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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC

CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOTERAPIA INFANTIL
E PSICOPATOLOGIA
INFANTIL
Professora: MSc. Beatriz Galatto Nesi
Psicóloga - CRP 12/10005
Especialista em Análise Transacional
Gestalt-Terapeuta
Formação Clínica em Infanto-Juvenil
Criciúma, junho de 2023.
Família
CO MPREENSÃO
DIAGNÓSTICA
“Não há história de vida que não seja

atravessada por um diagnóstico”

(Vittorio Lingiardi)
´ Segundo Ênio, o processo
psicoterapêutico se sustenta em
especial em dois pilares, a relação
terapêutica e a compreensão
diagnóstica.
´ Não podemos evitar o diagnóstico,
mas podemos optar por faze-lo de
maneira ponderada e com
awareness completa, ou seja, ter a
melhor noção possível do padrão
de estar no mundo, de se relacionar
e de perceber as pessoas do nosso
cliente.
O diagnósticoé:

´ Fenomenológico;
´ Processual;
´ Deve estar em diálogo com o DSM /
CID;
´ Deve ser considerada a totalidade do
campo, sem abrir mão da
individualidade;
´ Perceber o homem em sua trajetória
com suas potencialidades e
limitações;
´ O sintoma expõe o modo
característico de ser ou o estilo de
personalidade do cliente (porém não
deve esgotar o diagnóstico).
Tellegen, 1986, fala que
diagnostic ar é detectar a
configuração específica em que se
artic ulam as partes em cada
situação, é a possibilidade e o
começo de uma nova

reconfiguração do campo.
Para que
diagnostic ar:
´ O diagnóstico tem o objetivo de facilitar
o desenvolvimento das potencialidades
do cliente;
´ A compreensão diagnóstica irá nortear a
atitude terapêutica diante da demanda
do cliente;
´ Será de extrema importância na
comunicação multidisciplinar.
´ O diagnóstico pode auxiliar a pessoa a
passar de uma situação não organizada,
para uma situação organizada.
´ É a possibilidades de ampliar o
conhecimento de si, mais importante do
que o nome do que tenho é pensar
como funciono a partir disto e como
posso funcionar.
Diagnóstico extrínseco
• Sintoma

•Diagnóstico intrínseco
• Se d á na relação terapêutica
QUAL A FUNÇÃO DO
SINTOMA EM GT
Segundo Ênio BritoPinto

´ A vivência de um sintoma, mesmo


quando for disfuncional, é uma
oportunidade de crescimento.
´ O sintoma denuncia a necessidade
de mudanças de comportamentos
(atualização de um potencial).
´ Se não há espaço para esta
atualização, fica evidente um vazio
existencial, desta forma, surgira um
novo sintoma.
´ É necessário que dialoguemos com
nosso sintoma, funcional ou
disfuncional, o que proporciona uma
ampliação do nosso auto suporte,
apropriação de nossa coragem de
ser.
O que é preciso observar
para umbom diagnóstico:

´ As relações consigo e com o mundo (subjetividade,


intersubjetividade, e culturalidade)

´ A temporalidade (o tempo vivido)

´ A espacialidade (o espaço vivido)

´ A corporeidade (o corpo vivido)

´ O dar-se conta (conscientização)

´ A vida afetiva

´ Linguagem
´ Juízo de realidade

´ Atenção

´ Memória

´ Pensamento

´ Higiene
Funcionamento saudável e não
saudável
“Saúde e doença não são
opostos; são etapas do mesmo
processo.” (Augras, 1986, p12)

´ Observar como se dá:


- contato;
- auto-suporte;
- responsabilidade;
- formação de gestalten;
- auto-regulação
organismica;
- ajustamento criativo.
´ Questões que auxiliam no diagnóstico processual:

- Quais configurações pedem fechamento?

- Qual o padrão que se repete?

- De que maneira a Gestalt pode se fechar?

- Qual o melhor caminho para possibilitar o fechamento?

- Como trilhar este caminho com este paciente?

´ Assim é possível:

- Compreender a totalidade da existência;


- Favorecer a awareness de si mesmo;

- Possibilitar crescimento e desenvolvimento;

- Detectar Gestalten abertas e possibilitar re-significação;

- Possibilitar reconfiguração da totalidade.


CUIDADOS COM O DIAGNÓSTICO

Auto definição proporcionada


por um diagnóstico,
- dada por profissional
- pesquisada no
google, cibercondíacos.

