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A ENTREVISTA:

ANAMNESE
PSICOPATOLÓGICA

Prof.ª Me Cláudia Maria Ruiz

“...o domínio da técnica de realizar entrevistas


é o que qualifica especificamente o profissional
habilidoso..., ou seja, um perito em realizar
entrevistas que sejam realmente úteis, pelas
informações que fornecem e pelos efeitos
terapêuticos que exercem sobre os pacientes”
• “...o que importa não são os sintomas
aparentemente positivos ou negativos em si
mesmos, não é a satisfação ou a angústia... – que,
aliás, pode ser inteiramente sadia e justificada - ...,
mas o que significa para aquele que vive,
exprimindo tal ou qual comportamento, o sentido
fundamental da sua dinâmica assim presentificada
e as possibilidades de futuro...” (Dolto, Prefácio em
Mannoni, 2004)
Realizar entrevistas é um atributo fundamental e
insubstituível do profissional de saúde

HABILIDADE EM REALIZAR ENTREVISTAS

APRENDIDA INTUITIVA

CAPACIDADE EM
HABILIDADE EM HABILIDADE EM
ESTABELECER PATRIMÔNIO DA
FORMULAR EVITAR
UMA RELAÇÃO PERSONALIDADE
PERGUNTAS PERGUNTAS EMPÁTICA E ÚTIL

HABILIDADE EM
HABILIDADE EM
DECIDIR QUANDO
CALAR
E COMO FALAR
REQUISITOS BÁSICOS
• “É fundamental que o profissional possa estar em
condições de acolher o paciente em seu sofrimento,
de ouvi-lo realmente, escutando o doente em suas
dificuldades . (Dalgalarrondo, p. 50)
▫ Paciência e respeito;
▫ Habilidade em estabelecer limites
 Atenção aos pacientes invasivos ou agressivos
 Proteção a si e ao contexto da entrevista
REQUISITOS BÁSICOS
• Também é fundamental que o entrevistador tenha
capacidade de ser flexível em sua postura, ter boa
adaptação a diferenças
▫ “As vezes uma entrevista bem conduzida é aquela na
qual o profissional fala muito pouco, ouve
pacientemente o enfermo.
▫ Outras vezes o paciente e a situação ‘exigem’ que o
entrevistador seja mais ativo, mais participante,
falando mais, fazendo muitas perguntas, intervindo
mais frequentemente” (idem)
CONDUÇÃO FLEXÍVEL DA ENTREVISTA
A flexibilização do entrevistador varia em função:

▫ do paciente, ▫ dos objetivos da entrevista,


 personalidade,  diagnóstico,
 estado mental e emocional,  estabelecimento de vínculo
 capacidade cognitiva, etc. terapêutico,
 questões forenses,
▫ do contexto,  avaliação, etc.
 consultório,
 se institucional, ▫ da personalidade do
 pronto-socorro, emergência, entrevistador,
 enfermaria,  autoconhecimento e
treinamento
 ambulatório,
 centros de saúde, etc.
O QUE EU DEVO EVITAR?
1. Postura rígida e estereotipada
2. Atitude excessivamente neutra ou fria
3. Reações exageradamente emotivas ou artificialmente calorosas
4. Comentários valorativos ou emissão de julgamentos
5. Reações emocionais intensas de pena ou compaixão
1. Empatia

6. Responder com hostilidade ou agressão


7. Entrevistas prolixas
8. Fazer muitas anotações durante a entrevista
O QUE EU DEVO EVITAR?
• No atendimento em saúde, a paciência do entrevistador
costuma ser fundamental

▫ Serviços públicos exigem alto teor de atenção a este quesito

▫ Não é a quantidade de tempo com o paciente o que mais vale, mas


a qualidade da atenção que o profissional consegue oferecer ao
paciente
 Respeito e empatia
 Atmosfera de confiança

▫ “A experiência e a atitude do profissional, curiosa, atenta e


receptiva, é que determinará o quão profundo e abrangente será o
conhecimento extraído das entrevistas” (Dalgalarrondo, p. 52)
 O problema da insegurança: cuidado!
AS PRIMEIRAS ENTREVISTAS
• Momento crucial no diagnóstico e tratamento em saúde mental

