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Raquel Oliveira
Capítulo I - A identidade do direito internacional público:
1º Noção adoptada:
Elementos da definição:
1 - Fica claro que estamos perante uma disciplina jurídica com a sua base normativa,
é o conjunto de normas e princípios.
2 - A génese, estas normas e princípios nascem do contexto da ordem global.
3 - O objeto —> regular a existência e o funcionamento da comunidade internacional.
A) técnico-jurídico;
B) Axiológico;
C) Histórico-sociológico
1.5 Sem prejuízo de uma caracterização do DIP que conjugue o elemento jurídico
com o referente axiológico e com a realidade social, a definição do DIP socorre-se de
critérios jurídicos e são estes que se revelam determinantes na resposta ao problema
de saber se e quando estamos perante uma norma de natureza jurídico-internacional.
Se olharmos para a Carta das NU, o art 2 estabelece a igualdade soberana entre os
estados, do ponto de vista formal têm essa garantia, no entanto, no conselho de
segurança apenas estão 15 membros (de 193), onde 5 são permanentes e 10 não
permanentes.
Permanentes - EUA, França, ING, China e Rússia.
Para além da permanência destes cinco estados, ainda têm nas suas mãos uma
“arma” importante e eficaz - o direito de veto - qualquer destes membros têm o direito
de impedir uma resolução no conselho de segurança. P.e - guerra na Síria, a Rússia
e a China vetaram.
Ou seja, a carta das NU, na parte da segurança coletiva tem um elemento comunitário
mas que não tem funcionado.
Todos os estados se têm refugiado na própria soberania, no entanto, a ideia de DIP
é de multilateralismo.
2 - terminologia e instituições:
A locução abreviada Direito Internacional foi cunhada pelo filósofo inglês Jeremy
Bentham.
—> em relação ao DUE, importa sublinhar a sua natureza atípica, porque não é Direito
estadual, mas também já não é Direito Internacional.
O DUE designa o conjunto de regras e princípios que regem a existência e o
funcionamento da UE. A par do DIP e do Direito Interno dos Estados, o DUE é a
expressão de uma ordem jurídica própria e autónoma. Se o DIP é, como foi dito, o
estatuto jurídico da comunidade internacional, o DUE é o estatuto jurídico da União
Europeia.
São diferentes na exata medida em que, do ponto de vista estrutural e político, são
distintas a comunidade internacional e a UE, esta é uma associação comunitária de
integração com 28 estados europeus.
No DI, o legislador, no sentido de centros da decisão normativa, existe, mas não sob
a forma estadual típica de um parlamento mundial ou governo mundial. Basta recordar
que, nas últimas décadas, o desenvolvimento do multilateralismo à escala universal
esteve na origem de conferências internacionais sob a égide das Nações Unidas
sobre matéria de extraordinária relevância para o futuro da humanidade e progresso
dos povos p.e - O protocolo de Quioto sobre as alterações climáticas.
Este último constituía um ramo inteiro do direito privado que, como vimos, esteve na
origem do Direito das Gentes, designado Direito Internacional.
A seguir à queda do Império Romano no ano 476 da nossa era, a Europa mergulha
no caos e no desmembramento provocados pelas invasões dos povos dito bárbaros.
Só a partir do século XI, com uma certa estabilização dos reinos cristãos e o
aprofundamento das relações comerciais com o exterior, se verificaram condições
políticas e económicas para o estabelecimento de relações internacionais.
Entre o século XII e o século XIV, afirmou-se o Direito Canónico, direito comum,
de fundamento religioso, partilhado entre as nações cristãs do Ocidente e o poder de
Bizânico. Uma outra dimensão deste direito supranacional, resultava do direito
romano e constituiu, enquanto ius commune, um elemento fundamental de unidade
funcional no mosaico complexo das relações de poder no mundo cristão da Idade
Média
Sobre estas grandes questões vão tomar posição os mais reputados professores e
sábios da época cuja obra para a posteridade reflete, nalguns casos, a resposta de
jurisconsultos a questões concretas que lhe foram colocadas (p.e o ópusculo Mare
Liberum de Hugo Grócio, publicado em 1609). A paternidade científica do DI, nesta
transição da idade média para a idade moderna, deve ser reconhecida no contributo
de vários autores e não apenas de Hugo Grócio, embora não seja difícil de admitir a
importância do se trabalho De Iure Belli ac Pacis para o tratamento sistemático e
integrado das questões jurídico-internacionais.
→ Francisco Suarez o mais conhecido dos discípulos de Vitória, frade e teólogo como
o seu mestre, ensinou na universidade de coimbra até à sua jubilação
Para Jean Bodin, o Estado que designa como Respublica, deve deter e exercer a
força soberana, caracterizada como poder supremo na ordem jurídica interna e
independente e igual na ordem jurídica internacional.
Súmula:
→ período clássico; (primeiros acordos de amizade entre as cidade estado já é uma forma
de política externa)
- acordos amizade
- ius gentium (romanos com estrangeiros) regulava o império com os povos
conquistados.Direito especial para tratar as “pessoas de fora”
→ Idade média: (com a queda do império romano,surgimento de vários centros de poder
dispersos e heterogêneos):
- ius commune - lex mercatoria;
- descobrimentos: duas teses: mare liberum (grocio) e mare clasurm (freitas)
- A guerra dos trinta anos (1618-1648), pela sua duração e intensidade, foi
particularmente devastadora. Na origem, esta guerra foi religiosa e política. A partir
de 1635, tornou-se mais claramente, uma luta de influência travada entre a França e
a Espanha que arrastou consigo as outras nações da Europa: Inglaterra, Noruega,
Dinamarca, Polónia e também Portugal em virtude da união real com a Coroa
Espanhola.
- Uma guerra iniciada na ausência de justa causa seria contrária ao direito, devendo
os estados partes nos tratados de paz zelar pela reposição da ordem, incluindo o uso
da força contra o Estado infrator. (este principio não se aplica atualmente)
Subperíodo B - 1GM
Por um lado, a paz que selou foi acordada em pactos anteriores (Tratados de Paris
e Tratado de Chaumont) e, por outro lado, a Ata geral aprovada em viena constitui
um tratado multilateral sob a forma de declaração, subscrita pela Áustria, França, Grã-
Bretanha, Portugal, Prússia, Rússia Suécia, e com Espanha a aderir em 1817. O
tratado multilateral passa a funcionar como instrumento privilegiado nas
relações internacionais, porque melhor se adequa à regulação das questões da
cooperação internacional no contexto de uma comunidade internacional que alberga
um número maior de Estados que apresenta um leque muito mais alargado de
interesses comuns que importa definir e decidir em comum. É a exigência básica da
institucionalização de relações internacionais que vai marcar, de modo
determinante, o DI no século XIX e, especialmente, no século XX.
O “congresso que dança” decidiu ou abriu as portas a decisões que foram importantes
no aprofundamento da linguagem normativa das relações internacionais:
3) Foi criado a OIT (organização internacional do trabalho ) que ainda hoje subsiste,
direito à saúde e higiene no trabalho, contra a exploração dos migrantes…
Multilateralismo
1. Colocação do problema:
Uma questão clássica e que teima em ser colocada nos nossos dias é esta: existe
mesmo DIP? A única resposta possível, existe, porque tem de existir.
Uma norma jurídica não perde a sua natureza vinculativa, como fonte de direitos
e deveres, em virtude da sua violação e/ou insuficiência dos mecanismos
institucionais de garantia da efetividade. A reputação do DI como direito imperfeito
reproduz uma espécie de “mito normativo” que nos separa da verdadeira natureza do
DIP como espaço de juridicidade.
A teoria normativista de Kelsen que, com Alfred Verdross e Joseph Kunz criou a
Escola de Viena, foi marcada pelo objetivo de “libertar” a construção jurídica das suas
ligações aos critérios não jurídicos.
A obrigatoriedade dos tratados resulta do princípio Pacta Sunt servanda e, por outro
lado, o seu conteúdo, resultante da negociação diplomática e da concertação de
vontades das partes contratantes, pode sofrer limitações em virtude da eventual
oposição com regras imperativas de direito geral (ius cogens).
2.2 -
→ As fontes designam os procedimentos e modos de criação do DIP: formais se
o sistema jurídico lhe reconhece a propriedade de criar Direito e materiais se, alheias
a um tal reconhecimento acabam por influenciar e modelar o sentido da norma jurídica
e contribuem, fortemente, para erodir a distinção entre criação e aplicação da norma
jurídica (ex: jurisprudência, doutrina jurídica).
À luz de uma outra classificação de fontes, baseada no critério relevante da vontade
dos sujeitos internacionais, as fontes são espontâneas (costume, princípios gerais de
direito), convencionais ou pacticias (convenções internacionais) e autoritárias ou
unilaterais (atos dos estados e, sobretudo, das organizações internacionais).
2.1 - A Carta das NU, no seu preâmbulo, refere “o respeito das obrigações
decorrentes dos tratados e de outras fontes de direito internacional”.
Uma outra crítica apontada ao art 38 ETIJ está relacionada com a ligação desigual
entre fontes formais (convenção internacional, costume) e fontes materiais (princípios
gerais de direito, jurisprudência e doutrina).
Para alguns autores, o art 38, cometeria ainda a heresia de integrar a equidade no rol
das fontes. O artigo 38 acabaria, supostamente, por confundir “verdadeiras fontes”
como “pretensas fontes”, de Direito Internacional. Este debate merece referência mas
na opinião da regência não justifica desenvolvimento. Em 1 lugar porque pouco ou
nada há a acrescentar aos tópicos e argumentos da abordagem clássica. Em segundo
lugar, não se deve exigir do art 38 ETIJ mais do que se pode dar. Trata-se, com efeito,
de uma disposição de um tratado, fruto de negociações e de compromissos, e não de
uma tese.
