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UFSJ – Universidade Federal de São João Del-Rei

Rodolfo Rodrigues Machado

Atitude religiosa e posições de subjetividade frente ao sagrado:

Um diálogo entre psicanálise e filosofia.

São João Del-Rei – MG


Março/2018
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1. Introdução

No âmbito da psicanálise, o interesse pelo comportamento religioso foi de


considerável valia para construção teórica de conceitos importantes na obra de Freud. Em
meio a diversos textos como Atos Obsessivos e Práticas Religiosas (1907), passando por
Totem e Tabu (1913), O futuro de uma Ilusão, (1927), até Moisés e o Monoteísmo (1936),
vemos como a temática religiosa ocupa um espaço de relevância durante os diversos períodos
de sua produção. Nesse percurso, a investigação sobre o fenômeno religioso resultou em
diversas considerações a respeito dos mecanismos de defesa do psiquismo, da relação entre o
sujeito e a lei, entre diversas outras questões.

No texto Atos Obsessivos e Práticas Religiosas (1907/2006), uma de suas primeiras


incursões na análise da atitude religiosa, Freud traça uma linha conceitual que permanecerá
como principal guia de sua visão acerca da religião. O centro da tese, explorado também em
trabalhos futuros, é um paralelo entre a estrutura neurótica e a devoção religiosa. Para o autor,
os cerimoniais sagrados podem ser interpretados como um exercício coletivo de uma neurose
obsessiva. O foco da interpretação são as notáveis afinidades presentes em ações tanto do
sujeito neurótico quanto do religioso.

O caráter repetitivo e minucioso, o teor de uma atividade preventiva e o recalcamento


dos desejos, traços envolvidos em ambos os atos, revelam algumas das importantes
semelhanças entre as duas ações. Para Freud, "o sentimento de culpa dos neuróticos
obsessivos corresponde à convicção dos indivíduos piedosos de serem, no íntimo, apenas
miseráveis pecadores" (Freud, 1907/2006, p. 114). Nos dois casos, existiria uma semelhança
na falta e na culpa experimentada. As restrições e obrigações atribuídas à prática religiosa
atuariam recalcando os instintos naturais, provocando um constante sentimento de culpa e
criando a necessidade de um deslocamento do investimento retirado das atividades sexuais
para outras ações, como, no caso, os cerimoniais religiosos.

Dessa maneira, do mesmo modo que os neuróticos obsessivos realizam ritos


aparentemente sem sentido para aliviarem a tensão proporcionada pelas pulsões recalcadas, os
sujeitos praticantes da religião usam-se do cerimonial sagrado para a prevenção das tentações
do pecado.
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Diante desses paralelos e analogias, podemos atrever-nos a considerar a neurose obsessiva com o
correlato patológico da formação de uma religião, descrevendo a neurose obsessiva como uma
religiosidade individual e a religião como uma neurose obsessiva universal. A semelhança fundamental
residiria na renúncia implícita à ativação dos instintos constitucionalmente presentes (...) (Freud,
1917/2006, p. 116).

Nesse sentido, para Freud, as religiões relacionam-se com o interdito imposto ao


neurótico obsessivo, que, vendo parte de seus desejos negados e privados no inconsciente,
encontra nas atividades ritualísticas um alívio para a tensão pulsional. Neste primeiro texto, a
atividade religiosa é relacionada, principalmente, com a neurose obsessiva.

Na obra Totem e Tabu (1912/2006), a ligação básica entre neurose e devoção religiosa
permanece e ganha novas formulações. Freud direciona sua atenção para os costumes das
tribos aborígenes da Austrália que, segundo o autor, por serem a sociedade mais distante
culturalmente da nossa, podem fornecer uma imagem próxima de como se deu a socialização
dos primeiros homens.

Freud (1912/2006) ressalta a importância do totem nas sociedades primitivas. O


sistema totêmico, para o autor, é um embrião das instituições religiosas ainda não construídas.
As restrições e regras que caberiam às instituições presentes sociedade moderna eram
realizadas, entre os aborígenes, pela figura do totem de cada tribo. Paralelamente, Freud
analisa o papel social desempenhado pelos Tabus. Diferentemente das restrições religiosas,
que podem possuir um sentido divino, os tabus são desprovidos de significados, mas, ainda
assim, proíbem, regulam e instituem variadas atividades na vida dos aborígenes. Os
integrantes da tribo desconhecem o sentido inaugural do tabu, porém, possuem a convicção de
que se esse for violado haverá severas punições.

