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Como adotar a holocracia, conceito Os casos crescem e as companhias O RH já precisa se preparar para
que prega a extinção dos chefes devem acolher funcionários doentes a Lei Geral de Proteção aos Dados
Dossiê
Z 2019/JAN 2020
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674857 - VOLKS.indd 3 11/12/2019 17:13:24
SUMÁRIO ARTE da capa:
otávio silveira
Seções 22
F O T O : A l e x a n d r e B at t i b u g l i
1243936-UNITED CINEMAS INTERNATIONAL BRASIL LTDA-1_1-1.indd 5 11/12/2019 15:49:54
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DA REDAÇÃO
E
m 2022, 10% da força de trabalho global será exigem que as companhias pratiquem a inclusão e
formada por pessoas nascidas entre 1995 e a sustentabilidade. Para lidar e estimular essa nova
2010, de acordo com uma projeção da con- geração, as empresas precisam oferecer experiências
sultoria McKinsey. Esses jovens formam o de desenvolvimento, treinar as lideranças para ser
que apelidamos de geração Z e muitos de- o mais transparente possível e tratar a diversidade
les já estão no mercado. Mas, afinal, o que como uma questão estratégica. O RH é a ponte para
essa moçada tem de diferente e como está que tudo isso aconteça. E uma das ferramentas mais
influenciando as práticas de gestão de pessoas nas importantes para exercer esse papel é a informação.
companhias brasileiras? Foi para responder a essas Para isso, além desta edição de VOCÊ RH, há o Guia
perguntas que fizemos a reportagem de capa desta VOCÊ S/A — As Melhores Empresas para Começar
edição, assinada pela jornalista Caroline Marino. Na a Carreira de 2019, que acabou de ser lançado e é
matéria, que começa na página 22, mostramos alguns o único do mundo que se dedica, há nove anos, a
traços desse pessoal. Nativos digitais, eles cresceram analisar os anseios das novas gerações.
num mundo totalmente globalizado e que enfrenta
graves crises econômicas e políticas. Por isso, ten- P.S.: O ano de 2020 já começará com novida-
dem a ser mais pragmáticos do que a geração que os des. Em janeiro, VOCÊ S/A terá um novo site!
antecedeu, dos Y ou millenials. Tanto é que outro Ali teremos um canal exclusivamente dedica-
levantamento da McKinsey diz que a maioria deles do a VOCÊ RH, com a mais aprofundada co-
dá grande valor à estabilidade no trabalho e entende bertura sobre gestão de pessoas do país. Para
que precisa poupar para o futuro. Além disso, os Z acessar, é só usar o endereço vocesa.com.br.
preocupam-se fortemente com questões sociais e Mande seu feedback em nossas redes sociais.
ELISA TOZZI
Editora
Essa pesquisa ratifica a A cada nova edição, inspiração O RH trabalha com relações
necessidade do preparo e do e muito conhecimento! A humanas, qualquer formação
acompanhamento dos processos leitura da @revistavocerh é é bem-vinda. (Sobre a
de mudança de cargos e prazerosa e completa, sem reportagem Cada um no
liderança. A questão é a empresa dúvida a melhor assinatura! seu quadrado, ed. 64)
desejar e conseguir investir nesse (Sobre a edição 64) @yougestaodepessoas
processo tão delicado! (Sobre @fragatc
a nota Começo difícil, ed. 64)
Absurdo!!! Esses números
@ anajuliao.coach Acho que quanto mais mostram que estamos muito
diversidade tivermos na área, longe de resolver o problema.
Parabéns pela matéria, mais ricos ficam os processos. Vale ressaltar que ainda existem
precisamos mostrar dados reais Um grupo multidisciplinar outras violências que não estão
para mobilizar a sociedade e o permite uma visão mais relacionadas aqui. Vamos nos
poder público no enfrentamento ampla e estratégica sobre unir com o objetivo de acabar com
da violência contra a mulher. os mais diversos temas. toda em qualquer violência contra
(Sobre a reportagem (Sobre a reportagem Cada as mulheres! (Sobre a reportagem
Causa urgente, ed. 64) um no seu quadrado, ed. 64) Causa urgente, ed. 64)
@ vanessa_molinapsc Bruna Paiva @consultoria_effycenter
cacau
show
Doce
integração
10 VOCÊ RH dez 2019/jan 2020 *E s tag i á r i a s o b s u p e r v i s ão d E E l i s a T o z z i
E
m 2018, a Cacau Show completava 30 anos. Para comemorar o marco com os cerca de 1 600 funcionários, a
fabricante de chocolates reformou sua sede administrativa, localizada no mesmo complexo da fábrica, em
Itapevi (SP). Na época, foram investidos 130 milhões de reais na nova arquitetura, desenhada para integrar
as áreas. Dois anos depois, o escritório ainda enche os olhos — e não podia ser diferente. Do lado de fora,
o maior mural em spray do mundo (de acordo com o livro dos recordes), assinado pelo grafiteiro Kobra,
recebe quem chega. Por dentro, num espaço de quase 6 000 metros quadrados, há auditório; tobogã ligando
o escritório à loja interna da Cacau Show; e uma padaria que serve pães e bolos fresquinhos. O pessoal
ainda pode pegar bicicletas para percorrer o complexo, que, no total, tem aproximadamente 109 000 metros
quadrados. Além disso, os funcionários se reúnem numa arquibancada interna para fazer reuniões e confraternizar:
durante a Copa do Mundo feminina, a escola de samba Rosas de Ouro foi animar a galera. A decoração é inspirada no
chocolate e reutiliza materiais fundamentais para a fabricação do produto, como as sacas de cacau. A ideia de revo-
lucionar o escritório surgiu depois que Alexandre Costa, o fundador da marca, visitou companhias do Vale do Silício
e percebeu que ambientes desse tipo influenciam a colaboração e melhoram os resultados. “Este espaço estimula as
pessoas a chamar outras para debater e compartilhar ideias. A proposta é promover a interação entre os funcionários e
engajá-los com os valores da empresa”, diz Gerson Cosme Santos, gerente de RH da Cacau Show. Marina Verenicz*
Sede da Sanofi, em
São Paulo: a empresa
dá seis meses de
licença parental a
todos os funcionários
Sem distinção
A
partir de janeiro, os pais e mães da Sanofi tanto para filhos biológicos quanto adotivos e para
terão mais tempo para ficar com seus filhos. relacionamentos homoafetivos e heteronormativos.
