Você está na página 1de 13

Universidade de É vora

Departamento de Histó ria

Curso de Relaçõ es Internacionais

Prof. Dr. Paulo Guimarã es, docente

TRAÇOS GERAIS DA EVOLUÇÃ O DAS RELAÇÕ ES


INTERNACIONAIS ENTRE 1914 E 1945

Nas vésperas da I Guerra Mundial, a Europa apresentava-se como um sistema


multipolar no qual algumas grandes potências se constituíam como á rbitros das questõ es
internacionais, exercendo e disputando influência sobre os Estados “fracos” ou
“pequenos”. Apesar da rivalidade existente ente a Entente Cordiale e a Tripla Aliança, era
possível à s duas alianças estabelecerem acordos. Entre Dezembro de 1912 e Agosto de
1913, a conferência de embaixadores realizada em Londres 1 teve por objectivo chegar a
um acordo na sequência da 1ª Guerra dos Balcã s. A ideia era limitar este tipo de conflitos,
“localizando-os”. No entanto, revelou-se a incapacidade de estabelecer um acordo quanto
ao futuro do Império Otomano.

O que definia, entã o, o estatuto de grande potência? Em primeiro lugar, a


capacidade de desencadear um conflito bélico em larga escala, rapidamente e com sucesso.
(Note-se que uma futura guerra ter lugar no palco europeu era visto como sendo muito
rá pida e decisiva). Neste sentido, a força efectiva (i.e. pronta para o combate) de um
Estado-potência era mais importante do que a sua capacidade de mobilizaçã o e as suas
reservas humanas e econó micas a médio prazo.

A Grã -Bretanha mantinha-se como a principal potência naval, muito embora o


progresso naval alemã o começasse a constituir uma séria ameaça a essa posiçã o. A
Alemanha, por seu turno, era uma potência continental e tinha a liderança no exército que
era profissionalizado, prestigiado e influente. A Rú ssia impressionava pela sua capacidade
de mobilizaçã o, muito embora o seu prestígio militar tivesse ficado diminuído apó s a
guerra contra o Japã o, ente 1904 e 1906.

Em termos econó micos, a Grã -Bretanha mantinha-se como a principal potência


tanto pelo seu volume de exportaçõ es como de investimento de capitais. A Alemanha
impressionava pela sua capacidade de produçã o de aço e era cada vez mais uma potência

1
Participaram Grã -Bretanha, França, Rú ssia, Alemanha, Á ustria-Hungria e Itá lia.
1
econó mica mundial pelo seu volume de exportaçõ es e pela sua participaçã o no comércio
internacional.

A Rú ssia era um país atrasado, muito embora com importantes bolsas industriais.
Também a Á ustria-Hungria e a França, revelavam poder militar e naval muito embora, em
termos econó micos se mantivessem muito atrá s da Grã -Bretanha ou da Alemanha.

A Bélgica apresentava-se como o caminho natural para vencer os obstá culos


militares na frente ocidental.

Uma segunda questã o fundamental, quando se pensava numa futura guerra,


colocava-se relativamente ao moral da populaçã o, da sua atitude face à guerra e das suas
consequências. Desse ponto de vista importa realçar que o nacionalismo constituía um
cimento que colocava Franceses e Alemã es sob a liderança das forças conservadoras.
Também na Grã -Bretanha havia uma opiniã o favorá vel à guerra. Na Á ustria-Hungria e na
Rú ssia, o sucesso militar daria coesã o e prestígio à s elites que dirigiam esses Impérios. A
derrota, por seu turno, podia significar desintegraçã o e revoluçõ es que colocariam em
causa os Impérios e as suas elites, como de facto viria a acontecer no final da I Guerra
Mundial.

Deste modo, a futura guerra seria um facto decisivo a vá rios títulos (permitia
manter a ordem interna mais coesa, reforçar o poder e a posiçã o internacional das
potências vencedoras2).

