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Preparatório para PMPE-2022

Prof. Wildson Félix


doutorando em História (UFPE)

Aula # 02
A Capitania de Pernambuco:
A lavoura açucareira e a mão de obra escrava.
As instituições eclesiásticas e a sociedade colonial.
Insurreição Pernambucana.
A Guerra dos Bárbaros.
A Guerra dos Mascates.
O sistema de Capitanias hereditárias:
As capitanias hereditárias foram faixas extensas de terra doadas
pela coroa portuguesa na figura de D. João III conforme herança do
sistema feudal. Desconsiderando as do norte, elas partiam conforme
os paralelos, do litoral até a “linha do Tratado de Tordesilhas”. Foram
doadas pelo rei aos donatários, agora chamados de capitães-mores
a partir de documentos como a “carta de doação“ (direito de
exploração da terra), o “foral” (deveres em relação à coroa) e as
“sesmarias” (atribuição de receber e distribuir terras) . Os donatários
recebiam o título de governadores e passavam a desempenhar o
poder sob a sua capitania, sendo somente proibido vendê-las ou
subdividi-las. Uma de suas obrigações era o pagamento do dízimo (ou
10% da produção, para a coroa portuguesa).

As capitanias foram hereditárias (até 1759) porque passavam (ou


deveriam passar) aos herdeiros dos donatários.

Tinham o objetivo de povoar o território, garantir a posse para a


coroa portuguesa e defende-lo de possíveis invasões estrangeiras
(em especial franceses que ameaçavam o litoral;

Podiam ser privadas ou reais, e também foram usadas em outras


localidades do império português, como nas Ilhas Atlânticas, Mazagão,
etc;

(Mapa das capitanias hereditárias: Carta geral do Brasil, inserida em Roteiro de todos os sinais, de Luís Teixeira, c. 1568. Acervo da Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa.)
O sistema de Capitanias hereditárias: Nota: São 15, se contarmos uma que não foi
distribuída (na atual fronteira entre o MA e PA).

Entre 1534 e 1536 (15 capitanias, mas também podem


chamar de 15 territórios e 14 capitanias) e (12 donatários)

1- Maranhão /João de Barros e Aires da Cunha


2- Maranhão / Fernão Alvares de Andrade 3- Ceará /
Antônio Cardoso de Barros
4- Rio Grande / João de Barros
5- Itamaracá / Pêro Lopes de Sousa
6- Pernambuco(Nova Lusitânia) / Duarte Coelho
7- Bahia / Francisco Pereira Coutinho
8- Ilhéus / Jorge Figueiredo Correa
9- Porto Seguro / Pero do Campo Tourinho
10- Espirito Santo / Vasco Fernandes Coutinho
11- São Tomé / Pêro de Goes
12- São Vicente ( subdividida em duas ) / Martim Afonso
de Sousa
13- Santo Amaro / Pêro Lopes de Sousa
14- Santana / Pêro Lopes de Sousa

Nota: O desenho atual do mapa das Capitanias deve-se a


um estudo recente (2013), de Jorge Pimentel Cintra. A
partir de leitura paleográfica, técnicas e instrumentos da
geografia moderna;
As únicas duas Capitanias a terem
sucesso (retorno econômico) foram as de
Pernambuco e São Vicente:

S. Vicente: do donatário Martim Afonso


de Souza, tinha uma considerável
produção de açúcar nos seus engenhos.
Mas fazia uma fortuna com o comércio
de escravos com portugueses e
espanhóis que seguiam para o Rio da
Prata;

