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Guia da OMS (WHO) sobre serviços

comunitários de saúde mental


APRESENTAÇÃO

Idealizado e projetado pela equipe CENAT (Centro Educacional Novas Abordagens


Terapêuticas), o trabalho aqui apresentado é o resultado da síntese e tradução do
documento fornecido pela OMS - Guidance on community mental health services.
Escrito por Matheus Iotti - graduando em Letras Português pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e Redator do Centro Educacional Novas
Abordagens Terapêuticas (CENAT) – revisado e editado por Pablo Valente -
Administrador, Membro da Intervoice Brasil, Membro da IMHCN e Diretor do Cenat
- o Ebook O que é a saúde mental segundo a OMS (WHO)? pretende introduzir o
debate sobre novas práticas em saúde mental no cenário mundial.
Assim, este Ebook destina-se às pessoas interessadas pela reformulação do cuidado,
atendimento e promoção de saúde mental aos usuários do sistema e visa orientar os
profissionais da área da saúde sobre os conceitos e tendências mundiais que a área da
saúde mental vêm passando atualmente.
Dessa forma, o conteúdo que aqui propomos será apresentado da seguinte maneira:
Introdução ao conceito de saúde mental adotado pela OMS (Capítulo 1), apresentação
das instituições que servem de exemplos para o cuidado em saúde mental (Capítulo
de 2 a 6), apresentação da concepção holística de tratamento em saúde mental
(Capítulo 7), exemplos de serviços em redes (Capítulo 8) e ações para a promoção da
Saúde Mental Pública (Capítulo 9).
Ao longo da exposição do conteúdo, fazemos uma série de recomendações para que
você possa se aprofundar no estudo do tema ou instituição que mais lhe chamou a
atenção.
Todas as referências são fornecidas integralmente pelo próprio documento da OMS
- Guidance on community mental health service, que será fornecido no final do
Ebook.
Esperamos, com a produção desse Ebook O que é a saúde mental segundo a OMS
(WHO)?, que o livro possa auxiliar nos seus estudos e incentivar o debate de pautas
de fundamental importância para o cenário da saúde mental.

Boa leitura :)

SUMÁRIO

1. O que é a saúde mental segundo a OMS (WHO)?………………… 05


1.1. O contexto global…………………………………………………………… 08

1.2. Os principais padrões internacionais de direitos humanos e a abordagem do Recovery


na saúde mental…………………………………………………… … 09

1.3. Áreas críticas para os serviços de saúde mental promoverem os direitos para as pessoas
com vulnerabilidades psicossociais…………………………………… 11

1.4 – Conclusão…………………………………………………………………….. 13

2. Serviços de atenção à crise em saúde mental………………………. 14


2.1 Afiya House Massachusetts (United States of America).………………………. 16
2.2 - Link House Bristol, United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland…19
2.3 - Open Dialogue Crisis Service Lapland, Finland…………………………… 22
2.4 - Tupu Ake South Auckland, New Zealand………………………………. 25

3. Serviços comunitários em saúde mental …………….……………… 29

3.1. Aung Clinic Yangon, Myanmar……………………………………….. 31

3.2. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) III Brasilândia, São Paulo, Brasil… 32

3.3. Phoenix Clubhouse Hong Kong Special Administrative Region (SAR),


China………………………………………………………………………………...34
4. Serviços de saúde mental no apoio de pares…………………… 36
4.1. Hearing voices support groups…………………………………………….. 37
4.2. Nairobi Mind Empowerment Peer Support Group USP Keny………………. 39
4.3. Peer Support South East Ontario, Canadá…………………………………….. 40

5. Instituições que trabalham com atendimento na comunidade em


saúde mental………………………………………………………… 42

5.1. Atmiyata Gujarat – Índia……………………………………………….. 44

5.2. Friendship Bench – Zimbabwe…………………………………………. 46

5.3. Home Focus West cork – Ireland……………………………………….. 47

5.4. Naya Daur West Bengal – Índia………………………………………….. 49

5.5. Personal Ombudsman – Suécia…………………………………………….. 51

6. Serviços de inserção social na comunidade em saúde mental……… 53

6.1. Hand in Hand supported living, Georgia……………………………….…. 55

6.2. Home Again chennai, India………………………………………………....57

6.3. KeyRing Living Support Networks………………………………………… 59

6.4. Shared Lives south east Wales, United Kingdom of Great Britain and Northern
Ireland……………………………………………………………………………… 61

7. Saúde mental e o acesso à educação, moradia e emprego………….. 63

7.1. Moradia…………………………………………………………………. 64

7.2. Educação e treinamento…………………………………………………… 66

7.3. Geração de emprego e renda………………………………………………. 68

7.4. Proteção social………………………………………………………………. 71

7.5. Conclusão………………………………………………………….………. 72

8. Serviços na Comunidade em Saúde Mental………………………… 73


8.1. Redes abrangentes de saúde mental consolidadas…………………………… 74

8.2. Rede de Serviços Comunitários de Saúde Mental no Brasil………………… 75

8.3. East Lille Community Mental Health Service Network – France………….78

8.4. Trieste community mental health service network – Italy………………… 80

8.5. Redes abrangentes de saúde mental em transição…………………………… 82

9. Ações para a promoção da Saúde Mental Pública………………… 85

9.1. Política e estratégia para saúde mental…………………………………….. 87

9.2. Reformas legislativas…………………………………………………….…. 89

9.3. Modelo de serviço para saúde mental com base na comunidade…………… 91

9.4. Financiamento………………………………………………………………. 93

9.5. Desenvolvimento e treinamento da força de trabalho……………………… 95

9.6. Intervenções psicossociais, intervenções psicológicas e uso de drogas


psicotrópicas……………………………………………………………………… 97

9.7. Sistemas de informação e dados…………………………………………….. 99

9.8. Sociedade civil, pessoas e comunidade……………………………………… 101

9.9. Pesquisa científica………………………………………………………….. 103

10. Conclusão……………………………………………………… 105


1. O que é a saúde mental segundo a OMS (WHO)?
Nos últimos tempos, os conceitos e as práticas de saúde mental sofreram mudanças
para abraçar os direitos daqueles que sofrem com crises ou transtornos psicológicos.
Durante o século XX foram feitas inúmeras denúncias no mundo inteiro acerca do
cuidado violento adotado por instituições psiquiátricas. Assim, depois de muitas lutas
para alcançarmos a reforma no sistema psiquiátrico, governos, instituições não-
governamentais e empresas privadas reconheceram a necessidade de buscarmos
práticas alternativas para o cuidado em saúde mental.
Dessa forma, a partir do século XXI, vários documentos foram emitidos para orientar
novos cuidados que respeitem os direitos humanos daqueles que sofrem de transtornos
ou crises.
Nesse sentido, hoje nós trazemos um documento de extrema importância que vêm
sendo utilizado no mundo inteiro para que alcancemos novas práticas em saúde mental
que sejam boas para o indivíduo inserido dentro do contexto social.
Subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial da
Saúde (WHO) é uma agência especializada em saúde que vêm lutando pela mudança
do cenário mundial em saúde mental.
Assim, no dia 26 de Maio de 2021, a organização (WHO) publicou em seu site um
documento normativo para promover abordagens em saúde mental centradas nos
direitos humanos. Através da orientação principal do Guidance and technical packages
on community mental health services podemos obter importantes informações sobre
como desenvolver e transformar os sistemas e serviços de saúde mental para se alinhar
aos padrões internacionais de direitos humanos.
Por isso, pela importância singular que o documento possui para a sociedade mundial,
nós iremos sintetizar os temas contidos no documento para que essas práticas,
discussões e sistemas façam parte da nossa realidade nacional também.
Para aqueles(as) que quiserem ler o documento na íntegra em inglês, o acesso ao
material será disponibilizado no final do Ebook.
1.1 - O contexto global

Em 2013, na assembleia da organização mundial da saúde foi embasado o Plano de


ação abrangente de saúde mental com duração de 7 anos. Este plano de ação reconhece
o papel essencial da saúde mental em alcançar a saúde para todas as pessoas e, em 2020
foi estendido até 2030 na septuagésima segunda Assembleia Mundial da Saúde.
Junto com o desenvolvimento sustentável, a agenda de saúde mental assume
protagonismo nas políticas internacionais de desenvolvimento, com o objetivo de até
o ano estabelecido, 2030, reduzir em pelo menos 1/3 reduzir em um terço a mortalidade
prematura por doenças não transmissíveis (DNTs) derivadas de transtornos
psicológicos por meio da prevenção e promoção da saúde mental e bem-estar.
Como resultado, os governos do mundo inteiro vêm sendo pressionados pelas
instituições (OMS/WHO) a adotarem estratégias para a execução do Plano em Saúde
Mental, fazendo com que muitos desafios do século passado sejam superados pelos
planos de ação do século XXI.
Porém, o cenário ainda está longe de alcançar plenitude; pois, de acordo com a OMS
Mental Health Atlas 2017, globalmente, a média de gastos dos governos com saúde
mental representa menos de 2% do total de investimentos com saúde, taxa ainda
extremamente baixa frente às necessidades.
Embora muitos serviços de saúde mental em todo o mundo se esforcem para fornecer
cuidados de qualidade e apoio útil para pessoas com vulnerabilidades em saúde mental,
eles frequentemente o fazem no contexto de restrições substanciais em recursos
humanos e financeiros, sendo que alocar recursos financeiros é uma pré-condição para
que os serviços de saúde mental forneçam o suporte adequado para atender as
necessidades da sociedade.
De qualquer forma, a promoção de saúde mental vai muito além do fornecimento
financeiro às instituições. Na verdade, em muitos serviços em todo o mundo, as formas
atuais de provisão de saúde mental são consideradas parte do problema, já que o
fornecimentos de recursos são destinados à aplicação tradicional do atendimento em
saúde mental, mantendo a exclusão social e a ampla gama de violão de direitos.
Assim, além do fornecimento de recursos para as instituições de saúde, é de
fundamental importância o investimento adequado nas instituições de ensino para que
os profissionais da saúde mental tenham uma formação capacitadora para a geração de
saúde que os novos parâmetros da saúde mental exigem.

1.2 - Os principais padrões internacionais de direitos humanos e a


abordagem do Recovery na saúde mental

Os

instrumentos internacionais de direitos humanos estabelecem parâmetros para os países


respeitarem, protegerem e cumprirem os direitos e liberdades fundamentais para todas
as pessoas e, assim, fornecem uma base crítica para acabar com o status quo tradicional
e assim promover ações que respeitem os direitos das pessoas com vulnerabilidades
mentais.
Em 2008, entrou em vigor a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência (CDPD), o que sem dúvida marca a contribuição mais
significativa para fazer avançar a agenda e garantir o pleno respeito pelos direitos das
pessoas com vulnerabilidades na saúde mental. Ressaltando a necessidade urgente de
estabelecer proteções aos direitos humanos das pessoas com deficiência, a Convenção
foi o instrumento de direitos humanos negociado com mais rapidez e um dos mais
ratificados, até o momento, 181 Estados Partes concordaram em obedecer a suas
disposições, que, em termos gerais, são:
• abolir leis, políticas, regulamentos, costumes e práticas discriminatórias
• adotar políticas, leis e outras medidas que concretizem os direitos reconhecidos
na Convenção.

Nas últimas três décadas, o surgimento da abordagem do Recovery foi de


fundamental importância para a promoção dos direitos humanos em saúde mental. Essa
abordagem, que teve suas raízes no ativismo de pessoas com experiência de vida dentro
dos sistemas psiquiátricos, recebeu amplo apoio dos Estados Membros da OMS no
Plano de Ação de Saúde Mental Abrangente da OMS.
Para muitas pessoas, recuperação significa recuperar o controle de sua identidade e
vida, ter esperança para sua vida e viver uma vida que tenha significado para elas, seja
por meio do trabalho, relacionamentos, espiritualidade, envolvimento comunitário ou
alguns ou todos esses. A abordagem do Recovery visa abordar toda a gama de
determinantes sociais que afetam a saúde mental das pessoas, incluindo
relacionamentos, educação, emprego, condições de vida, comunidade, espiritualidade,
atividades artísticas e intelectuais, enfatizando a necessidade de colocar questões como
conexão, significado e valores no centro da discussão sobre saúde para abordar
holisticamente os aspectos que envolvem o cuidado.
Vale ressaltar que o significado da recuperação pode ser diferente para cada pessoa
e, portanto, cada indivíduo pode se relacionar diferentemente com o método Recovery,
sendo assim uma oportunidade do sujeito definir o que a recuperação significa para ele.
A abordagem de recuperação, dessa forma, incorpora uma mudança completa de
paradigma na forma como muitos serviços de saúde mental são concebidos e
administrados, sendo considerado um conceito revolucionário não só para a saúde
mental, como também para a saúde pública.
1.3 - Áreas críticas para os serviços de saúde mental promoverem os
direitos para as pessoas com vulnerabilidades psicossociais.

O objetivo de prestar melhores serviços às pessoas com vulnerabilidades mentais


requer mudanças fundamentais na forma como os serviços conceituam e prestam
cuidados. O direito à saúde detalhado na CDPD exige que os governos proporcionem
às pessoas com o acesso a serviços de saúde mental de qualidade que respeitem seus
direitos e dignidade. Isso significa operacionalizar uma abordagem centrada na pessoa,
baseada no Recovery e nos direitos humanos, desenvolvendo e fornecendo serviços
que as pessoas queiram usar, em vez de serem coagidas a fazê-lo. Significa, também,
estabelecer serviços que promovam a autonomia, estimulem a cura e criem uma relação
de confiança entre quem presta e quem recebe o serviço, promovendo participação e
inclusão.
A Convenção exige que os Estados acabem com todos os sistemas de tomada de
decisão coerciva e substitua-os por sistemas assistências, para que assim as pessoas
possam tomar suas próprias decisões formais e informais do dia a dia em igualdade de
condições com as demais. Em situações de crise ou de extrema vulnerabilidade o
sistema de saúde deve adotar a postura assistêncial de fornecer o auxílio para que a
pessoa tenha a condição de decidir o que fazer, e não impor algo pela legitimação
profissional que o cargo oferece.
Embora desafiador, os países devem alinhar práticas que dão preferência às vontades
individuais das pessoas, garantindo o seu consentimento para a promoção de cuidados
que o profissional da saúde mental pretende alcançar.
Um método de tomada de decisão com suporte que pode ser implementado envolve
a nomeação, pela pessoa em questão, de um companheiro ou companheira de confiança
para fornecer suporte na ponderação de diferentes opções e decisões. A pessoa ou grupo
de confiança também pode ajudar a comunicar para a equipe profissional as decisões
escolhidas e, se apesar dos esforços significativos não for possível determinar a
vontade e preferência da pessoa, então é apresentada para o indivíduo ou responsável
uma proposta de tomada de decisão pela equipe profissional.
Para a criação de serviços livres de coerção são necessárias ações em várias frentes,
incluindo:
i. educação aos servidores de saúde sobre relações de poder e hierarquização;
ii. reflexão sobre os danos prejudiciais das práticas coercivas;
iii. treinamento sistemático para todos os funcionários práticas alternativas de
cuidado em situações de crise;
iv.. planejamento individualizado com as pessoas que usam o serviço, incluindo
planos de crise e diretrizes antecipadas;
v. modificação do ambiente físico e social da unidade de saúde para criar uma
ambiente acolhedor;

Um papel crítico para os serviços de saúde mental é, portanto, apoiar as pessoas no


acesso a organizações e atividades relevantes de sua escolha, que podem ajudá-las a
viver e serem incluídas na comunidade. Isso inclui, por exemplo, facilitar o acesso a
serviços e benefícios de lazer, oportunidades educacionais, moradia e emprego, já que
todos esses fatores são relevantes para o bem-estar da saúde mental.
Assim, os serviços orientados para a recuperação (consulte os módulos de
treinamento QualityRights da OMS) geralmente se concentram nas cinco dimensões a
seguir:

• Conectividade: Este princípio significa que as pessoas precisam ser incluídas em


sua comunidade em pé de igualdade com todas as outras pessoas.
• Esperança e otimismo: afirmação de que viver uma vida plena na presença ou
ausência de "sintomas" é possível.
• Identidade: A abordagem de recuperação pode ajudar as pessoas a apreciarem quem
são, fortalecer seu senso de auto-estima. Baseia-se no respeito pelas pessoas e por sua
identidade única e capacidade de autodeterminação.
• Significado e finalidade: Envolve respeito por formas de cura que podem ir além
de intervenções biomédicas ou psicológicas.
• Fortalecimento: O empoderamento tem estado no cerne da abordagem desde as suas
origens e postula que o controle e a escolha são centrais para o bem-estar.