Posteriormente, na obra, Freud (1912/2006) propõe uma narrativa mítica que procura
reconstruir o momento primeiro que deu início às organizações sociais e à prática religiosa.
Na narrativa, os primitivos viveriam em pequenas hordas chefiadas por um macho mais velho,
poderoso, violento e ciumento. Todas as fêmeas da horda seriam sua propriedade. Os outros
machos, na medida em que ameaçavam o seu poder, eram mortos, castrados ou expulsos da
horda. Um dia, todos os filhos expulsos uniram-se com o intuito de derrotar o pai. Eles o
mataram e o devoraram cru. Tomados por muito remorso e um enorme sentimento de culpa,
os irmãos selaram um acordo: para que a vida em comunidade pudesse existir, ninguém mais
ficaria no lugar que outrora havia sido ocupado pelo pai e os homens renunciaram a posse das
mulheres, instituindo a lei do incesto.
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O violento pai primevo fora sem dúvida o temido e invejado modelo de cada um do grupo de irmãos: e,
pelo ato de devorá-lo, realizavam a identificação com ele, cada um deles adquirindo uma parte de sua
força. A refeição totêmica, que é talvez o mais antigo festival da humanidade, seria assim uma
repetição, e uma comemoração desse ato memorável e criminoso, que foi o começo de tantas coisas: da
organização social, das restrições morais e da religião (Freud, 1912/2006, p.170).

O autor supõe que o sistema totêmico tenha surgido a partir das mesmas condições
existentes no complexo de Édipo. Irá interpretar, então, que o animal totêmico é um substituto
do pai. Sendo o totem um substituto da figura do pai, as duas principais restrições do
totemismo – não matar o totem e não ter relações com as mulheres de um mesmo clã –
coincidem com os dois crimes do Édipo: assassinar o pai e dormir com a mãe.

Jacques Lacan (1995), em sua releitura da obra de Freud (1912), propõe a seguinte
interpretação do mito: os filhos mataram o pai para interditarem a si mesmos, e esse ato
acabou demostrando a impossibilidade de se dar um fim à figura paterna. “O pai simbólico é
uma necessidade da construção simbólica, que só podemos situar num mais-além, diria quase
que numa transcendência” (Lacan, 1995, p. 225). Quando o pai é elevado à condição
simbólica, torna-se o Nome-do-Pai, termo usado por Lacan para designar o papel da lei e da
interdição que regulamentará o desejo e a estrutura psíquica. Há nesse processo a necessidade
de se buscar uma proteção mais eficaz e permanente, resultando na criação de um mito
detentor de grande poder, na criação de um Deus. Nesse sentido o homem é o pai do Deus pai.

É a partir desse lugar deixado pelo pai, portanto, que a cultura se institui. É deste lugar
vazio também que o pai morto readquire sua potência. Primeiramente, isso se reflete sob a
forma do animal totêmico do clã, depois na figura dos heróis, deuses e demônios, e
posteriormente na imagem do Deus-Pai do monoteísmo judaico-cristão. Para Freud, todas as
religiões posteriores ao totemismo serão tentativas falhas de lidar com esse sentimento
ambivalente em relação ao pai.

Em O Mal-Estar na Civilização (1930), entretanto, Freud vai além dessa perspectiva.


Ao investigar o fenômeno denominado sentimento oceânico, um sentimento de infinitude
experimentado pelo ego para com o mundo externo, Freud (1930/2006) discute como as
instituições religiosas utilizam esse sentimento canalizando-o em sistemas de crenças,
ampliando sua teoria sobre o fenômeno religioso e sobre as motivações que geram a devoção.
Ainda assim, essa comparação, entre devoção religiosa e posição neurótica, permanece como
central na análise da religião até suas últimas obras, como em Moisés e o Monoteísmo (1936).

