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Conformação do sistema de

equilíbrio de poder durante o


século XIX e sua queda
Barraclough - Introdução a História Contemporânea, capítulo 4
27/10/2020
• No espaço de meio século, um sistema multilateral de equilíbrio, cujo
centro era a Europa, foi substituído por um sistema de bipolaridade
global entre duas grandes potências extra-européias, os Estados
Unido e a União Soviética.
• Como esse deslocamento acontece?
• Exaustão da Europa em duas guerras mundiais
• fragmentação em unidades pequenas e médias => que culminou na
criação da cadeia de Estados da Europa Oriental => Estados fracos
• "Toda guerra Europeia resultou em maior divisão, toda a guerra
colonial, em maior coesão"
• Embora as lutas internas dentro da Europa sejam destacadas como
principal fatores de seu declínio, dois outros fatores a longo prazo
foram mais decisivos:
• Concentração de poder em dois flancos: um processo quase independente do
que se passava na Europa => EUA e Ásia (Japão)
• Surto de novos centros de gravidade política e novos campos de conflito na
Ásia e na região do pacífico, com os quais as potências europeias só
indiretamente estavam relacionadas;
• Encarar a divisão do mundo em dois grandes blocos de potências
como simples resultado da decadência da Europa é uma interpretação
demasiado negativa.
• É possível distinguir duas esferas políticas, mas distintas: uma, os
conflitos entre as potências europeias; outra, o maior conflito global,
em escala mundial, em que, quando a Espanha, primeiro, e depois a
França, ficaram para trás, a Grã-Bretanha, a Rússia e os Estados
Unidos emergiram como protagonistas.
• Havia um sentido de expansão do sistema Europeu desde as cidades-
estado para uma economia mundial
• No final do século XIX, este processo evoluiu ainda mais. Não foi ele
confirmado como flagrante, pela partilha da África? Não se tratava
simplesmente de que cada nação europeia reclamava sua parcela nos
despojos da África, com medo de que sua posição relativa no coneto
de forças diminuíssem nas do que isso, impunha-se a necessidade de
repartir a África a fim de que o equilíbrio de poder continuasse
funcionando como antes, agora não só num plano europeu, mas
global.
• Opiniões: Havia uma projeção do sistema europeu para o mundo todo.
Mas as decisões finais continuavam sendo europeias. No entanto, tais
opiniões se baseavam em ilusão, segundo o que a História mostrou.
Concretizaram uma constelação temporária de forças que não se
aplicava a uma geração antes, nem a uma depois.
• Nos intermédios do século XIX, havia uma visão pessimista sobre a
posição europeia na Economia Mundial. No fim do século XIX, em torno
de 1870, com a segunda revolução industrial, as potências europeias
pareciam estar em vantagem. E o segundo motivo do otimismo, foi a
restauração aparente do sistema europeu após a guerra da Criméia
(1856) e a Formação de um Estado forte por Bismarck. Criando um
novo bloco alemão como sólido e poderoso bloco no próprio centro do
continente, Bismarck reequilibrara a situação e dera à Europa um novo
acesso de força.
• No entanto, a Prússia jamais atingiu realmente o mesmo nível das
potências mundiais, em relação ao poder que exerce em escala global
• E também, a industrialização não estava confinada à Europa. A Rússia
e os EUA se industrializavam rapidamente, além do início da
industrialização nipônica.
• Em 1890, a Rússia e a América voltavam a alcançar a Europa.
• Não se pode subestimar tal mutação. Embora suas vitórias em 1870,
sua rápida industrialização tivesse levado a Alemanha à novas
eminências, encontrava-se um uma situação precária em virtude da
ascensão dos EUA e da Rússia. A consciência desta situação, insuflou
uma qualidade explosiva à política alemã, de 1888 até os dias de
Hitler: Se a Alemanha quiser ocupar seu lugar "na ordem futura dos
Estados mundiais" e não acabar como "uma segunda Holanda ou uma
segunda Suiça", tem que agir rapidamente, pois "com a União
Americana, uma nova potência de tais dimensão nasceu que só ela
ameaça subverter todo o antigo poder e hierarquia dos Estados".