Finalmente, estamos perante uma disposição de alcance geral, mas cuja relevância
no respeitante a uma teoria geral das fontes do DI é mais indicativa que impositiva.
2.3 No campo próprio do DIP, é ainda mais vincada a irrelevância prática, também no
plano teórico, da classificação das fontes e da sua distinção entre fontes formais -
relativas aos mecanismos e procedimentos de produção jurídica, e fontes materiais -
que remetem para as condicionantes sociais, políticas, económicas e culturais que
influenciam o nascimento e os ciclos de vida da norma jurídica, incluindo as decisões
dos tribunais internacionais e nacionais, e a doutrina científica. Através das fontes
formais, a norma é revelada como direito positivo, com a inerente vantagem da
certeza jurídica, fundamento de obrigatoriedade e estabilidade do ordenamento
jurídico internacional. Através das fontes materiais, incluindo numa aceção mais
ampla os princípios gerais de Direito, é garantida a transformação da norma positiva
ou mesmo a sua recriação em função de exigências novas e fundamentais de
regulação normativa. Ao intérprete da norma internacional compete, em primeiro
lugar, a identificação da norma positiva sobre a matéria em apreciação, de fonte
convencional ou costumeira, o que não prejudica o dever de procurar a solução mais
justa e equilibrada no quadro de uma leitura integrada sobre “as tendências” de um
regime normativo em transformação ou em formação.
Alguns autores, sobretudo na doutrina anglo-saxónica, condenam como obsoleta e
formalista a teoria das fontes e propõem em alternativa o estudo dos processos de
criação do DI.
3. Fontes tipificadas:
A. A convenção internacional:
Classificações:
A classificação material:
II. Tratados gerais e tratados especiais → Com base no artigo 38, n1, alínea a)
ETIJ, padece de ambiguidade da noção de “tratado geral” e não tem
correspondência prática no regime normativo definido pelas CVDT.
Classificação formal:
Existe uma questão teórica importante a ser referida como o relativo à sua relação
com a vontade dos destinatários. A doutrina, numa visão intencionalmente
simplificadora, está dividida em duas correntes:
I. A escola voluntarista:
Cujos fundadores foram Heirinch Triepel e Dionosio Anzilotti, firmemente sustentada
por Gregori Tunkin.
Para a corrente voluntarista, a norma só pode existir como manifestação da vontade
dos Estados: expressa se for um tratado e tácita se for um costume.
O fundamento do costume seria, pois, o chamado acordo tácito.
O costume teria assim, uma natureza próxima da convenção e não poderia ser
imposto a um Estado se da sua prática não fosse possível deduzir a aceitação da
regra em causa como jurídica e, logo, obrigatória. A aceitação do Estado estaria
claramente afastada no caso de existir da sua parte uma oposição expressa e
reiterada (teoria do objetor consistente).
A tese do costume como pacto tácito foi rejeitada pela larga maioria da doutrina com
o apelo a um conjunto vasto de argumentos em que se destacam as seguintes
considerações:
1) uma norma costumeira pode vincular um Estado mesmo na ausência da sua
participação ou aceitação;
2) a formação do costume, na parte relativa ao apuramento da convicção do Estado,
não depende da manifestação de vontade por parte dos órgãos internos competentes
no processo de vinculação internacional (p.e, na nossa constituição, a AR, o GOV, ou
o PR);
3) O costume é de aplicação direta e imediata a todos os Estados, mesmo os recém-
formados, por independência ou sucessão, e que, por definição, não participaram
autonomamente no processo de formação da norma consuetudinária.
Em relação ao tratado, que só pode vincular os Estados que o aprovaram e não cria
direitos ou obrigações para os Estados terceiros (art 34º Convenção de Viena sobre
o Direito dos Tratados), o costume oferece a vantagem de constituir um regime
normativo geral, com eficácia erga omnes e cuja aplicação pelos Estados nas suas
ordens jurídicas internas não fica dependente, como acontece com o tratado, de
procedimentos internos de receção ou de aceitação.
→ Em vastos e relevantes domínios da legalidade internacional, o costume mantém
a função primordial de formação das normas aplicáveis. Ex: Direito Internacional
Humanitário, Direito do Mar…
Nota: o costume é uma prática que é mantida pelos sujeitos de direito convencidos
que estão a isso obrigados, ao passo que no uso existe a prática mas não a convicção
de obrigatoriedade, no plano jurídico tal comportamento não lhe é exigido.
A teoria dos dois elementos, apesar de criticada por alguns setores da doutrina, foi
confirmada em jurisprudência recente, no acórdão de 3 de fevereiro de 2012, caso
das Imunidades Jurisdicionais de Estado (Alemanha c. Itália) ao sublinhar que uma
norma costumeira exige “a settled practice together with opinion juris.”
A verificação sobre a convicção da obrigatoriedade recai sobre factos e, estando em
causa Estados e outras entidades de personalidade coletiva, não inquire dos aspetos
psicológicos ou motivações íntimas. Trata-se de uma convicção objetivada sob a
forma de indícios cuja reiteração ou expressão material constitui a “prática quase
universal”, a “prática constante” ou a “prática geralmente seguida”.
● Práticas diplomáticas;
● Jurisprudência, internacional e interna, e doutrina;
● Legislações nacionais;
● Convenções internacionais, celebradas pelos Estados envolvidos ou
convenções multilaterais que, mesmo não tendo sido por eles aceites, serão
de codificação do direito existente;
● Recomendações e declarações adotadas no quadro da Assembleia Geral das
NU ou de conferências internacionais.
Por outro lado, é difícil não admitir, por razões de elementar realismo político, que o
peso específico de cada Estado na balança internacional também conta. Concluía,
Charles de Visscher, que são as potências, isto é, os Estados mais importantes no
contexto internacional.
Podemos acrescentar, concluindo: a característica relativa à generalidade da prática
resulta mais do tipo de Estados que para ela contribuíram do que do número de
Estados que a adotaram. P.e, em matéria de DI dos conflitos armados, dado o papel
central desempenhado pelo Conselho de Segurança das NU, importa atender, em
especial, ao comportamento seguido pelos EUA, Rússia, China, França e Reino
Unido como membros permanentes do Conselho de Segurança.
3 - A caracterização pelo art 38, n1, alínea b), ETIJ, do costume como “prática geral”
não exclui a existência de costumes regionais, locais e bilaterais.
P.e - No caso de direito de passagem sobre o território indiano, em processo
instaurado por Portugal contra a República da Índia, que o TIJ realizou “o
reconhecimento explícito e categórico daquilo a que se chamou costume bilateral e
que consiste em costume formado pela prática de apenas dois Estados e vinculando
somente esses dois estados.
A relação entre fontes não é compatível com uma visão hierarquizada que concederia
um estatuto de superioridade a alguma ou algumas fontes sobre as outras.
Em concreto, a relação entre tratado e costume está associada a uma longa querela
opondo voluntaristas a não voluntaristas que germina sobre terreno filosófico, mas
apresenta, inevitavelmente, consequências no plano da determinação do direito
aplicável.
A análise que se segue sobre a relação entre o costume e o tratado assenta sobre o
princípio basilar da equivalência paritária, o que exclui o critério abstrato e apriorístico
tanto de prevalência como de cedência da norma costumeira na relação de potencial
conflito com a norma pactícia.
1.
A seguir ao costume, o artigo 38º ETIJ adiciona à lista das fontes “os princípios gerais
de direito reconhecidos pelas nações civilizadas”. A formulação é muito curiosa,
porque denuncia uma marca dupla do tempo: é arcaica na referência expressa a
“nações civilizadas” e é muito atual na remissão para os "princípios gerais de direito”.
As “nações civilizadas” dos nossos tempos são os Estados democráticos ou liberais,
identificados com o respeito pelos direitos humanos e o programa internacional da
segurança coletiva. Uma interpretação atualista e intra sistemática poderia, por
referência ao 4º da Carta das Nações Unidas, relativo às condições de admissão no
seio da organização, substituir “nações civilizadas” por “Estados amantes da paz” na
alínea c), n1 do artigo 38 ETIJ.
2.
A função interpretativa e de integração de lacunas atribuída aos princípios gerais de
Direito no quadro próprio do DIP não se esgota, contudo, na alínea c) no n1 do artigo
38 ETIJ. Para além dos princípios gerais reconhecidos e aplicados pelos Estados in
foro domestico, são também aplicáveis os princípios gerais de Direito
Internacional Público. Uma eventual referência expressa a este conjunto de
princípios no corpo do artigo 38 ETIJ seria, na verdade, redundante e inútil, porque o
seu conteúdo e a sua função são inerentes ao ordenamento jurídico internacional.
Por exemplo, o princípio estruturante da pacta sunt servanda tem origem costumeira,
enquanto o princípio da proibição do uso de força resulta, em parte, do costume e,
em parte, da Carta das NU, completado pela prática subsequente à sua entrada em
vigor.
3.
Na aceção de regras comuns aos sistemas jurídicos dos Estados, os princípios gerais
de Direito devem ser considerados aplicáveis (a) e transponíveis (b).
Notas:
→ Quanto maior a legislação implica cada vez mais o recurso aos princípios gerais
de direito.
→ Têm uma dupla função:
critério de interpretação;
critério de integração da lacunas;
Tal como referido, os princípios gerais de direito podem ser específicos do DI:
“Utis possidetis” - princípio de acordo com o qual não se devem alterar as fronteiras
internacionalmente reconhecidas.
Princípios gerais que nascem no direito interno e são absorvidos pelo DIP: (ex)
natureza transversal.
- princípio da proporcionalidade;
- princípio da boa fé
Os princípios gerais de direito não são meramente indicativos, são vinculativos, são
geradores de direito e obrigações.
