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REVISÃO - Aconselhamento e Orientação em Psicologia

O aconselhamento originou-se com Frank Parsons, em 1909, com o objetivo de


promover ajuda a jovens em processo de escolha da carreira e em face à
emergência de novas profissões e ocupações devido à Revolução Industrial.
O foco do aconselhamento era, portanto, conhecer as principais inclinações
desses jovens para que eles pudessem ser encaminhados para ocupações
consideradas adequadas a esses perfis profissionais (Patterson e Eisenberg,
1988), tanto no cenário escolar como no organizacional, em uma clara
referência à teoria de traço e fator.
Nos primórdios dessa disciplina nos Estados Unidos da América nos anos da
década de 1950, o uso da teoria traço-fator definia um Aconselhamento
Psicológico (AP) preocupado com sua cientificidade, com um olhar
psicométrico e psicodiagnóstico do ser humano, posicionando o conselheiro
como alguém que, a partir de seu conhecimento especializado, orienta e
conduz o cliente a encontrar melhores formas de se adaptar ao mundo.
Teoria Traço-e-Fator: tendo Parsons como principal representante, é uma teoria
essencialmente normativa, que parte do princípio de que os indivíduos se
diferem nas habilidades, interesses e traços de personalidade, e cada profissão
requer pessoas com aptidões específicas, ou seja, “o homem certo no lugar
certo”, adequando os indivíduos às ocupações. O interessado, portanto, não
decide, mas aceita ou não o conselho do orientador educacional.
Genericamente, trata-se de uma experiência que visa a ajudar as pessoas a
planejar, tomar decisões, lidar com a rotina de pressões e crescer, com a
finalidade de adquirir uma autoconfiança positiva. Pode ser considerada uma
relação de ajuda que envolve alguém que busca auxílio, alguém disposto a
ajudar e apto para essa tarefa, em uma situação que possibilite esse dar e
receber apoio.
Outra definição clássica é de uma relação face a face de duas pessoas, na
qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional,
profissional, vital e a utilizar melhor os seus recursos pessoais.
O Aconselhamento é o processo pelo qual se dá a oportunidade de os clientes
explorarem preocupações pessoais, ampliando a capacidade de tomar
consciência e das possibilidades de escolha.
CARL ROGERS
Carl Rogers, ator fundamental nesse movimento crítico, desestabilizou a área
com seu entendimento de que um atendimento em AP deveria ser uma relação
de ajuda em um espaço acolhedor e permissivo, com o foco no cliente e não no
problema ou na busca por diagnósticos, com atitudes profissionais de empatia,
autenticidade, congruência interna e aceitação positiva do cliente e seus
conteúdos, o que criaria uma atmosfera facilitadora para o desenvolvimento da
pessoa e para o seu protagonismo nas decisões em sua vida.

 ACP:
A) Tendência atualizante
- Tendência inerente, presente em todos os seres humanos, a desenvolver-se
em uma direção positiva. Esta passa a ser a ideia central ao longo de todo o
seu pensamento, independentemente da denominação ou do foco de trabalho
que venha a assumir.
B) Percurso
- O que ocorreu é que o primeiro Rogers, o psicoterapeuta, foi se ampliando no
Rogers professor, facilitador de grupos, e o Rogers preocupado com processos
sociais e questões como a paz mundial, fazendo com que ele buscasse ampliar
sua teoria a esses vários campos.

 FASES:
A) Fase não diretiva (1940 -1950)
Nessa fase, as atitudes do terapeuta privilegiam a técnica da permissividade,
através de uma postura de neutralidade em que o profissional deveria intervir o
mínimo possível (Holanda, 1998). Segundo Wood (1994), o psicoterapeuta (ou
“conselheiro”, termo mais utilizado nessa etapa) renuncia ao papel de
especialista, tornando mais pessoais as relações com o cliente e conduzindo a
sessão a partir da orientação ditada por este último (denominado “paciente” em
Psicoterapia e consulta psicológica). Ou seja, é o cliente quem conduz o
processo, e não o psicoterapeuta, que, intervindo minimamente, pretende não
dirigir a sessão, deixando que o primeiro o faça.
B) Fase Reflexiva (1950-1957)
É a fase da Terapia Centrada no Cliente, sendo a função do terapeuta
promover o desenvolvimento do cliente em uma atmosfera desprovida de
ameaça, isto é, sob condições facilitadoras.
Aqui a noção de “não-direção” é substituída pela de “centramento no cliente”,
sugerindo um papel mais ativo por parte do terapeuta e transformando o cliente
no foco maior de sua atenção (Cury, 1987), enquanto na fase anterior a ênfase
recaía sobre a não-direção do processo, com um psicoterapeuta mais passivo.

C) Fase Experiencial (1957 – 1970)


Nessa fase, o objetivo da psicoterapia é ajudar o cliente a usar plenamente sua
experiência no sentido de promover uma maior congruência do self e do
desenvolvimento relacional. Ou seja, a ênfase recai sobre a vida inter e
intrapessoal, e a relação terapêutica passa a adquirir significado enquanto
encontro existencial.
A fase experiencial de seu pensamento passa a ser descrita a partir da ênfase
no conceito de autenticidade do terapeuta, na experiência imediata da relação
com o cliente.

