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MÓDULO 1

INTRODUÇÃO À TCC
História e Filosofia
Olá, tudo bem? Nesta primeira aula, quero falar um pouco sobre o que é a Terapia
Cognitivo-Comportamental, no que ela se inspira e um pouco também da sua história, como ela se
desenvolveu.

Pegando o nome da teoria, podemos já saber como ela trabalha. Cognitivo vem de cognição e
comportamental de comportamento. Se pudermos falar de maneira bem simples, ela é uma terapia que
estuda as cognições dos indivíduos e os seus comportamentos.

Ao mesmo tempo, a sua intervenção terapêutica é feita justamente nas cognições e nos
comportamentos.

Sendo um pouco mais específico, A Terapia Cognitivo-Comportamental é definida como uma


psicoterapia que é baseada no Modelo Cognitivo.

Mais a frente no curso, falarei com mais detalhes sobre o Modelo Cognitivo. O que você precisa saber
agora é que ele é a base da terapia cognitiva e é onde focamos nossa atuação para a melhora dos
sintomas e, consequentemente, dos transtornos dos clientes.

Basicamente ele nos mostra que a maneira que as pessoas percebem, enxergam as situações está mais
relacionada com suas reações emocionais e comportamentais do que a situação em si.

Então, as cognições do indivíduo influenciam em suas respostas. E dependendo dessas respostas, ele
pode se manter em seu problema ou transtorno.
Trabalhamos então com este modelo cognitivo fazendo o cliente enxergar as situações mais
claramente. Os ajudamos na identificação, nomeação, avaliação e a responderem a seus
pensamentos automáticos disfuncionais.

Na TCC utilizamos várias técnicas diferentes. Desde técnicas cognitivas e comportamentais, até técnicas
de outras linhas terapêuticas que funcionam no modelo cognitivo do cliente.

Muitas pessoas sabem da eficácia da TCC e aí começam a procurar as técnicas para aplicarem em
sua prática clínica ou se autoaplicarem. Uma coisa que preciso falar é que isso não funciona. Pelo
menos, não funciona como poderia funcionar.

Imagine que você tem um carro que está quebrado. Se você ter a ferramenta necessária para
arrumar esse carro, você vai conseguir fazer isso? Ou você tem que saber arrumar o carro primeiro?

Considero que a TCC é a mesma coisa. Você pode saber todas as técnicas do mundo. Se você não
souber como usá-las, o motivo delas serem eficazes e quando utilizá-las, não adianta. Então, antes de
buscar técnicas sem parar, busque aprender a teoria.

Se você estiver com essa mentalidade, esse curso te ajudará muito. Se o seu objetivo é só reproduzir
técnicas, mesmo que tenhamos técnicas aqui, não será tão benéfico para você.

A TCC surgiu no início dos anos 60 quando Aaron T. Beck desenvolveu um novo método para
compreender e tratar clientes com problemas emocionais.

Como citado anteriormente, o Dr. Aaron T. Beck desenvolveu a Terapia Cognitiva ou Terapia
Cognitivo-Comportamental na década de 1960. Beck é Psiquiatra e trabalhava na Universidade da
Pennsylvania.
Como ele estudou e trabalhou com psicanálise, desenvolveu vários experimentos para testar os
conceitos psicanalíticos da depressão. Apesar de esperar que sua pesquisa validasse os conceitos
fundamentais da psicanálise, encontrou o oposto.

Em busca de suas provas em favor da psicanálise, começou a procurar maneiras de conceitualizar a


depressão. Descobriu que pacientes deprimidos vivenciavam uma corrente de pensamentos negativos
que pareciam aparecer espontaneamente. Mais a frente, nomeou-os de Pensamentos Automáticos e
descobriu que eles caiam em três categorias: ideias negativas sobre si mesmos, o mundo e o futuro.

Ele observou que em seus pacientes havia um transtorno do pensamento no centro dos problemas
psiquiátricos como a depressão e ansiedade. O transtorno se apresentava dependendo da maneira
como os pacientes interpretavam determinadas experiências.

