Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 6 e 7 – Entrevistas
INTRODUÇÃO
É uma das principais ferramentas da Psicologia Aplicada (desde a investigação à
prática dos profissionais) e que mais frequentemente é usada. Marcos (1983) considera
que a entrevista é o primeiro instrumento de exploração psicológica, devendo preceder os
testes de avaliação (sem a entrevista, os testes têm pouco significado).
A entrevista é a matriz dentro da qual o processo avaliação-intervenção ganha
forma. A sua utilização não é apenas privilegiada pela Psicologia Clínica, mas também
por outros domínios: organizações, desenvolvimento, forense, saúde, ...
Curiosamente, e apesar de ser frequentemente utilizada, a entrevista é dos métodos
de avaliação psicológica menos estudados empiricamente;
“A entrevista é não só o instrumento que mais se utiliza, como também o que
menos se conhece.” (Kanfer & Phillips, 1970)
Sabe-se pouco sobre a fiabilidade e validade das entrevistas.
DEFINIÇÃO:
De acordo com Pope (1979, in Silva, 2002):
Uma entrevista é um encontro falado, entre dois indivíduos, que implica
interações verbais e não verbais;
Existe uma diferenciação de papéis entre os participantes;
O entrevistador é aquele que tem maior responsabilidade na condução da
entrevista;
Os objetivos da entrevista são determinados pelo entrevistador, embora o
entrevistado a possa solicitar por motivos pessoais (e.g., procurar ajuda
terapêutica; solicitar avaliação em contexto escolar); no entanto, os conteúdos
abordados devem ser selecionados e conduzidos pelo entrevistador.
Entrevista:
*Uma relação entre pessoas (2 ou mais);
*Comunicação bidirecional verbal e não verbal;
*Objetivos previamente definidos pelo entrevistador;
*Papéis claramente definidos, atrbuindo o controlo da situação ao entrevistador.
1
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
2
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
Possibilidade de avaliar situações que não podem ser avaliadas de outras formas:
indivíduos iletrados ou com perturbações mentais.
DESVANTAGENS:
Custo relativamente elevado: exige grande investimento de esforço e tempo por parte do
entrevistador;
Erros de inferência: do entrevistado, do entrevistador, da situação, da relação que podem
incidir gravemente na qualidade da informação recolhida;
Escassos indicadores de validade e fiabilidade: geralmente as entrevistas não são
estandardizadas nem têm valores normativos de referência.
TIPOS DE ENTREVISTAS:
Existem várias formas de classificar as tipologias de entrevistas (e.g., Schmidt &
Kessler, 1976 propõem uma classificação que cruza eixos de avaliação – nível de
estruturação com a atmosfera emocional). Silva (2002) destaca as seguintes:
Classificação em função dos objetivos;
Classificação em função do grau de estruturação.
Entrevista de investigação:
Recolha de informação acerca de um estado de coisas; os dados são submetidos a
um procedimento que permite chegar a conclusões que não têm implicações
diretas no entrevistado;
O contacto tende a ser fugaz e impessoal;
Entrevistadores com treino pouco específico;
Ocorrem habitualmente quando se fazem experiências de campo e se recolhem
dados a partir de uma amostra estratificada.
Entrevista Intervenção:
A distinção entre “entrevistas de avaliação” e “entrevistas de intervenção/terapêuticas” é
um aspeto questionável na medida em que dependente do modelo teórico subjacente;
Nas primeiras, não se pretende promover mudanças na situação do entrevistado, mas sim
obter informação diagnóstica para pensar num plano de intervenção;
Nas segundas, entrevista com o objetivo de promover mudanças.
3
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
Avaliação Intervenção
4
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
5
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
6
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
É impossível realizar uma boa entrevista se não se conhece bem o tema a explorar
(Wiens, 1976);
Avaliar a informação que já temos disponível sobre o entrevistado (de modo a evitar
repetições), mas ter em conta que essa informação pode levar-nos a pré-conceitos;
Planificar a entrevista definindo um esquema de ação (e.g., definição de tempo e sua
distribuição durante a entrevista).
