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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
1ª Edição
2018
Curitiba-PR
Editora São Braz
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FICHA TÉCNICA
Direção Geral
Silvio Nobuyuki Akiyoshi
Diretor Comercial
Vagner Cauneto
Coordenação do Curso
Leandra Felicia Martins
Projeto Instrucional
Materson Christofer Martins
Wanderlane Gurgel do Amaral
Diagramação
Lucas Conceição Gomes
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Palavra da professora-autora
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Aula 1 – Elaboração do conhecimento em psicologia
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Olá, seja bem-vindo, seja bem-vinda à primeira aula de “Psicologia da
Educação”. Nesta aula abordaremos os fundamentos da construção do
conhecimento em Psicologia e alguns de seus mais importantes autores.
Para que possamos refletir, o convido a iniciar seus estudos com a leitura
de um pequeno trecho da Alegoria da Caverna do filósofo grego Platão (c. 428–
348 a.C.):
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Que nesta aula e, em nossa prática, possamos enxergar para além do que
nossos olhos podem ver.
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O filósofo e teólogo dinamarquês Kierkegaard publica o livro O desespero
humano e marca o início do existencialismo (1849).
O médico e antropólogo francês Pierre Paul Broca descobre que os
hemisfério esquerdo e direito do cérebro desempenham funções distintas
(1861).
O antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês Francis
Galton sugere em seu livro O gênio hereditário que a criação é mais
importante do que a natureza (1869).
O médico, anatomista, psiquiatra e neuropatologista polonês Carl Wernicke
demonstra evidências de que danos em áreas específicas do cérebro
causam a perda de habilidades especificas (1874).
O médico e cientista francês Jean-Martin Charcot, que mais tarde
influenciará os estudos de Sigmund Freud, produz suas Lições sobre as
doenças do sistema nervoso (1877).
O médico e filósofo Wilhelm Wundt abre o primeiro laboratório de psicologia
experimental na Alemanha (1879).
O psiquiatra alemão Emil Kraepelin, ao publicar o Compêndio de Psiquiatria
(1883), classificou duas formas de psicose: a maníaco-depressiva e a
demência precoce.
O alemão Hermann Ebbinghaus descreveu os primeiros testes de
inteligência no livro Memória (1885).
O psicólogo estadunidense G. Stanley Hall, publica a primeira edição do
American Journal of Psychology (1887).
O psicólogo, psiquiatra e neurologista francês Pierre Janet sugere teoria de
que a histeria envolve dissociação e divisão de personalidade em 1889.
Médico estadunidense, foi um dos fundadores da psicologia moderna,
William James, um dos pais da psicologia, publica Os princípios da psicologia
em 1890.
O pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet abre um laboratório de
psicodiagnóstico em 1895.
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estas abordagens mostram-se conflitantes entre si. Estudaremos alguns dos
importantes autores da psicologia, focando naqueles que apresentaram também
grande contribuição para a educação.
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ensinamentos se tornaram extremamente úteis para a aplicação prática da
educação, como em tantos outros campos.
Saiba mais
Sigmund Freud, médico neurologista, nasceu em Freiberg in Mähren, cidade que
hoje pertence à República Tcheca. Começou os estudos utilizando a hipnose no
tratamento de pessoas com histeria, para acessar seus conteúdos mentais. Ao
perceber a melhora de pacientes do médico francês Charcot, elaborou
a hipótese de que a causa da histeria era psicológica e não orgânica. A partir de
então elaborou o conceito de inconsciente. Criou ainda um novo método:
a psicanálise, a cura pela fala, utilizando a interpretação de sonhos e a livre
associação para acessar ao inconsciente.
