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Autoajuda e psicologia

Autoajuda

Por norma os livros de autoajuda tendem a ensinar, de forma rápida e barata, a lidar com
questões problemáticas da vida e a obter conquistas no foro profissional, amoroso e social.

O que se coloca em causa é que nem sempre as ideias propostas nestes livros são muito
realistas. Primeiro, porque normalmente essas questões e propõem soluções como se fossem
fórmulas mágicas, receitas que se aplicaram, com sucesso, em qualquer caso. Tratam questões
importantes de uma forma simplista, reducionista, como se só dependesse da vontade do
individuo conseguir o que se quer, muitas vezes utilizando-se conceitos da psicologia,
vulgarmente distorcidos e banalizados.

Motivação pessoal e a autoestima são componentes fundamentais para a transformação


pessoal, contudo, tal não implica que possa ser examinado de forma trivial e generalista,
desconsiderando fatores como o contexto social, cultural, entre outros, do individuo. Se,
possivelmente, ocorrer alguma transformação, o efeito não poderá ser duradouro, pois não
provocou uma transformação verdadeira.

Psicologia

É uma ciência que estuda as emoções e os comportamentos humanos, fundamentada em


técnicas e dados empiricamente comprovados. Tem uma visão do individuo como um ser
único, mas não desconsidera o facto de que este está inserido numa sociedade, respeitando as
suas particularidades, o seu contexto social, cultural e até mesmo económico, elementos que
devem ser considerados na solução dos seus conflitos.

Durante um processo terapêutico, o individuo é convidado a construir com o psicólogo o seu


próprio caminho para se investigar, se conhecer. Não é induzido e não recebe receitas prontas.
O psicólogo irá funcionar como um facilitador do processo e o individuo irá, de maneira livre e
genuína, lidar com as suas questões, podendo pensar e repensar o significado das mesmas,
contruir, e modificar os caminhos, resolver dúvidas e angustias que surgem ao longo do
processo; tem a possibilidade de lidar com as suas dificuldades, de encarar os seus problemas,
sempre contando com o apoio profissional. Porém, aprende a conhecer-se e a adquirir uma
autonomia emocional, para que possa entrar em contacto com as suas questões, aceitá-las
como suas e assim poder transformá-las de maneira duradoura.

Quais as diferenças relevantes entre psicologia clinica e autoajuda?

Quais são as preocupações do psicólogo no seu trabalho terapêutico?

O que faz o psicólogo clinico na sua prática profissional?


Como a auto-ajuda é uma área de difícil definição, indo de livros que falam sobre psicologia
para leigos até livros místicos, esotéricos, com fórmulas mágicas é um pouquinho complicado
demarcar um limite a separar uma área da outra. Pois, a auto-ajuda acaba incorporando
conhecimentos e práticas da psicologia em seu texto – para ficar mais científica.

No Código de Ética da Psicologia, podemos ler que o psicólogo apenas usará técnicas e
procedimentos que tenham comprovação científica. Tudo o que ficar de fora da ciência, não
deve ser, portanto, utilizado. Chegamos então a uma primeira distinção.

O objetivo de todo processo terapêutico é o autoconhecimento. Com a psicologia clínica


descobriu-se que os nossos sintomas, os nossos problemas, o nosso sofrimento surgem e
crescem a partir de fontes inconscientes. Quer dizer, causas desconhecidas. (Se se quer pensar
de outra perspectiva, podemos dizer que as causas podem ser objetivas, através de relações
do meio ambiente, mas que também são desconhecidas ou não controladas ainda pelo
organismo).

Então, podemos concluir, que o grande objetivo da clínica (se reformularmos a ideia geral
sobre o tema) é que o paciente possa se auto-ajudar. Que ele mesmo se ajude sem a
necessidade da presença de seu psicólogo. Este seria também o objetivo da auto-ajuda, e, por
isso mesmo, é o que a faz vender milhões de livros. A oferta fácil e rápida e prática de que a
mudança pode ser feita.

Embora em geral a auto-ajuda não seja prejudicial, ela pode ser falsa. Prometer algo e não
cumprir. Quantas pessoas não leem livros e livros e livros de auto-ajuda sem que a mudança
realmente ocorra? Mas algo pode sim mudar nesse processo de leitura…

Mas para realmente mudar, e principalmente em casos mais graves, a ajuda inicial do
psicólogo é fundamental. Não só porque os conhecimentos e técnicas são fundamentadas,
mas porque a pessoa no momento não consegue ela mesma fazer a própria mudança ou até
enxergar aonde está o problema. Contudo, como disse, com o tempo todo o objetivo da clínica
é fazer com a pessoa possa se auto-ajudar, se autoconhecer sozinha.

Enquanto ciência a psicologia se fundamenta em provas e resultados que evidenciam sua


resolubilidade, já os livros de auto ajuda baseiam-se, em geral, em discutir questões
abrangentes, muitas vezes traduzidos de outras culturas, sem levar em consideração o
contexto socio cultural, sendo reducionistas em sua visão do homem. Assim, por tais razões
explícitas, a psicoterapia e os livros de auto-ajuda seguem cada um com sua finalidade e seus
objetos totalmente distintos.

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