2. Início da entrevista
Apresentação breve e completa: do entrevistador, do entrevistado, da situação, da
forma como o processo se desenrolará e dos objetivos a atingir;
A informação não pode ser dada toda de uma só vez; há que abrir espaço para o
diálogo e conversação (e.g., perguntar sobre o motivo da consulta; perguntar como se
sentiu por procurar ajuda; perguntar quais as suas expectativas);
Ouvir o entrevistado sobre as suas expectativas é um passo fundamental (para discutir
e diminuir o nível de incerteza do mesmo);
Desconstruir imagens pré-concebidas sobre o papel do psicólogo;
Assegurar a confidencialidade (a não ser que sejam levantadas questões que coloquem
em risco a segurança física/emocional do entrevistado ou de terceiros);
Propor uma espécie de contrato sobre como se vai levar a cabo a entrevista (e.g.,
“sempre que não entender uma questão deve insistir na sua clarificação”; “deve dizer-
me se não concordar com algo que eu diga”);
É nesta fase que se determina, por acordo mútuo, por onde começará a exploração.
3. O corpo da entrevista
Existem muitas sugestões sobre o estilo que o entrevistador deve adotar na condução
da entrevista. Destaca-se o estilo hipotético-dedutivo:
Entrevistador com postura ativa;
Recolhe informação sobre a descrição do problema e das suas circunstâncias
(quando, como, como era antes);
Com base na informação, formula hipóteses funcionais (criar ligações entre
eventos; não são atribuídos ao acaso);
Observa a confirmação ou infirmação das hipóteses e contrasta-as.
O registo de informação tem vindo a ser uma questão-chave para os
entrevistadores:
Registo simultâneo ou à posteriori?
Nenhuma das opções é mais correta que a outra. Os autores fazem referência às
desvantagens de cada uma destas opções:
o Registo simultâneo: dificulta o curso natural e espontâneo da entrevista;
o Registo à posteriori: forte redução e distorção da informação.
Alternativa: recolha mista, i.e., recolha dos dados mais importantes (verbais e não
verbais) e registo mais detalhado no final da entrevista;
Deve pedir-se autorização para tirar notas e justificar a sua necessidade.
7
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I
4. Finalização da entrevista
Fazer um resumo/síntese da informação obtida;
Clarificação de respostas inconsistentes/incompletas/pouco claras;
Direcionar a conversa para o futuro: o que poderá acontecer daqui para a frente (a
expectativa do psicólogo deve ser partilhada de forma genuína, mas otimista) e foco
nas soluções;
Se aplicável, apresentar tarefas que o cliente tem de efetuar até ao próximo encontro;
Não terminar de forma abrupta, deixando a conversa sobre os problemas a meio, nem
terminar quando o entrevistado está emocionalmente debilitado (disposição de ânimo
negativa).
COMPETÊNCIAS DO ENTREVISTADOR
Estabelecer ligação/conexão
Estabelecer uma relação aberta, de confiança e de segurança com o cliente = aliança
terapêutica (o tempo é precioso);
Aspeto particularmente relevante no contexto clínico (promove maior facilidade na
partilha de conteúdos emocionalmente difíceis);
Na primeira entrevista é frequente os entrevistados estarem apreensivos e pouco à
vontade;
Assim, o entrevistador deve-se demonstrar disponível a ouvir sem julgar o que os
clientes têm para dizer;
É importante promover expectativas positivas e uma orientação para o futuro otimista
– esperança.
Ser empático
Característica fundamental de qualquer entrevistador. Diz respeito à capacidade para
compreender os sentimentos do outro;
Empatia difere de simpatia;
O cliente sentir-se-á compreendido, sem ser julgado;
Facilita a revelação de detalhes sobre a situação-problema;
Ser empático e tirar notas em simultâneo é um exercício complicado...
A expressão empática pode ocorrer verbalmente (expressão de compreensão e
suporte) ou não-verbalmente (expressões faciais, ouvir atentamente).
Ser reflexivo
Permite destacar um tópico específico da conversa;
Pode ser uma reflexão sobre as emoções (e.g., “parece que está a sentir...”, “deve-se
sentir...”, ...) ou sobre os conteúdos (recapitular e sumariar o que o cliente disse de
forma integradora);
Promove o sentido de empatia, estreitando a relação terapêutica;
É como o “espelho clínico” do cliente, permitindo ver o mesmo de ângulos diferentes.
8
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I