Os estudos de Freud e as contribuições psicanalíticas acerca do fenômeno da religião


possuem grande importância e influenciaram diversos outros trabalhos dentro da área. O foco
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de Freud se deu nas religiões monoteístas, ainda que o mito narrado em Totem e Tabu (1912)
representasse o surgimento da religião de maneira geral. Partindo de uma análise das
demonstrações religiosas de seu tempo, que remetiam ao comportamento neurótico obsessivo,
Freud procurou construir um sistema que englobasse as questões referentes à religião de
maneira mais ampla. Posteriormente, contudo, outros autores fizeram análises divergentes e
bastante interessantes. Diferentes narrativas sobre a origem da religião e sobre os tipos de
relação que os homens estabelecem com o sagrado ganharam destaque. Vários dos autores
recebem influência direta de Freud, ainda que construam caminhos e conclusões distintas. É o
caso, por exemplo, de Georges Bataille.

O sagrado, para Bataille (2014 e 2016), poderia se apresentar de diferentes formas, e


está intrinsicamente ligado a experiência do homem em sua condição de descontinuidade.
"Somos seres descontínuos, indivíduos que morrem isoladamente numa aventura ininteligível,
mas temos a ilusão da continuidade perdida." (Bataille, 2014, p. 39). Não existe distinção
entre sujeito e objeto no mundo inumano, não há limitações que indiquem onde a natureza
começa e acaba, tudo é um. Há uma condição de continuidade em todas as coisas da natureza,
uma imanência total entre os elementos que a compõe: "Todo animal está no mundo como a
água no interior da água" (Bataille 2016, p. 24). A quebra da continuidade, como supõe
Bataille, advém na medida em que manipulamos a natureza como um objeto, fazemos dela
meios visando a determinados fins e instituímos a cultura.

Na passagem do animal ao homem, sobre a qual sabemos pouca coisa, é dada a determinação
fundamental. (...) Sabemos que os homens fabricaram ferramentas e as utilizaram para prover sua
subsistência; depois, sem dúvida em pouco tempo para satisfazer "necessidades" supérfluas. Numa
palavra, distinguiram-se dos animais pelo trabalho. Paralelamente, impuseram-se restrições conhecidas
pelo nome interditos. Esses interditos recaíram essencialmente – e certamente – sobre a atitude com os
mortos. É provável que tenham tocado ao mesmo tempo – ou à mesma época - a atividade sexual.
(Bataille, 2014, p. 54)

O trabalho é o que afasta o homem da natureza e o coloca em uma relação de


transcendência para com as coisas. E como o trabalho fornece meios que possibilitam e
facilitam nossa sobrevivência, surge a necessidade de garantir a eficiência da organização
social e de garantir o desenvolvimento do trabalho, gerando como medida preventiva os
interditos, uma forma de barrar a violência contida nos impulsos sexuais e destrutivos. Esse
processo distancia o homem da continuidade do ser, da imanência completa que cerca o não
humano (Bataille, 2016). Os interditos, entretanto, não são vistos pelo filósofo
unilateralmente, como se sua função fosse apenas a de reprimir os impulsos e a violência. Ao
contrário, Bataille reforça que a grande finalidade do interdito é a de viabilizar a transgressão.
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[...] a transgressão nada tem a ver com a liberdade primeira da vida animal: ela abre um acesso para
além dos limites ordinariamente observados, mas reserva esses limites. A transgressão excede, sem o
destruir, um mundo profano de que é o complemento. A sociedade humana não é apenas o mundo do
trabalho. Simultaneamente – ou sucessivamente – o mundo profano e o mundo sagrado a compõe,
sendo suas duas forças complementares. O mundo profano é aquele dos interditos. O mundo sagrado se
abre a transgressões limitadas. É o mundo da festa, dos soberanos e dos deuses. (Bataille, 2014 p. 91)

Essa manifestação do sagrado como transgressão, porém, será revelada dentro das
religiões pagãs. Bataille afirma que o sagrado do monoteísmo cristão possui um caráter
qualitativamente diferente. No cristianismo, ele não é a busca pela continuidade e o retorno a
um modo de ser na imanência do universo, mas é determinado por uma unidade divina:

No mundo religioso primitivo, tinha-se de um lado um mundo das coisas transcendentes, das coisas de
que não havia participação a não ser quando eram destruídas, como coisas, na festa; definia-se assim o
mundo profano; e o mundo sagrado no mundo da imanência, da violência, da participação. A partir do
momento em que aparecem como sagrados o direito, a moral e a pessoa divina, o domínio do sagrado
deixa de ser inteiramente o domínio da imanência. Existe um mundo sagrado transcendente que não
existia na situação primitiva. Esse mundo sagrado transcendente é precisamente o que estipula a
necessidade de Deus como fiador de um mundo de coisas sagradas. De fato, a partir do momento em
que existe um mundo de coisas sagradas, o que se tornam as coisas que não o são? (Bataille, 2016, p.
114).

Bataille (2017), portanto, propõe que há mais de uma manifestação do sagrado, e mais
de uma maneira de se relacionar com ela. Seu foco se direciona ao sagrado das culturas pagãs,
nas quais o erotismo e o sacrifício são formas religiosas de se alcançar aquilo que é maior e
mais poderoso. O sagrado nessas religiões pagãs, diferentemente do cristianismo, se encontra
na relação entre transgressão e interdito. Os interditos revelariam e fomentariam a
transgressão, que por sua vez é dependente do interdito. (Bataille, 2014)

Posição semelhante à de Bataille é assumida pelo filósofo Mircea Eliade. Em O


Sagrado e o Profano (2001), as categorias do título são trabalhadas como duas modalidades
diferentes de ser no mundo. O Sagrado é tudo aquilo que se destaca e se difere do mundo
comum, do mundo profano, como denominado por Eliade. Consiste em qualquer força
sobrenatural que rompa com a cotidianidade, mesmo que tal força seja maléfica ou
demoníaca.

(...) o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no Mundo, duas situações existenciais
assumidas pelo homem ao longo de sua história. Estes modos de ser do Mundo não interessam
unicamente à história das religiões ou a sociologia, não constituem apenas o objeto de estudo histórico,
sociológico, etnológico. Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das
diferentes posições que o homem conquistou no Cosmos e, consequentemente, interessam não só ao
filósofo, mas também a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência
humana. (Eliade, 1992, p. 20)

O sagrado possui uma relação de transcendência para com o profano. Ao mesmo


tempo, porém, cria uma dependência dialética pela qual um não pode ser compreendido sem o
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outro. Caso o mundo fosse completamente sagrado, nada seria sagrado, pois o sagrado é
justamente aquilo que é incrivelmente superior a este mundo. Ele precisa de algo neutro que o
defina como algo superior. Essa neutralidade se encaixa no conceito de profano determinado
por Eliade (2001).

O filósofo também ressalta que o Sagrado não necessariamente reside na experiência


restrita de uma ação dentro da religião. Ele é, em última instância, uma atitude religiosa,
podendo se expressar, como em um exemplo dado por Eliade (1982), no movimento hippie.
Para o filósofo, o movimento hippie foi a redescoberta da dimensão do sagrado cósmico por
uma geração. Vemos, portanto, que o Sagrado é uma modalidade de ser capaz de atribuir
sentido ao nosso mundo profano pelo contato com algo considerado qualitativamente maior
(Eliade, 1972). Não implica necessariamente em crer em Deus, mas refere-se às ideias de ser,
significado e verdade. Aqui, Eliade toma posição semelhante à de Bataille na proposição de
que existiriam diferentes maneiras de se relacionar com o sagrado e suas distintas
manifestações.

A pesquisa que estamos sugerindo, de caráter teórico e exploratório, procura realizar


uma investigação bibliográfica sobre tema do fenômeno da religião no âmbito da psicanálise,
mais especificamente nos sistemas conceituais de Freud e Lacan, e nos filósofos Bataille e
Eliade. Após explicitar como o tema é trabalhado por esses autores, propomos investigar
quais os possíveis pontos de diálogo entre as teorias e quais os possíveis enfrentamentos e
contribuições.