Isso porque a farmacêutica aumentou o pe- “A política de licença parental neutra é um avanço
ríodo de licença parental para seis meses. para a promoção de um ambiente mais inclusivo e
Anteriormente, o benefício era concedido plural na empresa”, diz Pedro Pittella, diretor de RH
conforme a lei: 120 dias para mulheres e da Sanofi Brasil. Além de beneficiar os genitores,
20 dias para homens. A nova regra está a ação prevê job rotation para cobrir quem entrar
disponível para os 7 900 empregados da América de licença. “Esperamos que, com o revezamento, os
Latina, distribuídos em escritórios no Brasil, na Ar- empregados desenvolvam novas habilidades e todos
gentina, na Colômbia e no México. Além disso, vale saiam ganhando”, afirma Pedro.
Correndo perigo O uso de dispositivos pessoais Você prefere pagar resgate a um A cibersegurança é problema
no trabalho é um risco hacker porque é mais barato a da equipe de TI, e não da
sim não potencial de segurança? investir mais em segurança? empresa como um todo?
zados pelos funcionários. A conclusão é de um estudo oportunidade para alavancar as vendas, é uma chance de
treinar os funcionários. Nessa data, a multinacional, que
realizado pela fintech Zetra com 800 trabalhadores
produz itens de higiene pessoal, leva empregados da área
brasileiros. Segundo o levantamento, publicado em corporativa para passar o dia trabalhando nos pontos de
outubro de 2019, 70% dos profissionais anseiam por venda. Realizada em parceria com grandes varejistas, como
subsídios relacionados à alimentação. Por incrível Carrefour, Pão de Açúcar e Extra, a iniciativa tem como ob-
que pareça, o pagamento do 14 salário foi a opção
o jetivo mostrar para os trabalhadores todos os processos
que envolvem o negócio. “Quando voltam para suas funções,
menos escolhida, com apenas 5% das respostas.
eles estão cheios de ideias para melhorar toda a cadeia de
Do que eles gostam mais
valor”, diz Bruno Siqueira, Diretor de Trade Marketing da
Vale-Refeição / vale-Alimentação empresa. A ação
70% é voluntária e
Plano de Saúde / plano Odontológico já ocorreu dois
67% anos seguidos.
Em 2019, cerca de
Seguro de vida, casa ou carro
26% 192 funcionários
de São Paulo se
Descontos em medicamentos
c a n d i d ata r a m
24%
para participar
Convênios com Instituições de Ensino
do projeto.
23%
Acesso a linhas de crédito bancário
21%
Funcionários
Desconto em academia ou locais para prática esportiva
da Kimberly-
11% Clark: a empresa
coloca o time
Pagamento do 14o salário
corporativo para
5% atuar nas lojas
2
o valor da EXPERIÊNCIA
P
esquisa da Gartner, feita com Ganhos para as pessoas
143 líderes de recursos huma- Funcionários totalmente satisfeitos com
nos em 2019, mostrou que só sua experiência na companhia são:
24% das organizações possui
consumidores
60%
baixo ou muito baixo
satisfeitos
nulo
6%
de moderado a alto mais probabilidade
de bater metas
69% de satisfação
do cliente
Aquém do esperado
O índice de satisfação dos empregados com a experiência
no ambiente de trabalho está abaixo das expectativas
produtos
diferenciados 89%
mais chance de
alcançar metas
abaixo das expectativas
de inovação
13% menos de 70% de satisfação
parcialmente
satisfeitos
56%
21% 46% de 70% a 80% de satisfação
satisfeitos
de 80% a 90% de satisfação
credibilidade
mais propensão
20% plenamente satisfeitos a atingir as metas
mais de 90% de satisfação de reputação
2 2a etapa: aprimoramento
ações destinadas a aperfeiçoar o jeito
Retrofit do Aumento da como os profissionais trabalham
escritório licença parental
3 3a etapa: especializada
investimentos destinados a
"encantar" certos segmen-
tos de funcionários por
meio de benefícios pontuais
baixa
tempo
Sonho
conjunto
Os desafios de Filipe Ferreira para conduzir a transformação
cultural da Moove Lubrificantes Alexa Meirelles
H
á três anos Filipe Ferreira assumiu a cadeira de CEO da Moove Lubrificantes, do Grupo
Cosan, famosa por produzir a marca Mobil. Aos 54 anos e com experiência em diversos
segmentos — ele já passou por companhias como Mars, Gerdau e Bunge —, o executivo conduz
atualmente 600 funcionários no Brasil (e mais 500 ao redor do mundo). Todos estão em busca
de um objetivo comum: transformar a companhia na referência mundial em lubrificantes.
Para que todo mundo ficasse alinhado a essa meta, Filipe conduziu um intenso processo
de transformação cultural, que colocou os profissionais da empresa na mesma página e
trouxe transparência sobre quais são os comportamentos valorizados pela organização.
A mentalidade mais aberta para a inovação e para o trabalho em equipe já traz resultados importantes
para o negócio. Em 2018, o ebtida da Moove foi de 237 milhões de reais, um aumento de 36% em relação a 2017.
