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PSICODIAGNÓSTICO

Aula
• É costume, errôneo, diferenciar entrevista para diagnóstico e a terapêutica.

• A entrevista que está totalmente orientada para estabelecer um diagnóstico dá ao


paciente a impressão de que ele é um espécime da patologia sendo examinado, o que
de fato o inibe quanto à revelação dos seus problemas.

• Se existe algum sinal do sucesso de uma entrevista, esse é o grau do sentimento de


compreensão recíproca desenvolvido pelo paciente e pelo médico.

• Declarações que iniciam com “Não se preocupe” ou “Isso é perfeitamente normal” são
tranquilizantes, mas não empáticas.
• Uma entrevista focada em compreender o paciente fornece informações diagnósticas
mais valiosas do que aquelas que buscam descobrir a psicopatologia.

• A entrevista é a técnica mais utilizada para a obtenção de informações a respeito de


uma pessoa em qualquer situação em que exista um indivíduo buscando saber algo
sobre outro, esclarecer comportamentos, elucidar intenções, ideias ou atitudes de
alguém, sejam específicas ou genéricas.

• Para utilizar-se da entrevista como ferramenta de avaliação psicológica, o profissional da


precisa ter diferentes conhecimentos que variam de acordo com o propósito da
entrevista e o contexto em que ocorre.
• Se for para psicodiagnóstico, obrigatoriamente o psicólogo precisará conhecer
psicopatologia, critérios diagnósticos, manuais de transtornos mentais e de classificação
de doenças, além de Psicologia do Desenvolvimento.

• Já na avaliação psicológica para a seleção de pessoal, será necessário ao psicólogo


conhecer a descrição do cargo, suas competências, as necessidades da empresa, e os
métodos específicos de entrevista aplicados neste contexto, entre outras informações
que permitam a formulação de questões que abarquem o que se necessita entender
sobre o candidato que se inscreve no processo seletivo.
• Para que uma avaliação psicológica seja realizada de forma adequada e bem sucedida, o
psicólogo precisa ir além dos conhecimentos essenciais da Psicologia (Psicopatologia,
Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade, entre outras), será necessário
conhecer as técnicas de investigação psicológica (nelas incluem-se as entrevistas,
observações, dinâmicas de grupo e testes psicológicos) e dispor de conhecimento em
psicometria.

• Cada instrumento de avaliação deve obedecer suas condições de aplicação, devendo


sempre ser adequadas aos objetivos da demanda, ao que se pretende avaliar e
entender.
“ Um medico que não consegue receber uma boa história e
um paciente que não consegue oferecer uma estão em risco
de entregar e receber um péssimo tratamento”
Paul Dudley White
Início da entrevista
1. Apresente-se nominalmente
2. Seja receptivo, explique o que vai fazer.
3. Assegure privacidade e sossego.
4. Encorajamento narrativo.
5. Organização cronológica dos fatos.
6. Síntese.
7. Fechamento da entrevista com os esclarecimentos apropriados.
8. Explique sempre o que vai fazer - o passo seguinte
9. Roupa adequada.
10.Linguagem corporal adequada.
11.Contatos oculares e físicos (naturais).
12.Encorajamento narrativo - Mostre iniciativa!
13.Senso de humor e interesse.
14.Uso do silêncio em questões polêmicas (saber quando dar espaço para a “catarse”).
• O comportamento do psicólogo, assim como o estilo da entrevista, têm efeitos diretos
sobre a relação psicólogo-paciente.

• É preciso obter todos os detalhes precisos e necessários para o diagnóstico, o que exige
habilidades que devem ser exercitadas continuamente.

• Na prática diária comumente nos deparamos com pacientes que custam a se expressar
ou compreender o significado de algumas perguntas formuladas.

• Há, ainda, confusão maior quando formulamos perguntas de maneira complexa, onde a
inclusão de termos técnicos propicia a erros de interpretação.
• Não se esqueça que a maioria dos diagnósticos só é obtida quando conseguimos uma
descrição precisa das queixas referidas pelo paciente.

• Toda informação obtida numa anamnese tem dois componentes: um cognitivo e o


outro afetivo ou emocional.

• Informações prestadas pelos pais e/ou responsáveis imprecisas: fatores emocionais,


baixo nível sócio cultural, pais que trabalham, deixam a criança ao cuidado de terceiros
ou irmãos, supervalorização da queixa.

• Lembrar que dados de referência do desenvolvimento podem conduzir a erros.