O estatuto de grande potência também se definia com a sua relação com os Estados
fracos, os quais esperavam protecçã o e solidariedade face à ameaça das potências hostis. A
sua defesa dependia destas alianças e o prestígio das potências media-se pela sua
capacidade de cumprir com estes requisitos, da manutençã o duma relaçã o de patronage.

Vejamos o caso da Itália.

Embora a Itá lia almejasse o estatuto de grande potência, o seu valor real como
aliado militar de peso era duvidoso. O conflito social e a crise do parlamentarismo
acentuava-se, o deficit do Estado aumentara grandemente com a guerra contra a Turquia,
em 1911, que levara à ocupaçã o da Líbia. Os seus interesses dividiam-se entre a fidelidade
à Tripla Aliança no qual a Austria-Hungria aparecia com interesses rivais e o alinhamento
pela Entente. Daí que no inicio das hostilidades, a Itá lia tivesse optado pela neutralidade.
2
Houve um movimento pela paz apoiado sobretudo por sociais-democratas e liberais que se
opunham ao aumento das despesas militares e ao controlo da diplomacia por profissionais. As
tentativas de limitaçã o da corrida aos armamentos vieram da Rú ssia, tendo sido realizada uma
conferência internacional em 1907. Todas estas iniciativas mostraram-se sem consequências
práticas.
2
A Grã-Bretanha era uma potência atlâ ntica com interesses hegemó nicos globais,
era o centro do capitalismo financeiro mundial e a maior potência naval do mundo. Do
ponto de vista militar, nã o tinha nenhuma obrigaçã o formal de apoiar a França e nã o tinha
interesses directos na questã o que opunha a Á ustria à Rú ssia. A sua principal preocupaçã o
era travar e escalada militarista alemã e a emergência da Alemanha como a maior potência
europeia. Desse ponto de vista, a fragilizaçã o dos seus aliados no continente europeu nã o
lhe interessava.

No conjunto, a hegemonia europeia e o seu imperialismo sofriam sérias ameaças. A


derrota da Rú ssia frente ao Japã o, em 1905, mostrou que surgira uma nova potência no
Extremo-Oriente que tinha adoptado uma estratégia de industrializaçã o com
modernizaçã o social “limitada”3. Devemos ainda salientar outros marcos histó ricos
importantes na emergência do nacionalismo no mundo europeu: a Revoluçã o dos Jovens
Turcos (1908), a Revoluçã o Chinesa de 1911, a realizaçã o da 1ª Conferência da Liga
Islâ mica (1907), o 1º Congresso Nacional Indiano (1886), o expansionismo dos Estados
Unidos patente na Guerra dos EUA contra Espanha, retirando-lhe influência nas Filipinas
(1898), o imperialismo nipó nico (em 1910, o Japã o anexa a Coreia e coloca a Manchú ria
sob o seu domínio).

As revoluçõ es na Turquia e na China constituíram reacçõ es nacionalistas


fracassadas que procuravam modernizar a sua sociedade e economia tendo em vista
resistir ao domínio imperialista. A estratégia fora bem sucedida no Japã o cujo
isolacionismo remonta ao séc. XVII.

Apó s a derrota da Espanha em Cuba, os EUA que tinham já uma forte influência na
América Central e do Sul assumiram um maior protagonismo nas questõ es do Extremo-
Oriente4. Theodore Roosevelt (1858-1919) e o seu sucessor William Howard Taft (1857-
1930) trouxeram um maior protagonismo dos EUA na esfera internacional, começando
esta a jogar como grande potência nas questõ es extra-europeias. No entanto, o seu
potencial foi dramaticamente subestimado pelas potências europeias. Os EUA tinham
força naval mas o seu pequeno exército de voluntá rios parecia torná -los de menor
importâ ncia como aliado num conflito europeu.