Anna Freud, sua filha, procurou mostrar aos educadores a forma como
Freud pensava o desenvolvimento da criança e investigou o surgimento das
preocupações que a criança possui e sua curiosidade. Para Sigmund Freud, o
momento de maior determinação na vida do indivíduo é o momento da
descoberta da diferença sexual anatômica entre os sexos, que causará diversos
efeitos em meninas e meninos – tema amplo e denso, que não é nosso objetivo
principal nesta aula. Mas o que é importante frisar é que ao descobrir a diferença
sexual, as crianças ficam marcadas por esta e é a partir disto que se marca a
falta, um dos temas centrais na teoria freudiana.
Para a psicanálise é a falta (a descoberta da diferença sexual anatômica)
que irá mover o sujeito e, fazê-lo ir atrás de seu desejo. Sem falta não haveria
desejo. Mas a falta é também a grande causadora da angústia, que pode se
tornar insuportável ao sujeito e é por isso que, tanto as crianças quanto os
adultos irão fazer a sublimação.
Glossário
A sublimação como mecanismo de defesa é a transformação de impulsos
indesejados em algo menos prejudicial, por exemplo, desenhar ou escrever pode
ser uma forma de sublimar instintos reprimidos.
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o dominar estariam no mesmo patamar. Desta forma, é possível encontrar uma
forma de dominar a angústia: o saber! Mas atenção, este saber pode se voltar
aos mais variados campos.
Porque é importante saber disto? Para compreender que a criança tem
em si um impulso de investigação e que a curiosidade pode se apresentar das
mais variadas maneiras. É importante, portanto, que os professores estejam
atentos sobre como isto se manifesta na criança, para que não a prive de sua
vontade de aprender.
Na psicanálise, não há um percurso pré-fixado do desenvolvimento
infantil, como ocorre na teoria Piagetiana, por exemplo. Para Freud não há uma
concepção de que já existe uma programação de como o desenvolvimento
infantil irá suceder, muito pelo contrário, a criança é ativa no seu próprio
desenvolvimento, pois é ela quem faz investigações e são estas que a ajudam
em seu desenvolvimento psíquico. Portanto, existem determinantes que fazem
com que a criança deseje – por si própria – aprender, mas além disso ela
necessita de alguém que faço o papel de intermediário na aprendizagem, no
caso, os professores.
Para a psicanálise, aprender é um processo no qual um professor ocupa
para o estudante uma posição que pode ou não propiciar aprendizagem. A
relação de aprendizagem sempre conta com um outro, mesmo no caso dos
autodidatas é criada a figura de alguém, em forma de livro ou uma figura
imaginária. A aprendizagem acontece na relação ensinante–ensinado. Um
professor só é capaz de transmitir conhecimento se é autorizado pelo estudante,
esteja ele dizendo a verdade ou não. Quem ouve o professor precisa ter dado a
este um lugar especial em sua vida. Dessa forma, o mestre ganha papel de
influência em relação ao estudante.
Em determinada fase do desenvolvimento, o mestre recebe um afeto que
antes era dirigido aos pais, um afeto explicado pelo Complexo de Édipo. Kupfer
(1998) chega a dizer que a relação professor-estudante pode ser vista como uma
reedição de uma relação afetiva primitivamente ligada à figura paterna.
Chamamos esta relação de “transferência” e do mesmo modo que um sujeito
pode transferir a relação com o pai para a figura do psicólogo, pode fazer isto
também na figura do professor, tudo isso inconscientemente. Quem tem certa
experiência em salas de aula, sabe que é comum em turmas de crianças
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pequenas que os estudantes se equivoquem e chamem a professora de mãe ou
o professor de pai, a psicanálise nomeará isto de ato falho, ou seja, um ato que
evidencia um desejo inconsciente.
Saiba mais
Para saber mais sobre Complexo de Édipo, leia o artigo Uma Breve
Compreensão sobre o Complexo de Édipo, disponível em:
<https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/uma-breve-compreensao-
sobre-o-complexo-de-edipo>
Mídias integradas
Assista o filme “A Onda” trata-se de um filme alemão de 2008 dirigido por Dennis
Gansel. Um professor, ao dar aula sobre autocracia, decide fazer um
experimento em sala de aula, criando um grupo fascista. O experimento perde
totalmente o controle. O filme exemplifica de forma clara como a relação
transferencial com um professor pode exercer a influência na vida dos
estudantes. Para assisti-lo acesse o site:
<https://www.youtube.com/watch?v=QBKEi8qamKM>.