Não transformar o diagnóstico


em rótulo, ou em uma
identidade.
- Isto dificulta o
aparecimento da
curiosidade sobre si,que
é a base do
autoconhecimento.
“Se as pessoas não são redutíveis a um
diagnóstico,

isto não quer dizer


que não devamos buscar fazer boas
compreensões diagnósticas
– uma redução cuidadosa, criteriosa e atenta
é ótimo antídoto para reducionismos.”

Ênio Brito Pinto


O processo terapêutico é um caminho, por
vezes difícil, mas que te leva ao encontro com o
teu verdadeiro potencial em ser.
O papel do psicoterapeuta infantil
Princípios do psicoterapeuta
• Ética
• Respeito
• Sigilo
• Orientações - pais
“É no evento do inter-humano que ocorre o encontro
dialógico, caracterizado pela reciprocidade das partes que se
relacionam, pela presença confirmadora da pessoa do
outro, pela abertura para a totalidade do ser do outro que,
de outra maneira, permaneceria desconhecida.” p 64
Perls se refere a esta relação como “entre”, ou
seja, a fronteira do contato, onde aparece a forma
como o ser humano se relaciona com o mundo
externo, como interage e assimila o seu mundo.
É neste contexto que se dá o contato, e a partir
dai a promoção de crescimento.
O psicoterapeuta precisa se colocar no lugar do
outro, sem perder sua perspectiva. Aceitar o paciente
como ele é no momento em que encontra o
psicoterapeuta, confirmar suas vivências e encorajar a
expressão.
O encontro deve acontecer sem metas
estabelecidas pelo terapeuta, este precisa confiar nas
possibilidades advindas do “entre”.
O terapeuta precisa respeitar o movimento de
seu cliente, facilitando o encontro consigo mesmo.
O ser humano é concebido como um ser de
possibilidades e estas podem se potencializar ou
não, de acordo com as relações estabelecidas.
O homem é livre para fazer suas escolhas e no
momento que as faz se torna responsável por elas.
Arte de Cuidar
cuidar não é técnica, é postura

• Cuidar significa desprender-se de si e voltar-se ao outro.


• É preciso ter um interesse genuíno no outro.
• Facilitar a aprendizagem de novos comportamentos.
• Como Psicólogos, cuidar envolve o desenvolvimento de uma
metodologia que tem por objetivo trazer à consciência
conflitos e proporcionar recursos para lidar com eles.
• Auxiliar o outro a se reconhecer e assim poder
fazer escolhas próprias.
• O cuidado terapêutico tem a ver com auxiliar o
cliente a resgatar aquilo que foi de alguma
maneira perdido ou prejudicado.
• “é oferecer o apoio necessário para que o outro
se reconheça nas suas possibilidades e
referenciais e assim fortaleça seu autosuporte.”
Cuidar exige habilidades interpessoais:
• Acolher
• Escutar
• Questionar
• Dialogar
• Respeitar o tempo de cada um
Assim, auxiliamos o paciente a compreender e
ressignificar suas vivências.
Então, qual o trabalho?
• Caminhar junto com seu paciente, possibilitando a ele
apreender quais são suas potencialidades.
• Isto acontece a partir da relação “entre” (relação dialógica)
• É apreender o não dito, naquilo que é dito.
• Nutrir uma empatia a compaixão pelo ontológico (tudo
aquilo que nos faz humano, liberdade, vulnerabilidade,
angustias, ...)
• Permitir que o paciente possa ser.
• Respeitar sua dor, angústia, ansiedade...
• Respeito a sua dignidade
• Permitir ao paciente a esperança.
COMUNICAÇÃO
GENUÍNA

É estar com o outro num diálogo


sem reservas - em palavras
ou em silêncio. É
utilizar a expressão
nec essária e verdadeira para
o contato que se estabelece,
com respeito e proximidade.
É permitir que através desta
comunicação o cliente possa
apropriar-se de si e de seu
processo. “...comunicação
genuína implica um falar que não
protege nem a um nem a outro
do processo de auto- expressão,
implicando em espontaneidade
e
interação” (Jacobs (1989) apud
Karwowski, 2005, p.
119)
“O pensamento de Buber nos ajuda a pensar a ética da Gestalt-terapia: ética da diversidade, da inclusão, da
ação transformadora. É a possibilidade de estar com o outro no exercício da dialogicidade, numa relação
entre diferentes onde privilegia-se a diferença, sendo assim, a melhor maneira de descobrir-se e de criar-se”.
http://www.igt.psc.br/ojs2/index.php/cengtb/article/view/186/406
“A atitude ética nasce do exercício
fenomenológico da “epoché”, onde
julgamentos de valor, ordem e moral ficam
de pano de fundo no contato com o outro.

