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All content following this page was uploaded by Lucio José Borba Escobar on 18 July 2023.
RESUMO
Este artigo abordará, primeiramente, alguns fatos relacionados ao universo
religioso que Sigmund Freud vivenciou desde a sua infância e que podemos supor
que tenham embasado a sua teoria e como este a desenvolveu dentro do tema.
Em seguida, sua visão sobre a religião, utilizando duas de suas obras: Atos
obsessivos e Práticas Religiosas, de 1907, sendo o primeiro estudo sobre o
assunto, em que ele faz uma analogia dos ritos religiosos com as atitudes propícias
à neurose obsessiva. Totem e Tabu, de 1913, apresenta a origem do fenômeno
religioso, nas religiões primitivas e a interpretação freudiana do sentimento deste.
Esses apresentam fundamentos de como a psicanálise interpreta dois aspectos
da experiência religiosa, principalmente, no que se refere à origem e natureza do
fenômeno religioso, além da análise dos rituais.
ABSTRACT
This article will address, firstly, some facts related to the religious universe that
Sigmund Freud experienced since his childhood and that we can assume that
supported his theory and how he developed it within the theme. Then, his view on
religion, using two of his works: obsessive Acts and Religious Practices, from 1907,
this being the first study on the subject, in which he makes an analogy of religious
rites with the propitious attitudes to obsessive neurosis and Totem and Taboo, from
1913, in which he presents the origin of the religious phenomenon in primitive
religions and the Freudian interpretation of this feeling. These present fundamentals
of how psychoanalysis interprets the psychic motivations of the religious experience,
mainly with regard to the origin and nature of the religious phenomenon and analysis
of rituals.
1 INTRODUÇÃO
A fé e a religiosidade estão presentes, no mundo contemporâneo, de forma
crescente e abrangente. As religiões oferecem ao ser humano a procura de se
entender e ao mundo ao seu redor, cada uma delas na sua diversidade de crenças,
ritos, expressões de religiosidade que se encontram cada vez mais presentes no
nosso cotidiano.
Apesar de ser um ateu convicto, as questões religiosas foram de grande
interesse de Freud, tornando-se um dos grandes estudiosos sobre o assunto. Ele
buscou trazer, através de sua teoria psicanalítica, a interpretação da origem e da
natureza da religião.
Este artigo irá, a princípio, apresentar fatos de sua vida, relacionados ao
universo religioso que ele vivenciou desde sua infância, seu percurso mediante ao
conhecimento acadêmico e paralelamente, a compreensão de sua forma peculiar da
religião, que podemos supor que a tenha fundamentado e de como desenvolveu seu
posicionamento acerca do tema. Em seguida, a visão freudiana sobre a religião
utilizando duas de suas obras.
Essas apresentam justificativas de como a psicanálise interpreta através das
motivações psíquicas inconscientes, no que refere à origem e à natureza do
fenômeno religioso. Utilizando duas de suas obras, Freud inicia seus estudos sobre
a religião com a publicação do texto Atos obsessivos e Práticas Religiosas (1907) e
nele aponta, a conformidade, que existe entre os rituais praticados pelas pessoas
religiosas e os atos desenvolvidos pelas pessoas obsessivas.
Em Totem e Tabu, de 1913, Freud, em síntese, apresenta a relação entre o
totem e a exogamia, explora o conceito de tabu e suas diferentes formas, a proibição
do incesto, sua notória influência na formação das civilizações e a de elucidar a
origem do fenômeno religioso, tanto das religiões primitivas quanto da religião
monoteísta judaica cristã.
Este artigo tem como finalidade realizar uma breve análise destas duas obras,
apresentando as contribuições freudianas quanto aos temas religiosos baseados em
manifestações do inconsciente.
Schlomo Freud, obtendo a mudança do seu nome em 1878. Era filho de Jakob
Freud e Amalia Nathansohm e o primogênito de oito filhos do casal, todos judeus.
Seu nome foi dado pelo pai, em homenagem ao avô paterno, que falecera
semanas antes do seu nascimento. Seu pai era um comerciante mal-sucedido, de
um clã mais pobre em que ocorriam alguns problemas entre os familiares. Da sua
ordem religiosa, preservou apenas alguns rituais como o hábito de ler a Bíblia em
hebraico e a Páscoa. A intenção familiar era a de estar, de alguma forma,
oferecendo os princípios da religião judaica.
