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Introdução à

História
Contemporânea
Barraclough - Capítulo 4
Conformação do
sistema de
equilíbrio de
poder durante o
século XX e sua
queda
Em meio século, um sistema
multilateral de equilíbrio, cujo o
centro era a Europa, foi substituido
por um sistema onde havia duas
grandes potências extra-européias,
os EUA e a URSS.
E como essa mudança acontece?

A fraqueza da Europa em duas


guerras mundiais.

Fragmentação em unidades
pequenas e médias. Isso culminou na
criação de cadeia de Estados da
Europa Oriental, ou seja, Estados
fracos.
Embora as lutas internas na
Europa sejam destacadas
como o principal fator para o
declínio, dois outros fatores a
longo prazo foram bem
decisivos:
➔ Concentração de poder em dois
lados: um processo quase
independente do que acontecia na
Europa, EUA e Ásia (Japão).

➔Surgimento de novos centros


políticos e novos campos de conflito
na Ásia e região do pacífico, com os
quais as potencias europeias só
estavam relacionadas de forma
indireta.
É uma interpretação equivocada
encarar a divisão do mundo em
dois grandes blocos de
potências como simples
resultado da decadência da
Europa.
Pode-se distinguir duas esferas
políticas distintas: em uma, os
conflitos entre as potências
europeias; na outra, o maior
conflito global, em que
Espanha e França ficaram para
trás, e a Grã-Bretanha, a Rússia
e os EUA se tornaram os
protagonistas.
Esse processo evoluiu ainda mais
no fim do séc. XIX, com o
começo da corrida imperialista
sobre a África. Não se tratava
simplesmente da reclamação
das nações sobre as parcelas do
continente, era necessário
repartir a África a fim de que o
equilíbrio de poder continuasse
funcionando como antes, mas
agora num palno global.
Opiniões: Havia uma projeção do
sistema europeu para o mundo
todo. Mas as decisões finais
continuavam sendo europeias.
Porém, tais opiniões se
baseavem em ilusão, segundo o
que a História mostrou. A
Europa estava em franca
decadência de poder, não
recuperando até os dias atuais.
Em meados do século XIX, havia uma visão pessimista sobre
a posição europeia na Economia Mundial. Já em torno de
1870, com a segunda revolução industrial, as potências
europeias pareciam estar em vantagem.
E o segundo motivo do otimismo, foi a restauração aparente
do sistema europeu após a guerra da Criméia (1856) e a
Formação de um Estado forte por Bismarck. Criando um
novo bloco alemão, sólido e poderoso no centro do
continente, Bismarck reequilibrou a situação e deu ao
continente um novo acesso de força.
Porém, a Prússia jamais atingiu o
mesmo nível das potências
mundiais, em relação ao poder
que exerce globalmente.

Além disso, a industrialização não


estava apenas na Europa. A Rússia
e os EUA se industrializavam
rapidamente, além do início da
industrialização japonesa.

Em 1890, a Rússia e a América


voltaram a alcançar a
industrialização europeia.
Embora suas vitórias em 1870, sua rápida industrialização
tivesse dado a Alemanha um destaque importante,
encontrava-se um uma situação precária em virtude da
ascensão dos EUA e da Rússia. A consciência desta situação,
despertou uma qualidade explosiva à política alemã, de 1888
até os dias de Hitler: Se a Alemanha quiser ocupar seu lugar
"na ordem futura dos Estados mundiais" e não acabar como
"uma segunda Holanda ou uma segunda Suiça", tem que agir
rapidamente, pois "com a União Americana, uma nova
potência de tais dimensão nasceu que só ela ameaça
subverter todo o antigo poder e hierarquia dos Estados".
(Hitler, 1928)
A ascensão dos EUA e a da Rússia transformariam a economia
política mundial.

Para alguns historiadores da época, apenas a federalização do


Império Britânico poderia se contrapor a tendência de que as
potências europeias se tornariam coadjuvantes (Seely).
Para outros, a Europa manteria seu lugar na política mundial,
devido:
a) à força recuperada da Alemanha de Bismarck e à ultima
grande tendência do expansionismo europeu que parecia
contradizer as previsões de decadência da Europa;
b) à tendência dos europeus para encararem as questões
europeias como de importância decisiva para os problemas
mundiais;
c) à uma tendência para subestimar os EUA como fator de
influência nas relações internacionais e considerá-los
desinteressados de todas as questões fora do continente
americano;
Efeitos da unificação alemã realizada por Bismarck foram
limitadas no tempo.

