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Religiao, neurose e culpa

Pode-se dizer que quem sofre de compulsões e proibições age como se


fosse dominado por um sentimento de culpa, do qual nada sabe, porém; de um
sentimento de culpa inconsciente, portanto — como é preciso dizer, ignorando o
choque entre os termos.4 Tal sentimento de culpa tem sua fonte em
determinados processos psíquicos da infância, mas é continuamente reavivado
na tentação que se repete a cada novo ensejo, e, por outro lado, faz surgir uma
angústia expectante que sempre fica à espreita, uma expectativa de desgraça
que, mediante a noção de castigo, acha-se ligada à percepção interna da
tentação. No início da formação do cerimonial, o doente ainda tem consciência
de que precisa fazer isso ou aquilo, senão ocorrerá uma desgraça, e geralmente
o tipo de infortúnio a ser esperado ainda tem nome em sua consciência. Mas já
está oculto, para ele, o nexo — sempre demonstrável — entre o ensejo no qual
aparece a angústia expectante e o conteúdo com que ela o ameaça. Assim, o
cerimonial tem início como ato de defesa ou de garantia, medida de proteção.

O sentimento de culpa dos neuróticos obsessivos tem contrapartida na


asseveração, pelos devotos, de que sabem que no fundo são grandes pecadores;
e as práticas devotas (orações, invocações etc.) com que principiam cada
atividade cotidiana e, sobretudo, cada empreendimento excepcional, parecem
ter o valor de medidas defensivas e protetoras. Obtém-se uma compreensão
mais profunda dos mecanismos da neurose obsessiva quando se leva em
consideração o primeiro fato em que ela se baseia, que é sempre a repressão de
um impulso instintual (de um componente do instinto sexual) que se achava na
constituição da pessoa, pôde expressar-se momentaneamente e sucumbiu depois
à supressão.5 Uma conscienciosidade especial, voltada para as metas desse
instinto, é criada durante sua repressão; porém, esta formação psíquica reativa
não se sente segura, mas continuamente ameaçada pelo instinto que espreita no
inconsciente. A influência do instinto reprimido é sentida como uma tentação,
no processo mesmo da repressão surge a angústia, que se assenhora do futuro
como angústia expectante.

Existe uma semelhança entre um cerimonial religioso e obsessivo.


Umberto eco.
Culpa leva a moral e à civilização. Seria um marco zero.
Religiao Religioso

Vemos uma característica peculiar e depreciativa da neurose obsessiva


no fato de o cerimonial se ligar a pequenas ações da vida cotidiana e se
expressar em tolos preceitos e restrições. Esse traço notável na configuração do
quadro clínico só se torna inteligível quando sabemos que os processos
psíquicos da neurose obsessiva são dominados pelo mecanismo do
deslocamento psíquico, que encontrei primeiramente na formação dos sonhos.6
Nos poucos exemplos de atos obsessivos aqui apresentados, já é evidente como
o simbolismo e o detalhe da execução se produzem por um deslocamento de
algo verdadeiro, significativo, para uma coisa menor que o substitui — por
exemplo, do marido para uma cadeira. Essa inclinação para o deslocamento é
que modifica progressivamente o quadro da doença, chegando enfim a
transformar o que é aparentemente insignificante em algo importantíssimo e
urgentíssimo. Não se pode negar que também no âmbito religioso há inclinação
similar para o deslocamento do valor psíquico — e na mesma direção —, de
modo que gradualmente o pequenino cerimonial da prática religiosa se torna
algo essencial, que empurra para segundo plano o seu conteúdo de pensamento.
Por isso as religiões estão sujeitas a reformas intermitentes, que procuram
restabelecer a original relação de valores.

Como chegaram os homens primitivos às concepções peculiarmente


dualistas em que se baseia o sistema animista? Acredita-se que pela observação
dos fenômenos do sono (com os sonhos) e da morte, a ele tão similar, e pelo
esforço de explicar esses estados, de tamanho interesse para todo indivíduo. O
problema da morte, mais que tudo, teria sido o ponto de partida da teorização.
Para os primitivos, o prosseguimento da vida — a imortalidade — seria algo
evidente.

Totemismo como higienização para a morte


Me culpo porque desejo o que é interditado, eu desejo aquilo que a posição do
pai tem e eu não tenho. Obediência tardia.
A falta do pai não exime a culpa

Só há interdição onde há desejo.


Totemismo e relação direta com o édipo.
Regulação da economia libidinal
Discurso emocional de oferta de pai

O animismo é um sistema de pensamento, ele não só explica um


fenômeno particular, mas permite compreender o mundo como unidade, a partir
de umponto. No curso dos tempos a humanidade produziu três grandes visões
de
mundo, se dermos crédito às autoridades: a animista (mitológica), a religiosa e
a científica. Entre elas, a primeira criada, o animismo, é talvez a mais
consequente
e exaustiva, a que explica de maneira cabal a natureza do mundo. Essa primeira
concepção de mundo da humanidade é uma teoria psicológica. Está além de
nosso escopo demonstrar o quanto dela ainda se acha na vida moderna, seja
depreciada, em forma de superstição, ou bastante viva, como fundamento de
nossa linguagem, crença e filosofia.

Remontando a esses três estágios de visões do mundo, fala-se que o animismo


em si não é ainda uma religião, mas contém as premissas sobre as quais
depois se constroem as religiões.

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