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PREFACE (1999) 1
PREFACE (1990) 2
1. SUBJECTS OF SEX/GENDER/DESIRE 2
I. “WOMEN” AS THE SUBJECT OF FEMINISM 2
II. THE COMPULSORY ORDER OF SEX/GENDER/DESIRE 3
III. GENDER: THE CIRCULAR RUINS OF CONTEMPORARY DEBATE 3
IV. THEORIZING THE BINARY, THE UNITARY, AND BEYOND 3
V. IDENTITY, SEX, AND THE METAPHYSICS OF SUBSTANCE 4
VI. LANGUAGE, POWER, AND THE STRATEGIES OF DISPLACEMENT 4
Preface (1999)
O livro foi escrito no final dos anos 80 com o objetivo de contestar certas posiçõ es
feministas que cristalizavam as identidades de gênero entre masculinidade feminilidade,
criando novas hierarquias e deslegitimando algumas expressõ es de gênero como falso ou
derivadas. Isto nã o significa que toda prá tica deva ser aceita ou celebrada, mas que
devemos poder refletir antes de taxá -las. – vii/viii – É exatamente neste sentido que o texto
nã o reduz a teoria feminista à prá tica lésbica e nem reduz um suposto ser mulher ao
lesbianismo. – x – Contra o quadro heteronormativo que busca situar-nos apenas entre um
ser mulher e um ser homem reduzidos à s prá ticas heterossexuais. – xi – Um certo
policiamento de gênero, mesmo dentro dos discursos feministas, como forma de manter a
heterossexualidade. – xii – Assim, o discurso que defende a eliminaçã o do gênero
implicitamente está aceitando que apenas é possível pensar o gênero em termos de
subordinaçã o, da mesma forma que afirmava o discurso sexista. – xiii
Sobre performatividade: “performativity is not a singular act, but a repetition and a ritual,
which achieves its effects through its naturalization in the context of a body, understood, in
part, as a culturally sustained temporal duration” – xv – O gênero é produzido através da
repetiçã o de atos corporais. Aquilo que é exteriorizado e que é percebido no exterior é
internalizado como uma característica inerente do ‘eu’. – xv – Um desafio é pensar o que
acontece quando transpomos esta teoria para a raça, o que realça os pró prios limites da
categoria do gênero como chave de aná lise. – xvi
Uma questã o central do livro é como fazemos julgamentos sobre o gênero e quais as bases
teó ricas para isto. A distinçã o entre discurso descritivo e discurso normativo sobre o
gênero é insuficiente, pois toda descriçã o do que é o gênero pressupõ e uma posiçã o acerca
das suas condiçõ es de possibilidade, ou seja, uma posiçã o normativa. Para Butler, nã o é
possível uma enunciaçã o normativa acerca do gênero. Mesmo a identificaçã o de uma
prá tica como subversiva, do ponto de vista positivo, é o risco de fetichizaçã o e
comodificaçã o desta mesma prá tica. – xxi – A discussã o sobre drag no livro nã o é a
glorificaçã o de uma prá tica subversiva, mas a evidenciaçã o de como ao afirmar que “é um
homem vestido de mulher” ou “uma mulher vestida de homem” já pressupomos uma
verdade sobre o gênero. – xxii – Serve para nos despirmos da nossa distinçã o entre real e
irreal no campo do gênero e identificarmos como “naturalized knowledge of gender
operates as a preemptive and violent circumscription of reality”. – xxiii
Isto nã o quer dizer que o discurso identitá rio seja um problema e deva ser evitado. O
reconhecimento como minoria sexual é uma necessidade de sobrevivência e a mobilizaçã o
das identidades ameaças é um instrumento de contrapoder importante. – xxvi
Preface (1990)
“(...) what political possibilities are the consequence of a radical critique of the categories of
identity. What new shape of politics emerges when identity as a common ground no longer
constrains the discourse (...)” - xxix
1. Subjects of Sex/Gender/Desire
i. “Women” as the Subject of Feminism
A teoria feminista tradicionalmente reivindicou a categoria “mulher” como representante
de quem é, por quem fala e de seus interesses. Uma linguagem adequada para falar da
mulher seria um passo prévio necessá rio para um discurso feminista, sobretudo em um
contexto cultural de invisibilizaçã o da vida das mulheres. Ocorre que é o pró prio discurso
de representaçã o é que produz o sujeito feminista. Nã o existe uma “mulher” prévia. – 4 –
Assim, a pró pria via de emancipaçã o, o discurso representacional, impõ e limites e força a
produçã o da identidade dentro de uma determinada estrutura de poder. – 5 – Um efeito
negativo é a tentativa de construçã o de uma base universal para o feminisimo, contra o
patriarcado universal, o que pode acabar por estabelecer um discurso colonizante em
relaçã o à s culturas nã o ocidentais ou dos chamados países periféricos. A opressã o de
gênero lida como uma sintoma da barbá rie civilizacional deste outro. – 6 – Esta pretensã o
universal permanece presa ao binarismo homem/mulher e estabelece um feminino
descontextualizado de outros eixos de relaçã o de poder, como raça, etnia e classe, que
também compõ em a identidade.
