Existe uma semelhança entre cerimoniais religiosos e obsessivos, ambos surgem de um sentimento de culpa inconsciente. O animismo, primeira visão de mundo da humanidade, não é uma religião em si, mas fornece as premissas para o desenvolvimento de religiões, buscando explicar fenômenos como sonho e morte de forma a dar sentido ao mundo. Neuroses obsessivas e práticas religiosas compartilham mecanismos como o deslocamento, onde o pequeno passa a ser essencial.
Existe uma semelhança entre cerimoniais religiosos e obsessivos, ambos surgem de um sentimento de culpa inconsciente. O animismo, primeira visão de mundo da humanidade, não é uma religião em si, mas fornece as premissas para o desenvolvimento de religiões, buscando explicar fenômenos como sonho e morte de forma a dar sentido ao mundo. Neuroses obsessivas e práticas religiosas compartilham mecanismos como o deslocamento, onde o pequeno passa a ser essencial.
Existe uma semelhança entre cerimoniais religiosos e obsessivos, ambos surgem de um sentimento de culpa inconsciente. O animismo, primeira visão de mundo da humanidade, não é uma religião em si, mas fornece as premissas para o desenvolvimento de religiões, buscando explicar fenômenos como sonho e morte de forma a dar sentido ao mundo. Neuroses obsessivas e práticas religiosas compartilham mecanismos como o deslocamento, onde o pequeno passa a ser essencial.
Pode-se dizer que quem sofre de compulsões e proibições age como se
fosse dominado por um sentimento de culpa, do qual nada sabe, porém; de um sentimento de culpa inconsciente, portanto — como é preciso dizer, ignorando o choque entre os termos.4 Tal sentimento de culpa tem sua fonte em determinados processos psíquicos da infância, mas é continuamente reavivado na tentação que se repete a cada novo ensejo, e, por outro lado, faz surgir uma angústia expectante que sempre fica à espreita, uma expectativa de desgraça que, mediante a noção de castigo, acha-se ligada à percepção interna da tentação. No início da formação do cerimonial, o doente ainda tem consciência de que precisa fazer isso ou aquilo, senão ocorrerá uma desgraça, e geralmente o tipo de infortúnio a ser esperado ainda tem nome em sua consciência. Mas já está oculto, para ele, o nexo — sempre demonstrável — entre o ensejo no qual aparece a angústia expectante e o conteúdo com que ela o ameaça. Assim, o cerimonial tem início como ato de defesa ou de garantia, medida de proteção.
O sentimento de culpa dos neuróticos obsessivos tem contrapartida na
asseveração, pelos devotos, de que sabem que no fundo são grandes pecadores; e as práticas devotas (orações, invocações etc.) com que principiam cada atividade cotidiana e, sobretudo, cada empreendimento excepcional, parecem ter o valor de medidas defensivas e protetoras. Obtém-se uma compreensão mais profunda dos mecanismos da neurose obsessiva quando se leva em consideração o primeiro fato em que ela se baseia, que é sempre a repressão de um impulso instintual (de um componente do instinto sexual) que se achava na constituição da pessoa, pôde expressar-se momentaneamente e sucumbiu depois à supressão.5 Uma conscienciosidade especial, voltada para as metas desse instinto, é criada durante sua repressão; porém, esta formação psíquica reativa não se sente segura, mas continuamente ameaçada pelo instinto que espreita no inconsciente. A influência do instinto reprimido é sentida como uma tentação, no processo mesmo da repressão surge a angústia, que se assenhora do futuro como angústia expectante.
Existe uma semelhança entre um cerimonial religioso e obsessivo.
Umberto eco. Culpa leva a moral e à civilização. Seria um marco zero. Religiao Religioso
Vemos uma característica peculiar e depreciativa da neurose obsessiva
no fato de o cerimonial se ligar a pequenas ações da vida cotidiana e se expressar em tolos preceitos e restrições. Esse traço notável na configuração do quadro clínico só se torna inteligível quando sabemos que os processos psíquicos da neurose obsessiva são dominados pelo mecanismo do deslocamento psíquico, que encontrei primeiramente na formação dos sonhos.6 Nos poucos exemplos de atos obsessivos aqui apresentados, já é evidente como o simbolismo e o detalhe da execução se produzem por um deslocamento de algo verdadeiro, significativo, para uma coisa menor que o substitui — por exemplo, do marido para uma cadeira. Essa inclinação para o deslocamento é que modifica progressivamente o quadro da doença, chegando enfim a transformar o que é aparentemente insignificante em algo importantíssimo e urgentíssimo. Não se pode negar que também no âmbito religioso há inclinação similar para o deslocamento do valor psíquico — e na mesma direção —, de modo que gradualmente o pequenino cerimonial da prática religiosa se torna algo essencial, que empurra para segundo plano o seu conteúdo de pensamento. Por isso as religiões estão sujeitas a reformas intermitentes, que procuram restabelecer a original relação de valores.
Como chegaram os homens primitivos às concepções peculiarmente
dualistas em que se baseia o sistema animista? Acredita-se que pela observação dos fenômenos do sono (com os sonhos) e da morte, a ele tão similar, e pelo esforço de explicar esses estados, de tamanho interesse para todo indivíduo. O problema da morte, mais que tudo, teria sido o ponto de partida da teorização. Para os primitivos, o prosseguimento da vida — a imortalidade — seria algo evidente.
Totemismo como higienização para a morte
Me culpo porque desejo o que é interditado, eu desejo aquilo que a posição do pai tem e eu não tenho. Obediência tardia. A falta do pai não exime a culpa
Só há interdição onde há desejo.
Totemismo e relação direta com o édipo. Regulação da economia libidinal Discurso emocional de oferta de pai
O animismo é um sistema de pensamento, ele não só explica um
fenômeno particular, mas permite compreender o mundo como unidade, a partir de umponto. No curso dos tempos a humanidade produziu três grandes visões de mundo, se dermos crédito às autoridades: a animista (mitológica), a religiosa e a científica. Entre elas, a primeira criada, o animismo, é talvez a mais consequente e exaustiva, a que explica de maneira cabal a natureza do mundo. Essa primeira concepção de mundo da humanidade é uma teoria psicológica. Está além de nosso escopo demonstrar o quanto dela ainda se acha na vida moderna, seja depreciada, em forma de superstição, ou bastante viva, como fundamento de nossa linguagem, crença e filosofia.
Remontando a esses três estágios de visões do mundo, fala-se que o animismo
em si não é ainda uma religião, mas contém as premissas sobre as quais depois se constroem as religiões.