(Hitler, 1928).
• A ascensão dos EUA e, paralelamente, a da Rússia transformariam a
política mundial
• Para alguns poucos historiadores da época, apenas a federalização do
Império Britânico poderia se contrapor a tendência de que as
potências europeias se tornariam secundárias (Seely).
• Para outros, a Europa manteria seu lugar na política mundial, devido
• a) à força recuperada da Alemanha de Bismarck e à última grande erupção do
expansionismo europeu que parecia contradizer todas as previsões de
decadência da Europeu;
• b) à tendência dos europeus para encararem as questões europeias como de
importância decisiva para os problemas mundiais;
• c) finalmente, era devido a uma tendência inata para subestimar os Estados
Unidos como fator de influência nas relações internacionais e, especialmente,
para considerá-los desinteressados de todas as questões fora do continente
americano.
• efeitos da unificação alemã realizada por Bismarck foram limitadas no
tempo
• A política externa desde o tempo de Washington, sempre fora de
manter-se alheia às complicações europeias. Isso não significa
isolacionismo, pois não renunciava a intervenções em outras áreas do
globo. Também utilizava as complicações europeias para extrair
vantagens. Não é correto julgá-lo isolacionista. As tradições
imperialistas e uma determinação de desempenhar parte ativa da
política internacional, remontam aos princípios da História dos
Estados Unidos; fluíram ocultas durante uma geração depois da guerra
civil, enquanto os EUA inauguravam um período de consolidação e
davam início ao desenvolvimento intensivo da sua economia interna;
mas não se tratava de algo que explodiria subitamente em 1898
• Nas primeiras fases, o imperialismo norte-americano, concentrou-se
em obter para os EUA o controle do continente norte-americano;
depois da compra de Luisiana, o Texas, o Oregon, a Califórnia, Cuba,
México e Canadá foram seus objetivos imediatos. Desde o início,
projetou suas vistas para a Ásia, através do Pacífico e a aquisição dos
litorais a oeste e noroeste da Califórnia e do Oregon sempre foi
encarada em relação à política do Pacífico e não simplesmente como
um arredondamento do território continental.
• Foi no pacífico que os Estados Unidos trilharam pela primeira vez o
caminho para o poder mundial; mas em meados do século, seus
olhares se estendia para além do pacífico. Os americanos tinham
ganham consciência da unidade das forças em busca de expansão e de
seu significado em termos de um império americano universal,
conforme destacado por um jornalista da época, J. D. B. De Bow com o
"destino manifesto" a cumprir.
• O exuberante expansionismo do império americano (sobre o México,
América do Sul, Índias Ocidentais, Canada, Ilhas Sandwich, Ilhas do
Golfo, China, Japão, etc...) não conhecia limites geográficos e entrava
em conflito com outros imperialismos: francês e espanhol, britânico e
russo. O resultado disso foi um desvio no eixo da política mundial.
• A Europa não deixou de ser logo, evidentemente, um centro principal
de rivalidades internacionais, mas já não era o único e deixaria de ser o
decisivo.
• Por último, a mutação para um sistema de política internacional foi
uma consequência do desenvolvimento das comunicações mundiais. O
mundo mudou muito entre 1815 e 1900
• Com o passar dos anos no século XIX, os espaços entre diversos
teatros tinham sido ocupados; as áreas do globo tinham encolhido, ao
colocarem a economia mundial ao seu alcance, as potências europeias
foram se encontrando uma a outra e se eclipsavam mutuamente.
• Em 1917, o presidente Wilson proclamou: "não deve haver equilíbrio
de poder, mas uma comunidade de poder, não rivalidades
organizadas, mas uma paz comum organizada". Isso anunciava que a
velha estrutura de relações internacionais ficara obsoleta numa época
de política em escala mundial.
• Mudança no "equilíbrio de poder europeu" :
• A entrada em cena do Japão e dos EUA entre 1895 e 1905
• A repartição da África pôde seguir as convicções europeias porque nem os
EUA, nem a Rússia estava diretamente envolvidos nas questões africanas

• Avanço Europeu sobre a China


• O que impediu a repartição da China foi a reação das potências não
europeias, Japão e EUA.