A Ética em Gestalt é uma construção, nos


quais se combinam confiança, sigilo,
acolhimento e, principalmente,
compromisso com aquele que demanda
nossa escuta e nossa atenção. A atitude
ética é inclusiva, pois envolve a ‘presença
e confirmação’ no contexto dialógico”.
Também se torna difícil sair
deste lugar conhecido, pois
ao procurar um psicólogo, a
pessoa vem ansiosa para
corresponder a expectativa
do profissional, de sua
aceitação, disponível a uma
“pronta” melhora subsidiada
pela aquisição dos novos
comportamentos, dos novos
papéis valorizados neste
contexto.
Parece que a ânsia de resolver
problemas tem-nos levado na
contra mão do caminho da
relação dialógica.
A Ética da Gestalt Terapia possibilita que a pessoa que nos
procura possa sair do lugar de um Isso a que foi submetido
e comece a ser alguém que pode ocupar o lugar de Eu e de
Tu no mundo das relações que estabelece e que foi
propiciado pelo Encontro vivenciado entre dois que saem,
sem dúvida, transformados.
Segundo Robert Henry Srour, a
Ética não pode ser
confundida com:

• Moral. Ética é uma


disciplina que estuda a
moral. Ela não é igual a
moral.
• Um valor determinado.
Por exemplo,
honestidade, idoneidade,
integridade.
• Com códigos de conduta
profissional.
Compreensão de Ética a partir da
história da filosofia anterior à
Aristóteles.

1- Êthos - que significa morada,


abrigo, lugar onde somos
autênticos e podemos receber o
outro; “lar”.
(Ética do “cuidado”)

Novo sentido adquirido no período


aristotélico.

2- Éthos - que significa uma postura


do ser humano diante de; um modo
de ser; postura do homem diante
da vida objetiva. (Ética “objetiva”)
Ética “objetiva”: comportamentos legitimados por
determinada sociedade (regras e leis), a fim de
garantir uma “unidade coletiva”.

Tanto as leis, quanto as sanções, são estabelecidas


a partir da legislação que nos rege e que está
pautada na moral.

Para Aristóteles, a virtude ética é adquirida. Ele


acredita na educação. Cabem aos adultos ensinar
o limite do outro, a virtude ética.
A moral diz respeito às normas para
a ação do indivíduo no meio, que
generaliza as ações humanas em
sua prática diária.

Em cada cultura subsiste uma moral


que tem como fundo e também
como perspectiva, o ser humano
que devemos ser, de acordo com
as normas estabelecidas pela moral
dessa cultura.
Porém, esta ética estabelecida de
forma objetiva não dá conta da
nossa vivência emocional, que está
sempre co-presente na nossa
realidade objetiva.

Sentimos necessidade de um
acolhimento que abranja para
além do visível, do objetivável, este
mesmo que nos moldou, pois é
exatamente deste invisível, do que
é sentido, do não objetivável, que
nosso trabalho como psicólogos
clínicos é feito.
Para Mario Sérgio
Cortella,
SER ÉTICO É UMA DECISÃO!

Eu posso fazer qualquer coisa


porque sou livre, mas eu
não devo fazer qualquer coisa.
Aqui, já existe um princ ípio
ético.

Ética é o conjunto de valores


que você tem para responder
às três grandes questões da
vida humana:

QUERO?
POSSO?
DEVO?
“Na clínica, é importante que a relação
terapêutica se configure em morada, que haja
hospitalidade (Cardella, 2015, p. 57)

Na prática do trabalho, importa mais que


qualquer outro fenômeno, as emoções do ser
humano que sente, no aqui-e-agora.

E esta é a principal característica da relação


clínica: não ter um à priori, um lugar a chegar;
caso contrário, estaremos perpetuando a ética
da exigênc ia, do objetivo.
CONTRATO TERAPEUTICO
Contrato trato com
Contac tu

É o trato que se estabelece entre duas ou mais pessoas,


em determinada ocasião e sobre determinado objeto.

