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ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA

A entrevista tem uma parte que é do entrevistador e uma parte que é do entrevistado. É um diálogo entre duas pessoas.
Tem que ser uma comunicação:
 Eficiente – tem que fazer sentido;
 Confiável – tenho que confiar em quem está falando senão eu vou por um ponto de interrogação em tudo que
foi falado;
 Válida e útil – tem que ser uma informação que possa ser utilizada, e que posso acreditar que é verdade.

Isso tem que acontecer em qualquer entrevista. Se o que foi falado não atender a essas características, a entrevista não
serve de nada. Na medicina isso é fundamental, pois se eu não acredito no que o paciente está me falando, não adianta
fazer anamnese com ele. Posso utilizar outros aspectos da entrevista, como a forma que ele está me falando e seu
comportamento durante, mas tenho que confiar nas coisas que ele está me falando. E ao mesmo tempo eu tenho que falar
de uma forma que ele entenda o que eu estou falando.
Em cima da entrevista->Vai me ajudar a planejar, implementar tratamentos, motivar paciente para tratamento, criar
e manter relação terapêutica – preciso criar uma relação terapêutica com ele, pois ele tem que confiar em mim e entender
que eu estou prestando atenção nele. A partir daí eu faço um diagnóstico e estabeleço uma terapia.

O entrevistador deve:
Entrevistador deve ter capacidade de ter interação sensível com o entrevistado – eu tenho que conversar com o
paciente e mostrar que estou entendendo o que ele está falando, além de ter uma sensibilidade para poder mostrar uma
relação que seja empática, que ele perceba que eu o compreendo;
Adaptar a entrevista para o entrevistado – maneiras de perguntar, artefatos que se adaptem ao paciente;
Controlar limitações de tempo;
Controlar o local onde ocorre a entrevista – necessidade de privacidade e com segurança (se o paciente for agressivo,
não ficar sozinho com ele);
Evitar ao máximo uso do telefone – sempre que possível não deixar nem o telefone ligado.

Responsabilidades
Entrevistador – ter naturalidade e humanidade, compreender e ter um tratamento adequado.
Entrevistado – deve colaborar com o entrevistador, ter clareza e precisão.

Atitude do entrevistador
Avaliar o estado psicopatológico do paciente – avaliar as funções mentais;
Ter uma escuta empática – compreender e sentir, mas não sofrer junto com o paciente;
Ter uma sintonização afetiva – perceber o que o outro está sentindo, sentir mais ou menos o que o outro está sentindo
– entrevistado faz uma irradiação e o entrevistador faz uma sintonização com ele.

Reação do paciente à entrevista


Confiança – paciente tem que acreditar e confiar no entrevistado, mas ele também tem que ser confiável.
Oposição – alguns pacientes parecem que fazem uma oposição. Ex.: paciente vem por problema de sono, e o médico
começa a perguntar da vida pessoal, mas a paciente fala que veio apenas para falar do sono e não dela mesma. Deve explicar
para ela que é importante saber todos os aspectos da vida.
Indiferença – paciente não liga para a entrevista, e não liga para as informações a ele passadas.
Intimidade exagerada – paciente pode querer ser muito íntimo do médico, mas ao mesmo tempo o médico deve cuidar
para não parecer muito íntimo dele. Por isso o ideal é não atender familiar, pois as vezes estamos muito próximos e não
conseguimos ver o real problema.

MÉTODOS OU TIPOS DE ENTREVISTA


Psicodinâmica – tem a ver com o lado mais psicológico, em que eu vou poder deixar o paciente falar livremente, sem
fazer muitas perguntas. Mais a ver com tratamento psicoterápico, preciso ver o paciente com mais frequência.
Estruturada e padronizada – vou ter o modelo da entrevista que vou seguir.
Escalas

Clínica psiquiátrica – informação sobre o problema mental, elaborada e codificada de acordo com os diferentes métodos.

Entrevista livre e não estruturada


É o tipo de entrevista: “conte-me um pouco mais sobre a sua dor”. Deixo o paciente livre para falar, com poucas
intervenções, deixando ele o mais solto possível.
Na psiquiatria, geralmente começamos com essa e depois vamos para perguntas mais direcionadas.