1.4 - Conclusão

A implementação de uma abordagem baseada em direitos humanos e recuperação


requer que os serviços abordem os determinantes sociais da saúde mental, respondendo
às necessidades imediatas e de longo prazo das pessoas. Isso inclui apoiar as pessoas a
ganhar ou recuperar significado e propósito na vida e ajudá-las a explorar todas as áreas
importantes para o desenvolvimento de bem-estar, incluindo relacionamentos, trabalho,
família, educação, espiritualidade, atividades artísticas, intelectuais, política e assim
por diante.
Nesse contexto, os serviços de saúde mental precisam respeitar a capacidade legal
das pessoas, incluindo suas escolhas e decisões relativas ao tratamento e cuidados. Eles
precisam encontrar maneiras de apoiar as pessoas sem recorrer à coerção e garantir que
pessoas com experiência vivida participem e forneçam percepções sobre como deve
ser um bom serviço de atendimento assistencial.
Por fim, os serviços de saúde mental também devem se valer da perícia e da
experiência de colegas trabalhadores para apoiar outras pessoas em sua jornada de
Recovery de uma forma que atenda às suas necessidades, desejos e expectativas.
Existem muitos desafios para realizar esta abordagem dentro dos recursos, políticas
e restrições legais que muitos serviços enfrentam. No entanto, existem vários exemplos
de serviços de saúde mental de diferentes regiões do mundo que mostram
concretamente que isso pode ser feito.
2- Serviços de atenção à crise em saúde menta

Nessa secção vamos mostrar uma seleção de serviços que fornecem atendimento e
apoio na atenção à crise sem recorrer ao uso da força ou da coerção, respeitando o
direito à capacidade do indivíduo e uma série de outros direitos relacionados à
liberdade.
Isso não significa dizer que os serviços de saúde mental descritos neste guia
pretendem ser interpretados como as melhores práticas, mas sim pretendem demonstrar
o potencial amplo que os serviços de saúde mental baseados na comunidade podem
promover para a garantia aos direitos humanos e para o processo de recovery.
A intenção é apresentar um menu de opções de boas práticas para que nós possamos
nos adaptar para se adequar às realidades de cada cenário.
Assim, cabe a nós aprendermos os princípios e as práticas que norteiam esses
serviços para refletirmos e encontrarmos em grupo as melhores práticas para cada
Estado, município, instituição ou grupo.
Dessa forma, o guia deve ser visto como um caminho que podemos tomar para
decidir o que devemos e não devemos fazer na nossa comunidade, dentro da nossa
realidade.
2.1 Afiya House Massachusetts (United States of America)

Inaugurada em 2012, a Afiya House é o único refúgio existente no oeste de


Massachussetts. O serviço está disponível para qualquer pessoa maior de 18 anos
que passa por um sofrimento emocional ou mental significativo, para uma estadia de
até sete noites.
Isso inclui pessoas até mesmo aqueles que vivem sem casa, mas a falta de moradia
não é uma razão independente para permanecerem além do intervalo.
Indivíduos que precisam de cuidados pessoais práticos ou que precisam de ajuda com
a administração de medicamentos, geralmente, não são elegíveis, a menos que tenham
algum acompanhante externo para realizar a assistência.
As pessoas que ficam na Afiya House são automaticamente conectadas com todas as
outras atividades da Wildflower Alliance, e todas as pessoas que trabalham na Afiya
House são consideradas funcionários da Aliança.
Todos que ficam na Afiya podem entrar e sair livremente para continuarem sua
programação regular a fim de frequentarem escola, trabalho, obrigações e outros
compromissos da comunidade.
A casa pode acomodar três pessoas a qualquer momento em quartos privativos, com
acesso a cozinha e alimentos básicos, salas comuns e recursos como livros, materiais
de arte, instrumentos musicais, tapetes de ioga, etc.
– Princípios e valores fundamentais da instituição:

• Respeito pela capacidade legal

Afiya enfatiza a importância da escolha e da autodeterminação ao fornecer apoio aos


pares. Ao entrar na trégua, as pessoas são informadas sobre questões de direitos
humanos; eles também são informados do oficial de direitos humanos de Afiya e de
contatos terceirizados, a quem eles podem acessar se pensarem que estão sendo
maltratados de alguma forma.
Os serviços de emergência de saúde mental nunca são chamados pela equipe, a menos
que os próprios indivíduos identifiquem esse serviço como sua opção preferida.
Sofrimento emocional, pensamentos ou mesmo um plano de suicídio não são
considerados uma emergência médica, e a equipe é treinada para apoiar as pessoas
nessas situações, usando o Apoio Intencional dos Pares e as abordagens Alternativas
ao Suicídio.
As pessoas hospedadas em Afiya podem, opcionalmente, preencherem uma folha de
contato e suporte preferencial, no entanto, as informações são consideradas como
propriedade do indivíduo, juntamente com quaisquer planos pessoais que possam ser
desenvolvidos dentro do atendimento.
Além disso, a casa não divulga os nomes das pessoas que lá se hospedam.

• Práticas não-coercitivas

O período de residência na Afiya House é totalmente voluntário e a decisão de ser


iniciado é feito pela pessoa que realizará o tratamento.
Para evitar interações historicamente enraizadas em desequilíbrios de poder e
coerção, os membros da equipe não recebem qualquer tipo de medicalização e, em vez
disso, recebem uma caixa que fica trancada em seu quarto onde podem armazenar seus
próprios medicamentos e outros objetos pessoais.
Além disso, os serviços de polícia ou ambulância só são contatados sem o
consentimento do indivíduo em caso de emergência médica (como um ataque cardíaco,
ser encontrado inconsciente, overdose de drogas, etc.), ou se houver uma ameaça grave
de violência.
Se tal situação ocorrer, os membros da equipe subsequentemente realizam uma
revisão interna.
Em 2015, ocorreu um incidente violento como resultado de uma tentativa de roubo;
mas, além desse, não houve nenhum outro. Os funcionários são treinados usando o
modelo de suporte Validation, Curiosity, Vulnerability, Community (VCVC) como
abordagem para o manejo de situações nas quais uma pessoa está muito zangada e
violenta.

• Inclusão

A Afiya House reconhece a importância da inclusão na comunidade como um


componente chave para oferecer apoio às pessoas que estão hospedadas na casa.
Assim, conseguem explorar os vários recursos que a comunidade local oferece,
incluindo recursos espirituais, esportivos ou educacionais.
Além disso, a capacidade das pessoas entrarem e sairem livremente da instituição
também ajuda a iniciar ou manter laços importantes que podem se estabelecer no
trabalho, na escola ou em outros locais de lazer.
As pessoas que ficam em repouso são incentivadas a se conectarem com a família,
amigos e / ou outros provedores e apoiadores de sua confiança e, para ajudar nisso, os
membros da equipe podem auxiliar a situação comunicativa e facilitar os diálogos entre
os pares.
A Afiya House também tem parceria com outros serviços da Wildflower Alliance,
incluindo aqueles relacionados a habitação e sem-teto.
Wildflower Alliance opera quatro centros de recursos e oferece muitos workshops e
eventos baseados na comunidade relacionados à educação, defesa, apoio de pares e
cura alternativa, empregando uma série de “pontes da comunidade”.

• Recovery

A Afiya House não força os indivíduos a criarem um plano de recovery, mas eles
pedem a todas às pessoas que ficam na casa o preenchimento um formulário que
descreve resumidamente o que esperam alcançar durante a estadia.
As esperanças podem incluir algo tão simples como regular seu horário de sono, mas
também podem ser mais detalhadas e incluir o desenvolvimento de um plano de bem-
estar pessoal.
Além do suporte oferecido pela equipe de pares, a abordagem de recuperação faz uso
da Comunidade de Aprendizagem de Recuperação ponto a ponto mais ampla do
Wildflower que permite o acesso a centros de recursos da comunidade e grupos durante
e após sua estadia.
Entre Julho de 2016 e Junho de 2017 houveram 174 estadias na Afiya House e, desses
174 casos, em um relatório feito por uma pesquisa de avaliação anônima realizada por
pessoas entrevistadas antes de sua partida, foi indicado que os usuários da Afiya House
preferiam o ambiente proporcionado pela instituição ao em vez das casas de repouso
tradicionais e clínicas.
Em comparação com hospitais e outros locais clínicos, os indivíduos relataram que
se sentiram mais bem-vindos em Afiya e que as informações foram comunicadas de
forma mais transparente. A maioria relatou que Afiya teve um impacto positivo em
suas vidas.
Em termos de atender às expectativas de cada indivíduo para a sua estadia, 86% dos
entrevistados relataram que a estadia proporcionou pelo menos uma esperança. As
pessoas que ficaram na casa também relataram sentir que os membros da equipe da
Afiya House realmente se importavam e se sentiam conectados com eles e a outros
usuários do serviço.
Para conhecer um pouco mais sobre a instituição, acesse:]

Afiya House – https://www.youtube.com/watch?v=9x8h3LvEB04

2.2 – Link House Bristol, United Kingdom of Great Britain and Northern
Ireland
Um centro residencial de crise para mulheres de 18 anos ou mais, Link House foi
estabelecido com o objetivo principal atender as mulheres em crise.
A instituição ajuda mulheres a lidarem com a crise desenvolvendo a capacidade da
resiliência. O serviço é operado pela Missing Link, a maior provedora de serviços de
saúde mental e habitação somente para mulheres em Bristol.
A casa, com cozinha e jardim partilhados, tem capacidade para abrigar até 10
mulheres de cada vez, que podem ficar no máximo pelo intervalo de quatro semanas.
O serviço aceita toda e qualquer mulher, incluindo aquelas que estão sob tratamento
legal ou recebendo alta dos cuidados psiquiátricos. Mulheres com deficiências
cognitivas e físicas também são bem-vindas se puderem cuidar de suas próprias
necessidades e cuidados pessoais.
A entrada no serviço pode ser feita por meio de auto-referência, serviços de crise e
recuperação ou médicos de clínica geral (GPs).
Para pessoas com psicose, pensamentos suicidas, bem como problemas com o uso de
álcool e outras substâncias, são aceitas se estiverem fazendo um bom progresso em
direção à recuperação.
As pessoas que ficam na Link House têm seu próprio funcionário de suporte dedicado,
e a equipe está disponível dia e noite.
Não há equipe médica, já que todos os funcionários recebem treinamento básico em
estratégias de recuperação e apoio, bem como são consciencializados sobre temas
como o suicídio e primeiros socorros em saúde mental.
A equipe apoia as mulheres para a criação de um programa cotidiano personalizado
e com habilidades relacionadas ao autocuidado, autonomia, culinária, administração
do tempo, relacionamentos e emprego.
Programas de recovery em grupo são oferecidos várias vezes por semana, juntamente
com as atividades diárias.
As mulheres são livres para sair de casa por conta própria, mas devido a limitações
de espaço na instituição, as visitas são limitadas.

– Princípios e valores fundamentais da instituição:

• Respeito pela capacidade legal

Ouvir quem utiliza o serviço da instituição para promover a autodeterminação são


elementos essenciais da filosofia da Link House.
Todas as atividades do serviço são orientadas pelos valores fundamentais de respeito
e compreensão, realizando ações de acordo com as preferências de cada mulher que
utiliza o serviço.
No geral, as usuárias do serviço podem continuar suas vidas, com o Link House em
segundo plano como uma rede de segurança.
Assim, as atividades são adaptadas para ajudar as mulheres a articularem seus
próprios objetivos; por exemplo, a equipe pode ajudar a usuária a encontrar um
advogado para se juntarem a elas durante uma consulta médica, caso haja algum
problema judicial acontecendo em sua vida.
Se os usuários do serviço estiverem insatisfeitos com o Link House, a Missing Link
tem um procedimento de reclamações para permitir que as usuárias sejam ouvidas e
possam fazer críticas ou denúncias, caso necessário.

• Práticas não-coercitivas
O acesso ao Link House é sempre voluntário. Durante a avaliação inicial, é tomado
o cuidado para garantir que a mulher que solicita o serviço esteja genuinamente
interessada por conta própria em permanecer na casa.
Embora estimuladas a seguirem uma rotina durante a internação, as usuárias do
serviço não são obrigadas a fazê-lo e não há uso de práticas restritivas.
As mulheres que ficam na Link House ficam encarregadas de sua própria medicação;
os membros da equipe não estão envolvidos no monitoramento, administração ou
diagnosticação de medicamentos.
Se uma pessoa decidir não tomar medicação, isso não terá implicações para sua
permanência em Link House, a menos que sua situação de saúde mental se deteriore a
ponto de fazer com que ela, ou outras pessoas, se sintam inseguras.

• Inclusão

Significativamente, a Link House incentiva as mulheres da casa à continuarem com


suas atividades regulares na comunidade e busca conectá-las ativamente a diferentes
serviços comunitários com base em seus desejos, incluindo outros serviços da rede
Missing Link.
Esses serviços incluem uma ampla variedade de outros programas de emprego e de
apoio à saúde mental para mulheres, bem como uma variedade de alojamentos
apoiados, alojamento em grupo e alojamentos provisórios.
Dentro da Link House, há uma ênfase em fornecer um ambiente inclusivo, as
mulheres que usam o serviço são incentivadas a interagirem e a realizarem atividades
em conjunto em sessões de grupo organizadas que são realizadas de duas a três vezes
por semana.

• Recovery

Link House usa um modelo de recovery de assistência social, enfatizando uma


abordagem baseada nos pontos fortes, nas experiências vividas e pela
autodeterminação individual.
Assim, o processo de recovery se concentra na igualdade, sensibilidade cultural e
visão holística do grupo para
fornecer suporte flexível
ajudando as mulheres a se
reconectarem com suas vidas.
Todos os funcionários são
treinados em práticas reflexivas
e abordagens informadas sobre
traumas para ajudarem as
mulheres a desenvolverem
estratégias de enfrentamento que
podem ajudá-las no processo.
Os Planos de Ação de Recovery de Bem-Estar Individual são usados para todas as
mulheres que passam pelo serviço (88% das usuárias dos serviços consideram isso útil),
e a equipe personaliza as atividades em torno dos objetivos de cada indivíduo.
Para apoiar ainda mais as usuárias do serviço, seus prestadores de cuidados atuais
também são integrados aos planos, além de incentivarem as mulheres a desenvolverem
um gráfico Recovery Star próprio, para identificar as áreas de suas vidas que desejam
melhorar. Assim, quando saírem do Link House, elas podem revisitar o gráfico para
ver o progresso que fizeram.
Quando as mulheres deixam a Link House, elas são solicitadas a preencherem uma
pesquisa de feedback de saída e, em 2017–2018, a Link House apoiou 150 mulheres e
das 122 entrevistadas, 99% disseram que acharam sua estadia uma experiência útil, 99%
disseram que o apoio atendeu às suas necessidades, 94% disseram que sentiram que
sua saúde mental melhorou, 100% acharam as atividades e sessões de grupo úteis e
100% disseram que recomendariam a um amigo, mostrando o sucesso que a instituição
faz na promoção da saúde mental.
Para conhecer um pouco mais sobre ela, acesse o link e assista ao vídeo:
Sara Gray – YouTube
2.3 - Open Dialogue Crisis Service Lapland, Finland

O serviço de
atendimento ao domicílio e crise Open Dialogue está sediado no Hospital Keropudas,
na cidade de Tornio, e é coordenado e administrado pelo Ambulatório Keropudas.
Atualmente, atende toda a Lapônia Ocidental e se coordena com outras clínicas e
serviços ambulatoriais da região.
O Hospital Keropudas concentra-se exclusivamente no atendimento à saúde mental
e oferece internação em todos os municípios da Lapônia Ocidental com uma unidade
psiquiátrica de 22 leitos.
A equipe de atendimento a crises do Open Dialogue é composta por 16 enfermeiras,
assistente social, psiquiatra, psicóloga, terapeuta ocupacional e secretária.
Médicos estagiários e colegas também participam do trabalho da clínica, que atende
uma média de 100 novos indivíduos por mês como parte do serviço público de saúde
finlandês.
O serviço de crise na saúde mental visa fornecer uma intervenção baseada em
psicoterapia para indivíduos que apresentam um quadro de, incluindo aqueles com
sintomas psicóticos, disponível 24 horas por dia, sete dias por semana.
O serviço constitui o ponto de contacto único para situações de crise na Lapónia
Ocidental e visa responder a cada encaminhamento imediatamente, e sempre no prazo
de 24 horas, a menos que a pessoa envolvida solicite especificamente um atraso.
Os principais aspectos de valor agregado do serviço são sua flexibilidade, mobilidade
e a continuidade do atendimento pela equipe de suporte, trabalhando para minimizar o
uso de medicamentos e garantir que as pessoas tenham suas opiniões respeitadas sendo
centrais em todas as discussões e decisões sobre seus cuidados.
O Open Dialogue tenta promover o potencial do cliente para a autoexploração,
autoexplicação e autodeterminação.

–Princípios e valores fundamentais da instituição:

• Respeito pela capacidade legal

Um princípio central do Diálogo Aberto é que as decisões de tratamento são


determinadas pela pessoa que usa o serviço e a equipe de tratamento está totalmente
disponível para fornecer o apoio que desejarem.
Ao criar condições para um verdadeiro diálogo, o serviço visa promover a dignidade
da pessoa e o respeito pela sua capacidade jurídica.
Os membros da equipe trabalham para criar uma situação em que todas as vozes
sejam ouvidas igualmente e os planos de cuidados terapêuticos surjam desse diálogo.
A equipe de crise do Open Dialogue também busca estar atenta aos diferenciais de
poder envolvidos em momentos de crise, que podem ter o efeito de minar a
oportunidade de quem utiliza o serviço articular suas necessidades e preferências.
O serviço aborda a questão do poder, pensando em como gerir e minimizar os seus
desequilíbrios na formação e supervisão dos membros da equipe.

• Práticas não-coercitivas

O serviço de crise trabalha para evitar intervenções coercivas, procurando diminuir


a escalada de situações tensas.
Pessoas que se recusam a tomar medicamentos não são ameaçadas de internação e
há negociação para encontrar uma solução segura e agradável para esses casos.
A equipe de serviço é treinada em Gerenciamento de Agressão Real ou Potencial
como uma intervenção de descalonamento.
No entanto, apesar dos processos em vigor para evitar práticas coercivas, às vezes as
pessoas são admitidas e tratadas contra sua vontade na unidade de internação do
Hospital Keropudas quando se trata de garantir a sua própria segurança e nenhuma
outra opção surge para o cuidado.
• Inclusão

O objetivo principal do serviço é dar suporte ao indivíduo em crise para evitar a


hospitalização. Como tal, a maior parte do trabalho do serviço de crise é feito na
comunidade.
O serviço trabalha em estreita colaboração com escolas, institutos de treinamento e
locais de trabalho, bem como com outras organizações que possam fornecer suporte.
As reuniões podem envolver atores de várias partes da rede de apoio do indivíduo e
podem incluir família, vizinhos, amigos, professores, assistentes sociais e
empregadores, bem como médicos tradicionais, etc.
Os usuários do serviço também podem consultar os praticantes individuais, se
desejarem, e acessar atividades físicas semanais, como natação, golfe, etc.

• Recovery

O modelo do Open Dialogue utiliza elementos da terapia psicodinâmica individual e


da terapia familiar sistêmica em uma única intervenção com a pessoa que utiliza o
serviço.
Seu foco considera a centralidade dos relacionamentos como fundamento para o
estabelecimento de valores, compreensão e consistência para o plano de recovery.
O Open Dialogue busca capacitar a pessoa e a rede de apoio do indivíduo que usa o
serviço evitando o uso de linguagem profissional técnica.
Em vez disso, buscam normalizar e desenvolver significado a partir das próprias
experiências que o usuário vivência.
Também, incentiva-os a se envolverem ativamente na decisão de como os problemas
devem ser discutidos e abordados.
Uma abordagem sistemática é usada para obter feedback diretamente das pessoas que
usam o serviço por meio de pesquisas anuais anônimas.
Em um estudo de corte baseado em registro de 2018, os resultados do Diálogo Aberto
foram avaliados em uma comparação com um grande grupo de controle em toda a
Finlândia.
A duração dos cuidados hospitalares, os subsídios para incapacidades e a necessidade
de medicação neuroléptica permaneceram significativamente mais baixos para a
abordagem do Open Dialogue.
Os participantes do Open Dialogue foram relatados como tendo melhores resultados
de emprego em comparação com aqueles tratados de forma convencional.
Outro estudo de corte nacional, cobrindo cinco anos, descobriu que a área de
influência da Lapônia Ocidental tinha os números mais baixos da Finlândia para
durações de tratamento hospitalar e pensões por invalidez.
Estudos qualitativos também constataram que as pessoas que utilizaram o serviço
foram positivas em relação a ele, assim como as famílias e os profissionais envolvidos.
Sem dúvidas é um dos grandes sucessos da saúde mental atualmente, então vale a
pena conhecer mais sobre eles. Portanto, seguem alguns vídeos de recomendação:
http://wildtruth.net/films-english/opendialogue
https://www.youtube.com/watch?v=VQoRGfskKUA

2.4 - Tupu Ake South Auckland, New Zealand

Tupu Ake foi estabelecido como um serviço residencial piloto de recuperação em


2008 pela ONG Pathways Health, um provedor nacional de serviços de saúde mental
baseado na comunidade e um dos primeiros serviços de saúde mental na Nova Zelândia
a oferecer uma alternativa ao hospital tradicional.
As pessoas que se hospedam no Tupu Ake são convidadas a estimular um
relacionamento menos hierárquico com a equipe.
Tupu Ake trabalha com uma estreita colaboração entre a pessoa que recebe os
serviços e seu clínico da equipe para estabelecer um plano de recuperação
personalizado que atenda ao propósito de sua estadia na instituição.
A equipe clínica visita frequentemente para revisar o progresso do plano e pode
alterá-lo de acordo com exigências do usuário.
A equipe do Tupu Ake ajuda os hóspedes a aprenderem estratégias de enfrentamento,
reforça técnicas comportamentais e motivacionais, apoio e auxilio na medicação, além
de fornecerem feedback’s e relatórios de progresso para a equipe clínica.
A villa Tupu Ake está imersa em jardins paisagísticos e é inteiramente co-projetada
por pares, incluindo pinturas de parede extensas e outras obras de arte criadas por
hóspedes anteriores.
Existe uma sala familiar para acomodar reuniões com a família e amigos.
As atividades oferecidas incluem:
• aulas de bem-estar;
• intervenções psicossociais;
• atividades culturais e de bem-estar físico, como: canções culturais (waiata),
oração (karakia), tecelagem (harakeke);
• programas de angústia;
• terapia artística;
• jardinagem;
• alimentação saudável;
• atenção plena;
Os hóspedes podem criar um Plano de Ação de Recuperação de Bem-Estar (WRAP),
uma ferramenta amplamente usada para gerenciar o processo de Recovery.
O Tupu Ake também promove a imersão na natureza como um fator útil na
recuperação, por meio de caminhadas, observação de pássaros e horticultura.
Técnicas auto-calmantes baseadas na modulação sensorial, uso de salas sensoriais e
desenvolvimento de planos sensoriais também ajudam os hóspedes a tolerar e se
recuperar do sofrimento agudo.
O programa do dia-a-dia oferece suporte de transição para ex-hóspedes: até cinco
convidados podem participar do programa do dia a qualquer momento, por até sete dias.
As atividades incluem socialização, jardinagem, aprendizagem de instrumentos
musicais, arte terapêutica, entre outras.