• O resultado da tentativa de repartir a China deslocou o sistema europeu
O que havia de novo da situação do Extremo-
Oriente, entre 1898 e 1905?
• a explicação não reside no fato que os EUA saíram de seu
isolacionismo
• também não foi o fato de ter resultado na primeira guerra entre uma
grande potência ocidental e uma não ocidental (Japão X Rússia)
• Consequências dos conflitos entre 1898 – 1905:
• marca o final do entendimento recíproco entre Rússia e EUA,
colocando-os como rivais no pacífico;
• estabelecem no extremo oriente um local de conflitos internacionais.
Isso tinha uma importância maior para as potências extra-europeias
(EUA);
• Em 1902, quando a Inglaterra se alia ao Japão parecia que
astutamente havia realizado uma manobra contra a Rússia,
aparentando que o Japão ficaria subordinado à Grã Bretanha. Mas foi
o Japão quem utilizou esta aliança ao seu favor
• Nota de Porta Aberta: Em 1899 advertiram as potências para se
afastarem da China
• A rivalidade entre Rússia e EUA não era direta, tomou antes forma
pelo tácito apoio ao Japão. Atenuou-se e modificou-se em 1905,
quando o Japão ganha a guerra. Este coloca-se como adversário norte-
americano. Tal conflito colocou fim a um apoio entre ambos que
durara cem anos contra a Inglaterra. Agora com a decadência da
supremacia britânica, as duas potências colocavam-se frente a frente,
de um lado e outro do pacífico. Assim começa um conflito de
interesses que se alastra pelo globo.
• propiciaram a formação de um vínculo permanente entre os
problemas europeus e mundiais, a longo prazo, os primeiros se
subordinaram aos segundo.
• A divisão do mundo em dois blocos hegemônicos tem aí a sua origem
• As potências europeias não entregaram a sua herança hegemônica
sem luta. O período após 1898 marca o início da era pós-europeia e
o final da era europeia. A primeira metade do século XX, caracteriza-
se por ser um período bastante confuso em que um novo sistema
luta para nascer e outro continua para permanecer vivo.
• Havia no período o intento alemão de reorganizar a Europa como um
império continental capaz de fazer frente aos vastos impérios
transcontinentais americano e russo.
• A Europa era apenas um elemento no sistema internacional de uma
complexidade incomensuravelmente maior
• Êxito de Bismarck e criar o novo Reich em 1871 foi consequência da
Rivalidade entre Rússia e Grã Bretanha fora da Europa
• Mesmo a Inglaterra que durante o século XIX manteve uma política
externa mais afastada do "Velho Mundo" ela volta seus olhos ao
Europa após o aumento do poderio alemão e também a política russa
após os reveses com o Japão.
• Tanto a Rússia quanto a Inglaterra estavam embaraçadas em suas
questões europeias. A Rússia ainda detinha uma posição consolidada
na Ásia Central que não era ameaçada nem pelo Japão que fornecia
uma sólida base para seu poderio mundial. Já a Inglaterra dependia da
sua preponderância marítima e do controle sobre povos que poderiam
ser agitados por outras potências.
• Foi explorando as preocupações dos Russos e dos Ingleses que o Japão
consolidou sua posição na Ásia.
• Os Eua aproveitaram dos conflitos entre europeus para consolidarem
sua posição na Antilhas, eliminarem a influência britânica do Canal do
Panamá e enunciarem uma doutrina Monroe mais ambiciosa.
• Alemanha e Japão podiam continuar sua marcha porque não tinham
distrações fora da esfera de ação. Os EUA tinham grande capacidade
de se dissociarem dos problemas europeus => "é verdade que o
declínio do poderio britânico foi um reflexo da inaptidão da Inglaterra
depois de 1890, para encontrar uma solução para o problema em que
se digladiava desde o século XVIII - o de criar um equilíbrio entre os
interesses mundiais e europeus.”
• A Alemanha com o aumento de poder foi desempenhando um papel
cada vez mais importante nas relações internacionais, apesar de
defender a bandeira da "política mundial", os conflitos nos quais a
Alemanha se envolveu no ultramar, levaram-na a aumentar o poder
dentro da Europa, seu foco de ação.