▫ O profissional deve transmitir ao paciente sentimentos de confiança e


esperança no alívio do sofrimento

▫ “Entrevistas iniciais desencontradas, desastrosas, nas quais o profissional é,


involuntariamente ou não, negligente ou hostil com o paciente, geralmente são
seguidas de abortamento do tratamento” (Dalgalarrondo, p. 52)
 A primeira impressão dificilmente é esquecida
 O olhar e toda a comunicação não-verbal são muito importantes

▫ Estudos revelam que “...os primeiros 3 minutos da entrevista são extremamente


significativos, sendo muitas vezes decisivos tanto para a identificação do perfil
dominante de sintomas do paciente, quanto para a formulação da hipótese
diagnóstica final” (idem)
AS PRIMEIRAS ENTREVISTAS
• As três regras de ouro da entrevista psiquiátrica:
1. Pacientes organizados, com inteligência normal,
escolaridade ao menos razoável e fora de um “estado
psicótico” devem ser entrevistados de forma mais aberta;

2. Pacientes desorganizados, com nível intelectual baixo, em


um estado psicótico ou paranóide, “travados por um alto
nível de ansiedade” devem ser entrevistados de forma
mais estruturada;

3. Nos primeiros contatos com pacientes muito tímidos,


ansiosos ou paranóides, fazer primeiro perguntas neutras
(identificação)
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
1. APRESENTAÇÃO

▫ Do profissional: nome, profissão e especialidade e, em


algumas situações, a razão da entrevista

▫ Garantias e contrato: confidencialidade, privacidade,


sigilo médico, etc.
 Principalmente se o paciente for excessivamente tímido ou
se o contexto assim o exigir o profissional deve explicitar:
1. que a entrevista e o tratamento irão ocorrer com sigilo e
discrição;
2. ressaltar a necessidade de colaboração mútua entre
profissional e paciente;
3. deixar claro que este sigilo poderá ser rompido no caso de
ideias, planos ou atos seriamente auto ou hetero destrutivos
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
2. Colher os dados sócio-demográficos básicos: nome,
idade, data de nascimento, naturalidade e
procedência, estado civil, com quem reside, profissão,
atividade profissional, religião, etc.

3. Queixa básica ou principal: seu sofrimento, dificuldade


ou conflito que o traz ao profissional

▫ Esse primeiro relato deve ocorrer de forma livre, para


que o paciente expresse de forma espontânea os seus
sintomas e sinais
▫ O profissional deve ouvir o relato e o conteúdo
daquilo que o paciente conta, e também como este
relato é feito, o “estilo” do paciente, sua aparência e
atitudes básicas
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
• Evitar pausas e silêncios prolongados
• Podem aumentar muito o nível de ansiedade do paciente e deixar a
entrevista muito tensa e improdutiva

• Procedimentos para facilitar o entrevistador nestas situações:


1. perguntas breves que assinalam a presença e atenção efetivas;

2. evitar perguntas muito direcionadas, fechadas, que podem ser


respondidas com um sim ou um não categóricos;

3. também evitar perguntas longas e complexas;


1. utilizar intervenções do tipo: como foi isso?, explique melhor , conte
um pouco mais sobre isso,etc.

4. facilitar a continuidade da fala do paciente


1. Evitar perguntas: por que?, qual a causa?
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
• “... embora a atitude básica do entrevistador na fase inicial da
avaliação seja de escuta, isto não significa colocar-se em uma
posição totalmente passiva. Bem ao contrário, ... Os dados
essenciais da clínica psicopatológica emergem basicamente de uma
observação participativa, da interação intensa entre paciente e
profissional... nas fases mais iniciais o paciente pode estar muito
ansioso e usar manobras e mecanismos defensivos como risos,
silêncios, perguntas inadequadas, comentários circunstanciais
sobre o profissional, etc. ... estratégias involuntárias ou propositais
que podem estar sendo utilizadas para que o paciente evite falar de
si, de seu sofrimento, de suas dificuldades... a pessoa do
entrevistador não é o tema da entrevista” (Dalgalarrondo,
p.53)
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
• Mesmo as entrevistas abertas, devem ter uma estrutura
básica a ser seguida pelo entrevistador e as lacunas
devem ser preenchidas após a exposição livre, onde o
entrevistador fará as perguntas que faltam para
completar e esclarecer os pontos importantes da história
e da anamnese em geral