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Para Kupfer (1998), o importante não são os conteúdos ensinados, pois
estes são somente a ponta do iceberg. A autora ainda evoca uma questão
importante, que deve ser pensada e repensada por todos os professores:
Como usar o controle e ao mesmo tempo renunciar dele em sala de aula?
Como manter o respeito diante dos estudantes, mas sem interferir na
subjetividade deles?
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Para estabelecer uma relação de aprendizagem mais próxima do ideal é
importante que os professores “deem conta de não dar conta”, que saiam do
lugar da onipotência para o lugar de claudicante, assim tanto o professor quanto
o estudante poderão constituir uma relação mais serena com a aprendizagem.
É difícil também para o professor dar conta deste lugar que a sociedade lhe
confere, mas, mais difícil ainda é abdicar dele, pois seria uma forma de mostrar
sua falta e, como a psicanálise nos ensina, o ser humano está sempre buscando
negar sua falta.
Para a psicanálise, o material ensinado trabalha aquele que ensina e
aquele que aprende, nenhum dos dois está isento das ebulições que aquele
conteúdo poderá desenrolar em sua subjetividade.
A transmissão, seja ela qual for, é sempre de um “saber que não se sabe”,
não se sabe no sentido que não é dado por completo, irrefutável e imutável.
Nossa relação com o conhecimento precisa estar sempre com possibilidade de
mudança, reflexão e reestruturação. Dessa forma, a constituição de um saber
por aquele que aprende passa por processos que aquele que ensina ignora e, a
construção daquele que ensina precisa dar conta de admitir que não é possível
saber a totalidade. A transmissão não é de conhecimento, mas de algo que toca
o sujeito. Quando o professor se coloca em uma posição de detentor de todo o
saber, acaba por transmitir um conhecimento que não possui. Para Freud, o
ensino é um ato. Uma ética.
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Figura 1.3: Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)
Fonte: Silly rabbit / Wikimedia Commons
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quando algo é retirado. Essa diferença marca que reforçador não é sinônimo de
recompensa.
Um exemplo de reforçador positivo em sala de aula é quando o
professor insere o uso de jogos, atividades lúdicas, ou qualquer outra técnica
que favoreça a aprendizagem dos estudantes. Este reforçador aparece para que
os sujeitos se sintam cada vez mais dispostos a repetir tal comportamento. Já o
reforçador negativo, envolve a retirada de algo do ambiente, como, por exemplo,
uma criança não faz as atividades e passa horas jogando videogame, então a
mãe o proíbe de jogar até que todos os exercícios estejam prontos e a criança
passa então a realizar suas tarefas.
Ocorre, muitas vezes, em sala de aula, o uso da punição. A punição
acontece da seguinte forma: o professor pretende extinguir um comportamento
e toda vez que o estudante emite tal comportamento ele é punido pelo professor.
A punição pode ser também positiva ou negativa, quando se apresenta ou retira
um estímulo, respectivamente. O próprio Skinner fazia várias ressalvas quanto
ao uso da punição, principalmente em ambiente escolar, pois esta pode
apresentar efeitos colaterais nocivos ao sujeito.
É importante enfatizar a diferença entre o reforço negativo e punição. O
reforço negativo é a retirada de uma condição negativa para reforçar um
comportamento, enquanto que a punição é apresentar ou retirar um estímulo
para enfraquecer um comportamento.
A aprendizagem é uma mudança na possibilidade de determinada
resposta, mas o que afirma a execução de um comportamento não é a execução
em si. Skinner acredita que o foco não está na ação do estudante, mas nas
contingências das quais o comportamento é função. A contingência de reforço
possui três variáveis:
1) a ocasião em que o comportamento ocorreu;
2) o comportamento em si;
3) as consequências deste comportamento.