– Princípios e valores fundamentais da instituição:


• Respeito pela capacidade legal

Em linha com o valor central da autodeterminação, as pessoas que usam seus serviços
são apoiadas a fazerem escolhas informadas e darem o consentimento em todos os
aspectos de suas vidas, incluindo: o apoio que recebem de Tupu Ake, sua jornada de
recovery, o envolvimento de outros, a busca de sonhos, a realização de objetivos
pessoais, sua situação de vida, oportunidades de emprego, atividades sociais e de lazer
e relacionamentos.
Assim, toda a abordagem que a instituição utiliza é feita mediante o consentimento
da pessoa que utiliza os serviços, sem o uso de quaisquer práticas coercitivas.

• Práticas não-coercitivas

Os hóspedes são livres para entrarem ou sairem dos serviços como desejarem.
Em situações em que uma pessoa não deseja tomar a medicação prescrita, Tupu Ake
interage com a pessoa para procurar entender os motivos de sua relutância, para depois
trabalhar com a pessoa para determinar as maneiras de envolver a equipe clínica para
resolver o problema.
A equipe tem o objetivo alcançar com isso a autodeterminação individual dos
usuários.

• Inclusão

A equipe reconhece a importância da família (whanau) na vida das pessoas (mais de


40% de seus hóspedes moram com a família).
Muitos hóspedes têm fatores estressantes sociais ou culturais significativos em seus
ambientes domésticos e, para adaptar-se a essa situação, Tupu Ake trabalha com outros
provedores de serviços sociais e de saúde comunitários para lidar com esses casos.
Ao trabalhar com os hóspedes para planejar sua transição de volta para uma vida
independente, o serviço ajuda a conectar as pessoas com os trabalhadores de apoio à
saúde mental da comunidade, para garantir que eles possam continuar a lidar com as
relações familiares, redes sociais, habitação e outras necessidades vocacionais para
quando saírem da instituição.
• Recovery
A equipe do Tupu Ake auxilia os hóspedes a refletirem e esclarecerem seus objetivos
e aspirações de vida, promovendo seu senso de autonomia e controle sobre seu futuro.
Um plano adaptado, focado em pontos fortes para o recovery usa abordagens como
WRAP para aumentar a resiliência das pessoas e a capacidade de lidarem com a
situação após o retorno à comunidade.
Os membros da equipe veem a pessoa como um todo e oferecem suporte holístico,
identificando os fatores que estão causando ou contribuindo para sua angústia.
Como colegas de trabalho, os funcionários compartilham suas próprias experiências
vividas de uma forma significativa, usando planos de bem-estar, atividades e outras
ferramentas para fortalecem os hóspedes por meio da esperança.
O relacionamento com especialistas em suporte de pares e sua crença na capacidade
de um convidado de liderar sua própria recuperação usando seus próprios pontos fortes
e habilidades mostra-se transformador para a vida dos usuários desse método.
Uma avaliação independente realizada em 2017 com
base em entrevistas qualitativas com os usuários da
instituição e outras partes interessadas, incluindo
funcionários mostraram que os convidados
experimentaram resultados positivos em termos de
níveis de autodeterminação e uma maior capacidade
para lidarem com suas experiências.
Os hóspedes relataram níveis mais elevados de satisfação com o atendimento em um
tempo médio de permanência inferior às outras unidades tradicionais de comparação.
A avaliação destacou o papel positivo que Tupu Ake desempenhou na vida dos
usuários para a restauração de suas relações com a família e outras redes sociais.
O número de usuários ao longo do tempo reflete um crescimento constante: durante
o período de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, 564 hóspedes acessaram o serviço
noturno para um episódio de atendimento e 26 utilizaram o programa diurno.
Em comparação, durante o período de 2018–2019, um total de 642 hóspedes
pernoitaram e 75 acessaram o programa diurno.
O feedback dos participantes refletiu níveis mais elevados de satisfação com Tupu
Ake em comparação com os serviços convencionais e sugeriu que a instituição foi
extremamente útil para reduzir as readmissões em serviços agudos.
Dos 303 hóspedes em 2019, 29 (9,5%) acabaram por necessitar de hospitalização e
nove pessoas saíram por opção. Os 88% restantes partiram quando seus objetivos para
a estadia foram atingidos. Um verdadeiro sucesso!
Para conhecer mais, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=SwQfaQ3BJVk
3. OMS – Serviços de comunitários em saúde mental

Centros comunitários de saúde mental

Os centros comunitários de saúde mental oferecem opções de atendimento e apoio


para pessoas com dificuldades psicossociais na comunidade.
Esses centros destinam-se a fornecerem apoio fora do ambiente institucional de saúde,
promovendo seus serviços próximos às residências das pessoas.
Esses serviços enfatizam a importância da inclusão social e da participação na vida
da comunidade, realizando ações objetivas para atingir esses resultados.
Neste contexto, o apoio dos pares e o apoio no acesso a oportunidades de emprego,
educação e atividades sociais e de lazer são características importantes para o
atendimento dos centros comunitários.
É importante observar que todos os centros de saúde mental apresentados nesta
secção adotam uma abordagem holística e centrada na pessoa com o intuito de cuidar
e dar suporte a elas, reduzindo as assimetrias de poder entre a equipe e as pessoas que
usam o serviço.
Portanto, segue abaixo as instituições consideradas pela OMS como exemplo para os
centros comunitários em saúde mental:
3.1. Aung Clinic Yangon, Myanmar

A Aung Clinic recebe clientes independentemente do diagnóstico. A clínica está


aberta diariamente para tratamento e oferece serviços de extensão a indivíduos e
famílias com acompanhamento por telefone e suporte online, se necessário.
As pessoas são bem-vindas durante o dia, inclusive os sem-teto, para utilizarem os
serviços disponibilizados, mas não há estadia pernoite para os usuários.
Dessa forma, qualquer pessoa pode ir à clínica, desde às que vivenciam uma crise até
àquelas que passam por dificuldades momentâneas.
Além de avaliações, a clínica oferece aconselhamento individual, terapia de grupo,
treinamento em habilidades vocacionais e grupos de apoio de pares para os usuários
dos serviços.
A clínica se concentra em ajudar os usuários dos serviços e suas famílias a
compreenderem seus direitos sob a lei estadual e defende os direitos das pessoas com
dificuldades de saúde mental e psicossociais, trabalhando em estreita colaboração com
escolas, empregadores e organizações locais para garantir aos usuários do serviço
participação em todos os aspectos da vida cotidiana.
Por exemplo, a arteterapia é usada na clínica como uma das formas de incentivar a
produção criativa e até mesmo profissional dos usuários.
As exposições de arte permitem que os usuários do serviço vendam seus trabalhos.
Também há um clube de culinária semanal, apoio para treinamento em alfabetização,
matemática, gestão básica de dinheiro e carpintaria que vão no mesmo sentido de
promoção criativa e profissional para os indivíduos.
Assim, a clínica colabora com serviços governamentais locais e ONGs em Yangon,
incluindo a Associação de Autismo de Mianmar e Future Stars para apoiar os
indivíduos e suas famílias.
Dessa forma, o centro comunitário de saúde mental Yangon serve como uma ótima
alternativa para evitar hospitalizações e internamentos para as pessoas que vivenciam
dificuldades no cuidado da saúde mental.
Um ótimo exemplo para saúde mental que vale a pena conhecer mais:
https://burmese.voanews.com/a/myanmar-mental-health-arts/5487323.html
3.2. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) III Brasilândia, São Paulo,
Brasil

Os centros

comunitários de saúde mental, conhecidos como Centro de Atenção Psicosocial


(CAPS), são a base da rede comunitária de saúde mental no Brasil.
Os CAPS são serviços especializados de média complexidade, bem integrados no
nível da atenção básica e apresentam uma subdivisão de vários tipos de CAPS, alguns
atendendo principalmente adultos e outros voltados para crianças e adolescentes.
Os serviços do CAPS III atendem tanto a adultos quanto crianças e adolescentes e
oferecem atendimento 24 horas por dia em áreas com população superior a 150.000
habitantes.
Esses serviços, existentes em todo o Brasil e atuam como um substituto direto da
função tradicionalmente prestada pelos hospitais psiquiátricos.
Como todas as instalações do CAPS III, o centro oferece assistência e apoio contínuo
e personalizado de saúde mental com base na comunidade, incluindo serviços de
emergência, desenvolvendo ações orientadas por valores com base nos princípios de
liberdade e desinstitucionalização.
A integração entre as redes de atenção primária à saúde e saúde mental agrega valor
especial ao serviço para usuários, familiares e profissionais.
Um forte foco na comunidade também é parte integrante da abordagem do CAPS III
Brasilândia – envolvendo tudo, desde a ligação com negócios comunitários, profissões,
estudo e esportes.
O CAPS III foi pensado para criar uma estrutura e ambiente semelhantes aos de uma
casa.
Estruturalmente, o centro possui áreas comuns internas e externas para socialização
e interação com outras pessoas, refeitório, salas de aconselhamento individual, sala de
atividades em grupo, farmácia e dormitórios femininos e masculinos, cada um com
quatro leitos, onde se encontram pessoas em crise que podem permanecer por até 14
dias.
O centro também realiza atividades e eventos na comunidade usando espaços
públicos como parques, centros comunitários de lazer e museus.
Uma vez cadastrados como usuários do CAPS, os usuários do serviço desenvolvem
um plano de atendimento individual (Projeto Terapêutico Singular (PTS)) com seu
médico de preferência. O PTS mapeia a
história, necessidades, rede social e apoio de
uma pessoa.
Eles são apoiados na identificação de suas
necessidades e desejos, projetos de vida são
discutidos e estratégias de cuidado e apoio
com responsabilidades compartilhadas.
O PTS é revisado regularmente pelo
profissional de referência e pelos membros da
equipe que trabalham de forma mais
consistente com o usuário do serviço.
Os membros da equipe apoiam os usuários
do serviço de muitas outras maneiras, desde a
mediação de conflitos até o acompanhamento deles em certas reuniões ou atividades.
Baseados nos princípios orientadores do centro, incluem um grupo de trabalho de arte
e cultura; um grupo habitacional vinculado a unidades habitacionais autônomas
apoiadas (Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)); grupo de geração de trabalho e
renda; grupo de trabalho de crise; um grupo território-comunidade que identifica e
fornece links para serviços comunitários de acolhimento, promovendo iniciativas
culturais de inclusão comunitária.
Desde 2002, um total de 12.333 pessoas utilizaram o serviço CAPS III e um estudo
de 2009 realizado por Campos et al constatou que os usuários dos serviços e seus
familiares apresentam altos níveis de confiança nos serviços do CAPS III, tanto no
apoio a crises quanto na reabilitação psicossocial.
Posteriormente, uma avaliação de 2020 do CAPS III constatou que os serviços
oferecidos são consistentes com uma abordagem voltada para os direitos humanos e a
recuperação, provando a consistência do atendimento ao cuidado à saúde mental ao
longo dos anos.
Um instituição que inspira a atuação de inúmeros profissionais do mundo todo. Vale
a pena estudar!
Projeto coletivo de geração de trabalho, renda e valor – Ô da Brasa (Work, income
and values generation collective project – Ô da Brasa)
https://www.youtube.com/watch?v=5v0jki3GaBw&feature=youtu.be

3.3. Phoenix Clubhouse Hong Kong Special Administrative Region (SAR),


China

Operando desde 1998, o Phoenix Clubhouse é um membro de longa data do


Clubhouse International, que inclui uma rede de 326 Clubhouses em 36 países .
Os Clubhouses têm como objetivo oferecer oportunidades para que pessoas em
sofrimento psíquico, trabalhem e aprendam juntas, contribuindo com seus talentos por
meio de uma comunidade de apoio mútuo.
Eles ajudam a evitar a hospitalização e possibilitar que os usuários alcancem seus
objetivos sociais, financeiros e vocacionais.
Todos os Clubhouses realizam um programa formal de credenciamento e aderem aos
Padrões Internacionais para Programas de Clubhouse.
Esses padrões incluem todas as práticas e aspectos de operação de um clube,
incluindo associação, estrutura física, localização, funcionamento diário, acesso a
educação, financiamento e governança.
O Clubhouse International oferece um programa de treinamento abrangente que
oferece uma abordagem consistente para o funcionamento realizado por meio de 12
centros de treinamento autorizados em todo o mundo.
O programa Phoenix Clubhouse é baseado em um “dia de trabalho ordenado”,
permitindo que os membros trabalhem junto com a equipe em tarefas essenciais para a
operação diária do clube, adquirindo importantes habilidades vocacionais e
educacionais.
Seus membros participam de decisões baseadas em consenso sobre todos os aspectos
importantes do funcionamento do serviço.
As oportunidades de emprego remunerado no mercado de trabalho local são criadas
por meio de um programa estruturado de reabilitação vocacional que inclui um
Programa de Emprego de Transição, de meio período, trabalho inicialmente
acompanhado de perto por funcionários até alcançarem o estágio de independência.
O serviço também oferece oportunidades de educação apoiadas, organiza programas
sociais e recreativos noturnos, incluindo finais de semana e feriados.
Finalmente, o Clubhouse fornece assistência conforme necessário para garantir uma
moradia segura, decente e acessível, além de fornecer acesso à programas de educação
sobre bem-estar e estilo de vida saudável.
Conheça:
– https://clubhouse-intl.org/news-stories/videos/
4. Serviços de saúde mental focado no apoio de pares

Os serviços de saúde mental de apoio de pares consistem em sessões individuais ou


em grupo de apoio fornecidas por pessoas com experiência vivida a outras que desejam
se beneficiar de sua experiência e apoio.
O objetivo desses grupos é fornecer apoio às pessoas que passam por dificuldades já
vivenciadas e trabalhadas pelo grupo, de forma a oferecer uma rede de apoio que esteja
livre de julgamentos e suposições a respeito das dificuldades vividas.
Parte da premissa de que o sentido do recovery pode ser diferente para cada um e que
as pessoas podem se beneficiar enormemente compartilhando experiências, ouvindo e
sendo ouvidas.
Assim, estimulando o respeito, o grupo busca apoiar os usuários a encontrarem
sentido em suas experiências e, dessa forma, um caminho de recuperação que funcione
em suas vidas, permitindo-lhes seguir um caminho pleno e satisfatório de acordo com
os parâmetros individuais de cada usuário.
4.1. Hearing voices support groups

Os Grupos Ouvidores de Vozes (HVM), começou na Holanda no final dos anos 1980
e hoje já existe um grande número de grupos espalhados por todo o mundo, dos Estados
Unidos à Austrália.
Alguns grupos são co-fundados por profissionais intimamente alinhados com os
serviços de saúde mental, enquanto outros são iniciados de forma independente por
ouvintes com experiências próprias.
Os grupos são organizados em redes locais e nacionais que oferecem suporte,
aconselhamento e orientação para novos grupos, sem uma estrutura hierárquica.
Um importante princípio do HVM é que a saúde é considerada como um processo
fundamentalmente social, cultural e político, entendendo que ouvir vozes é uma parte
normal da experiência humana e, portanto, respeita a diversidade de ideias quanto às
origens da audição de vozes, seja de origem biológica, psicológica ou espiritual.
As reuniões de grupo são realizadas em uma variedade de instalações da comunidade,
de bibliotecas e centros de artes à ambientes institucionais da saúde mental.
A maioria dos HVGs se reúne semanal ou quinzenalmente como grupos abertos.
Alguns grupos organizam apenas discussões informais, enquanto outros convidam
palestrantes e organizam evento e atividades de maior complexidade e planejamento.
Junto com discussões informais, as sessões podem incluir exercícios ou planilhas,
como o cronograma de Entrevistas de Maastricht.
As vozes também podem ser exploradas por meio de obras de arte, dramatizações ou
dramatizações, e diferentes estruturas explicativas e estratégias de enfrentamento
podem ser discutidas.
É interessante notar que a organização dos Grupos Ouvidores de Vozes (HVM) é feita
mediante ações e atitudes dos próprios usuários dos serviços de saúde mental, que
buscam apoio entre os seus semelhantes e constituem uma importante iniciativa para a
comunidade.
Assim, o Grupo Ouvidores de Vozes representa não só uma atitude no cenário da
saúde mental, como também representa uma importante atitude política e cultural do
momento em que vivemos.
Conheça mais:
Beyond Possible, How the Hearing Voices Approach Transforms Lives
http://beyondpossiblefilm.info/ Eleanor Longden, The voices in my head, TED2013.
https://www.ted.com/talks/eleanor_longden_the_voices_in_my_head?language=en
4.2. Nairobi Mind Empowerment Peer Support Group USP Keny

