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Psicopatologia I

Aula 03: A Entrevista com o Paciente (Dalgalarrondo, caps. 8 a 10)


A Avaliação Psicopatológica

• A Avaliação Psicopatológica é o principal instrumento de conhecimento em


psicopatologia, e compreende dois aspetos fundamentais:
• A anamnese: levantamento do histórico dos sinais e sintomas ao longo da vida do
paciente, e de sua família, além de aspectos de sua vida e meio social;
• O exame psíquico: procura esclarecer o estado mental atual do paciente;

• Pode ser oportuna a realização de exames físicos e neurológicos, além da


realização de psicodiagnóstico, e a solicitação de exames complementares;
A Avaliação Psicopatológica
• A grande a ocorrência de patologias físicas (diabetes, neoplasias, HIV, tabagismo, etc.) em portadores de TMG’s,
que são frequentemente subdiagnosticadas;

• O exame físico pode ser um excelente instrumento de aproximação afetiva;

• A avaliação neurológica busca identificar a presença de lesões ou disfunções do SNC, que podem ser identificadas
seja através da avaliação de sinais e reflexos neurológicos, como através de exames armados (tomografia, PET-
SCAN, etc.);

• Exames complementares incluem exames laboratoriais e de imagem;

• OBS: se o examinador é um psicólogo, então evidentemente os exames físico e neurológico devem ser solicitados
ao profissional competente;

• O psicodiagnóstico requer a aplicação de testes de personalidade, inteligência, cognição social, etc., constituindo
um importante complemento à avaliação clínica.
A Entrevista com o Paciente
• A habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que formula, por aquelas
que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas calar.
Também é atributo essencial do entrevistador a capacidade de estabelecer uma
relação ao mesmo tempo empática e tecnicamente útil para a prática clínica;
• O entrevistador deve desenvolver sua capacidade de acolher o paciente, ouvi-lo
em suas particularidades, tem paciência e respeito, e impor limites quando e se
necessário. Em alguns casos, uma boa entrevista é aquela na qual o entrevistar
ouve muito e fala pouco. Em outros casos, é aquela na qual intervém de forma
mais ativa;
A Entrevista com o Paciente

• Fatores que afetam a entrevista: • Atitudes a serem evitadas:


• A personalidade e o estado mental do • Postura rígida e estereotipada;

paciente; • Atitude excessivamente neutra ou fria;

• O contexto institucional da • Reações exageradamente emotivas;

entrevista; • Julgamentos e atribuições de valor;

• Os objetivos da entrevista; • Reações intensas de pena ou

• A personalidade do entrevistador; compaixão;


• Ser hostil ou agressivo;
• Entrevistas excessivamente prolixas;
• Fazer muitas anotações;
Muitas vezes, não é a quantidade de tempo com o paciente que mais conta, mas a

qualidade da atenção que o profissional consegue lhe oferecer.


A Entrevista com o Paciente
As Primeiras Entrevistas
• A entrevista inicial é um momento crucial no diagnóstico e no tratamento;

• Deve-se estar atento, entre outras coisas, ao comportamento não verbal e à própria apresentação do paciente
diante do olhar, que traz consigo toda a carga emocional do ver e ser visto, do gesto, da postura, das
vestimentas, do modo de sorrir ou expressar sofrimento.
• O profissional deve:
• Garantir sigilo e discrição;
• Ressaltar a necessidade de colaboração mútua;

• Tipicamente, na primeira entrevista deve-se colher dados socio-demográficos básicos, o que é também uma
forma útil de “quebrar o gelo”;
• Em seguida, o entrevistador deve se informar sobre o motivo que trás o paciente à consulta. Deve-se atentar
tanto ao conteúdo do que é dito quanto ao “estilo” do paciente. Tal relato deve ocorrer, preferencialmente, de
forma livre;
As Primeiras Entrevistas