Quando identificava essas interpretações disfuncionais e propunha alternativas, explicações mais


realistas, descobriu que produzia uma redução rápida dos sintomas nos pacientes. O treino dos
pacientes nessa habilidade cognitiva de questionamento e desenvolvimento de respostas alternativas,
os ajudavam a manterem a melhora.

Além disso, a mudança de foco para os problemas do aqui e agora mostrou produzir um alívio quase
total dos sintomas em um período de 10 a 14 semanas.

Beck foi influenciado pelos trabalhos de Albert Ellis (TREC -Terapia Racional Emotiva Comportamental)
e George Kelly para montar a base de sua teoria cognitiva. Depois, foi também influenciado pela
terapia comportamental vendo o resultado positivo que a exposição in vivo e os experimentos
comportamentais promoviam em pacientes ansiosos.
Ele chamou esse método ou teoria de Terapia Cognitiva (TC) e depois de perceber a eficácia do
modelo comportamental, introduziu o uso dos experimentos comportamentais e exposições. Redefiniu
então sua teoria como Terapia Cognitivo-Comportamental. Hoje, TC e TCC são utilizadas como
sinônimos. Ao mesmo tempo, Terapias Cognitivas é um termo que engloba diversas linhas diferentes
das chamadas segunda e terceira onda das Terapias Cognitivas.

Na primeira onda, temos a teoria comportamental. Na segunda, temos a Terapia


Cognitivo-Comportamental e a Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC). A terceira onda é
composta de várias outras linhas que derivam da TCC de Beck, expandindo a teoria e acrescentando
técnicas. Algumas linhas da chamada Terceira onda são: Terapia do Esquema, Terapia Cognitiva
Processual, Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), Terapia focada na Compaixão, Terapia
Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) e Terapia Comportamental Dialética (DBT).

Filosofia da Terapia Cognitivo Comportamental

A terapia cognitiva tem suas raízes na filosofia estóica ou estoicismo. Quando vemos o funcionamento
da Terapia Cognitivo-Comportamental, conseguimos ver que tanto Albert Ellis, quanto Aaron Beck
foram influenciados pelo estoicismo, em particular, Epiteto.

O estoicismo foi por muito tempo a filosofia de vida dominante, principalmente durante o império
romano. Ele influenciou grandes pensadores, bem aqueles que gostamos de usar frases como Thomas
Jeffersson e George Washington. Junto com eles, os fundadores da TCC, também foram influenciados.
A TCC, ao invés de se preocupar tanto com o passado, ela se preocupa mais com o que estamos
fazendo no agora, com nossos pensamentos e comportamentos. Nós não podemos controlar muita coisa
em nossa vida, mas como lidamos com nossos pensamentos e quais comportamentos temos frente a
qualquer situação, estão sob nosso controle.

Na filosofia estóica, essa também é a linha de pensamento principal.

Uma coisa bacana de se falar é que filósofos antigamente eram vistos como médicos da alma.
Quando tínhamos algo que nos incomodava, quanto tínhamos uma doença da alma e queríamos
ajustar as coisas em nossa mente, buscávamos um filósofo. E isso não é muito diferente do que um
Psicoterapeuta faz.

Muitos filósofos da antiguidade se interessavam mais pela busca da lógica e sentido das coisas do
que pela prática. A maioria dos estóicos já estavam mais interessados em aplicar as ideias no dia a
dia.

Assim como no estoicismo, nós da Terapia Cognitivo-Comportamental não queremos apenas catalogar
as coisas que acontecem em nossa mente. Não somos bibliotecários. Nós queremos aplicar as ideias
em nossa rotina, sair da teoria para a prática. Ao invés de bibliotecários, guerreiros da nossa
vida, buscando mudanças.

Outra parte interessante do estoicismo é a procura por uma boa relação com sua Alma, com seu Eu
Interior. Na terapia cognitivo-comportamental, principalmente quando trazemos a parte da aceitação,
trabalhamos muito essa questão de ter uma melhor relação com nossos pensamentos, emoções,
sentimentos e sensações.
Quando paramos de lutar com nossos pensamentos e emoções, quando aceitamos a sua presença,
podemos agir para alterar nosso foco e ter comportamentos mais funcionais que nos trazem uma
melhor qualidade de vida. Ao mesmo tempo, agradamos nosso eu virtuoso, a nossa melhor versão, o
eu que queremos ser.