AS ORIGENS DA I GUERRA MUNDIAL E SUAS


CONSEQUÊ NCIAS IMEDIATAS

3
Ver também http://br.geocities.com/vinicrashbr/historia/geral/guerrarussojaponesa.htm.
4
Recorde-se a política dos E.U.A. face à China.
3
Na sequência do assassinato do príncipe herdeiro ao trono do Império Á ustro-
Hú ngaro, o Arquiduque Francisco Fernando, por nacionalistas sérvios, o ultimatum dado
pela Á ustria à Sérvia levou a Rú ssia a intervir em defesa do seu aliado. Para a Rú ssia, nã o
intervençã o em defesa da Sérvia significaria, na prá tica, que deixaria de aparecer na
Europa como grande potência. A Rú ssia nã o podia, pois, deixar de actuar desta maneira.

A mobilizaçã o russa, por sua vez, obrigou a Alemanha a intervir em defesa da Á ustria.
O jogo das alianças militares tinha entrado em funcionamento. Assim, a Alemanha exigiu
que a Rú ssia desmobilizasse o seu exército, considerando essa acçã o como um acto de
agressã o contra a Alemanha. A Rú ssia recusou-se a desmobilizar.

Esta atitude provocou a declaraçã o de guerra da Alemanha à Rú ssia e, em resposta, a


França declara a guerra à Alemanha. Esta, na perspectiva de uma guerra fulminante,
invade a Bélgica, obrigando-a a sair da neutralidade, para entrar em Paris. A ruptura na
neutralidade belga conduziu a Grã -Bretanha à guerra. A guerra estava generalizada,
envolvendo as maiores potências europeias.

Ora, ao contrá rio do que se esperava, a evoluçã o do conflito iria mostrar:

1º. Que seria uma guerra total (i.e. envolveria tanto a populaçã o civil como os
militares no esforço de guerra).

2º. Que nã o seria uma guerra fulminante. Pelo contrá rio, o conflito seria duradouro
(guerra de trincheiras a Ocidente e de movimentos a Leste), dada a capacidade da
diplomacia para chegar a acordos.

3º. Que seria, economicamente, seria uma guerra de desgaste.

4º. Que terminaria com a ameaça de colapso do sistema social vigente, como viria
efectivamente a suceder.

A guerra nã o apenas destruiu o equilíbrio ou a estabilidade que o Sistema de Estados


Europeus instituíram desde a derrota de Napoleã o, como significou o fim do domínio da
Europa à escala mundial.

Apenas com o apoio dos EUA, a Tríplice Entente conseguiu derrotar as potências
centrais. Efectivamente, os EUA tiveram um papel decisivo antes, durante e depois do
conflito. Como resultado, no final da guerra todos os países aliados estavam endividados
face aos EUA e tinham dívidas entre si.

Depois de 1918, tanto a Rú ssia como a Alemanha estã o fora do sistema internacional.

4
Ao entrar na guerra (como parceiro e nã o como aliado), o presidente Wilson tornava
claro que nã o só que pretendia derrotar a Alemanha como redesenhar as relaçõ es
internacionais. Devido à sua posiçã o, os EUA iriam dominar a Conferência de Paris, apesar
do isolamento crescente de Wilson nos EUA. Por seu turno, Clemenceau, Orlando e Lloyd
George nã o partilhavam das suas ideias radicais.

Note-se que o objectivo de redesenhar do mapa político europeu era difícil na


frente Leste (devido aos bolcheviques) e nos Balcã s, devido à situaçã o interna.

Quais foram os objectivos enunciados pelas potências na Conferência de Paris?

Para a França, tratava-se de destruir definitivamente a ameaça alemã na Europa


continental. Porém, a Grã-Bretanha nã o queria que a França tomasse um papel
preponderante na Europa. A Itá lia, por seu turno, viu frustradas as suas pretensõ es
territoriais, as quais lhe tinham sido prometidas quando entrou no conflito em 1915 ao
lado dos aliados. O Japã o conseguiu elevar a sua influência sobre a China.