A USP-K é uma organização que fornece grupos de apoio de pares no Quênia como
uma de suas atividades principais, incluindo treinamento em direitos humanos,
autodefesa, resposta a crises e meios de subsistência.
Além disso, fornecem informações aos membros sobre benefícios sociais e
oportunidades de financiamento e subsídios.
Desde sua criação em 2012, os grupos de apoio de pares da USP-K se expandiram
para 13 grupos em seis condados do Quênia.
Os grupos de apoio de pares afiliados à USP-K reúnem indivíduos que se identificam
como usuários de serviços de saúde mental, sobreviventes da psiquiatria e da
internação.
Os cuidadores também podem ingressar nos grupos, mas pelo menos 70% dos
membros de qualquer grupo de apoio de pares devem ter experiência vivida.
Embora a USP-K administre muitos grupos, o Nairobi Mind Empowerment Peer
Support Group foi selecionado como um modelo para ilustrar o funcionamento dos
grupos da USP-K, especialmente porque tem dados de avaliação de apoio disponíveis.
O grupo de apoio de pares de Nairóbi oferece um espaço para os usuários com
experiência de vida se reunirem.
Assim, eles podem trabalhar dentro de uma estrutura de direitos humanos e sociais
que promovem a não discriminação, participação e inclusão plena e efetiva.
Dessa forma, afastando as práticas manicomial, os usuários e os profissionais
conseguem alcançar o respeito, dignidade, autonomia individual e liberdade.
Para conhecer mais, acesse:
Other: The Role of Peer Support in Exercising Legal Capacity, USP Kenya,
(2016): https://www.uspkenya.org/wp-content/uploads/2018/01/Role-of-Peer-
Support-in-ExercisingLegal-Capacity.pdf

4.3. Peer Support South East Ontario, Canadá

O serviço de apoio de pares fornecido pela instituição consiste em grupos de apoio


de pares semanais para pessoas que acabaram de sair por uma hospitalização.
Os colegas trabalhadores atuam como uma ponte de apoio desde o momento da alta
de uma pessoa até seu primeiro contato com os serviços de saúde mental na
comunidade . Eles fornecem assistência, amizade e apoio por até um ano após a alta.
O mesmo trabalhador de pares visita as unidades de saúde mental um dia por semana
para liderar um grupo de apoio de pares para encontrar e interagir com pessoas que
recentemente começaram a receber tratamento no hospital.
O trabalhador de pares informa as pessoas recém-admitidas sobre os serviços de
apoio de pares oferecidos, fornecendo material informativo, detalhes de contato e um
convite para participar do programa e do grupo de apoio de pares semanal.
Durante as reuniões do grupo, que são projetadas para ser um espaço aberto e
acolhedor para todos os interessados, o trabalhador de pares apresenta o apoio de pares
um a um e os participantes interessados são convidados a agendar uma reunião para
iniciar um processo de correspondência com um assistente de apoio individual antes
da alta.
Em um estudo de 2019, 92% dos indivíduos que usam os serviços de apoio de pares
relataram uma experiência positiva e altos níveis de satisfação com os serviços
prestados.
As pessoas relataram sentir-se capacitadas, compreendidas, ouvidas e apoiadas pelo
colega de trabalho e consideraram o apoio dos pares como um fator positivo chave em
sua jornada de recuperação, enfatizando o poder que a compaixão, conexão e inclusão
possuem para a saúde mental da comunidade.
–Videos:
https://www.youtube.com/watch?v=q_1qde6kins&feature=emb_title http://www.le
dbetterfilms.com/our-videos.html
5. OMS – Instituições que trabalham com atendimento na
comunidade em saúde mental

Nesse capítulo, vamos conhecer a aplicação dos serviços de alcance externo na saúde
mental, pois eles fazem uma grande diferença para a comunidade.
Os serviços de extensão à comunidade prestam atendimento e apoio à população em
suas casas ou outros ambientes, de preferência em espaços públicos.
Os serviços de extensão à comunidade muitas vezes constituem equipes móveis
incluindo assistentes sociais, profissionais da saúde e membros da comunidade.
Eles também desempenham um papel crucial para a conexão de pessoas aos serviços
existentes na comunidade para fornecer apoio na navegação de saúde e sistemas de
assistência social.
Além disso, os serviços de extensão da comunidade muitas vezes fornecem
informações importantes sobre a saúde pública e podem participar em iniciativas de
prevenção e promoção da saúde mental coletiva.

Aqui vão algumas instituições que trabalham com esse serviço:


5.1. Atmiyata Gujarat – Índia

A Atmiyata é uma instituição que presta um serviço voluntário e comunitário para


fornecer suporte e assistência para a comunidade rural de Gujarat , na Índia Ocidental.
As suas intervenções são construídas com base na empatia e voluntariado, promovendo
um caminho viável para a aplicação de um serviço com poucos recursos.
Os voluntários que vivem na aldeia realizam quatro atividades essenciais:
(i) identificar indivíduos em situação de angústia e fornecer de quatro a seis sessões
de aconselhamento baseado em evidências;
(ii) aumentar a consciencialização da comunidade mostrando quatro
filmes para membros da comunidade sobre os determinantes sociais da saúde mental;
(iii) encaminhar pessoas que possam estar passando por uma condição grave de saúde
mental para serviços públicos de saúde quando necessário;
(iv) permitir o acesso a benefícios de assistência social para aumentar a estabilidade
financeira da família;
Os serviços são prestado por dois níveis de voluntários da comunidade. O primeiro,
chamado atmiyata mitras, são pessoas de diferentes religiões, seitas e castas, treinadas
para identificar pessoas que vivenciam sofrimento.
A segunda camada, chamada de campeões atmiyata, são líderes comunitários ou
professores que são já são conhecidos pela aldeia e portanto, mais acessíveis.
A Atmiyata Gujarat foi avaliada em 2017 ao longo de um período de oito meses por
um
ensaio clínico randomizado e controlado. O julgamento abrangeu 645 aldeias no
distrito de mehsana, com uma população de 1,52 milhões e o resultado primário foi
uma melhoria na saúde geral medida através do Questionário de Saúde Geral de 12
itens em um acompanhamento de três meses.
Resultados secundários foram medidos usando uma variedade de escalas, e incluíram
qualidade de vida, melhora dos sintomas, funcionamento e sintomas de depressão.
Os resultados mostraram que as taxas de recuperação para pessoas em sofrimento
foram clínica e estatisticamente maiores nas pessoas que receberam o serviço Atmiyata
em comparação com a condição de controle.
No final de oito meses, melhorias significativas no funcionamento, participação
social e qualidade de vida dos usuários foram relatados ao final do estudo.
Vale a pena conhecer mais!
https://cmhlp.org/projects/atmiyata/
https://twitter.com/CMHLPIndia/status/1300301510190927872
https://twitter.com/CMHLPIndia/status/1331822246575280128
https://www.youtube.com/watch?v=2Rlter_9MpI
https://www.youtube.com/watch?v=V2w-PkbJxxA
5.2. Friendship Bench – Zimbabwe

O
Friendship Bench começou em Zimbábue em 2006 com conselheiros leigos apoiando
pessoas que estavam experimentando sofrimento emocional significativo em suas
vidas.
Hoje, este serviço de alcance comunitário oferece empatia, apoio à comunidade local,
conhecimento cultural e habilidades e técnicas formais para a resolução de problemas.
Nos últimos anos, tem sido
implementado em todo o país como parte dos serviços públicos de saúde primária do
Zimbábue.
O nome “Banco da Amizade” deriva do termo chigaro chekupanamazano, que se
traduz como “banco para sentar e trocar ideias”.
Fornece uma forma de resolução de problemas de curto prazo terapêutico para
pessoas com vulnerabilidades de saúde mental comuns.
O serviço é gratuito e está vinculado ao centro de atenção primária de saúde local,
geralmente entregue fora do centro onde as pessoas podem se referir a si mesmas ou a
terceiras.
Dada a escassez de serviços de saúde mental no Zimbábue, o Banco da Amizade
preenche uma importante lacuna para a necessidade de prestação de serviços
comunitários de saúde mental.
Um ensaio clínico controlado randomizado subsequente de 573 pessoas descobriu
que aqueles que receberam os serviços do Friendship Bench, tiveram sintomas
psicossomáticos menores do que os gerais, enfatizando a importância da empatia e do
conhecimento cultural para a promoção da saúde mental.
Conheça mais!
http://www.friendshipbenchzimbabwe.org/
https://www.youtube.com/watch?v=qfSTUHCNocI
https://www.youtube.com/watch?v=Cprp_EjVtwA

5.3. Home Focus West cork – Ireland

O serviço Home Focus da Irlanda, estabelecido em 2006, fornece suporte prático e


emocional para
pessoas com dificuldades de saúde mental que vivem em área predominantemente
rural, onde serviços comunitários estão geograficamente dispersos.
O serviço ganhou reconhecimento nacional por ajudar as pessoas a melhorarem sua
saúde mental e seu bem-estar, desenvolvendo habilidades de vida independente e
fornecendo acesso à educação eoportunidades de emprego.
Home Focus é baseado no planejamento de cuidados personalizados, princípios de
flexibilidade e recuperação, com foco central na inclusão da comunidade incorporando
o apoio de pares e pessoas com experiência vivida como membros plenos da equipe.
A equipe do serviço é composta por: uma enfermeira de saúde mental comunitária,
instrutores de treinamento de reabilitação para ajudar com emprego e treinamento,
um trabalhador de apoio à recuperação treinados em abordagens voltadas para a
recuperação e centradas na pessoa, com base no Diálogo Aberto (ver seção 2.1.3).
Os funcionários são treinados em planejamento de ação de recuperação de bem-estar
e liderança de pares, por meio de uma reconhecida rede de suporte que desenvolve a
experiência vivida pelo usuário.
Os serviços de extensão à comunidade são fornecidos a indivíduos e famílias para
problemas relacionados ao estresse, gestão e resolução de conflitos, estratégias de
enfrentamento, definição de metas, alfabetização e habilidades sociais.
O serviço também fornece suporte para gerenciamento de medicamentos, procura de
emprego e atividades de grupo baseadas na comunidade, como caminhadas e
jardinagem.
Além disso, ajudam as pessoas a acessarem grupos de apoio de pares, incluindo
alcoólicos anónimos, GroW (301) e o grupo de ouvidores de vozes, por exemplo.
Foi efectuada uma avaliação qualitativa do serviço pela University College Cork
(Ucc) em 2008 e o registro foi que 89% dos entrevistados relataram melhorias em seus
aspectos pessoais e sociais de
funcionamento, incluindo melhorias na tomada de decisões, sono, interações com a
família e outras habilidades sociais.
Cerca de 71% das pessoas relataram melhora nas habilidades de vida independente,
resultando em uma melhor saúde mental por um total de 69% dos usuários, incluindo
diminuição na paranóia, menor ideação suicida, melhor compreensão de sua medicação
e uma capacidade melhorada de se comunicar sobre seus problemas de saúde.
Um verdadeiro sucesso! Acompanhe!!!
https://www.hse.ie/eng/services/publications/mentalhealth/havingchoices.html
5.4. Naya Daur West Bengal – Índia

Naya Daur fornece apoio comunitário, tratamento e cuidados para pessoas sem-teto
que têm
uma condição de saúde mental fragilizada ou alguma dificuldade psicossocial. É
ancorada por uma rede de comunidade cuidadores e iniciativas de inclusão comunitária.
O envolvimento, com o consentimento do sem-teto, concentra-se na construção de
relacionamentos de longo prazo.
O time fornece check-ups regulares, cuidados de saúde física e mental, roupas,
alimentos e apoio ao acesso a direitos sociais.
Os clientes são identificados por trabalhadores de campo em consulta com a saúde
mental
profissionais, sendo oferecida uma avaliação do psiquiatra da instituição. Nesta fase,
já começam as atividades de reabilitação e recuperação que, desde o início, incluem o
estabelecimento de metas.
As opções de tratamento à base de medicamentos são discutidas, se a pessoa quiser.
Os clientes podem ser encaminhados para abrigos administrados (Iswar Sankalpa) –
particularmente clientes do sexo feminino vulneráveis à violência.
A equipe também facilita o acesso aos centros de dia de Iswar Sankalpa, incentiva o
emprego apoiado e explora o reencontro com a família do cliente, com seu
consentimento.
A instituição aceita todas as pessoas que estão desabrigadas e que têm alguma
dificuldade de saúde mental ou psicossocial. As exceções estão apenas para as pessoas
móveis que não têm bairro fixo ou para àquelas que se comportam de forma agressiva.
Até agora, a Naya Daur construiu um círculo de cuidados com 250 cuidadores
comunitários e se esforça para expandi-lo ainda mais .
Uma revisão das operações de 2007 a julho de 2020 constatou que a instituição
prestou serviços a mais de 3.000 sem-teto com deficiência psicossocial.
Uma revisão separada das operações de Naya Dour de 2007-2011 foi conduzida por
Iswar Sankalpar, que constatou que o serviço fornecia alimentos para 1.015 clientes;
roupas e serviços de higiene para 765 e médicos para 615.
Um importante serviço para a comunidade que deve servir de inspiração para todos
nós. Saiba mais!
https://isankalpa.org/
https://www.ashoka.org/en-IN/story/community-care-ashoka-fellow-bringing-
mental-healthcare-kolkata%E2%80%99s-homeless
5.5. Personal Ombudsman – Suécia

Em um país com alto desenvolvimento no sistema de saúde mental, a Personal


Ombudsman promove um excelente serviço externo para a comunidade, fornecendo
assistência para a família, cuidado à saúde, acesso a moradia, emprego e integração
social, ajudando os clientes a viverem de forma autónoma e independente.
Além disso, o serviço busca a integração e cooperação com outros servidores de
saúde mental para a comunidade.
Todos os serviços são prestados com total colaboração e consentimento dos usuários
e a relação estabelecida com a equipe de saúde têm sido descrita como uma “amizade
profissional”.
Muitos membros da equipe são assistentes sociais treinados, com formação em
medicina, enfermagem, psicologia ou psicoterapia.
A maioria tem experiência de trabalho com pessoas com vulnerabilidades mentais e
psicossociais.
Para trabalhar com sucesso com um cliente, o(a) profissional deve estabelecer uma
relação de confiança desde o início.
Por exemplo, ouvindo e trabalhando com um cliente, o(a) profissional podem ajudá-
lo a identificar seus problemas, esperanças e objetivos para suporte.
As reuniões são informais e podem ocorrer em um café, no escritório de serviços
do(a) profissional ou na casa da pessoa.
A fase introdutória inicial pode levar algum tempo se um cliente teve um passado
negativo com suas experiências, visto que os usuários dos serviços incluem muitas
pessoas que foram prejudicadas pela saúde mental do sistema e, portanto, desconfiam
e são cautelosas com qualquer engate profissional clínico.
Em todas as situações, as necessidades e desejos do cliente orientam o pedido e a
urgência de questões a serem abordadas.
Os dados de avaliação quantitativos e qualitativos sobre a eficácia e eficiência do
serviço têm apresentado melhora na qualidade de vida e benefícios socioeconômicos
para as pessoas que usam o serviço.
Outras avaliações descreveram resultados mais dramáticos, incluindo:
“uma mudança radical de ajuda passiva, como cuidados psiquiátricos e
apoio para uma ajuda ativa, como reabilitação, emprego, psicoterapia,
assistência, serviços de ajuda ao domicílio e assim por diante ”.
Saiba mais!
https://kunskapsguiden.se/omraden-och-teman/psykisk-ohalsa/personligt-ombud/
https://www.mhe-sme.org/paving-the-way-to-recovery-the-personal-ombudsman-
system/
6. OMS – Serviços de inserção social na comunidade em saúde
mental
Os serviços prestados pelas instituições desse capítulo se enquadram no fornecimento
de acomodação, suporte e subsistência para pessoas que não têm acesso à moradia ou
que possuem necessidades complexas de cuidado em saúde mental.
Assim, você verá que as instituições que serão abordadas aqui nesse artigo
desempenham um papel significativo para o novo cenário da saúde mental, pois elas
reconhecem o papel de suas ações para a inserção social na comunidade de indivíduos
vulnerabilizados, trabalhando da melhor forma possível para gerar a garantia de
direitos básicos à vida.

Portanto, vamos acompanhar esses exemplos de instituições que trabalham no setor


da saúde mental que mudarão o cenário contemporâneo das relações humanas.
Acompanhe!

Serviços de suporte à vida em saúde mental

Os serviços de suporte à vida em saúde mental pretendem refletir e responder aos


direitos que as pessoas necessitam para poderem sobreviver física, social e
mentalmente na comunidade. Essa série de direitos incluem: moradia, acomodação,
alimento, roupa, apoio, entre outros.
Os serviços podem orientar-se de diferentes formas de acordo com cada instituição,
algumas trabalham com suporte temporário, outras apoiam a busca e arrendamento
para habitação de longo prazo e ainda há àquelas que fornecem moradia comunitária
em que várias pessoas vivem juntas como uma família.
Ao longo desse artigo serão apresentadas quatro (4) instituições que trabalham com
o suporte à vida de maneira específica e orientada.
6.1. Hand in Hand supported living, Georgia

A instituição pretende promover suporte e cuidado para as pessoas com um longo


prazo de dificuldade psicossocial, incluindo àquelas que já sofreram com práticas
opressivas de instituições manicomiais.
Assim, a missão da Hand in Hand é criar melhores condições de vida para as pessoas
que precisam, mas não possuem o suporte de terceiros.
Dessa forma, acolhendo essas pessoas, a instituição consegue incluí-las e integrá-las
novamente na sociabilização.
Através de assistência pessoal e treinamento individual e familiar a instituição
promove ótimos resultados para o grupo.
A Hand in Hand pretende oferecer um ambiente caseiro onde as pessoas se sintam
confortáveis para seguir com as práticas da casa.
Cada casa admite não mais do que 5 adultos, que podem escolher dormir em quartos
individuais ou de casal. Na última década, a instituição expandiu suas alocações de
uma para seis casas, totalizando um total de 30 acomodações em suas casas.
As pessoas que desejam participar de uma residência devem completar um
formulário escrito delineando o tipo de suporte eles exigido.
Esta avaliação inclui detalhes da personalidade do indivíduo, habilidades de
comunicação, necessidades de apoio e compatibilidade geral com outros residentes.
O State Fund for Protection and Assistance of Victims of Human Trafficking (Fundo
Estadual de Proteção e Assistência de Vítimas de Tráfico Humano) acaba por decidir
quem pode se tornar um residente ou não.
Embora leve em conta as próprias avaliações, aqueles que são priorizados para a
aceitação incluem pessoas com deficiência psicossocial que fazem parte da família
biológica de outro residente (por exemplo, uma criança); aqueles que foram criados
em famílias adotivas, mas se mudaram aos 18 anos; e aqueles que estão morando em
casa, mas não recebem apoio familiar algum.
Ao final do processo, as pessoas devem dar seu consentimento final para indicarem
se ainda desejam participar das residências e, depois de ingressas, são livres para
saírem quando quiserem.
Os moradores são incentivados a participarem das atividades diárias de sua escolha,
a fim de desenvolverem e manterem redes de autonomia e suporte para a inclusão na
comunidade da instituição.
Assim, são os próprios moradores que prepararam seus alimentos, cuidam da casa,
do jardim, compram os produtos domésticos e participam dos hobbies cotidianos, que
incluem diversos eventos culturais.
Cada residente recebe um espaço designado para trancar e armazenar seus pertences
individuais e, além disso, eles mesmo criam e revisam seus próprios planos de suporte
juntamente com os assistentes.
Uma pesquisa interna informal de cinco residentes descobriu que as pessoas
gostavam de sua situação de vida e apreciaram o fato de que eles são responsáveis pelas
tomadas de decisão de quais roupas eles usam, quando limpam os seus quartos, quando
dormir, quando usar o telefone e decidir quem pode visitá-los e quando eles podem
visitar amigos e famíliares.
Além disso, um relatório do governo de 2018 avaliou uma casa em Tbilisi e constatou
que o serviços de boas práticas que promovem resultado na recuperação, fornecendo
um padrão adequado de vida em um ambiente higiênico e confortável. Também
constatou que os indivíduos tinham acesso a uma variedade de serviços na comunidade
e participavam constantemente de atividades divertidas e estimulantes.
Crucialmente, eles foram capazes de desenvolver habilidades chave para a
independência, incluindo organização pessoal, limpeza, culinária, higiene, utilização
de objetos domésticos, independência de deslocamento e uso de dinheiro.
Conheça um pouco mais sobre a instituição: http://www.handinhand.ge/
https://vimeopro.com/gralfilm/include/video/336759271
6.2. Home Again chennai, India

