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PSIQUIATRIA

NA
PRÁTICA

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MANUAL DE DEPRESSÃO

Depressão é atualmente a quarta causa de


sofrimento e incapacitação em nível mundial.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
em 2020, o Transtorno Depressivo será a
SEGUNDA maior doença em incidência no mundo.
Hoje, estão à sua frente, em 1º lugar, doenças do
coração, em 2º câncer e em 3º acidentes de trânsito.

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Os transtornos do humor, do qual fazem parte as formas de depressão,
constituem um problema de saúde pública, devido à elevada freqüência.
Apesar disso, são dificilmente reconhecidos e, quando diagnosticados, quase
sempre são tratados de forma inadequada. Normalmente trazem incapacitação
ao paciente e importante prejuízo à sua vida, retirando-o definitivamente do
trabalho, colocando-o em risco, destruindo sua convivência social e familiar e
quando não, levando-o às drogas ou ao álcool.

Os tratamentos medicamentosos foram sendo descobertos, por


acaso, com o uso de substâncias que baixavam a pressão sangüínea. Desde
então, as pesquisas têm se refinado bastante na procura de novas substâncias
e do entendimento de como funciona o cérebro do sujeito deprimido. Os
últimos estudos levam a crer na possibilidade da neurogênesis, a multiplicação
de células cerebrais no hipocampo. Estamos aguardando os avanços
ansiosamente!!!

Os tratamentos psicoterápicos também têm evoluído desde


Freud. O mais interessante é vermos a possibilidade de ensinarmos os
pacientes deprimidos, através da psicoterapia, a experimentarem “novas
ações”.

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1. Conceito ................................................................................................ 4

2. Tipos de Depressão .............................................................................. 5

3. Diagnóstico Diferencial/comorbidades .................................................. 10

4. Generalidades sobre Depressão .......................................................... 12

4.1. Origem da doença – o modelo Bio, psico-social ........................... 12


4.2. Como são as pessoas deprimidas ................................................ 13
4.3. Inventário de Beck ........................................................................ 15
4.4. Sono, memória, apetite, desempenho profissional e suas
conseqüências .............................................................................. 18

5. Neurotransmissores e a Depressão – Como funciona seu cérebro ...... 19

6. Remédios .............................................................................................. 20

6.1. Ansiolíticos ................................................................................... 20


6.2. Antidepressivos ............................................................................ 21
6.3. Moduladores do humor ................................................................. 22
6.4. Cura? As Recaídas e Recidivas ................................................... 22
6.5. A necessidade da medicação ser bem orientada
(Como tomar? Quanto tempo?) .................................................... 23

7. Psicoterapia e Visão de Futuro ............................................................. 24

8. Pequeno Manual de Tratamento ........................................................... 27

8.1. Hipnose x Ação ............................................................................ 27


8.2. Mudanças em pequenos passos .................................................. 28
8.3. Higiene da depressão ................................................................... 31
• Sono
• Alimentação
• Remédios
• Exercícios físicos
• Pequenas pausas
8.4. Técnicas hipnóticas para depressão ............................................ 32

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1. CONCEITO

A depressão é um estado que afeta o bem estar físico e psíquico


do indivíduo. Muitas vezes, o sujeito já pode estar deprimido e achar que está
cansado, com preguiça ou desanimado com a vida.
A depressão apresenta 4 fatores principais:
1. humor deprimido:
• tristeza ou choro constante
• irritabilidade ou mau humor
2. desânimo
3. falta de desejo para aquilo que lhe dava desejo
4. falta de esperança no futuro
Esse quadro pode estar acompanhado de outros sintomas como:
1. insônia
2. apetite modificado
3. idéias de inutilidade/isolamento
4. pensamentos suicidas
5. ansiedade e agitação
6. problemas orgânicos
O estado depressivo é cíclico, pode iniciar na adolescência. Ele
tem fases e pode desaparecer espontaneamente. Mas cada vez que volta, se
não for tratado, virá com mais intensidade ou até por períodos mais longos.
Não há necessidade de eventos externos estressantes para o
aparecimento das crises, mas estes podem ser elementos disparadores de
novas crises.
O estado depressivo é uma vivência profunda, onde a existência
do sujeito torna-se, muitas vezes, vazia e sem qualquer perspectiva. Percebe-
se a vida, de uma forma mais negativa, diferente do habitual. Os pensamentos
negativos invadem a mente, numa lente obscura que lhe tira todo o colorido.

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O sujeito, quando deprimido, baixa auto-estima, dificuldade em
lidar com as frustrações, pouca tolerância aos estresses e imaturidade
emocional. Situações vitais como luto, mudança de emprego ou cidade,
doenças crônicas, relacionamentos conflitantes, dificuldades financeiras e
outros podem ajudar a piorar o quadro depressivo.

2. TIPOS DE DEPRESSÃO

A depressão pode ser adquirida ao longo da vida por desgaste e


ansiedade. Pessoas que viveram apresentando ansiedade crônica por longos
períodos adquirem a doença depressiva.
Há também a depressão do Transtorno Bipolar, doença
hereditária. Estas pessoas já apresentam sua primeira crise depressiva bem
cedo, e às vezes, em proporções bem intensas.

TIPOS

1. Depressão Reativa

Pode ocorrer em qualquer idade. Comum nas pessoas acima dos


40 anos, devido ao desgaste da vida diária. Geralmente já eram pessoas que
apresentavam um quadro de ansiedade como TAG (Transtorno de Ansiedade
Generalizado).

2. Distmia

É considerado um quadro de depressão mais suave, onde a


pessoa apresenta um mau humor constante, irritabilidade e este estado é
permanente.

3- Depressão Maior –

É o quadro depressivo onde a pessoa apresenta os sintomas de


uma maneira tão forte que a incapacita de trabalhar, sair de casa, memorizar,
ter vontades, ter esperança no futuro e pensar positivo.

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É um estado grave e incapacitador.
A pessoa apresenta como sinais básicos:
- Humor triste
- Desânimo
- Falta de desejos
- Falta de esperança no futuro
- Idéias de inutilidade e até suicídio
- Mudanças no apetite e no sono.

Pode ser parte do quadro do Transtorno Bipolar; ou pode vir


apenas como um quadro depressivo.
A doença é recorrente; vem em ciclos ao longo da vida.

4. Transtorno Bipolar do Humor

O transtorno bipolar do humor (TBH), também conhecido como


Psicose Maníaco-depressiva, é uma doença psiquiátrica caracterizada por
oscilações ou mudanças cíclicas de humor e comportamento que variam em
intensidade (leve, moderada ou grave) e duração (episódios curtos, longos ou
crônicos). As mudanças de humor vão desde as oscilações normais, como nos
estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e
diferentes do normal, como episódios de mania, hipomania, depressão e
mistos. É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e
da sociedade, causando prejuízos freqüentemente irreparáveis na saúde, na
reputação e nas finanças do indivíduo, além do sofrimento psicológico.