O contrato terapêutico leva em conta os processos subjetivos que permeiam


a relação, desta forma ele se diferencia de um contrato legal, ou qualquer
outro tipo de contrato existente em nossa sociedade.
´As questões relativas ao
contrato são de extrema
importância para o
desenvolvimento do processo
terapêutico.
´O contrato está a serviço
de delimitar os limites de um
campo que fundamenta a
relação entre terapeuta e
cliente.
´O contrato é o guardião
das liberdades individuais e
assim preserva a potência e o
poder dos envolvidos.
´ O contrato auxilia o Psicólogo a
regular o trabalho terapêutico
segundo as necessidades do
terapeuta, assim como auxilia no
engajamento emocional do
paciente.
´ A adesão e o sucesso do processo
psicoterapêutico também estão
relacionados com o manejo do
contrato, e este se relaciona com a
relação estabelecida entre os
contratantes, ou seja, o vínculo.
Entrevista inicial

´ Compreender o modo de
ser do cliente, observando
os recursos e limitações
presentes;
´ Identificar a pertinência do
processo terapêutico, assim como
fazer o devido encaminhamento
quando for necessário;
´ Perceber se é possível estabelecer
uma aliança terapêutica capaz
de sustentar o trabalho
terapêutico
´ Verificar a sua habilidade
enquanto terapeuta para lidar
com a situação apresentada;
´ Possibilitar ao paciente a
possibilidade de expressar como
se sente diante deste terapeuta e
se deseja seguir o processo.
As partes contratantes

´ Quando o contrato envolve


adultos este deve ser feito
entre as partes envolvidas
(terapeuta e cliente)
´ Quando envolve crianças
um contrato será realizado
com os pais e outro com a
criança, usando uma
linguagem pertinente a
cada fase do
desenvolvimento.
´ Existe uma aliança entre
terapeuta e cliente, trata-se da
cooperação consciente entre
ambos para que seus esforços
se canalizem em uma mesma
direção, desta forma a
finalidade do processo
terapêutico precisa estar claro
para ambos.
´ O relacionamento entre
ambos pode ser afetivo e
envolver confiança, porém se
ambos estiverem caminhando
em sentidos opostos, sem a
delimitação clara do tema e
objetivos, ambos se sentirão
frustrados, nesta hora é preciso
retomar com o cliente e
recontratar novos caminhos.
Sigilo

´ Deve ser assegurado ao paciente o sigilo, este envolve a identificação do


paciente e sua história. Apenas em casos que envolvem risco ao paciente
seus familiares devem ser contatados e ainda assim, sempre que possível
com o consentimento dele.
Loc al

´ O local é indicado pelo


psicoterapeuta e fica aberto a
possíveis mudanças pertinentes e
acordadas entre as partes
anteriormente.
´ Muitas vezes se fazem
necessárias intervenções
hospitalares ou domiciliares.
´ Assim como, usar possibilidades
criativas, sessão ao ar livre...
(quando realizado com crianças
é preciso uma previa
autorização dos adultos
responsáveis.
Honorários

´ Este, assim como todos os


outros, é um fator de grande
importância no tratamento
por ser um elemento de
contato.
´ É preciso falar sobre valores,
forma de pagamento e
assiduidade, assim como
reajustes.
´ A forma como cada um lida
com o pagamento diz muito
e pode ser fator importante
durante o processo de
tratamento.
Horário e
Periodic idade
´ É preciso ter estabilidade no horário e
periodicidade;
´ Horário e assiduidade são elementos
estruturadores;, trazendo ao cliente uma
sensação de segurança;
´ Flexibilidade e exceções ficam
preservadas, desde que realmente
sejam exceções ou que façam parte de
um acordo prévio.
´ O tempo de duração da sessão
também deve ser combinado no
contrato.
Férias

´ Gerar uma certa estrutura


de férias, mesmo que não se
tenha datas definidas, ex:
saio de férias 2 vezes por
ano durante 15 dias cada
vez, uma no inverno e outra
no verão;
´ Assim que as datas
estiverem estabelecidas
cabe avisar aos clientes
para que assim possam se
organizar para esta
separação temporária.
Recontrato

´ Com o passar do tempo, as


vezes, se faz necessário um
recontrato, novas
configurações, ou até
mesmo retomar o que já
havia sido contratado;
´ Lembrando que o contrato
zela pela relação.
“Fazer terapia significa abrir-se
para se conhecer até atingir o
ponto de abrir-se com
curiosidade para desconhecer-se
com confiança. Significa propor-
se a flexibilizar de tal modo que
possa ampliar o diálogo, sempre
necessário, entre a mudança e a
permanência no modo de ser e
de viver, de modo que as
permanências não enrijecidas
sustentem as mudanças
atualizadoras”.

Ênio Brito Pinto

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