No estoicismo, procuramos fazer nosso melhor, independente do resultado. Nessa parte, a parte
comportamental da TCC aparece. Através dos experimentos comportamentais, nós estimulamos nossos
clientes a terem comportamentos que eles temem sem ligar para o resultado, mas para a sua tarefa.

Isso ajuda o cliente não se envolver tanto com seus pensamentos sobre o resultado, focar no que ele
pode controlar, que é o comportamento, ir em busca do que ele deseja, atingir sua melhor versão e
aceitar qualquer resultado que apareça.

Não podemos esquecer também de falar da influência de Sócrates, que traz o nome para a
principal técnica da terapia cognitivo-comportamental, o método socrático ou questionamento
socrático.

O método socrático, vem do método que o filósofo grego Sócrates utilizava para ensinar seus alunos,
chamado de diálogo socrático. É um método de pensamento filosófico e de ensinar conhecimento
através de um questionamento.

O método foi formado da ideia de que seres humanos possuem uma informação inicial sobre tudo em
suas mentes e, através do método socrático, uma pessoa não é ensinada algo novo, mas ajudada a
encontrar esse algo novamente. Seria revelar o conhecimento existente que uma pessoa já tem.
O método socrático é definido por Beck e Dozois como um método de descoberta guiada onde o
terapeuta faz uma série de perguntas cuidadosamente sequenciadas para ajudar na definição de
problemas, auxiliar na identificação de pensamentos e crenças, examinar o significado de eventos,
avaliar as ramificações de pensamentos ou comportamentos particulares.

É considerado por muitos, o principal pilar da terapia cognitivo comportamental, por isso, muitas
vezes, nem é considerado uma técnica, já que se faz uso dele durante todo o processo terapêutico.

A ideia por trás do questionamento socrático é trazer a tona o que o paciente está pensando e
direcionar esse pensamento para algo mais funcional, ao invés de o terapeuta dizer o que ele
acredita que o paciente está pensando.

Um mantra comum para ser usado por terapeutas cognitivos, para estarem sempre cientes de utilizar o
questionamento socrático nas sessões é: “pergunte, não fale”

Para resumir então, a Terapia Cognitivo-Comportamental desenvolve duas ideias estoicas centrais. A
primeira é que nossa crença sobre a nossa situação é a responsável pelo nosso estado psicológico. A
segunda é que temos que fazer o que podemos, mas se a situação estiver além nosso controle, é
melhor aceitar. Na pior das hipóteses, nossa crença sobre a situação que nos encontramos,
permanece sob nosso controle. Podemos, no mínimo, escolher como ver nossa situação.
Taoismo e Budismo

Ao contrário da lei da gravidade ou da primeira lei da termodinâmica, não há, por exemplo, uma lei
universal da natureza que estipula que todos devem nos tratar bem e que nosso ambiente deve
sempre ser agradável para nós. Por isso, se incomodar pelas coisas ou pessoas não agirem como nós
esperamos, ou como elas “deveriam agir”, é inútil.

Somente através de um temperamento equilibrado podemos corrigir julgamentos


errôneos que resultam de nossas emoções. Se nós somos perturbados por uma situação,
temos que nos perguntar se há algo que possamos fazer sobre isso. O que está sob
nosso controle é o poder de nossa vontade. Se pudermos fazer algo para melhorar
nossa situação, devemos agir de acordo. No entanto, se o situação está além do poder
de nossa vontade, então é melhor não sermos perturbados por isso, dado que não há
nada que possamos fazer sobre isso. ~ Edward Murguia & Kim Díaz (Philosophical
Foundations of Cognitive Behavioral Therapy)

A Compreensão Taoista do processo de viver, como uma atividade que pode ser melhorada com a
prática, e a ideia de se sentir em harmonia com o universo se une bem com a Terapia
Cognitivo-Comportamental, sua metodologia prática e de aceitação do que não temos controle.