D) Fase Coletiva ou Inter-humana (1970 – 1987)


Nos últimos 15 anos de sua vida Rogers voltou seu interesse para questões
mais amplas, concernentes às atividades de grupo e à relação humana
coletiva, abandonando definitivamente a atividade de terapia individual no
consultório e assumindo em seu trabalho a definição de abordagem, em vez de
psicoterapia
Esta é uma fase de transcendência de valores e de ideias, em que Rogers
trabalha com conceitos que coexistem em outras áreas da ciência, tais como a
física, a química ou a biologia, expressando sua preocupação com o futuro do
homem e do mundo.
“Seria uma fase mais mística, holística em seu sentido amplo, em que Rogers
se voltaria para a consideração de uma relação mais transcendental, ou para a
transcendência da existência humana”.
FASES DO ACONSELHAMENTO
A) Descoberta Inicial:
- Se trata do início do trabalho, o conselheiro e o cliente ainda não se
conhecem direito, então é preciso estabelecer o primeiro vínculo entre eles.
Para encorajar a descoberta, o conselheiro deve estabelecer condições que
promovam confiança no cliente.
1. Empatia: compreender a experiência do outro “como se fosse” a própria.
2. Coerência ou autenticidade: ser como você parece, sempre coerente, digno
de confiança no relacionamento.
3. Consideração positiva: interessar-se por seu cliente.
4. Incondicionalidade: respeito incondicional à individualidade da pessoa
5. Concreção: usar linguagem clara para descrever a situação de vida do
cliente, separando declarações ambíguas e ajudando o cliente a encontrar
descrições que retratam exatamente o que está acontecendo em sua vida.

B) Exploração em Profundidade
Na segunda fase do aconselhamento, o cliente deverá adquirir uma
compreensão mais clara de suas preocupações, começando a desenvolver um
novo direcionamento, à medida em que os problemas vão ficando mais claros,
a direção também fica.
Nesta fase, os meios para que sejam alcançados os objetivos talvez ainda não
se mostrem com clareza, mas os objetivos já possuem uma forma bem mais
concreta. Esse processo se desenvolve a partir do processo inicial, mas nesse
ponto, o relacionamento entre o conselheiro e o cliente está mais forte e o
cliente deve se mostrar mais disposto a perseguir seu objetivo de mudança, ao
perceber que o conselheiro possui empatia e compreensão pelo seu mundo.

C) Preparação Para a Ação


Na terceira fase, o cliente deve decidir como realizar os objetivos que surgiram
durante o processo, suas preocupações já foram definidas e estão claras para
ele, dentro de seu contexto, ele já refletiu sobre seu comportamento e em como
ele se relaciona com os objetivos a serem atingidos e o que lhe resta é decidir
quais ações poderão ser realizadas para que suas preocupações possam
diminuir.
Se não houver nenhuma ação indicada, esta fase pode ter como foco fazer com que o
cliente tenha consciência de que fez tudo o que estava ao seu alcance. Também
podem ser identificados possíveis cursos alternativos de ações ou decisões, que o
cliente poderá escolher e julgar em termos da probabilidade dos resultados.

D) Não Linearidade das fases


Como em qualquer modelo consistido por fases, o processo de
aconselhamento também possui fases que dependem da fase anterior, ou seja,
não é possível que se estabeleçam novos objetivos, se a pessoa não tiver as
suas preocupações claras.
Também não é possível avaliar possibilidades de ação, se não houverem
objetivos estabelecidos. No entanto, a linearidade dessas fases é apenas uma
simplificação e é preciso compreender as limitações desse modelo.
Nem sempre é preciso que o indivíduo tenha todas as suas preocupações
esclarecidas para que possa pensar em objetivos e ações que sejam
pertinentes a um aspecto de sua vida, é possível que se priorize assuntos que
tenham uma maior emergência para serem acertados. As ações podem ser
tomadas em relação aos objetivos já esclarecidos, mas é importante esperar
para agir em relação ao que permanece indefinido.

ACONSELHAMENTO X PSICOTERAPIA

● Aconselhamento
- Curta duração, com foco na resolução dos problemas, e ajuda a pessoa a
remover os obstáculos ao seu crescimento, auxiliando os indivíduos a
reconhecerem e empregarem seus recursos e suas potencialidades
- Questões pontuais e efêmeras
● Psicoterapia
- Relacionada a mudanças na estrutura da personalidade, envolvendo uma
autocompreensão mais intensa.
- Questões mais profundas e de longo prazo
A orientação, os verbos orientar e aconselhar distanciam-se do que vem a ser a
psicoterapia. Esta é entendida como o tratamento de perturbações da
personalidade ou da conduta por meio de métodos e técnicas psicológicas, ou
seja, é indicada em casos nos quais a orientação e o aconselhamento não
seriam suficientes para conduzir os processos de mudanças e de crescimento
necessários.
O aconselhamento seria indicado quando não houvesse o diagnóstico de
algum transtorno psicológico ou em situações que envolvessem o atendimento
mais pontual, com o fornecimento de informações e de acompanhamento para
a tomada de uma decisão importante.
A maior parte dos autores compreende que o aconselhamento está mais ligado
a ajudar o cliente a tomar alguma decisão e envolve situações objetivas que
permitem uma melhor utilização de recursos e potencialidades pessoais, sendo
que as demandas estão relacionadas, geralmente, a conflitos ambientais e
situacionais, a conflitos conscientes.
A psicoterapia seria desenvolvida em um nível mais “profundo” e teria como
foco os conflitos de personalidade, com destaque para a necessidade de
mudanças nessa estrutura (Santos, 1982). A psicoterapia seria, nesse sentido,
a autocompreensão intensiva da dinâmica que explica as crises existenciais
particulares.

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