Há dois anos, a Moove mudou distribuição de lubrificantes. Assim, Mas vocês integraram outros
sua cultura organizacional. desenhamos quais seriam as três profissionais no processo ou
Como foi esse processo? prioridades da companhia: expansão isso ficou restrito à liderança?
Quando entrei, a primeira coisa que do negócio, formação de times de alta Escutamos pessoas de todos os
fizemos foi juntar a liderança para performance e criação de uma cultura níveis — operadores, analistas,
entender aonde queríamos chegar de eficiência. Hoje, se você andar aqui coordenadores, gerentes e
e em que deveríamos focar nossa pela empresa, aposto que qualquer diretores — para entender qual era
energia. Com essa turma definimos funcionário saberá qual é nossa prio- o momento atual e o que faltava
uma visão ambiciosa do negócio: ser ridade e aonde queremos chegar. Isso para chegarmos aonde queríamos.
a referência global na venda e na é a base da formação de uma cultura. Juntamos todas essas informações
A liderança
um facilitador para destilar toda O setor não tem muita diferença.
essa informação. Em seguida, Acredito que o papel do líder seja
analisamos o que precisava mudar formar a visão, formatar a cultura
em oito grandes grupos — como
gestão de negócios, infraestrutura
deve ter e alinhar todo mundo no mesmo
sonho. O grande ativo que você
e desenvolvimento de estratégia.
Também percebemos que havia coragem pode construir dentro de uma or-
ganização é um ambiente de con-
coisas sobre as quais as pessoas
não tinham conhecimento. para fiança plena no qual o melhor das
pessoas possa vir à tona para que
determinar
seja possível aproveitar o máximo
Entre os comportamentos que do potencial — e isso é intangível.
vocês mapearam como importantes
para a nova cultura estão a
colaboração, a inovação e qual é Um tema que tem sido muito
discutido nas companhias é o
a abertura para o novo.
Como disseminaram isso
na organização?
o foco” das novas gerações. O que os
jovens estão lhe ensinando?
Nos últimos 24 meses aprendi mui-
A comunicação interna foi impor- to sobre as novas gerações — e não
tante, ainda mais no digital. Hoje, só com a turma da empresa, mas
toda a organização comunica o com meus filhos de 23 e 19 anos.
que está acontecendo: você fica indústria. O que a gente precisava Tenho escutado os jovens para
sabendo sobre planos de traba- era se organizar melhor e definir incorporar uma série de coisas à
lho das áreas e sobre conquistas qual trilha seguiríamos e quais companhia. Neste mundo em trans-
de clientes. Isso faz com que as seriam as prioridades para não ficar formação, muita coisa que não era
pessoas aprendam a trabalhar, de dando tiro para todos os lados. Não correta está sendo transformada
fato, em equipe. Construir junto houve resistência porque os sonhos pelas novas gerações. Criamos, por
é sempre melhor do que fazer e a visão foram construídos pelo exemplo, um escritório para atender
individualmente. Outro elemento da time. Todo mundo se sente parte. aos anseios das novas gerações,
cultura, que também falamos mui- porque ninguém mais quer traba-
to, é gostar de superar resultados. Quais são as principais competências lhar em salas fechadas. A gente vai
que um líder precisa ter? se adaptando, pois eles criam comi-
Quais foram os desafios para Além da escuta ativa, que é muito tês sem pedir permissão e simples-
engajar os funcionários nes- importante, a liderança deve ter mente vão incluindo as pessoas.
sa nova maneira de pensar? coragem para determinar qual é Hoje é sexta-feira e ninguém decre-
Não fui eu que decidi que quería- o foco. Feito isso, o líder precisa tou que não há dress code, mas o
mos ser referência de empresa de saber organizar os recursos para pessoal chega de camiseta e tênis.
lubrificantes. Essa foi uma conclu- fazer acontecer o que ele quer que As coisas nascem naturalmente,
são da liderança, dos gerentes e aconteça. É necessário ter uma e qual é o problema? Isso deixa as
dos diretores. A empresa já tinha habilidade ímpar de colocar as pessoas mais livres para criar e
uma série de processos e ferra- pessoas certas nos lugares cer- dar o melhor de si mesmas. Essa é
mentas bastante avançados para a tos. Isso é gestão de pessoas. uma geração muito interessante.
Partindo
do zero
Camila Almeida conta como estruturou a diretoria de
gestão de pessoas da Azul Linhas Aéreas, companhia com mais
de 14 000 funcionários espalhados pelo Brasil e exterior
Camila Almeida,
diretora de RH da Azul:
mapeamento de todas as
práticas que a empresa
precisava desenvolver
e estagiários
pilotos. “Queríamos trazer mais pro- se dividem em call centers, hangares
tagonismo para a gestão de pessoas e oficinas. Marina Verenicz*
geração
Z
Daqui a apenas três anos, os jovens
nascidos em meados dos anos 90 serão
10% da força de trabalho global. Mais
preocupados com questões socioambientais
e ávidos por propósito, esses profissionais
já começam a transformar a gestão de
pessoas das empresas brasileiras
Caroline Marino
ração Y, que trouxe várias mudan- alto. Mas isso não é suficiente para
ças ao mundo dos negócios, como esses jovens. “Eles são seletivos
a necessidade de mais equilíbrio e críticos. Se perceberem, por
entre vida pessoal e profissional, exemplo, que a companhia não
uma nova leva de profissionais tem um programa de diversidade
começa a entrar nas companhias ou que não terão tempo de ficar
e promete mexer ainda mais com com a família e com os amigos,
as políticas de gestão de pessoas. vão buscar outra empresa”, diz.
