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sexual
do mesmo sexo. Nas crianças, contudo, o sexo do parceiro tem muito menos
importância do que nos adultos; e no periodo de latência, dentro das condições
culturais atuais, o aparecimento de certa quantidade de homossexualidade mais ou
menos manifesta (ver pág. 102).
De início, todos os indivíduos podem desenvolver sentimentos sexuais in-
discriminadamente; e a busca de objeto é menos limitada do que se pensa, em geral,
pelo sexo do objeto.
Este fato é muito importante que se tenha em mente. Um poema composto por
certo paciente na infância, em colaboração com o irmão mais velho e a irmã,
permaneceu obscuro, durante algum tempo, na análise. Três homens e três mulheres
nele apareciam e eram impossível compreender quem estes personagens representavam
até a análise mostrar que eram uma dupla representação dos três irmãos.
Independentemente dos respectivos sexos, apareciam ora como homens, ora como
mulheres.
A transferência "contra-sexual", ou seja, a transferência materna para analista
homem ou
a transferência paterna para analista mulher, é ocorrência frequente na prática
analítica.
Para a maioria dos pacientes, o sexo do analista não tem muita importância, lanto
os pacientes homens quanto os pacientes mulheres podem desenvolver e desenvolvem
transferências quer paternas, quer maternas em relação ao analista, seja homem,
seja mulher. Entretanto, certa minoria de pacientes mostra reação dê todo diferente
para com analistas homens e analistas mulheres; minoria que, abrangendo os
homossexuais, se compõe de pessoas que, mais do que outras, estão sob o domínio do
complexo de
castração.
O fato de, na pessoa normal, a escolha de objeto vir, mais tarde, a tornar-se mais
ou
menos limitada ao sexo oposto é um problema em si mesmo; problema que é menos
difícil para o rapaz porque a mae, seu primeiro objeto amoroso, é pessoa do sexo
oposto; o desenvolvimento da moça na direção da escolha normal do objeto mostra-se
mais complicado pelo fato do seu primeiro objeto ter sido objeto homossexual (ver
págs. 80 e segs.).
Certa quantidade de sentimento sexual para com o seu próprio sexo subsiste em todos
os indivíduos como resíduo da liberdade original de escolha.
Esta liberdade pode atribuir-se a uma "bissexualidade" biológica do homem.
Entretanto, a expressão não tem significado muito preciso (210, 1243). O fato de
existirem hormônios femininos no homem e hormônios masculinos na mulher liga-se,
decerto, mas não é idêntico,
ao fato de que todo embrião tem o rudimento tanto do dueto de Wolff quanto do dueto
de Miiller; ou o fato de que ambos os sexos têm uma quantidade de características
rudimentares
do sexo oposto. São fatos que, também eles, devem ligar-se, mas não são,
certamente, idênticos, àqueles em que se baseiam as teorias citológicas no sentido
de que todo ser vivo contém um componente material (feminino) e um componente
locomotor (masculino); e de que
a sexualidade é característica meramente relativa, de maneira que certa célula pode
ser, ela mesma, feminina de referência a uma célula mais masculina e masculina de
referência a uma
mais feminina (752).
Nem sequer é clara a expressão "bissexualidade" na esfera psicológica. Hão de
distinguir-
se três aspectos que com freqüência se confundem: (a) se uma pessoa escolhe um
objeto do mesmo ou do sexo oposto; (b) se uma pessoa tem o objetivo sexual que
consiste em introduzir ativamente parte do seu corpo no corpo do seu objeto, ou se
deseja ter alguma coisa introduzida no seu corpo; (c) se uma pessoa tem na vida, de
modo geral, tipo de atitude ativa, agressiva, ou se tem atitude mais passiva,
expectante. Estes três aspectos de "masculinidade" e
"feminilidade" coincidem, por vezes, no mesmo indivíduo, mas há casos em que,
independentemente um do outro variam de forma que existem homossexuais homens muito
ativos e homossexuais mulheres muito passivas. Na realidade, o que há é que aquilo
que se chama masculino e feminino depende mais de fatores culturais e sociais que
de fatores biológicos. Claro que nos dois sexos ocorrem impulsos tanto com
objetivos ativos quanto com objetivos passivos,
Assim, pois, reduz-se o problema do homossexualismo à questão: Dado que o
homossexual, como qualquer outro ente humano, tem, originalmente, a capacidade de
escolher objetos de um e outro sexo, que é que lhe restringe esta capacidade a
objetos do seu próprio sexo?