D. A jurisprudência e a doutrina:
1.
Nos termos do artigo 38, n1, alínea d), ETIJ, “as decisões judiciais e a doutrina dos
publicistas mais qualificados das diferentes nações” são um meio auxiliar de
determinação das regras de direito.
A jurisprudência e a doutrina científica não são fontes de DI, pelo que não estão
habilitadas a criar ou recriar normas internacionais, mas delas se pode esperar uma
ajuda fundamental e diferenciada na de determinação e de prova sobre normas
contidas em tratados, normas costumeiras ou princípios gerais de Direito.
2.
As sentenças e demais decisões judiciais têm valor obrigatório inter partes, ao abrigo
do artigo 59º ETIJ e ao artigo 94º CNU (efeito relativo do caso julgado). Fora do
contexto processual em que foram proferidas, as decisões judiciais são relevantes
como precedentes atípicos, passíveis de invocação em processos futuros sobre
casos ou situações materialmente idênticos como prova de uma prática estadual,
como manifestação de uma determinada interpretação de norma convencional ou
ainda reconhecimento de um princípio jurídico geral.
O artigo 38, n.1, alínea d) ETIJ. não limita a relevância das decisões judiciais às
proferidas pelos tribunais internacionais, pelo que se deve entender que, igualmente,
abrange a jurisprudência dos tribunais nacionais, sendo esta especialmente atendível
para a determinação da prática estadual a considerar na formação de norma
costumeira.
3.
A caracterização que é feita da doutrina é curiosa e merece alguns esclarecimentos.
O contributo doutrinário é descrito como individual, resultante de autores publicistas
qualificados, vindo “Das diferentes nações” e não, como é dito em relação aos
princípios gerais de Direito, das nações civilizadas.
Nos laudos arbitrais do século XIX eram frequentes as remissões para as obras dos
juspublicistas clássicos dos séculos XVII e XVIII. O desenvolvimento institucional do
DIP, maxime pela via da jurisprudência definida pelo TPJI e pelo TIJ, limitou a
necessidade e a conveniência de procurar o amparo de um argumento jurídico
ou de uma decisão na douta opinião dos autores consagrados e reverenciados. As
citações de doutrina nas sentenças, despachos ou pareceres do TIJ são raras;
deveres excepcionais são as remissões para a obra individual de académicos.
1.
Na Teoria Geral do Direito, a equidade indica, mais do qualquer outra palavra, uma
ideia concretizada de justiça. A equidade convoca um juízo valorativo que se
apresenta como sinônimo de imparcialidade, lealdade, benevolência, solicitude
pessoal para lá do que é imposto pelo Direito estrito, ou como o que é imposto pelo
sentido de justiça”.
A sua função no Direito é muito antiga.
Já antes, Aristóteles via a equidade como a justiça do caso concreto.
2.
O julgamento de um litígio por via do princípio ex aequo et bono, em função do critério
do que é igual é bom, depende do acordo prévio e expressos das partes no
processo, porque se trata de atribuir ao juiz o poder extraordinário de substituir a
regra estrita pela regra que, no caso concreto e por critérios pessoais de avaliação,
eventualmente extrajuridicos, se mostra a mais justa.
Com esta dimensão, a equidade substitui o Direito aplicável, é a sua alternativa
edulcorada, e não pode, por isso, ser considerada uma fonte, nem no sentido formal
nem no material.
3.
Na aceção de "princípios equitativos”, a equidade é um critério geral de aplicação
do Direito, inerente ao processo de determinação e de aplicação da regra jurídica
existente pelos tribunais (equidade infra legem).
A ideia de equidade fundamenta a representação pelo juiz de uma solução justa e
equilibrada. Sobre o juiz recai a obrigação de procurar a decisão mais próxima do
objetivo do “ius aequum”, o que implica, sem paradoxo, a aplicação do “prudente
arbítrio" no terreno algo impreciso da “apreciação livre” ou “margem de livre
apreciação” orientada por critérios de razoabilidade, temperança e boa fé.
Nota:
Equidade no sentido de princípios quantitativos - todos os tribunais estão obrigados a
procurar as decisões mais equilibradas não para afastar a norma existente, mas para
procurar a decisão mais ponderada e equilibrada para o litígio concreto.
4. Fontes não tipificadas:
A. Os atos unilaterais:
a) Aspetos gerais:
Não é pacifico na doutrina o tratamento dos atos unilaterais no ponto dedicado às
fontes. Entre muitas obras gerais, publicadas em Portugal e no estrangeiro, e cursos
gerais ministrados na Academia de DI (Haia) que consultámos, verificamos que a
maioria dos autores integra os atos unilaterais no estudo dos modos de formação do
DI, embora alguns suscitando reservas sobre este tratamento sistemático, enquanto
outros remetem à figura dos atos unilaterais para o capítulo relativo à aplicação do
DI.
Se é certo que existem atos unilaterais só de forma indireta participam na formação
das normas internacionais, outros atos unilaterais terão relevância normativa e
interessa, por isso, proceder à sua análise conjunta.
2.
A jurisprudência internacional reconheceu, em vários processos, que declarações
feitas pelas autoridades de um Estado podem criar, verificadas certas condições,
obrigações juridicas para esse Estado.
A doutrina distingue entre, por um lado, atos unilaterais autonomos e, por outro
lado, atos unilaterais não autonomos. A distinção tem por base a circunstância de
o ato unilateral em causa se integrar ou não no processo de formação de um outro
ato jurídico internacional.
Exemplos típicos de atos unilaterais não autonomos são os atos praticados no âmbito
do procedimento de aprovação e vigência de um tratado internacional ou do processo
de formação da norma costumeira. No ponto relativo às fontes e atos jurígenos afins,
só nos interessa analisar os atos unilaterais suscetíveis por si de criar direitos e
obrigações, já que os atos unilaterais não autônomos estarão sujeitos ao regime
aplicável ao ato subordinante.
2.
Não existe uma terminologia uniforme dos atos unilaterais das OI: resoluções,
recomendações. Alguns destes atos previstos e tipificados nos Tratados (art 288
TFUE que elenca, entre os atos vinculativos, o regulamento, a diretiva e a decisão),
outros resultantes da prática institucional.
Na prática geral das OI’s, resolução é a designação mais corrente para um ato que
tanto pode ser como não ter natureza vinculativa. A decisão indicia que se trata de
ato obrigatório, enquanto a recomendação será, em princípio, um ato de conteúdo
indicativo ou exortativo.
3.
No exercício das competências atribuídas pelos tratados institutivos, as OI’s
exercerão uma função normativa direta no sentido em que os seus atos são
obrigatórios, criando direitos e obrigações na esfera jurídica de um conjunto plural e
aberto de destinatários.
No exercício da função normativa, as OI’s aprovam atos de regulação da vida interna,
cujos destinatários são os seus próprios órgãos e funcionários (p.e códigos de
conduta; regimentos e regulamentos internos). Outros atos como o Orçamento têm,
em rigor, uma natureza mista, porque condicionam os gastos da organização e, ao
mesmo tempo , impõem aos Estados membros deveres de contribuição financeira.
Temos finalmente, uma terceira categoria de atos unilaterais da função normativa de
incidência externa, cujos destinatários são os Estados membros, outras organizações
internacionais e, eventualmente, Estados não membros.
4. Fora dos casos previstos nos Tratados institutivos, as resoluções de âmbito geral
das OI’s não têm eficácia jurídica direta. Convém, no entanto, sublinhar que
relevância jurídica e obrigatoriedade jurídica não têm o mesmo alcance. Em princípio,
uma resolução da AG das NU não é obrigatória, mas, dependendo do que está em
causa, poderá ser muito mais que um mero ato político.
Exemplos:
Entre outros…
Como fonte potencial de obrigações jurídicas, os atos unilaterais estão sujeitos aos
seguintes limites:
- É nula a declaração unilateral contrária a uma norma imperativa de Direito
Internacional Geral (ius cogens);
- Uma declaração unilateral não gera obrigações para outros Estados, salvo se
existir da parte destes, de modo claro, declaração de aceitação;
- Uma declaração unilateral geradora de obrigações não pode ser
arbitrariamente revogada pelo Estado declarante;
B. O chamado soft-law:
A expressão soft law é, amiúde, usada pela doutrina jusinternacionalista nos casos
mais difíceis de qualificação da eficácia normativa de um ato ou factos imputáveis aos
sujeitos internacionais.
A referência ao soft law (quase direito, direito suave, normatividade não inteiramente
vinculativa por oposição ao hard law) sinaliza, de modo algo simbólico, a rutura com
um modelo basicamente dualista de fontes, baseado na vontade normativa dos
Estados, de consentimento expresso (tratados) ou tácito (costume).
Desde logo, a questão da hierarquia não deve ser colocada, em termos gerais, de
modo apriorístico, em relação às fontes. A ordenação das fontes pelo artigo 38º ETIJ
foi feita na óptica puramente judiciária da sequência lógica pela qual o juiz
internacional conhece o direito aplicável ao litígio concreto.
“(...) uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no
seu todo como norma cuja derrogação não é permitida e que pode ser modificada por
uma nova norma de direito internacional geral com a mesma natureza”.
“No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas em virtude
da presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional,
prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente carta”
O art 103 estabelece o primado da Cart sobre quaisquer outras obrigações de fonte
convencional e, dada a sua reconhecida natureza de carta constitucional da
comunidade internacional, admite-se que as obrigações resultantes da carta possa,
igualmente, prevalecer sobre regras costumeiras, com exceção, naturalmente, das
normas de ius cogens.