A política externa desde o tempo de Washington, sempre foi


para se manter alheia às complicações europeias. Isso não
significava está isolado, pois não renunciava a intervenções
em outras áreas. Era utilizado inclusive as complicações
europeias para extrair vantagens. As tradições imperialistas e
uma determinação de desempenhar parte ativa da política
internacional, remontam aos princípios da História dos EUA;
fluíram ocultas durante uma geração depois da guerra civil,
enquanto os EUA inauguravam um período de consolidação e
davam início ao desenvolvimento intensivo da sua economia
interna.
Nas primeiras fases do imperialismo norte-americano, a
concentração era em obter o controle do continente norte-
americano; depois da compra de Luisiana, o Texas, o Oregon, a
Califórnia, México e Canadá foram seus objetivos imediatos.
Desde o princípio foi direcionado os olhares para a Ásia, através
do Pacífico. A aquisição dos litorais a oeste e noroeste da
Califórnia e do Oregon sempre foi encarada em relação à
política do Pacífico e não como um simples complemento do
território continental.
Foi no pacífico que os EUA trilharam pela primeira vez o
caminho para o poder mundial, mas em meados do século,
seus olhares se estendia para além do pacífico. Os americanos
tinham consciência da unidade das forças em busca de
expansão e de seu significado em termos de um império
americano universal. Isso foi destacado por um jornalista da
época, J. D. B. De Bow com o "destino manifesto" a cumprir.

O grande expansionismo do império americano não conhecia


limites geográficos e entrava em conflito com outros
imperialismos, como o francês e espanhol, britânico e russo.
Resultando em um desvio no eixo da política mundial.
A Europa não deixou de ser um centro principal de rivalidades
internacionais, mas já não era o único e deixaria de ser o decisivo.

Por último, a mutação para um sistema de política internacional


foi uma consequência do desenvolvimento das comunicações
mundiais. O mundo mudou muito entre 1815 e 1900.

Com o passar dos anos no século XIX, as áreas do globo tinham


encolhido, ao colocarem a economia mundial ao seu alcance, as
potências europeias foram se encontrando uma a outra e
encobriam umas as outras.
Em 1917, o presidente Wilson
proclamou: "não deve haver
equilíbrio de poder, mas uma
comunidade de poder, não
rivalidades organizadas, mas uma
paz comum organizada". Isso
anunciava que a velha estrutura
de relações internacionais tinha
ficada antiquada para uma época
de política mundial.
➔Mudança no "equilíbrio de poder
europeu":
A entrada em cena do Japão e dos EUA
entre 1895 e 1905.
A repartição da África pôde seguir as
convicções europeias porque nem os
EUA, nem a Rússia estava diretamente
envolvidos nas questões africanas.

➔Avanço Europeu sobre a China.


O que impediu a repartição da China foi
a reação das potências não europeias,
Japão e EUA.
O resultado da tentativa de repartir a
China deslocou o sistema europeu.
➔O que havia de novo da situação do Extremo-Oriente, entre 1898 e
1905?
A explicação não está no fato dos EUA saíram de seu
isolacionismo.
Também não foi o fato de ter resultado na primeira guerra entre
uma grande potência ocidental e uma não ocidental (Japão vs
Rússia).
➔Consequências dos conflitos entre 1898 – 1905:
Marca o final do entendimento entre Rússia e EUA, colocando-
os como rivais no pacífico.
Estabelecem um local de conflitos internacionais no extremo-
oriente. Isso tinha uma importância maior para as potências
extra-europeias como os EUA.
Propiciaram a formação de um
vínculo permanente entre os
problemas europeus e mundiais, a
longo prazo, os primeiros se
subordinaram ao segundo.

A divisão do mundo em dois


blocos hegemônicos tem aí a sua
origem.
Em 1902, quando a Inglaterra se aliou ao Japão, parecia que
havia realizado uma manobra contra a Rússia, aparentando que
o Japão ficaria subordinado à Grã Bretanha. Mas foi o Japão
quem utilizou esta aliança ao seu favor.
Nota de Porta Aberta: Em 1899 advertiram as potências para se
afastarem da China.
A rivalidade entre Rússia e EUA não era direta, tomou forma
pelo apoio ao Japão. Ficou mais forte em 1905, quando o Japão
ganha a guerra, se colocando como adversário norte-americano.
Esse conflito colocou fim a um apoio entre ambos que durou
cem anos contra a Inglaterra. Agora com a decadência da
supremacia britânica, as duas potências colocavam-se frente a
frente, de um lado e outro do pacífico. Assim começa um
conflito de interesses que se espalha pelo globo.
As potências europeias não entregaram a sua hegemonia sem
luta. O período após 1898 marca o final da era europeia e o início
da era pós-europeia. A primeira metade do século XX,
caracteriza-se por ser um período confuso em que um novo
sistema luta para nascer e outro continua para permanecer vivo.
Havia no período o ímpeto alemão de reorganizar a Europa
como um império continental capaz de fazer frente aos vastos
impérios transcontinentais americano e russo.
A Europa era apenas um elemento no sistema internacional de
uma complexidade muito maior.
Êxito de Bismarck em criar o novo Reich em 1871 foi
consequência da rivalidade entre Rússia e Grã Bretanha fora da
Europa.
Mesmo a Inglaterra, que durante o século XIX manteve uma
política externa mais afastada do "Velho Mundo", volta seus
olhos ao Europa após o aumento do poderio alemão e também
a política russa após os reveses com o Japão.
A Rússia detinha uma posição consolidada na Ásia Central, não
era ameaçada pelo Japão e lhe fornecia uma sólida base para
seu poderio mundial. Já a Inglaterra dependia do seu domínio
marítimo e do controle sobre povos que poderiam ser agitados
por outras potências.
Foi explorando as preocupações dos Russos e dos Ingleses que
o Japão consolidou sua posição na Ásia.
Os EUA aproveitaram os conflitos entre europeus para
consolidarem sua posição nas Antilhas, minarem a influência
britânica do Canal do Panamá.
Alemanha e Japão podiam continuar sua marcha porque não
tinham distrações fora do campo de ação. Os EUA tinham
grande capacidade de se separar dos problemas europeus.

