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Faculdade Sul Fluminense

Disciplina: Tópico de Libras

FICHAMENTO DO TEXTO CULTURA E IDENTIDADE SURDAS:


ENCRUZILHADA DE LUTAS SOCIAIS E TEÓRICAS

SANTANA, Ana Paula; BERGAMO, Alexandre. CULTURA E IDENTIDADE


SURDAS: ENCRUZILHADA DE LUTAS SOCIAIS E TEÓRICAS. Campinas:
Editora da Unicamp, 2005.

“(...) A língua de sinais era considerada apenas uma mímica gestual, e sempre houve
preconceitos com relação ao uso de gestos para a comunicação. A exclusão profissional
e social dos surdos ainda hoje confirma que a linguagem pode ser fonte de
discriminação e de organização social restritiva. Essa discriminação não ocorre apenas
quando há diferenças de nacionalidade, cor, perfil socioeconômico ou religião. Entre os
surdos e os ouvintes há uma grande diferença que os distingue: a linguagem oral.” (p.
566)

“(...) Essa mudança de estatuto da surdez, de patologia para fenômeno social, vem
acompanhada também de uma mudança de nomenclatura, não só terminológica, mas
conceitual: de deficiente auditivo para surdo, ou ainda Surdo.” (p. 567)

” (...) A identidade surda... Os defensores da língua de sinais para os surdos afirmam


que é só de posse desta, considerada “natural”, adquirida em qualquer idade, que o
surdo constituirá uma identidade surda, já que ele não é ouvinte (Perlin, 1998; Moura,
2000). A maioria dos estudos tem como base a idéia de que a identidade surda está
relacionada a uma questão de uso da língua. Portanto, o uso ou não da língua de sinais
seria aquilo que definiria basicamente a identidade do sujeito, identidade que só seria
adquirida em contato com outro surdo.” (p. 567)

“(...) Ao que parece, a constituição da identidade pelo surdo não está necessariamente
relacionada à língua de sinais, mas sim à presença de uma língua que lhes dê a
possibilidade de constituir-se no mundo como “falante”, ou seja, à constituição de sua
própria subjetividade pela linguagem8 e às implicações dessa “constituição” nas suas
relações sociais.” (p.570)
Faculdade Sul Fluminense
Disciplina: Tópico de Libras

“(...) A cultura surda... Na área da surdez encontra-se geralmente o termo “cultura”


como referência à língua (de sinais), às estratégias sociais e aos mecanismos
compensatórios que os surdos realizam para agir no/sobre o mundo, como o despertador
que vibra, a campainha que aciona a luz, o uso de fax em vez de telefone, o tipo de
piada que se conta etc. Kozlowski (2000), por exemplo, afirma que a existência de uma
cultura surda faz parte da educação bilíngue... O surdo seria bilíngue e bicultural”
(p.572)

“(...) Assumir a existência de uma “cultura surda”, tanto no interior da comunidade


surda quanto no interior do campo de pesquisas universitário, implica também assumir
uma separação entre surdos e ouvintes. Implica referendar uma di-visão social
específica. É por meio da constituição heterogênea dos grupos que se pode observar
melhor a eficácia das representações que impõem os princípios de di-visão.” (p. 574)

“(...) O fato de que essa di-visão social se faça a partir da questão lingüística demonstra
que o que está por trás não é apenas a cisão entre surdos e ouvintes, mas uma outra
cisão, esta interna à academia, a respeito de qual seja a forma mais verdadeira de ver –
ou analisar – uma “identidade” e uma “cultura”.” (p.578)

“(...) Nesse jogo, cabe tanto aos pesquisadores quanto aos surdos submeterem suas
análises e discussões a essa forma legítima de di-visão – entre línguas – do mundo
social, o que evidencia um mecanismo social de autorização e legitimação de um
determinado sentido... Isso porque, na prática, afastar-se de estratégias expressivas
legitimadas e de formas de pesquisa predefinidas e autorizadas pode representar o risco
de uma perda de “identidade”.” (p. 579)

O artigo traz a temática de que as expressões de cultura e identidade do surdo


vem se legitimando cada vez mais, tendo em vista a defesa da língua de sinais sendo
considerada a língua oficial e natural do surdo. A partir disso, ressalta que a maioria dos
estudos tem como base a ideia de que a identidade surda está relacionada a uma questão
de uso da língua e, portanto, o uso ou não da língua de sinais seria aquilo que definiria
basicamente a identidade do sujeito, identidade que só seria adquirida em contato com
outro surdo.

SÉRIE NETFLIX: CRISÁLIDA


Faculdade Sul Fluminense
Disciplina: Tópico de Libras

Assistir os primeiros 15 minutos sem legenda e fazer um registro de


observação. Descrever sua impressão/percepção/compreensão do vídeo
sem legenda e com legenda.

A série Crisálida demonstra o cotidiano de pessoas surdas e as dificuldades


diárias que eles vivem como preconceitos e estereótipos que os envolvem diariamente.
No primeiro momento vendo a série sem legenda, tentei fazer as interpretações. Nas
primeiras cenas pude identificar com mais clareza os sinais como, “tudo bem” e outros
relacionados a aula. Ao decorrer, fui percebendo que minha interpretação não estava
coesa com expressão e o diálogo com o personagem não surdo, então acionei a legenda
e pude entender com mais clareza.
A série traz temas importantes e tocantes, demonstrando como a luta de pessoas
surdas no seu dia a dia é exaustiva e completa de gatilhos emocionais. A cena que mais
me tocou foi o momento em que a personagem Valentina perde sua filha no parque e sai
à procura da menina. Depois da procura e de tentar se comunicar com o segurança, que
não conhece a linguagem de sinais, a filha reaparece com dois homens que a devolvem.
Além da angústia vivida pelo momento assustador, ela ainda recebe uma crítica do
segurança onde chama sua atenção dizendo que ela deve ser mais cuidadosa com a filha.
Nessa cena pude sentir o desespero da personagem e reconhecer o quanto a dificuldade
sofrida por pessoas surdas está além do nosso campo visual e senso comum de
“empatia”.
Contudo, a série me despertou um olhar atento para como as vivências
cotidianas na inserção da “sociedade ouvinte” se apresentam de forma dificultosa, que o
contato direto com surdo oferece um aprendizado de uma cultura rica de aspectos
empáticos e solidários, a partir disso, consolida o desejo de aprender essa linguagem e
utilizar como instrumento na atuação psicológica.

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