1 - O projeto foi elaborado pela CDI e submetido à conferência diplomática reunida em Viena, em
março de 1968 e depois em março de 1969. O texto final foi aprovado por 79 Estados, 19 abstenções
e um voto contra da França. A CVDT-I entrou em vigor no dia 27 de janeiro de 1980. À data de 15 de
fevereiro de 2014, 113 Estados tinham ratificado a Convenção de Viena e entre estes não se encontra
a França. Portugal procrastinou a ratificação, tendo se verificado a 2003.
2 - Também adotada por conferência diplomática, com base em projeto preparado pela CDI, a segunda
convenção de viena reproduz quase, por inteiro, as disposições da primeira, salvo no que respeita às
especificações de vinculação por parte de entidades que são organizações internacionais. Esta
convenção não está em vigor (apenas 30 estados a ratificaram) mas por assimilação com a primeira
convenção, a sua força jurídica resulta da autoridade costumeira de boa parte das disposições.
Antes de 1969, o estudo sistemático das regras aplicáveis aos tratados exigia da
doutrina um exercício exigente de identificação de precedentes e de determinação do
respetivo significado jurídico como expressão de normas costumeiras.
→ Todo e qualquer Estado tem capacidade para celebrar tratados (artigo 6 CVDT-I).
O direito de negociar e de concluir acordos internacionais faz parte dos atributos
clássicos da personalidade jurídica internacional do estado soberano (ius tractuum).
O titular deste poder é o Estado soberano que o exerce, de forma livre, apenas
limitado pelas obrigações decorrentes do DI e o DC. A eventual participação de entes
estaduais não soberanos (p.e estados federados, regiões autónomas ou políticas) no
procedimento de celebração dependerá de previsão na C do Estado.
- Assinatura;
- Troca de instrumentos constitutivos de um tratado;
- Ratificação;
- Aceitação;
- Aprovação;
- Adesão.
Em relação às OI, o art 11, n2, CVDT-II substitui o termo ratificação pela expressão
“ato de confirmação formal”.
O ato de manifestação do consentimento produz efeitos, conforme o artigo 16 CVDT-
I, no momento:
- Da troca de instrumentos entre os Estados;
- Do depósito junto do depositário;
- Da sua notificação aos outros Estados Contratantes ou ao depositário.
Outro desvio ao princípio da unidade material é a figura jurídica das reservas, cujo
conceito e regime jurídico aplicável foram codificados pelo Direito de Viena (art 2, n2,
alínea d) e artigos 19 a 23 da CVDT-I).
C. Entrada em vigor:
Nos tratados bilaterais, a entrada em vigor costuma coincidir com a data em que se
concluiu a troca de notas. Nos tratados multilaterais, a vigência pode ficar dependente
de uma condição (um mínimo de ratificações) ou de um termo (p.e, passados dois
anos).
Para o Estado que adere a um tratado que já está em vigor na ordem jurídica
internacional, a data de início de vigência é a data em que ocorreu o ato de
consentimento (art 24, n3).
O art 80, n1, especifica o procedimento desta obrigação ao estabelecer que, após a
sua entrada em vigor, os tratados são transmitidos ao secretariado das NU para
efeitos de registo e publicação. O registo é muito importante porque, embora a sua
falta não afete a validade e eficácia inter partes do tratado, ocorre que, nos termos do
art 102 n2, CNU, depende o direito da Parte o invocar “perante qualquer órgão das
NU”, nomeadamente o TIJ.
Nota: o depositário pode não ser parte do tratado. - hipótese 2, Portugal poderia ser
depositário.
O art 26, sob a epígrafe, Pacta sunt servanda, indica aquele que é o critério
fundamental para a interpretação das disposições dos tratados e a determinação dos
seus efeitos:
“Todo o mundo em vigor vincula as partes e deve ser por elas cumprido de boa-fé”
Para todos os efeitos, o tratado é um contrato celebrado por partes que assumem, de
boa-fé e com vontade genuína de cumprir, as obrigações inerentes ao compromisso
pactício. Mesmo antes da entrada em vigor do tratado, já o Estado que assinou o
convénio “deve abster-se de atos que privem um tratado do seu objeto ou do seu fim”
(art 18, alínea a)). Assim, um Estado signatário, se não manifestar, entretanto, a
vontade de não ratificar ou mesmo solicitar a obliteração da assinatura, estará
impedido, p.e, de entrar em negociações e concluir acordos contrários ao tratado que
assinou. Em contrapartida, enquanto manifestação da vontade soberana no caso do
Estado e da autonomia de vontade no caso das OI, o ato de celebrar ou de ratificar
um tratado é, por natureza, um ato livre. Do princípio da boa fé e podem derivar, como
vimos, limitações ao comportamento do Estado signatário (art 18).
→ Outro importante corolário do princípio pacta sunt servanda, decalcado sobre as
exigências poliédricas da boa-fé, consiste na invocabilidade do direito interno como
fundamento para descartar as obrigações de fonte convencional. O art 27 enuncia
esta regra tão importante sobre as relações entre o DI e o Dinterno:
“Uma parte não pode invocar as disposições do seu direito interno para justificar o
incumprimento de um tratado”
“Um tratado não cria obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o
consentimento deste”.
Um terceiro Estado - ou Estado terceiro - é, nos termos do artigo 2, n1, alínea h), um
estado que não é parte no tratado.
Em relação a este estado, a possibilidade de um tratado criar direitos ou obrigações
na respetiva esfera jurídica depende do seu consentimento - que terá a forma de
aceitação expressa e por escrito, no caso de obrigações (art 35); se estiver em causa
a atribuição de direitos, presume-se que existe consentimento enquanto não houver
indicação em contrário, constituindo, pois, um exemplo de relevância jurídica do
silêncio por parte de estado terceiro.
A intervenção do terceiro estado, sob a forma explícita ou tácita, incluindo para a
revogação e modificação das cláusulas que o oneram ou beneficiam, parece
confirmar a teoria do acordo colateral entre os estados partes no tratado principal e
os estados terceiros. À luz desta conceção teórica, o consentimento do terceiro
Estado gera uma espécie de acordo triangular. O art 38 CV não é uma exceção à
regra do consentimento.
→ Existem, contudo, situações que tornam pertinente a questão de saber se não
serão verdadeiras exceções à regra do consentimento e ao princípio da relatividade
dos tratados. 2 exemplos:
A vida dos tratados pode passar por processos de revisão, tal como previstos nas
regras específicas do próprio tratado ou regulados, de modo supletivo, pelas
disposições dos artigos 39 a 41. A regra costumeira vertida no art 39 é a da revisão
por acordos das partes, corolário do princípio geral tratado posterior revoga ou altera
tratado anterior. Por razões extrajurídicas, determinadas pelo contexto político que
enquadra a aplicação dos direitos e obrigações de fonte convencional, o tratado é
passível de modificação sem revisão - a chamada modificação implícita.
No exercício do poder de revisão, estão os estados proibidos ou, de algum modo,
condicionado «s pela existência de áreas de regulação protegidas insuscetíveis de
revisão.
A previsão de limites materiais em cláusulas expressas tem um significado político,
dificilmente relevante no plano jurídico. Se os limites em causa não gozarem de uma
vinculatividade reforçada, em virtude da sua natureza consuetudinária ou
imperatividade de ius cogens, uma norma convencional não pode impedir a sua
própria alteração, o que seria contraditório com o princípio da autonomia da vontade
da liberdade de contratar.
B. Nulidades:
Sob a epígrafe “Nulidades dos tratados”, a CV desenha um regime jurídico que, silente
sobre a conhecida distinção doutrinária que tanto influenciou o direito processual
interno, entre a anulabilidade e a nulidade, acaba por combinar efeitos jurídicos típicos
da nulidade e efeitos jurídicos pressupostos pela anulabilidade. A noção de nulidade
significa que o ato jurídico nulo não produz efeitos desde o início da sua vigência (ex
tunc). As disposições de um tratado nulo carecem de força jurídica (art 69 n1).
Nenhum estado pode invocar a seu favor um tratado nulo e tão pouco o pode opor
aos outros estados. A nulidade do tratado fundamenta o direito de solicitar o
restabelecimento da situação que existiria se os atos não tivessem sido praticados,
mas está limitada (art 69 n 2 alínea c)).
a) Nulidade relativa - a causa de invalidade só pode ser invocada pela parte cujo
consentimento foi manifestada ou obtido de modo contrário ao Direito, o vício
é sanável (art 45) e este tipo de invalidades não afeta a vigência do tratado,
salvo se for um tratado bilateral, e não prejudica a sua aplicação nas relações
entre as outras partes, no caso de tratado multilateral.
b) Nulidade absoluta - o vício não é sanável (art 45) que exclui do seu âmbito de
aplicação aos arts 51,52 e 53, relativos às três situações mais graves de invalidade,
pode ser invocado a qualquer altura, pelo estado prejudicado, por qualquer parte no
tratado, e inclusive por estados e entidades que não estão vinculados pelo tratado
nulo, mas que,neste caso, exercem um direito de proteção de interesses públicos
internacionais.
Por força do art 44, n5, a proibição da divisibilidade do tratado é uma consequência
da nulidade absoluta resultante dos casos de coação (arts 51 e 52) e da violação da
norma de ius cogens (art 53).
→ Em suma, a eficácia jurídica dos tratados pode sofrer diferentes graus de inibição,
dependendo da causa geradora do juizo de desvalor:
a) causas internas:
b) Causas externas:
→ Uma violação do tratado por prática continuada e reiterada pode ditar a sua
extinção por desuso, com a consequente substituição pela norma resultante do
costume contra legem. Na prática concordante, a extinção da norma patricia ocorre
em virtude da sua não aplicação.
→ Pode a letra de um tratado resistir a uma alteração fundamental das circunstâncias
que existiam à data da sua conclusão? O art 62 regula esta matéria que tanto divide
a doutrina.
A posição clássica era de considerar que a conclusão de um tratado pressuponha que
a obrigações previstas estavam sujeitas a uma condição resolutória, que as suas
condições se mantenham inalteradas.