Para Skinner, um dos grandes problemas da aprendizagem está em criar
condições que sejam favoráveis para as consequências do comportamento,
portanto, os professores devem arranjar contingências, fornecendo situações em
que fique claro o que deve ser observado e adquirido enquanto experiência, para
que assim o sujeito possa exercitar os comportamentos ensinados.
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Para que um reforço ocorra, é importante que a consequência ocorra logo
após do comportamento emitido. Portanto, o papel dos professores em sala de
aula envolve a montagem de um ambiente que estimule e propicie a
aprendizagem do estudante.
Os professores devem se questionar sobre os reforçadores que serão
utilizados e de que forma estão dispostas as contingências de reforço, tornando
a estratégia de ensino mais eficaz. Após a aquisição de um comportamento,
Skinner ressalta a importância de que exercícios que repitam a emissão sejam
feitos, para que o estudante possa fazer a manutenção e fixação de seu próprio
conhecimento.
Quando se fala sobre o Behaviorismo e aprendizagem é importante
também diferenciar os conceitos de modelação e modelagem. Modelação é um
aprendizado que tem origem na herança cultural, por exemplo, sabemos que
precisamos nos vestir para sair de casa e que não podemos colocar a mão no
fogo. Ou seja, aprendizagem por modelação é aquela que atua nos níveis
básicos de sobrevivência e da convivência em sociedade.
Já a aprendizagem por modelagem é aquela que ocorre através de
reforçamentos progressivos de uma ação, até que aquilo se torne um novo
comportamento, por exemplo, o bebê percebe que a mãe espera dele algum tipo
de comunicação e balbucia, a mãe se alegra com a nova conquista – o que age
como reforçador – e o bebê passa então a emitir novos sons até conseguir dizer
sua primeira palavra.
O comportamento de incentivo da mãe agiu como reforçador e o bebê,
através de tentativas sucessivas, estabeleceu um novo comportamento: a fala.
Podemos pensar no mesmo em sala de aula, a própria alfabetização, por
exemplo, é adquirida através do processo de modelagem.
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1.2.3 A psicologia da educação por Piaget
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o desenvolvimento cognitivo é marcado por etapas que caracterizam estruturas
mentais diferentes. Em cada uma destas etapas, a criança compreenderá e
resolverá os problemas de forma diferente e, por isso, é importante entender em
que etapa está cada criança (o diagnóstico pode ser obtido por meio do uso das
provas piagetianas).
Cada estrutura tem seu momento próprio para aparecer. A interação
adequada com o ambiente proporcionará que ela possa ser utilizada em sua
plenitude. Caso determinada capacidade não seja estimulada em certo
momento, acarretará a necessidade de maior esforço por parte do indivíduo
posteriormente.
Embora a sequência de desenvolvimento seja igual para todas as
crianças, a cronologia poderá ser variada para cada um. Por exemplo, três
crianças de 5 anos, podem estar em etapas de desenvolvimento diferentes.
É importante que o professor avalie a melhor forma de aprendizagem para
o estudante. É comum que o professor não alcance sucesso ao ensinar
determinada matéria e isto pode se dar pelo fato de que, talvez, este professor
esteja ensinando da maneira que lhe parece mais simples, mas como cada um
possui uma maneira de aprender, talvez aquela não seja a maneira mais
adequada para tal estudante, pode ser que para ele a solução seja outra. É
importante perceber como está o aprendiz em seu processo de desenvolvimento
e também o que é necessário fazer para que ele progrida.
Para que uma criança aprenda, ela precisa compreender o conteúdo. O
professor não pode se contentar com simples automatismos. Uma aprendizagem
compreensiva necessita que o professor conheça o processo de pensamento do
estudante e lhe ofereça questionamentos interessantes para que o estudante
possa explorar a questão para além da explicação dos professores.