Apó s 1919, os EUA retornam ao isolacionismo. O Congresso rejeita a entrada do


país na Liga das Naçõ es, cuja iniciativa tinha sido do seu presidente. No entanto, os EUA
davam coesã o à s forças vitoriosas cuja unidade estava em vias de desintegraçã o e
contribuíram decisivamente para redesenhar o mapa político na Europa e no Pró ximo-
Oriente. Porém, o princípio da auto-determinaçã o dos povos mostrou-se problemá tica em
muitos dos novos Estados Europeus, lançando as sementes para futuros conflitos (o veja-
se problema das “minorias”). Com o desmembramento dos impérios continentais, surgem
novos países: a Poló nia, a Á ustria, a Checoslová quia, a Jugoslá via, a Hungria.

Depois da maré revolucioná ria de 1917-1921, o nacionalismo manteve-se como a


principal força de acçã o que limitou a capacidade das velhas potências controlarem o
curso dos acontecimentos dentro dos novos estados (Jugoslá via, Turquia, etc.).

A Alemanha sai da guerra territorialmente fortemente mutilada a Leste e a


Ocidente. Foi acusada de ter iniciado a guerra e ficou com uma dívida de “reparaçõ es de
guerra” cujo montante estava ainda por estabelecer em 1919. Nã o participou nas
negociaçõ es de Versalhes e, como tal, nã o teve qualquer voto acerca do seu destino.
Perdeu todas as suas coló nias e é desmilitarizada. Entre os alemã es, imperava um
sentimento de injustiça internacional contra a Alemanha, um sentimento de frustraçã o e
de humilhaçã o, dado que a Alemanha tinha sucumbido pelo desgaste e nã o por uma vitó ria
militar retumbante. Assim, o sentimento dominante, explorado pelos nacionalistas, foi que
a Alemanha fora traída pelo “inimigo interno” mas nã o derrotada pelos aliados. Estes
sentimentos serã o explorados pelo nacionalismo radical emergente.
5
A EVOLUÇÃ O DAS RELAÇÕ ES DIPLOMÁ TICAS DURANTE A I
GUERRA MUNDIAL (1914 – 1918)

A guerra que teve início em Agosto de 1914, segundo se pensava, seria curta e decisiva.
Pelo inverno, os vitoriosos estariam capazes de impor as suas condiçõ es aos vencidos. Tal
nã o seria assim: a Alemanha, embora ocupasse a Bélgica e parte do Nordeste da França,
nã o tinha sido capaz de derrotar as forças aliadas de forma decisiva.

A posiçã o da Alemanha face à Bélgica foi em grande parte responsá vel pelo malogro dos
entendimentos que poderiam ser firmados com os aliados. A invasã o da Bélgica foi
responsá vel pela entrada da Grã -Bretanha no conflito e a Alemanha reclamava para si uma
Bélgica sob sua esfera de influência ou mesmo com possíveis anexaçõ es territoriais, que
iriam até ao territó rio Francês. A França, por seu turno, recusava-se a encetar negociaçõ es
enquanto houvesse um soldado alemã o em solo francês. A França entendia que entrar em
negociaçõ es em tal posiçã o seria um sinal de evidente fragilidade que a impediria de
reivindicar a Alsácia-Lorena. Para os alemã es, esta questã o nã o iria entrar em negociaçõ es,
a falta de flexibilidade por parte da diplomacia conduzia à intensificaçã o dos esforços no
campo de batalha na frente ocidental.

Na frente oriental, a situaçã o era igualmente pouco clara no Inverno de 1914. Os alemães
tinham conseguido uma vitó ria em Tanneaberg mas os russos tinham derrotado os
austríacos na Galicia. A Á ustria nã o tinha ainda conseguido vencer os Sérvios e o Império
Otomano só entra no conflito em finais de Outubro. Um conjunto de estados do Danubio e
do Bá ltico ainda nã o tinham declarado o seu alinhamento (Roménia, Bulgá ria, Grécia e
Itá lia). A entrada da Itá lia na guerra nos finais de 1914 apenas conseguiu abrir mais uma
frente de guerra contra os austríacos. A Batalha de Jutland tinha mostrado que a
supremacia naval dos britâ nicos estava ainda em discussã o, pois os alemães ainda nã o
tinham sido derrotados decisivamente. O bloqueio econó mico à Alemanha e a guerra
submarina mostrar-se-ia mais importante que as batalhas navais.