Nossa hipótese é a de que a perspectiva central da análise de Freud sobre a religião


leva em conta um tipo específico de relacionamento com o sagrado. A teoria de Freud sobre
as religiões surge na análise dos cultos e instituições religiosas de sua época, o foco de sua
exploração é o cristianismo e outras religiões monoteístas. A relação entre atitude religiosa e o
comportamento neurótico que Freud estabelece, quando usamos como referência as teorias de
Bataille (2016, 2017), funciona bem na análise do cristianismo, no qual o sagrado assume
uma forma transcendental e impõe a lei divina com os interditos. Entretanto, a generalização
que Freud faz em Totem e Tabu (1912/2006), ao afirmar que todas as religiões derivariam da
mesma ambivalência neurótica, parece não fazer tanto sentido na análise das religiões pagãs
politeístas e em outras manifestações do sagrado.

Em meio a esse processo, pretendemos trabalhar as seguintes questões: (i) Quais são
os limites da interpretação do fenômeno religioso como uma atitude neurótica? (ii) Quais as
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possíveis alternativas a essa interpretação dentro da psicanálise? (iii) Quais críticas podem ser
formuladas tomando como base as teorias de Bataille e Eliade? (iv) Quais possíveis
contribuições para a interpretação psicanalítica sobre a religião surgem do diálogo entre as
teorias?

2. Objetivos

Objetivo Geral -

Investigar, em um diálogo entre as concepções psicanalíticas sobre religião, no sistema


conceitual de Freud e Lacan, e as concepções dos filósofos Bataille e Eliade, quais as
possíveis relações subjetivas a serem estabelecidas entre um sujeito e o sagrado em uma
atitude religiosa.

Objetivos Específicos -

Propomos os seguintes objetivos específicos afim de alcançar o objetivo geral:

A) Descrever como a origem mítica sobre o surgimento da religião em Totem e Tabu


estabelece a atitude religiosa como neurótica

B) Analisar as observações e teorias formuladas sobre o fenômeno da religião dentro


dos textos de Freud.

C) Investigar as interpretações e considerações feitas por Lacan acerca da relação entre


os conceitos da psicanálise e o fenômeno religioso

D) Levantar considerações acerca da religião, de seu surgimento e do fenômeno do


sagrado nas obras de Bataille e Eliade.

E) Verificar quais os possíveis pontos de diálogo e contribuições entre as teorias de


Bataille e Eliade sobre a religião, e as teorias de Freud e Lacan.

3. Metodologia

A pesquisa que propomos é de caráter teórico e exploratório. Pretendemos fazer uma


revisão bibliográfica sobre o assunto dentro dos textos dos autores que serão trabalhados.
Como afirma Köche (2003), a investigação exploratória exige que o pesquisador examine o
conhecimento disponível referente ao tema, identifique as teorias produzidas, delimite os
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autores que serão trabalhados e avalie as possíveis contribuições na compreensão do problema


trabalhado.

Os procedimentos que serão adotados em nossa pesquisa, portanto, constituirão


majoritariamente da leitura analítica dos textos propostos. Num primeiro momento,
pretendemos realizar a investigação do fenômeno religioso sob a ótica da psicanálise.
Realizaremos a leitura analítica dos principais textos de Freud onde o tema é trabalhado:
"Atos Obsessivos e Práticas Religiosas", "Totem e Tabu", "O mal-estar na civilização", "O
futuro de uma ilusão" e "Moisés e o Monoteísmo". Dando continuidade ao movimento,
investigaremos as contribuições de Lacan para a interpretação psicanalítica sobre a religião.
Será feita a leitura analítica de textos como "O Séminário, livro 7: a ética da psicanálise", "O
Seminário livro 4: a relação de objeto " e "Os nomes do pai". Paralelamente, pretendemos
realizar a leitura de alguns comentadores que sintetizam a análise feita pela psicanálise sobre
a religião, como no livro "O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a religião", do filósofo
e psicanalista Slavoj Zizek.

O objetivo, nesse primeiro momento, é identificar qual a perspectiva central sob a qual
a psicanálise interpreta a atitude religiosa e o fenômeno religioso e, também, quais as
alternativas dentro da própria psicanálise a essa perspectiva. Aqui, encaixam-se os objetivos
a), b) e c) de nossa pesquisa.