O ensino precisa ser um facilitador do processo de desenvolvimento, não
um acelerador e nem uma barreira. Adquirindo o conhecimento de cada etapa,
a criança será capaz de aprendizagens mais complexas adiante, mas é preciso
que o estudante tenha seu tempo respeitado. Não é suficiente conhecer a
resposta do estudante, é preciso entender o caminho percorrido por ele para
chegar até ela.
Piaget sugere que há quatro estágios nos quais os sujeitos evoluem na
aquisição de conhecimentos, de um estado de total desconhecimento até a
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capacidade de conhecer o que ultrapassa aquilo que está a sua volta. Estão
listados a seguir os estágios:
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Figura 1.6: Estágio das operações formais
Fonte: © Freepik
Atividade de Aprendizagem
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universo, é buscar verdades que sirvam para cada um de nós e dessa forma, a
nossa existência poderá ser construída. Por meio desta publicação, ele foi
considerado como o pai do existencialismo. Mediante isso, responda, como esta
obra influenciou a construção da psicologia como um saber?
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Aula 2 – O que é psicologia?
Fonte: © Freepik
Link da imagem: http://br.freepik.com/fotos-gratis/modulo-homem-face-partes-psicologia-
itens_668650.htm#term=psychology&page=5&position=13
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Olá estudante! Vamos dar sequência ao estudo da Psicologia da Educação.
Como já vimos na aula anterior, não é simples definir o que é psicologia e qual
o seu objeto de estudo. O motivo para não termos uma única definição para a
psicologia é a grande diversidade de linhas teóricas. Cada linha tem sua própria
visão sobre o ser humano e o objeto de estudo da psicologia. Vamos entender
melhor como isso funciona?
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2.1 O conceito de psicologia
Muitas das ideias que serão vistas a seguir serviram de base para atuais
linhas teóricas e outras permaneceram como abordagens altamente utilizadas.
Algumas das abordagens teóricas atuais mais conhecidas e utilizadas, são:
Behaviorismo, Psicologia cognitivo-comportamental, Gestalt, Psicodrama,
Psicanálise, Psicologia Analítica e terapias humanistas, entre outras.
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2.2 Principais pensadores da Psicologia e seus temas de estudo
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compensatórias serão internalizadas pelo sujeito e as reações infrutíferas serão
suprimidas.
Esta descoberta foi chamada por ele de lei do efeito. Sua descoberta
construiu os fundamentos da teoria behaviorista e mais tarde Skinner formulou
o conceito de ”condicionamento operante”, o cerne do behaviorismo.
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não na psicose, como alguns costumam achar). Por fim, os psicóticos são
aqueles que não passaram pelo Complexo de Édipo, muito menos pela
castração e desta forma, não são inseridos no mundo das palavras e tem o
delírio como sintoma.
Glossário
Fetiche - objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico e se presta
culto; objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de
qualidades mágicas ou eróticas.
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2.2.4 Alfred Adler (1890–1937): Psicologia individual
Glossário
Arquétipo - o modelo que se utiliza como exemplo para; padrão: a Madre Teresa
de Caucutá é o arquétipo da bondade.
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O autor acredita que a verdade só pode ser tolerada se descoberta por
conta própria, pois as pessoas acreditam que seu ponto de vista em relação ao
mundo é uma verdade objetiva, mas é a nossa percepção que configura as
experiências, dessa forma, é possível alterar nossa realidade interna e até
mesmo externa, descartando valores que nos são atribuídos pela sociedade e
pela família, para assim descobrir nossos verdadeiros valores próprios e
construir nossa própria “verdade”.
A Gestalt-terapia usa a experiência, percepção e responsabilidade
individual para incentivar o crescimento pessoal por meio de um senso de
controle interno. O sujeito precisa assumir responsabilidade por seu modo de
agir e reagir. Perls disse certa vez que “quem precisa que os outros lhe deem
incentivos, elogios e tapinhas nas costas, faz dos outros os seus juízes”.
