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Material de aquecimento

5 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA


QUE UM PSICÓLOGO REALIZE UM
TRATAMENTO DE SUCESSO
O1
Identificar as situações em que o
paciente tem pensamentos ou reações
disfuncionais

O2
Desenvolver a autopercepção do paciente

O3
Desenvolver a relação terapêutica

O4
Conhecer técnicas e estratégias variadas

O5
Ajudar o paciente a ter consciência do que
foi feito para melhorar
ÍNDICE
Todo tratamento de sucesso na TCC tem início,
meio e fim. Não se preocupe com isso agora
porque eu falo mais a fundo dessa estrutura no
Treinamento em Terapia Cognitiva. Nesse
material aqui, eu quero que você entenda
algumas coisas que você precisa trabalhar
durante o tratamento para que você entregue
resultado pro seu paciente.

Lembre-se: O seu paciente te procura porque


ele quer um resultado, e para alcançar esse
resultado você vai precisar fazer algumas
coisas.
01
IDENTIFICAR AS
SITUAÇÕES EM QUE O
PACIENTE TEM
PENSAMENTOS OU
REAÇÕES
DISFUNCIONAIS
Algumas pessoas podem até mesmo ter
dúvidas sobre o que seria algo disfuncional.
Esta palavra diz respeito a algo que não é
funcional, que não tem nenhuma função
positiva em nossas vidas e algumas vezes pode
ser pior que isso, pode trazer mais dor e
transtornos.

Um pensamento funcional seria aquele


pensamento que nos traz emoções positivas ou
simplesmente nos mantém fazendo o que
precisamos fazer. É um pensamento que nos
motiva a realizar atividades que nos beneficiam
e dificultam usos de comportamentos que
afetam nossos relacionamentos de maneira
negativa.

Tendo isso em mente, um pensamento


disfuncional é o oposto. Ele é um pensamento
que gera emoções e sensações negativas,
muitas vezes fora de hora, que facilitam o uso
de comportamentos que nos prejudicam e nos
mantém em nossos problemas.

Um paciente com sintomas depressivos, por


exemplo, mantém seu humor deprimido quando
pensa constantemente, ou de maneira
ruminativa, pensamentos como: “Eu sou um
bosta”; “Ninguém gosta de mim”; “Eu não
consigo fazer nada”.

Ao mesmo tempo, ele pode ter pensamentos


disfuncionais que dificultam ele desenvolver
evidências contra seu pensar inicial, quando se
convence de que “não vale a pena eu sair de
casa, ninguém gosta de mim”; “eu não consigo
realizar a tarefa que preciso realizar”, “é melhor
eu ir dormir e ficar na cama o dia inteiro”.

Identificar as situações ou eventos que


despertam pensamentos disfuncionais de
nossos pacientes é essencial para que a gente
desenvolva uma estratégia eficaz contra cada
item do seu modelo cognitivo ou ciclo de
manutenção da dor.

Se há situações que se repetem e que sempre


geram pensamentos disfuncionais, podemos
tentar trabalhar com essas situações em si ou
pelo menos nos prepararmos para quando elas
acontecerem no futuro.

Quando não identificamos essas situações ou


eventos, temos um modelo cognitivo falho, sem
a parte inicial dele. Podemos estar ignorando
estratégias importantes que precisamos lidar
também.

Se tenho um paciente que come


exageradamente sempre que vê um bolo na
mesa da cozinha, lidar com essa situação, ao
evitar o acesso a doces, é essencial para o
processo de melhora dele.

Se tenho um paciente que fica muito mal e com


pensamentos ruminativos disfuncionais
sempre que entra no perfil do instagram da sua
ex-namorada, lidar com essa situação, ao
diminuir o uso do instagram ou bloquear o
acesso ao perfil da ex, pode ser essencial para a
melhora dele.

Sempre que temos um pensamento


disfuncional, emoção exagerada ou
comportamento disfuncional expressados pelo
paciente, é muito importante que a partir
desses itens, a gente construa um modelo
cognitivo daquele funcionamento.