A CV, no art 52, autonomizou e objetivou esta causa de extinção ou de suspensão,
cuja invocação está sujeita a condições específicas de relevância.
—> O breve excurso que se segue pelas Constituições portuguesas que precederam
a Constituição vigente tem o propósito de clarificar as origens do modelo atual de
conclusão de convenções internacionais, aprovado pela Assembleia Constituinte em
1976 e objeto de adaptações nas sucessivas revisões constitucionais.
A negociação dos tratados competia, na Monarquia, ao Rei e, na República ao PR;
Ao órgão parlamentar, as Cortes, cabia a aprovação dos tratados de aliança ofensiva
ou defensiva, de subsídios e de comércio. A primeira Constituição republicana,
integrou na competência privativa do Congresso da República o poder de “resolver
definitivamente sobre tratados e convenções”. Por seu lado, a constituição de 1933
repartiu a competência de aprovação entre a AN.
—> A CRP aprovada em 76, revela, por comparação com os textos constitucionais
que a precederam e mesmo no confronto com as Constituições coesas de outros
estados, designadamente dos Estados europeus, um cuidado muito particular com a
definição das regras aplicáveis ao procedimento de conclusão dos tratados. Estas
bases jurídicas formam, no seu conjunto e em articulação com as demais disposições
fundamentais, um bloco normativo que poderíamos designar como Direito
Constitucional dos Tratados. Representam, a par das disposições diretamente
relacionadas com a relevância interna das normas internacionais e as condições da
sua aplicação na ordem jurídica portuguesa, o veículo jurídico-positivo de uma opção,
esta de recorte político- axiológico, favorável à abertura internacional da CRP, com
um ângulo de desguardo, sinónimo de confiança na lei internacional, porventura difícil
de igualar em leis fundamentais de Estados soberanos. Acresce, por outro lado, que
as sucessivas revisões a que a CRP foi sujeita, todas elas introduziram no texto
alterações com repercussão sobre a relação entre a CRP e o DIP e, principalmente,
por razões ligadas à adesão de Portugal às Comunidades Europeias, sobre a relação
entre a CRP e o DUE.
Princípios fundamentais:
- Artigo 7;
- Artigo 8; - artigo base.
- Artigo 9, alínea a).
1 - Negociações e ajuste;
2 - Aprovação;
3 - Ratificação e assinatura;
4 - Publicação.
1 - Negociação e ajuste:
(A) - Nos termos do artigo 227, alínea t), as RA têm o direito de participar nas
negociações de tratados e acordos internacionais que “diretamente lhes digam
respeito, bem como nos benefícios deles decorrentes”. As matérias abrangidas
por esta reserva de interesse regional são, desde logo, as previstas nas alíneas
do art 227, designadamente as alíneas I), h), r) e s). Por outro lado, os
Estatutos políticos- administrativos especificam um conjunto muitíssimo
alargado de matérias em relação às quais as RA terão um direito de
participação.
Na eventualidade de violação destas prerrogativas de participação regional,
entendemos que se verifica uma inconstitucionalidade formal, relevante em sede de
fiscalização preventiva (art 279), mas insuscetível, no quadro do art 227, n2, de
impedir a aplicação interna da convenção internacional em causa e de implicar, ao
abrigo do art 46 CVDT-I a sua invalidade.
—> Quem tem poderes para representar o Estado português na negociação bilateral
ou multilateral? Em virtude das funções que exercem, são considerados
representantes o PR, o PM e o ministro dos negócios estrangeiros (art 7, n2, alínea
a) CVDT-I), e, verificadas certas condições, os chefes de missão diplomática (p.e
embaixadores) e representantes acreditados dos Estados numa conferência
internacional (art 7 CVDT-I). Fora destes casos de plenos poderes funcionais, o
representante português na negociação tem de ser portador de uma carta ou
credencial de plenos poderes, assinada pelo PR e pelo Ministro dos Negócios
Estrangeiros.
2. Aprovação:
1. A AR aprova:
- Os tratados, isto é, todas as convenções internacionais que ostentam a
designação de tratados e ainda aquelas que, independentemente da
instituição, versem sobre matérias identificadas pelo texto constitucional e que
correspondem a áreas de particular melindre político e de opção fundamental
no domínio das relações externas.
- Os acordos internacionais cuja designação no texto adotado não seja tratado,
relativos à matéria da competência legislativa reservada (arts 164, 165) e
também os acordos relativos a matérias da competência legislativa
concorrencial que o GOV entenda submeter à sua apreciação.
2. O GOV aprova:
- Os acordos internacionais sobre matérias que não integram a reserva de
tratado nem a reserva de competência legislativa parlamentar, salvo ser decidir
submeter à AR a sua aprovação.
—> A AR aprova tratados e acordos através de resolução (art 166, n5), enquanto o
ato governamental de aprovação toma a forma de decreto (art 197, n2), apreciado e
votado em conselho de ministros (art 200, n1, alínea d). No que toca à maioria
parlamentar exigida, é aplicável, nos termos gerais da CRP, a maioria relativa (art 116
n3).
Temos defendido, desde a revisão constitucional de 1992, relacionada com a
ratificação do tratado de Maastricht, que seria preferível uma solução consagrada,
aliás, nas Constituições de outros Estados-membros, que exigisse uma maioria
qualificada, equivalente à da revisão constitucional (art 286, n2), para a aprovação de
tratados que visem a construção e o aprofundamento da UE, cuja especificidade foi,
sublinhe-se, reconhecida pelo legislador constituinte ao introduzir, com a revisão de
2005, art 295 sobre o referendo aos tratados europeus.
Por seu lado, o chamado governo de gestão, limitado à “prática dos atos estritamente
necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos” (arts 186 n5), estará
impedido de tomar decisões de ajuste e aprovação de convenções internacionais,
incluindo a apresentação de propostas de aprovação à AR , salvo se outra solução
prevalecer por razões imperiosas ditadas pelo princípios da continuidade do Estado
ou pela urgência da resposta a um verdadeiro estado de necessidade.
A questão submetida a referendo versa sobre matérias ou questões que devam ser
objeto de convenção internacional e não sobre a convenção em si, no seu conjunto.
A única exceção admitida a esta regra é o art 295 relativo aos tratados europeus.
C - O referendo terá efeito vinculativo se, conforme o dito pelo artigo 115 n11, o
número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.
No caso da resposta negativa à aprovação da convenção internacional, o processo
em curso de vinculação internacional terá de ser dado como extinto, porque a “AR ou
o GOV não podem aprovar convenção internacional (…) correspondente às perguntas
objeto de resposta negativa com eficácia vinculativa” (art 243 LORR).
3. Ratificação e assinatura:
—> Ao PR cabe a ratificação dos tratados solenes (art 135 alínea b) e a assinatura
das resoluções da AR e dos decretos do GOV que aprovam acordos internacionais
(art 134, alínea b). Recebido o ato de aprovação da convenção internacional para
ratificação ou assinatura, consoante a forma de tratado ou acordo, o PR pode, no
exercício de uma competência não vinculado, requerer ao TC a apreciação preventiva
da constitucionalidade.
A fiscalização incide sobre normas constantes da convenção internacional e não
sobre a convenção na sua totalidade. O sistema português de garantia da CRP é,
recorde-se, baseado no princípio do controlo de normas.
A CRP não estipula um prazo para a ratificação, pelo que se deve aplicar, de acordo
com o princípio da cooperação leal, o critério do prazo razoável.
Como acontece com o ato de ratificação dos tratados solenes, a assinatura dos
acordos internacionais está sujeita a referenda ministerial, que não pode ser recusada
e cuja falta determina a sanção da inexistência jurídica (art 140 n2).
4. Publicação:
O critério geral de vigência supletiva é fixado plo art 2, n2, LPIFD, no 5 dia após a
publicação.
→ Uma fatia considerável das normas convencionais que vigoram na ordem jurídica
portuguesa estão integradas em tratados e acordos que foram celebrados no “quadro
da UE” e em cujo processo de celebração Portugal participou como estado-membro
da UE. Dependendo das regras inscritas nos tratados institutivos da UE, interpretadas
pela jurisprudência do Tribunal de Justiça e aplicadas pela (inventiva) prática
institucional, a participação dos estados-membros no procedimento de vinculação não
é uniforme, nem sequer está suficientemente harmonizada.
a) Acordos da UE;
b) Acordos da UE e dos estados-membros.
A - Dotada de personalidade jurídica (art 47 UE), à UE é reconhecida pelos tratados
competência para celebrar com estados terceiros e organizações internacionais
convenções internacionais sobre matéria da sua competência, exclusiva ou partilhada
(art 216 n1 TFUE). Estes acordos celebrados pela UE vincula, as instituições euro
comunitárias e os estados membros. Na ordem jurídica portuguesa, produzem efeitos
através do art 8, n3.
O que antes era o exercício unilateral de um poder típico de soberania e um elemento
fundamental da personalidade jurídica internacional - o ius tractuum - passou. com o
regime euro comunitário, a um poder que, conforme caracterização rigorosa do art 7
n6 da CRP, é exercido em comum. No essencial, o estado português participa no
exercício em comum do ius tractuum da UE através do Conselho, pela voz do
respetivo representante ao nível ministerial.
Esta concepção, embora assente na visão unitária entre DI e direito interno, reanima
o espectro funesto da falta de autonomia do ordenamento internacional, reduzido à
dimensão ancilar de Direito Estadual Externo. Normas internacionais e normas
internas coexistem, são aplicadas pela estrutura instituída do poder estatal,
designadamente os tribunais, mas em situação de conflito a lei interna há-de
prevalecer sobre a regra internacional.