Com o aumento de poder, a Alemanha foi desempenhando


um papel cada vez mais importante nas relações
internacionais, apesar de defender a bandeira da "política
mundial". Os conflitos nos quais a Alemanha se envolveu, até
mesmo na África, a levaram a aumentar o poder dentro da
Europa, seu foco de ação.
Primeira Guerra Mundial foi uma guerra europeia?

A política Alemã foi uma continuidade das políticas das


potências europeias de uma impor sua hegemonia às demais?

A Alemanha buscou estabelecer seu domínio sobre a Europa;


porém, sua finalidade não era europeia, ao invés dos anteriores
rivais pela hegemonia europeia, mas sim "obter a liberdade em
participar a política mundial". A diferença é importante, pois
indica que a guerra foi desde início foi concebida como uma
guerra mundial.
O objetivo da Guerra para os alemães era a criação de dois
vastos impérios: um na Europa e outro na África Central. A
Alemanha teria que confrontar a Inglaterra, e este confronto
deflagrou a guerra, a luta da hegemonia europeia. A
Alemanha não visava a destruir a Inglaterra, mas sim garantir
a participação alemã no "futuro concerto de potências
mundiais". A Alemanha procurou estabelecer a guerra em um
plano mundial: intervenção na Índia, Egito e Pérsia, apoio ao
Japão, conflito na África do Sul, projeto de sedução dos EUA
pela anexação do Canadá.
Apenas a divisão da Alemanha poderia permitir este
reequilíbrio de poder. Em 1918, o poderio das nações
europeias se dissiparam e o papel decisivo passou para as
mãos das duas grandes potências extra europeias situadas
em seus lados. A derrota da Alemanha foi resultado da
superioridade dos EUA. A Europa deixou de ser capaz de
resolver seus próprios problemas.
A entrada dos EUA na Guerra em 1917 foi um ponto decisivo
na História, marca uma fase de transição de uma era europeia
para uma era mundial da política.

Também foi importante porque após a Revolução Bolchevista


na Rússia em novembro de 1917, a divisão do mundo em dois
blocos rivais se tornou real, inspirados por ideologias
irreconciliáveis.

Wilson e Lênin sabiam que estavam competindo pelo sufrágio


da humanidade e para impedir que Lênin monopolizasse a
edificação do mundo no pós-guerra, que Wilson publicou os
seus Quatorze Pontos.
Wilson e Lênin rejeitavam o sistema internacional existente,
rejeitavam a diplomacia secreta, as anexações, a discriminação
comercial e ambos denunciaram o "peso morto do passado".
Eram os profetas de uma "nova ordem internacional".

Ambos rejeitavam o equilíbrio de poder europeu.

Ambos eram contra a política de anexações, ajustamentos e


compensações territoriais não melhorava a segurança americana,
nem melhorava a sua situação estratégica.

Os bolchevistas também repudiaram o velho sistema europeu de


equilíbrio de poder (apesar de Stalin anexar territórios depois em
1944 e 1945, por meio da "revolução mundial", medida adotada
quando a segurança da Rússia estava em jogo).
Wilson e Lênin apelariam para todos os povos do mundo. Os
apelos de Lênin para a Revolução Mundial foram contra
golpeados pelos 14 pontos de Wilson. A solidariedade do
proletariado e a revolta contra o imperialismo foram
contrabalanceados pela autodeterminação dos povos e o voto do
homem comum. Estes eram os slogans do novo sistema
internacional.

Além das divergências políticas nas relações russo-americanas,


emerge divergências ideológicas. Depois da Segunda GM, a
divisão do mundo entre Rússia e a América prosseguiu e a
bipolaridade marcará o mundo no pós-guerra. No entanto este
sistema bipolar não foi consequência da II GM, isso tem suas
origens no século XIX, na emergência das potências russa e
americana e na decadência dos Estados Europeus.
Obrigado!

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