Investigar todo o contexto e consequências de


cada pensamento disfuncional nos ajudará a ter
uma visão mais ampla do problema do paciente
e mais pontos significativos que podemos
tratar na psicoterapia.
02
DESENVOLVER A
AUTOPERCEPÇÃO DO
PACIENTE
A autopercepção é uma habilidade essencial
para conseguirmos mudar. Se o paciente não
consegue perceber onde ele está errando,
quais pensamentos disfuncionais influenciam
seus comportamentos e sentimentos, quais
comportamentos ele precisa evitar, alterar ou
começar a realizar… se ele não consegue
realizar então a Autopercepção do seu
funcionamento, ele não vê a necessidade de
mudar ou não sabe o que ele preciso mudar.
Essa habilidade então, nada mais é que
perceber o seu funcionamento e suas
dificuldades. Quando o paciente desenvolve
então a autopercepção ele está muito bem no
processo de mudança.
Ele já não precisa do profissional para
identificar seus erros, pensamentos e
comportamentos que o prejudicam, ele já
consegue parar, perceber que está se
envolvendo em algo que o prejudica, e tomar as
ações necessárias para quebrar seu ciclo de
manutenção da dor.
Quando falamos na TCC que o paciente se
tornará seu próprio Terapeuta, esta habilidade
deve estar muito bem desenvolvida e pronta
para ser utilizada em seu cinto de habilidades
antes que ele receba a alta.
Se o paciente não consegue desenvolver a
Autopercepção, ele se torna cada vez mais
dependente do profissional, precisando de
chacoalhões frequentemente e ficará bem
difícil de evitar recaídas.
Desta maneira, o processo de psicoterapia
pode levar muito mais tempo para terminar ou
pode nunca terminar. Corremos o risco então
de nos tornarmos uma muleta para o paciente e
apenas uma dose semanal de desabafo.
Nós profissionais, precisamos ficar bem
atentos a isso e sempre estimular o
desenvolvimento e fortalecimento da sua
habilidade, tomando muito cuidado para não
guiar o tratamento de forma que somente a
gente fale o que o paciente sente, pensa e
como ele se comporta.
03
DESENVOLVER A
RELAÇÃO
TERAPÊUTICA
Beck diz que mesmo que alguns pacientes
possam parecer não se importar com a sua
relação com seu terapeuta e só querem mesmo
ferramentas e estratégias para lidar com suas
dificuldades, muitos deles só vão conseguir
isso se a aprendizagem acontecer em uma
relação de apoio e empatia.

A relação terapêutica é algo essencial em todas


as linhas de terapia, apesar dessa relação se
diferenciar de uma linha para outra, sem uma
boa relação terapêutica... não há terapia, pelo
menos não uma terapia eficiente.

Ela é definida na TCC como a qualidade pessoal


do paciente, a qualidade do terapeuta, e a
interação entre ambos.

Na TCC ela facilita muito que o paciente se veja


de uma maneira mais positiva, já que ele leva
mais em consideração o que o terapeuta fala,
ela ajuda na hora da exposição de seus conflitos
e pensamentos, já que ele confia que não
haverá julgamento, e o paciente estará mais
aberto para sugestões e propostas feitas em
sessão para serem trabalhadas na própria
sessão ou como exercício semanal entre as
sessões.

Em muitos transtornos ou casos específicos,


como transtornos psicóticos e de
personalidade, a relação terapêutica é o
principal foco a ser trabalhado na terapia.

Ela é sempre uma das primeiras coisas a ser


trabalhada, mas em alguns casos pode ser
necessária ser trabalhada por um longo tempo
antes de qualquer intervenção mais
significativa. Transtornos de personalidade,
adolescentes ou algumas crenças específicas
precisam de uma relação terapêutica forte para
algum progresso no tratamento.

Como a TCC trabalha muito com a colaboração,


sem uma aliança terapêutica decente,
acabamos mais por fazer uma coerção do que
colaboração. Ela ajuda na sinceridade do
paciente e terapeuta, faz com que o paciente
entenda que o terapeuta realmente se importa,
é genuíno em suas colocações e que estão os
dois juntos buscando a melhora como uma
equipe.

A relação terapêutica ajuda também na hora do


feedback, onde o paciente se sente mais à
vontade de dizer o que não gostou e o que
gostaria que fosse feito de diferente nas
sessões ou no tratamento.

Então, independente da linha a ser trabalhada,


sempre será necessário uma boa relação
terapêutica, algumas linhas podem tratar a
relação de outra maneira mas na terapia
cognitiva a relação é sempre horizontal, de
igual para igual, onde ambos possuem
conhecimentos específicos sobre o caso que o
outro não possui e como uma equipe, buscam a
melhora.

Nós podemos melhorar a relação terapêutica


tanto com o tempo, naturalmente, já que vamos
ficando mais familiarizados com o paciente e
ele com a gente, e podemos de forma ativa
fazer algumas coisas.

Ela pode melhorar se você demonstra ser


humano, não ser um ser superior, intocável;
pode melhorar com o uso de Autodeclarações,
quando for adequado; pode melhorar quando
você é mais autêntico com o paciente; quando
você ajuda o paciente atingir suas metas de
tratamento; ela melhora também quando
pedimos frequentemente o feedback para o
paciente, para que o tratamento seja adaptado
para seu funcionamento e mostrando que a
opinião dele importa.