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Talvez o mais importante nome da psicanalise após Freud, Lacan iniciou
seu trabalho fazendo uma releitura do trabalho do antecessor e mais tarde,
acrescentou diversos conceitos importantes. Entre suas principais colocações,
disse que é pela existência do “outro” que definimos e redefinimos a nós mesmos
e através do discurso deste outro é que nos inserimos na linguagem e
compreendemos o mundo. Para ele o inconsciente é o discurso do “outro”.
A obra de Freud estava se perdendo em interpretações equivocadas e por
isso, Lacan, ao reescrevê-las faz questão de usar uma linguagem complexa
baseada em mensagens indiretas, para que o leitor realmente tivesse algum
trabalho para entendê-las de forma correta.
Erich Fromm acreditava que para o ser humano nada era mais difícil de
suportar do que o sentimento de não se identificar a um grupo e que a única
forma de nos integrarmos é descobrindo nossa própria individualidade. Para ele,
nossas vidas estão carregadas de angústia e impotência devido a separação
que sofremos da natureza e das outras pessoas. Essa angústia só poderá ser
superada se aceitarmos nossa singularidade, descobrirmos nossas ideias e
habilidades e enfim, desenvolvermos nossa capacidade de amar. Essa busca
tornaria a dor de nossa existência suportável e daria sentido a ela.
O autor identificou diversos tipos de personalidades improdutivas, que
ajudam o indivíduo a se desresponsabilizar quanto aos seus atos. As mais
conhecidas, são:
a) a personalidade receptiva, que sempre aceita seus papéis e nunca luta
por mudanças ou melhorias;
b) a personalidade exploradora, é agressiva, plagiadora e coercitiva;
c) a personalidade acumulativa, preocupa-se demasiadamente com
acumulações e quer ter sempre mais coisas;
d) a personalidade marqueteira, aquela que vende tudo, principalmente,
a própria imagem.
Cada um destes tipos possui lados positivos e negativos, mas existe uma
quinta personalidade, a necrófila, que é totalmente negativa, pois este tipo de
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pessoa é obcecado pelo controle e imposição de ordem. O tipo ideal de
personalidade é o produtivo.
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Autotranscen
dência -
Ligar-se a algo
para além de
nós mesmos
Autorrealização
- Alcançar o seu
potencial
pessoal
Estética - Simetria,
beleza e ordem
Cognitiva - Conhecer e
compreender as coisas do mundo
Mesmo uma pessoa que não tenha mais nada nesse mundo ainda pode
conhecer a felicidade (Viktor Frankl). O psiquiatra Viktor Frankl foi levado para
um campo de concentração em 1942 e lá escreveu o livro “Em busca de sentido”.
Segundo Frankl, possuímos duas forças que nos permitem suportar
situações de dor: a liberdade para agir e a capacidade de decidir. O autor
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acredita que somos nós que determinamos como o ambiente irá agir em nossas
vidas, pois até o sofrimento pode ser visto de formas diferentes, dependendo de
como enxergamos a situação.
Devemos encontrar um sentido para nossa vida e este sentido precisa ser
descoberto por cada um de nós, pois ao darmos sentido ao sofrimento ele se
torna suportável.
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Para o autor, existe uma estruturação básica para o andamento da vida.
A personalidade se desenvolve em oito estágios predeterminados, entre o
nascimento e a morte. Caso haja sucesso na transição em cada uma destas
fases, o indivíduo será mentalmente saudável, mas quando há fracasso em
qualquer uma destas fases ocorre um prejuízo mental, que pode aparecer como
falta de confiança, culpa, entre outros sintomas.
Os oito estágios descritos por Erikson, são nomeados de:
1) confiança x desconfiança;
2) autonomia x vergonha e culpa;
3) iniciativa x culpa;
4) diligência x inferioridade;
5) identidade x confusão de identidade;
6) intimidade x isolamento;
7) produtividade x estagnação;
8) integridade x desespero.
Cada uma destas fase apresenta características particulares.