Características do TBH

1 É uma doença médica séria.


2. Até o momento, é considerada uma enfermidade para a vida toda.
3. Quanto mais cedo for diagnosticada e tratada, melhor será sua evolução.
4. Considerando todos os tipos da doença, sua ocorrência é estimada em 8 a cada 100
indivíduos.
5 Inicia-se geralmente entre a adolescência e o começo da vida adulta.
6 Pode aparecer na infância. Um terço dos indivíduos manifestará a doença na
adolescência e quase dois terços, até os 19 anos de idade.
7 Raramente começa acima dos 50 anos, e quando isso acontece, é importante investigar
outras causas.

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7
8 A doença manifesta-se igualmente em mulheres e homens. Filhos e parentes de
pacientes têm maior risco de manifestá-la.
9 A principal causa é genética, quando se herda a predisposição para a doença. Fatores
psicológicos, ambientais, sociais e físicos também podem interferir.
10 A enfermidade é recorrente, e em 90% dos casos os episódios tendem a se repetir ao
longo da vida.
11 A doença manifesta-se por meio de mudanças psicológicas e comportamentais
incapacitantes, que são diferentes da maneira habitual de o indivíduo ser.
12 Quando não é tratada, causa grande impacto na vida do paciente, da família e da
sociedade, ocasionando prejuízos freqüentemente irreparáveis na saúde, na reputação e
nas finanças do indivíduo, sem falar no sofrimento psicológico e físico, o que compromete
à qualidade de vida do portador, da família e dos amigos.

Sintomas de mania, depressão e estado misto

MANIA ESTADO DEPRESSÃO


MISTO

A mania (euforia) é caracterizada por:


1 Humor excessivamente animado, exaltado, eufórico, alegria exagerada e duradoura.
2 Extrema irritabilidade, impaciência ou “pavio muito curto”.
3 Agitação, inquietação física e mental.
4 Aumento de energia, de atividade, começando muitas coisas ao mesmo tempo sem
conseguir terminá-las.
5 Otimismo e confiança exagerados.
6 Pouca capacidade de julgamento.
7 Crenças irreais sobre as próprias características ou poderes, acreditando possuir muitos
dons ou poderes especiais.
8 Idéias grandiosas.
9 Pensamentos acelerados, fala muito rápida, pulando de uma idéia para outra, tagarelice.
10 Facilidade em se distrair, incapacidade de se concentrar.
11 Comportamento inadequado, provocador, intrometido, agressivo ou de risco.
12 Gastos excessivos.
13 Desinibição, aumento do contato social.
14 Aumento do impulso sexual.
15 Agressividade física e/ou verbal.
16 Insônia e pouca necessidade de sono.

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17 Uso de drogas, em especial cocaína, álcool e soníferos
Três (ou mais) dos sintomas aqui relacionados devem estar presentes por, no mínimo, uma
semana.
A hipomania é um estado de euforia mais leve que não compromete tanto a capacidade de
funcionamento do paciente. Geralmente, passa despercebida por ser confundida com estados
normais de alegria e deve durar no mínimo dois dias.

A depressão, que pode ser de intensidade leve, moderada ou grave, é caracterizada por:
1 Humor depressivo ou perda de interesse/prazer.
2 Sentimento de tristeza, vazio ou aparência chorosa/melancólica.
3 Inquietação ou irritabilidade.
4 Perda de interesse/prazer em atividades habitualmente interessantes.
5 Perda ou aumento de apetite/peso mesmo sem estar de dieta.
6 Excesso de sono ou incapacidade de dormir.
7 Sentir-se ou estar agitado demais ou excessivamente devagar (lentidão).
8 Fadiga ou perda de energia.
9 Sentimento de falta de esperança, culpa excessiva ou pessimismo.
10 Dificuldade de concentração, de se lembrar das coisas ou de tomar decisões.
11 Pensamentos de morte ou suicídio, planejamento ou tentativas de suicídio.
12 Dores ou outros sintomas corporais persistentes não provocados por doença ou lesão
física.
Esses sintomas manifestam-se na maior parte do tempo por, pelo menos, duas semanas.

O estado misto é caracterizado por:


1 Sintomas depressivos e maníacos acentuados ocorrendo simultaneamente.
2 A pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e progressivamente eufórica com o
passar do dia, ou vice-versa.
3 Pode ainda apresentar-se agitada, acelerada e ao mesmo tempo queixar-se de
angústia, desesperança e idéias de suicídio.
4 Os sintomas freqüentemente incluem agitação, insônia e alteração do apetite. Nos casos
mais graves, podem haver sintomas psicóticos (alucinações, delírios) e pensamentos
suicidas.
5 É difícil de ser reconhecido e diagnosticado. Muitas vezes é confundido com outras
doenças.
Os sintomas devem estar presentes a maior parte dos dias por, no mínimo, uma semana.

O Transtorno Bipolar divide-se em tipos:


1- Tipo I - A pessoa tem um quadro de mania acentuado por um período
longo de tempo de 1 a 6 meses. Depois, ela terá um período longo de
depressão grave que também vai durar semanas ou até meses. Pode ter
apenas um único episódio de mania e vários de depressão. Ou pode ter
vários episódios de mania ao longo da vida.

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2- Tipo II- A pessoa terá um quadro de hipomania por um período de
semanas a meses que pode passar desapercebido como alegria,
entusiasmo. E depois terá períodos de depressão.

3- Ciclotimia – A pessoa alterna entre estados de hipomania e leve


depressão dentro de uma mesma semana.

4- Ciclador Rápido – A pessoa tem de 3 a 4 episódios de depressão e/ou


mania em um ano.