A Bulgá ria entra na guerra em 1915 na esperança de derrotar os sérvios. Os aliados nã o


tinham conseguido conquistar os Dardanelos e a Grécia mantinha-se neutral. Os russos
tinham abandonado a Poló nia mas as ofensivas de Brusilov, em 1916, mostrava que a
situaçã o poderia apenas ser temporá ria.

No Inverno de 1916 nã o se vislumbrava ainda um fim para a guerra. Esta tinha-se tornado
total, já que o gigantesco esforço de guerra em homens, matérias-primas, equipamentos e
armamentos tinha conduzido a uma mobilizaçã o da populaçã o civil para as fá bricas e para
a guerra. A sociedade civil sofria com cortes profundos no abastecimento de alimentos e

6
de matérias-primas, mesmo apó s os governos encetarem medidas de controlo da
economia sem precedentes nos países liberais.

As potências centrais apenas podiam combater com os seus pró prios recursos. A guerra
química tinha sido já uma resposta ao bloqueio econó mico, assim como a base de
“sintéticos” de substituiçã o de matérias-primas, enquanto os aliados podiam recorrer a
empréstimos aos EUA apó s a autorizaçã o dada pelo Congresso de 1918.

A propaganda tornou-se mais importante à medida que ambos os lados percebem que a
moral e os objectivos da guerra nã o eram claros. A guerra parecia ser uma enorme
monstruosidade absurda e, para os socialistas, era alimentada pela ganâ ncia dos
capitalistas que estavam a lucrar com ela.

O prolongamento da guerra criou igualmente tensõ es entre os políticos e militares nos


países em confronto. Na Alemanha, na Aú stria-Hungria e na Rú ssia os monarcas passaram
a dirigir pessoalmente as operaçõ es, um facto cheio de consequências políticas a prazo. Na
Alemanha, Hindemburg e Lundendorft estabeleceram uma autêntica ditadura sobre os
assuntos internos e externos, mostrando-se cada vez mais inflexível sob os objectivos de
guerra. Estes passavam por obter o maior nú mero de vantagens possíveis para a
Alemanha, mesmo se para tal fosse necessá rio sacrificar os interesses dos seus aliados.

Em França, a demissã o do General Joffre (1851-1931) em Dezembro de 1916 e o inicio do


governo de Briand mostrou que os civis (políticos) tinham voltado ao comando das
operaçõ es.

Na Inglaterra os governos e os militares dividiam-se quanto à estratégia a adoptar:


enquanto uns defendiam um embate directo com a Alemanha, outros esperavam derrotar
os seus aliados mais fracos e obter uma paz separada.

Em 1917, a França esperava obter uma paz separada com a Á ustria-Hungria enquanto os
Alemã es desde 1915 que procuravam chegar a um acordo com a Rú ssia. Outro ênfase era
colocado na busca de aliados cujo valor militar foi subestimado como sucedeu com a
Roménia e com a Itá lia.

Também nenhum dos aliados tinha experiência na gestã o de coligaçõ es. A coordenaçã o
das operaçõ es na logística e na frente mostrou-se um problema magno para ambas as
partes. Só em Novembro de 1917 foi criado o Conselho de Guerra Supremo dos Aliados e
os países centrais nunca tiveram um ó rgã o equivalente.

7
Até ao inicio de 1917 todos os países colocavam os seus objectivos de guerra em termos
de anexaçã o territorial, esferas de influência e compensaçõ es num quadro em que as
negociaçõ es viviam da satisfaçã o a velhas aspiraçõ es capazes de garantir a paz por um
longo período de tempo. A “diplomacia secreta” mostra que se pensava ainda que a vitó ria
completa seria possível.