Para o Taoista, nós e o universo estamos em constante processo de transformação. Isso nos impede de
chegar a conclusões sobre a natureza das coisas. Devido à nossa capacidade de categorizar, temos a
tendência de permitir que nossas categorizações superem nossa experiência do presente para tentar
encaixar nossa experiência em nossas noções preconcebidas de como as coisas deveriam ser.
Quando trazemos a Terapia Cognitivo-Comportamental, a nossa mania de rotular os outros, as
situações e nós mesmos, geram reações desnecessárias que nos atrapalham e nos causam transtornos
psicológicos.

No Budismo, uma escritura tradicional expressa: “a causa última do desejo e do sofrimento é uma visão
equivocada do eu". O Budismo explica que o problema de acreditar que existe um eu permanente,
que as coisas e pessoas são fixas, é que isso resulta em nos levarmos muito a sério. Ficamos então
encanados desnecessariamente e sofremos por nada.

A Preocupação excessiva com o eu geralmente nos leva a tentar controlar outras pessoas ou situações
que estão fora de nosso controle. Sentimos uma quantidade prejudicial de ansiedade, desejando que
tudo siga como esperamos, ou ficamos fissurados com a ideia de que todas as nossas necessidades e
desejos devem ser satisfeitos.

Se você está acompanhando até agora, deve conseguir ver como essas ideias se relacionam com a
Terapia Cognitivo-Comportamental. Para o Budismo, nós somos o produto de muitas experiências, o
que se relaciona com a formação de nossas crenças centrais que falarei mais a frente.

O budismo nos encoraja então a sentir equanimidade e compaixão por todos os seres e entender
que eles são, em parte, o produto de uma série de experiências passadas e condições que os
levaram a se comportar dessa maneira.

Outra ideia discutida no Budismo é nosso costume de renunciarmos à riqueza da presente, desejando
constantemente obter sucesso no futuro ou revivendo o passado.
Existencialismo

A Terapia Cognitivo-Comportamental adota uma abordagem existencial onde espera um trabalho


ativo por parte do cliente. Mesmo que tenhamos um histórico de ser um certo tipo de pessoa, podemos
optar por trabalhar para criar mudanças profundas e duradouras na maneira como pensamos, agimos
e sentimos sobre os outros, as situações que nos encontramos e nós mesmos.

Um dos princípios existencialista é que os seres humanos não possuem propriedades fixas. A
identidade de uma pessoa não é definida pela natureza ou cultura, e nem existe uma essência
predeterminada que ela receba, que vai determinar o que ela deve ser ou fazer. A ideia é que
existir significa criar nossa identidade à medida que vivemos e fazemos nossas escolhas.

A identidade dos indivíduos é criada então na medida em que eles agem. Como é central para o
existencialismo o conceito de liberdade, ele enfatiza que os indivíduos precisam perceber que têm
escolhas.

Apesar da Terapia Cognitivo-Comportamental crer que nossas experiências, culturas e tudo mais
influenciam sim em nossa personalidade, nós seguimos acreditando em nosso poder sobre escolher ser
e agir como quisermos. Assim, se estamos mal, podemos escolher melhorar tendo comportamentos mais
funcionais. Se estamos sofrendo, podemos escolher interpretar as coisas de outra maneira.
Pesquisas e Eficácia
Uma das vantagens da TCC é que como uma forma de terapia, foi extensivamente pesquisada. Ela se
demonstrou eficaz com um número considerável de transtornos como os Transtornos Depressivos,
Transtornos da Ansiedade (Ansiedade Generalizada, Ansiedade Social, Fobias Específicas, Transtorno
de Pânico, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e Transtornos
Alimentares (Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar).

Não posso deixar de falar que ela é uma das terapias de escolha para Transtorno Bipolar,
Transtornos de Personalidade, uso e abuso de substâncias, e problemas médicos com componentes
psicológicos, como dor crônica e enxaqueca. É efetiva também no combate de problemas de
relacionamentos amorosos, sociais, familiares e do trabalho.

Consegue ainda ajudar pacientes/clientes com dificuldade de foco, que buscam um maior
desenvolvimento pessoal e autoconhecimento.