Trata-se da geração Z, formada Jonah Stillman, de 20 anos,
por jovens nascidos entre 1995 especialista na geração Z e co-
e 2010 que, segundo projeção da autor do livro Gen Z @ Work:
consultoria McKinsey, serão 10% How the Next Generation Is
da força de trabalho até 2022. De Transforming the Workplace
maneira geral, eles são mais cons- (“Geração Z no trabalho: como
cientes de seu papel social, preo- essa geração está transformando
cupados com questões como diver- o ambiente de trabalho”, numa
sidade, inclusão e meio ambiente tradução livre), reforça que os
e mais pragmáticos do que os Y, profissionais Z gostam de um bom
ou millennials, a geração que salário, mas questões climáticas
os antecedeu (veja diferenças e sociais fazem parte das ex-
or muitos anos o mundo do tra- no quadro da pág. 34). “Esses pectativas. “É como se fosse um
balho foi desenhado por caixi- jovens vão mudar completamente pré-requisito; não é algo que uma
nhas bem definidas: cargos e a forma como as empresas atuam empresa poderia fazer, é algo que
funções estruturados de cima e lidam com o capital humano, toda empresa deve fazer”, diz.
para baixo, ambientes separa- pois se trata da geração do ser,
dos hierarquicamente, líderes e não do ter”, diz Cristina Kerr, Contexto social
fechados em salas, áreas com presidente da CKZ Diversidade Essas características são refle-
atuação independente e gestão e professora na Fundação Dom xos do contexto em que esses
por comando e controle. Com a Cabral. De acordo com ela, antes jovens nasceram. De acordo com
ascensão da tecnologia e com a as companhias conseguiam atrair outra pesquisa realizada pela
entrada de novas gerações no e manter talentos com a oferta McKinsey com 2 321 pessoas de
mercado, esse desenho começou de benefícios como carro, plano 14 a 64 anos, além de totalmente
a perder o sentido. Depois da ge- de saúde de alto padrão e salário inserida no mundo digital essa
P r epa r a r R e v er a s Ou v ir o
os l íder e s p r át ic a s p e s so a l
O primeiro passo é fazer um A área de recursos humanos Se existe algo fundamental e
mapeamento do comportamento deve olhar para todas simples de fazer é criar canais
dos líderes: eles conhecem os as ações da companhia para escutar as pessoas. As
interesses da equipe?, conversam para checar se favorecem companhias precisam saber
frequentemente sobre carreira?, trabalhos por projetos e com o que os funcionários querem,
sabem delegar e possibilitam o equipes multidisciplinares, como veem a empresa e
protagonismo dos funcionários? movimentação de área, seu futuro. Isso é crucial
Se a gestão for baseada em protagonismo e autonomia. para estabelecer práticas
comando e controle, a área deve Se a estrutura for muito rígida, condizentes com os anseios
trabalhar para a mudança de o recomendado é iniciar projetos dos jovens. Estipular rodas
mindset, o que pode ser feito com pilotos com mais flexibilidade e de conversa envolvendo
treinamentos comportamentais, ir testando aos poucos. O uso de áreas e cargos diferentes
mentoria e coaching. metodologias ágeis pode ajudar. é uma ação interessante.
geração cresceu em um momento maioria deles acredita que ter formal e já estão no mercado de
de estresse econômico mundial, estabilidade no trabalho é mais trabalho — em período integral,
testemunhou conflitos globais importante do que ganhar dinhei- meio período ou como freelancer.
e viu o Brasil passar pela maior ro e está consciente da necessi- Ou seja, essa moçada está longe
recessão da história. Por isso, os dade de poupar para o futuro. O do estereótipo de que os jovens
Z são menos idealistas do que os estudo mostra, ainda, que 42% não querem nada com nada.
millennials. No levantamento das pessoas de 17 a 23 anos se Diante desse cenário, o RH
da McKinsey, por exemplo, a preocupam em ter um emprego precisa, desde já, criar um bom
“ O R H de v e e n t e nder que a f or ç a de
t r a b a l ho é di v er s a e que , c a d a v e z
m a is , h av e r á p úbl icos , se gme n t os e
ne ce s sid a de s dif e r e n t e s . O gr a nde
de s a f io d a á r e a é que a m a ior i a v eio
de um a er a mui t o indus t r i a l”
Christiane Berlinck, diretora de RH da IBM
Daniela Cardim,
gerente de talent
acquisition da Schneider
Electric América do
Sul: a alta liderança
recebe mentoria
reversa da garotada
tubro deste ano, instalou um bar compartilhassem suas histórias um menu com características pro-
cenográfico no campus da Escola de carreira na empresa, explicas- fissionais e pessoais dos funcioná-
Politécnica da Universidade de sem como funciona o universo da rios da IBM que estavam lá, como
São Paulo e convidou os alunos tecnologia e como inteligência “hacker ético”, “cantor de rock” e
para um blind date com funcioná- artificial, blockchain e cloud estão “expert em IA”. Ao escolher os ad-
rios da IBM. Segundo Christiane, transformando as profissões. Ao jetivos com os quais se identifica-
a ideia era que profissionais de chegar ao espaço, os universitários va, cada estudante dava um match
diferentes idades, áreas e perfis encontraram um tablet mostrando e o primeiro encontro acontecia.