• Nas primeiras entrevistas, é comum uma atitude “defensiva” do paciente, e o


entrevistador deve evitar pausas e silêncios prologados. Para isso, pode:
• Fazer perguntas e colocações breves, que sinalizem sua presença e atenção;
• Evitar perguntas muito “fechadas”;
• Melhor solicitar um “como foi isso?” do que um “porque?”, que costuma encerrar o
assunto;
• Como regra geral, o entrevistar deve buscar a intervenção que facilite a continuidade
da fala do paciente;
As Primeiras Entrevistas

• A “fala livre”, além de tudo, tem um efeito catártico;

• À medida que o relato progride, a estrutura da história do paciente vai se


construindo, e as lacunas que aparecerão servirão de motivo para perguntas e
intervenções do entrevistador;
• Por fim, o entrevistador buscará esclarecer pontos importantes da história e
da anamnese de modo geral;
• Deve-se atentar à transferência e à contra-transferência;
As Primeiras Entrevistas

• Em suma:
• Na entrevista inicial, realiza-se a anamnese, ou seja, o recolhimento de todos os dados
necessários para um diagnóstico pluridimensional do paciente, o que inclui os dados
sociodemográficos, a queixa ou o problema principal e a história dessa queixa, os
antecedentes mórbidos somáticos e psíquicos pessoais, da pessoa. A anamnese contém,
ainda, os hábitos e o uso de substâncias químicas, os antecedentes mórbidos familiares, a
história de vida do indivíduo, englobando as várias etapas do desenvolvimento somático,
neurológico, psicológico e psicossocial, e, por fim, a avaliação das interações familiares e
sociais do paciente.
• O exame psíquico é o exame do estado mental atual, realizado com cuidado e minúcia pelo
entrevistador desde o início da entrevista até a fase final, quando são feitas outras perguntas.
O Exame Psíquico
Avaliação do Paciente

• Observações adicionais:
• Deve-se considerar tanto os sintomas objetivos quanto a vivência subjetiva do
paciente;
• É importante restaurar a cronologia dos eventos, e estar atento às reações do paciente
ao fazer seu relato;
• A pacientes que conseguem relatar com clareza e consistência seu estado de
sofrimento; outros não tem qualquer insight. Outros, ainda, relutam em admitir um
problema;
Outros Aspectos
• Muitas vezes faz-se necessário colher informações com familiares, amigos e conhecidos, que
podem fornecer dados mais confiáveis, dado o estado do paciente; cabe ao avaliador decidir qual
informação é mais confiável;
• O paciente pode querer dissimular seus sintomas;

• O paciente pode simular sintomas;

• Muitas vezes o paciente não reconhece seus sintomas como tais; esse insight tem 3 componentes:
• O nível de a consciência do problema;
• O modo de nomear os sintomas;
• Nível de adesão ao tratamento;

• Distinguir aspectos transversais de aspectos longitudinais da avaliação;


O relato escrito do caso
• De preferência, deve conter as próprias palavras do paciente;

• Evitar verborragia tecnicista;

• Evitar interpretação precoce dos dados;

• O relato em si deve ser organizado e coerente;

• Deve fornecer uma imagem suficientemente boa e compreensiva da personalidade do


paciente, da dinâmica de sua família e de seu meio sociocultural;
• A história clínica deve ser redigida em linguagem simples, precisa e compreensível. Evitar
excesso de detalhes desnecessários;
• O relato clínico tem implicações legais;
Regras Gerais
• Local com conforto e privacidade;

• Apresentar-se formalmente e dizer o objetivo da entrevista;

• Iniciar com perguntas gerais;

• Investigar a natureza da queixa;

• Investigar a origem (como começaram) dos problemas;

• Questionar sobre os tratamentos e resultados já tentados;

• Questionar se o paciente tem uma hipótese sobre a causa dos problemas;

• Prestar atenção aos aspectos não verbais;

• Verificar o impacto que o paciente causa no entrevistador;

• Lembrar de usar linguagem adequada ao indivíduo;

• Sempre que possível, usar perguntas mais abertas;

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