5- Misto – Tem ao mesmo tempo sintomas da mania e da depressão

3. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL / COMORBIDADES

É importante verificar se não existe uma doença física por debaixo


dos sintomas de desânimo e mau humor.
Doenças como feocromocitoma, hipotiroidismo, anemia, câncer e
outras podem causar um quadro depressivo.
É aconselhável passar pelo clínico e pelos exames de rotina antes
de ser diagnosticado o quadro depressivo.
As comorbidades são outras doenças psíquicas que podem vir
conjuntamente com o quadro de depressão ou Transtorno Bipolar. São eles:
• TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizado
• Transtorno do Pânico
• Fobias Simples ou Social
• TOC – Transtorno obsessivo compulsivo
• Alcoolismo, abuso de drogas.
• Anorexia e/ou bulimia
• Compulsão a compras, jogo.
De todos estes é bom explicar o que é TOC. O Transtorno
obsessivo compulsivo é uma desordem mental em que o sujeito é invadido por
pensamentos negativos insistentes que podem ser de medo de doenças, medo
de alguma desgraça acontecer com a família. Normalmente, para o alívio do
pensamento negativo intrusivo é necessário fazer algum tipo de
comportamento repetitivo como um ritual. Este pode ser de descontaminação

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ou limpeza (banhos, lavar mãos, etc.) ou contagem (rezar ave-marias, contar
número, placas, etc.), ou verificação de portas e janelas.
Algumas vezes, estes pacientes apresentam medo de doenças
específicas como AIDS e câncer e todo tempo estão se checando.
É bom alertar que os remédios antidepressivos como
clorimipramina (anafranil); sertralina (zoloft, tolrest, assert, serenata);
paroxetina (pondera, aropax, paxil, etc.) são excelentes para alívio destes
sintomas. Mas devem ser usados em altas doses, 3 vezes maior do que a dose
como antidepressivos.
A ansiedade é um grande fator de risco para gerar um futuro
quadro depressivo. Crianças ansiosas podem tornar-se futuros deprimidos.
Pensa-se na hipótese do desgaste maior de neurotransmissores
ou na nova hipótese de atrofia do hipocampo.

“Dependendo do tipo de transtorno de ansiedade, pode-se


aumentar de 2 a 4 vezes o risco para um quadro secundário de depressão. O
número crescente de quadros de ansiedade, a persistência do comportamento
de evitação da ansiedade, e o grau de debilidade psicossocial são fatores
fortemente associados ao surgimento da depressão.”
Michael Yapko

4. GENERALIDADES SOBRE A DEPRESSÃO

4.1. Origem da Doença Depressiva – O modelo Biopsicossocial

Depois de muitos estudos, hoje o modelo mais aceito para a


causa do Transtorno Depressivo é a conjunção de fatores como:
Genético – há uma tendência familiar para o desenvolvimento de
quadros de ansiedade e de depressão. Não se descobriu ainda um marcador
genético para a depressão.
Já no caso do TB (Transtorno Bipolar), sabe-se que a causa é
genética, com a probabilidade de, quando um dos genitores tem o T.B., há 25%

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de chance para o filho ser portador da doença. Quando ambos os pais têm a
doença, a chance aumenta para 75%.
A convivência social com pais deprimidos torna a chance grande
de desenvolver a depressão.
Questões afetivas graves, privações e abusos também ajudam no
aparecimento da doença.
Assim podemos dizer que:

“- A depressão possui um componente biológico (genes,


bioquímica, doenças e drogas)
- A depressão possui um componente psicológico (distorções
cognitivas, histórico)
- A depressão existe em um contexto social (diferenças sociais,
sofrimento, influências culturais).”
(Michael Yapko)

Uma outra importante informação são os novos estudos sobre a


neurogênesis. Os cientistas estão observando que o hipocampo (parte do
sistema límbico cerebral) é menor nos deprimidos. O uso constante dos
antidepressivos, além de aumentar os níveis de serotonina podem estar
associados ao crescimento de novos neurônios desta região, pois foi detectado
aumento do tamanho do hipocampo. Pesquisas iniciadas nos anos 90 estão
em avanço na procura de novas drogas para neurogênesis. Em animais de
laboratório, que receberam antidepressivos, a produção de neurônios
aumentou.
Por enquanto, os psiquiatras trabalham numa concepção
biológica, com a hipótese de recuperação do nível de serotonina, e do equilibrio
dos níveis de dopamina. (Veja remédios/neurotransmissores).
Podemos tirar como conclusão que a depressão ocorre por um
conjunto de fatores como: o biológico (genes), o ambiente desfavorável, o
aprendizado familiar; mas nunca um único fator preponderante.
É tão impreciso afirmar que depressão (não doença bipolar) é
hereditária, quanto afirmar que ela é.
As influências genéticas atuam sobre características cognitivas,
psicológicas e da personalidade, mas não sobre uma entidade global chamada

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depressão. Existe uma correlação gene-ambiente, cujas variações, na
expressão genética, estão associadas a várias circunstâncias ambientais.

4.2. Como são as pessoas deprimidas

“Mas de tudo isto, o mais surpreendente, é que já se viu que


nenhuma quantidade de medicamento pode mudar:
- o estilo de lidar com situações
- o estilo explanatório
- o estilo de relacionamento
- o estilo cognitivo
- as habilidades para soluções de problemas
- a rede de relacionamentos e
- o histórico do sujeito deprimido.”
(Michael Yapko)

De acordo com o psicólogo americano, Michael Yapko, que vem


há 20 anos estudando depressão, os pacientes deprimidos têm uma maneira
muito peculiar de lidar com os problemas da vida. São globalizadores, pouco
específicos. Uma parte funciona como um todo. Caso algo aconteça de ruim,
como ir mal numa prova, o sujeito deprimido globaliza dizendo “... minha vida é
assim! Sou um azarado mesmo! Urubu fez... na minha cabeça! Nada de bom
acontece comigo!...”
O que acontece com a pessoa não deprimida? Por que ela não
deprime? Ela compartimentaliza problemas. Por exemplo: ir mal numa prova
pode ser porque não estudou ou por estar muito difícil. Mas não perde o dia,
nem a semana, ou o humor com isso.
Por que algumas pessoas, mesmo passando por situações
difíceis, não deprimem? Elas têm uma visão otimista. Veêm que na vida há
problemas, mas não se paralisam, vão à luta e CONFRONTAM! Os deprimidos
recuam, se escondem, acham que o pior vai sempre acontecer e desistem.
O comportamento evitativo é freqüente no deprimido.

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As pessoas deprimidas geralmente são:
- desanimadas
- tristes, ou chorosas
- podem apresentar mau humor
- têm pensamentos negativos recorrentes
- apresentam falta de desejos
- não têm esperança no futuro
- têm sentimento de inutilidade
- podem apresentar idéias suicidas
- geralmente têm insônia terminal (fim do período de sono, depois
das 3 horas da manhã)
- geralmente têm distúrbio alimentar
- podem usar o álcool como calmante
Algumas dessas pessoas estão evoluindo de um quadro de
ansiedade. Sofreram ansiedade por anos seguidos e, por desgaste, se
esgotaram! Não reagem! Precisam parar! O corpo literalmente pára e pede:
descanse, durma, alimente-se bem; evite problemas até se recuperar.

4.3. Inventário de Beck

Este questionário é um bom guia para terapeutas e médicos


avaliarem seus pacientes. Uma grande porcentagem da população sofre de
depressão e não sabe que sofre por má informação. Às vezes, queixam-se de
fadiga, preguiça ou frescura. Ou, simplesmente, vão levando a vida sem
entender bem o que vem acontecendo.
Você pode aplicar o teste que se segue e ver se seu amigo,
paciente ou parente está deprimido ou não.