B a b y-Boomer Ger a ç ã o X
Nascidos entre 1940 e 1959 Nascidos entre 1960 e 1979
F o n t e: M c k i n s e y (c o n t e x t o e c o m p o r ta m e n t o s) e e s p e c i a l i s ta s o u v i d o s n e s ta r e p o r tag e m ( p r i n c i pa i s c a r ac t e r í s t i c a s)
O câncer e o trabalho
A doença está crescendo no Brasil e os sobreviventes enfrentam
um grande desafio: a manutenção da carreira. Para isso, é preciso
mais esforço das empresas e das lideranças J u l i a n a A m é r ic o
Benefícios garantidos
Embora a Câmara dos Deputados ainda esteja analisando o projeto de lei que garante a estabilidade
dos trabalhadores com câncer, a legislação já estabelece alguns benefícios. Veja quais são:
O que faz
investimento. Tanto que a renda esse valor da maneira que achar
de quem adoece costuma cair. melhor, sem precisar prestar
a diferença
De acordo com uma pesquisa contas para a empresa”, afirma
real izada pelo Instituto Pro- José Ricardo Amaro, diretor de
vokers, a pedido da farmacêutica recursos humanos da companhia. Atitudes que as empresas
P fizer, os ganhos de mulheres A multinacional francesa empre- adotam para ajudar
que enfrentaram o câncer de ga 2 000 pessoas no Brasil e, no empregados com a doença
mama d iminuíram 38% entre ano passado, registrou dez casos
as usuárias da rede pública de de funcionários com câncer. Fle xibilização das
condições de trabalho
saúde. Entre as pacientes de rede Além do auxílio financeiro, a
60%
privada a queda foi de 15%. Edenred oferece apoio psicológi- Cobertura ampliada
Para minimizar essa preocu- co 24 horas por meio da central do pl ano de saúde
pação com as finanças, a Eden- Conte Comigo; enfermeira no 46%
red Brasil, detentora da marca escritório dedicada a ajudar na Treinamento para preparar
Ticket, oferece um seguro de intermediação entre o plano de gestores para lidar com casos
de câncer na equipe
35 000 reais a todos os funcioná- saúde e o hospital para agilizar o
42%
rios que são diagnosticados com tratamento; e ambulatório para
Serviço de aconselhamento
câncer. “Há muitos gastos com exames de rotina e campanhas específico ao funcionário
medicamentos e tratamentos de prevenção. Se um funcioná- 41%
que não são cobertos pelo plano rio acionar o RH para avisar que
F o n t e : A B R H e G o A l l — o s e n t r e v i s ta d o s
de saúde. A pessoa pode usar está doente, o protocolo é o mais p o d i a m e s c o l h e r m a i s d e u m a a lt e r n a t i va
A
data de entrada em vigor da Lei Geral de Proteção
de Dados (a famosa LGPD) já está virando a esquina:
agosto de 2020. Algumas empresas ainda estão em
compasso de espera, valendo-se do projeto de lei
apresentado em outubro na Câmara dos Deputados
que pretende postergar a data de início das novas
regras para 2022. Mas especialistas alertam: regula-
mentar a proteção de dados é uma necessidade e uma
jornada sem volta para o país. Portanto, quanto antes
as adequações começarem, melhor.
A LGPD veio para regularizar a coleta, o tratamento, o armaze-
namento e o compartilhamento de dados pessoais de usuários por
empresas públicas ou privadas. O objetivo é garantir a privacidade e
a proteção, assegurando aos titulares o direito e a propriedade do que
é cedido. “A informação se tornou um dos maiores ativos das com-
panhias. Essa discussão começou a ganhar peso lá fora e repercutiu
por aqui. A lei europeia está em vigor há dois anos, e a brasileira é
inspirada nela”, diz Marcelo Furtado, fundador e CEO da Convenia,
empresa que organiza informações de RH em nuvem. Com isso, o
Brasil passou a fazer parte do rol de 100 países que possuem legislação
capaz de proteger a privacidade de dados pessoais em larga escala.
1 Aliados
os setores que mais se
envolvem com a LGPD (RH,
seja nos operacionais (admissão,
cálculo de folha, férias, controle
traz é o combate à discriminação,
por meio da criação do conceito
TI e Jurídico) devem se unir
de jornada, gestão de benefícios de “dados sensíveis”, que são as
para avaliar os riscos e e desligamentos). Além de adotar informações sobre origem racial
montar planos de ação. medidas e processos para cuidar ou étnica, convicções religiosas,
da proteção dessas informações, opiniões políticas, saúde e orien-
2 M a p e am e n t o
Identifique quais são as
informações dos funcionários
o departamento deve garantir
que elas não vazem. Para isso,
tação sexual. Esses registros
passam a ser mais protegidos.
que estão sob responsabilida- precisa criar ferramentas — e “Ao fazer o anúncio de empre-
de da companhia, de que forma desenvolver uma cultura — de go, a companhia precisa adotar
estão armazenadas (meios cuidado com os dados. Outra algumas cautelas. A discrimi-
digitais ou papel) e onde estão
(quais áreas têm acesso).
mudança significativa é o fato nação no processo seletivo pode
de o RH passar a ser obrigado a ser evidenciada quando a vaga
4 Consentimento
As empresas terão de
criar documentos para que
companhia a manter o CV no ban-
co de talentos e informar por qual
mento da LGPD chegam a 2% do
faturamento da empresa, com
empregados e candidatos período o documento ficará arqui- limite de 50 milhões de reais por
indiquem que estão cientes vado. O candidato, é claro, tem infração. O responsável por fisca-
sobre a coleta e o tempo
de utilização dos dados.
o poder de negar. “A LGPD traz lizar essas ações será a Autoridade
princípios que empoderam o cida- Nacional de Proteção de Dados
dão a ter maior clareza de c omo (ANPD), cuja formação ainda não
5 E l i m i n aç ão
dados sem justificativa
precisam ser deletados. Infor-
seus dados pessoais são trata-
dos”, diz Valéria Reani R odrigues
foi definida pelo governo federal.
“Todas as pessoas também passam
mações de ex-funcionários,
Garcia, advogada especialista em a exercer uma função fiscalizado-
por exemplo, que não são
necessárias para casos de direito digital e proteção e priva- ra. A empresa tem de fornecer os
processos trabalhistas ou cidade. “A pessoa precisa saber, dados e, se não souber informar, o
que já excederam o prazo para
conforme propõe a lei, qual dado requisitante pode apresentar uma
que isso acontecesse (acima
de dois anos após a data de está sendo utilizado, para que e reclamação e será instaurada uma
demissão) devem ser excluídas. por quem. Portanto, ao coletar investigação”, diz Renato.
