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Rogers
Disponível em http://www.apacp.org.br/art181.html
1. INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho está diretamente ligada à tentativa de uma compreensão sobre a
Evolução dos Conceitos de Atitudes Facilitadoras na Perspectiva de Carl Rogers, baseando-
se nas primeiras proposições propostas por ele e o crescimento natural desta teoria nas fases
precedentes.
Tendo como ponto de partida a idéia da extrema importância que é a atitude terapêutica no
momento do encontro terapêutico para um posterior funcionamento saudável da pessoa
humana.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Abordagem Centrada no Cliente em seu percurso teve raízes ligadas inicialmente, dentro
do seu conceito de “insight”, no pensamento freudiano. Em seu conceito sobre a habilidade
do indivíduo para organizar sua própria experiência, há uma ligação com o trabalho de Otto
Rank, Taft e Alien. Em sua ênfase sobre as pesquisas objetivas, ao submeter as atitudes
fluidas à investigação científica, e ao se propor a comprovar ou a refutar todas as hipóteses
através dos métodos de pesquisa, a dívida neste caso é para todo o campo de psicologia
americana, no que se refere a toda sua estruturação à metodologia científica.
Para efeitos de estudos e pesquisas há a divisão nos dias atuais, de todo o legado de Carl
Rogers, em três fases ou períodos, compreendendo de 1940 a 1950 a 1 fase, conhecida como
TERAPIA NÃO DIRETIVA; a II fase de 1950 a 1957 é denominada como TERAPIA
REFLEXIVA; e a III fase de 1957 a 1970 é chamada TERAPIA EXPERIENCIAL (Hart,
1970).
Nesta época registra-se a opção pela palavra “cliente” ao invés do termo habitual “paciente”,
advindo de uma prática médica. Enfatiza a própria relação terapêutica como uma experiência
de crescimento para o cliente; afirma que a psicoterapia não é uma preparação para a
mudança, ela é a própria mudança.
Rogers destaca também que deve haver uma maior independência e integração do indivíduo
em vez de se esperar que tais resultados sejam obtidos pela ajuda do psicólogo na resolução
do problema que é posto em foco.
O objetivo principal não é resolver um problema em particular, mas o de ajudar o indivíduo a
desenvolver-se para poder enfrentar o problema presente e os futuros de uma maneira mais
perfeitamente integrada: Há uma confiança muito mais profunda no indivíduo poder
orientar-se para a maturidade, para a saúde e para a adaptação.
Nessa fase há uma ênfase no sentido de que o psicólogo deve estimular a livre expressão dos
sentimentos em relação ao problema. Essa liberdade é provocada pela atitude amigável,
interessada e receptiva do psicoterapeuta.
1 - “Se o Conselheiro agir sob o princípio de que o indivíduo é basicamente responsável por
si próprio, e desejar que o indivíduo mantenha esta responsabilidade;
2 - Se o Conselheiro agir sobre o princípio de que o cliente tem uma forte tendência a tomar-
se maduro, socialmente ajustado, independente, produtivo e confiar nesta força, e não em
seus próprios poderes para realizar mudanças terapêuticas;
Se estas condições forem atendidas, então pode-se dizer com segurança, que na grande
maioria dos casos, os seguintes resultados acontecerão:
2 - O cliente explorará suas próprias atitudes e reações mais plenamente do que o fizera antes
e tomar-se-á consciente de aspectos de suas atitudes que negara previamente;
3 - Ele chegará a uma apreensão consciente mais clara de suas atitudes motivadoras e se
aceitará mais completamente. Esta apreensão e esta aceitação incluirão atitudes previamente
negadas. Ele poderá ou não verbalizar esta compreensão consciente mais clara de si e de seu
comportamento;
4 - A luz de uma percepção mais clara de si, escolherá por sua própria iniciativa e
responsabilidade, novos objetivos que serão muito mais satisfatórios que seus objetivos
desajustados;
5 - Escolherá comportar-se de maneira diferente para poder alcançar estes objetivos, e este
novo comportamento irá em direção a um maior crescimento psicológico e maturacional.
