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ANAMNESE PSIQUIATRICA sequência ou forma de formular as perguntas.

Essas entrevistas geralmente tem


alto nível de confiabilidade.
O principal objetivo de uma entrevista psiquiátrica é obter informações que irão
estabelecer um diagnóstico com base em critérios, o que leva a decisões de Geralmente uma entrevista psiquiátrica segue uma perfil semiestruturado. A
tratamento. história do paciente é baseada em um relato subjetivo, mas o exame do estado
mental é uma ferramenta objetiva do entrevistador. A avaliação psiquiátrica
Uma entrevista bem conduzida resulta em uma compreensão multidimensional começa antes mesmo do início da entrevista, observando a expressão fácil do
dos elementos biopsicossociais do transtorno e fornece as informações paciente, seus trajes, movimentos, maneira de se apresentar.
necessárias para o psiquiatra, com a colaboração do paciente, desenvolva um
plano de tratamento centrada na pessoa. Inicialmente o entrevistador deve deixar o paciente a vontade para expor suas
dificuldades. O início da entrevista dever ser pouco diretiva, permitindo a livre
A entrevista pode ter influência de várias variáveis, como a as características do expressão do paciente, com pouca interferência do profissional.
entrevistados (crenças, valores, sensibilidade), as características do próprio
paciente, por exemplo, sua motivação em relação ao exame. Se houve procura de Após a exposição inicial do paciente, o entrevistador deve adotar um papel mais
ajuda, de forma espontânea ou não. ativo, conduzindo a entrevista para cobrir todos os aspectos da anamnese.

A interação entre médico e paciente é importante, pois o profissional poderá Durante a entrevista é importante observar não apenas o que paciente diz, mas à
obter mais informações estabelecendo confiança e estimulando o paciente a falar forma como se expressa e ao que faz enquanto fala.
e refletir sobre si mesmo. A simpatia ou antipatia pode influir no resultado do No final da entrevista, pode fazer perguntas mais diretas para esclarecer os
exame. pontos que faltem para completar a história psiquiátrica ou o exame do estado
Variáveis do ambiente onde o exame é conduzido também interferem com o mental. Quando necessário, devem ser conduzidas entrevistas com parentes ou
mesmo, por exemplo, o local, a duração, a disposição dos participantes e as conhecidos, sempre com o consentimento do paciente.
condições de privacidade. Detalhes da entrevista
Existem basicamente três tipos de entrevistas: abertas, estruturadas e
I. Dados de identidade
semiestruturadas.
®Idade;
Entrevista aberta: o entrevistador não segue um roteiro rígido e pré- ®Sexo;
determinado, isso permite o paciente falar com mais liberdade e o curso da ®Estado civil;
entrevista é determinado por ele. ®Raça ou etnia;
®Ocupação;
Entrevista estruturada: a forma pela qual se obtém as informações, a sequência
®Fonte do encaminhamento;
das perguntas e os registros dos resultados são pré-determinados. Tem como
II. Fonte e confiabilidade
vantagem aumentar a confiabilidade do diagnóstico psiquiátrico, facilitando a
concordância entre diferentes profissionais. ® Esclarecer de onde veio a informação (registros, pessoas), e avaliar a
confiabilidade dos dados.
Entrevista semi-estruturada: tem um nível de estruturação maior ou menor, III. Queixa principal
dependendo da entrevista, mas permite sempre uma certa flexibilidade na ® Idealmente com as mesmas palavras do paciente.
IV. História da doença atual
® Descrição cronológica da evolução dos sintomas ( o que – sintomas,
quanto – gravidade, duração e fatores associados);
® Mudança nas relações interpessoais, comportamentos, hábitos pessoais e
na saúde física.
® Tempo dos sintomas, oscilações na natureza ou gravidade dos sintomas;
® Presença ou ausência de estressores (casa, trabalho, escola, problemas
legais, comorbidades médicas e dificuldades interpessoais);
® Fatores que aliviam ou exacerbam os sintomas (medicamentos, apoio,
habilidades de enfrentamento ou hora do dia);
® Fatores desencadeantes;
® Se fez algum tratamento para o episódio atual, se continua ou não, em
caso negativo, o motivo para isso.
® Revisão psiquiátrica dos sistemas – ajuda a identificar transtornos que são
mais incômodos para o paciente, mas não são percebidos inicialmente.