Pensando em inovação, há
diferenças entre os líderes
de grandes empresas e os de
De olho
companhias pequenas?
A inovação será um imperativo para
todas, pequenas ou grandes. Ao
longo desta década, vimos a ascen-
são de companhias que cresceram
rapidamente graças à inovação, e
essa tendência se fortalecerá nos
no futuro
próximos anos. Aqueles que não
investirem nisso não vão sobreviver.
Embora máquinas e algoritmos
tenham um papel cada vez mais
importante nos negócios, a inovação
continua sendo uma capacidade
essencialmente humana. Ou seja,
as organizações precisam investir
Martin Reeves, líder do BCG em seus profissionais e em como
Henderson Institute, explica vão interagir com a tecnologia. É
por que a tecnologia e a necessário desenvolver o talento
O
mental para a competitividade.
coletem informações dos ecossis- reinventar o modelo organiza- Você acredita que a “uberização do
temas de dados, colham insights cional. A maioria dos negócios trabalho” seja uma tendência global?
continuamente e ajam de acordo atuais — projetados para ter uma O Instituto BCG Henderson conduziu
com essas compreensões de manei- relativa estabilidade — não está uma pesquisa global com trabalha-
ra autônoma, tudo na velocidade adaptada a um ambiente dinâmico. dores e descobriu que, embora a gig
dos algoritmos. Mas não devemos economy tenha sido frequentemente
seguir apenas as escalas de tempo E como o profissional descrita como um fenômeno global
algorítmicas — também preci- deve se preparar para esse e de rápido crescimento, ela ainda
samos entender e nos posicionar mundo tão dinâmico? tem um tamanho relativamente
melhor em relação a movimentos Primeiro, deve estar atualizado so- modesto. O uso de plataformas
lentos, como mudanças sociais e bre a tecnologia e como ela afeta os de compartilhamento de trabalho
políticas, que também transfor- negócios. Além disso, será cada vez como a principal fonte de renda das
mam os negócios. Para isso, os mais difícil permanecer no mesmo pessoas ainda é pequeno, sobretudo
líderes precisarão projetar orga- emprego, ou na mesma carreira, em mercados maduros. Nos Estados
nizações que combinem sinergica- durante toda a vida. Portanto, a Unidos, na Alemanha, na Suécia, no
mente seres humanos e máquinas. reeducação constante é imperativa. Reino Unido e na Espanha, ape-
Os algoritmos devem ser confiá- Hoje a educação é algo que prio- nas de 1% a 4% dos trabalhadores
veis para reconhecer padrões nos rizamos na juventude. No futuro, citaram as plataformas de serviço
dados e agir de maneira autônoma, precisará ser um processo contínuo. como sua principal fonte de renda.
enquanto os humanos devem se
concentrar em tarefas de ordem Questões como essa são sociais.
superior, como validar algoritmos Elas também precisam estar
e imaginar novas possibilidades. na agenda das organizações?
Essa divisão do trabalho requer Com certeza. O comportamento das
repensar as interfaces homem-
-máquina para que os humanos
possam confiar na tecnologia e
Aqueles empresas na sociedade está sendo
questionado e os clientes esperam,
cada vez mais, que as companhias
interagir produtivamente com ela.
que não desempenhem um papel mais proe-
minente na abordagem dos desafios
investirem
O ciclo de vida dos negócios está sociais e ecológicos. Os líderes preci-
diminuindo. Ainda há espaço sam se concentrar no impacto de suas
para empresas centenárias? empresas. Em outras palavras, ga-
Em 2010, a expectativa de vida nos
Estados Unidos era de cerca de 80 em inovação rantir que seus negócios criem valor
social e econômico. Aqueles que não o
não vão
anos — que é mais do que o dobro fazem acabam enfrentando descon-
da idade média de falência das fiança e têm dificuldade em competir.
empresas hoje. Com os ciclos de Essa preocupação aumenta o desem-
vida dos negócios diminuindo, os
líderes precisam se preocupar não
apenas com sua competitividade
sobreviver penho financeiro no longo prazo e
fortalece o contrato social entre as
companhias e a sociedade, garantindo
mas também com sua durabi- que o relacionamento seja duradou-
lidade e capacidade de resistir ro. Essa é uma das chaves para a
a imprevistos. Para isso, devem construção de empresas longevas.
Holocracia,
modos de usar
Uma empresa sem chefe, nem diretores,
nem gerentes; com todos os funcionários
assumindo responsabilidades na gestão.
Soa como uma balbúrdia? A holocracia
mostra que não Di e g o B r aga N or t e
E
ra uma empresa muito
engraçada. Não tinha
chefe, não tinha nada.”
A paródia do poema
musicado A Casa, de
Vinicius de Moraes, é
uma brincadeira, claro.
Mas a holocracia é um
sistema de gestão sério
e o número de companhias que o
adotam está aumentando. E, sim,
em tal modelo de governança
não há chefes nem RH. Em uma
descrição sucinta, holocracia é
a “ausência de centralização de
poder”, define Luciana Lima, es-
pecialista em gestão de pessoas e
professora do I nsper. “E poder é
autoridade sobre decisões.” Ain-
da que não seja um conceito novo
— experiências de autogestão
em fábricas e minas de carvão,
pedras angulares da holocracia,
datam do início do século 19 —, o
modelo ganhou tração a partir de
2007, depois que foi “descoberto”,
entre muitas aspas, e populariza-
do pelo empresário e consultor
americano Brian Robertson.