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Inventário de Depressão de Beck

Nome: __________________________________________________ Data: ____________

Neste questionário aparecem vários grupos de afirmações. Por favor, leia com atenção cada
um deles. A seguir, assinale qual das afirmações de cada grupo descreve melhor seus
sentimentos durante a ÚLTIMA SEMANA, INCLUINDO O DIA DE HOJE. Faça um círculo no
número que está à esquerda da afirmação que você escolher. Se dentro de um mesmo grupo,
existir mais de uma afirmação que considere aplicável a seu caso, marque-a também.
Assegure-se de haver lido todas as afirmações dentro de cada grupo antes de fazer a escolha.

1.0. Não me sinto triste.


1. Sinto-me triste.
2. Sinto-me triste continuamente e não posso deixar de sentir-me assim.
3. Sinto-me tão triste ou tão infeliz que não posso suportá-lo.

2.0. Não me sinto particularmente desanimado em relação ao futuro.


1. Sinto-me desanimado em relação ao futuro.
2. Sinto que não existe nada porque lutar.
3. O futuro não apresenta nenhuma esperança e as coisas não melhorarão.

3.0. Não me sinto como um fracassado.


1. Fracassei mais do que a maioria das pessoas.
2. Quando olho para trás, o único que vejo é um fracasso atrás do outro.
3. Sou um fracasso total como pessoa.

4.0. As coisas me satisfazem tanto como antes.


1. Não desfruto das coisas tanto como antes.
2. Já não tenho nenhuma satisfação em relação às coisas.
3. Estou insatisfeito ou chateado em relação a tudo.

5.0. Não me sinto particularmente culpado.


1. Sinto-me culpado em muitas ocasiões.
2. Sinto-me culpado na maioria das ocasiões.
3. Sinto-me culpado constantemente.

6.0. Não acho que esteja sendo castigado.


1. Sinto que talvez esteja sendo castigado.
2. Espero ser castigado.
3. Sinto que estou sendo castigado.

7.0. Não estou descontente comigo mesmo.


1. Estou descontente comigo mesmo.
2. Estou desgostoso comigo mesmo.
3. Detesto-me.

8.0 Não me considero pior do que qualquer outro.


1. Autocritico-me por minha debilidade ou por meus erros.
2. Sempre me culpo por minhas faltas.
3. Culpo-me por tudo de ruim que acontece.

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9.0. Não tenho nenhum pensamento de suicídio.
1. Às vezes, penso em me suicidar, mas não o farei.
2. Desejaria terminar com minha vida.
3. Suicidar-me-ia se tivesse oportunidade.

10.0. Não choro mais do que o normal.


1. Agora, choro mais do que antes.
2. Choro sempre.
3. Não posso deixar de chorar mesmo quando me proponho.

11.0. Não estou particularmente irritado.


1. Chateio-me ou me irrito mais facilmente do que antes.
2. Sinto-me sempre irritado.
3. Agora não me irritam, de nenhuma maneira, coisas que antes me impacientavam.

12.0. Não perdi o interesse pelos outros.


1. Estou menos interessado nos outros do que antes.
2. Perdi grande parte do interesse pelos outros.
3. Perdi completamente o interesse pelos outros.

13.0. Tomo minhas próprias decisões.


1. Evito tomar decisões, mais do que antes.
2. Para mim, tomar decisão é mais difícil do que antes.
3. É impossível, para mim, tomar decisões.

14.0. Não acredito que tenha pior aspecto do que antes.


1. Não estou preocupado porque pareço envelhecido e pouco atraente.
2. Noto mudanças constantes em meu aspecto físico que me tornam pouco atraente.
3. Acho que tenho um aspecto horrível.

15.0. Trabalho como antes.


1. Tenho que me esforçar mais para começar a fazer algo.
2. Tenho que me obrigar a fazer algo.
3. Sou incapaz de realizar alguma tarefa.

16.0. Durmo bem como sempre.


1. Não durmo tão bem quanto antes.
2. Acordo 1-2 horas antes do habitual e demoro a dormir de novo.
3. Acordo várias horas antes do habitual e já não posso voltar a dormir.

17.0. Não me sinto mais cansado do que normalmente.


1. Canso-me mais do que antes.
2. Canso-me quando faço qualquer coisa.
3. Estou cansado demais para fazer qualquer coisa.

18.0. Meu apetite não diminuiu.


1. Meu apetite não é tão bom quanto antes.
2. Agora tenho muito menos apetite.
3. Perdi completamente o apetite.

19.0. Não perdi peso ultimamente (se está tentando perder peso, esta pergunta fica
invalidada).
1. Perdi mais de 2 kg. Estou tentando perder peso.
2. Perdi mais de 4 kg, intencionalmente, comendo menos.
3. Perdi mais de 7 kg. Sim _____ Não _____
(No caso afirmativo invalidar a resposta)

20. Não estou preocupado por minha saúde.


1. Preocupam-me os problemas físicos como dores, etc. O mal-estar no estômago ou
as gripes.
2. Preocupam-me as doenças e tenho dificuldade em pensar em outras coisas.
3. Estou tão preocupado pelas doenças que não posso pensar em outras coisas.

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21.0. Não observei nenhuma mudança em meu interesse pelo sexo.
1. A relação sexual me atrai menos do que antes.
2. Estou muito menos interessado no sexo do que antes.
3. Perdi totalmente o interesse sexual.

Qualifica-se somando somente as respostas, a forma de classificar a pontuação é a seguinte:

0 a 12 pontos: pessoa sem depressão clínica


13 a 20: sintomas depressivos leves
21 a 30: depressão moderada
31 ou mais: depressão severa.

4.4. Sono, Memória, Apetite, Desempenho Profissional e suas


Conseqüências.

Sabe-se que a doença depressiva incapacita as pessoas, quando


não bem tratada, pois afeta áreas vitais como sono, alimentação e memória.
O sono pode em alguns poucos casos estar aumentado. Na
maioria das vezes, o paciente estará sofrendo de insônia. A insônia inicial,
dificuldade de pegar no sono, é mais indicativa de transtorno de ansiedade.
Já a insônia tardia, acordar de madrugada e perder o sono, é
comum na depressão. Pode ocorrer o sono intermitente, entrecortado como
uma passagem dos quadros ansiosos para o depressivo.
Mas o certo é que se a pessoa não dorme bem, não vai trabalhar
bem! Além disso, é durante a noite que se fabrica serotonina. Durante o sono e
no escuro! Assim, o quadro tende a piorar, pois baixa de serotonina com falta
de sono, só agrava a situação.
Os transtornos alimentares podem ser variados como inapetência,
ou compulsão alimentar principalmente por alimentos doces, carboidratos e
chocolates. Este último tem muito triptofano. E o horário da compulsão? À
noite, é claro! Parece que o organismo procura... precursores da serotonina
como o triptofano para produzi-la.