V. História psiquiátrica pregressa


® Todas a doenças psiquiátricas e seu curso ao longo da vida do paciente,
incluindo sintomas e tratamentos.
® Sinais e sintomas de outros transtornos psiquiátricos, quando ocorreram,
tempo, frequência e gravidade.
® Tratamentos dos episódios anteriores de forma detalhada: psicoterapia,
hospitalização, internação hospitalar (voluntária ou involuntária, e a
justificativa da indicação da internação), grupos de apoio ou outras
formas de tratamento.
® O que foi tentando, por quanto tempo, doses e por que foram
interrompidos.
® A resposta ao medicamento e efeitos colaterais.
® Se houve adesão ao tratamento. ® A prontidão para mudanças do paciente deve ser determinada e o
® História de letalidade, para avaliação do risco atual: ideação, intenção, encaminhamento para o tratamento adequado deve ser considerado.
plano e tentativas de suicídio. ® Outras substâncias devem ser abordadas: uso de tabaco e cafeína, jogo,
® História de violência: violência doméstica, complicações legais e desfecho comportamentos alimentares e uso de internet.
da vítima; VII. História médica pregressa
® História de comportamento autolesivo não suicida: cortes, queimaduras, ® Relato de doenças e condições clínicas importantes, os tratamentos,
bater a cabeça e morder-se. passados e presentes.
® Sentimento de alívio do sofrimento, que acompanham ou seguem o ® Cirurgias passadas;
comportamento. ® Habilidade de enfrentamento dessas doenças;
VI. Uso, abuso e adições de substâncias ® Doenças clínicas podem precipitar um transtorno psiquiátrico (ex.:
® Pode ser difícil para o paciente discutir essa informação, e um estilo paciente com TAG diagnóstico de CA), parecer um transtorno psiquiátrico
imparcial extrairá informações mais precisas. (hipertireoidismo parece TAG) ser precipitadas por um transtorno
® Perguntas específicas podem ajudar; psiquiátrico ou por seu tratamento (síndrome metabólica causada por
® A história de uso deve incluir: quais substâncias foram usadas, álcool, medicação antipsicótica) ou influenciar a escolha do tratamento de um
drogas, medicamentos e vias de uso (oral, nasal e intravenosa). transtorno psiquiátrico (distúrbio renal e o uso de carbonato de lítio);
® A frequência e a quantidade do uso devem ser determinadas, tendo em ® Doenças neurológicas: convulsões, traumatismos cranianos e transtorno
mente que o paciente pode minimizar ou negar o uso. doloroso.
® A tolerância, necessidade de quantidades crescentes de bebida ou ® História de problemas pré-natais ou do parto ou com os marcos do
sintomas de abstinência devem ser estabelecidos para diferenciar abuso desenvolvimento.
de dependência. ® Em mulheres, uma história reprodutiva e menstrual.
® Questionário CAGE inclui quatro perguntas: ® Uso de medicamentos atuais (tempo, adesão, efeitos dos medicamentos
 Você já tentou diminuir ou cortar a bebida? e efeitos colaterais): psiquiátricos, não psiquiátricos, vendidos sem
 Já ficou incomodado ou irritado quando outras pessoas criticaram receita, soníferos, ervas e medicações alternativas.