David Neto, engenheiro do Google: funcionários da empresa levavam, em média, um dia para resolver problemas com notebooks
E
m 2015, o engenheiro Como nem sempre havia notebooks técnicos, que não podiam se dedicar
de softwares David Neto disponíveis para empréstimo, os a projetos mais estratégicos da com-
trabalhava no balcão de empregados da multinacional tinham panhia, uma vez que ficavam parte do
atendimento do suporte de esperar, no mínimo, 1 hora e meia expediente atendendo às demandas
de TI do Google Brasil, em para conseguir um computador novo de suporte. “Onerava o nosso tempo
São Paulo, junto com dois e voltar à rotina de trabalho. Depen- e o dos demais funcionários. Além
funcionários. A área era dendo do dano, a solução levava ain- disso, o horário de atendimento era
responsável por fazer re- da mais tempo, chegando a demorar limitado, das 9 às 17 horas. Se um
paros nos computadores dos colegas dias. A dinâmica afetava diretamente problema ocorresse fora desse perío
ou substituí-los por outras máquinas. a produtividade dos profissionais do, não daria para resolver. Era uma
Mas o modelo não era nada produtivo. da empresa — principalmente dos tarefa muito manual”, explica David.
Mais
rápido e
melhor
Para diminuir o tempo
de preenchimento de
vagas de 60 para 23 dias,
Caio Chedid,
a Gympass mudou o diretor global
de aquisição
processo seletivo e se de talentos
da Gympass:
aproximou de profissionais treinamento aos
recrutadores para
de tecnologia tornar a seleção
mais objetiva
Gerson Camargo
Q
uando o administrador de espalhados em 14 países e emprega e tem, entre seus clientes, gigantes
empresas César Carvalho 1 200 funcionários em 20 escritórios como Unilever e GE. Em outubro, a
e os engenheiros João no Brasil, na América Latina, nos startup recebeu um investimento de
Thayro e Vinicius Ferriani Estados Unidos e na Europa. Embora 300 milhões de dólares do SoftBank,
criaram a Gympass em um dos atrativos da plataforma conglomerado japonês de telecomu-
2012, a ideia era ajudar seja a possibilidade de ter acesso a nicações e internet, e tornou-se mais
pessoas a ter acesso a au- diversas modalidades, com planos um unicórnio brasileiro — startup
las de ginástica e práticas a partir de 69,90 reais, é no nicho que vale mais de 1 bilhão de dólares.
esportivas por meio de convênios corporativo que a companhia tem Com o investimento, pretende
com academias. Sete anos depois, a concentrado esforços. Atualmente, expandir sua operação para além
startup conta com 40 000 parceiros a Gympass atende 2 000 empresas do Ocidente e chegar a países
gue trazer as pessoas certas, isso encontros. Num mercado disputado realizar atividade física
startup começou a olhar no detalhe vaga caiu para 23 dias. O executivo e40 000 no mundo
Shopping Itaquera, em São Paulo, às vésperas do Natal: com novo decreto, a expectativa é que as vagas cresçam 22% em dezembro deste ano
C
om a aproximação das de contratar por receio de configu- do há demanda complementar de
festas de fim de ano e com rar vínculo empregatício. “Agora, serviços (como em épocas de Natal
a corrida pelos presentes de explicitamente, o texto afirma que e Páscoa) e em casos de substitui-
Natal, é comum o comércio não há relação de emprego”, explica ção transitória de pessoal, ou seja,
contratar funcionários em Renê Koerner, advogado trabalhista quando um funcionário é afastado
regime temporário. Em do escritório Urbano Vitalino. Outra por licença, por exemplo. “Restringir
outubro, três meses antes questão é a diferença entre trabalho a essas duas situações impedirá que
da data, o presidente Jair Bolsonaro temporário e terceirização. “O primei- as empresas optem por recrutar
editou um decreto que atualizou a ro ocorre quando uma pessoa física trabalhadores temporários em detri-
Lei n 6.019, de 3 de janeiro de 1974,
o
presta um serviço para uma empresa. mento de profissionais com contra-
que dispõe sobre a modalidade. No caso da terceirização, a relação tos fixos”, afirma Michelle Karine,
O documento não traz alterações, é entre pessoas jurídicas”, diz Renê. presidente da Associação Brasileira
mas ressalta diversos pontos e pro- O decreto também define que a do Trabalho Temporário (Asserttem).
mete dar mais segurança às empre- contratação de temporários deve Embora a atualização do decreto
sas, principalmente as que deixavam ocorrer em duas situações: quan- beneficie companhias de diversos
Chefe de confiança
Ter um estilo de liderança que deixa as pessoas seguras impacta
os negócios. A explicação é neurocientífica: quando o cérebro é
submetido a ameaças, há menos cognição, criatividade e colaboração
C
“
onfiança é como o ar que respiramos: quando está e com MBA em tecnologia da informação pela Fundação
presente, quase ninguém percebe; mas, quando Getulio Vargas, o autor possui 25 anos de experiência
falta, todos sofrem.” É assim que Marco Fabossi em cargos de gestão e consultoria a empresas nacionais
inicia seu segundo livro, O Fator Confiança. Na e multinacionais. A experiência o ajudou a desenvolver
obra, ele apresenta um plano prático para os alguns dos conceitos que apresenta no novo livro, como
líderes alcançarem a confiança dos liderados. autoconfiança, confiança interpessoal e confiança rea-
Formado em administração de empresas pela FEI lizacional. Leia, a seguir, um trecho inédito.
elos sociais para a sobrevivência considera a sobrevivência sua o da outra pessoa por meio dos
da maioria dos mamíferos. principal prioridade. Para que neurônios-espelho. Em outras pa-
(...) os líderes não sejam vistos como lavras, se um líder desconfia da
Muito bem, mas o que isso tem uma ameaça, é necessário que se pessoa com quem está falando,
a ver com liderança e confiança? mostrem confiáveis, verdadeiros, essa pessoa vai usá-lo de espelho
Tudo. Porque o líder é um dos justos e honestos. Atualmente, e desconfiar de volta. Não adianta
maiores agentes reguladores da as pessoas já não encontram se- conversar com alguém fingindo
dor social nas organizações, já gurança nas próprias organiza- que confia na pessoa, porque ela
que, como vimos, a base da li- ções, por isso a figura do líder se perceberá e também desconfiará
derança é o relacionamento, e a torna cada dia mais importante de você. Alguns chamam isso de
qualidade desse relacionamento na construção da sensação de “energia”, mas, nesse caso, é ape-
implica diretamente no nível de segurança das pessoas. E essa nas o cérebro em funcionamento.