Durante o próprio tratamento, conforme vamos


lidando com os pensamentos e crenças
disfuncionais do paciente, podemos acabar
lidando automaticamente com crenças que ele
tem sobre o tratamento, sobre você e qualquer
outra coisa que possa atrapalhar a relação
terapêutica.
Gerar boa relação gera um melhor trabalho que
gera um melhor resultado que gera uma melhor
relação terapêutica. É um ciclo muito bom para
se encontrar.
04
CONHECER TÉCNICAS
E ESTRATÉGIAS
VARIADAS
Quando trabalhamos com nossos pacientes,
uma coisa que faz grande diferença na nossa
capacidade de lidar com uma grande variedade
de problemas é o conhecimento de técnicas e
estratégias variadas.

Ao conhecer uma boa quantidade de


estratégias que podem ser utilizadas durante o
tratamento, eu consigo ter um repertório para
conseguir lidar com qualquer parte do ciclo de
manutenção da dor do meu paciente ou dos
modelos cognitivos de seus mais variados
problemas.

Mesmo que a maioria das técnicas e estratégias


da TCC envolvem as 3 grandes técnicas em
alguma capacidade - Questionamento
Socrático, Experimentos Comportamentais e
Cartão de enfrentamento - conhecer maneiras
diferentes de questionar, de desenvolver
experimentos e de registrar conclusões
importantes pode ajudar você entender ainda
mais a importância dessas 3 grandes técnicas e
aumentar a sua capacidade de raciocínio clínico
investigativo e estratégico.

Quando não conhecemos estratégias variadas,


podemos correr o risco de não entendermos
como o básico da TCC é importante e que se
desenvolvermos um melhor raciocínio clínico,
conseguimos adaptar qualquer estratégia para
qualquer paciente.
Podemos nos tornar reféns de protocolos para
cada tipo de caso e de ficarmos perdidos sem
saber o que fazer com a maioria dos pacientes
que não possuem um diagnóstico fechado.

Quero alertar aqui sobre essa questão de


técnicas e estratégias. Não é porque pode ser
importante conhecer estratégias diferentes,
que este deve ser o foco do psicoterapeuta.

Como sempre falo, as técnicas e estratégias


são ferramentas da TCC, não a base do
tratamento. Se não soubermos como o
paciente funciona e como lidar com seu
funcionamento, não adianta de nada sabermos
um trilhão de técnicas.
05
AJUDAR O PACIENTE A
TER CONSCIÊNCIA DO
QUE FOI FEITO PARA
MELHORAR
Durante todo o processo de tratamento, nós
ajudamos o paciente a reconhecer o papel que
ele teve em sua melhora. Logo nas primeiras
vezes que o paciente nos diz que a sua semana
foi melhor, nós podemos perguntar: “Porque
você acha que as coisas estão melhor?” -
dependendo da resposta do paciente, podemos
reforçar a responsabilidade dele nesta melhora
ou trabalhar com possíveis ideias de que a
responsabilidade é do mundo externo, da
medicação ou outras pessoas.

Muitos pacientes atribuem a sua melhora a


fatores externos quando eles dizem que “a
medicação começou a funcionar agora…”;
“meus filhos estão dando menos trabalho…”; “vir
na terapia tem ajudado, você me ajuda…”.

Quando isso acontece, podemos responder


“fico feliz que a medicação parece estar
funcionando, mas me diz uma coisa… não tem
nada que você fez de diferente nesta semana
ou pensou de maneira diferente nesta semana?”

Isso é importante para que ele comece a


reconhecer seu papel em sua melhora e
também para que ele não pense que há alguma
coisa mágica ou desconhecida envolvida com
sua melhora.

Mesmo que o paciente atribua parte de sua


melhora a si mesmo, isso vai ajudar ele lidar
com o seu senso de incapacidade e
desesperança, ajuda na construção de uma
maior confiança e torna mais provável dele se
envolver em atividades produtivas entre
sessões e quando a terapia terminar.

Ele reconhecer então o que fez para melhorar é


essencial para que ele continue fazendo essas
coisas e chegue cada vez mais perto do fim da
terapia.

Quando o paciente não reconhece o que ele fez


para melhorar, podemos acabar mantendo a
dependência dele em seus medicamentos ou
na psicoterapia.

Durante todo o processo do tratamento,


através da avaliação do humor, do feedback e
das avaliações periódicas, vamos ensinando o
paciente a perceber a sua melhora e qual o seu
papel nessa melhora.

Quando chegamos no fim do tratamento,


juntamos tudo isso e reforçamos o uso do seu
ciclo de manutenção saudável com suas novas
formas de pensar e agir.

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