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Linha dos piratas na Umbanda

Falar sobre Exu é tarefa complexa que exige muita responsabilidade. E


falar de Exu Pirata se torna ainda mais complicado pois o termo
“pirata”, quando mencionado, comumente pode se apresentar como
sinônimo de “saqueador”, alguém que “rouba”, “furta”. Obviamente é
um reducionismo olhar dessa forma, pois socialmente o termo pode
tomar outras proporções dependendo da abordagem intelectual.

Oque significa Pirata


O primeiro registro da palavra “pirata” em nossa história encontra-se
nos escritos de Homero, poeta grego que a utilizou em seu poema
épico “Odisseia” para descrever aqueles que por conta própria
pilhavam os navios e cidades costeiras.
A pirataria marítima foi praticada por diversos povos ao longo da
história, indivíduos que de um modo geral buscavam assaltar
mercadores ou donos de propriedades e itens de valor. Representaram
por muito tempo a força que opunha medo aos mercantilistas
europeus na era medieval.

Os piratas de um modo geral eram hábeis em recolher bens e riquezas


nas suas incursões no oceano. As principais riquezas que procuravam
obter eram metais preciosos (ouro e prata), dinheiro, joias e pedras
preciosas, linhos, roupas, comida, âncoras, cordas e medicamentos. A
carga pilhada aos mercadores também incluía artigos raros
como especiarias, açúcar, índigo e quinina.

Os Piratas à Margem da História


A verdade é que o arquétipo negativo que temos dos Piratas se deve
pelo fato de sua história ter sido registrada por aqueles que detinham
o poder da escrita e das ideias vigentes de suas épocas. Assim como os
escravos, os Piratas não tiveram a chance de contar suas perspectivas a
respeito de suas próprias realidades. Dessa forma, a ideologia
burguesa se encarregou de denotar como bem quisesse as ações e
condutas dos indivíduos que escolhiam viver uma realidade diferente
daquela que era imposta pelo mercantilismo medieval, ou nos tempos
ainda mais antigos como o romano e o grego.
Viver trabalhando para um patrão a vida inteira, carregando sacas de
barris nas costas, enfrentando mares e turbulências econômicas nunca
deram garantias aos cidadãos de uma vida digna. Trabalhar a preço
baixo, sendo explorado pelos interesses de Reis e Nobres, doando seu
suor por uma miséria de salário. Era essa realidade que muitas vezes
induzia um ser humano a escolher outro caminho na vida. Em tempos
de feudalismo, onde você nascia sem direito a estudar, tendo de
trabalhar junto a seus pais desde criança sem nem receber justamente
por isso, eram fatores que moviam seres humanos (com ímpeto mais
desbravador) a se conduzirem em linhas fora do "eixo padrão" imposto
de suas épocas. Assim surgiam os Piratas.

Se deixarmos nos levar pelo que a história da escola primária e do


colegial nos diz, iremos sempre olhar para os personagens do passado
sem o devido aprofundamento a respeito de suas ações. Não é à toa
que as ruas de nosso país carregam nomes de Coronéis, Generais, Reis,
Imperadores; nomes em geral de burgueses que de um modo
arbitrário validaram a escravidão e a exploração no Brasil. Sem
perceber, celebramos em estátuas os nomes de aproveitadores de mão
de obra escrava negra e indígena, de bandeirantes que impuseram a lei
de suas espadas às tribos que aqui habitavam, tudo em troca de ouro,
prata, e uns trocados com o comércio de cana de açúcar e mandioca.

A Rebeldia dos Piratas


Os Piratas foram resistentes a esse tipo de realidade quando vivos,
fugiram da escravidão, se rebelaram contra os procedimentos
oligárquicos, se negaram a efetuar as ações impostas pela igreja e pelo
absolutismo impostos de suas épocas. Não foram santos (diga-se de
passagem), mas negaram ser explorados e procuraram fazer seus
próprios destinos na medida do possível e da sorte que carregavam
consigo.
Se olharmos mais a fundo a história da humanidade, veremos que os
verdadeiros vilões sempre foram os Reis, os Imperadores, aqueles que
exerceram poder social e político entre nós, tributando a preços altos
sem nunca fornecerem nada em troca aos cidadãos. Não é a toa que
essas classes dominantes procuraram sempre pintar ao longo da
história os ciganos, os piratas e os bruxos como os errantes do sistema.
Pois essas posturas representam o livre arbítrio autônomo de pessoas
que buscaram maneiras alternativas de viverem suas vidas.

"...Ficar à mercê de Papas e Reis nunca foi algo concebível a um


Pirata..."

Exu Pirata surge nos Terreiros de Umbanda

Não é de hoje que alguns Exus e até alguns Marinheiros vem se


apresentando como Piratas dentro das Giras de Umbanda. Falam
pouco, observam muito, carregam uma sabedoria profunda a respeito
da natureza humana. Trazem esse arquétipo por mostrarem claramente
seu posicionamento ideológico, crítico e muito sensato a respeito da
realidade. Pois negam acidamente as contingências. Ou seja, trazer a
nomenclatura “Pirata” no nome nos mostra que não estão em terra
para concordar com o que já está posto no “status quo”, mas sim para
carimbar seu caráter revolucionário nos trabalhos espirituais dos quais
se propõem a participar.

"...Sua falange é Pirata pois a transformação da realidade é a sua


tônica..."