No plano lógico-formal, esta maneira de ver o problema pouco ou nada se distingue
do dualismo. O preconceito de base é o mesmo: falta de autonomia do Direito
internacional, cuja relevância depende, inteiramente, do grau de tolerância consentido
pela Constituição e legislação de cada Estado. A 8-vontade soberana do Estado
prevalece com a força associada ao dogma sobre a autoridade normativa do Estado
no quadro das relações internacionais.
Esta construção, profundamente marcada pelo voluntarismo radical e estadista, é
hoje um anacronismo. Não podem existir dúvidas sobre o peso do veredicto que
resulta, desde logo, do art 27 da CVDT-I, tão claro ao excluir a relevância do direito
interno como fator de desaplicação ou de desvalor da norma internacional de fonte
convencional:
“Uma parte não pode invocar as disposições do seu direito interno para justificar o
incumprimento de um tratado”.
→ Não existe no DI, nem sequer no codificado Direitos dos Tratados, uma norma que
defina a forma ou o modo de incorporação interna.
Como ensina Miguel Galvão Telles “(...) os Estados têm o dever de assegurar o
respeito interno do direito internacional, mas é-lhes lícito, em primeiro lugar, escolher
o modo de o conseguir(...)”. Dito de outro modo: o DI, nomeadamente o princípio geral
pacta sunt servanda, é fonte de uma obrigação de resultado, a de respeitar e fazer
cumprir internamente a norma internacional vinculativa para o Estado. Como o fará,
se através da transformação ou da técnica da receção, é uma questão de
competência interna, exercida através da respetiva C. Liberdade de meios não
significa, contudo, equivalência dos modelos na óptica dos resultados exigidos.
Concretizamos: se um Estado, nos termos da Lei Fundamental, segue um modelo de
transformação ou de receção sob forte condicionalidade, que, na prática, protela e
dificulta a eficácia interna da norma internacional vinculativa, temos aí um problema
de violação das obrigações internacionais, gerador de eventual responsabilidade
internacional.
→ A imagem proposta por Triepel de dois sistemas jurídicos que estão próximos, mas,
reproduzindo uma espécie de condenação divina, nunca se encontram, remete para
um passado do DI minimo e puramente interestadual. Um dos traços distintivos do DI
dos nossos dias é a sua vocação material expansiva e, potencialmente, exaustiva.
→ O art 8 n2, define das condições de vigência interna e eficácia das normas de fonte
convencional em termos que, sendo diferentes do enunciado do n1, não deixam de
constituir o suporte textual de uma opção constitucional por uma cláusula de
recepção automática e plena.
A recepção é também automática, no sentido em que a norma convencional,
observados os pressupostos da sua vigência na ordem jurídica internacional e da sua
eficácia na ordem jurídica interna, vigora de modo automático, como norma
internacional, dispensando atos de intermediação ou conversão.
O art 8 n2 aplica a todas as convenções internacionais, tratados e acordos típicos de
natureza análoga - p.e memorandos de entendimento sobre programas de
financiamento a Estados e um vasto leque de formação concertada, de base
contratual, eventualmente informal, desde que seja possível demonstrar ou justificar
que estão em causa atos destinados a produzir efeitos jurídicos.
Já em relação às convenções internacionais celebradas por organizações
internacionais de que Portugal seja parte, o melhor entendimento será de considerar
a sua receção através do n3 do art 8. Como membro da organização internacional em
causa, nos termos previstos no respectivo tratado constitutivo, Portugal está
obrigado a aplicar as convenções internacionais celebradas pela organização
internacional. Esta vinculatividade, e os deveres associados de execução interna,
resultam do tratado institutivo, celebrado nos termos do art 8 n2, mas não dependem
do cumprimento das exigências específicas aplicáveis aos atos de fonte
convencional.
A aplicabilidade direta e imediata dos atos jurídicos das OI’s sem mediação do
ato interno de receção ou de transposição, fica dependente da verificação de duas
condições:
- Que os atos em causa tenham sido adotados pelos órgãos competentes das
OI;
- Que a vigência direta e automática na ordem jurídica dos Estados membros se
encontre estabelecida nos respectivos tratados institutivos.
→ No que toca à relação entre os atos jurídicos das OI’s, diretamente aplicáveis em
virtude do art 8 n3, o DIG ou comum, por um lado, e o Direito convencional, por outro
lado, importa distinguir: em primeiro lugar, deve ser tentada a solução da
interpretação conciliatória, a interpretação do ato jurídico da OI de harmonia com o
Direito internacional vincula o Estado português; de seguida, se for inviável a solução
hermenêutica, o critério operativo terá de passar pelo reconhecimento da prevalência
da norma ou principio do DIG ou comum sobre o ato jurídica da OI.
Já no caso de colisão entre norma convencional e norma adotada pelos órgãos
competentes da OI de que Portugal seja parte, estaremos perante uma situação de
conflito entre obrigações resultantes de convenções internacionais distintas que
vinculam o Estado Português.
A norma adotada pela OI tem por fundamento a regra habilitadora do tratado
constitutivo, representa um estádio superior de institucionalização das relações
internacionais e deve, por isso, prevalecer sobre outras obrigações fictícias, sem
prejuízo da eventual responsabilidade internacional.
→ Desde a primeira revisão constitucional de 1982, que introduziu o art n3 até à sexta
revisão de 2004, que aditou o n4 ao art 8, a CRP converteu-se numa espécie de “obra
em construção” por imposição europeia. É amplo, generoso e suficiente o grau de
abertura consentido pelo texto constitucional, sucessivamente modificado e retocado,
às exigências do primado e da eficácia direta no quadro da articulação entre a ordem
jurídica portuguesa e a ordem jurídica da UE.
De acordo com o art 8 n4, as disposições dos tratados que regem a UE (direito
primário) e as normas (entenda-se todos os atos jurídicos) emanadas das suas
disposições no exercício das suas competências, são aplicáveis na ordem interna,
nos termos definidos pelo direito da UE.
Sem falar em primado, aplicabilidade direta ou efeito direto - opção constitucional que
se aplaude - o art 8 n4, fundamenta a eficácia direta das normas e atos juridicos
da UE nas suas várias dimensões de intersecção com a ordem juridica portuguesa:
1) a norma eurocomunitária prevalece sobre a norma interna em situação de
colisão com a norma interna; 2) a norma eurocomunitária é diretamente
aplicável, como acontece com o regulamento e passa a vigorar na ordem juridica
portuguesa assim que se inicia a sua vigência na ordem juridica da UE, com exlcusão
de atos internos de receção ou transposição; 3) a norma eurocomunitária, verificados
os pressupsotos do efeito direto, designdadamente a sua natureza clara, precisa e
incondicional, é fonte de direitos e deveres para os particulares que a podem invocar
junto dos tribunais nacionais no âmbito de litigos em que são parte.
O art 8 n4, da corpo a uma cláusula de recepção automática e plena no seu grau
máximo, mas, note-se que sujeita à dupla condição de tal se verificar “nos termos
definidos pelo direito da União” e de as normas emanadas das suas instituições o
serem “o exercício das respetivas competências”, com a importantíssima ressalva do
“respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático”.
A fórmula “nos termos definidos pelo direito da União” é suficientemente vaga para
consentir o primado, ainda que este não esteja previsto nos tratados institutivos. No
que toca à intangibilidade dos "princípios fundamentais do Estado de direito
democrático”, devemos precisar o seu conteúdo e identificar, na medida do possível,
as eventuais consequências práticas. Este exercício de interpretação do art 8 n4,
obriga-nos a uma viagem fora do texto que nos leva a outras disposições da Lei
fundamental e nos conduz ao encontro da doutrina jurisprudencial do Tribunal de
Justiça, incluindo a mais recente, sobre o primado e os efeitos do primado do Direito
da União.
Dos vários limites previstos pelo art 7 n6 ao âmbito de vinculação europeia do Estado
português, destacamos dois:
1 - o primeiro de recorte substantivo, refere-se ao "respeito pelos principios
fundamentais do Estado de direito democrático”, formulação que o art 8 n4, retoma;
2 - o segundo de recorte procedimental, prende-se com a aceitação das limitações
de soberania; a atribuição de poderes necessários aos órgãos da UE, com vista ao
seu exercício em comum ou em cooperação, será convencionada, o que, nos termos
do art 161 alínea i) exigirá a forma de tratado solene.
→ O art 8 n4, não pode, na opinião da regente, ser considerado como uma
autorização constitucional para violar e ignorar a lei fundamental, autorização
supostamente dada pela própria constituição - uma espécie de cláusula de suicidio
constitucional. O art 8 n4, não tem esse alcance temerário, porque em termos jurídico-
constitucionais seria incompatível com a própria ideia de constituição.
Afortunadamente, nem na perspetiva jurídico-comunitária, o problema se coloca
nessa versão simplista. O primado do DUE na sua dimensão formal de exigência
absoluta e incondicional de prevalência da norma comunitária, do direito primário ou
derivado, sobre qualquer norma interna, de estalão constitucional ou
infracosntitucional, corresponde a uma fase pioneira, claramente ultrapassada,
porque desncessária, de afirmação do direito de integração.
Nota das aulas - a regente sempre defendeu que o primado não tem um fundamento
hierárquico e que o primado não é absoluto e incondidcional mas resulta do respeito
pelo princípio da competência e que cabe em última análise ao FC fazer essa
verificação. - não é a posição maioritária na doutrina portuguesa.
PARTE II - Ordem jurídica global do século XXI:
Sujeitos:
Breve apresentação:
Secção I:
Subjetividade Internacional no Século XXI:
—> Uma outra distinção importa considerar entre personalidade jurídica interna (ou
de direito interno) e personalidade jurídica internacional (ou de direito internacional).