A primeira indagação a fazer-se neste contexto diz respeito ao papel desempenhado
por
mãe frustradora em certa característica particular: como ela, é a homens que ama.
Em bom número de homossexuais masculinos, a identificação decisiva com a mãe fez-se
com o aspecto de "identificação com o agressor"; isso ocorre nos meninos que
temeram muito as mães.
Em seguida à identificação decisiva, o desenvolvimento posterior pode caminhar em
várias direções:
1. O tipo de indivíduo que é mais narcísico do que "feminino" tenta, antes de mais
nada,
garantir um substituto dos seus desejos edipianos. Depois que se identificou com a
mãe, comporta-se como até aí desejara que a mãe se comportasse para com ele.
Escolhe para objetos amorosos rapazes ou meninos que, para ele. se lhe assemelham e
ama-os e trata-os com a ternura que desejara da parte da mãe. Embora procedendo
como se fosse sua mãe, está centrado, emocionalmente, no seu objeto amoroso, assim
desfrutando ser amado por si mesmo. Este esboço esquemático está sujeito a muitas
complicações. A mulher com quem o
paciente se identificou pode não será mãe, e sim uma irmã, ou outra mulher do
ambiente
infantil. A transferência da mãe para esta outra pessoa pode ter ocorrido em idade
muito tenra, ou simultaneamente com a regressão do amor à identificação.
O tipo de desenvolvimento a que estamos aludindo produz "indivíduos homoeróticos",
que procuram, de forma aíiva, pessoas mais jovens como objetos (164, 465).
Narcisicamente enamorados de si mesmos e do seu pênis "personalidades fálicas"
(verpágs. 495 e seg.), fixados àquele período da vida em que ocorreu a orientação
decisiva, os indivíduos deste tipo
costumam amar adolescentes, estes os representando ao tempo da sua própria
adolescência (555). É frequentíssimo comportarem-se muito ternamente para com os
seus objetos, mas também há vezes em que se a sexualidade lhes houver sido antes
masoquisticamente distorcida, se comportam, a bem dizer, sadicamente em relação a
eles.
Um jovem com dificuldades de carâter apresentou-se à análise com
aparência muito suave e feminina, sempre disposto a ajudar os outros, a vida sexual
manifesta limitando-se à masturbação; tinha muitos amigos homens, pelos quais se
interessava mais do que pelas mulheres. No decurso da análise, ocupou-se muitas
vezes com comentários psicológicos a respeito dos amigos, comentários que, na
realidade, a
ele mesmo se aplicavam. Daí evidenciou-se que os amigos eram escolhidos à base do
tipo narcísico de relação objetal. O paciente dedicava-se aos amigos com ternura
que só
se podia chamar de maternal. Aos poucos, veio a compreender que a sua natureza
passiva se assemelhava à da mãe, que era muito calma. Disse, certa vez: "Minha mãe
e
eu devemos amar-nos muito porque somos companheiros de infortúnio." Estas palavras,
embora tendo significado consciente preciso, ocultavam-lhe a identificação genital
com a mãe "castrada" a quem imitava, inconscientemente, escolhendo amigos que se
pareciam
com ele.
Outro paciente, cuja personalidade e cuja neurose eram dominadas por iden-
tificação com a mãe, sentia o desejo perverso de fazer a namorada urinar na sua
frente, animando-a de modo afetuoso. Representava o papel da mãe, que costumava pô-
lo no urinol quando era neném.