A Home Again é uma instituição de suporte à vida exclusiva para mulheres com um
longo prazo de dificuldade psicossociais, em situação de pobreza e desabrigadas.
Fundada em 2015, a instituição oferece suporte para superar o cuidado
institucionalizado com outras pessoas no ambiente caseiro e alcançar a vida
independente na sociedade.
Além de seus programas habitacionais, a Home Again fornece serviços de
atendimento de emergência e recuperação para aquelas que precisam de apoio à crises
ou cuidados mais agudos, fornecendo a assistência necessária para a saúde psicossocial
através de programas comunitários de saúde mental.
Através do aluguel de casa em bairros urbanos, suburbanos e rurais, cada casa recebe
de quatro a cinco pessoas para conviverem em um ambiente caseiro que seja perto de
outros serviços externos, como lojas, hotspots, centros culturais e centros de saúde.
A escolha é um fator essencial na determinação do local de permanência das usuárias
do serviço, que podem escolher o ambiente de acordo com a região e das colegas que
desejam viver e compartilhar o espaço.
Além da habitação, o serviço fornece uma gama de apoios às moradoras para
melhorarem sua
saúde psicológica, integração comunitária, qualidade de vida e mobilidade social.
Àquelas que usam o serviço são encorajadas a envolverem-se com todos os aspectos
da vida, incluindo trabalho, lazer, recreação e uma série de outras oportunidades sociais.
A entrada é oferecida para as pessoas que têm vivido por um ano ou mais em qualquer
uma das outras instalações do Banyan (instituição social de parceria com a Home
Again) ou em certos hospitais psiquiátricos estatais, e o serviço é restrito a pessoas que
estão impossibilitadas de viverem com os membros da família.
A única restrição imposta para a aceitação à instituição são os casos de personalidades
com extrema violência no convívio.
Os assistentes pessoais são recrutados em comunidades locais, sendo que até mesmo
as ex-residentes podem entrar no programa de assistência.
Depois de admitidos, eles passam por um programa de indução de uma semana a
partir de um currículo (co-desenvolvido com a Universidade da Pensilvânia) que
delineia estrutura, processo e protocolos para o cuidado adequado.
Um estudo interno de pessoas que usaram os serviços de Banyan por mais de 12
meses avaliaram as experiências de 53 pessoas que haviam escolhido o lar Home Again
em comparação com 60 pessoas que escolheram permanecer nas instalações
institucionais do Banyan (considerado como o cuidado usual do município).
As medidas foram coletadas a cada seis meses utilizando diferentes questionários e
escalas, ao longo de um período de 18 meses (341) e, o resultado final da pesquisa
indicou melhorias significativas para a integração da comunidade para o grupo de
pessoas que habitavam a Home Again, comprovando a eficiência do método adotado
pela instituição.
Saiba mais!
https://thebanyan.org/
https://www.youtube.com/watch?v=4iX7tSwa2Dc
https://www.youtube.com/watch?v=FOyLSMHJjVg
6.3. KeyRing Living Support Networks

Desde 1990, a KeyRing oferece serviços de vida apoiados para pessoas com
condições de saúde mental, dificuldades psicossociais e dependência de drogas e álcool.
Sua missão é inspirar as pessoas a construirem vidas independentes através de
suporte flexível, capacitação e redes de conexão.
A KeyRing consiste em mais de 100 redes de apoio em toda a Inglaterra e País de
Gales, cada uma com cerca de 10 casas localizadas a uma distância acessível à
pedestres uma da outra, para que assim os membros da KeyRing também possam se
conectar entre si e envolverem-se mais com a comunidade.
A missão do serviço é conectar as pessoas e inspirá-las a construírem a vida que elas
querem.
A habitação é alugada de autoridades locais, associações habitacionais ou até mesmo
de propriedade de membros.
As redes são desenvolvidas em torno de acomodações já existentes e disponíveis para
que os moradores nem sempre tenham que se mudar para participar do programa e,
assim, abandonar laços sociais e comunitários significativos.
Para o convívio, há uma série de voluntários que fornecem um suporte informal para
as atividades do dia a dia, como por exemplo: acompanhar os membros para os pontos
de educação, emprego e outras atividades sociais voluntárias.
Além disso, há um sede central na qual os membros da KeyRing podem socializar
com os outros usuários, voluntários e funcionários da comunidade na instituição.
O treinamento dos funcionários é feito através da Care Academy, que abrange saúde,
segurança, trabalho individual e comunitário, salvaguarda e apoio à igualdade e
diversidade.
Toda a equipe é treinada para o desenvolvimento de valores da KeyRing, que incluem:
desenvolvimento comunitário baseado em ativos, empoderamento, organização da
comunidade e independência.
Outro aspecto da KeyRing é a existência de funcionários, voluntários e gerentes de
suporte que são responsabilizados por realizarem conexões (network) para facilitar
compromissos comunitários e pessoais para cada usuário.
Quando uma nova chegada é aprovada como membro do Keyring, a equipe inicia
uma revisão holística para determinar os requisitos de suporte mais imediatos da pessoa
e apoiá-la para desenvolver um plano pessoal de recovery.
Desde a primeira avaliação, em 1998, a Keyring tem recebido avaliações
consistentemente positivas da qualidade de seus serviços em relação ao
custo/efetividade.
Em 2002, uma avaliação independente da Keyring concluiu que a instituição foi
“consideravelmente além da maioria das organizações em termos de foco e resultados”.
Em 2006, no departamento do Reino Unido de estudo de saúde analisou os resultados
de membros de três redes diferentes, concluindo os serviços da instituição permitiram
com que as pessoas que antes tinham altos níveis de necessidades de apoio de
trabalhadores de assistência remunerada ou da família puderam desenvolver de forma
gradual um estilo de vida mais independente.
O estudo descobriu que a Keyring “ajuda adultos com necessidades de apoio para
alcançar mais do que as formas tradicionais de apoio” (356).
Em 2015, uma avaliação de três anos no Keyring com indivíduos em recuperação do
uso indevido de substâncias e vício, afirmou: “melhorias notáveis foram evidenciadas
em várias áreas da vida dos participantes, incluindo: bem-estar, retenção de locação,
atendimento de ajuda mútua, engajamento em atividade significativa, voluntariado e
abstinência contínua”.
Uma outra avaliação de 2018 pela rede de aprendizagem e melhoria da habitação
concluiu que a cada ano o a presença da KeyRing levou a: evitar 30% dos casos de
internação psiquiátrica entre os membros, reduzir em 30% os casos de desabrigamento,
reduzir em 25% a visita de enfermeiros(as) psiquiátricos ou coordenadores sociais,
reduzir em 20% a reincidência do consumo de drogas/substâncias ilícitas entre os
membros.
Uma instituição que já veio provando seus resultados diversas vezes ao longo dos
anos, vale a pena conhecer mais:
http://www.keyring.org/ https://vimeo.com/379267912
6.4. Shared Lives south east Wales, United Kingdom of Great Britain
and Northern Ireland

A Shared Lives fornece suporte e acomodação baseados na comunidade para adultos


necessitados, incluindo pessoas com condições de saúde mental e dificuldades
psicossociais.
A Shared Lives é uma alternativa para casas de cuidados, cuidados domiciliares,
creches e também fornece cuidados transitórios para jovens depois de terem estado em
hospitais ou o sistemas de adoção.
Hoje, quase 1000 pessoas são apoiadas pelo Shared Lives no País de Gales, e mais
de 12.000 pessoas em todo o Reino Unido.
A instituição fornece às pessoas apoio em um ambiente comunitário em um lugar no
qual elas se sintam em casa, incluindo acomodação, suporte diurno e suporte de curto
prazo após alta hospitalar.
Uma vez que o arranjo do serviço começa, o indivíduo, um trabalhador da Shared
Lives e a equipe de atendimento à crise cooproduzirem um plano pessoal para o usuário.
O plano pessoal estabelece as ações necessárias para atender ao indivíduo,
fornecendo bem-estar, cuidados e apoio para que o indivíduo alcance suas metas e
resultados pessoais estabelecidos.
A estratégia de Gales, por exemplo, para a saúde mental adota uma abordagem
baseada em direitos, recovery, empoderamento, envolvimento e participação do serviço
e das atividades para os usuários em um nível individual, operacional e estratégico com
o intuito de proporcionar uma vida familiar comum, onde todos podem contribuir, ter
relações significativas e serem capazes de participarem como cidadãos ativos e
valorizados.
Na Inglaterra, a comissão de qualidade assistencial, que regula todos os esquemas da
Shared Lifes, tem consistentemente a classificação dos serviços como a forma de
cuidado mais segura e de alta qualidade.
Em 2019, o atendimento foi classificado 96% das vezes como “Bom” ou “Excelente”
em todo o Reino Unido, incluindo o regime do Sudeste de Gales.
Saiba mais!
https://www.caerphilly.gov.uk/sharedlives
https://abuhb.nhs.wales/about-us/public-engagement-consultation/transforming-
adult-mental-health-services-in-gwent/
https://www.youtube.com/watch?v=8F55lboVbhg%20
https://www.youtube.com/watch?v=XTVmkn5NYRM&t=1s%20
https://youtu.be/auWBkPqUFz4%20
7. OMS – Saúde mental e o acesso à educação, moradia e
emprego
Na secção anterior, descrevemos os serviços de saúde mental ao redor do mundo que
foram selecionados como exemplos de boas práticas pelo documento Guidance on
community mental health services, da World Health Organization (WHO).
Esses serviços são fortemente comprometidos em fornecer suporte e apoio em saúde
mental com práticas consistentes para a promoção dos direitos humanos.
São serviços que respeitam a capacidade legal dos indivíduos, usam alternativas às
práticas coercivas, promovem inclusão à comunidade e devolvem a esperança para o
Recovery do usuário.
A saúde mental e o bem-estar são influenciados por múltiplos fatores: sociais,
economicos e ambientais. Dessa forma, usufruir desses fatores em igualdade de
condições com outros indivíduos é, além de um direito humano fundamental, decisivo
para a saúde mental.
Assim, é importante desenvolver serviços que se envolvem com essas questões de
uma forma substancial e lutam pelo direito da população geral ter acesso à educação,
moradia, emprego, saúde, etc. Portanto, nesta secção descreveremos as considerações
necessárias para a garantia de habitação, educação, emprego e benefícios sociais para
os usuários da saúde mental.

7.1. Moradia

A habitação é
um importante determinante da saúde mental e uma parte essencial para o processo de
Recovery, já que a falta de moradia ou uma habitação insegura e precária podem
agravar a saúde mental e perpetuar um ciclo vicioso de exclusão.
Além disso, a qualidade da habitação contribui para a possibilidade de controle,
escolha e independência – que são todos fatores intrínsecos ao Recovery.
Assim, o acesso a habitação adequada é não apenas um imperativo de direitos
humanos, mas também uma prioridade de saúde pública.
A importância de fornecer apoio “para garantir moradia e ajuda doméstica” é uma
pré-condição necessária para a capacidade das pessoas com vulnerabilidades de
viverem e participarem plenamente na comunidade.
Porém, muitas pessoas em todo o mundo enfrentam ou tiveram que enfrentar a falta
de moradia em algum momento de suas vidas.
Por exemplo, no Rio de Janeiro, Brasil, muitas pessoas diagnosticadas com
esquizofrenia relataram que foram moradores de rua em algum momento de suas vidas.
Além disso, uma pesquisa de Chengdu, China, enfatizou o resultado da pesquisa
descobrindo que uma proporção significativa de pessoas com o diagnóstico de
esquizofrenia tiveram falta de habitação durante o período de acompanhamento.
Resultados semelhantes foram obtidos por um novo estudo realizado na Etiópia.
Embora pesquisas mais precisas e mais fortes sejam necessárias, muitos estudos têm
demonstrado maior prevalência de condições de saúde mental entre pessoas em
situação de rua, tanto em países de baixa e média renda, como a Etiópia e a Colômbia
e em países de alta renda, incluindo os EUA, França e Alemanha.
Enfatizando a urgência em promovermos serviços holísticos que se comprometam
em solucionar os problemas de acesso em nossa sociedade.
Assim, a compreensão necessária é entender que as necessidades básicas do ser
humano são fundamentais e não podem ser deixadas em segundo plano, já que, antes
de tratar objetivamente de questões de saúde mental, fornecer o acesso à comida, abrigo
e segurança são fatores de extrema importância para que o plano de Recovery seja
eficiente.
Além disso, também há evidências suficientes para apoiarmos os efeitos benéficos
da abordagem de habitação em primeiro lugar para as pessoas, pois a qualidade de vida
é imensuravelmente melhorada, o que inclui dimensões como adaptação à comunidade,
integração social, dignidade e segurança.
Pensando nisso, os serviços prestados pelo The Banyan em Chennai (consulte a seção
2.6.2) é um ótimo exemplo de alojamento com suporte para suprir a essas necessidades.
a fim de ajudar as pessoas na transição de cuidados institucionalizados (por exemplo,
hospitalização de longa duração) para uma vida independente na comunidade.
A instituição da a opção de co-habitação com outras pessoas num ambiente familiar,
que fornece voluntários para disponibilizar níveis baixos e altos de apoio, de acordo
com a necessidade dos moradores.
Dessa forma, as pessoas que usam este serviço têm a possibilidade de encontrar apoio
nos colegas e voluntários do programa, conectando-se com os demais usuários que a
rede utiliza.
Além disso, há também uma linha de emergência para fornecer o apoio aos membros
para que eles possam encontrar o cuidado necessário para os momentos de crise.
Finalmente, alguns serviços de habitação enfatizam a necessidade de avançar para
arranjos de habitação mais independentes.
Por exemplo, o serviço da Shared Lifes no País de Gales é um esquema em que um
adulto que precisa de apoio e/ou acomodação pode se mudar e compartilhar sua vida
com outra pessoa com necessidades compatíveis.
Assim, ambos podem fornecer suporte mútuo pelo tempo que ambos desejarem.
Independentemente do seu tipo e forma que a habitação é fornecida, o importante é
garantir que as opções de habitação apoiadas não reproduzam os valores institucionais
de práticas manicomiais.
Assim, práticas como: isolamento e segregação da comunidade, paternalismo e
abordagens em que os usuários do serviço não têm controle sobre suas próprias
decisões do dia-a-dia devem ser evitadas e combatidas para que a habitação não se
confunda com internato.

7.2. Educação e treinamento

A educação constitui um alicerce essencial do desenvolvimento humano e tem


impactos abrangentes sobre a saúde, emprego, pobreza e capital social.
Muitos adultos com transtorno mental tiveram sua educação interrompida durante a
infância, adolescência ou início da idade adulta.
Em países de baixa e média renda, estudos mostram que pessoas com problemas de
saúde mental experimentaram níveis elevados de exclusão na educação, com baixas
taxas de matrícula nas escola, já que são mais propensas a enfrentarem discriminação
e estigma durante o processo educativo e assim estão sujeitos ao escolar precoce.
Este também é o caso de muitos países de alta renda. Por exemplo, revisão sistemática
de 2019 sobre resultados educacionais nos EUA mostrou que pessoas com dificuldades
mentais e / ou deficiências psicossociais tiveram taxas de graduação mais baixas em
relação ao grupo de controle.
Essa lacuna na educação traz implicações importantes para a vida adulta das pessoas
com problemas de saúde mental, já que, a falta de oportunidade educacional constitui
uma barreira para inclusão e participação na comunidade, contribuindo para perpetuar
um ciclo de exclusão econômica ao afetar suas perspectivas futuras de emprego, renda
e padrão de viver.
Para tanto, é essencial que as escolas e as universidades sejam construídas com base
em abordagens inclusivas para a educação, nas quais os currículos e os ambientes
escolares se adaptem às necessidades de cada aluno, incluindo pessoas com
vulnerabilidades mentais.
Além disso, o suporte a saúde e o apoio social precisam ser fornecidos, juntamente
com métodos de ensino variados para ampliar o acesso ao ensino a demais indivíduos.
Enquanto mais evidências são necessárias para rigorosamente avaliar o impacto dos
programas de educação apoiados, há evidências preliminares que sugerem que tais
serviços podem ajudar os indivíduos a construirem uma melhor auto-estima, progredir
em direção aos seus objetivos de educação e desenvolver um senso de esperança para
o desenvolvimento pessoal.
Nesse sentido, há um movimento crescente para estabelecer “Faculdades de
recuperação” em vários países – espaços de apoio seguros onde pessoas usuárias dos
serviços de saúde mental possam desenvolver habilidades, técnicas e conhecimentos
para a recuperação.
Essas faculdades compartilham algumas características da educação formal: registro,
matrícula, currículos de períodos letivos, equipe em tempo integral, professores por
sessão e um ciclo anual de aulas.
Porém, embora as faculdades de recuperação não sejam projetadas para ajudar as
pessoas a obter um trabalho específico no final, o conhecimento e as habilidades que
os indivíduos podem derivar dessa experiência podem ser úteis para que os usuários
possam encontrar e manter um emprego.
Dessa forma, as pessoas podem usar a faculdade como uma alternativa aos serviços
de saúde mental, juntamente com o apoio oferecido pelos serviços de saúde mental.
Por exemplo, em Kampala, Uganda, hospital de referência nacional, foi estabelecida
a faculdade de recuperação Butabika (Brec), onde as pessoas podiam viver em um
ambiente educacional para co-projetar e co-ministrar o ensino regular com as
necessidades em saúde mental em impunham.
Finalmente, embora muitos adultos com problemas de saúde mental tenham restrição
à educação, receber uma educação adequada e de qualidade, desenvolver e preservar
iniciativas que preencham a lacuna educacional na vida adulta é essencial para garantir
que os indivíduos podem se beneficiar dos benefícios pessoais, sociais e profissionais
da aprendizagem, se assim o desejarem.
Os serviços de saúde mental devem, portanto, perguntar rotineiramente sobre
interrupções na educação e aspirações futuras para facilitar o encaminhamento para
serviços apropriados na comunidade e garantir o acesso a mais um elemento básico
para o desenvolvimento humano: a educação.
7.3. Geração de emprego e renda