Diversas pesquisas mostram que o uso combinado de TCC com medicação é o ideal para vários
transtornos mais severos, pois ajuda na melhora mais rápida e uma melhor manutenção da melhora
depois do fim do tratamento.

Apenas a medicação, há uma melhora, mas com baixa manutenção com o fim do tratamento. Apenas
a TCC, apresenta uma melhora mais demorada do que a combinada (TCC e Medicação).
A terapia combinada também é mais eficiente na manutenção dos ganhos terapêuticos, depois do fim
do tratamento. Tudo isso porque os pacientes/clientes aprendem habilidades que continuam a utilizar,
mesmo depois que terminam seu tratamento. Aqui tem uma meta-análise que nos mostra isso:
http://bit.ly/metaanalisetcc

Há problemas que não são curáveis, como doenças terminais. Mesmo assim, nesses casos, a terapia
cognitiva pode melhorar a qualidade de vida do paciente. Ela faz isso através da Aceitação e do
combate aos pensamentos e comportamentos disfuncionais que causam ainda mais sofrimento e/ou
prejuízos.

A TCC é considerada uma abordagem confiável de primeira linha para transtornos de ansiedade. É a
primeira abordagem que deve ser considerada para o tratamento de transtornos de ansiedade
(Hofmann et al., 2012). Enquanto a maioria dos estudos usa uma população adulta, a TCC também
demonstrou melhorar substancialmente os sintomas de transtornos de ansiedade em crianças e
adolescentes, onde a melhora foi mantida quando medida dois anos após o término do tratamento
(Ishikawa, Okajima, Matsuoka, & Sakano, 2007).

No outro extremo do espectro etário, uma revisão de pesquisas que examinaram estudos em que a
idade média dos clientes era de pelo menos 60, descobriu que a TCC também é eficaz no tratamento
de transtornos de ansiedade em adultos mais velhos (Hendriks, Oude Voshaar, Keijsers, Hoogduin, &
van Balkom, 2008). Os estudos examinaram o uso da TCC em contextos reais e descobriram que ela é
um tratamento eficaz. (Stewart & Chambless, 2009).
Focando em transtornos de ansiedade específicos, se descobriu que a TCC é um tratamento eficaz
para o transtorno do pânico, com algumas pesquisas sugerindo que pode ser superior à medicação
(Mitte, 2005). A TCC demonstrou também resultar em um grande grau de melhora do transtorno de
ansiedade generalizada (Cuijpers et al., 2014), além de reduzir o mais proeminente sintoma de
preocupação do transtorno (Hanrahan, Field, Jones, & Davey, 2013).

Pesquisas também descobriram que a TCC é altamente eficaz no tratamento de fobia social (Powers,
Sigmarsson & Emmelkamp, 2008), com clientes experimentando melhores resultados após o tratamento
ser interrompido em comparação com clientes que receberam apenas medicação (Fedoroff & Taylor,
2001).

Para o transtorno de estresse pós-traumático, a TCC envolvendo exposição a estímulos relacionados


ao trauma, como exposição imaginária à memória traumática e exposição in-vivo a estímulos
relacionados ao trauma no ambiente, tem se mostrado eficaz e superior a tratamentos que não são
focados no trauma como aconselhamento não-diretivo e psicoterapia psicodinâmica (Bisson & Andrew,
2008).

Além disso, outras pesquisas descobriram que a TCC leva a uma melhora significativa em fobias
específicas, com o tratamento envolvendo exposição in vivo, levando a uma melhora maior do que a
exposição imaginária ou de realidade virtual (Wolitzky-Taylor, Horowitz, Powers, & Telch, 2008).
Finalmente, a TCC, que se concentra em exercícios de exposição, evitando que os clientes usem
compulsões, provou ser um tratamento altamente eficaz para o transtorno obsessivo-compulsivo
(Olatunji, Davis, Powers, & Smits, 2013).
Quando comparamos TCC com o uso de antidepressivos e de ansiolíticos, podemos ver que a TCC
sozinha apresenta uma maior taxa de melhora quando comparado com os dois tipos de medicação.

