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Faculdade Machado Sobrinho

Entidade Mantenedora Fundação Educacional Machado Sobrinho

CURSO: PSICOLOGIA 3º período


DISCIPLINA: Teoria Psicológica da Personalidade I
PROFESSSOR: Irma Neves Tallmann Saar
Unidade II – A Escola Psicanalítica
Referências:
Freud - O eu e o isso (1923)
Garcia-Rosa - Freud e o inconsciente – cap. IX- O sujeito e o Eu.
Pierre Kaufmann - Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: O legado de Freud e Lacan
Antonio Quinet – Édipo ao Pé da letra.

Complexo de Édipo
1ª menção ao Édipo – carta a Fliess, após a morte do pai, em 1896 (carta 71- As origens da
Psicanálise), quando começa a autoanálise.
“Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens” (Freud, 1910), surge a fórmula
do “Complexo de Édipo”, ainda sem conceitualização.
Anos 20 – substitui o estádio genital dos “Três ensaios...” pela noção de estádio fálico,
situando em 1º plano o tema da castração.
A formulação universal do complexo de Édipo: o desejo sexual pela figura parental do outro
sexo e o desejo assassino pela de mesmo sexo (forma positiva); o desejo erótico pela figura
parental de mesmo sexo e o ódio ciumento à do outro sexo (forma negativa ou invertida).
Forma completa: o Complexo de Édipo designa o conjunto de relações que a criança
estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente
de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa.
Em “O ego e o id” (O eu e o isso) (1923) Freud descreve sobre o Complexo de Édipo:
Um estudo mais aprofundado geralmente revela o complexo de Édipo mais completo, o qual é
dúplice, positivo e negativo, e devido à bissexualidade originalmente presente na criança. Isto
equivale a dizer que um menino não tem simplesmente uma atitude ambivalente para com o
pai e uma escolha objetal afetuosa pela mãe, mas que, ao mesmo tempo, também se comporta
como uma menina e apresenta uma atitude afetuosa feminina para com o pai e um ciúme e
uma hostilidade correspondentes em relação à mãe. É este elemento complicador introduzido
pela bissexualidade que torna tão difícil obter uma visão clara dos fatos em vinculação com as
primitivas escolhas de objeto e identificações, e ainda mais difícil descrevê-las
inteligivelmente. Pode mesmo acontecer que a ambivalência demonstrada nas relações com os
pais deva ser atribuída inteiramente à bissexualidade e que ela não se desenvolva, como
representei acima, a partir da identificação em consequência da rivalidade. Em minha opinião,

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é aconselhável, em geral, e muito especialmente no que concerne aos neuróticos, presumir a


existência do complexo de Édipo completo. A experiência analítica demonstra então que, num
certo número de casos, um ou outro dos constituintes desaparece, exceto por traços mal
distinguíveis; o resultado, então, é uma série com o complexo de Édipo positivo normal numa
extremidade e o negativo invertido na outra, enquanto que os seus membros intermediários
exibem a forma completa, com um ou outro dos seus dois componentes preponderando. Na
dissolução do complexo de Édipo, as quatro tendências em que ele consiste (desejar o pai,
desejar a mãe, odiar o pai e odiar a mãe) agrupar-se-ão de maneira a produzir uma
identificação paterna e uma identificação materna. A identificação paterna preservará a
relação de objeto com a mãe, que pertencia ao complexo positivo e, ao mesmo tempo,
substituirá a relação de objeto com o pai, que pertencia ao complexo invertido; o mesmo será
verdade, mutatis mutandis, quanto à identificação materna. A intensidade relativa das duas
identificações em qualquer indivíduo refletirá a preponderância nele de uma ou outra das duas
disposições sexuais. O amplo resultado geral da fase sexual dominada pelo complexo de
Édipo pode, portanto, ser tomada como sendo a formação de um precipitado no ego,
consistente dessas duas identificações unidas uma com a outra de alguma maneira. (Freud, O
Ego e o Id).
Quinet (2015) demonstra graficamente a afirmação freudiana:

Cada ser humano se localiza, portanto, segundo Freud, em algum lugar dessa série
com seu complexo de Édipo completo, mais ou menos próximo da “bissexualidade
ideal”.
Para Freud, de acordo com a experiência analítica, alguns dos elementos
heterossexuais ou homossexuais podem desaparecer deixando apenas um “vestígio
registrado”, que podemos designar como traços da sexualidade, marcas no corpo ou no
jeito (masculino ou feminino), ou, ainda, um sintoma. Os vestígios da feminilidade em
homens, ou da masculinidade em mulheres são traços advindos de sua tendência
homossexual derivada do complexo de Édipo. Freud destaca, por fim, “quatro
disposições contidas nele que se desmontam e se desdobram” em cada ser humano:
desejar o pai, desejar a mãe, odiar o pai e odiar a mãe. (Quinet, 2015, p. 23).
Nos anos 20: o conflito edipiano é definitivamente situado entre 3 e 5 anos, no momento do
estádio fálico, quando um só órgão sexual é reconhecido pelas crianças dos dois sexos: o
pênis que classifica os seres humanos em fálicos e castrados(as).
O falo é o objeto imaginado pela criança – objeto imaginário que tem no pênis seu
correspondente anatômico. Desse modo, esse “pênis” universal não é um órgão
peniano e sim uma imagem dele atribuída a todos os seres, que Lacan
denominará falo imaginário. (Quinet, 2015, p. 18)
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A partir de então se instaura uma dissimetria radical entre o desenvolvimento psicossexual do


menino e da menina. Kaufmann (1996, p. 135-39) descreve:
A descoberta da castração materna faz o menino ingressar no “declínio do complexo
de Édipo”, pois vem confirmar sua angústia de castração: então eu também posso
perder realmente o pênis. Ele deixa assim o Édipo positivo, pelo medo do castigo
paterno; depois o Édipo negativo, na medida em que a relação feminina com o pai
supõe, também ela, a realização da castração.
Nos dois casos, “o investimento narcísico colossal do pênis” o impele a renunciar aos
investimentos parentais do Édipo. O amor pelo pai torna-se admiração, ao passo que o
objeto materno é desvalorizado. Através de sucessivas identificações com múltiplas
figuras parentais, elabora-se o supereu estruturado pela interiorização da proibição.
Renunciar a ser o pai permite ser um dia como o pai: um homem que goza
legitimamente de uma mulher, representa a lei e sublima suas pulsões sacrificadas em
criações sociais e culturais.
O itinerário feminino é diverso, pois está submetido a dois imperativos específicos:
mudar o sexo do objeto libidinal, abandonando a mãe pelo pai, e mudar de órgão
sexual, abandonando o clitóris (única zona erógena, órgão masculino cuja
inferioridade real é ressaltada pela comparação com o pênis) pela vagina (cujo
conhecimento se produz na puberdade). A história da menina começa com uma
catástrofe, a descoberta de sua própria castração, que decide seu destino: ela a faz
entrar no complexo de Édipo e este será, no seu caso, de superação mais difícil, senão
impossível.
Existe mesmo uma garotinha?
A rigor, o garotinho do início aprende que ele é menina, o que significa menino que
não deu certo, ou castrado, que logo após tal “humilhação narcísica”, não cessará de
querer (re)tornar a ser fálico.
A inveja do pênis é portanto o motor essencial da evolução edipiana na menina e
explica seus avatares específicos. Ela se afasta da mãe porque a odeia por não a ter
dotado de pênis e a despreza por ser ela mesma castrada. Se então se volta para o pai, é
para que ele lhe dê o pênis tão invejado, que a tornará por fim semelhante a ele. E
quando acaba de desejar um filho dele, este continua não passando de um equivalente
do pênis.
O Complexo de Édipo assume toda a sua dimensão de conceito fundador quando
Freud o articula com o complexo de castração: este, ao provocar a interiorização da
interdição oposta aos dois desejos edipianos – incesto materno e assassinato do pai –
parricídio, abre o acesso à cultura pela submissão e a identificação com o pai portador
da lei que regula o jogo do desejo.

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As Estruturas Clínicas

Referências: Quinet, A. (1991). As 4+1 condições da Análise.

A partir da castração do Outro, imposta pelo Complexo de Édipo, temos as três estruturas
clínicas:
-neurose – nega o elemento, mas o conserva no inconsciente pelo recalque (Verdrängung),
admissão do Édipo no simbólico; o sintoma torna-se representante da castração, do interdito.
-perversão – nega o elemento mas o conserva no fetiche (vem no lugar do pênis materno
ausente); desmente (Verleugnung) a castração.
-psicose – ocorre a foraclusão (Verwerfung – jurídico – processo prescrito, não mais existe;
inclusão fora do simbólico), modo de negação que não deixa traço ou vestígio algum: ela não
conserva, arrasa. Não há admissão do Édipo no simbólico.

Estrutura Clínica Forma de Negação Local do Retorno Fenômeno


Neurose Recalque Simbólico Sintoma
Perversão Desmentido Simbólico Fetiche
Psicose Foraclusão Real Alucinação

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