• Teria sido a Primeira Guerra Mundial uma guerra europeia?
• Teria sido a política Alemã uma continuidade das políticas das
potências europeias de uma impor sua hegemonia às demais?
• Que a Alemanha buscou estabelecer seu domínio sobre a Europa,
não resta dúvida; porém, sua finalidade - ao invés dos anteriores
rivais pela hegemonia europeia - não era europeia, mas sim a de
"obter a liberdade em participar a política mundial". A diferença é
importante, pois indica que a guerra fora desde início concebida
como uma guerra mundial.
• O objetivo da Guerra para os alemães era a criação de dois vastos
impérios: um na Europa e outro na África Central. A Alemanha teria
de se confrontar com a Inglaterra, e este confronto deflagrou a guerra,
em moldes clássicos pela luta da hegemonia europeia. A Alemanha
não visava a destruir a Inglaterra (como foi o caso de Napoleão), mas
sim garantir a participação alemã no "futuro concerto de potências
mundiais". A Alemanha procurou estabelecer a guerra em um plano
mundial: intervenção na Índia, Egito e Pérsia, apoio ao Japão,
insurreição na África do Sul, projeto de sedução dos EUA pela
anexação do Canadá.
• Apenas o desmembramento da Alemanha poderia permitira este
reequilíbrio de poder. O cordon sanitaire em redor da Alemanha,
construído pela França, foi incapaz de desempenhar a função para
que fora criado, como a subida meteórica de Hitler demonstraria. Em
1918, o poderio das nações europeias desvanecera-se e o papel
decisivo passara para as mãos das duas grandes potências extra-
europeias situadas em seus flancos. A derrota da Alemanha foi
resultado da superioridade dos Estados Unidos. A Europa deixara de
ser capaz de resolver seus próprios problemas.
• A entrada dos EUA na Guerra em 1917 foi um ponto decisivo na
História, marca uma fase de transição de uma era europeia para uma
era mundial da política.
• Também foi importante porque após a Revolução Bolchevista na
Rússia em novembro de 1917, tomou forma tangível a divisão do
mundo em dois blocos rivais, inspirados por ideologias
irreconciliáveis.
• Wilson e Lênin sabiam que estavam competindo pelo sufrágio da
humanidade e para impedir que Lênin monopolizasse a edificação do
mundo no pós-guerra, que Wilson publicou os seus Quatorze
Pontos.
• Wilson e Lênin rejeitavam o sistema internacional existente,
rejeitavam a diplomacia secreta, as anexações, a discriminação
comercial, ambos denunciaram o "peso morto do passado". Eram os
profetas de uma "nova ordem internacional".
• Ambos rejeitavam o equilíbrio de poder europeu
• Ambos eram contra a política de anexações, ajustamentos e
compensações territoriais não melhorava a segurança americana,
nem melhorava a sua situação estratégica.
• Os bolchevistas também repudiaram o velho sistema europeu de
equilíbrio de poder (apesar de Stalin anexar territórios depois em
1944 e 1945, por meio da "revolução mundial", medida adotada
quando a segurança da Rússia estava em jogo).
• Wilson e Lênin apelariam para todos os povos do mundo. E ambos
caíram em concorrência. Os apelos de Lênin para a Revolução
Mundial foram contragolpeados pelos 14 pontos de Wilson. A
solidariedade do proletariado e a revolta contra o imperialismo foram
contrabaleceados pela autodeterminação dos povos e o voto do
homem comum. Estes eram os slogans do novo sistema
internacional. O qual (mesmo que voltasse àquilo) excluíra a ideia de
que se tratava de mais do mesmo.
• Além das divergências políticas nas relações russo-americanas,
emerge divergências ideológicas. Depois da Segunda GM, a divisão
do mundo entre Rússia e a América prosseguiu rapidamente. E a
bipolaridade marcará o mundo no pós-guerra. No entanto este
sistema bipolar não foi consequência da II GM, isso tem suas origens
já no século XIX, na emergência das potências russa e americana e na
decadência dos Estados Europeus.

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