista é apenas um momento
passageiro na jornada humana pela face do planeta e, como
tudo o que existe, é efêmera. E tanto mais efêmera será,
quanto mais insistir em manter sua não-sustentabilidade
decorrente de sua visão utilitária e predatória da natureza,
sua insensibilidade exclusivista que leva à construção de uma
civilização para poucos privilegiados, em detrimento de
bilhões de excluídos, e sua visão periférica da condição
humana, em que o homem é afastado de seu centro de vida
essencial e jogado para as periferias de seu ego insaciável e
competitivo, sempre ávido de mais, mais e mais, em um
mundo de recursos limitados e de miséria crescente.
Porém, se a sociedade consumista é efêmera, a sabedoria
perene é exatamente perene e indestrutível, atravessando as
idades, com variações localizadas e adaptadas às novas
épocas e às novas mentalidades humanas.
Pode-se dizer que as diferentes tradições espirituais da
humanidade são “adaptações didáticas” orientadas para
povos de diferentes épocas e diferentes culturas.
Obviamente, se Buda tivesse nascido na antiga Israel, falasse
aramaico e não páli, fosse criado dentro da tradição profética
e não da tradição hinduísta, outra seria sua mensagem, outra
seria sua linguagem, e outras seriam suas metáforas.
O mesmo se pode dizer de Jesus, caso falasse sânscrito e
tivesse nascido e se formado na tradição védica.
Mas tanto Buda quanto Jesus foram reformadores. O primeiro,
um reformador do hinduísmo. O segundo, um reformador do
judaísmo.
Essas reformas foram necessárias em seu tempo, não porque
as antigas tradições estivessem fundamentalmente
“erradas”, mas porque haviam se tornado obsoletas e não
mais atendiam às necessidades da época, que exigia uma
nova maneira de transmissão da sabedoria viva.
Há outro fato em comum nessas duas grandes mensagens:
ambas encontraram solo fértil fora de sua fonte territorial de
origem. O budismo floresceu na China, no Tibete, no Japão e
em outros países da Ásia.
O cristianismo encontrou solo fértil na Europa e
posteriormente nas Américas.
Para “reforço e afirmação da fé”, é normal e previsível que as
religiões se apresentem como a única possibilidade de
salvação e se esforcem para conquistar novos adeptos, (essa
tendência é, sobretudo no cristianismo e no islamismo).
Todavia, para o homem que pensa por si mesmo e não é
produto de condicionamentos culturais e religiosos, nada
pode ser mais absurdo e inverossímil do que a pretensão dos
teólogos e sacerdotes de reivindicar uma espécie de
“monopólio da salvação” exclusiva para seus nichos
religiosos.
Se Deus tivesse a intenção de criar um caminho único, não
haveria tanta diversidade no universo. A criação teria
produzido uma única espécie de flor, um único tipo de pedra
preciosa, uma única espécie de ave, um único tipo de inseto e
um único tipo de peixe.
Para que essa diversidade da criação manifestada na Terra e
no Céu se Deus desejasse que só houvesse um único caminho
para conduzir os homens até Ele?
O caminho pode ser único para cada seguidor, em
determinado momento de sua jornada, mas ele jamais deve
supor que o caminho único para ele deva ser o caminho único
para todos os outros. Essa é uma forma doentia de egolatria,
em que se perde a capacidade de entender e de valorizar as
opções alheias, enxergando o mundo unicamente através das
lentes do próprio ego.
Uma das piores e mais dissimuladas formas de egoísmo
acontece quando o egoísmo é travestido com matizes
religiosos e espirituais. Os inquisidores medievais eram
incapazes de ver seu egoísmo e sua insanidade, porque
praticavam as ações do anticristo, usando o nome e a cruz do
próprio Cristo.
A essência do universo é a unidade manifestada na
diversidade. Um japonês (a título de exemplo) nunca poderá
alcançar realização espiritual adotando os métodos e a
cultura religiosa de um judeu.
Da mesma forma, para um judeu, todos os aspectos da
cultura japonesa podem parecer estranhos e alienígenas.
Não faz sentido supor que essas culturas devam se converter
uma à outra para que as pessoas alcancem a salvação. Se
assim fosse, a salvação seria uma coisa mesquinha e
condicionada no espaço e no tempo, e de forma alguma
valeria a pena.