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Sobre a capacitação do trabalho, o sujeito vai ficando totalmente
desanimado, como um sujeito no final do dia após uma longa e dura jornada de
trabalho. Ele já não possui nem dopamina (responsável pela memória,
inteligência e atividade física) e nem serotonina (responsável pela alegria,
relaxamento e o pensamento positivo). Como pode um sujeito neste estado
trabalhar?
Sabemos que esta doença é incapacitante nos períodos de crise.
Se bem cuidada, acertando as medicações e fazendo uma boa terapia de
apoio, a situação melhora!
A memória é prejudicada. O hipocampo é a parte do cérebro
responsável pelas memórias emocionais. Já vimos que há uma certa atrofia do
hipocampo. De uma outra visão, sabemos que se os neurotransmissores estão
em baixa, a dopamina (responsável pela memória, inteligência) não conseguirá
realizar com sucesso suas neurotransmissões e a memória ficará falha. Muitos
pacientes se queixam de falhas na memória, pequenos esquecimentos.

5. NEUROTRANSMISSORES – Como funciona seu cérebro


O fluxo de informação para o cérebro ocorre através de impulsos
nervosos ao longo de milhares de neurônios. Para que a transmissão desses
impulsos, de um neurônio para o seguinte, ocorra, acontecem inúmeros
fenômenos químicos, no espaço entre esses neurônios, denominado “fenda
sináptica”. Nesta fenda, diversas substâncias (neurotransmissores) são
secretadas de um neurônio para o neurônio seguinte, mantendo a transmissão
da informação. Existe, portanto, um fluxo de ida e de volta do neurotransmissor
entre os neurônios.
Existem 3 neurotransmissores
principais para que se entenda melhor o uso
dos medicamentos. São eles:
- dopamina - “fada azul”
- serotonina – “fadinha cor de rosa”
-
noradrenalina – “fada amarela”

Costumo chamá-las de
“fadas minas”. São as cuidadoras do

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reino cerebral, do povo nervoso, os neurônios.
Estes neurotransmissores têm suas funções específicas. Quando
saem de um neurônio para o outro vão levar alguma informação nova, alguma
mensagem. Assim temos:
A dopamina é responsável pela atividade física (o ânimo), a
inteligência e memória. Fica linda como uma fada azul.
A serotonina é responsável pela alegria, pelo pensamento positivo
e pelo estado de tranqüilidade. Por isso a chamo de fada cor de rosa!
A noradrenalina é responsável pelo aviso de luta ou fuga. Que
algo não vai bem! Por isso a denomino de fada amarela, sinal de perigo!
Quando há uma baixa de dopamina vem o desânimo, a falta de
desejo, dificuldade para estudar, ler, concentrar, memorizar.
Quando há uma baixa de serotonina, aparece a tristeza, o
pensamento negativo e a ansiedade ou inquietude.
Algumas vezes, a noradrenalina sai substituindo a “prima
serotonina” como mecanismo de feedback e aí temos um quadro ansioso
juntamente com a depressão.

6. REMÉDIOS PSIQUIÁTRICOS

6.1. Ansiolíticos

São aqueles que fecham a entrada dos neurotransmissores.


Assim, caso venha muita noradrenalina para avisar de falsos perigos, o
ansiolítico bloqueia o caminho! Devemos usá-los com moderação.
Eles não resolvem o problema. É como remédio para febre.
Enquanto faz o uso, bloqueia o sintoma. Somente no início dos tratamentos até
tatear a dose do antidepressivo. Ou em casos esporádicos para dormir um
sono tranqüilo frente a um momento estressante.
Causam dependência!
Tipos: clonazepan (rivotril)
Alprazolan (frontal, apraz)
Bromazepan (lexotan),
etc.

6.2. Antidepressivos

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São os remédios que desbloqueiam a serotonina, às vezes
também a noradrenalina e a dopamina de modo que elas possam ser
recaptadas e degradadas pelo neurônio que as liberou. Suspeita-se como
hipótese para depressão que existe uma baixa destes neurotransmissores e,
portanto, é necessário aumentar a quantidade dos mesmos na fenda sináptica
(entre um e o outro neurônio). Assim, inventaram estes medicamentos que
precisam ser usados diariamente e por longa data. E, em casos de depressão
com recidivas, deve-se tomar indefinidamente até a invenção de drogas
melhores.
Podemos comparar a depressão com a diabetes, em que o
sujeito não tem insulina suficiente e é abastecido pelas injeções. Se não tomar
morre!
O sujeito deprimido deve tomar sem interrupção o antidepressivo.
Se não tomar, ou interromper o tratamento poderá voltar a ter recaídas em seu
quadro depressivo.
A medicação não é 100% efetiva, mas tem um bom índice de
melhora. Pode trazer sérios efeitos colaterais, dependendo do medicamento.
Mas a medicina vai evoluindo e novos medicamentos vão surgindo com menos
efeitos nocivos.
O que é importante salientar é que os efeitos colaterais são
menores que a incapacitação do paciente.

Tipos de drogas:
1. Tricíclicos – anafranil, tofranil, pamelor, tryptanol
2. ISRS – fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopran,
escitalopran
3. Nassa – Minalciprano
4. ISRSNa – Velanfaxina
Há muitos outros, mas estes são os mais comuns.
6.3. Moduladores do Humor

São os remédios de primeira escolha quando se trata de


Transtorno Bipolar (TB). Os antidepressivos podem fazer uma pessoa com T.B.
sair de um quadro depressivo e entrar em um quadro de mania.

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A droga número 1 é o lítio, pela sua eficácia. Mas infelizmente,
causa uma série de distúrbios como efeitos colaterais.
Por isso, usamos os anticonvulsivantes, remédios para epilepsia
como uma segunda opção com excelentes resultados.
Em geral, em quadros com mania, pode-se fazer a escolha pelo
valproato de sódio (Depakote, Torval) ou pela oxacarbamazepina (Trileptal) e
verificar se houve melhora.
Nos casos de depressão severa têm-se usado lamotrigina
(Lamictal, Lamitor, Neural) com excelentes resultados! O bom desta medicação
é que ela não tem efeitos colaterais tão ruins.

6.4. Cura? As Recaídas e Recidivas

A pergunta mais comum é: depressão tem cura?