A maioria das
pessoas, incluindo
aquelas com vulnerabilidades de saúde mental, desejam envolver-se em um trabalho
significativo para a sociedade, já que ao adotar uma causa para as nossas ações, temos
a oportunidade de viver uma vida significativa.
Assim, ter acesso a empregos remunerados proporciona não apenas recursos
financeiros, estabilidade e acesso às necessidades básicas, como também pode
melhorar a qualidade de vida do indivíduo adicionando sendo de realização, propósito,
autonomia e contribuição para a sociedade .
Além disso, o trabalho também está ligado ao senso de identidade, status e
fortalecimento da rede social. Como tal, ter acesso a emprego e renda está
intrinsecamente ligado com o processo de recuperação do Recovery.
Apesar disso, o direito das pessoas usuárias de saúde mental de trabalharem, em
igualdade de condições com outras, esbarra na situação discriminatória que persiste
contra pessoas com problemas de saúde mental e deficiências psicossociais.
Até hoje, as taxas de desemprego entre este grupo são consistentemente mais altas
do que o geral
da população. Nos países da OCDE, pessoas com condições leves a moderadas, como
ansiedade e depressão, têm duas vezes mais chances de ficarem desempregadas do que
a população em geral; e, além disso, aqueles que já estão empregados tendem a possuir
contratos mais precários e salários mais baixos.
Por exemplo, uma pesquisa cruzada de 27 países com renda variável, relataram taxas
de desemprego em média 70% entre os participantes que receberam um diagnóstico da
esquizofrenia.
A lacuna nas taxas de emprego podem ser atribuída a vários fatores, como estigma e
discriminação, falta de apoio significativo, o medo dos indivíduos de perder o acesso
aos benefícios sociais, ou a lidarem com as condições de saúde mental no início da
idade adulta sem o apoio adequado.
Nesse sentido, várias abordagens que apoiam pessoas com problemas de saúde
mental e deficiências psicossociais para entrarem ou reingressarem no emprego foram
desenvolvidos em todo o mundo.
No entanto, esse tipo de abordagem vem gradualmente desaparecendo por causa da
qualidade, geralmente baixa, do trabalho oferecido por esse tipo de emprego (trabalho
com condições ruins, caráter repetitivo do trabalho, baixos salários, sem perspectivas
de desenvolvimento profissional etc.), e também por causa das taxas muito baixas de
transição para o mercado de trabalho aberto.
Essa configuração, portanto, acaba perpetuando a segregação e marginalização de
pessoas com problemas mentais e deficiências psicossociais da comunidade.
Outras abordagens alternativas são baseadas na crenças de que as pessoas que estão
fora do mercado de trabalho precisam receber algum treinamento antes de acessar
qualquer forma de emprego.
Esta abordagem pode ter várias denominações, mas é comumente conhecida como
treinamento vocacional.
Nessa abordagem, as pessoas costumam receber cursos de treinamento (em genéricos
ou específicos habilidades de trabalho, workshops, desenvolvimento pessoal ou
habilidades sociais ou cognitivas específicas, etc.) para familiarizarem-se com as
expectativas de emprego e/ou receber aconselhamento necessário.
Essas abordagens são particularmente úteis quando visam ajudar as pessoas a
encontrar um emprego que seja significativo para elas.
Alguns serviços fornecem um período de emprego de transição antes de ajudar a
pessoa a obter emprego no mercado aberto.
Isso pode ser considerado um processo gradual em que as pessoas ganham
experiência profissional, que podem ser usadas como um “trampolim” para futuras
perspectivas de emprego.
O modelo de clube é um exemplo baseado no treinamento vocacional para a geração
de oportunidades de emprego de transição antes de fornecer apoio para acessar o
mercado de trabalho aberto.
Está abordagem envolve um período de preparação antes que os membros tentem
retornar a um emprego competitivo.
Este período de preparação é baseado na criação de um “dia de trabalho ordenado” e
uma co-gestão do sistema no qual os membros do clube têm responsabilidade e
propriedade compartilhadas para o bom funcionamento do serviço (planejamento de
mantimentos, culinária, gerenciamento de fundos do clube, gerenciamento de novos
aplicativos e outro).
Esta abordagem permite com que o indivíduo construa auto-estima e as competências
necessárias para a efetivação no mercado de trabalho.
Além disso, alguns serviços de saúde mental promoveram a criação de empresas
sociais que fornecem empregos para pessoas com deficiência psicossociais.
Essas empresas competem com outras empresas abertamente no mercado, pagam
seus trabalhadores normalmente e forneçem condições decentes de segurança e
desenvolvimento.
Por exemplo, em Hong Kong, a nova associação psiquiátrica da vida, foi formada e
administrada por um grupo de indivíduos que receberam um diagnóstico agravante na
saúde mental, criando empresas sociais em vários domínios, como: restauração, varejo
e ecoturismo.
São empresas que combinam treinamento e emprego para “estabelecer um processo
viável e contínuo do empreendimento que que pode gerar renda e qualidade de vida
para os usuários ”.
O lucro dessas empresas é reinvestido para cumprir a sua missão social, que consiste
em fornecer formação a pessoas com problemas de saúde em contextos reais de
trabalho e apoio para que adquiram as habilidades e a confiança necessárias para um
emprego aberto e integração na comunidade.
Assim, cada empresa social serve como um local de treinamento e trabalho real que
permite aos usuários a melhoria de suas habilidades e capacidades de trabalho.
Por fim, também devem ser feitos esforços para apoiarem pessoas com problemas de
saúde mental e psicossociais para que elas consigam se estabilizarem em seu ambiente
de trabalho. Isso pode exigir que o apoio e as acomodações sejam feitos no e pelo local
de trabalho.
No geral, há uma grande variedade de maneiras de fornecer apoio para o emprego,
porque cada indivíduo possui requisitos diferentes, buscando considerar às aspirações
individuais de cada pessoa.

7.4. Proteção social

Viver na pobreza e em condições frequentemente associadas à pobreza, como


habitação precária, desnutrição, violência, falta de acesso à saúde e assistência social,
aumentam o risco do indivíduo
desenvolver uma condição de saúde mental agravante. Além disso, o contrário
também é valido, porque, devido aos estigmas já descritos nessa secção, pessoas com
a saúde mental fragilizada também são mais propensas a chegarem ou permanecerem
na pobreza, o que cria um ciclo vicioso alarmante para a sociedade.
Por isso, garantir o direito das pessoas dos usuários de saúde mental a um nível de
vida adequado são de importância crucial para permitir com que o indivíduo possa ter
perspectiva de Recovery.
Para isso, é necessário criarmos as mesmas oportunidades de acesso para que
indivíduos vulnerabilizados possam se sentir seguros para viver suas próprias vidas.
Apesar dos padrões de direitos humanos estabelecidos pelo direito internacional, a
prática em muitos países demonstra que as pessoas com problemas de saúde mental
são, de fato, discriminadas em relação aos benefícios sociais.
Em muitos países, os benefícios dependem da variável: deficiência individual ou de
recursos domésticos que impedem o trabalho.
Essa abordagem adota uma postura reducionista da situação e obscurece o fato de
que, por definição, a impossibilidade existe por conta do ambiente que a pessoa
vivência.
Assim, temos que considerar que os indivíduos possuem condições e necessidades
muito distintas entre si e, para que possamos alcançar a igualdade dos direitos
fundamentais que até aqui estudamos, é fundamental a criação dos meios de acesso
necessários para que indivíduos vulnerabilizados também possam alcançar plena
participação social.
Existem muitas maneiras de garantirmos que os benefícios sociais sejam adaptados
às essas necessidades e, assim, forneçam inclusão na sociedade. A questão, porém, está
em encontrarmos as melhores condições e aplicações e tomarmos a iniciativa de pôr-
las em prática.

7.5. Conclusão

Portanto, ao garantir o acesso aos direitos fundamentais da habitação, educação,


emprego e proteção social, incluímos os usuários de saúde mental à sociedade e
desfrutamos todo o potencial que eles podem proporcionar.
Dessa forma, o principal desafio que temos atualmente é implementarmos um
sistema holístico que forneça o acesso a diversas esferas sociais.
Apesar de desafiador, surge uma oportunidade, pública ou privada, da sociedade
reinventar-se e criar algo novo que seja de benefício mútuo.
Quando encontrarmos a solução, a recompensa será de todos e assim estaremos
juntos para enfrentarmos os próximos desafios.

8. OMS – Serviços na Comunidade em Saúde Mental


Em vários lugares ao redor do mundo, países, Estados e cidades desenvolveram redes
de serviços que abordam os determinantes sociais da saúde e os múltiplos desafios que
usuários e usuárias em saúde mental têm que enfrentar todos os dias em suas vidas.
Crucialmente, essas redes estão se esforçando para dar um passo adiante e trabalhar
para repensar e reformular os relacionamentos entre os serviços e as pessoas que estão
em busca de ajuda.
São serviços que concordam em colaborar ativamente com os setores que estudamos
na secção passada:
• Habitação;
• Educação;
• Emprego;
• Proteção social;
Assim, essas redes procuram criar as condições para parcerias genuínas com pessoas
com experiência de vida na relação institucional da saúde mental.
São exemplos vivos que provam que os formuladores de políticas, planejadores e
prestadores de serviços podem criar um sistema único para que os usuários e usuárias
de saúde mental tenham a condição de exigir e praticar os seus direitos.

8.1. Redes abrangentes de saúde mental consolidadas

Para que os serviços das redes que serão descritas a seguir pudessem se consolidar,
foram necessárias décadas de luta para a reformulação dos serviços e, ainda sim, são
instituições que estão constantemente fazendo avanços e reinvenções para garantir que
os direitos das pessoas a quem servem sejam totalmente respeitados.
As características comuns entre essas redes incluem:
• Compromisso político de reformar o sistema de saúde mental ao longo de
décadas;
• O desenvolvimento de novas políticas, leis, orçamentos;
• O desenvolvimento de métodos de cuidado baseados na comunidade;
• Promovendo serviços integrados e conectados com vários setores da sociedade;
• Incluindo a saúde, emprego, o sistema judiciário e outros.

8.2. Rede de Serviços Comunitários de Saúde Mental no Brasil


No Brasil, os cuidados de saúde mental com base na comunidade são prestados em
todo o país por meio de uma ampla rede de serviços orientada pelos princípios dos
direitos humanos, o que reflete em ações para o indivíduo, para a família e comunidade.
Os centros comunitários de saúde mental (CAPS) e os centros de atenção primária à
saúde de base comunitária são os principais mecanismos de coordenação da rede.
Esses serviços são complementados por outros, incluindo serviços especializados que
fornecem suportes específicos de saúde mental, equipes com alcance de rua, estratégias
de desinstitucionalização, leitos de saúde mental em hospitais gerais e emergência para
serviços urgentes.

Como eles operam:


– Centros comunitários de saúde mental (CAPS):

A abordagem CAPS é um exemplo de redes abrangentes e integradas que se baseia


na promoção de direitos humanos. Seus objetivos principais são fornecer atenção
psicossocial, promover autonomia, abordar desequilíbrios de poder e aumentar a
participação social.
Como um órgão de coordenação de rede, os caps também oferecem apoio a outros
serviços de saúde mental e de saúde geral para cumprir seu papel para a promoção de
uma rede de saúde mental mais ampla baseada na comunidade.
Para isso, o CAPS desenvolve e implementa estratégias de articulação com outros
recursos e serviços comunitários em saúde, como: educação, justiça e assistência social
com o objetivo de promover e garantir direitos.

– Centros comunitários de atenção primária à saúde mental:

Os centros de saúde comunitários são considerados o primeiro ponto de contato para


os usuários da saúde pública no Brasil, fornecendo cuidados básicos comunitários em
clínica geral, pediatria, ginecologia, enfermagem, odontologia, entre outros.
Essas instituições contam com equipes multiprofissionais com formação em saúde
mental com uma ampla gama de conhecimentos especializados que fornecem apoio
direto para centros de saúde de base comunitária (cBhc) e saúde da família.
As equipes discutem casos clínicos, realizam consultas compartilhadas, colaboram
no desenvolvimento de planos de recuperação centrados na pessoa e propõem
atividades de prevenção e promoção da saúde.

- Equipe de Consultório na Rua:

Equipes fazem parte dos centros comunitários de atenção primária à saúde mental e
fornecem apoio e cuidados de saúde aos desabrigados da comunidade.
Eles fornecem suporte geral de saúde mental, bem como suporte a indivíduos com
vulnerabilidades mentais. Assim, as equipes de rua estão em constante diálogo com os
demais institutos para fornecer o melhor apoio e cuidado aos moradores e moradoras
de rua.
É importante mencionar que eles não encaminham pessoas para hospitais
psiquiátricos ou outros serviços onde haja coerção, contenção ou isolamento. A
proposta é oferecer as condições para que o indivíduo possa adotar um plano de
Recovery próprio para sua vida.
- Serviços Residenciais Terapêuticos:

A rede de saúde mental pública no Brasil inclui estratégias de desinstitucionalização


elaboradas especificamente para indivíduos que receberam alta de hospitais
psiquiátricos ou hospitais de custódia após longos períodos de hospitalização.
As instalações de vida independente são casas localizadas na comunidade que
fornecem uma opção de acomodação independente para indivíduos que, no momento
da alta, não têm possibilidade de regressar à casa da família ou não possuem outras
redes de apoio disponíveis.
Assim, a reabilitação é fornecida por meio de uma parceria estreita entre o indivíduo,
a vida independente e acesso à moradia, com o objetivo de promover autonomia,
inclusão social e garantir os direitos de sobrevivência para o indivíduo.
Em Campinas, por exemplo, há 20 residências independentes que acomodam 139
pessoas, que fazem parte do programa “Voltar para casa”. – uma estratégia de
desinstitucionalização que envolve a transferência de dinheiro para indivíduos que
receberam alta de hospitalização de longo prazo para fortalecer a autonomia,
garantindo que tenham recursos para fazer suas próprias escolhas.

– Iniciativas entre redes:

Os serviços dentro da rede também se envolvem em iniciativas de rede cruzada que


são transformadoras em termos do indivíduo e da comunidade para alcançar uma
percepção mais ampla entre o envolvimento de questões sociais com a saúde mental.
Assim, esses são alguns dos serviços promovidos pela Rede de Serviços
Comunitários de Saúde Mental no Brasil que buscam integrar diversos setores da
sociedade para alcançar um atendimento holístico para o cuidado da saúde mental.
Confira mais alguns documentos para conhecer mais:
https://www.gov.br/saude/pt-br
http://www.saude.campinas.sp.gov.br/
https://www.youtube.com/channel/ucd2xln_gieJrwqos8ywldpQ/videos
8.3. East Lille Community Mental Health Service Network – France

Servindo a população de 88.000 habitantes na região sudeste da área metropolitana


de Lille, a rede foi construída mais de 40 anos de reorganização e reforma do sistema
de saúde mental.
A rede de East Lille demonstra que uma mudança de cuidados hospitalares para
intervenções diversificadas e de base comunitária que podem ser alcançadas com o
investimento e dedicação necessária.
Assim, durante esses 40 anos de reorganização, a rede de saúde mental de East Lille
passou a promover o conceito de “psiquiatria cidadã”.
A rede de saúde mental de East Lille é composta por uma série de serviços de saúde
mental baseados na comunidade que maximizam a independência e promovem os
direitos à cidadania.
Todos os serviços são integrados com a intenção de criar um caminho de cuidado
coerente para cada indivíduo em toda a rede. Assim, a instituição busca melhorar a
qualidade de vida de uma pessoa, sua rede social, suas realizações, seus sonhos e seus
pontos fortes.
As atividades são organizadas de acordo com quatro temas principais: prevenção e
promoção da saúde, contexto de saúde local e planejamento de Recovery.

Serviços locais médico-psicológicos:


São o primeiro ponto de contato para pessoas que utilizam a rede de saúde mental em
East Lille.
A instituição conta com uma equipe multi profissional de atendimento, que inclui:
enfermeiras, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, apoio de pares trabalhadores
voluntários e até mesmo um treinador esportivo que adapta e atende os usuários e
usuárias para exercitar as capacidades físicas de acordo com a possibilidade de cada
um.

Terapia com cuidado familiar:


Uma característica especial da rede lille é a existência de um sistema de famílias de
“acolhimento terapêutico” que pretende acolher os usuários de serviços de saúde
mental como membros de sua própria família.
Essa é uma alternativa à relação tradicional entre paciente/cuidador que busca criar
conexão entre os usuários e os prestadores de serviço.
Para isso, as famílias anfitriãs recebem treinamento para exercer suas funções como
anfitriãs, bem como treinamento em questões de saúde mental, como por exemplo: a
abordagem para Recovery e manejo e prevenção a crises.

Serviços e iniciativas de reabilitação e moradia assistida:


Além disso, a rede de saúde mental em East Lille tem um conjunto abrangente de
iniciativas complementares para apoiar os indivíduos que usam os serviços de saúde
mental a levarem uma vida significativa e participativa em suas comunidades.
O Programa de Tratamento Comunitário (ACT), por exemplo, é uma rede composta
por enfermeiras, assistentes sociais, apoiadores de pares e psicólogos, que fornecem
suporte intensivo de longo prazo para mais de 80 indivíduos com vulnerabilidades
mentais para permanecer em casa em regime de recuperação.
Além disso, o serviço também oferece uma variedade de moradias coletivas, com 13
apartamentos em habitação coletiva para até 26 pessoas.
O serviço é baseado na filosofia de “habitação em primeiro lugar”, significando
acesso incondicional a moradia e apoio para efetivar o processo de Recovery.
Outro exemplo de iniciativa complementar é o programa Frontières, que tem como
objetivo promover a inclusão social por meio de atividades físicas, artísticas, culturais,
criativas e profissionais para apoiar as pessoas a frequentarem os serviços da
comunidade com pessoas fora do sistema de saúde mental, o que pode ser uma ótima
alternativa para a reinserção progressiva do usuário na comunidade.
Assim, a rede de East Lille estabeleceu ligações ativas com muitos outros serviços
comunitários e organizações ao longo dos anos.
Utilizando esses links para ajudar as pessoas que usam serviços de saúde mental para
se restabelecerem seu lugar na comunidade, através da integração holística entre os
serviços a rede alcança seu objetivo de promover os direitos de uma cidadania ativa
para os usuários de saúde mental.
Conheça um pouco mais com os conteúdos abaixo:
https://www.epsm-lille-
metropole.fr/recherche?field_tags=all&search_api_fulltext=g21
https://youtu.be/d7_1sQsinb4

8.4. Trieste community mental health service network – Italy

A
Itália
foi um
país

marcado pela luta antimanicomial, sendo uma das precursoras da Reforma Psiquiátrica,
desde o fechamento de seu grande hospital psiquiátrico na década de 1970, a cidade de
Trieste, por exemplo, foi pioneira na implementação de cuidados de saúde mental
baseados na comunidade.
Ancorado na abordagem de que o usuário precisa da liberdade de entrar e sair pela
porta da frente quando desejar, os Centros Comunitários de Saúde Mental mantêm suas
portas abertas por 24 horas por dia, sete dias por semana, fornecendo aos usuários um
conjunto híbrido de opções para creches e pernoites.
Os recursos exclusivos da rede mais ampla incluem orçamentos de saúde
personalizados, bem como trabalho com suporte e oportunidades de treinamento por
meio de empresas sociais.
Assim, o serviço de saúde mental de Trieste baseia-se em uma abordagem baseada
nos direitos humanos para cuidar e fornecer apoio com forte ênfase na
desinstitucionalização.
– Centros Comunitários de Saúde Mental: desenvolvendo um conjunto
multidisciplinar e flexível na comunidade

Os centros oferecem pernoites com média de seis leitos disponíveis para acolher a
pessoa em crise.
A permanência média é de 13,8 dias e ao longo da estadia, os indivíduos são
incentivados a continuarem com suas atividades nas quais eles já estão envolvidos.
Assim, as pessoas podem ir aos centros de forma intermitente para sessões de terapia
individual, em grupo ou para outras reuniões, além de ter a possibilidade de
simplesmente comparecerem para um contato informal com outras pessoas para
compartilhar o tempo de refeição juntos, por exemplo.
Todos os centros têm uma política de portas abertas e não existem quaisquer barreiras
físicas, como fechaduras, chaves ou códigos, por exemplo.