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por elementos do meio social em que faz parte: sua família, sua escola e sua
comunidade são grupos sociais em que o sujeito é inserido em certa fase do
desenvolvimento e que contribuem para o processo de aprendizagem.
Esta teoria adota a perspectiva de agência para a adaptação, mudança e
autodesenvolvimento. Ser um agente significa influenciar seu próprio
funcionamento e a vida a partir de um modo intencional, sendo assim, as
pessoas são auto organizadas, proativas, autorreguladas e auto reflexivas. Para
Bandura, o ser humano não é totalmente influenciado pelo meio, pois suas
reações e estímulos são auto ativadas, portanto o ser humano não é
determinado pelas ações ambientais e sim influente entre elas. Ao contrário do
behaviorismo, a aprendizagem social acredita que o comportamento não precisa
ser reforçado para ser aprendido, pois o ser humano adquire experiências
observando as consequências dentro de seu ambiente e as vivências de outras
pessoas ao seu redor.
Apesar da grande quantidade de autores mencionados, ainda assim é
impossível dar conta de falar sobre todos os autores importantes para a área da
psicologia. Relembrando que o conteúdo passado foi apresentado de forma
sucinta e pouco aprofundada, para que você possa conhecer um pouco da teoria
de alguns dos principais influenciadores da psicologia. Caso se interesse por
alguma das pesquisas ou estudo, convido-o a procurar mais sobre a abordagem!
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Atividades de Aprendizagem
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Aula 3 – Campos de atuação da Psicologia, sua relação com
outras ciências e aspectos éticos
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Olá estudante! É possível observar que devido ao enorme número de teorias
psicológicas, a área acaba por abranger uma grande porção do espectro da vida
mental do ser humano. Seu alcance cada vez maior, proporcionou uma
correlação com outras disciplinas, como: a medicina, a fisiologia, a neurociência,
a educação, a sociologia, a antropologia e até mesmo a política, economia e
direito. Nesta aula, pensaremos em como a psicologia atua nas mais variadas
áreas e campos de conhecimento.
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/vetores-gratis/infografico-cerebro-com-temas-
diferentes_1002425.htm
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Essa relação ficará mais clara nos próximos parágrafos, com a descrição
das áreas da psicologia, mas em resumo, a psicologia se relaciona com a
medicina, fornecendo a esta estudos e técnicas de trabalho. Dentro do ambiente
hospitalar, o psicólogo poderá fazer parte da equipe multidisciplinar e assim
auxiliar (e ser auxiliado) por outras profissões da área da saúde (como médicos,
fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas etc.). Juntamente com o direito,
poderá trabalhar na proteção, avaliação e diagnóstico de vítimas de delitos e
também detentos.
Neurociência e psicologia tem a cada dia se aproximado mais em seus
caminhos. O diálogo entre as duas áreas está cada vez mais estreito,
principalmente quando se fala em atrasos neurológicos e processos de
reabilitação.
Quanto a educação, pudemos ver desde a primeira aula, que as duas
áreas do conhecimento têm muita informação para ser trocado entre si,
principalmente, quando se fala nos processos de aprendizagem, na otimização
de potencialidades, entre outros.
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haver confusão entre o trabalho do psicólogo escolar com o do clínico, portanto,
é importante frisar que as duas funções são diferentes, pois não é de
responsabilidade do psicólogo escolar realizar atendimento clinico
individualizado para estudantes específicos, ou seja, este profissional deve
atender a demanda da escola de uma forma geral e se algum estudante
necessitar de atendimento contínuo, deverá procurá-lo em consultórios fora do
ambiente escolar.
Nesta área, colaborará com o corpo docente na elaboração, implantação,
avaliação e reformulações de currículo, projetos e políticas educacionais e
também contribuirá na análise e intervenção de clima institucional, buscando
sempre a resolução de conflitos internos e estabelecimento de um clima
agradável de trabalho.