Esta é uma resposta intrigante...
Do ponto de vista psiquiátrico, não há cura. Há tratamento. Será
necessário tomar medicação corretamente, ao longo da vida. A dose
adequada, o remédio correto, o horário certo, a abstinência das bebidas
alcoólicas e drogas. Podemos fazer uma analogia à diabete: se falta insulina, é
necessita a reposição. Mesmo quem não sofre o Transtorno Bipolar, tem
apenas uma depressão por desgaste (Depressão Reativa), deve tomar
adequadamente a medicação para não ter Recidivas do quadro. Sabemos que
a doença é cíclica e, portanto, desaparecerá por algum tempo. Se a pessoa
melhora e pára de tomar os medicamentos, terá grande chance de ter recidivas
do quadro depressivo e com um sério agravante, a crise será mais intensa e de
difícil melhora com os medicamentos. Portanto, é necessário mantê-los como
prevenção de novos episódios.
Durante o tratamento medicamentoso, sabemos que o paciente
pode apresentar uma melhora acentuada num período que varia de 15 dias até
6 semanas. Se a crise for intensa, este período para melhora dos sintomas é
um pouco mais demorado.
O sujeito pode ter recaída de sintomas nesta fase inicial do
tratamento, num período de até 6 meses. Após este período, ele melhora e
poderá ter recidivas do quadro ao longo da vida. Caso mantenha a medicação
de manutenção, sua recidiva será de baixa intensidade.

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O outro ponto de vista é o aspecto psicoterápico. Tem cura a
depressão? Veremos que o paciente que toma remédios e faz terapia tem mais
chances de ficar livre dos sintomas e bem mais rapidamente!
Os remédios não mudam as atitudes dos pacientes deprimidos.
Melhoram os níveis dos neurotransmissores, mas não mudam o
comportamento do mesmo.
A vantagem da psicoterapia é ensinar novas maneiras de lidar
com a vida, numa visão mais objetiva e específica. Desta forma, o sujeito
deprimido aprende a viver sem evitar a vida!
Podemos, então, arriscar em dizer que há mais chances de viver
bem a vida o deprimido que tomar a medicação e fizer uma boa psicoterapia.
As chaves são de 80% de melhora!

6.5. A Necessidade da Medicação ser bem Orientada

O primeiro ponto é um bom diagnóstico: se o paciente tem


Transtorno Bipolar ou apenas Depressão. Muitas vezes, ele está medicado
para depressão e tem T.B.
O segundo ponto é a dose ideal para cada tipo de paciente. Além
de verificar a melhor droga para o tipo da depressão, com menores efeitos
colaterais para aquele tipo de paciente, é importante verificar se a dose está
adequada. Subdoses não vão adiantar!
Um bom psiquiatra poderá ajudar...
O terceiro ponto é não interromper o uso do medicamento. A
doença depressiva e o Transtorno Bipolar requerem continuidade no
tratamento: toma-lo no horário certo e evitar o uso de bebidas alcoólicas.
Se o paciente tem a paciência de passar pelo período de
adaptação à medicação deve então permanecer tomando os medicamentos e o
resultado virá! Os efeitos demoram a aparecer e seu médico poderá lhe
fornecer este tipo de informação.

7. PSICOTERAPIA – Uma visão de futuro

Normalmente vemos o seguinte questionamento: Qual o melhor


tratamento? Drogas ou psicoterapia?

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As pesquisas científicas, os inúmeros pacientes testados, tudo
mostra que a melhor opção é associação das drogas mais adequadas com
uma boa psicoterapia.
Sobre psicoterapia, o raciocínio melhor para depressão é colocar
o paciente deprimido na AÇÃO!
Mas como isso é possível se o paciente deprimido está
completamente desanimado e seu pensamento negativo globalizado tornou-o
paralisado, numa atitude de evitação?
Normalmente, uma pessoa quando passa por algum obstáculo,
frustração ou trauma tem um período de negativismo, mas logo reage. Toma
iniciativa e pensa de uma forma específica. As pessoas têm habilidades
específicas para superar dificuldades. Afinal de contas, fazem parte da vida
episódios difíceis!
Por isso, a psicoterapia para deprimidos deve ajudar o sujeito a
criar habilidades específicas para sair de um quadro depressivo. Só deixar o
sujeito falar de seus sentimentos não é o mais indicado. A psicoterapia vai
ajudá-los a TOMAR ATITUDES, A MUDAR A VIDA AOS POUCOS, para sair
do quadro paralisante.

Outro detalhe importante é que:


Os remédios não ensinam habilidades novas aos pacientes!!!

A psicoterapia é um ato educativo. O terapeuta vai ajudar


educando o paciente a vencer obstáculos, superar frustrações ou traumas. É
na psicoterapia que o paciente deprimido vai aprender novas habilidades para
ver o futuro de uma maneira bem diferente.
Sabemos que o meio social influencia o humor do ser humano.
Devemos trabalhar com o deprimido dando um novo enfoque que o retire da
paralisia frente às dificuldades e o motive a tomar uma atitude, por menor que
esta possa parecer!
Outro ponto importante é que o psicoterapeuta pode ajudar o
paciente a entender a necessidade de tomar corretamente a medicação. Ele
pode educá-lo para isto. Ensiná-lo um pouco sobre o funcionamento cerebral e
ajudá-lo a entender que ele pode favorecer o tratamento com a medicação
adequada, e dessa forma seu cérebro estará a disposição para tomar novas
atitudes e pensar positivo.

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Quando o paciente faz uso do antidepressivo, por uma das
hipóteses ainda sustentada pela psiquiatria, ele terá um aumento no nível da
serotonina. Com isto, terá o pensamento mais positivo, uma diminuição na
tristeza e um relaxamento mental maior.
Se ele estiver fazendo uso de moduladores de humor, quando
houver baixa de dopamina, o remédio vai abrindo os canais para entrarem os
neurotransmissores, melhorando consideravelmente o ânimo do paciente, pois
os moduladores controlam o excesso e falta da dopamina na entrada da célula.
Dessa maneira, também ajudam a melhora do ânimo e inteligência.
Na terapia, é bom desenvolver um bom “rapport”. A confiança do
cliente de que o seu terapeuta realmente vai apoiá-lo é importante. Alguns
profissionais, inclusive, gravam as sessões para que o cliente possa ouvi-las,
depois de terminada a sessão, quantas vezes desejar. Isso reafirma o
conteúdo conversado. Como são aprendizagens que precisam ser adquiridas,
quanto mais repetidas, mais possibilidades de memorizar. Vale relembrar que
os pacientes deprimidos costumam esquecer tudo que foi dito!

“O preditor mais forte de depressão é a sua experiência de vida.