Seu pai apresentava uma afetividade especial por Freud que registrou, na
página inicial da Bíblia, seu nascimento e circuncisão, rito judaico a que o mesmo
foi submetido, no oitavo dia de nascido, como de costume em toda a família judaica.
Apesar de ser criado nesse ambiente, seus próprios pais não foram
incentivadores da crença e da religião, mediante uma postura educativa em relação
à religiosidade. Sem o incentivo e a prática, Freud cresceu “um judeu sem Deus”,
como ele mesmo declarava. “Sempre fui um descrente e fui educado sem nenhuma
religião, embora não sem respeito pelo que se denomina de padrões “éticos da
civilização humana”. (FREUD,1941[1926], p.315).
Na sua juventude, Freud vivenciou os conflitos e a rejeição a sua
descendência, devido ao antissemitismo que existia em sua época. “Quando, em
1973, ingressei na Universidade, experimentei desapontamentos consideráveis.
Antes de tudo, verifiquei que se esperava que eu me sentisse inferior e estranho,
porque era judeu. Jamais fui capaz de compreender por que devo sentir-me
envergonhado da minha ascendência, ou, como as pessoas começavam a dizer, da
minha raça.” (FREUD, 1925 [1924] p.19).
Foi no ingresso, na Universidade, com 17 anos, que ele percebeu que o fato
de ser judeu influenciaria a sua vida acadêmica. Por mais que ele se destacasse
intelectualmente, era obrigado a conviver com o antissemitismo, sempre lembrando-
o do fato de ser judeu.
No período de formação médica, Freud passou por uma fase da doutrina
filosófica do célebre professor Frauz Brentano, que era ex-padre e filósofo que
nunca negou sua crença em Deus. Em encontros que frequentava, na casa de
Brentano, debatia-se sobre as possibilidades de se fazer ciência sem desacreditar
da existência de Deus. Brentano considerava que a ciência e a religião poderiam
caminhar juntas e Freud teve grande respeito sobre suas lições, porém, suas
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repetição dos diferentes ritos religiosos, como nos mantras para os budistas, nas
orações para os católicos e nas oferendas das religiões de matrizes africanas.
Freud afirma que a religião concede a um Deus, atributos da figura paterna
mencionando à infância, quando a criança se sentia exposta, desamparada,
abandonada, em perigo e recorria aos pais na procura de proteção. A religião,
portanto, trabalha com a proibição associada à punição, reproduzindo a ideia
obsessiva de que um é capaz de anular outro ato praticado, anteriormente, através
da reparação dos pecados. Quando se confessa os pecados, ou seja, aquilo que
provoca a culpa, é como se o que a originou desaparecesse, já que se busca o alívio
e o perdão de Deus. Na realidade, o que a religião oferece, através das práticas
religiosas, é que as pessoas se moldem a Deus, à imagem do Pai. Deus como figura
de um pai glorificado, uma purificação, uma cópia do pai: Deus é o pai!
Na neurose obsessiva, os sintomas são uma formação cujo objetivo é conciliar
as pulsões contrastantes (amor/ódio, vida/morte). Já a religião, trabalha com a
oposição (céu/inferno, pecado/redenção, Deus/Diabo). Para o obsessivo, qualquer
desvio das ações, dos ritos, é acompanhado por uma ansiedade intolerável. E, essa
ruptura, essa lacuna na estrutura, gera a angústia.
Um recalque insatisfatório na dinâmica psíquica do neurótico obsessivo,
ocasiona um enorme sentimento de angústia. Na busca para livrar-se desta, se
apropria de defesas secundárias, entre as quais estão os rituais obsessivos.
De forma análoga, o homem religioso, está também sujeito aos conflitos, que
se origina da luta entre o desejo e a interdição do desejo que nele existe, se
defendendo também desse conflito através do mecanismo do recalque. Este lança
mão de cerimoniais de práticas religiosas, a fim de neutralizar a forma pulsional dos
seus desejos já que o recalque não é suficientemente eficaz para anular a angústia.