Entrevista padronizadas
Mais para fins de pesquisa, necessidade de confiabilidade e validade – preciso saber tudo igual, pois depois vou comparar
dados.
Ela pode ser inteiramente estruturada ou semi-estruturada.

ENTREVISTA INICIAL
 A primeira entrevista na psiquiatria, normalmente tem um mínimo 50 minutos podendo chegar a 90 minutos,
podendo ou não ser dividida em mais de uma sessão.
 Tem que ser conduzida, permitindo o início da intervenção com maior chance de sucesso terapêutico – tenho
que conduzir de forma a encontrar um diagnóstico e saber o que vou tratar. Se estiver muito difícil, medicamos
os sintomas, para depois encontrar o diagnóstico, mas em geral procura-se, numa única entrevista, encontrar o
diagnóstico.
 O vínculo terapêutico se estabelece nos primeiros momentos do encontro médico-paciente – já começa na sala
de espera.
 Pode haver necessidade de informações de familiares – sempre que possível, chamar a família e atender junto
com o paciente, a não ser que haja algum tipo de conflito entre paciente-familiar.
 Pode haver necessidade de vários atendimentos antes de fechar um diagnóstico

Objetivos da primeira entrevista


Estabelecer boa relação médico-paciente – processo interpessoal, qualidade da informação depende da confiança e da
forma que o paciente sente o contato com o entrevistador.
Necessário estabelecer respeito com o paciente, imparcialidade social e econômica, compaixão, zelo e cordialidade,
preocupação e interesse com o que o paciente está falando, curiosidade livre de avaliação crítica (perceber se a sua
curiosidade é importante ou não para ajudar o paciente), espontaneidade, consistência e autenticidade, ouvir com atenção,
empatia, fazer o mínimo de interrupções no início da entrevista, anotações, aparência e disposição do espaço.

Obter informações:
 Estilos de perguntas
Podemos dar um grau de sugestão:
Não sugestiva – “qual o motivo da consulta?”
Alternativa – “você sente-se triste ou não?” Deve-se evitar ao máximo esse tipo de pergunta por limitar a resposta do
paciente.
Sugestão passiva – “há alguma dor?, O senhor fica triste?”
Sugestão ativa – “você tem sentido tristeza, é isso?”

 Tipos de perguntas
Abertas – “como está seu ânimo?” Deixo em aberto para o paciente poder se expressar livremente sobre o assunto.
Vantagens: mais informação, facilita estabelecimento de uma relação;
Desvantagens – pode não levar a respostas focalizadas, ineficaz para checar detalhes ou revisar sistemas. Paciente pode
ser prolixo e acabar desviando do assunto.

Fechadas – “tem se sentido desanimado?” É usada quanto queremos mais detalhes sobre algum aspecto.
Vantagens – checam detalhes e revisão de sistemas, úteis como follow-up( de uma consulta pra outra eu poder
comparar.) de perguntas abertas, estruturam entrevistas em pacientes prolixos.
Desvantagens – pode parecer interrogatório no início.

Em eco – usado para checagem. “O senhor me falou isso, mas eu fiquei em dúvida..”
Ao repetir parte do que o paciente disse, facilita que ele continue falando. Faz em conjunto com perguntas fechadas,
obtém respostas narrativas.

Para esclarecimentos -Pedidos de detalhes específicos ou exemplos, usado junto com perguntas fechadas ou abertas.

 Buscar sentimentos ou emoções


*Perguntas abertas são mais eficazes, mais conversa, mais expressão do material emocional.
*Mais comum é iniciar com abertas e posteriormente fechadas.
*Depende inteiramente da relação médico-paciente.
Avaliação psicopatológica
Informações tiradas a partir de observação e interação com paciente.

Observação – aparência, comportamento psicomotor, estado emocional.


Interação com o paciente -Comportamento psicomotor, Estado emocional, Discurso (como a pessoa fala, se ela fala
chorando por exemplo), Atenção e concentração, Inteligência, Sensório, Memória.

Devolutiva (Dar um retorno)


Dar retorno – importante mostrar ao paciente que compreendeu e reconhece as preocupações dele e o que poderá
fazer para ajudá-lo. Isso ajuda para melhorar a relação médico-paciente.