Não há gens de depressão. Há apenas gens que fazem você mais vulnerável à
depressão...”
Kenneth (geneticista)

Assim, é possível mudar um pouco a vulnerabilidade para a


depressão, mudando o estilo de vida e, conseqüentemente, o pensamento
globalizado sobre tudo ser parte da sua “droga” de vida!
O deprimido vê tudo como um grande risco. Na terapia, podemos
ensiná-los que eles têm habilidades para lidar com os riscos, mesmo que eles
não queiram.
Alguns preferem evitar os medos da vida porque ficam ansiosos.
Mas a ansiedade até um certo nível é um bom preço de um planejamento
adequado de futuro. Se o sujeito se prepara adequadamente para a vida, fica
mais preparado para enfrentar as catástrofes da vida diária, desde uma
pequena frustração até um terremoto. Por exemplo, na Califórnia, as
construções são feitas para suportar tremores de terra; enquanto na Ásia não
há planejamento para isso. A conseqüência lógica é uma catástrofe maior na
Ásia.

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Podemos usar esta analogia com os nossos pacientes
deprimidos, ensinando-os a enfrentar pouco a pouco situações antes evitadas.
Você também pode ajudar preventivamente seus pacientes que têm
um padrão de ansiedade para evitar que isto se torne uma futura depressão.
Você pode diagnosticar um quadro de ansiedade primária quando
a pessoa apresentar:
- humor ansioso
- insônia inicial
- mudanças psicomotoras (movimentos contínuos)
- Ausência de respostas aos exercícios
Quando a depressão é primária, a pessoa vai apresentar:
- humor deprimido
- insônia terminal
- agitação psicomotora e retardamento
- respostas positivas aos exercícios
Sabemos que os quadros ansiosos podem evoluir para quadros
depressivos. Por isso, podemos educar os pacientes ansiosos para uma
higiene de vida, aprendendo a enfrentar os problemas da vida diária de uma
forma menos ansiosa e não paralisante.

8. PEQUENO MANUAL DE TRATAMENTO

8.1. Hipnose x Ação

No trabalho terapêutico o essencial é a boa educação, é levar o


paciente a praticar habilidades específicas, compartimentalizando problemas e
saídas.
Na hipnose, ainda temos a vantagem de fazer o paciente
experenciar sensações, pensamentos, convidando-o a fechar os olhos e
imaginar com detalhes vividamente novas possibilidades,
compartimentalizando as experiências. Sugestionando-o a deixar de lado suas
vivências dolorosas internas e focando-lhe a atenção no que podemos ampliar
pela hipnose, sempre remetendo-o para sensações boas.
Sabemos que o paciente deprimido tem um estilo global de
pensamento. Ele responde a tudo de uma forma global, não conseguindo ser
específico. Algo vai mal no dia-a-dia, ele pensa... minha vida é mesmo uma droga!

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Quanto mais global é o sujeito, mais dificuldades teremos em sua
terapia e até mesmo, na hipnose. Por isso é bom ensinar-lhe a ir detalhando
tudo. Quanto mais detalhes colocamos numa indução hipnótica, mais chances
teremos de o paciente aprender esta abordagem.
Portanto, poderemos usar a hipnose com uma excelente
ferramenta na psicoterapia. Essa é a vantagem para as terapias que ficam
apenas no campo do pensamento. Para o deprimido ficar apenas falando
pouco ajuda. A diferença efetiva é fazê-lo FAZER ALGO NOVO, ESPECÍFICO
E COMPARTIMENTALIZADO!

8.2. Mudança em Pequenos Passos

Para se trabalhar bem com um paciente deprimido devemos exigir


dele bem menos do que ele imagina. Se você pedir a ele para se exercitar, ou
voltar ao trabalho ou escola, com certeza, terá dificuldades.
Mas se você for devagar, descobrindo as potencialidades de cada
um, detalhando pequenos acertos que eles fazem; promovendo induções
hipnóticas gostosas que descansam, e ao mesmo tempo, que projetem o
futuro, o paciente terá chances de continuar neste caminho.
Não se dá demais a quem não quer receber... Pense nisso!
A hipnose é uma boa opção. Parece que você vai retirá-lo do ar.
Desligar. O paciente deprimido está desanimado e vem praticando evitação e
paralisia. Você o ensinará de uma forma sinérgica a parar e avançar
mentalmente, experenciando através da hipnose novas possibilidades.
Na sessão, sempre teremos um objetivo específico para alcançar.
Do contrário, nem tente fazer hipnose. Você se perderá. É preciso ter um rumo,
uma meta bem específica para alcançar. Assim, você pode introduzir metas de
trabalho com os pacientes deprimidos como:
- ensiná-los habilidades específicas para sair do quadro
paralisante
- ensiná-lo a reconhecer seus recursos para uma nova ação
- ensiná-lo a fazer uma ponte para o futuro
- encorajá-lo a experimentar de fato
- relaxá-lo
- introduzir metáforas de acordo com o tema desejado
- ressignificar dificuldades

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- compartimentalizar problemas e soluções
- ensiná-lo a ter um crítico interior mais positivista
- construir expectativas positivas
- reconhecer e tolerar as ambigüidades, pois fazem parte da
vida.
- fazer o problema se dissolver com o tempo; etc.

“... USAR O PASSADO PARA PREVER O FUTURO


FICA CADA VEZ MAIS DIFÍCIL, POIS O MUNDO DO FUTURO
É MUITO DIFERENTE DO PASSADO!...
... UM SÁBIO DISSE:
A MELHOR MANEIRA DE PREVER O FUTURO É CRIÁ-LO.”
(Aula Michael Yapko)

Muitos terapeutas prendem o cliente vendo e revendo o passado.


Como por exemplo rever um abuso sexual. A pessoa já passou pelo trauma,
bem ou mal resolveu e se vê presa lá se retraumatizando!
A terapia breve é focada na solução! Ouça o que o seu cliente
deseja, descubra caminhos, descubra um novo padrão de atitude que ajude-o a
se MOVER numa nova direção.

UMA META SEM PASSOS É SÓ UM DESEJO!

Para alcançar algo é preciso dar os passos! No início, precisamos


ensinar nossos pacientes a dar estes pequenos passos.

Se você está querendo conseguir alguma coisa, você consegue!

A META E OS PASSOS LEVAM À SOLUÇÃO!

Por exemplo, se você quer ver o por do sol, você não pode ficar
olhando para o leste; é preciso se virar para o oeste e ficar por lá esperando!
Precisamos ajudar o paciente a criar as possibilidades de atingir a
habilidade certa. Assim, devemos criar expectativas positivas e saudáveis que
normalmente estão paralisadas ou não existem no deprimido. A serotonina
responsável pelo pensamento positivo estava em baixa.
É preciso ajudá-los a criar este tipo de pensamento positivo.
Muitas vezes, a medicação antidepressiva não consegue ajudar como deveria.