Segundo Freud, o grande conflito enfrentado pelo religioso é o de obedecer
às pulsões e desobedecer a lei ou obedecer a lei e abrir mão das pulsões, assim os
rituais têm a função de proteção diante do conflito. " Assim, os atos e cerimoniais
obsessivos surgem, em parte, como proteção contra o mal operado". (FREUD, 1907,
p.115)
É importante pontuar que alguns religiosos utilizem os cerimoniais e rituais
para este objetivo, porém, isso não quer dizer que todo religioso assim o faça, ou
mesmo, que essa seja a finalidade de toda prática religiosa.
Freud descreve muito bem nesta obra, a analogia entre os cerimoniais
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religiosos e atos obsessivos em que mostrou que existem vivências religiosas que
podem ser incentivadas por razões inconscientes que seguem a lógica da neurose
obsessiva. O cerimonial religioso pode prestar-se a ser usado de modo obsessivo,
mas não termina seu verdadeiro significado.
Freud vai desenvolver melhor esta ideia, em Totem e Tabu, quando percebe
que algumas limitações podem ser suspensas, se certas ações forem realizadas,
tornando-se atos compulsivos que se repetirão, indefinidamente: a remição, a
penitência, os ritos de purificação, etc.
Este banquete dedica-se ao Pai morto, em que todos do clã deveriam comê-
la que era, geralmente, um animal, para que todos assimilassem o poder e se
redimissem do pecado pelo assassinato.
O mito do Pai morto, tornou-se a fonte da religião, da moral e da vida em
sociedade, todavia, as motivações psíquicas da experiência religiosa seriam
provenientes do recompor deste sentimento oriundo da culpa, do assassinato do pai
primitivo e que foi transmitido ao longo da história da humanidade.
Nesta citação, Freud resume o relato do texto apresentado pelo artigo:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem conseguirmos dar um fim diante da grandeza do tema proposto,
devemos concluir que, as duas obras apresentadas neste artigo, têm como objetivo
principal o de desenvolver o fenômeno religioso através da psicanálise. Este
percurso nos auxiliou a elucidar o pensamento de Freud sobre a religião.
Inicialmente, expomos alguns fatos relacionados a sua vida, no que diz
respeito ao universo religioso em que admite ter uma animosidade pessoal com o
tema. Mesmo demonstrando admiração pelo judaísmo, formação religiosa que
recebeu de seus pais, bem como, o contexto cultural e científico de sua época sua
forma peculiar de entender a religião.
Apesar de ter professado seu ateísmo, ele respeitou os valores éticos da
religião judaica. Freud foi um grande estudioso sobre o assunto. Dentre suas obras,
relatamos sobre “Atos Obsessivos e Práticas Religiosas”, escrito em 1907, que
iniciou suas pesquisas no campo da psicologia da religião e “Totem e Tabu” de 1913
que abordou de maneira mais ampla.
Neste trabalho, observamos que em Atos Obsessivos e Práticas Religiosas,
ele traz aproximação com a religião, através dos cerimoniais, pois esta se
fundamenta na dedução e na isenção de impulsos instintuais, geralmente, instintos
egoístas. Tal como a neurose obsessiva, o sujeito experimenta a ansiedade
expectante e o medo da punição, determinando um desempenho impróprio e
contínuo contra a tentação. A reincidência nesse caso, leva ao castigo, ao sofrimento
e à penalidade.
Em Totem e Tabu, ele apresenta a base da civilização e esta mesma renúncia
dos instintos constituintes produzida pela religião. Nesta, ele expõe o surgimento do
sentimento religioso, o sacrifício do sujeito diante da divindade no seu prazer
instintual, a proibição do incesto e a origem do fenômeno religioso, tanto na sua
forma primitiva quanto na sua forma mais evoluída.
A finalidade desse artigo através da Investigação dos posicionamentos de
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Freud nessas duas obras, foi apresentar dois aspectos das contribuições dele. O
primeiro referente a como ele assemelha o rito religioso aos ritos obsessivos dos
neuróticos, e o segundo como ele assinala como sendo a origem do fenômeno
religioso.
Visualizamos com este trabalho a necessidade de ampliação dos estudos
nessa área, tendo esse artigo o objetivo incentivar novas reflexões, diga-se,
psicanalíticas, frente a um acontecimento humano tão cheio de mistérios e
complexidade: a experiência religiosa.
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REFERÊNCIAS
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