seu hábito de beber? ® Alergias a medicamentos;
 Já sentiu culpa por beber? ® Respeitar o desejo do paciente em relação a restringir certas informações
 Já precisou beber pela manhã para se acalmar ou se livrar de uma sociais ou familiares.
ressaca? VIII. História familiar
® Questionário RAPS4 (Avaliação Rápida de Problemas com Álcool 4): você ® Auxilia a definir os fatores de risco para doenças específicas e também a
já sentiu culpa após beber? Não consegue lembrar coisas que disse ou fez formação psicossocial do paciente;
após beber? Não conseguiu fazer o que era normalmente esperado após ® Diagnósticos psiquiátricos, medicamentos, hospitalizações, transtornos
beber ou bebeu pela manhã? relacionados a substâncias e história de letalidade devem ser abordado.
® Períodos de sobriedade devem ser anotados incluindo duração e ® Histórico familiar de suicídios é um fatores de risco para comportamentos
situação. suicidas;
® História de tratamentos: desintoxicação ou reabilitação hospitalar,
tratamento ambulatorial, terapia em grupo.
® Doenças clínicas em familiares também podem ser importantes tanto no
diagnóstico como no tratamento. Por exemplo: histórico familiar de
diabetes pode afetar a escolha do medicamento antipsicótico.
® É importante para identificar possível apoio, assim como estresse, para o
paciente, e dependendo do grau de incapacidade dele, a disponibilidade e
adequação dos possíveis cuidadores.
IX. História evolutiva e social
® Importante para determinar o contexto dos sintomas e as doenças
psiquiátricas e pode, na verdade, identificar alguns dos principais fatores
na evolução do transtorno.
® História da infância: ambiente doméstico da infância (membros da família
e ambiente social, amizades);
® História escolar: até que série estudou, circunstancias especiais de
educação ou transtorno de aprendizagem, problemas comportamentais
na escola, desempenho acadêmico e atividades extracurriculares).
® Abuso físico e sexual na infância devem ser investigados;
® História de trabalho: tipos de emprego, desemprego, razão para
mudanças de empregos e situação profissional atual. Relação com colegas
e supervisores. Rendas, problemas financeiros e plano de saúde do
paciente.
® História militar 9quando aplicável);
® História de casamento e relacionamentos, preferencias sexuais e a
estrutura familiar atual., capacidade de desenvolver e manter
relacionamentos estáveis e mutuamente satisfatórios, questões de
intimidade e comportamentos sexuais.
® História legal: acusações ou ações judiciais. X. Revisão de sistemas
® Passatempos, interesses, animais de estimação e atividades nos ® Tenta captar quaisquer sinais e sintomas físicos ou psicológicos atuais
momentos de lazer. ainda não identificados na doença atual. Uma atenção especial aos
® Identificar influências culturais e religiosas na vida do paciente e as sintomas neurológicos e sistêmicos. Doenças que poderiam contribuir
crenças e práticas religiosas atuais. para as queixas apresentadas ou influenciais a escolha dos agentes
® História sexual; terapêuticos devem ser consideradas.
XI. Exame do estado mental