Pernambuco: Duarte Coelho Pereira


introduziu a lucrativa cultura da cana de
açúcar, muito produtiva no solo
massapê da Zona da Mata nordestina.
Fundando em 1535 Olinda, tornada vila
em 1537, ano da fundação de Recife. A
princípio a mão de obra utilizada nos
engenhos era a indígena, mas há
registros de negreiros em Itamaracá já em
CARTA de foral doando a Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho. Évora (Portugal). 27/09/1534
1526.
A maioria das Capitanias, no entanto, não tiveram o O caso da Capitania da Bahia parece ser o mais
mesmo sucesso. Algumas fracassaram e outras emblemático. O donatário e capitão-mor Francisco
sequer foram povoadas no período. Pereira Coutinho, de alcunha “o Rusticão”, fundou
primeiramente o Arraial do Pereira, entrando em
Os donatários das Capitanias do Rio Grande e do conflito com os indígenas tupinambás que chegaram a
Maranhão (João de Barros, Aires da Cunha e cercar o antigo núcleo de colonização. Acabou por
Fernando Álvares de Andrade) formaram uma naufragar um de seus navios na ilha de Itaparica, onde
expedição composta de dez navios e mais de 900 foi capturado pelos tupinambás (junto com o
homens. Em 1535, o grupo chegou em Pernambuco e ”Caramuru”) onde acabou sendo devorado (1546).
partiu para o Maranhão. A aventura durou pouco: as
correntes contrárias fizeram afundar as embarcações, Com a morte do donatário e o fracasso em defender o
próxima ao local de Nazaré. Onde sofreram ataque território dos indígenas, a coroa aproveitou para tornar
dos indígenas, perdendo homens e o projeto daquela a capitania real, e aproveitar de sua localização
colônia. geográfica (no centro do novo território, no meio das
correntes marítimas atlânticas) para estabelecer ali, um
A Capitania de Porto Seguro entregue ao donatário, Governo Geral (1548).
Pero de Campo Tourinho, que denunciado pelos seus
próprios colonos por força-los a trabalhar em dias O primeiro Governador Geral do Brasil foi Tomé de
santos (domingos e feriados) e blasfemar contra Deus, Souza (1549-1553), seguido por Duarte da Costa
Jesus e a Igreja. Acabando preso e sentenciado pela (1553-1558) e Mem de Sá (1558-1572);
Inquisição;
A Capitania de Pernambuco: (Ou Nova Lusitânia)

Preexistia nas margens do Canal de Santa Cruz a feitoria de Cristóvão Jacques (aquele mesmo comandante da expedição
guarda-costas em 1526), entre as margens dos atuais municípios de Igarassu e Itamaracá;

Segundo a Carta de Doação e o Foral passados a Duarte Coelho em 1534, A Capitania teria 60 léguas entre seus dois
paralelos, limitando-se ao norte pelo Rio de Santa Cruz, e ao sul pelo Rio São Francisco. Uma área de apróx. 425 km²,
conforme os cálculos atuais. E deveria ser hereditária para os descendentes do donatário, todavia o domínio holandês do
território e os resultados da Guerra dos Mascates, fizeram a coroa torná-la real em 1716.

A expedição colonizadora de Duarte Coelho Pereira, contava também com a presença de sua mulher d. Brites de
Albuquerque (“capitoa” entre a morte do seu marido (1554) e o retorno de Duarte Coelho Albuquerque (1560)) e seu
cunhado, Jerônimo de Albuquerque (o “Adão” pernambucano da aula passada!). Aportaram primeiramente na antiga feitoria
portuguesa, e de lá seguiram (em 1535) até a foz do Rio Igarassu onde povoou Igarassu, e mais tarde no mesmo ano, fundou
o povoamento(e em 1537 elevado à condição de vila), de Olinda nos morros anteriormente ocupados de Marim dos Caetés.

Na Capitania, Duarte Coelho introduziu o cultivo da cana de açúcar, trazendo mestres desta cultura direto das Ilhas
Atlânticas (Açores, Madeira, S. Tomé e Príncipe) já ocupadas pelos portugueses. Os primeiros empreendimentos foram pagos
com capital de cristãos novos, judeus e protestantes, que eram credores, e distribuidores do açúcar no mercado europeu.
Utilizaram inicialmente de mão de obra indígena (em especial dos índios capturados em AL e SE, aliados dos franceses),
mas devido a incompatibilidade dos nativos (ou Negros da Terra) ao sistema que estava sendo montado (suas fugas, revoltas
e choque imonológico), foram substituídos (nunca totalmente) pela mão de obra de escravizados africanos (ou Negros da
Guiné). Estavam então montadas as bases do sistema de plantation colonial.
A lavoura açucareira e a mão de obra escrava
A lavoura de cana era realizada, em especial, na área de Zona da Mata (solo massapê), e
foi entre os séculos XVI e XVIII a atividade agrícola mais rentável da América portuguesa;

Em resumo, a produção dos engenhos de cana de açúcar se dava na forma da


plantation. O que significa que eram latifúndios (grandes extensões de terra), de
monocultura (plantando majoritariamente uma única cultura, neste caso a cana),
utilizando mão de obra escrava (indígena e depois africana),para a exportação (visando
o mercado europeu).