Na recaída, a TCC apresenta a menor taxa de recaída, provavelmente por ser uma terapia que
busca ensinar ao cliente técnicas e maneiras mais funcionais de enfrentar a vida. Quando o cliente
aprende as habilidades, ele pode levá-las para toda vida, diminuindo sua recaída. Na medicação
ansiolítica, podemos ver uma alta taxa de recaída e isso, acontece provavelmente pelo fato do cliente
não melhorar de verdade.

É muito comum, no tratamento para transtornos de ansiedade, clientes desenvolverem uma


dependência aos medicamentos ansiolíticos, não estou nem falando de uma dependência química, mas
psicológica. Eles utilizam a medicação para enfrentar seus problemas e medos, e não aprendem as
habilidades necessárias para o enfrentamento. Não aprendem então sua a real capacidade de
superação. Com isso, ao ser retirado a medicação, ele perde a sua principal arma contra a ansiedade.

Como podemos então ter uma resposta igual, ou melhor, com a terapia cognitiva, isso nos mostra que
o uso da medicação não se faz necessário, mas, como falado também, o uso combinado, pode
funcionar principalmente para casos graves onde as intervenções da terapia podem não conseguir
nem mesmo serem praticadas, sendo prejudicadas pelo intenso sofrimento emocional que a medicação
poderia ajudar a sanar.
Diferenciais
A psicologia abrange inúmeras teorias e formas de terapia, cada uma delas com suas peculiaridades,
sendo bem distintas nas suas bases teóricas, na visão de como o cliente/paciente funciona e de como
lidar com seus transtornos e dificuldades. A Terapia Cognitiva é uma dessas teorias.

Vou falar agora sobre 7 diferenciais da TCC que faz ela se destacar entre algumas (senão entre
todas) linhas de terapia.

A aliança terapêutica é o início de todo tratamento bem-sucedido em qualquer linha terapêutica, mas
na terapia cognitiva ela ganha um espaço ainda mais especial. Sem uma boa relação terapêutica os
questionamentos podem não acontecer da melhor maneira, o cliente pode hesitar em responder o que
pensa, em dar feedbacks e consequentemente, o tratamento será afetado. Esse, eu diria que é o
primeiro diferencial. Uma boa relação, fugindo da imagem de psicólogo sisudo pode ser o fator
determinante para um bom trabalho na Terapia Cognitivo-Comportamental.

O segundo diferencial é a colaboração entre o terapeuta e o cliente. A colaboração ajuda no


trabalho de busca das metas do cliente como um time. Duas cabeças pensando sobre um mesmo
problema e colaborando em possíveis soluções, melhora a eficácia do tratamento e ajuda no
aprendizado do cliente para que ele se torne seu próprio terapeuta.

Outro diferencial é o desenvolvimento de metas de tratamento. As metas ajudam a dar um


direcionamento no tratamento, além do sentimento de conquista e motivação a cada meta
conquistada. Ajudam também os clientes a verem seus objetivos como algo possível de serem atingidos
e os resultados como algo real.
A terapia cognitiva tem seu foco no aqui e agora. Isso ajuda os clientes a lidarem com seus problemas
atuais e desde sua concepção, tem demonstrado que, com isso, eles consequentemente melhoram a sua
relação com o seu passado e futuro.

Um outro diferencial da TCC é a conceituação de caso de cada cliente. Na TCC, vemos cada cliente
como único, por conta disso, montamos uma conceituação para cada caso. Isso ajuda o terapeuta e o
próprio cliente a entenderem o seu funcionamento (por que ele pensa, sente e age de determinada
maneira e o que pode estar fazendo que está atrapalhando sua melhora ou piorando sua condição).
Com a Conceituação, sabemos também onde, quando e como trabalhar.

O sexto, mas não menos importante ponto da TCC é o chamado plano de ação. Antigamente
chamado de tarefa de casa, o plano de ação é algo definido em sessão para ser feito entre as
sessões. Pode ser um plano para que o paciente/cliente teste seus pensamentos, desenvolva novos
comportamentos/hábitos e/ou coloque em prática as habilidades e conclusões, discutidas e obtidas na
sessão.