- Serviços e iniciativas de apoio à inclusão da comunidade: garantindo a inclusão e


participação

A rede de saúde mental em Trieste possui um conjunto abrangente de reabilitação


apoiada a serviços de vida que trabalham em parceria com uma ampla gama de
organizações sem fins lucrativos, como por exemplo: cooperativas sociais, associações
de voluntários e apoio de pares e cuidadores.
Esses serviços de reabilitação e moradia com suporte visam garantir que as pessoas
possam ter uma vida significativa e participar plenamente da comunidade.
Os serviços de moradia com suporte, fornecidos através de vários pequenos
apartamentos para pequenos grupos de até cinco pessoas, atende cerca de 100 pessoas
todos os anos.
Existe também uma casa de recuperação, a qual tem espaço para cerca de quatro a
seis pessoas ficarem, geralmente por seis meses.
A reabilitação e vida com suporte serviços colaboram com uma rede de
aproximadamente 15 cooperativas sociais, que oferecem treinamento e emprego para
aproximadamente um terço dos usuários de serviços de saúde mental na cidade.
Entre os moradores da cidade, cerca de 160 pessoas por ano recebem subsídios, na
forma de orçamentos de saúde, a fim de acessar os serviços e cobrir despesas de
habitação, educação e treinamento, bem como necessidades de cuidado pessoal e lazer.
Um estudo de 2014 com 27 pessoas com necessidades complexas que usaram os
serviços, constatou que havia uma alta taxa de recuperação social no seguimento de
cinco anos: nove participantes garantiram empregos competitivos, 12 conseguiram
independência em suas vidas, e a pontuação geral na avaliação das necessidades de
Camberwell caiu de 75% para 25%, provando que a interseccionalidade é um aspecto
fundamental para o processo de Recovery do usuário.
Conheça um pouco mais:
http://www.triestementalhealth.org/
https://www.bbc.com/news/av/stories-49008178
https://youtu.be/gnyydKZzigm
https://www.spreaker.com/user/apospodcast/episode-8-lived-experience-in-trieste-
a-roberto
https://youtu.be/unmshQdrByi

8.5. Redes abrangentes de saúde mental em transição

Recentemente, um número crescente de países como Peru, Líbano, Bósnia


Herzegovina e outros, estão fazendo esforços combinados para desenvolverem e
expandirem sua saúde mental em redes para oferecerem serviços e apoios baseados na
comunidade, orientados para a promoção de direitos e centrados na recuperação
promovida pela proposta de Recovery.
Embora sejam serviços que estão passando por uma etapa de transição, o
comprometimento em alcançar as reformas no sistema já vêm promovendo mudanças
importantes na sociedade.
O aspecto-chave de muitas dessas redes emergentes é o foco no rápido
desenvolvimento e expansão de centros de saúde mental baseados na comunidade, que
visam desinstitucionalizar os serviços de hospitais psiquiátricos para substituir por
serviços holísticos que considerem a vida do indivíduo como um conjunto de fatores.
Assim, através da integração de serviços, as instituições emergentes em saúde mental
lutam pela garantia e plena participação e inclusão de indivíduos com condições de
saúde mental e deficiências psicossociais na comunidade.
– Líbano, Peru e Bósnia Herzegovina – fortalecendo a organização da sociedade civil
e participação significativa de pessoas com experiência vivida em saúde mental:
No Líbano o programa nacional de saúde mental no ministério da saúde pública, em
colaboração com parceiros, está atualmente facilitando a criação de serviços
independentes pelos usuários para a saúde mental para trabalhar com uma
representação adequada de pessoas com experiência vivida e assim alcançar a
colaboração para a plena participação no desenvolvimento, implementação e avaliação
de políticas de saúde para o Líbano.
Dentro do programa, a participação dos usuários do serviço tem sido um elemento
integrante na implementação da estratégia para a saúde mental, de modo que sua
participação seja um componente consistente na formulação de atividades.
No Peru, usuários e usuárias em saúde mental, assim como as pessoas com
experiências prévias com o sistema de saúde mental, têm atuado na promoção e
reforma de políticas.
Por exemplo, a associação Álamo é uma organização de pessoas com
vulnerabilidades mentais e suas famílias que desempenharam um papel importante na
elaboração e adoção da lei 29.889 de 2012, que desencadeou a implementação de um
modelo de saúde mental baseado na integração e inclusão da comunidade.
A reforma histórica de 2018 na capacidade jurídica, para a qual a Álamo participou
da comissão encarregada de revisar o código civil para reconhecer a capacidade
jurídica das pessoas com deficiências representou a coalizão da saúde mental com os
direitos humanos, fazendo contribuições significativas na elaboração dos regulamentos
da lei de saúde mental de 2019.
Mas, apesar desses exemplos positivos no cenário da saúde mental, a concepção,
implementação e monitoramento das políticas de saúde ainda são limitadas e
fragmentadas.
Em reconhecimento a isso, o ministério peruano da saúde está promovendo a criação
e participação de organizações de usuários de serviços como parte de suas ações para
fortalecer os serviços prestados em centros comunitários de saúde mental.
Uma associação nacional de usuários e membros da família (Ayni Peru) foi criada
em 2019 e irá complementar a articulação de esforços com outras organizações
regionais e locais para que essas organizações possam ser fortalecidas através da
incorporação de discussões sobre direitos humanos, apoio e rede para a saúde mental.
Já na Bósnia Herzegovina, há mais de uma dúzia de associações de usuários e
usuárias da saúde mental que se formaram e se registraram como organizações da
sociedade civil, algumas delas empregando profissionais e prestadores de serviços
como centros diários para as atividades regulares no serviço de saúde mental.
Elas fornecem serviços como a psicoeducação para os membros e suas famílias,
apoio para o desenvolvimento de habilidades, terapia de grupo, aconselhamento,
musicoterapia, etc.
Assim, há a participação ativa entre os usuários, voluntários, profissionais e outras
pessoas com experiência de vida para o apoio do exercício dos direitos dos usuários
para alcançar o bem-estar social de pessoas com vulnerabilidades de saúde mental.
Por exemplo, a campanha nacional – “pessoa é pessoa” tem como objetivo aumentar
a conscientização sobre saúde mental, retratando as pessoas como uma rede integrada
do cotidiano como parte da comunidade.

8.6. Conclusão

Conforme demonstrado ao longo desta seção, os serviços de saúde mental precisam


ser considerados como parte do uma rede abrangente e integrada de serviços e sistemas.
Os serviços disponibilizados para os usuários e usuárias de saúde mental devem
refletir a diversidade e complexidade das necessidades de cada pessoa.
De forma geral, é essencial exigir a promoção de direitos humanos para todos os
serviços da rede, para quer assim eles sejam acessíveis e inclusivos à população em
geral.
Dessa forma, a é exigida uma mudança de paradigma para alcançar uma abordagem
holística cuja atenção à saúde mental seja representa através de vários aspectos
contundentes à inclusão social.
Os vários exemplos apresentados nesta seção ilustram o esforço que o mundo inteiro
vêm fazendo para reconhecer juridicamente a importância da habitação, emprego,
educação, proteção social e apoio que a rede de saúde pública tem que oferecer.
Assim, a integração dos serviços sociais e de saúde cumprem um papel central na
promoção da recuperação, inclusão da comunidade e a plena realização dos direitos
humanos das pessoas usuárias dos serviços de saúde mental.
Porém, essa integração precisa ser constantemente reforçada e fortalecida em todos
os lugares. Neste contexto, esforços contínuos são obrigados para a construção de
colaborações com compromissos sociais.
Para isso, um forte compromisso político sustentado com o desenvolvimento
contínuo de serviços comunitários são essenciais para adotar uma abordagem de
recuperação pautada na integração de redes abrangentes.
Assim, a participação e discussão dessas questões em saúde mental torna-se cada vez
mais essencial para o desenvolvimento social. Por isso, ficamos muito gratos em ter a
oportunidade de promover e incentivar esse diálogo, pois acreditamos que assim
podemos alcançar a conscientização necessária para agirmos em benefício da saúde
mental pública brasileira.
9. OMS – Ações para a promoção da Saúde Mental Pública
Atualmente, temos uma oportunidade de colocar os direitos humanos no centro dos
sistemas de saúde mental. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e outras
estruturas internacionais de direitos humanos, por exemplo, representam
compromissos obrigações dos governos em todos os lugares para defender os direitos
de seus cidadãos e assim construir sociedades inclusivas sem deixar ninguém para atrás.
Esses compromissos e obrigações representam uma oportunidade única para
mobilizar ações, atenção e recursos para melhorarmos nossa conduta com o coletivo.
A World Health Organization (WHO) aceitou esse desafio ao formular o plano de
ação WHO comprehensive Mental Health Action Plan 2020–2030 no qual sugere e
incentiva países a adotarem as reformas necessárias para a instituição de uma saúde
mental inclusiva.
A seguir, vamos estudar todas as etapas recomendadas pela WHO para alcançarmos
a instituição de um sistema em saúde mental que considere os direitos humanos dos
usuários como o norte principal de suas ações e cuidados.

9.1. Política e estratégia para saúde mental

Colocar os direitos humanos e as abordagens de recuperação na vanguarda das


políticas estratégicas dá novas direções para a política e estratégia de saúde mental com
o potencial de trazer benefícios sociais substanciais, ganhos econômicos e políticos
para governos e comunidades.
Mas, para isso precisará haver forte colaboração entre os setores sociais e da saúde
para um processo inclusivo para o desenvolvimento e implementação de políticas
estratégicas.
Assim, para alcançarmos esse sentido, necessitamos de uma mudança de pensamento
para abranger um modelo de direitos humanos que reconhece a importância das
intervenções de saúde (desde o diagnóstico até psicológico e intervenções
farmacológicas), mas não se concentra apenas nelas em detrimento de outros fatores e
determinantes para a saúde como moradia, educação, renda, inclusão, relacionamento,
social, conexão e significado.
Para isso, listamos algumas mudanças necessárias para as políticas em saúde mental:

• engajamento da sociedade civil – em particular a participação das pessoas com


experiência vivida e suas organizações – nos processos de tomada de decisão para a
formulação de políticas e implementação da saúde mental pública;

• reorganização dos serviços e redistribuição de recursos para afastar o


atendimento psiquiátrico de hospitais na comunidade a fim de alcançar com sucesso a
desinstitucionalização;
• articulação da gama de serviços de base comunitária para a saúde mental
(incluindo crise serviços de resposta, centros comunitários de saúde mental, serviços
baseados em hospitais, serviços de extensão, serviços de apoio de pares e serviços de
moradia assistida);

• desenvolvimento da força de trabalho para nutrir uma força de trabalho


multidisciplinar forte e treinada (incluindo trabalhadores comunitários, trabalhadores
de saúde, profissionais de saúde mental especializados e apoiadores de pares) cujo
conhecimento e compreensão dos direitos humanos e princípios de recuperação são
aplicados diariamente no apoio a pessoas com problemas de saúde mental;

• orçamentos e financiamento com base em práticas baseadas em evidências e


direitos humanos, ao invés de antigos modelos desatualizados;

• melhoria da qualidade, incluindo credenciamento e monitoramento de serviços


para garantir os direitos humanos são respeitados;

• sistemas de informação para avaliar e informar melhor as políticas e melhorias


do sistema que alinham com os direitos humanos;
• implementação de iniciativas de prevenção e promoção que respondam aos
determinantes sociais;

Assim, os principais passos no caminho para colocar os direitos humanos e as


abordagens de recuperação na vanguarda da políticas públicas de saúde mental exigirão
que os países realizem as seguintes ações:

• promover explicitamente uma mudança para práticas abrangentes, centradas na


pessoa, holísticas e orientadas para a recuperação (Recovery);
• integrar os direitos humanos, a abordagem centrada na pessoa e baseada na
recuperação em todas as principais políticas e estratégias nas áreas e problemas do
sistema;
• criar ambientes propícios que valorizem a conexão social e o respeito na
educação, no emprego, sociais e outros setores relevantes;
• articular em política e estratégia como o sistema de serviços de saúde mental
farão interface com o sistema social;
• comprometer-se firmemente com a desinstitucionalização na política e garantir
que isso seja acompanhado por uma estratégia e plano de ação com cronogramas claros
e concretos;
• reconhecer, declarar e formalizar na política a importância central da experiência
vivida;

Esse é o panorama geral das estratégias políticas para a implementação de uma saúde
mental acolhedora, social e comunitária. Claro que para alcançarmos essas medidas,
muito esforço precisa ser feito, mas assim temos uma orientação clara de onde devemos
seguir para alcançarmos os nossos objetivos.

9.2. Reformas legislativas


As leis
e
regulamentos nacionais especificamente relacionados à saúde mental têm impactos
diretos e significativos sobre o grau em que as pessoas são capazes de desfrutar e
exercer seus direitos.
No contexto dos cuidados de saúde, a reforma da lei pode desempenhar um papel
crucial no aumento do acesso aos cuidados de saúde e garantir os direitos dos usuários
e usuárias de saúde mental em igualdade de condições com outros cidadãos, incluindo
o direito a igual reconhecimento perante a lei e a capacidade legal.
Além disso, há outros direitos de fundamental importância, que são:
confidencialidade, acesso à justiça, acesso ao apoio na tomada de decisões, direito à
liberdade e segurança, inclusão à comunidade, etc.
Ao mesmo tempo, a linguagem discriminatória usada por leis e regulamentos deve
ser reformada, porque atualmente muitos países ainda usam o termos discriminatórios,
como ‘mente doentia’, ‘loucura’, ‘idiota’, entre outros.
Na Índia, por exemplo, uma revisão de 2012 constatou que cerca de 150 leis antigas
na Índia, ainda operacionais, usam termos como “incorreto mentalmente”,”defeito
físico e mental“,”incapacidade“,’ enfermidade física e mental” para negar às pessoas
seu direito de exercer sua capacidade legal.
Assim, a reforma da lei de saúde mental precisa se alinhar com o cRpd e outros
padrões internacionais de direitos humanos e, para isso, os países precisam dar alguns
passos cruciais, que são:
• envolver ativamente os usuários e usuárias de saúde mental em processos de
reforma legal, a fim de garantir que as leis e regulamentos promovam e protejam seus
direitos para atender às suas necessidades e exigências;
• introduzir a capacitação para as principais partes interessadas, incluindo os
tomadores de decisão (membros do parlamento, senadores, legislaturas locais,
regionais e nacionais, etc.) antes do início da reforma da lei;
• estabelecer processos de revisão da lei para identificar a legislação que precisa
ser abolida, modificada ou adotada para alinhar as estruturas legislativas nacionais,
incluindo as leis de saúde mental;
• remover todas as disposições discriminatórias da lei relacionadas à educação,
emprego, bem-estar social, habitação, saúde, justiça, direito de constituir família e de
participação na vida política e pública;
• revogar a tutela e outra legislação substituta de tomada de decisão e substituir
por leis que reconhecem a capacidade legal para promover a tomada de decisão apoiada;
• estabelecer leis e regulamentos que promovam os direitos para a tomada de
decisões de cuidado e tratamento por si mesmas;
• incluir disposições legais e regulamentares de saúde e saúde mental que
forneçam alternativas para admissão involuntária, tratamento e outras práticas
coercitivas, incluindo isolamento e contenção.
• modificar a legislação civil e criminal para garantir que os regulamentos sobre a
responsabilidade legal de cuidado de prestadores de serviços e familiares não incentiva
ou resulta em práticas coercitivas;
• construir mecanismos de responsabilidade para relatar, treinar, demitir ou
penalizar a equipe que violar os direitos humanos;

Mas, para promovermos essas mudanças na legislação, cabe a nós a conscientização


para essas causas, pois é somente assim que iremos conseguir estabelecer o diálogo
necessário para promovermos as devidas mudanças.

9.3. Modelo de serviço para saúde mental com base na comunidade


Os cuidados de saúde mental baseados na comunidade não são uma entidade única,
mas envolvem uma gama de serviços e intervenções complementares a fim de atender
às diferentes necessidades de apoio das pessoas.
Como os serviços operacionalizados podem ser muito diferentes por região e país,
eles podem se sobrepor em termos de atividades e cuidados que prestam. Assim, o
mesmo tipo de serviço pode operar de maneiras diferentes de acordo com as diferentes
regiões.
Por exemplo, o centro de saúde mental de uma comunidade local pode fornecer
muitas funções, como resposta a crises, serviços de extensão e tratamento e cuidados
contínuos, no entanto, em outro local ou região, um centro diferente pode ter uma
função muito mais restrita já que outras funções são fornecidas por outros serviços.
Ter acesso aos recursos básicos à vida, ter oportunidades e garantia de direitos são
cruciais para apoiar as pessoas a viverem uma vida significativa e participarem
plenamente em sua comunidade.
Para tal, é importante garantir que os serviços de saúde mental e os serviços do setor
social se envolvam para colaborarem de uma forma muito prática e significativa.
Assim, para desenvolver um sistema de saúde mental comunitário que seja
verdadeiramente centrado na pessoa, orientado para a recuperação, com base nos
direitos humanos e que atenda toda a gama de necessidades e requisitos que os
indivíduos podem ter, os países precisarão realizar as seguintes ações:

• desenvolver uma rede de serviços de saúde mental baseada na comunidade para


uma região ou país fornecer funções críticas de apoio à crise, tratamento e cuidados
contínuos e vida comunitária e inclusão;
• fornecer às famílias, cuidadores e pessoas de apoio a educação, conhecimento e
ferramentas para apoiar o processo de recuperação dos usuários;
• introduzir políticas e práticas de
nível de serviço contra o uso de medicamentos forçados e outras práticas que incluem
a contenção, o isolamento físico, mecânico e químico;
• criar serviços que forneçam diferentes opções de tratamento e suporte, cobrindo
uma abordagem holística orientada para a recuperação que forneçam informações
sobre as opções de tratamento, incluindo benefícios e danos potenciais de cada um,
permitindo assim o consentimento informado completo;
• garantir que todos os serviços e apoios que estão disponíveis para a população
em geral também sejam acessíveis e inclusivos para os usuários e usuárias em saúde
mental;
• colaborar com os serviços sociais para possibilitar o fornecimento de moradias
acessíveis, oportunidades de educação, geração de emprego e renda para promover o
apoio à integração em todos aspectos da vida comunitária;

Assim, com um modelo de serviço para saúde mental com base na comunidade, as
oportunidades serão geradas em pé de igualdade e, assim, os benefícios sociais,
economicos e da saúde poderão ser desfrutados por todos nós.