E funcionava mais ou menos assim: Existia um Engenho Central (latifúndio + o


maquinário) que podia ser de trapiche (tração humana ou animal) ou real (moenda
movida pelo curso d'água), empregando amplamente a mão de obra escravizada (exceto
os capitães do mato, e mestres de açúcar e purgar). Nas redondezas, havia as lavouras
de cana de açúcar, em que seus lavradores (homens livres, mas pobres) empregavam
seus parentes e poucos escravos no plantio de cana-de-açúcar, ou nas hortas de
subsistência e criação de gado. Estes geralmente trabalhavam na terra do senhor de
engenho em troca de uma parte de sua produção.

Ser um senhor de engenho era então um sinal de pertencimento à elite local (poder sobre
a terra e sobre homens) símbolo de uma vida conforme a “lei da nobreza”.

Produzia o açúcar (e seus diversos tipos) para consumo do mercado europeu, e seus
subprodutos, como o melaço (também utilizado no embalo do tabaco) e a aguardente (ou
jeribita) amplamente utilizada como produto na compra de escravizados.
A lavoura açucareira e a mão de obra escrava

Para que se faça uma idéia, em 1629 (ou seja, às vésperas da invasão
holandesa), havia 150 engenhos na Capitania. No período da Guerra
dos Mascates, em 1710, já eram 246 engenhos.

O açúcar, entretanto, passou por períodos de crises e seu preço


oscilava bastante no mercado. Em Lisboa, se pagava 3$500 réis
(1650), 2$400 réis (1668) e 1$300 (1688). Os preços melhoram
somente no período de independência do Haiti, e queda na
produtividade de Barbados e Jamaica (por razões naturais).

A crise do açúcar (a queda internacional dos preços) fazia com que


os senhores de engenho acabassem com dívidas impagáveis,
ameaçando a manutenção da unidade (compra de escravos e
maquinário). Eles então utilizavam da Câmara de Olinda para
negociar diretamente com a coroa, condições favoráveis para o
pagamento e que não pudessem tomar seus bens em caso de falência.

Entender a crise do açúcar e o papel das câmaras torna mais fácil o


compreender da Guerra dos Mascates.
Embora o termo engenho, se
refira tão somente ao
maquinário, os engenhos de
cana-de-açúcar eram na
verdade um complexo e
envolvia:

Casa Grande
Capela
Senzala
Roda d’agua*
Moenda
Fornalha
Caldeira
Casa de Purgar
Roça (subsistência)
Morada dos trabalhadores
Canavial
Roça (dos escravizados)
Carros de boi para transporte
da cana e de lenha
As instituições eclesiásticas e a sociedade colonial: Nota: Lembrar que estamos no período da reforma, ou
contrarreforma católica. E o padroado é uma das respostas
do papado ao avanço das “heresias”.

Em Portugal (e também na Espanha e França) existia o sistema de Padroado: onde a Coroa tem domínio sobre o
governo da Igreja, recolhendo dízimos, pagar os religiosos, criando bispados e nomeando seus titulares. O rei era
então Rei de Portugal e Patriarca de Lisboa, e como tal tinha a obrigação de custear e e suprir as obras missionárias
para conversão de fiéis à fé católica.

No Brasil colonial, destacam-se as ordens da Companhia de Jesus (Jesuítas ou Inacianos), de S. Francisco


(Franciscanos), de S. Bento (Beneditinos) e de N.S. do Carmo (Carmelitas), dentre outras. As ordens cumpriram
funções cruciais para a colonização, como a catequização indígena, a educação nos rudimentos de letras e da fé, e na
celebração da vida religiosa. Destaque para os Jesuítas que chegaram em Pernambuco desde 1551, e aqui
permaneceram até sua expulsão em 1759, durante a intervenção política do Marquês de Pombal, ou período
Pombalino.