Num segundo momento, realizaremos a leitura analítica dos autores da filosofia que
trabalham o tema da religião. Será feita a leitura dos principais livros onde Georges Bataille
desenvolve sua teoria da religião, como "O erotismo", "O culpado", "Teoria da Religião", "A
experiência interior". Também investigaremos as considerações e teorias de Mircea Eliade
sobre o fenômeno religioso nos livros "O sagrado e o profano", "Mito e realidade", "História
das crenças e das ideias religiosas", "Imagens e símbolos".

Tendo investigado as teorias sobre a religião de Eliade e Bataille, pretendemos realizar


um diálogo entre esses autores e a interpretação da psicanálítica do fenômeno religioso,
especificamente nas obras de Freud e Lacan. Pretendemos identificas quais as semelhanças
entre as teorias, quais possíveis críticas podem ser traçadas ao pensamento psicanalítico sobre
a religião tomando como base o trabalho de Eliade e Bataille, quais as alternativas dentro do
sistema conceitual psicanalítico permitem alternativas e reformulações, e quais contribuições
surgem dos diálogos entre as teorias.
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Nesse sentido, será elaborado um artigo de revisão bibliográfica, no intuito de trazer


os resultados da pesquisa frente aos nossos objetivos. Também será realizado um relatório
final da pesquisa.

4. Plano de trabalho

Plano de trabalho Cronograma


Atividades a serem desenvolvidas Período de realização
(I) Leitura analítica dos principais textos de Agosto/Novembro de 2018
Freud sobre o fenômeno religioso.
(II) Leitura analítica dos principais textos de Setembro/Dezembro de 2018
Lacan sobre o fenômeno religioso.
(III) Leitura analítica dos livros de Bataille Dezembro/Março de 2019
sobre sua teoria da religião.
(IV) Leitura analítica dos livros de Eliade Janeiro/Abril de 2019
sobre o sagrado e suas manifestações.
(V) Revisão bibliográfica do conteúdo
apreendido, buscando pontos de tensão entre Abril/Maio de 2019
os autores.
(VI) Elaboração de artigo da revisão Maio/Junho de 2019
bibliográfica
(VII) Elaboração do relatório final da Junho/Julho de 2019
pesquisa

5. Cronograma

Ações Meses (período de Agosto/2018 a Julho/2019)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
I X X X X
II X X X X
III X X X X
IV X X X X
V X X
VI X X
VII X X

6. Referencias

Bataille, G. (2014) O Erotismo. Belo Horizonte: Autêntica

Bataille, G. (2016) O Culpado. Belo Horizonte: Autêntica


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Bataille, G. (2017) Teoria da religião, seguida de Esquema de uma história das


religiões. Belo Horizonte: Autêntica

Eliade, M. (1972) Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva

Eliade, M. (1987) A provação do labirinto: diálogos com Claude-Henri Rocquet.


Lisboa: Publicações Dom Quixote

Eliade, M. (2001) O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes

Freud, S. (2006). Atos Obsessivos e Prática Religiosa In: Edição Standard Brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.9. Rio de Janeiro: Imago.

Freud, S. (2006). Totem e Tabu In: Edição Standard Brasileira das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud, v.13. Rio de Janeiro: Imago

Freud, S. (2006) O Futuro de uma Ilusão In: Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v.21. Rio de janeiro: Imago

Freud, S. (2006) O Mal-Estar na Civilização In: Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, v.21. Rio de janeiro: Imago

Köche, J. C. (2003) Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e


iniciação à pesquisa. (21a ed.). Petrópolis: Vozes

Lacan, J. (1991) O Seminário, livro 4: A relação de objeto (2a ed.). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar

Lacan, J. (1991) O Seminário. Livro 7: A ética da psicanálise (2a ed.). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar

Lacan, J. (1998) O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da


psicanálise. (2a ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Lacan, J. (2005) Os Nomes do Pai. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Otto, R. (2005) O sagrado. Lisboa: Edições 70

Zizek, S. (2003) O real da ilusão cristã: notas sobre Lacan e a religião. São Paulo:
UNESP

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