Os objectivos de guerra alemães foram expressos em Setembro de 1914 por Bethmanin-


Hollweg. Segundo este documento – Memorando, a segurança da Alemanha passava pelo
enfraquecimento da França e da Rú ssia. A Alemanha tornar-se-ia o centro econó mico da
Europa através da acçã o combinada de indemnizaçõ es de guerra, esferas de influência e
anexaçõ es. A Bélgica ficaria sob a sua esfera de influência. Em contrapartida, as
reivindicaçõ es coloniais da Alemanha eram mínimas. Os objectivos de guerra da Á ustria
passavam sobretudo pelo enfraquecimento da Rú ssia e pelo fortalecimento da integraçã o
dos seus impérios. A questã o francesa pouco interesse tinha. Em contrapartida, a Poló nia
constituía objecto de disputa com os Alemães, já que defendiam uma Poló nia
independente como uma coroa dos Habsburgos, o que a colocava na sua esfera de
influência. Mas apó s a derrota na Galicia, os Alemã es passaram a tratar os austríacos como
um parceiro de segunda classe. Nos finais de 1916, os austríacos nã o estavam muito
satisfeitos com a Aliança.

Nos dois campos, a discussã o sobre os objectivos de guerra foi abafada com receio da
desagregaçã o da coesã o das forças aliadas e mesmo com a perda dos consensos internos.

Os objectivos de guerra da Rú ssia foram fixados por Sazonov, Ministro dos Negó cios
Estrangeiros. A Rú ssia pretendia anexar territó rio alemã o e austríaco e via o nascimento
de uma Sérvia grande sob a sua alçada que incluiria a Bó snia, a Herzegovina, a Dalmatia e
parte da Albâ nia. Deveria nascer um reino Checo que faria parte do Império Austro-
hú ngaro.

Com a entrada do Império Otomano na guerra todos os aliados esperavam obter


vantagens finais com a sua derrota. Para os Russos tratava-se de obter o controlo de
Constantinopla, o ponto estratégico de acesso ao Mar Negro. A Itá lia esperava obter o
controlo do Adriá tico e ganhar territó rio aos austríacos, o que colidia com os planos russos
para a criaçã o uma grande Sérvia.

A Sérvia só entra no conflito em 1915 e declara guerra à Alemanha em Agosto de 1916,


pouco antes da entrada da Roménia. Esta declaraçã o de guerra foi motivada pelas suas
ambiçõ es sob o Império Otomano (Adalia e Esmirna).

8
O Japã o declara guerra à Alemanha a 23 de Agosto de 1914, já que cobiçava as possessõ es
alemã s no Extremo Oriente e uma influência predominante na China. A sua entrada no
conflito deu-se contra a vontade dos britâ nicos. A “Questã o de Shantung” tem esta
problemá tica central: obter dos aliados assentimento sobre as pretensõ es hegemó nicas do
Japã o sobre a China. A Grã -Bretanha estava desejosa de aplicar a sua frota naval
estacionada no Extremo Oriente (no Pacifico) no mar Mediterrâ neo e acabou por
concordar com as pretensõ es japonesas.

Com a Presidência de Wilson, os EUA buscaram um maior protagonismo nos assuntos


europeus. Mais do que entrar no conflito, Wilson via-se a si pró prio com um papel de
mediador preponderante, se bem que a entrada no conflito fosse uma possibilidade em
aberto. As duas visitas do Coronel House à Europa tinham reforçado esta posiçã o, com o
acordo de que a dado momento a França e a Grã -Bretanha apelariam aos EUA para uma
Campanha de Paz. A recusa alemã seria pretexto para a entrada dos EUA na guerra.

As potências centrais também tentaram realizar uma campanha mas nã o havia acordo
entre os alemã es e os austríacos sob as concessõ es que poderiam ser feitas e nã o foi
possível fixar uma agenda de negociaçõ es sequer. A Alemanha decide obrigar a Grã -
Bretanha a ceder sob a ameaça da fome devido ao bloqueio, imposto pela guerra
submarina, mesmo correndo o risco de precipitar a entrada dos EUA no conflito, o que
efectivamente viria a suceder. Mas os alemã es consideravam que a Grã -Bretanha
capitularia antes que o apoio americano se começasse a fazer sentir no palco nas
operaçõ es militares.