A primeira não implica, de modo automático, a segunda. E o mesmo é válido quando
avaliamos a relação do “poder ser” em DI e do “poder ser” em Direito interno. Os
tratados institutivos da UE acolhem uma solução que torna patente esta existência
jurídica em dois planos diferentes a funcionar paralelamente.
O art 47 do Tratado da UE estabelece: “A união tem personalidade juridica”. A
disposição, lastreia a personalidade jurídica da UE no domínio da ordem jurídica euro
comunitária e da ordem jurídica internacional.
Ter ou não ter personalidade jurídica não é uma questão formal ou de mera
adequação qualificativa no universo ampliado dos sujeitos de Direito internacional. O
problema tem notáveis implicações práticas: saber se a ONU poderia apresentar uma
reclamação internacional contra um Estado alegadamente responsável pela morte de
um representante da Organização enviado para a Palestina com funções de
mediador.
Um dos aspetos mais sensíveis é o da responsabilidade internacional: as normas
internacionais não podem exigir responsabilidade a uma entidade que, à luz do DI,
não seja reconhecida como sujeito. Admite-se a mera imposição de deveres pela
norma internacional poder ser interpretada como indício suficiente de “poder ser” em
DI. A personalidade jurídica funciona, por estas razões, como uma condição prévia e
necessária da atuação jurídica. No entanto, a sua relevância ultrapassa largamente o
plano jurídico.
No DI, o reconhecimento de sujeitos é, no essencial, uma questão política. Com
um duplo alcance:
- certifica a sua legitimidade enquanto grupo;
- garante a respetiva autonomia de decisão contra eventuais interferências de
terceiros.
Esta dupla componente política funciona em relação aos estados, mas é em relação
aos sujeitos atípicos que se verifica um risco maior de instrumentalização política,
decerto perigoso quando desafia critérios básicos de qualificação jurídica.
Ainda sob o ângulo dos efeitos, cabe distinguir entre o reconhecimento declarativo,
por um lado, e o reconhecimento constitutivo, por outro lado:
A teoria declarativa tem a vantagem de ser (ou parecer) menos permeável aos juízos
políticos sobre a existência de um novo estado. Em princípio, uma vez preenchidos
os requisitos da estadualidade, o Estado adquire o estatuto de sujeito estadual.
Constitutivo - Alimentado pela corrente positivista do DI, que sob este ponto
previsíveis uma abordagem mais realista e menos institucional da comunidade
internacional, o ato de reconhecimento é condition sine qua non de possibilidade de
uma determinada entidade exercer, no todo ou em parte, os direitos, deveres e
competências que integram o núcleo formador da subjetividade internacional.
—> Relacionada com esta contraposição entre conhecimento declarativo e
constitutivo estará a teoria da personalidade jurídica objetiva, por um lado, e a
personalidade jurídica relativa, por outro lado: aos Estados por mor do princípios da
igualdade soberana, expressamente enunciado pelo art 2, n1, da CNU, assiste uma
personalidade objetiva, oponível aos demais Estados e devia sujeitos. Por oposição
os outros sujeitos de DI estarão limitados por uma personalidade jurídica relativa, por
isso dependentes de uma conduta expressa ou indiciária de reconhecimento.
—> As três manifestações clássicas que nasceram sob o signo do Estado e até
adaptáveis a outros sujeitos internacionais de matriz institucional, como é o caso das
OI; em contrapartida, o estatuto jurídico-internacional do indivíduo não é
compaginável com este quadro tradicional. Como destinatário das normas
internacionais, o indivíduo exerce direitos (v.g reclamação internacional, seja
através do acesso aos tribunais internacionais quando permitido, ou do acesso a
instâncias administrativas, exercendo direitos procedimentais de audição e
participação) e está sujeito a deveres.
Alguns exemplos:
1 - Estados exíguos e micro-Estados - caracterizados pela exiguidade do território,
alguns de natureza insular, e número muito limitado de habitantes ex: Mónaco.
Estados exíguos - cuja limitação jurídica é formal, encontram-se sobretudo na Europa:
EX: Mónaco, têm um estatuto constitucional de autonomia relativamente diferenciada.
O problema que se coloca em relação aos Estados exíguos que integram a OI, como
as NU e o Conselho de Europa, é o risco de atuarem como meros Estados satélites
em relação ao Estado procurador. No que se refere aos micro-Estados, a reserva não
é despicienda, porque o risco de dependência em relação a Estados vizinhos ou
aliados poderosos é real.
4 - Estados falhados: por razões internas (v.g guerra civil, governos fracos e
corruptos…) ou externas (v.g ocupação por forças estrangeiras), um Estado pode
deixar de ter condições para garantir a função primordial de aplicar a lei e manter a
ordem e, por consequência, fica fragilizado ou mesmo impossibilitado de exercer os
direitos associados à subjetividade internacional, mais vulneráveis, por outro lado, à
proteção imposta por outros Estados.
→ situação distinta destas que acabamos de analisar, a dos Estados com soberania
limitada ou factícia, é a relativa a entidades que, não tendo o estatuto jurídico de
Estados, são reconhecidos como sujeitos de DI: Santa Sé, cidades sob regime
internacional especial, a Autoridade palestiniana.
Opinião da regente: o DI não tem uma solução clara para este tipo de conflito que
opõe normas e princípios gerais de relevância formalmente equivalente. Nestes
casos, o DI fornecerá argumentos úteis de fundamentação das pretensões invocadas
pelas partes que se confrontam, mas em última análise, a solução é política e obtida
na mesa das negociações, no plano interno ou no plano internacional com mediação.
Se uma determinada entidade pode exercer certos poderes estando esses poderes
expressos e tipificados no seu estatuto jurídico, também poderá exercer aqueles a que não
estando expressos são pressupostos. Poderes necessários o exercício das suas funções. É
válido para um município p.e, para uma OI.
Esta teoria é uma ferramenta de aplicação jurídica, para evitar revisões dos tratados
institutivos. Essas revisões normalmente são difíceis, pois exigem determinados
procedimentos, assim através da interpretação e da prática institucional garantir uma
aplicação dinâmica.
A teoria permite uma ampliação, expansão das competências e poderes jurídicos das OI.
No caso da NU há uma aplicação paradigmática. - “Capacetes azuis”.
A CNU não tem nenhuma referência sobre os capacetes azuis, foi um exército da teoria.
ONU - “mal amada” - nos dias de hoje tem uma reputação má.
O problema da reputação prende-se com a falta de efetividade do cap 7 da carta.
A falta de autoridade da ONU para impor o princípio da proibição do uso da força e para
sancionar aqueles que se desviam da regra.
Mas a ONU não é apenas a segurança coletiva, tem vários planos de atuação:
- segurança coletiva - cap 7
- Proteção dos direitos humanos (surge com mais ênfase com a DUDH em 1948)
- Área ampla - o desenvolvimento humano. - agências especializadas e a ONU.
A ONU atua de uma forma sistemática, e apesar da relutância da ONU, esta é o próprio
conceito de multilateralismo.
Várias fases da ONU:
- Quando a ONU foi criada teve um período “ de graça” mas logo depois de pós a
guerra fria que teve um grande embate na guerra da Coreia, problemas da ONU
surgem.
- Anos 60: movimento da descolonização. ONU teve um papel fundamental.
- Movimento dos não alinhados.
- Queda do muro de Berlim - 1989.
Capítulo pós guerra fria: em que perante o colapso da URSS emerge uma única
superpotência, hiperpotência EUA, ONU teve de se adequar a esse novo desequilíbrio,
sistemas de pax americano,a situação das ONU ainda se complicou mais com o ataque às
torres gémeas. (Declínio da ONU, devido ao poder e dos conflitos armados.)
E depois entramos na fase dos “unilaterismos multipolares” (CBM) várias forças a reivindicar
as suas forças próprias… EUA; China, Rússia, Índia, Paquistão
Mais razões do frágil das ONU - razão interna - estrutura institucional da ONU, pela forma
como foi concebida, art 108\9 processo de revisão, a carta nunca foi objeto de uma revisão
de fundo: ex: composição do CS; e sobre o direito de veto, o que muitos autores defendem
que deve acontecer.
Art 108\9, a reforma da CNU tem de contar com o acordo de todos os memebros
permanentes do CS.
A única forma de convencer - aumento do número permanentes, mas mesmo assim não é
certo que os membros permanentes aceitem.
Única forma de evoluir - encontrar um código de ética no sentido de reduzir ao máximo o
direito de veto. "Não abusar” do direito de veto. Soft law - compromisso político.
Veto implícito - um dos membros permanentes ameaça ou deixa entender que aquela
proposta de resolução não o satisfaz e que provavelmente o irá vetar, o que acontece na
prática é que muitas propostas não avançam graças a esta ação, logo o veto não foi
exercido mas foi evitado. O veto está previsto no art 27 da CNU.
—> Estrutura institucional muito complexa. A ONU muitas vezes também é criticada por
esse excesso, pelas despesas que provêm desses órgãos.
Competências:
Competente para a manutenção da paz.(CAp 6 e 7)
Nos termos do art 12 da CNU, diz que enquanto o CS estiver a exercer a sua competência, a
AG não pode pronunciar- se. No entanto, quando o CS não consegue decidir, decide a AG.
Questão de procedimento
Questão do Duplo Veto - Afastamento do princípio da igualdade soberana dos Estados.
Carta consagra direito de veto aos membros permanentes do CS e na realidade há um duplo
veto pois a qualificação da questão como processual ou não processual é algo não
processual, logo, sujeita a veto.
Art. 27o: votação CS
● 1a coisa a fazer é qualificar se a questão a tratar é procedimental (e
aplica-se art. 27o/2) ou substancial (aplica-se art. 27o/3).
Nessa primeira qualificação (definido pelo Regime de
Deliberação do CS) vota-se nos termos do art. 27o/3.