• A duração e o número de entrevistas iniciais com fins


diagnósticos e de planejamento não é fixo
▫ Dependem do contexto institucional, da complexidade e da
gravidade do caso, bem como da habilidade do profissional
ORGANIZANDO AS
ENTREVISTAS INICIAIS/DIAGNÓSTICAS
• Fenômenos importantes
▫ Transferência:
 atitudes e sentimentos cujas origens são basicamente inconscientes
 processo comum de projeção onde o paciente tende a projetar inconscientemente
os afetos básicos que nutria e nutre pelas figuras significativas de sua vida

▫ Contratransferência:
 é, em certo sentido e de maneira geral, a transferência que o profissional
estabelece com seus pacientes

▫ Dissimulação: o ato de esconder ou negar voluntariamente a presença de sinais


e sintomas psicopatológicos

▫ Simulação: tentativa de criar, apresentar um sintoma, sinal ou vivência


conscientemente para obter algum benefício
A AVALIAÇÃO: ETAPAS
1. Entrevista inicial
1. Anamnese

2. Exame psíquico

3. Exame físico geral e neurológico

4. Exames complementares
1. Testes de personalidade, da cognição, psicodiagnóstico e neuropsicológicos, etc.

5. Exames médicos complementares: laboratoriais, de neuroimagem,


neurofisiológicos, etc.

6. Entrevista com familiares, amigos, informantes em geral


1. Pacientes com quadros demenciais, déficits cognitivos, em estado psicótico grave e em
mutismo, por exemplo
O REGISTRO
• Resumo do estado mental, observado durante toda a coleta
de dados
• O relato deve conter de preferência as próprias palavras
que o paciente e os informantes utilizaram para descrever
os sintomas mais relevantes
• A caligrafia deve ser legível e o estilo claro, preciso, com
frases e parágrafos curtos
• Evitar terminologias tecnicistas que impeçam a
comunicação e compreensão de terceiros
• O uso de termos técnicos deve ser proporcional ao grau de
conhecimento que o profissional obteve e sabe utilizar
O REGISTRO
• Evitar a interpretação precoce dos dados
• O relato deve ser organizado e coerente, que facilitem o
estabelecimento de hipóteses diagnósticas e de
planejamento terapêutico adequado
• “O paciente tem o direito de ser confuso, contraditório,
ilógico. O profissional, ao relatar o caso não tem esse
direito” (Dalgalarrondo, p.60)
O REGISTRO
• O relato escrito de um caso tem valor médico e legal. É
um documento!

▫ “... Poderá ser decisivo em questões legais futuras,


impensáveis no momento em que a avaliação está sendo
feita... No momento em que o entrevistador redige os
dados que coletou ele deve lembrar-se de que: a história
clínica deve ser redigida com uma linguagem simples,
precisa e compreensível. O relato deve ser
pormenorizado, mas não prolixo” (Dalgalarrondo, p. 60)
detalhado naquilo que é essencial ao caso e conciso
naquilo que é secundário
O REGISTRO: MODELO RESUMIDO
I. Identificação
II. Queixa principal e história da doença atual
III. Interrogatório sintomatológico médico complementar
IV. Antecedentes mórbidos pessoais
V. Hábitos
VI. Antecedentes patológicos familiares em consanguíneos e parentes não
consanguíneos
VII. Relacionamento e dinâmica familiar (descrever)
VIII. Exame físico
IX. Exame neurológico
X. Exame psíquico
XI. História de vida
XII. Resultados das avaliações complementares
XIII. Hipóteses diagnósticas
XIV. Planejamento terapêutico e ações terapêuticas implementadas

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