No Brasil colonial, não houve ordem ou congregação religiosa feminina, a estas (para preservar sua virtude e
honra) cabiam os conventos no reino ou os recolhimentos na colônia;

A sociedade colonial organizava-se socialmente em associações leigas mas de fundo religioso, como era o caso das
Irmandades. Estas acolhiam seus membros, organizava seus sacramentos (batismo, casamentos,
sepultamentos), as festas do seu padroeiro e demais dias santos, erguiam seus altares, mas acima de tudo
agrupavam os sujeitos conforme sua estratificação social. Havia as ordens terceiras (das elites açucareira e
comercial), irmandades de homens pretos, de pardos, de artesãos, de marinheiros, de músicos, etc.
Havia as Santas Casas de Misericórdia, ou somente Misericórdias, que eram instituições ligadas à administração da
Igreja, nascidas e desenvolvidas para atividades de caridade e assistência aos “irmãos” pobres e desvalidos. Mantendo
“hospitais” e lazaretos. Todavia, eram instituições autônomas, e como arrecadavam e administravam dinheiro (muito
dinheiro) de doação, cedo passaram a serem centros das elites locais. Além das funções do “viver da fé católica
associada às atividades caritativas”, também transformaram-se num importante meio de se conseguir crédito
(empréstimos) no mundo colonial.

Também havia a instituição das Câmaras:


● Câmara-cadeia: Como as Câmaras exerciam poderes legislativos e judiciário, em seus edifícios a câmara e as
cadeias, funcionavam em pisos separados do mesmo prédio; A de Olinda na Sé, a de Recife na Marquês de Olinda,
e em 1824 na Rua do Imperador;
● Durante a ocupação holandesa (1630-1654), as Câmaras funcionaram como “Câmara dos Escabinos”.
● Seus membros eram conhecidos como “homens bons”, e eram inicialmente membros da fidalguia (fidalgo = filho
de alguém = nobreza local), todavia, com a entrada do século XVIII, passou a ser ocupada por mercadores (uma
das razões da Guerra dos Mascates).
Insurreição pernambucana (1645-1654): Antecedentes

O período da União Ibérica (1580-1640) ou União das Coroas Ibéricas, é um período na história em que as coroas de
Portugal e Espanha tornam-se uma só sob Felipe II devido a crise de sucessão portuguesa com a morte do último rei da
dinastia de Avis. A crise iniciou com a morte (ou sumiço) do infante D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir (Marrocos).
Sem herdeiros, a coroa foi herdada por seu tio, Cardeal Henrique, que idoso deixou a linha sucessória aberta às pretensões da
ávida coroa espanhola.

Desta maneira, o Reino de Portugal perdeu sua diplomacia, e herdou os poderosos inimigos da coroa espanhola, como a
concorrente Inglaterra, e a Holanda que lutava pela sua independência no contexto da Guerra dos Oitenta anos. Desta forma,
a américa portuguesa sofre ataques de corsários ingleses, como James Lancaster ao Recife (1595), e o corso da VOC
(Companhia das Índias Orientais) na Ásia, e futuramente da WIC (Companhia das Índias Ocidentais) na América e Ásia.

A criação da WIC(1621), é a união de acionistas com forte participação da República Unida dos Países Baixos, visando a
conquista do mercado e, de quebra, do território espanhol no Novo Mundo. Lembrar que neste contexto, Bahia e Pernambuco
eram as possessões mais lucrativas da américa portuguesa.
Nota: Eram guerras não só pelo domínio da produção e
escoamento do produto, mas financiadas por ele, e
dependentes de suas safras.

