O documento discute o caso de Davi, uma criança de 2 anos que não falava. Na primeira sessão com a analista, os pais falavam por Davi e não o deixavam falar. Posteriormente, Davi brincou com um carrinho durante as sessões, indo e voltando, e começou a falar algumas palavras à medida que a analista respondia. O documento sugere que a abordagem da analista permitiu que Davi começasse a se apropriar da linguagem.
O documento discute o caso de Davi, uma criança de 2 anos que não falava. Na primeira sessão com a analista, os pais falavam por Davi e não o deixavam falar. Posteriormente, Davi brincou com um carrinho durante as sessões, indo e voltando, e começou a falar algumas palavras à medida que a analista respondia. O documento sugere que a abordagem da analista permitiu que Davi começasse a se apropriar da linguagem.
O documento discute o caso de Davi, uma criança de 2 anos que não falava. Na primeira sessão com a analista, os pais falavam por Davi e não o deixavam falar. Posteriormente, Davi brincou com um carrinho durante as sessões, indo e voltando, e começou a falar algumas palavras à medida que a analista respondia. O documento sugere que a abordagem da analista permitiu que Davi começasse a se apropriar da linguagem.
No seminário A Relação de Objeto, Lacan examina as conseqüências
clínicas da sexualidade feminina para todo sujeito. Considerando que cada sujeito é filho de uma mãe, quer dizer, de uma mulher. A mãe, enquanto mulher, é um sujeito correlacionado a uma falta, que é segundo Lacan (1957), não uma falta - a ser, mas uma falta de objeto. Freud nos diz que a mulher tem no número de suas faltas essenciais o falo, e isso tem referência estrita, com sua relação à criança. Nesse sentido, ela vai encontrar na criança alguma coisa que acalme, mais ou menos, sua necessidade de falo. A subjetividade da mãe, que é marcada pela relação do sujeito feminino à falta de objeto essencial ( ), aponto para criança lugares distintos. Segundo Miller em seu texto A Criança entre a Mulher e a Mãe, o objeto criança não somente preenche, como também dividi. Se o objeto criança não divide, ou ele sucumbe como objeto do par genitor, ou, então, entra com a mãe numa relação dual que o alicia. A questão fundamental parece ser, então, como a criança se inscreve dentro desta relação da mulher à sua falta essencial? Em sua carta a J. Aubry, Lacan afirma que toda criança que nasce é para sua mãe uma aparição no real do objeto de sua existência. Para se tornar sujeito é preciso que ela seja tomada dentro desta operação de simbolização primordial. Para Freud há uma substituição imaginária da criança pelo falo, que ele representa segundo a equação: fezes = criança = falo. Nesse sentido há uma certa obturação da falta de objeto para essa mulher. Entretanto, Lacan aponta para o que há de irredutível e irrepresentável nessa equação, levando a uma discordância entre a criança e o falo. Apresenta, então, o estatuto da criança como objeto a, avançando na referência que faz à mulher em relação ao gozo – não somente em relação a uma falta de objeto, mas também apontando para uma falta – a – ser. Nesse sentido já se prefigura uma relação entre a falta fálica e o suplemento de gozo que Lacan situará mais tarde. “A este gozo que não é todo, quer dizer, que a faz em qualquer parte ausente dela mesma, ausente enquanto sujeito, ela encontrará a tampa disto, que será sua criança”. (Seminário XX) Que efeito pode ter o encontro com o analista para essa criança que parece alojada nesse lugar? Davi é um menino de 2 anos encaminhado ao CRIA em função da preocupação dos pais com o atraso no desenvolvimento da sua fala. Na primeira entrevista com a analista os pais, por sua vez, não conseguem aguardar por um instante o silêncio do filho. Falam - os pais - pela criança. Respondem as perguntas dirigidas a este, ou dizem aquilo que eles gostariam de estar ouvindo. Davi repete. Mas será que escuta o que diz? Encarnado nesse lugar em que a voz parece ser do Outro, o que se produz entre essa criança e seus pais é um efeito de discurso que não faz laço. Diante dessas palavras soltas, ditas ao vento, o que temos é um completo apagamento do sujeito. Não há intervalo para que essa criança costure suas palavras, ainda que com a linha que o Outro oferece. Retomando as Duas Notas, lemos que a criança realiza a presença daquilo que Lacan designa como objeto a na fantasia. Alojado nesse lugar de ideal do eu não é permitido a Davi tomar a palavra. Sem mediação, Davi produz eco como uma maneira particular de realizar-se em conformidade com o desejo do Outro. O que diria essa criança se pudesse abrir a boca? O que enunciaria se pudesse operar um certo arranjo com os significantes, numa cadeia que deslize a partir de um discurso amoroso? E o que poderíamos nos perguntar sobre essa mãe – Outro simbólico, veículo da linguagem – que não dá ao filho a “voz”? As perguntas permanecem enquanto um outro encontro se precipta. Após essa primeira entrevista Davi - e somente ele - é convidado a voltar. Um brinquedo – o carrinho – passa a intermediar o contato com a analista. Um carrinho que leva e traz, num movimento de aparecer e desaparecer que nos lembra, ainda que de relance, a brincadeira do fort-da. Nesse lugar vazio que opera o analista, lugar reservado como efeito de uma subtração de gozo, um significante passa a enlaçar a voz num outro discurso, produzido a partir do intervalo que se interpõe entre o dito do analista, sua escuta e o sujeito. Davi joga o carrinho, joga para frente, traz de volta para perto. Olha para a analista e espera dessa um anúncio, escuta a sua voz... a analista espera. Um certo discurso enlaça as palavras que passam a ir e vir junto com o carrinho, num movimento de aparecer e desaparecer do próprio sujeito. Para Lacan (1964) o que é fundamental no nível de cada pulsão é o vai-e-vem em que ela se estrutura. Nenhuma parte desse percurso pode ser separada de sua reversão fundamental, do caráter circular do percurso pulsional. Esse caráter de vai-e-vem também está presente no movimento que a criança faz entre alienar-se e separar-se de seus pais. Se num primeiro momento a alienação tornou-se necessária para a manutenção da própria vida, a separação, nesse tempo, também o é. No texto A criança e o desejo do analista, o autor argumenta que há uma lógica simples que opera o campo da psicanálise com crianças. Ou bem a criança já é sujeito e o analista vem alojar-se no lugar já esvaziado do desejo, ou bem está diante de uma criança para a qual o sujeito não apareceu no real, criança- objeto, criança-gozo. Nesse caso o analista deverá alojar-se num lugar que só pode ser do Outro primordial, com a questão colocada, para ele, de saber como operar nesse caso. A analista opera com o discurso a partir de um lugar vazio, esvaziado de gozo, com a possibilidade da falta, do intervalo. Suscitando um lugar onde isso pode falar, abrindo mais um ouvido para escutar (Lacan, Escritos). Assim, Davi passa a receber sua fala invertida numa mensagem, e a essa não se mostra como “surdo”. Nesse breve encontro com um analista Davi parece ter tomado posse, ainda que inadvertidamente, da voz que antes parecia destinada somente ao Outro. E aqui, podemos colocar apenas um ponto usando as palavras citadas por Freud – Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando (...) O livro diz-nos que não é pecado claudicar.