9.4. Financiamento
Muitos países não investem adequadamente em saúde mental, resultando em acesso
limitado e de baixa qualidade.
Além disso, em muitos países de baixa e média renda, a saúde mental muitas vezes
não é incluída no pacote de serviços prestados pelos sistemas públicos de saúde. Porém,
apesar disso, hospitais psiquiátricos continuam a receber as maiores proporções de
gastos com saúde mental.
Por isso, a fim de criar e financiar de forma adequada uma organização centrada na
pessoa, orientada para a recuperação e baseada nos direitos humanos os serviços do
sistema de assistência e apoio à saúde mental devem realizar as seguintes ações
relacionadas a finanças:
• aumentar substancialmente o orçamento para saúde mental nos setores de saúde
e proteção social.
• usar o orçamento para remodelar os serviços, vinculando a verba a objetivos
programáticos baseados em direitos humanos;
• investir no setor social para fornecer educação, habitação, oportunidades de
emprego e sociais;
• eliminar a discriminação contra pessoas com vulnerabilidades psicossociais no
seguro de saúde para garantir que os planos e prêmios de seguro sejam fixados de
maneira justa e razoável;
• remover incentivos para manter hospitais psiquiátricos e instituições de
assistência social e incentivar o fechamento dessas instituições de forma planejada e
sistemática para garantir que ex-residentes tenham o suporte de que precisam para levar
uma vida significativa na comunidade;
• eliminar incentivos financeiros para intervenções e tratamentos que não sejam
baseados em evidências ou em conformidade com os padrões internacionais de direitos
humanos para introduzir incentivos baseados em evidências serviços de saúde mental
baseados na comunidade;
• usar incentivos financeiros para implementar abordagens não coercitivas e uma
gama mais abrangente de tratamentos e apoios que permitam abordagens de
recuperação holística e centrada na pessoa;
Embora o acesso à verba seja um problema recorrente em muitos países emergentes,
o pior cenário das finanças em saúde mental é a distribuição feita do dinheiro.
Assim, as medidas descritas a cima servem como uma orientação fundamental para
a alocação da verba pública a fim de promover o cenário da saúde.

9.5. Desenvolvimento e treinamento da força de trabalho


A força de trabalho nos setores de saúde e assistência social impactam diretamente o
tipo e a qualidade dos serviços fornecidos.
Assim, promover o treinamento e o preparo adequado para que os serviços de saúde
mental promovam uma abordagem de recuperação centrada na pessoa requer mudanças
significativas
às atitudes, conhecimentos, competências e habilidades dos prestadores de serviços
em saúde e assistência social.
A educação em direitos humanos raramente é fornecida a prestadores de serviços nos
setores social e de saúde, mas é muito necessário, uma vez que os provedores de
serviços podem (e muitas vezes fazem) restrição de direitos.
Dessa forma, os profissionais de saúde precisam ser treinados em abordagens
baseadas em direitos humanos para promover o plano de recuperação (Recovery) do
usuário ou usuária.
O treinamento intensivo é necessário para mudar atitudes e práticas e promover uma
mudança sustentável no campo da saúde mental.
Assim, a fim de integrar com sucesso um treinamento centrado na pessoa, orientado
para a recuperação e baseado nos direitos humanos, os países devem ampliar seu foco
para além do modelo biomédico da saúde e precisarão priorizar as seguintes ações:
• fornecer educação e treinamento para construir competências estruturais de
trabalhadores de saúde e assistência social como parte do treinamento pré-serviço e
contínuo que lhes permite compreender e reconhecer a importância dos determinantes
sociais da saúde mental, incluindo pobreza, desigualdade, discriminação e violência;
• redesenhar os currículos dos cursos de graduação e pós-graduação em medicina,
psicologia, serviço social e terapia ocupacional, entre outras áreas, para incorporar
educação e treinamento em direitos humanos;
• fornecer estágios e oportunidades de aprendizagem em serviços que promovam
os direitos humanos e abordagens de recuperação centradas na pessoa;
• fornecer desenvolvimento profissional contínuo (cpd) que incorpora módulos de
treinamento em direitos humanos;
• fornecer, como parte do currículo educacional, treinamento sobre como apoiar
as pessoas que desejam reduzir ou diminuir drogas psicotrópicas;

Assim, mediante o a formação e treinamento, os profissionais da área da saúde


estarão preparados para cuidarem da saúde mental do indivíduo de uma maneira que
promova as potencialidades do usuário.
Então, investir na educação e treinamento é uma etapa fundamental para investir,
também, na saúde.
9.6. Intervenções psicossociais, intervenções psicológicas e uso de drogas
psicotrópicas

Os padrões internacionais
de direitos humanos
ressaltam a importância do acesso a evidências e estudos sobre as intervenções
psicossociais, psicológicas e psicotrópicas para o benefício da saúde humana.
No entanto, é de extrema importância reconhecer que as intervenções descritas
podem ou não serem úteis a determinado indivíduo em um determinado momento de
sua vida.
Então, a intervenção deve ser sempre discutida e problematizadas para que as suas
limitações e os possíveis efeitos negativos estejam claramente explicados e entendidos
para que assim o uso final seja feito com base na vontade, preferência e consentimento
do usuário, e não do médico(a).
Porém, as práticas atuais nos quatro cantos do mundo colocam as drogas
psicotrópicas como o centro do tratamento em saúde mental.
As principais preocupações são expressas sobre evidências que mostram que, embora
as drogas psicotrópicas possam ajudar as pessoas a gerenciar sintomas e diferentes
formas de angústia, o uso de psicotrópicos é extremamente maléfico à saúde mental e
até mesmo a saúde física no longo prazo.
Por exemplo, recentemente a preocupação crescente tem sido expressa sobre os
efeitos negativos dos antidepressivos que, quando retirado dos usuários, causam
síndromes graves devido a abstinência da substância.
Isto é particularmente preocupante dado que esses psicotrópicos estão sendo
amplamente prescritos em muitos países e as evidências mostram que a sua eficácia é
relativa e contestável.
Portanto, é essencial que esses medicamentos não sejam usados em demasia e, além
disso, é necessário que os prestadores de serviços e as pessoas com autoridade de
prescrever esses medicamentos sejam responsáveis em considerar os efeitos nocivos
que podem gerar para a vida do usuário.
Assim, ao invés de exaltarmos a intervenção psicotrópica, devemos considerar
melhor as intervenções psicossociais (intervenções de apoio às pessoas para o acesso à
moradia, emprego, educação, treinamento e proteção social) para que o contexto do
cuidado em saúde mental tenha uma abordagem holística, centrada no processo de
Recovery da pessoa em recuperação.
Para isso, é imprescindível que os serviços tenham acesso a diferentes ferramentas
de recuperação que possam ampliar o tratamento para fornecer uma abordagem mais
personalizada para os indivíduos.
Assim, a fim de garantir que todos os serviços, intervenções e apoios de saúde mental
estejam em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos, os países
precisarão realizar as seguintes ações:

• garantir que as intervenções psicossociais atendam a toda a gama de


necessidades que uma pessoa pode ter, abrangendo relacionamentos, redes sociais e de
pares, trabalho e renda, necessidades de educação e treinamento, moradia;
• disponibilizar uma gama de opções de tratamento não farmacológico e
farmacológico, oferecidas pelos serviços de saúde, levando em consideração a
importância das opções e abordagens não farmacológicas;
• garantir a disponibilidade de ferramentas psicológicas, intervenções e
medicamentos psicotrópicos nos países;
• discutir explicitamente com todas as pessoas que estão considerando o
tratamento, os potenciais efeitos benéficos e prejudiciais da medicação e seus impactos
na saúde física, bem como as intervenções psicológicas, e os prós e contras de ambos;
• fornecer orientação e apoio às pessoas que desejam reduzir ou abandonar as
drogas psicotrópicas; • avaliar e monitorar o uso e custos de medicamentos
psicotrópicos, intervenções psicológicas e outros tratamentos em saúde mental e
serviços sociais na atenção primária;
• usar planos antecipados, certificar-se de que estes sejam acessíveis e
comunicados a outras pessoas-chave e que sejam aplicados para garantir que a vontade
e as preferências de cada pessoa sejam respeitadas no que diz respeito ao tratamento e
suporte oferecidos.
9.7. Sistemas de informação e dados

Os sistemas de informação de saúde mental são essenciais para um sistema de saúde


mental que funcione bem. Para formuladores de políticas e planejadores, os sistemas
de informação fornecem um mecanismo para a compreensão da situação de saúde ao
longo do tempo para que assim possam avaliar as metas e objetivos para melhorias e
cursos de ações futuras.
Além disso, os dados também podem ser usados para informar as pessoas que
utilizam os serviços de saúde mental sobre o cumprimento da qualidade do serviço e
sobre os padrões de direitos humanos.
Dado o importante impacto dos determinantes sociais na saúde mental, são
necessários indicadores dentro e fora do setor de saúde a fim de alcançar a diversidade
de informações necessárias para a aplicação de uma saúde mental pública de qualidade.
Embora seja improvável que todos os dados necessários possam ser coletados, os
países devem, no entanto, revisar, determinar e priorizar quais dados são importantes e
viáveis de coletar em uma base rotineira para que pesquisas periódicas possam ser
usadas para complementar os esforçossobre questões da área da saúde.
Assim, para planejar, monitorar e avaliar efetivamente a criação e implementação de
uma abordagem baseada nos direitos humanos para melhorar a saúde mental e o bem-
estar da comunidades, os países precisarão realizar as seguintes ações:

• coletar dados em nível nacional para relatar indicadores de saúde mental que
reflitam os determinantes sociais da saúde mental e dos direitos humanos das pessoas;
• desagregar os dados quando apropriado por sexo, idade, gênero, raça, etnia,
deficiência e outras variáveis relevantes para o contexto nacional;
• revisar, discutir, priorizar e concordar sobre indicadores viáveis em nível de
serviço, a partir dos dados destacados acima;
• coletar informações importantes de pessoas que usam os serviços para
compreender a qualidade do atendimento e o respeito pelos direitos humanos a partir
de pesquisas de saída;
• especificar meios e métodos para a coleta de dados para indicadores os
selecionados;
• usar dados para informar a saúde e outros setores sobre o estado da saúde mental
e direitos humanos, o impacto da política, estratégia e intervenções para lidar com a
saúde e orientar melhorias necessárias com base nas conclusões, que incluem o uso de
dados
• disponibilizar os dados coletados pelos serviços de saúde do governo para a
sociedade civil para uma prestação de contas transparente e integra dos serviços.

9.8. Sociedade civil, pessoas e comunidade


Embora a orientação proposta para o cuidado da saúde mental se concentre na
construção de sistemas sociais e de saúde que integrem as pessoa com abordagens
baseadas nos direitos humanos, é importante reconhecer que, isoladamente, esses
esforços são insuficientes para alcançar os resultados pretendidos.
Para isso, esforços mais amplos são necessários para criar sociedades e comunidades
inclusivas onde a diversidade é aceita e a os direitos de todas as pessoas são respeitados
e promovidos.
Assim, várias ações em nível de comunidade que podem contribuir para que este
objetivo seja alcançado.
Dessa forma, é fundamental agir em relação à mudança de atitudes ou mentalidades
negativas em relação ao estigma e a descriminação não apenas dentro dos ambientes
de saúde e assistência social, como também dentro de demais setores da comunidade,
incluindo: membros da família, departamentos governamentais, onGs, entidades
educacionais, locais de trabalho, pesquisadores e acadêmicos, professores, polícia,
sistema judiciário, instituições religiosas e demais organizações.
Portanto, o intuito é contribuir no sentido de criar comunidades mais coesas e
harmoniosas que possam, por sua vez, promover a saúde e bem-estar de seus membros.
Para isso, campanhas de conscientização e treinamento em direitos humanos são
ações essenciais para lidar com o estigma e discriminação e, geralmente, funcionam
melhor quando envolvem contato pessoal.
Por meio dessas ações é imprescindível que as pessoas com problemas de saúde
mental e as deficiências psicossociais se conscientizam de quais são seus direitos para
que possam reivindicá-los.
Nesse sentido, pessoas com experiência de vida têm um papel único na concepção e
implementação de campanhas de conscientização.
Então, a fim de criar sociedades inclusivas nas quais a voz de todos sejam ouvidas e
valorizadas, os países precisarão realizar as seguintes ações:

• fornecer treinamento em direitos humanos no contexto da saúde mental para


influenciadores-chave de todos os grupos de partes interessadas em todos os setores,
incluindo pessoas com experiência de vida;
• investir e apoiar o estabelecimento e sustentabilidade de organizações
representativas de pessoas com experiência de vida nas questões de saúde mental;
• envolver organizações de pessoas com experiência de vida em saúde mental
como consultores na política, no planejamento, na legislação e no desenvolvimento de
serviços para melhor proteger os direitos humanos e alcançar resultados positivos de
recuperação e inclusão na comunidade;
• trabalhar com a mídia para relatar, com responsabilidade, o trabalho e a vida de
pessoas usuárias dos serviços em saúde mental para educar a população ativamente
contra estereótipos e violações dos direitos humanos.
9.9. Pesquisa científica

Embora haja alguns estudos sólidos examinando práticas de recuperação, incluindo


colocação individual e apoio, revisões recentes da literatura indicam que há, porém,
poucos estudos no geral e estão virtualmente ausentes em países de renda baixa e média.
A extensão da pesquisa que examina as abordagens baseadas nos direitos humanos
em saúde mental é extremamente limitada.
A falta de pesquisas que explorem as boas práticas de direitos humanos, serviços e
apoios orientados para a recuperação para a saúde mental ainda é um empecilho para
o avanço das políticas públicas em países do mundo inteiro.
Então, é necessário um aumento significativo no investimento em pesquisa científica
para a avaliação de custos e resultados para esses tipos de serviços.
Além disso, são necessárias mais pesquisas sobre as muitas intervenções promissoras
que se mostraram eficazes em redução de práticas coercitivas por meio do uso de
procedimentos de desaceleração, equipes de resposta, conforto de salas, planos
individualizados para responder a sensibilidades, bem como intervenções para
promover capacidade e autonomia.
Embora hajam evidências para apoiar a eficácia de muitas dessas intervenções, há
também uma notável falta de pesquisas sobre o social, sobre as questões econômicas e
culturais que afetam a saúde mental dos indivíduos.
Assim, o investimento em pesquisas sobre o papel crítico que os ambientes sociais
desempenham no contexto da saúde mental também necessário para ajudar a afastar a
agenda de uma compreensão dos problemas de saúde mental que consideram as
pessoas simplesmente como conjuntos de “sintomas” a serem eliminados.
Nesse sentido, pessoas com experiências anteriores nas questões de saúde mental
podem ser decisivas para fazerem contribuições notáveis na área de pesquisar por
causa de sua expertise.
Mas, para que a pesquisa científica seja ampliada na área da saúde mental será
necessária uma reorientação das prioridades de pesquisa para criar uma base sólida
para uma abordagem verdadeiramente baseada em direitos aos sistemas e serviços de
saúde mental.
Isso vai exigir as seguintes ações para os países e organizações de pesquisa
internacionais e nacionais em saúde mental:

• aumentar o investimento e financiamento para pesquisas quantitativas e


qualitativas para avaliações de serviços e apoios compatíveis com cRpd para os
usuários em saúde mental;
• pesquisas e avaliações sobre políticas, leis, serviços e abordagens de treinamento
para acabar com a coerção, respeitando a capacidade legal e a autonomia dos
indivíduos;
• incentivar a pesquisa que se concentre na ampliação de serviços em
conformidade com o cRpd e suporte para usuários de saúde mental;
• redefinir resultados de pesquisa significativos para focar e incluir resultados
relacionados à participação e inclusão da comunidade, entre outras dimensões de
recuperação;
• incentivar a pesquisa que se concentre em intervenções para abordar as questões
sociais, economicas e culturais impactando a saúde mental em nível individual e
populacional;
• promover pesquisas sobre os determinantes da saúde mental;
• nomear pessoas com experiência de vida em saúde mental em funções de
liderança para definir a agenda de pesquisa e desenvolvimento para a implementação
de pesquisas relacionadas à saúde mental;
• comunicar eficazmente os resultados e descobertas das pesquisas a todas as
partes interessadas, incluindo os profissionais em saúde e assistência social,
formuladores de políticas, ONGs da sociedade civil, academia e população;
10. Conclusão

Essas foram as considerações e orientações promovidas pela OMS para a promoção


de uma saúde mental mundial que seja pautada pela consideração dos direitos humanos
aos usuários dos serviços.
Ao longo desse projeto, problematizamos as relações entre a saúde mental e as ações
institucionais promovidas ao longo da história para refletirmos sobre o caminho que
devemos seguir para corrigir a nossa conduta de cuidado à comunidade.
Para a orientação, apresentamos uma série de exemplos institucionais que buscam
uma redimensão das práticas tradicionais existentes em saúde mental para alcançarem
práticas alternativas que promovam e incentivem os potenciais humanos existentes em
cada indivíduo.
Então, ao longo do projeto você pôde conferir instituições do mundo inteiro que se
comprometem com a mudança do paradigma em saúde mental na contemporaneidade.
Além disso, nos apresentamos, também, os valores, as condutas e os conceitos que
pautam as novas práticas de saúde, bem como apresentamos as ações necessárias para
alcançarmos a conduta ideal para a promoção de direitos aos usuários da saúde mental.
Para nós, foi um imenso prazer trabalhar com esse projeto e esperamos que você
também tenha aproveitado todo conteúdo aqui exposto. Esse é um assunto de
demasiada importância para refletirmos e alcançarmos um benefício comunitário que
agregue para toda a sociedade.
Portanto, agrademos a sua participação e é com muito prazer que convidamos você
a fazer parte dos demais canais do CENAT e de nossos projetos futuros.
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REFERÊNCIA:

- Conteúdo adaptado do documento público: “Guidance on community mental


health services: promoting person-centred and rights-based approaches”. Geneva:
World Health Organization; 2021 (Guidance and technical packages on community
mental health services: promoting person-centred and rights-based approaches)
Relatório OMS.pdf

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