• Estamos frente a um sistema em evolução, e a doença, incidindo em determinado


momento, pode determinar parada e/ou involução desse desenvolvimento.
Conceito de anamnese (Jurema Cunha): “A entrevista em que é feita a
anamnese (vide A história do examinando, nesta obra) tem por objetivo
primordial o levantamento detalhado da história de desenvolvimento da
pessoa, principalmente na infância. A anamnese é uma técnica de
entrevista que pode ser facilmente estruturada cronologicamente. Embora
a utilidade da anamnese seja mais claramente vislumbrada na terapia
infantil, muitas abordagens que integram ou valorizam o desenvolvimento
precoce podem se beneficiar deste tipo de entrevista.”
Cada caso exige uma anamnese específica, não existe receita de bolo!
Exemplo de uma anamnese focada em ideação suicida.
Descrição da anamnese

• Queixa e duração
• História da doença atual
• Antecedentes pessoais
• Antecedentes familiares
Queixa principal e duração (QD)

• Deve ser única e se possível grafada com as palavras do próprio


paciente. Nunca deve ser um “diagnóstico de outro médico” e sim o
motivo pelo qual o paciente procurou a ajuda médica e para o qual
espera alívio.

• Não devemos assinalar queixas principais como “Ansiedade


Generalizada” e sim “irritabilidade, inquietação, insônia...” etc.

• A razão de utilizarmos as palavras do próprio paciente objetiva


esclarecer de forma clara e objetiva o seu sintoma mais intenso, o que
infelizmente, nem sempre ocorre.
História da doença atual (HDA)

• Podemos organizar a anamnese (HDA) sob dois modelos que podem


coexistir em um processo de anamnese:

• Tentar descobri a história pré-natal e o nascimento do paciente para buscar


informações relevantes do ponto de vista médico e psicológico

• Sujeito que foi “normal” até determinada idade e surgiram alterações que
motivaram a busca do atendimento.
História da doença atual (HDA)

• Início dos sintomas, sua sequência temporal, qualidade, intensidade, fatores agravantes e de
alívio, os sintomas associados, modo de evolução (agudo, subagudo, surtos, progressivo?)
assim como os problemas médicos concomitantes. A queixa é a própria doença ou é um
epifenômeno de moléstia sistêmica ou neurológica ou psiquiátrica? (isto será importante para
a fase de encaminhamento!)
• Nesta fase, o objetivo é obter dados sobre a presente queixa, permitindo que o paciente
conte livremente sua história, enfatizando os dados mais relevantes para ele, sem
interferências.
• Ficar atento para não interromper a sequência lógica de pensamento do paciente, o que
acarretaria grandes perdas ao diagnóstico.
• Lembrar que não devemos sugestionar nossos pacientes com perguntas objetivas, apesar de,
às vezes serem necessárias.
História da doença atual (HDA)
• Importante a caracterização minuciosa dos sintomas, modo de início, fatores de agravo e
de melhora.
• Rotina doméstica e escolar
• Atividade física
• Hábitos alimentares
• Padrão de sono
• Interação social (familiar, escolar e amigos)
• Outras atividades
• Temperamento
Condições de moradia
• Residência, casal de relacionamento estável, profissão, condições de
saneamento, transporte, cuidadores, quem coabita, animais
domésticos.
Paciente psicótico:

• No caso do paciente com um processo psicótico ou com um transtorno grave da


personalidade, o psicólogo deverá fornecer mais estrutura para obter uma história
coerente, cronológica e organizada da doença atual.

• O entrevistador, ao utilizar técnicas para construir uma história mais coerente,


também oferece um valor terapêutico: o paciente é capaz de usar o ego do
entrevistador para compensar seus próprios déficits e aliviar a experiência de um
estado amedrontador de confusão.

• Dessa maneira, a aliança terapêutica é formada ao mesmo tempo que os dados


necessários da história são obtidos.
Paciente psicótico:

Exemplo: Uma mulher portadora de deficiência cognitiva ficou estressada durante uma
entrevista por causa do barulho de um tubo vaporizador. Ela perguntou: “Você está
ouvindo isso?”. O entrevistador respondeu: “Sim, estou. O barulho a incomoda?”. Ela
acenou com a cabeça, e o entrevistador fez mais perguntas: “Às vezes você ouve coisas
que outras pessoas não ouvem?”. Dessa forma, a pergunta seguiu um curso natural na
entrevista.
Visão sistematizada:

1) Não existe um método para obter uma história que seja apropriado para todos os
pacientes ou todas as situações clínicas.
2) É necessário estabelecer um rapport para obter a confiança e a confidência do
paciente, antes que ele venha a cooperar com o plano de tratamento.
3) A história nunca estará completa ou será totalmente precisa.
4) A descrição do paciente, a psicopatologia e a história do desenvolvimento deverão,
todos, estar interligados, criando um quadro coeso.
5) O entrevistador deverá ligar a vida mental do paciente a seus sintomas e
comportamentos.
6) A psicodinâmica e a psicologia do desenvolvimento ajudam-nos a compreender as
conexões importantes entre o passado e o presente.

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