O último diferencial é a estrutura das sessões. A estrutura ajuda o cliente a saber o que esperar de
cada sessão de terapia, a focar nas prioridades e atingir os resultados mais rapidamente. Apesar de
haver uma estrutura recomendada, o terapeuta pode alterá-la conforme a necessidade do caso.

É importante falar que a TCC é extremamente flexível. A conceituação, a estrutura e afins, não são
fixos, podendo ser remodelados durante todo tratamento com base em novas informações e nos
feedbacks do cliente.
Estrutura e a Interrupção
Falaremos mais detalhadamente sobre a estrutura das sessões posteriormente neste material, mas
para que você tenha uma ideia de como funciona esta estrutura, vamos falar um pouco sobre ela
agora. Toda sessão de terapia cognitiva possui um começo, meio e fim.

No começo das sessões, nós cumprimentamos o cliente, fazemos uma ponte com a sessão anterior,
restabelecemos a relação, verificamos o humor e coletamos informações para a agenda da sessão.

No meio da sessão, selecionamos um dos itens da agenda, coletamos mais dados do item selecionado,
montamos um modelo cognitivo do item, planejamos uma estratégia, implementamos a estratégia e
avaliamos quão eficaz ela foi. Um resumo então é feito do que foi discutido e aprendido pelo cliente,
e um plano de ação é criado colaborativamente. O Plano de ação é desenvolvido em todas as
sessões, para que o cliente coloque em prática entre os encontros o que foi discutido e/ou aprendido.

No final da sessão, pedimos um feedback (da conduta do terapeuta e da sessão), fazemos um


resumo da sessão como um todo e finalizamos o plano de ação da semana.

Como dito anteriormente, a estrutura ajuda o cliente a saber o que esperar de cada sessão de
terapia, a focar nas prioridades e atingir os resultados mais rapidamente. Mesmo assim, é comum
muitos terapeutas terem pensamentos automáticos em relação à estrutura das sessões que os impedem
de aplicá-la.
Alguns pensamentos mais comuns são:

“Eu acho que deveria apenas deixar o cliente/paciente falar de maneira aberta”

“Se eu estruturar a sessão eu posso perder algo importante”

“Os clientes/pacientes não vão gostar”

“O cliente se sente mais compreendido quando ele solta tudo o que precisa”

É um equilíbrio. Se você passar a sessão inteira sem uma estrutura e o cliente conseguir falar tudo o
que ele quer, no final da sessão, o cliente pode se sentir melhor (ou pior - já que ele pode ficar
falando apenas coisas negativas durante toda a sessão). Só que mesmo se o cliente se sentir melhor
colocando tudo para fora, ele termina a sessão sem saber o que fazer durante a semana e vai para
casa com os mesmos problemas com que entrou na sessão.

Queremos aproveitar o máximo de tempo junto ao cliente. É importante falar que apesar de ser
estabelecida uma agenda para a sessão, esta pode ser modificada caso apareça algo de maior
prioridade para o cliente.

Interrompendo Clientes

Clientes nem sempre sabem o que é ou não importante para você saber sobre o que aconteceu
durante semana ou na situação que ele está descrevendo.
Se você não interromper o cliente e direcionar sua fala com questionamentos, muito tempo da sessão
pode passar sem que você consiga trabalhar com ele. Sem que você consiga identificar corretamente
seus pensamentos automáticos disfuncionais, seus comportamentos compensatórios e outros dados
importantes, que serão discutidos mais à frente. Assim, acaba evitando um bom trabalho.

Você quer que no final da sessão o cliente consiga não apenas ter discutido sobre o problema, mas
que ele também tenha a oportunidade de fazer uma resolução de problemas, observar e avaliar seus
pensamentos automáticos disfuncionais.

Em seu dia a dia, seria talvez uma falta de educação interromper seus amigos, familiares ou
professores enquanto eles estão falando, mas a terapia é uma situação diferente. Clientes estão vindo
até você por sua especialidade em ajudar pessoas a se sentirem melhor.