dor social das pessoas e seu im- segurança consiste em ser ver- Neurônios-espelho são uma estru-
pacto nos resultados. O primeiro dadeiro, honesto, transparente tura cerebral que coloca o indiví-
passo, portanto, para que haja e justo com a equipe, ainda que duo em sintonia com as emoções
interações sociais saudáveis na isso possa lhe custar alguma e as reações dos outros, e foram
liderança é o estabelecimento coisa. Quando as pessoas se sen- descobertos pela equipe do neu-
de relações de confiança. Com tem inseguras, o cérebro aciona rocientista Giacomo Rizzolatti, da
base em tudo o que conversamos o estado de ameaça, diminuin- Universidade de Parma, na Itália.
até agora, quero retomar pontos do a percepção, a cognição, a Demonstre justiça: o cérebro
importantes na construção da criatividade e a colaboração e, procura por justiça e, quando se
confiança com base na neuro- consequentemente, impactando vê diante de uma situação in-
ciência. Já conversamos sobre diretamente os resultados. justa, tende a reagir com raiva e
alguns desses pontos ao longo Seja autêntico e mostre con- frustração. Nesse ponto, é muito
do livro, mas vou reforçá-los aqui. fiar nas pessoas: quando esta- importante que o líder se cons-
Ajude as pessoas a se sentirem mos com alguém, nosso cérebro cientize de que não adianta achar
seguras: lembre-se, o cérebro é ativado da mesma maneira que que está sendo justo com as
pessoas se elas não o percebem
dessa maneira. É preciso que as
cartas estejam sobre a mesa, que
não haja agendas ocultas e que
temas suscetíveis a percepções
ou sensações de injustiça sejam
“cientificamente, todos nós discutidos com transparência.
Ainda com base no cérebro
temos a capacidade e a habilidade social, David Rock, presidente
do Neuroleadership Institute,
de aprender e mudar, renovando desenvolveu um modelo de mo-
tivadores sociais que nos ajuda
nosso cérebro, desde que haja a amenizar a dor social no dia
a dia, a criar um ambiente mais
empenho, disciplina e constância” seguro psicologicamente e a re-
Os sabotadores silenciosos
H
á décadas o RH discute a importância Eis que surge o desafio com o qual nem todos estão dis-
de identificar e eliminar os “sabotadores postos a lidar: para reduzir o número de sabotadores, as
internos” ou “sabotadores silenciosos”. organizações precisam ter interesse genuíno nas pessoas. E
Esses indivíduos carregam consigo uma não há nenhum milagre para que isso aconteça. Basta nos
mistura inconsciente de medo, insegu- atentarmos aos princípios básicos da verdadeira liderança: o
rança e resistência ao novo, e por isso respeito pelos indivíduos, a transparência na comunicação, a
fazem de tudo para manter seus velhos abertura de canais para que as conversas sejam estabeleci-
hábitos e conceitos. Eles não conseguem das, o investimento em treinamento e desenvolvimento para
— e talvez nem queiram — entender os as equipes adquirirem novas habilidades e competências
motivos e os benefícios da mudança e para lidar com o que vem pela frente.
também têm muita dificuldade em ver Por mais inseguro que seja, quando um profissional se
algo positivo para si próprios nesses processos. sente reconhecido, recompensado e valorizado por suas en-
Em geral, a maior parte de nós tem receio do novo, e isso tregas, quando ele é desafiado de forma factível e enxerga
é plenamente compreensível. Afinal, há sempre uma dúvida oportunidades de crescimento, é grande a chance de que ele
sobre o que vem pela frente quando saímos de uma zona de passe a olhar para o futuro em vez de se apegar ao passado.
conforto. A diferença, no caso dos sabotadores, é que eles têm Agora, não adianta a organização esperar esse compro-
mais dificuldade em aceitar os fatos, sentem-se prejudicados metimento se ela não dá o apoio necessário a seus colabora-
e querem manter o status quo sob qualquer hipótese. dores. Eliminar os sabotadores silenciosos, nesse caso, não
Especialistas em gestão de pessoas sabem muito bem resolverá o problema — amanhã, aqueles que inicialmente
que, nessas situações, a produtividade e o comprometi- se engajaram, mas não foram devidamente respeitados,
mento desses profissionais são muito baixos. Além disso, poderão se transformar nos próximos sabotadores.
enquanto alguns deles se escondem para não ser percebi-
dos, outros fazem questão de espalhar pelo ambiente suas
angústias, pessimismo e energia carregada.
A orientação direta de muitos especialistas é: livre-se
rapidamente deles. Mas será que não é possível rever ou
corrigir esse tipo de postura? Qual é o papel do RH e da
gestão nesse contexto? Será que as empresas também não
têm sua parcela de responsabilidade ao não conduzir cor-
retamente determinadas mudanças?
Esse tema é tratado num artigo de Inés Temple, presidente
da LHH DMB para o México e o Peru. Ela afirma que, muitas
vezes, dada a necessidade de transformar rapidamente as
Psicóloga, sócia da
Vicky Bloch Associados
organizações, o foco da gestão se detém sobre os proces- e professora nos cursos
sos e cifras, e não sobre as pessoas que precisam entregar de especialização em
os resultados. Na pressa, os colaboradores são tratados de RH da FGV-SP e da FIA
forma administrativa e numérica, e as lideranças tendem a
ter pouca empatia com seus sentimentos e emoções.