Ocorre o mesmo mecanismo em indivíduos heterossexuais. Os homens narcísicos que, na
infância ou na puberdade, gostavam de pensar em si mesmos como se fossem meninas
podem vir, posteriormente, a se apaixonarem por "menininhas"(mais ou menos
másculas), nas quais vêem a reincarnação deles próprios; depois, tratam estas
meninas como gostariam de ser tratados pelas mães (416). Estes homens não amam os
seus parceiros femininos como entidades individuais, mas, nelas amam as partes
femininas do seu próprio ego ((1565). Uma angústia de castração, semelhante àquela
que ocorre em casos de homossexualidade pode resultar em constelação inconsciente,
na qual a moça narcisicamente escolhida, amada com a ternura que o indivíduo,
outrora, teria desejado para si por parte da mãe, representa tanto a própria pessoa
na sua adolescência como também, especificamente, o seu próprio pênis (482). Há
tipos caracterológicos que são governados pela necessidade de dar a outras pessoas
aquilo que eles próprios não receberam: desfrutam o "receber" mediante
identificação com aquele a quem dão (607). Anna Freud descreveu este tipo de
altruísmo" em que certos prazeres, que os indivíduos são inibidos de dar a si
mesmos, são a outros dados e desfrutados em identificação com estes (541). O amor
se sente pelos amigos privilegiados vem, então, a ser amor muito ambivalente,
misturado a inveja; e virá a transforrnar-se em furor imediato, no caso das moças
não ficarem tão contentes, ou não serem tão felizes quanto os parentes queriam que
fossem.
O mecanismo básico deste tipo de homossexualidade talvez seja também a raiz de
outra perversão, a pedofilia (247, 927). E certo que, por vezes, razões mais
superficiais bastarão para que algumas pessoas se sintam atraídas por crianças,
estas sendo ffacas e mais fáceis de conquistar quando a angústia exclui outros ob-
jetos (Freud disse que a pedofilia era a perversão dos indivíduos "fracos e
impotentes") (555). Em geral, porém,
o amor pelas crianças baseia-se em escolha objetal narcísica, inconscientemente, os
pacientes estão narcisicamente enamorados de si mesmos como crianças; tratam os
seus objetos infantis ou da mesma maneira pela qual gostariam de ter sido tratados,
ou do modo absolutamente contrário (950).
De forma sublimada, os mesmos motivos que produzem a pedofilia produzirão
interesse pedagógico. O amor pelas crianças significa: "Elas devem ser mais felizes
do que eu." Em uma minoria de casos, o inverso será exato: "Elas não devem ser mais
felizes do que eu fui" (128).
A repressão de uma atitude pedofílica resulta, às vezes, numa espécie de medo das
submisso a ponto do pai de bom grado conceder a participação. Em toda a escala que
medeia entre estes dois extremos encontram-se homossexuais do tipo que ora
descrevemos (436).
Há homossexuais que são inconscientemente governados pelo amor ambivalente
por "meninos maiores", os quais ousam fazer coisas que eles mesmos não ousam.
Participar das aventuras sexuais "dos meninos levados" tem a vantagem de
proporcionar prazer sexual com menos responsabilidade: "Não fui eu, foram os outros
que fizeram... "O amor por eles associa-se a todos os graus de hostilidade e de
medo em relação a eles. Não é só uma hostilidade inconsciente relativamente ao pai
que se super-compensa com
este tipo de amor, mas também um temor mais antigo do pai. "Já que nos amamos, não
preciso ter medo do meu pai." Esta tentativa de escapar nem sempre, contudo, logra
êxito. As maneiras pelas quais se procura .negar a angústia podem suscitar nova
angústia. Depois de tentar escapara castração como punição de desejos sexuais pela
mãe. o indivíduo agora teme a castração como pré-requisito da gratificação sexual
pelo pai (599).
A feminilidade nos homens, quer dizer, o objetivo sexual que consiste em alguém
fazer o parceiro introduzir alguma coisa no seu corpo liga-se, em geral, à fantasia
de
que se é mulher (163) e frequente, mas não necessariamente, associa-se a
homossexualidade, à escolha de parceiro do mesmo sexo. Baseia-se em identificação
com a mãe, visando a objetivo instintivo. £ um tipo de identificação que ocorre
quando houve fixação anterior nos objetivos de incorporação passivo-receptivos do
período pré- genital. Neste caso quem predomina é a zona erógena anal. Também
existe uma "zona genital passiva" nos homens, a zona da eroge-neidade prostática;
praticamente, no entanto, se entrelaça inextricavelmente à analidade (ver pág. 169
e seg.). É no fato dos objetivos pré-genitais de incorporação serem muito mais
semelhantes à genitalidade feminina posterior do que à genitalidade masculina que
se baseia a "feminilidade" nos homens.