O exame do estado mental (EEM) é o equivalente psiquiátrico do exame físico no


resto da medicina. O exame explora todas as áreas de funcionamento mental e
mostra evidências de sinais e sintomas de doenças mentais. O Miniexame do  É a expressão do humor o que o humor do paciente parece ser
Estado Mental, está incluído no EEM e fornece avaliação cognitiva. para o médico.
 O afeto é descrito com os seguintes elementos: qualidade,
® Avaliação e comportamento: descrição geral de como o paciente parece
quantidade, variação, adequação e congruência.
e age durante a entrevista.
 Qualidade: disfórico, feliz, eutímico, irritável, agitado.
 Parece ter a idade declarada;
 Quantidade: plano, normal ou lábil. Embotamento afetivo: afeto
 Se está vestido adequadamente para o contexto;
severamente restrito (esquizofrenia);
 Aspectos característicos: figurações, cicatrizes, tatuagens.
 Adequação: como o afeto está correlacionado com o ambiente.
 Arrumação e higiene;
 Congruência: pode ser congruente ou incongruente com o humor
 Descrição comportamental: se está exibindo perturbação aguda.
ou o conteúdo de pensamento do paciente.
Paciente pode ser descrito como cooperativo, agitado, desinibido,
® Conteúdo de pensamento: são os pensamentos que estão ocorrendo ao
desinteressado.
paciente, deduzidos pelo que ele expressa espontaneamente, e pelas
® Atividade motora:
respostas as perguntas.
 Pode ser descrita como: normal, lentificada (bradicinesia) ou
 Pensamentos obsessivos: aqueles indesejados e repetitivos que
agitada (hipercinesia).
invadem a consciência. São alheios ao ego, e o paciente resiste a
 A marcha, a liberdade de movimentos, quaisquer posturas
eles.
incomum ou continuadas, andar de um lado para outro e torcer
 Compulsões: comportamentos repetitivos e ritualizados que os
as mãos.
pacientes se sentem compelidos a realizar para evitar um
 Presença ou ausência de tiques (que podem também ser reações
aumento na ansiedade ou algum desfecho temido.
adversas ou efeitos colaterais de medicamentos);
 Delírios: são ideias fixas, falsas, que não compartilhadas por
® Fala:
outras pessoas e podem ser divididos em bizarros e não bizarros.
 Fluência: se o paciente tem total comando da língua ou
Podem ser grandiosos, erotomaníaco, de ciúmes, somáticos e
problemas de fluência mais sutis, como tartamudez, dificuldade
persecutórios.
para encontrar as palavras ou erros parafásicos.
 Potencial suicida e o potencial homicida: ideação, intenção,
 Quantidade: se é normal, aumentada ou diminuída. Menos
planejamento e preparação.
quantidade de fala pode indicar ansiedade ou desinteresse. Mais
® Processo de pensamento:
quantidade é sugestivo de mania ou hipomania.
 Descreve como os pensamentos são formulados, organizados e
 Ritmo: lenta ou rápida.
expressos.
 Tomo e volume: irritável, ansioso, disfórico, alto, silencioso,
 Um paciente pode ter processo de pensamento normal com
tímido, zangado ou infantil.
conteúdo do pensamento delirante e vice versa.
® Humor:
 O processo de pensamento pode ser: linear, organizado e
 É definido como estado emocional interno e continuado do
orientado ao objetivo.
paciente;
 Fuga de ideias: o paciente passa com rapidez de um pensamento
 Sua expressão é subjetiva, pode ser: triste, irritado, culpado ou
para outro, em um ritmo que é difícil para o ouvinte acompanhar,
ansioso.
mas todas as ideias estão conectadas de forma lógica.
® Afeto:
 Pacientes circunstancial: excesso de detalhes e material que não
é diretamente relevante ao assunto, mas em algum momento
retorna para tratar do assunto ou responder a pergunta.
 Pensamentos tangenciais: processo de pensamento tangencial
pode, no início, parecer semelhante ao circunstancial, mas o
paciente nunca retorna ao ponto original.
 Pensamentos frouxos: é difícil ou impossível ver conexões entre o
conteúdo específico sem a capacidade de mudar para outros
tópicos.
 Paciente perseverativo: repetidamente voltará ao mesmo tópico
apesar das tentativas do entrevistador de mudar de assunto.
 Bloqueio do pensamento: é um processo de pensamento
perturbado no qual o paciente parece incapaz de completar um
pensamento. Ele pode parar no meio de uma frase e deixar o
entrevistador esperando que complete, e depois podem não se
lembrar o que estavam discutindo.
 Neologismo: uma palavra nova ou uma combinação condensada
de várias palavras que não são uma palavra verdadeira e não são
facilmente compreensíveis.
 Salada de palavras: é discurso caracterizado por linguagem
confusa, e em geral repetitiva, sem aparente significado ou
relação ligada a ela.
® Alterações na sensopercepção:

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