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A psicoterapia ajuda a aumentar o pensamento positivo e com isso temos uma
melhora mais efetiva.
Um roteiro de indução para ajudar a criar expectativas
hipnoticamente de acordo com Michael Yapko:
1. Indução – iniciar a indução criando uma boa experiência com
muitos detalhes gostosos.
2. Construir um conjunto de respostas – apresentar uma idéia
com foco no futuro para desenvolver ao longo da hipnose.
3. Contar analogias universais – iniciando com... “Estou me
perguntando como será o futuro, será que as doenças serão curadas, como serão
os transportes, telecomunicações em 2020, e os comportamentos sociais?...
Orientando para a idéia de que haverá mudanças, novas
possibilidades de futuro...
Conte como era antes do computador, celular, freezer,
etc...Toriente-e para o futuro...
O PASSADO NÃO PREDIZ O FUTURO, NOVAS IDÉIAS SIM! Se
a pessoa se guia pelo passado, tem um futuro comprometido.
“Eu nunca vou ganhar dinheiro, porque meus pais não
ganharam... Eu nunca vou ter um namorado, até hoje não consegui!...”
4. Dar “feedback” de apropriação das suas metas pessoais –
Você deseja X no futuro e certamente você fará algo para que isso aconteça.
5. Ressaltar que as ações que a pessoa pratica hoje, influenciam
mais no seu futuro do que aquilo que aconteceu ontem.
Não podemos mudar o ontem, mas o que você fizer hoje à noite
está aberto para lhe dar um bom futuro.
6. Identificar recursos pessoais que podem ser usados na direção
dos objetivos específicos desta pessoa.
7. Introduzir entre o humor (triste/deprimido) e ações positivas que
virão agora. Por exemplo: você tem uma chance de criar amigos, caso SAIA
DE CASA!
8. Reforçar os desejos para que o sujeito experimente... as
pessoas costumam evitar o que é difícil...
9. Generalizar recursos para futuras oportunidades.
10. Sugestões pós-hipnóticas para integração da autoprofecia de
preenchimento pessoal.
11. Fechamento do transe.

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8.3. Higiene da Depressão

Algumas regras básicas ajudam:

1. Sono saudável.
Dormir bem e à noite ajuda na produção da serotonina, no
reequilíbrio das forças físicas e mentais.

2. Uma alimentação saudável e adequada.


Excessos de carboidratos e chocolates não vão trazer de volta
sua energia. Uma nova ação sim! Então, por que não iniciar uma alimentação
equilibrada?

3. Os remédios são indispensáveis.

4. Exercícios físicos
À medida que o ânimo for voltando, pratique esportes ao seu
alcance, que ajudam em todos os níveis.

5. Pequenas pausas.
Durante o seu dia pratique “pequenas ilhas de prazer” com a
prática de suaves hipnoses, meditação ou orações como desejar. Essas
práticas constituem-se ação limpante para a mente!
E BOA SORTE!

8.4. Técnicas Hipnóticas para Depressão

As técnicas de hipnose são sempre bem vindas para os


deprimidos.
Normalmente, o paciente deprimido está desanimado, cansado ou
ansioso. As técnicas hipnóticas ajudam a descansar e relaxar a mente; e além
disso, abrem espaço na imaginação para uma boa orientação para o futuro.
Temos muitas técnicas de hipnose que funcionam bem. Veja
abaixo a lista:

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1. Respiração: você pode usar a técnica do ar azul, limpando o
mal tempo. Você pode usar a respiração para limpar sofrimentos, ou feridas
como faz Dra. Teresa Robles. Você pode fazer a respiração imaginando uma
cor e criar um escudo protetor de luz colorida.
2. Relaxamento Progressivo – é uma excelente técnica para
pacientes deprimidos e desanimados, pois tem o mesmo sinergismo. O
desânimo dá vontade de ficar parado, a técnica de relaxamento progressivo
também ajuda a ficar quieto; mas enquanto isso você vai podendo ressignificar
palavras, contar metáforas construtivas, orientar para o futuro e até mesmo
levar a pessoa a se imaginar num lugar agradável ou seguro.
3. Lugar Seguro ou Agradável – é uma ótima técnica de distração.
Alguns pacientes deprimidos não conseguem imaginar coisas boas. Por isso,
você pode usar a técnica de ir para um LUGAR SEGURO, onde nada e
ninguém vai atrapalhar. Depois, aos poucos, você pode ir introduzindo
metáforas construtivas, idéias novas, etc.
4. Uma Luz Curativa – uma boa técnica ativante, faz limpeza
celular imaginativa, ajuda na regeneração celular, em doenças psicossomáticas
que, muitas vezes, acompanham o transtorno depressivo.
5. Regressão – para recuperação da criança interior, quando isto
for necessário. Reeducar a criança de que tudo já passou e, hoje, o sujeito
adulto é dono do presente e do futuro.
6. Freeze-Frame – técnica de congelamento do pensamento
estressante, relembrando os momentos saudáveis da infância. O corpo pára a
liberação do cortisol e ativa a produção do hormônio de rejuvenescimento.

A seguir veja uma sugestão para aplicação das técnicas


hipnóticas de acordo com o tipo de depressão.

- No tratamento da limpeza – para todos os pacientes


Autorização para descanso
Frustração
Ficar deprimido
Respiração azul
Lugar seguro

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- Depressão com sintoma físico
Respiração
Relaxamento
Lugar Seguro
Escudo de Luz

- Depressão com Tristeza


Respiração (limpar/digerir)
Num lugar seguro relaxar

- Depressão com Desânimo


Relaxamento
Lugar Seguro (quarto escuro), um lugar de descanso
Banho de cachoeira

- Depressão Ansiosa
Freeze-Frame
Respiração
Estar aqui agora observando
(Induções rápidas de 5’)

- Tratamento cura
Crença Limitante – ressignificar/metáforas construtivas
Diálogos Negativos – ressignificar
Trauma?  Regressão (Tudo isso já passou!)
- Matar a vida ruim
 Alimentar a alma
 Deixar a alma aparecer
 Matar os pensamentos negativos
 Orientar para o futuro
 Orientar novas ações.

Caso você deseje aprender detalhadamente estas técnicas entre


no site www.sofiabauer.com.br e veja transtornos de humor/depressão.
Todo deprimido requer nosso respeito, pois estão lutando sem ter
o combustível cerebral necessário para mudarem o pensamento e atitude.

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Passe estas informações a todos que você puder. A grande
maioria dos pacientes deprimidos não sabe que é, ou é mal visto pela família
como sendo preguiçoso ou mal humorado ou complicado.
Lembre-se de que para 2020, a depressão será a segunda
doença mais limitante do mundo!
O deprimido merece nosso carinho e atenção.
Se você é deprimido procure ajuda. Um bom psiquiatra para
medicá-lo e uma boa psicoterapia!
É possível ser ajudado...

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