A invasão holandesa a Pernambuco (1630): Ainda no contexto das “Guerras do açúcar”, os holandeses malfadada a invasão
planejada para a cidade de Salvador (1624-1625) e com o butim obtido com o saque da frota da prata espanhola no Caribe,
armaram a WIC ou Companhia holandesa das índias ocidentais, com o objetivo de tomar a sede da capitania de
Pernambuco; O conflito costuma ser dividido em três períodos: Da queda de Olinda (1630) até o abandono do exército
hispano-luso-brasileiro da Capitania (1637); Entre o governo de Nassau e início da insurreição (1637-1645); E da guerra de
restauração (1645). até a capitulação do Recife (1654).
Insurreição pernambucana (1645-1654): Nota: Durante a primeira parte do conflito o grosso das
tropas era formado por europeus, espanhóis, portugueses,
neerlandeses e mercenários “alemães”.
(1630-1637) Invasão de Olinda até a saída das tropas hispanico-luso-americanas da Capitania;
Invasão das tropas da WIC e conquista de Olinda e Recife em 1630, primeira fase de defesa e cerco;
Resistência de Matias de Albuquerque (guerrilha, guerra volante ou guerra indígena) a partir do Arraial do Bom Jesus
(1630-1635), com a derrota foi responsabilizado pela perda da Capitania e preso no reino, sendo libertado com a
Restauração Portuguesa.
Com o “auxílio” Domingos Fernandes Calabar, os holandeses passaram a ter conhecimento das táticas e do terreno,
conseguindo importantes vitórias. Calabar acabou emboscado em Porto Calvo em 1635.
A WIC, ao entender que o sistema de plantation, era dependente da mão de obra escravizada, passa também a ocupar as
praças do comércio negreiro, primeiramente na região da Costa da Mina (Castelo de Elmina) em 1636, e depois em
Angola (1640);
(Mapa de Nicolaes Visscher mostra o cerco a Olinda e Recife em 1630)
Insurreição pernambucana (1645-1654):
(1637-1644) Do governo de Nassau até os primeiros embates da Insurreição;
Período também conhecido como “Nassoviano”, tem seu início com o fim dos primeiros combates e a vinda de João Maurício de
Nassau com a função de administrar o território para a WIC.
Consolida os limites do Brasil holandês entre as fronteiras do Maranhão ao norte, e a vila de
Penedo em Alagoas ao sul; desta forma entra em plano as tarefas econômicas e
administrativas, visando recuperar a produção açucareira.

Confisco e revenda das antigas propriedades; extensão de crédito a longo prazo para
que novos proprietários adquirissem propriedade, escravos e maquinários

Nassau ficou conhecido por empreender uma série de benfeitorias e reformas urbanísticas
no Recife (cidade Maurícia ou Mauristad), aterros, diques, pontes e palácios (Palácio de
Friburgo, e o Palácio da Boa Vista), observatório astronômico, Jardins (botânico e zoológico),
concedeu liberdade de culto (primeira sinagoga das américas)

Trouxe uma comitiva de eruditos, entre cientistas e artistas, como: Frans Post, Albert Eckhout,
Zacharias Wagener, Georg Marggraf, etc;

A crise do açúcar em Amsterdã se tornou crise comercial no Recife, quando a WIC teve de
cobrar as dívidas no Recife para manter os custos da ocupação.
Carta Patente (1643) assinada por Nassau

Johan-Mauritz van Nassau-Siegen 1637.


Insurreição pernambucana (1645-1654): Da guerra de restauração até a capitulação do Recife
Em 1640, Portugal fica independente da coroa hispânica, durante este período as tropas espanholas estavam divididas
lutando batalhas na Europa e na Catalunha, e a nobreza portuguesa com João (Então Duque de Bragança, futuro D. João IV)
aproveita do momento para fazer guerra. Significando que qualquer avanço na insurreição teria de partir da própria Capitania,
uma vez que não haveria apoio direto para guerra vindo do exterior;
As guerras anglo-neerlandesa (1552-1554) contribuíram para cortar a comunicação entre os holandeses da europa e suas
tropas na américa, a guerra com a Inglaterra que era aliada histórica de Portugal serviu de grande oportunidade para o avanço
do exército restaurador. Sem o apoio logístico europeu tornou-se comum a deserção, que foi acentuada com as derrotas em
Pernambuco.
Em junho de 1645, João Fernandes Vieira começou o levante na Várzea do Capibaribe, a ele seguiram a vitória no monte das
Tabocas e da Casa Forte (1645). As reduzidas tropas neerlandesas foram obrigadas a recuar para o Recife. Após os reforços
de André Vital de Negreiros (Comandante veterano da invasão da Bahia), de Henrique Dias (terços de negros e pardos, os
“henriques”) e Felipe Camarão (Indígenas Potiguar) vindas do interior, as tropas holandesas se viram forçadas a tentar romper
o cerco imposto, dando origem as Batalhas de Guararapes I (1648) e II (1649). Amargando estas derrotas, restou aos
holandeses adotarem uma postura cada vez mais defensiva, até sua capitulação no Forte das Cinco Pontas, em 1654.
(Recorte da pintura de Vitor Meirelles, Batalha dos Guararapes, 1879)
Ex-voto (Batalha dos Guararapes)
Insurreição pernambucana (1645-1654): A paz de Haia e suas consequências
Dos principais beligerantes da restauração, João Fernandes Vieira foi nomeado Governador da Capitania da Paraíba (1655-57)
passando para o Governo de Angola (1658-61). Já André Vital de Negreiros, por sua vez, assumiu a Capitania do Maranhão e
do Grão-Pará (1655-1656), foi também governador da capitania de Pernambuco por duas ocasiões em (1657-1661) e (1667),
Governador de Angola (1661-1666). Estes dois “heróis” da restauração, junto a Salvador de Sá (veterano da reconquista de
Angola), como governadores de Angola operaram uma grande rede de comércio negreiro, reduzindo sobados (chefes locais) e
aldeias inteiras em Angola e no Congo à escravidão. Junto a Henrique Dias do “terço dos henriques”, “todos” foram agraciados
como cavaleiros da Ordem de Cristo, embora os descendentes de Dias tenham tido de reivindicar este direito.
Papel das alianças indígenas dos dois lados da guerra: Felipe Camarão (portugueses) e Cacique Pedro Poti (holandeses).
Nota: Existem correspondências recém-traduzidas, escritas no ano de 1645, que foram notícia nacional! Veja se puder!