Continuação - 09/03/2017

Anamnese – Etapas da entrevista


1. Introdução ( a apresentação com o paciente e a queixa principal)
2. Abertura (parte mais aberta em que deixa que o paciente fale)
3. Processo da entrevista ou corpo da entrevista
4. Devolutiva ( dizer qual é seu diagnóstico, qual é o tratamento e o planejamento disso.)
5. Encerramento ( ver se está claro e se o paciente tem dúvidas e fazer a receita)

Processo da entrevista ou corpo da entrevista


Dentro do corpo da entrevista, podemos ter:
-Controle do vínculo com o paciente
-Realização de procedimentos específicos
-Aplicação de técnicas de entrevista
-Avaliação do estado mental
-Elaboração das informações obtidas de acordo com os diferentes métodos psicopatológicos

Conteúdo da entrevista
Aqui vai ter:
-Identificação e dados demográficos
-Queixa principal – o que provocou a procura do tratamento
História da doença atual
-História psiquiátrica pregressa
-História médica e de medicamentos
-Antecedentes familiares
-Personalidade ( se percebo que o paciente é mais dependente, se ele é mais arrogante)
-História conjugal ou relacionamentos atuais – se não for casado, perguntar qualidade e quantidade dos relacionamentos
emocionais importantes; importância quanto ao diagnostico as informações contribuem para avaliação de transtornos de
personalidade.
-História do desenvolvimento e qual é a situação atual.

Segmentação da Entrevista
 Incentivar que o paciente fale de maneira espontânea
 Interesse nos acontecimentos e reações que acompanham
 Investigar áreas da vida: indo dos mais aos menos agradáveis
o Antecedentes pessoais, sexuais, médicos, sociais
o Gostos, valores
o Relações interpessoais, emprego, atividades de lazer
o Antecedentes familiares
o Educação
 Avaliar o risco de suicídio (como está a vontade de viver, como vê o futuro, se já pensou em se machucar, em tirar
a própria vida)
 Perguntar se tem algo a mais que ele deseja falar
 Comentar a impressão clínica de maneira compreensível e cuidadosa, tratamento e exames complementares, plano
de avaliação . O paciente deve entender tudo que você explica para ele.

Observação (Médico deve ouvir mais e falar menos)


 Deve-se procurar falar pouco durante a entrevista e buscar que o paciente fale muito
 Observar expressão facial, psicomotricidade, atitude (não chorar junto com o paciente: num primeiro momento o
paciente sente-se confortado pelo médico ter compreendido sua dor e em um segundo momento reflete que se o
médico desaba com ele não tem condições de ajudá-lo)

Cuidados
 Anotações: não dar mais atenção ao papel ou ao computador
 Procurar sentar olhando ao paciente, manter contato visual
 Avaliar os sentimentos despertados no avaliador, estes podem mudar a avaliação e o manejo da situação clínica
(identificar o que o pct provoca em mim para saber se vou conseguir ou não atendê-lo)
o Curiosidade ou preocupação
o Simpatia ou raiva ou irritação
o Tristeza ou impaciência ou pena
o Ansiedade ou tédio
o Frustração ou medo
o Confusão

PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICO


Em geral seguuiremos esse padrão de:
Entrevista <-> Exame do estado mental <-> exame físico e avaliação de rotina <-> investigação especializada (ECG,
avaliação neurológica...)

Exame Psíquico – Exame mental


 Apresentação
 Consciência
 Atenção
 Orientação
 Memoria
 Afetividade
 Linguagem
 Pensamento
 Juízo de realidade
 Senso-percepção
 Vontade/conação
 Psicomotricidade

Descrição do Exame do Estado Mental

 Soma total das observações e impressões obtidas em entrevista pelo observador


 Deve estar separada da historia do paciente, mesmo que muito de ambos tenha vindo da mesma entrevista
 Exame do estado mental / psíquico (descritivo. Dizer se o paciente estava alerta, co alucinações visuais, e por assim
vai)
 Súmula psicopatológica
-Por fim da-se uma devolutiva ao paciente, explicando o seu caso e planejando o tto.

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