Cada ser humano tem de construir sua própria escada para
chegar ao céu, mesmo que os degraus dessa escada sejam
extraídos das tradições espirituais existentes. Isso não o
dispensa da necessidade de elaboração própria e de
contextualizar o ensinamento de forma individualizada,
focalizando-o em sua vida particular.
É normal que as pessoas busquem seus referenciais religiosos
dentro de sua própria cultura, mas é absolutamente insano
supor que sua própria cultura e religião sejam, de alguma
forma, superiores às demais. Isso é a hipertrofia do ego
levada ao grau extremo.
Falta nas teologias eclesiásticas essa lucidez de percepção de
que cada “revelação” é contextualizada e só tem sentido
dentro de determinada época e de cada núcleo de civilização.
Buda pregou o caminho da auto-investigação e um método
negativo de percepção da divindade, porque havia um
excesso de ídolos e divindades no panteão hindu, o que criava
dispersão e descoordenação.
O Islamismo proibiu os ídolos e as imagens porque a antiga
religião árabe havia se tornado fetichista, com excesso de
ídolos e de imagens.
Jesus baseou seus ensinamentos no amor e na quebra das
tradições, porque a antiga religião hebraica se tornara
rigorista, formalista, literalista e excessivamente ritualizada.
Moisés proibiu o contato com os mortos, porque os hebreus
precisavam se libertar da magia popular da religião egípcia
vulgar, mas não necessariamente da grande religião egípcia
iniciática. O próprio texto bíblico relata que “Moisés foi
instruído na sabedoria dos egípcios”.
É absolutamente urgente o desenvolvimento de uma visão
universalista, para neutralizar o recrudescimento do
fundamentalismo em nossa época.
Embora o fundamentalismo tenha o mérito de avivar o
sentimento religioso, traz, em contrapartida, a volta da
intolerância e dos ódios religiosos, o que causa mais mal do
que bem.
A finalidade desses Relatos e Sínteses é fazer um
“redesenho” desse pensamento universalista, colocando-o em
novo formato, neste caso, em textos sumários, curtos e
objetivos, para provocar no leitor o desejo de refletir e
desenvolver o tema por si próprio e facilitar a ocorrência do
insight.
O insight” é um clarão de percebimento, ou uma iluminação
em miniatura, que só acontece quando o assunto é elaborado
interiormente, levando o leitor à sua própria conclusão,
mesmo que diferente, ou até mesmo divergente da do autor.
Qualquer um que escreva um livro sobre este tema necessita
ter a humildade de reconhecer que tem poucos elementos
inovadores a acrescentar ao conteúdo do assunto.
O que pode fazer é apresentar novos ângulos de visão, novas
formas de expressão e de exposição didática (reciclar o
assunto), de modo a tornar o tema mais atraente, conciso e
assimilável.
Na área de estudos dos temas relacionados à sabedoria
perene, nada é novo e nada é velho.
Todos os trabalhos desenvolvidos neste terreno são
reapresentações, reformatações, redesenhos e elaborações
de um assunto, cuja amplidão é infinita e inesgotável.
Os textos não devem ser vistos como revelações definitivas
ou conclusões acabadas. O assunto abordado é
continuamente elaborado, em busca de novos insights, novas
luzes, novas descobertas. Estamos revolvendo um
reservatório infinito e retirando do mar alguns pequenos
baldes da água da vida.
Nossa atitude deve ser de respeito e veneração por um saber
infinito, que torna insignificante todo o saber humano. Diante
do infinito, todas as grandezas são nulas.
No caso presente, a proposta básica é apresentar os
fundamentos essenciais do “grande ensinamento” em um
formato e em uma linguagem não cartesiana.
O cartesianismo tem a característica de ser claro, ordenado,
estruturado, lógico e cristalino. O único problema é que a par
de todos esses aspectos positivos, ele falseia com a verdade,
porque o universo não é cartesiano e a vida não é cartesiana.
O que pretendemos não é mesclar e nem “misturar” as
diversas tradições e sim resgatar a experiência humana
integral, pois toda a experiência humana de todos os povos e
de todas as épocas faz parte de nossa bagagem e nada pode
ser perdido e nem descartadado.
O melhor serviço que o autor pode prestar ao leitor não é
transmitir-lhe informações e conhecimentos, e sim, fornecer
elementos de reflexão para que o leitor elabore o assunto por
si mesmo e formule suas próprias sínteses.
Só assim pode nascer um conhecimento de primeira mão, que
é o fundamento da sabedoria.

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