A 12 de Dezembro de 1916, apó s a derrota da Roménia, a Alemanha manifestou o desejo


aos EUA de entrar em negociaçõ es de paz, embora nã o fosse mencionado em que termos.
Wilson tenta clarificar os objectivos de cada uma das partes e acaba por fracassar na sua
estratégia de aproximaçã o com os aliados. Isto acabou por fragilizar a posiçã o negocial das
potências centrais e por vincular publicamente os países aliados perante a opiniã o pú blica.
A resposta dos aliados a 10 de Janeiro de 1917, falava na retirada alemã dos territó rios
ocupados em indemnizaçõ es e na libertaçã o dos italianos, eslavos, romenos e checos da
dominaçã o estrangeira, perspectiva que significava a desintegraçã o do Império Austro-
hú ngaro. Refira-se também a expulsã o dos turcos da Europa.

Wilson, no entanto, nã o via a nova ordem Europeia como o resultado de um rearranjo


qualquer, resultado das aspiraçõ es de cada uma das potências, mas nã o uma nova ordem
na qual os EUA tivessem um papel essencial no equilíbrio do sistema. As suas propostas
foram, por isso, recebidas com cepticismo entre os aliados. Os EUA entrariam na guerra

9
em Abril de 1917 como um “associado” e nã o como um “aliado”, marcando assim as
distâ ncias.

A entrada dos EUA na guerra nã o melhorava de imediato as perspectivas dos aliados, já


que a guerra submarina continuava a fazer-se sentir até ao verã o de 1917. Os italianos
foram derrotados em Maio em Caposetto e o regime Czarista entrava em colapso.

A perspectiva do colapso na frente oriental nã o deixava de preocupar seriamente os


aliados. No campo alemã o, registam-se greves em Berlim e motins na frota naval alemã .

Os aliados continuavam em busca de uma paz separada, ao mesmo tempo que eram
empurrados para apoiar a questã o das nacionalidades (Note-se que os polacos e os checos
tinham sido recrutados pelos franceses para combater na frente ocidental).

A 17 de Julho de 1917, com a Declaraçã o de Corfu, os Sérvios e o Comité Jugoslavo aceitam


a existência de um reino Sérvio, Croata e Eslovaco debaixo da família real sérvia.

Em Novembro de 1917, os Bolcheviques tomam o poder na Rú ssia e fazem o Armistício


com a Alemanha. Os alemã es tinham chegado a acordo sob a frente oriental antes dos
americanos pisarem solo europeu!

A 3 de Março de 1918 é firmada a Par de Brest-Litovsky. A Rú ssia perde a Poló nia, a


Ucrâ nia, a Finlâ ndia e as Províncias Bá lticas e fica obrigada a pagar à Alemanha uma
indemnizaçã o de 6 milhõ es de marcos.

A 7 de Maio de 1918 é assinado o Tratado de Bucareste, apó s a derrota da Roménia.

A 2 de Novembro de 1917, com a Declaraçã o de Balfour, os britâ nicos aceitam que a


Palestina seja solo nacional dos judeus, objectivo que tinha o apoio dos judeus americanos
e russos e dava respeitabilidade à situaçã o de protectorado britâ nico.

Para o ministro inglês Lloyd George e para o presidente Wilson, o discurso sobre as
nacionalidades (Janeiro de 1918) visava a situaçã o de autonomia dentro dos impérios e
nã o a sua desintegraçã o. Mas algumas das posiçõ es de Wilson (a liberdade dos mares, por
exemplo), nã o eram bem aceites pelos britâ nicos e seus aliados, assim como a ausência de
mençã o à s indemnizaçõ es de guerra nos seus 14 pontos.