Na realidade, a feminilidade nos homens liga-se sempre à angústia de castração:
(a) A identificação decisiva com a mãe pode resultar do medo da castração, ligado
à vista dos genitais dela. Certos homens, que não são em absoluto homossexuais,
exibem um amor que se apresenta repleto de traços de identificação com a parceira
sexual, a identificação servindo ao fim de combater a angústia. Um paciente que
amava mulheres com este tipo de "amor de identificação" queria provar às
amiguinhas: "Vejam como eu as compreendo e como compreendo todos os interesses de
vocês; vejam de quanta empatia sou capaz, a ponto de não haver realmente, diferença
entre mim e vocês!" A observação relativamente tardia, traumática, dos genitais de
uma mulher transtornara
o desenvolvimento deste rapaz, o qual tinha experimentado o espetáculo como algo
absolutamente estranho; algo temível em que condensara todos os seus arcaicos
temores
de castração, algo que percebia como se fosse perigo oral. Tentava controlar esta
angústia negando que as mulheres fossem diferentes e assumia a seguinte atitude:
"As mulheres são exatamente iguais a mim; não há descobertas a fazer que me
amedrontem, porque sei tudo a respeito de assuntos femininos." Identificado com o
objeto da sua an- gústia, tornara-se "feminino".
(b) Noutros casos de homens "femininos", a atitude que é decisiva é a seguinte:
"Como tenho medo de que os homens me castrem, não quero meter-me com eles, prefiro
viver no meio de mulheres." Estes indivíduos, decerto, são heterossexuais, se bem
que femininos. Têm de reprimir a sua homossexualidade porque esta significaria
tercontato com homens. Os homens deste tipo interessam-se mais pelo homossexualismo
feminino, querem ser "moça entre moças", gostam de brincadeiras e ocupações
femininas. É freqüente este tipo de "feminilidade" conseguir conter a angústia
somente enquanto, por outros meios, lhe é possível negar o fato de as mulheres não
terem pênis.
A feminilidade como proteção contra o perigo da castração pode de todo falhar se
a pessoa não conseguir negar que "transformar-se em mulher" significará perder o
pênis. Vemos nos homens femininos tentativas múltiplas de garantir esta negação;
procuram acentuar o fato de terem de fato pênis, se bem que procedam como se fossem
mulheres; por esta forma, são mulheres com pênis. Raciocínio inconsciente da mesma
ordem que frequentemente se observa pode ser assim formulado: "Tenho medo de que me
castrem. Se proceder feito mulher, pensarão que isto já aconteceu e, assim,
conseguirei escapar."
Em geral, a feminilidade nos homens é expressão de infantilismo, de regressão a
tipos passivos de controle. De início, o amor fálico do menininho pela mãe também
não foi amor ativo (1071). Pequenino, o menino — como a menina — gosta passivai
íente de que cuidem dele; o comportamento "feminino" nos homens pode ser, na
realidade, comportamento infantil; daí não precisar dirigir-se para pessoas do
mesmo sexo, mas poder dirigir-se para substitutas maternas.
Quando discutimos os estados de inibição, descrevemos tipos de homens cuja
atividade é de modo geral inibida; sobretudo, porque, inconscientemente, têm uma
agressividade intensa que receiam (ver págs. 166, e segs.). Os homens deste tipo
sentem, às vezes, que, se fossem mulheres, ninguém esperaria que fossem ativos, daí
por que desenvolvem desejos femininos. A agressividade rejeitada pode, depois,
voltar e a idéia inconsciente que predomina se transformará em: "Se fosse mulher,
teria oportunidade de me vingar dos homens."
Nos homens bissexuais, há vezes em que é difícil determinar se foi o complexo de
Édipo positivo ou negativo que desempenhou o papel primário. Em geral, melhor se