A interrupção pode ser necessária para que você colete os dados e faça as intervenções necessárias
para essa melhora.

Se for importante para você, você pode falar para o cliente na sessão de avaliação que você
provavelmente o interromperá bastante durante as sessões, para que você consiga anotar o que
precisa e para que vocês mantenham o foco. Deixe claro apenas, que se isso for um problema para o
cliente, que ele te avise.

Quando você interrompe e guia a sessão, você mostra para o cliente que você, terapeuta, sabe o que
fazer e, muitas vezes, clientes que se sentem fora de controle, se aliviam por isso.
Alguns clientes podem se sentir muito incomodados com a interrupção. Nestes casos, busque o
feedback do cliente e adapte a sessão. Vocês podem combinar por exemplo de deixar alguns minutos
para que o cliente fale livremente.

Muito importante! Não tenha medo de parecer humano para seu cliente. Podemos esquecer coisas
ou até mesmo escutar ou entender errado. Falar isso para o cliente não tem problema algum. Use
a interrupção também para conferir se todos os dados estão corretos e se entendeu o que o
paciente está falando.
Necessário um TCC ter
O que é necessário um terapeuta cognitivo ter?

Achei legal falar um pouco sobre o que eu acredito que são características essenciais para você ser
um bom terapeuta cognitivo.

Em primeiro lugar, bom falar que para se ter o título de especialista em Terapia
Cognitivo-Comportametnal, você precisa fazer um pós-graduação de especialização em Terapia
Cognitvo-Comportamental. Normalmente é um curso de 2 anos, feito por uma instituição reconhecida
pelo MEC.

Antigamente, várias profissões podiam fazer essa especialização, mas atualmente, na maioria dos
cursos, somente pessoas formadas em psicologia e medicina podem fazer a inscrição. Em alguns locais,
se você for estudante de psicologia, dependendo do caso, você também pode conseguir fazer a
especialização.

No caso da Medicina, acredito que é uma especialização focada em psiquiatras, mas não sei se há
uma restrição que impeça médicos não psiquiatras de fazerem.

Dito isso sobre o título de especialista, qualquer pessoa formada em psicologia e, na realidade,
qualquer pessoa que se intitula psicoterapeuta, pode fazer uso da Terapia Cognitivo-Comportamental
em seu atendimento clínico. Isso porque a TCC não é regulamentada no país.

Agora, independente se você é especialista ou não em Terapia Cognitivo-Comportamental, o que eu


considero necessário para que você seja o melhor Terapeuta Cognitivo Possível?
Conhecimentos Gerais: importante começar falando que não é necessário saber outras abordagens
da Psicologia. Dito isso, quanto maior conhecimento você possui sobre psicologia, filosofia e o
comportamento humano, mais fácil você consegue entender, passar seus conhecimentos e aplicá-los.

Conhecimento da Teoria e não só de técnicas: voltando ao que eu falei algumas páginas atrás.

Praticar a TCC: praticar em si mesmo, no dia a dia o que você está aprendendo sobre a TCC pode
ajudar a saber dos desafios que o cliente vai enfrentar e descobrir como contorná-los.

Escuta: muito importante para sacar quais pensamentos mais importantes de se questionar e em qual
momento aplicar técnica x ou y.

Empatia: te ajudará a compreender que emoção e comportamento do cliente sempre fazem sentido
quando entendemos as suas cognições.

Organização: faça o que você vende. Aprenda a ser mais disciplinado e organizado com suas coisas.
Estude cada caso e busque soluções em livros, artigos ou supervisões. Saber Inglês é um Bônus aqui
que pode ajudar muito na hora de buscar novas informações e conhecimentos.

Paciência: com o Paciente e consigo. Vá com calma e entenda que você pode errar. Ser justo com
você mesmo te ajudará auxiliar seu paciente a fazer o mesmo.

Entenda que pensamentos não são fatos e não se leve tão a sério.

Aprenda a Aceitar que não temos controle sobre muitas coisas da nossa vida.

Seja Humano e um Modelo: Saia do altar e puxe o paciente do poço. Use da Modelagem para
ajudar seu paciente.

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