Seu modo de comportar-se será tambóm mais espontâneo e menos tenso, mais harmonioso
com as necessidades sociais dos outros; representará um ajustamento à vida mais realista e
mais confortável. Será mais integrado que seu comportamento anterior. Será um avanço na
vida do indivíduo.”
(Rogers, 1946)
Ao passar do período I para o período II, observa-se um maior amadurecimento das idéias e
construtos. No período II muitos conceitos e práticas da Terapia Centrada no Cliente foram
sistematizados e apoiados em extensas investigações.
Rogers destaca nesta época que um orientador eficaz da Terapia Centrada no Cliente
apresenta um conjunto de atitudes coerente e em evolução, profundamente embutido em sua
organização pessoal, e esse sistema de atitudes é implementado por técnicas e métodos que
lhe sejam compatíveis. De acordo com Rogers, o orientador que tenta utilizar um “métodos”
está fadado ao insucesso, a menos que esse método apresente uma concordância genuína
com as atitudes pessoais dele.
Pode-se dizer que o orientador escolhe trabalhar de modo coerente sobre a hipótese de que a
pessoa tem capacidade suficiente para lidar de forma construtiva com todos os aspectos de
sua vida que possam, potencialmente, alcançar a percepção consciente. Isto significa a
criação de uma situação interpessoal na qual o material possa chegar à consciência do
cliente, e uma demonstração significativa da aceitação do cliente por parte do orientador,
como uma pessoa capaz de conduzir a si mesma.
Nesse período, o papel do terapeuta foi reformulado e elaborado dando maior ênfase a uma
responsabilidade sensível aos sentimentos do cliente. A reflexão dos sentimentos substitui a
“clarificação” e as formas cognitivas de interação foram re-enfatizadas. Implementando a
reorganização do cliente a reintegração do seu auto-conceito, o trabalho do terapeuta era
remover as fontes de ameaça da relação e espelhar em si o mundo fenomenológico do
cliente, a técnica utilizada era a reflexão dos sentimentos.
Centrar-se no cliente sugere não apenas um papel mais ativo por parte do terapeuta; significa
também que ele torna o cliente foco de sua atenção. Se anteriormente a orientação era ficar
fora do caminho do cliente, neste momento ele é levado a comprometer-se numa busca por
compreensão empática do sistema de referência da outra pessoa.
Nesta fase Rogers esclarece melhor que a postura centrada no cliente está desvinculada de
uma passividade e aparente falta de interesse ou envolvimento, concepção errônea que levou
a fracassos consideráveis no aconselhamento, tal procedimento é apreendido pelo cliente
como rejeição uma vez que indiferença nada tem haver com aceitação. E em segundo lugar,
uma atitude Laissez Faire de modo algum indica ao cliente que ele é tratado como pessoa de
valor.
O terapeuta deve procurar, nessa fase, assumir tanto quanto possível a estrutura de referência
interna do cliente perceber o mundo como o cliente o vê, deixar de lado todas as percepções
a partir da estrutura de referência externa no momento em que estiver fazendo isso e
comunicar algo de sua compreensão empática ao cliente.
Esse tipo de relação só se torna possível se o terapeuta for profunda e genuinamente capaz de
adotar tais atitudes. O “aconselhamento centrado no cliente”, segundo Rogers, só se torna
eficaz diante de um processo sincero e é essa sensível e autêntica “centralização no Cliente”
que o autor considera como a terceira característica da terapia não diretiva a qual coloca-a
num plano diferente das outras abordagens de terapia. A 1ª. e a 2ª. característica são
respectivamente: previsibilidade do processo e descoberta da capacidade do cliente.
Nessa fase a mudança mais flagrante destacada por Hart (1970) foi a ênfase do terapeuta em
reagir sensivelmente ao afetivo mais do que ao significado semântico das expressões do
cliente.
Os resultados dessa experiência foram muito ricos para um maior aprimoramento da teoria.
Rogers e colaboradores concluíram que frente a clientes tão passivos, a iniciativa no
processo de interação cabia ao terapeuta, sendo isto de importância crucial para o
desenvolvimento e sobrevivência do próprio contato.