A expulsão dos neerlandeses do Recife, todavia, não encerrou a disputa vitoriosa dos luso-brasileiros. Foi somente após a
assinatura do Tratado de Haia (1661) ou Paz de Haia, que a questão foi finalmente resolvida. A coroa Portuguesa indenizaria
(ou compraria) a Nova Holanda (Os territórios do Brasil holandês) por oito milhões de florins, cederia suas pretenções nos
territórios do Ceilão (atual Sri-Lanka), Ilhas de Malabar e da região à barlavento da Costa da Mina. Em troca, a República
Unida dos Países Baixos, em nome da WIC, reconheceria a soberania de Portugal sob os territórios do Brasil e de Angola.

Com o conhecimento adquirido em meio à produção açucareira no Brasil, e do comércio negreiro na África, os neerlandeses
montaram seu próprio sistema de plantation nas Antilhas. Seu açúcar, refinado e produzido a um custo mais baixo, foi um
fator de peso na queda do preço e posterior crise do açúcar brasileiro. Afetando diretamente a capacidade de financiamento
da coroa portuguesa, até, pelo menos, a descoberta das minas de ouro na região de Minas Gerais.
A Guerra dos Bárbaros:
Com a expulsão dos holandeses (1654), aliados estratégicos dos Tapuia, as tribos belicosas e os aquilombados dos Palmares, tornam-se os últimos
entraves da expansão colonial;

Conceito de Guerra Justa: Escravidão indígena proibida desde a Lei de régia de 1570. esta lei estabeleceu um dos fundamentos da política indigenista
portuguesa, declarando livres todos os índios, salvo o “gentio bárbaro” – grupos inimigos que apresentavam alguma resistência armada, a quem cabia
a “Guerra Justa”- apresamento e confisco de terras;

Expansão da área açucareira na zona da mata e da demanda pela pecuária nos sertões;

“Confederação” dos Cariri (Tarairiú, Janduí, Paiacu, Surucu, Icó) naturais de regiões do Rio Grande do Norte até o Recôncavo baiano. Esses grupos
aproveitaram da proximidade com os invasores da WIC para se fortalecer militarmente, inclusive comprando e manuseando cavalos e armas de fogo;
Vale lembrar que não houve de fato uma confederação, e sim uma aliança política e momentânea em resposta e defesa contra a expansão portuguesa
nos sertões;

Conflitos: no Recôncavo, capitanias da Bahia e Ilhéus (1651-1679) contra grupos Paiaiá e Aimoré; já a guerra do Açu foi mais intensa na capitania do
Rio Grande do Norte (1687-1704), combatida pelo governo da capitania de Pernambuco e suas “anexas”;

Consequências: Controle luso-brasileiro do território, expansão das fazendas de gado, novas sesmarias, um camada de ex combatentes armados e sem
ofício vagando pelas solidões; conflitos pelo controle da mão de obra indígena (bandeirantes x missionários);

Dança dos Tarairiu (Tapuias) de Albert Eckhout


A Guerra dos Mascates (1710-1711):

Movimento inserido no bojo das “Revoltas nativistas”

Neste período o contexto era de “cicatrização” das pesadas marcas deixadas pela guerra de restauração. A Europa
vive um período de contração da economia, isso somado ao aumento da concorrência pelos preços do açúcar (de
holandeses, ingleses e franceses nas Antilhas) chega ao ponto de estagnar, quando não derrubar, o valor que os
luso-americanos conseguiam exportar de suas lavouras. A saída do crédito holandês, deixou espaço para que
portugueses reinóis entrassem no mercado (em boa parte, como representantes de sociedades inglesas); Estes
comerciantes (pejorativamente chamados de mascates) residentes no porto do Recife passaram a serem vistos com
animosidade pelos senhores de engenho (ou mazombos: filhos de portugueses nascidos na américa), quando
quiseram disputar o poder político local.