“Paz sem Vitó ria”. Através desta fó rmula, Wilson está também na disposiçã o de
reconhecer o governo soviético e de o trazer à “Comunidade” dos Estados. Pretendia
também garantias internacionais do cumprimento dos princípios da nova ordem, o que
passava pela criaçã o da Liga e por um maior protagonismo dos EUA na Europa. Tanto

10
Lloyd George como Wilson concordavam redesenhar a Europa Central e o Pró ximo
Oriente sob os escombros dos dois impérios vencidos (o Império Austro-hú ngaro e o
Império Otomano) .

Em finais de Setembro de 1918, a Bulgá ria assina armistício.

A 3 de Outubro de 1918, a Alemanha pede o armistício aos EUA na base dos 14 pontos.
Note-se que também os aliados tinham aceitado os 14 pontos como base para as
negociaçõ es de paz. A partir daqui o desfecho da guerra estava traçado. A 30 de Outubro
de 1918, a Turquia assina o Armistício e, a 3 de Novembro, é a vez da Á ustria–Hú ngria.

Os aliados esperavam ainda estar a combater em 1919, mas a evoluçã o dos


acontecimentos ultrapassavam todas as expectativas. Os imperadores abdicaram,
apareceram novas repú blicas (na Poló nia, na Sérvia, na Checoslová quia, na Alemanha,
etc.), a revoluçã o social estava na rua.

11
CRONOLOGIA:

1886 – 1º Congresso Nacional Indiano


1898 – Guerra EUA – Espanha
1904 – 1906 – Guerra Rú ssia – Japã o
1907 – 1ª Conferência da Liga Islâmica
1907 – Formaçã o da Triple Entente
1908 – Revoluçã o dos Jovens Turcos
1910 – Anexaçã o da Coreia pelo Japã o
1911 – Revoluçã o Chinesa
1911 – Guerra Itá lia – Turquia
1912 – 1ª Guerra Balcâ nica
1912 – 1913 – Conferência de Londres
1914 – Atentado de Sarajevo
Início da I Guerra Mundial (1914 – 1918)
1916 – Batalha de Verdun
1916 – Ofensiva aliada no Somme
1917 – Entrada dos EUA na Guerra
1918 – Fim da I Guerra Mundial
1919 – Conferência da Paz (Paris)
– Tratado do Versalhes
– Criaçã o da Sociedade das Naçõ es
1920 – Tratado de Serves (Desmembramento do Império Turco)

12
BIBLIOGRAFIA:

KISSINGER, Henry ‘Diplomacy’, Simon & Schuster, New York, 1994

FERGUSSON, Niall ‘A Guerra no Mundo’, Civilizaçã o Editora, Porto, 2006

GILBERT, Marting ‘A Primeira Guerra Mundial’, Esfera dos Livros, Lisboa, 2007

STEVENSON, John e Outros ‘XX O Século do Povo, Ediclube, s/l, 1997

MAN, John e Outros ‘ A Primeira Grande Guerra’, Selecçõ es do Reader’s

Digest, Lisboa, 1998

DUROSELLE, Jean-Baptiste ‘Histó ria da Europa’, Círculo de Leitores, s/l, 1990

SALVADORI, Massimo ‘Histó ria Universal, volume 14’, Planeta de Agostini, /l 2005

RECURSOS NA WEB

http://pt.wikipedia.org/wiki/I_Guerra_Mundial
http://pt.en.wikipedia.org/wiki/Entente_Cordiale
http://pt.en.wikipedia.org/wiki/Triple_Aliance_(1882)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Balc%C3%A3s
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Otomano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra _Russo-japonesa
http://www.geocities.com/ibnkhaldoun_2000/jovensturcos.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%c3%a7%C3%A3o_Chinesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Hispano-Americana
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manch%C3%BAria
http://pt.wikipedia.org/wiki/Theodore_Roosevelt
http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Howard_Traft
http://www.geocities.com/vinicrashbr/historia/geral/gerrarussojaponesa.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Paz_de_Paris_(1919)
http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Clemenceau
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vittorio_Emanuele_Orlando
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Lloyd_George
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_das_Na%C3%A7%C3%B5es

13

Você também pode gostar