Gendlin (1970) observou, que a eficácia desse tipo de terapia deveria ser num sentido de uma
terapia pessoal e expressiva - um processo sub-verbal, e profundamente experienciado. Os
terapeutas nesses contatos puderam descobrir a importância de trazer à tona os seus próprios
sentimentos ao estar diante do outro; perceberam que em alguns casos houve algumas
alterações no cliente a medida em que havia uma participação ativa da subjetividade do
terapeuta.
Nesse período, tomando como referência o livro Tomar-se Pessoa (1987), houve uma maior
elaboração dos conceitos de: CONGRUÊNCIA
Rogers reconhece que ninguém consegue realizar essa condição plenamente, entretanto
quanto mais o terapeuta souber ouvir e aceitar o que passa em si mesmo, quanto mais ele
mostrar-se capaz de assumir a complexidade dos seus sentimentos sem medo, maior será o
seu grau de congruência.
Quando o terapeuta está experienciando uma atitude calorosa, positiva lica que o terapeuta
esteja realmente pronto a aceitar o cliente, sejae de aceitação para com aquilo que está no seu
cliente, isso facilita a mudança. Imp o que for que esteja sentindo no momento - medo,
confusão, desgosto, orgulho, cólera, ódio, amor, coragem, admiração. Isto quer dizer que o
terapeuta se preocupa com o cliente de uma forma não possessiva, que o aprecia mais na sua
totalidade do que de uma forma condicional, que não se contenta com aceitar simplesmente o
seu cliente quando este segue determinados caminhos e com desaprová-lo quando segue
outros. Trata-se de um sentimento positivo que se exterioriza sem reservas e sem
apreciações” (Rogers, 1987, pag. 65).
COMPREENSÃO EMPÁTICA
Rogers reconhece que esse tipo de compreensão é extremamente raro. Não 6 comum possuir-
se tal atitude e nem somos objeto dela freqüentemente, entretanto destacou vital importância
de que quando há uma verdadeira compreensão empática:
compreender a pessoa, como ela se sente e como é, sem análises nem julgamentos, então
nesse clima pode haver crescimento.
O resultado para a terapia é que quanto mais o cliente vê o terapeuta como uma pessoa
verdadeira e autêntica, capaz de empatia e tendo em relação a ele um respeito incondicional,
isso favorecerá um movimento de mudança de um funcionamento estático, fixo, insensível e
impessoal, e se encaminhará no sentido de um funcionamento caracterizado por uma
experiência fluida onde há diferenciação de sentimentos e reações pessoais à imediatez da
experiência.
3. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Na II e III fases houve uma maior elaboração dos conceitos e um respaldo de todas as
descobertas em intensas observações clinicas e pesquisas. Registra-se na fase II uma maior
estruturação da teoria com o acréscimo da visão do desenvolvimento do EU em um
continuum de mudança que iam da fixidez para a fluidez.
Na fase III o momento da relação terapêutica passa a ser visto como proporcionador de
crescimento tanto para o cliente, quanto para o terapeuta e a importância deste último estar
em um estado de acordo interno pelo menos no momento da relação.
Após toda a reflexão no decorrer da organização deste trabalho, posso registrar que há uma
visível evolução dos conceitos, os quais foram influenciando a teoria de uma maneira geral e
principalmente a prática clínica, a qual sempre se mostrou muito rica em termos de fontes de
pesquisas, pois Rogers evidentemente partia de uma prática e extensos estudos pautados a
partir dela.
Nessa idéia, destaco também a freqüente ênfase de Rogers a Terapia Centrada no Cliente,
não como uma escola ou dogma, mas sempre como um conjunto de princípios hipotéticos, os
quais colocam-se em franco desenvolvimento e reformulações durante todo o seu transcurso,
e ainda nos dias atuais em que dirigi-se para um enfoque mais fenomenológico da relação.
4. BIBLIOGRAFIA
EVANS, Richard 1. Carl Rogers: O Homem e Suas Idéias. São Paulo: Martins Fontes, 1979.