Butler defende que a pretensã o de unidade e universalidade do sujeito do feminismo é
minada pela pró pria forma de funcionamento do discurso da representaçã o. A categoria
está vel da mulher é necessariamente excludente, mesmo que construída com fins
emancipató rios. – 7 – Mesmo no uso apenas estratégico da categoria, um efeito nã o
desejado pode ser precisamente a exclusã o de quem nã o se encaixa nesta categoria. – 8 – A
base de sua crítica é a noçã o de matriz heterossexual, entendida a partir da contribuiçã o de
Wittig do “contrato heterossexual” e de Rich de “heterossexualidade compulsó ria”. Na
primeira, temos que um “contrato social heterossexual” confina as identidades de gênero
dentro da ó rbita heterossexual do desejo1. Na segunda, temos que a heterossexualidade é
uma instituiçã o política que força a mulher a se conformar à prevalência do homem, e de
seu desejo, sobre a mulher, por exemplo com a criaçã o do mito do orgasmo vaginal2,3. - 9
4
Alusã o nã o explícita ao artigo de West e Zimmerman de 1977, publicado em 1987? Doing Gender. In: Gender
and Society, 1 (2): 125-151.
2. Prohibition, Psychoanalysis, and the Production of the Heterosexual
Matrix
Ao longo da histó ria do feminismo, a noçã o de patriarcado e um tempo pré-patriarcal foi
importante para desmistificar a naturalizaçã o da hegemonia masculina, porém correu-se o
risco de se criar um discurso universalizante, sob e contra o signo do patriarcado, que
apagava outras formas de opressã o, como de raça ou coloniais. O discurso da origem acaba
por ter uma perniciosa insinuaçã o de justificaçã o, “makes the constitution of the law appear
as a historical inevitability.” - 48 – O recurso à origem impossibilita a exploraçã o de outras
construçõ es culturais complexas sobre o gênero e imobiliza a disputa em torno de uma
feminilidade original e mítica. – 49 – Estas tentativas se valem de um certa leitura do
estruturalismo de Lévi-Strauss que, baseada na distinçã o natureza/cultura, colocam o sexo
(feminino) como o natural a partir do que se construiria o gênero (feminino) em
subordinaçã o ao masculino. O sexo seria matéria bruta. Entretanto, este modelo, ao
naturalizar o sexo, coloca a cultura como livre para se impor sobre a natureza, mantendo
incó lume a estrutura de significaçã o do modelo de dominaçã o. Ao mesmo tempo, a
natureza, e corpo, sã o identificados como femininos, enquanto que a cultura, e a mente,
seriam atributos do masculino. Ou seja, a prevalência da cultura seria a prevalência do
masculino. – 50 – Ao reconhecermos o sexo também como produçã o discursiva cultural,
esta narrativa natureza/cultura cai por terra. O gênero como contingência.
5
A palavra nunca aponta diretamente para seu significado, mas apenas através de outras palavras. Logo, o
significado é sempre diferido. A palavra se diferencia, abre um espaço, entre ela e a outra palavra.
domínio excluído da sexualidade e o usamos como ferramenta de intervençã o na
simbolizaçã o vigente? – 56
O fundamento desta simbolizaçã o seria o tabu do incesto, que imporia a exogamia e mulher
como objeto de uma economia de troca. Lévi-Strauss indica que nã o há indícios de que o
insight de Freud corresponda a fatos histó ricos, mas sim que podemos pensar em uma
fantasia cultural universal. Porém, Lévi-Strauss parece indicar que a fantasia funciona, ou
seja, que o tabu opera na realidade. Butler, porém, destaca que talvez o pró prio desejo seja
produzido em decorrência da erotizaçã o decorrente do tabu. O desejo incestuoso como
fantasmá tico, mas nã o por isso menos concreto. – 57 – Lévi-Strauss assume como
premissas fora da discussã o “[t]he naturalization of both heterosexuality and masculine
sexual agency”.
Lacan, lendo Lévi-Strauss, vai dizer que a Lei que estabelece o tabu do incesto também será
fundadora da linguagem. A Lei se reafirma em cada indivíduo na sua individuaçã o e entrada
na cultura – no Simbó lico. A linguagem apenas é possível a partir do momento da nã o-
satisfaçã o fundamental instituído pela proibiçã o do incesto. A jouissance é perdida na
repressã o fundamental que funda o sujeito, dando origem a um sujeito barrado do acesso a
este desejo inicial. O sujeito busca, entã o, um substituto para este desejo – metonímia. Da
mesma forma, a língua também é sempre insuficiente para significar. O sujeito, a língua e o
desejo sã o sempre incompletos e insuficientes. – 59