Os Piratas na Umbanda lidam com a loucura, a esquizofrenia, com o


deslocamento social daqueles que vivenciam experiências diversas e
diferentes dos padrões impostos pela sociedade. São espíritos
empreendedores, que em outras vidas foram livres pensadores que
abriram mão de viver a margem dos valores corrosivos da sociedade.
Não necessariamente foram piratas, assim como não necessariamente
Pretos Velhos foram ex escravos, assim como não necessariamente
caboclos tenham sido enfim índios. O termo Pirata mostra sua posição
em relação a materialidade social que nós humanos habitamos, e
principalmente sua regência. Sua falange é do Mar. Um guerreiro do
mar, um Ogum do mar. O renascimento de Olokun na Umbanda, do
mistério dos abismos oceânicos, dos abismos da psique humana. Tudo
validado pela cosmologia de Exu.

Foram se achegando na Umbanda assim como os Mirins se achegaram,


assim como os Baianos se achegaram, assim como Boiadeiros se
achegaram. Os Piratas surgem em chãos que lidam com abertura da
mente para novas realidades, na quebra dos passados e memórias mal
cicatrizadas para uma transformação do ser humano no que tange uma
ascendência a planos filosóficos da vida.

Alguns usam bandana, longos brincos e uma faixa branca na cintura, e


sem camisa, o que demonstra não ser militar e nem tampouco
mercante e sim um bucaneiro, um corsário ou afins.
Mulheres com saias pesadas e longas, ou calças largas e largos cintos
na cintura, bandana ou lenços nos cabelos, espada e facas nas mãos.
O surgimento de novas linhas de trabalho se deve ao amadurecimento
da Umbanda e o estudo aprofundado da liturgia, e a cada passo que
aprendemos mais, novas oportunidades se abrirão.
É inevitável que existe diversos espíritos que buscam o auxílio espiritual
e a evolução acima de tudo, um médium pode trabalhar em média
com 10, 20 guias espirituais, o que seria muito pouco mediante a
vastidão de habitantes no outro plano, com isso, novos arquétipo
surgem ou até mesmo a individualidade dos mesmos, como os
tropeiros que já mencionei, a linha dos marinheiros, a linha dos
malandros, dos quais muitos são muito parecidos com baianos, exus
ou até mesmo juremeiros, e agora essa subdivisão da linha das águas,
a linha dos piratas.

No universo umbandista, ainda são poucos os médiuns que


manifestam esta linha de trabalhos à esquerda, tão rica e que muito
pode contribuir para a sua própria evolução, bem como para a
daqueles que os procuram nos trabalhos espirituais, nas casas
religiosas. E isso ocorre, invariavelmente, pela escassez de informações
e desconhecimento acerca do mistério ao qual servimos.

Algumas casas particularmente já trazem essa linha antes ou depois do


trabalho dos marinheiros, existem poucos pontos também em torno da
linha, mas se for mais uma vasta falange de bons trabalhadores, que
sejam bem vindos, por que não?
Muitos trabalham com elementos mais densos como pólvoras, velas
escuras, bebidas mais fortes e charuto. Assim é a forma de trabalho
dos piratas da Umbanda, trazem a polaridade negativa de toda a
energia aquática.
Mensagem recebida por André Cozta
Rio de Janeiro- 1º de agosto de 2018- 15:31h

Somos guardiões desse campo e estamos à esquerda dos marinheiros e


marinheiras. Você pode estar certo que: onde houver um marinheiro
trabalhando, em qualquer templo umbandista, haverá sempre um ou mais
piratas atuando na guarda daquele trabalho, mesmo que o dirigente ou os
médiuns não saibam.

Piratas (do Mar, do Tempo, dos Ventos etc) em sua atuação na Natureza, estão
assentados em alto mar (mas também nos rios e por onde passarem
embarcações de espíritos negativados) e são manifestadores de uma linha
espiritual que resgata aqueles que se negativaram na Geração (mas também no
Amor e em outros campos) e ficaram presos às suas amarras conscienciais no
polo negativo das águas. Também são aqueles que para estes campos
encaminham os espíritos que ousam profanar, desrespeitar ou negativar
qualquer mistério divino, principalmente, o sustentador Mistério da Vida.

Aos dirigentes umbandistas, um recado: estamos à disposição de vossas casas, a


fim de auxiliar a todos os trabalhadores na ordenação e equilíbrio dos trabalhos.
Você, médium de Umbanda, converse com seus mentores e não se surpreenda
se lhe apresentarem aquele Exu Pirata que comanda esta linha em sua egrégora.

Agradeço a oportunidade que me foi dada neste momento pelos Senhores do


Cruzeiro das Almas, para poder falar um pouco sobre nós e nosso trabalho.

Eu sou o Exu Pirata do Tempo!

A Regência de Exu Pirata

Regidos por Exu e Yemanjá, e secundariamente por Ogum e Xangô,


porém sempre quando chegam costumam dizer: “Salve o Sr. do Fundo
do Mar” (a vibração original dos piratas é de Olokun, Pai de Yemanjá,
segundo a cultura Nagô Yorubá).
Os Exus Piratas são uma espécie de Hobbin Woody da espiritualidade,
aquele que é capaz de tirar dos ricos para doar aos necessitados. Claro
que isso é uma expressão representativa de seu poder energético
reequilibrador de realidades, reparador de injustiças sociais.
Assim, quem tem a oportunidade de conhecer, atuar ou ser atendido
por um Exu Pirata na Umbanda tenha certeza de estar diante de um
bom guia de revolução interior e de autoconhecimento humano.
"...Exu Pirata é Rei do Mar, do Mar Rei Ele é!
Traz Amor e Valentia, para os seus filhos de Fé!..."

Laroyê Exu Pirata!!!

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