● 2a coisa a fazer é votar conforme art. 27o/2 ou 3
- Distinção nos no2 e 3 – regra do Duplo Veto: qualificação da questão em
procedimento e não procedimento é pelo no3 e não pelo no2, logo, sujeita também
a veto.
Fala-se num duplo veto pois os membros permanentes têm veto na decisão se é
procedimental ou substancial e depois têm também o poder de veto na deliberação, em si,
do art. 27o/3.
Duplo veto - é numa questão de funcionamento que permite aos membros permanentes
conservar o seu poder.
Num primeiro momento temos a qualificação da questão de saber se é de procedimento ou
se não é.
No segundo momento vota-se a questão em si.
Questão da abstenção, artigo 27, um estado que esteja envolvido numa controvérsia não
pode votar em matérias do capitulo 6 e cap 8, no entanto, fica de fora a parte mais
importante que é o cap 7.
Um membro permanente do CS : ex: na guerra da siria, a Rússia e os EUA tinham tropas no
terreno, deviam abster-se mas era permitido que pudessem decidir sobre o assunto.
Art 27 - resulta que é necessário o voto favorável ou o voto contrário (para haver veto).
Qual é o valor da abstenção? De acordo com o art 27.
Se por alguma razão o Conselho de Segurança não estiver operacional, ou estiver ocupado
com alguma situação de conflito ou no exercício das suas funções a Assembleia pode trata-
lo, só não pode emitir nenhuma recomendação sobre tal problema, a não ser que o
Conselho de Segurança peça (art. 12o/1 CNU). Prevalecendo sempre a competência do
Conselho de Segurança.
—> São competências específicas exclusivas da Assembleia:
A apreciação de relatórios do Conselho de Segurança (art. 15o CNU);
A aprovação do orçamento da Organização (art.17o CNU);
A eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança (art.
23o CNU) e dos membros do Conselho Económico e Social (art. 61o
CNU);
A aprovação de acordos com as organizações especializadas (art. 63o
CNU);
A autorização de pedidos de parecer ao TIJ (art. 96o/2 CNU);
A definição do regime do regime dos funcionários da Organização (art.
101o CNU);
Aprovação de emendas à Carta (art. 108o CNU).
Não há um direito humano a migrar, as pessoas são livres de sair do seu território mas não aí
permanecer.
Regra: não existência de um direito a imigrar. Esta regra vai buscar princípios como o da
soberania estadual. Este princípio veio implicar o princípio da jurisdição pessoal e da
territorialidade. Os estados têm o direito de saber quem entrava nos territórios e quem
permanecia. É relevante para o principio da territorialidade, o Estado tem de saber a cada
momento as pessoas que residem no seu território, quem entra e sai. A partir da Paz de
Vestefália os Estados começaram a proclamar o seu direito à soberania e cada vez mais
começam a ser de novo mais afirmados.
Necessidade do estado defender a sua autoconservação. (Um estrangeiro pode ser visto
como um risco a esse princípio).
Porém, com o tempo e com a afirmação dos direitos humanos começou a haver limites a
esse princípio.
Essa afirmação começou logo após a 1GM, onde existiam acordos destinados a proteger os
refugiados da 1GM, mas eram grupos limitados
A DUDH afirmou (art 13) um princípio que era promissor. Esperança de que as pessoas que
fugissem do seu território devido a perseguições pudessem ter asilo.
Artigo 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior
de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e
o direito de regressar ao seu país.
No entanto, este direito acaba por não ter muitos efeitos práticos.
Convenção de Genebra - 1951 - Estatuto dos Refugiados: (elemento central do direito dos
refugiados.
Esta convenção veio criar a figura universal (para todos os refugiados) da figura do
refugiado. Quem pode ser, que pressupostos cumprir, e os estados passam a ter algumas
limitações sobre a restrição da soberania. A convenção de Genebra estabeleceu limites a
esse princípio da soberania com a proteção das pessoas.
→ Não obstante, criou se uma divisão dos migrantes, pois existem os migrantes que estão
na definição de refugiado e os outros, estando aqui presente uma categorização de pessoas.
— Conceito de refugiados, deixa de fora muitos critérios que poderíamos considerar
tambem como refugiado visto que a Convenção de Genebra restringe o que é um refugiado.
O refugiado é regulado pelo DIP. Os estados não são livres de a tratarem como quiserem.
Os outros “migrantes” são regulados pelo direito estadual.
A nível do DIP interessa o conceito da CG.
Refugiado é esta pessoa e só aquela, encontra-se fora do país porque teve um receio
fundado de perseguição por motivos taxativos que a CG elabora: raça, religião,
nacionalidade, opiniões públicas e por pertencer a um grupo social específico.
Conceito restrito.
Artigo 1º
(2) Que, em consequência de acontecimentos ocorridos antes de 1 de Janeiro de 1951, e
receando com razão ser perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação
em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do país de que tem a
nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a protecção
daquele país; ou que, se não tiver nacionalidade e estiver fora do país no qual tinha a sua
residência habitual após aqueles acontecimentos, não possa ou, em virtude do dito receio, a
ele não queira voltar.
Pressupostos:
1 - receio fundado, a pessoa tem de provar.
2 - Perseguido - ação humana. Objetivo da perseguição é privá-los dos seus direitos
fundamentais. A perseguição tem de ser feita por aqueles motivos pautados. Conduta
humana.
Motivos taxativos.
Grupo social próprio - conceito indeterminado, tem sido a jurisprudência a densificar como
conjunto de pessoas que pelas suas características sao vistas como diferentes na sociedade
e ha discriminação.
Ex: mulheres nos países islâmicos, o gênero tem sido considerado nestas condições; as
crianças (são obrigatoriamente recrutadas para as forças armadas); os albinos (são
perseguidos por determinada doença).
Exceções - pode ser negado a proteção ao 33 n2, art 1 alinea f), em quem cometeu crime
contra a paz, humanidade e guerra. Ou crime grave fora do país de acolhimento que não
seja político (conceito amplo), atos contrários aos princípios da CNU.
Artigo 1
F.
As disposições desta Convenção não serão aplicáveis às pessoas acerca das quais existam
razões ponderosas para pensar:
(a) Que cometeram um crime contra a paz, um crime de guerra ou um crime contra a
Humanidade, segundo o significado dos instrumentos internacionais elaborados para prever
disposições relativas a esses crimes;
(b) Que cometeram um grave crime de direito comum fora do país que deu guarida, antes
de neste serem aceites como refugiados
; (c) Que praticaram actos contrários aos objectivos e princípios das Nações Unidas.
O TEDH fez uma construção a partir do principio de nao tortura… (ius cogens). Não
podemos enviar uma pessoa para o seu país de origem ao saber que essa pessoa ia ser
sujeita a tais tratamentos.
Muitas pessoas que, embora não fossem refugiados em sentido estrito, não pudessem ser
enviados aos países de origem.
Art 19 - Carta dos direitos da UE.
Artigo 19.
Proteção em caso de afastamento, expulsão ou extradição
1. São proibidas as expulsões coletivas.
2. Ninguém pode ser afastado, expulso ou extraditado para um Estado onde corra sério risco
de ser sujeito a pena de morte, a tortura ou a outros tratos ou penas desumanos ou
degradantes.
Proteção subsidiária. - migrantes de guerra, pessoas que vivem em regimes ditatoriais que
têm violência a qualquer um dos seus cidadãos.
—> alargamento não do conceito de refugiado mas proteção complementar.
Estatuto de proteção subsidiária.
O regime das alterações climáticas é de DI, e tem consagração no direito nacional, até existem
já constitucionalização de direito ambiental, dever específico dos estados de combate.
A essência do seu regime é no DI.
Porque é que falamos de alterações climáticas no DIP:
- situação necessariamente internacional - art 2\7 da CNU.
O ambiente enquanto common concern of humankind, há décadas que se reconhece que as
questões ambientais são questões necessariamente internacionais.
Uma situação internacional:
- o ambiente (e não as coisas) enquanto bem jurídico público, insusceptível de
apropriação individual. Além disso, é um bem jurídico internacional.
- As partes na convenção reconhecem que uma alteração do clima terrestre e os seus
impactos adversos são uma preocupação comum da humanidade” UNFCCC. Os
problemas relacionados com as alterações climáticas são regulados pelo DI, e nao é
legítimo a um Estado dizer que não é uma forma de DI.
Soberania e territorialidade:
● Territorialidade: poder de determinação jurídica de pessoas e situações nos limites do
seu território.
● Cada estado define a utilização dos seus recursos (Amazónia, Indonésia (p.e deu o
argumento que não pode acabar com a desflorestação porque grande parte do seu
rendimento vem daí) conflito com os deveres do estado com a produção de emissões
e por outro lado pela sua política económica.
● Cada estado tem controlo sobre as emissões para o meio natural (incluindo de GHG)
1 - previsão de que certos estados deixaram de ter território, qual vai ser a solução, vamos
ter cidadãos de um estado sem território, e que coloca em causa soberania. Mas também se
coloca problemas de responsabilidade, quais sao os deveres da comunidade internacional
perante a possibilidade destes estados ficarem sem território, como é que esse dano pode
ser reparado..
A doutrina do DI que estuda estes temas, tem estado focada na possibilidade de existir ilhas
artificiais, um estado emprestar territórios, ainda tá por regular.
Estado atual: protocolo de Quioto + acordo de paris. (1997-2005, 192 partes; 2015-2016,
193 partes)
●Mercados de carbono
●Adaptation Fund
●E a COP26? Soft law, mas poderá ser utilizado para direito costumeiro
● O dever de adaptação
Especificação do objetivo
Documentos que podem ser utilizados como opinio júris, demonstra a existência de uma
norma costumeira, disposições que reconhecem, dever dos estados desenvolvidos, em
desenvolvimento.