Em 1710, o governador Sebastião de Castro Caldas fez levantar um pelourinho recifense (símbolo da câmara). Em
resposta, os mazombos atentaram contra sua vida (um tiro), e de armas em punho destruíram o pelourinho e
expulsaram o governador para a Bahia.

Em 10 de novembro de 1710, o “dia do grito”, Bernardo Vieira de Melo, um dos líderes do chamado partido de
Olinda (ou pró-homens bons), intentou formar uma república separada de Portugal. Em resposta, os mascates
tomaram posições fortificadas do Recife em 1711 e as vilas permaneceram em cerco. Situação apaziguada somente
com a chegada do novo governador, Félix José Machado, que tratou de processar e condenar os envolvidos.

Heranças do conflito: rivalidades internas entre as elites açucareira e mercantil (Olinda e Recife); receio autonomista e
sentimento antilusitano; emoções que voltam a aparecer fortemente durante os conflitos do século XIX;

Recife foi elevada à condição de vila em 1710, e de sede da administração da Capitania em 1712.
Referências:
➔ ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. Companhia das Letras,
2020.
➔ ALMEIDA, Suely C. Entre a terra e o céu: irmandades leigas em Pernambuco (séculos XVIII–XIX). 2019.
➔ ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Edusp, 2007.
➔ BEZERRA, Juliana. Capitanias Hereditárias. Toda Matéria. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/capitanias-hereditarias/
➔ BOXER, C. R. Os holandeses no Brasil: 1624-1654. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 2004.
➔ CARTA de foral doando a Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho. Évora (Portugal). 27/09/1534. 11p. Cópia Ms.
Coleção de Pernambuco. Biblioteca Digital Luso-Brasileira. Disponível em:
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1428653/mss1428653.pdf
➔ CINTRA, Jorge Pimentel. Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias. In: Anais do museu paulista. São
Paulo. N. Sér. v21. n.2, p.11-45. jul-dez. 2013.
➔ DE MELLO, Evaldo Cabral. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates, Pernambuco, 1666-1715. Editora
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➔ DE MELLO, Evaldo Cabral. Imagens do Brasil holandês 1630-1654. ARS (São Paulo) [online]. 2009, v. 7, n. 13.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1678-53202009000100011
➔ DE MELLO, Evaldo Cabral. O bagaço da cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Editora Companhia das
Letras, 2012.

➔ DE MELLO, Evaldo Cabral. Olinda restaurada: guerra e açúcar no Nordeste, 1630-1654. Editora 34, 2007.

➔ FIGUEIREDO, Patrícia. Cartas do século 17 são traduzidas do tupi pela 1ª vez na história: 'Por que faço guerra com
gente de nosso sangue', escreveu indígena. G1 Portal de notícias Globo. Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/11/05/cartas-do-seculo-17-sao-traduzidas-do-tupi-pela-1a-vez-na-hist
oria-por-que-faco-guerra-com-gente-de-nosso-sangue-escreveu-indigena.ghtml

➔ LISBOA, Breno Almeida Vaz. Engenhos, açúcares e negócios na capitania de Pernambuco (c. 1655--c. 1750). Clio: Revista
de Pesquisa Histórica, n. 32.1, 2014.

➔ MIRANDA, Bruno. O último motim. Biblioteca Nacional Digital. Disponível em:


http://bndigital.bn.gov.br/dossies/historias-da-nova-holanda/o-ultimo-motim/

➔ SILVA, Kalina Vanderlei. Agência indígena na conquista do sertão: estratégias militares e tropas indígenas na ‘guerra dos
bárbaros’(1651-1704). Estudos Ibero-Americanos, v. 45, n. 2, p. 77-90, 2019.

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