Poderá atuar também em programas de orientação profissional e análise
de atendimento para estudantes com necessidades educativas especiais nas
escolas, realizando orientações e adaptações, quando necessário.
Fará parte da equipe interdisciplinar, integrando seus conhecimentos com
os demais profissionais da educação. Poderá aplicar seus conhecimentos de
ensino e aprendizagem no ambiente escolar, assim como intermediar relações
entre a escola e a família do estudante, também poderá utilizar testes e
instrumentos psicológicos adequados para fornecer subsídios no
replanejamento e reformulação dos planos educativos.
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Figura 3.3: Atendimento escolar
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-conjunto-de-ilustracoes-de-desenhos-animados-de-
vetores-o-paciente-esta-falando-com-um-
psicoterapeuta_1265775.htm#term=psicologia&page=1&position=6
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de prevenção, reabilitação e promoção de saúde. É parte do seu trabalho facilitar
os processos de grupo e prezar pela qualidade de vida do trabalhador.
Também realiza testes de desempenho, explorando o potencial dos
colaboradores; além de realizar análises de ocupações profissiográficas e se
encarregar pelos processos de desligamento da empresa.
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psicológico sobre alguma questão e participa de audiências, fornecendo
informações esclarecendo aspectos psicológicos técnicos em relação aos
processos judiciais.
O psicólogo jurídico também realiza avaliações das características de
personalidade através de triagens, avaliações e testes psicológicos no sistema
penitenciário. Presta assessoria na formulação de políticas penais e no
treinamento de equipe para aplicá-las. Suas pesquisas são voltadas para a
ampliação do conhecimento psicológico no direito e oferece serviços em
conciliações, orientação de detentos e suas famílias.
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Figura 3.4: Psicologia esportiva
Fonte: © Freepik
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individual, de casal, familiar, psicoterapia lúdica, terapia psicomotora, arte
terapia, orientação de pais etc.
Glossário
Puerpério - período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o
estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação.
3.1.8 Psicopedagogia
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Seu objetivo é que o estudante se torne agente ativo no processo de
conhecimento, cada vez mais autônomos e independentes. Dentro da escola,
trabalhará contribuindo para uma visão mais complexa da aprendizagem,
facilitando a integração de todos os estudantes. Sua atuação, quando bem
conduzida, diminui os números de fracasso escolar.
3.1.9 Neuropsicologia
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Figura 3.5: Neurociência
Fonte: © Freepik
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O psicólogo social busca compreender a subjetividade presente nos
fenômenos sociais e coletivo, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos,
para assim, propor ações no âmbito social. Desenvolve atividades focadas na
saúde, educação, trabalho, lazer, meio ambiente, comunicação social,
assistência social e justiça, para comunidades e grupos étnico-raciais, religiosos,
com diferentes orientações sexuais e segmentos socioculturais.
Para Marilena Chauí (1995) ética pode ser compreendido como filosofia
moral, isto é, ética é uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o
significado dos valores morais, enquanto que moral consiste em valores
concernente ao bem e mal, permitido e proibido. Moral refere-se às normas e
regras societárias e tem por interesse regular a vida dos sujeitos.
Podemos dizer que ter ética é possuir uma visão crítica da moral, ou seja,
repensar seus atos e costumes e assumir posição ativa, pois sua ação não está
pautada na vontade do outro ou daquilo que a sociedade considera moralmente
certo ou errado. O sujeito ético avalia, problematiza e debate sobre suas ações.
Como a ética pode ser então vista a partir do ponto de vista da psicologia?
Tomando emprestado o conceito de ética da psicanálise – que é diferente da
filosofia e psicologia –, podemos dizer que ética é seguir o desejo, ou seja, sou
ético comigo mesmo quando compreendo o meu desejo e o persigo e sou ética
no trabalho com outra pessoa quando o permito seguir o próprio desejo,
independentemente deste desejo ser parecido com o meu ou não.
Nesse sentido, ser ético é permitir que o outro seja exatamente o que
almeja ser, mesmo que isso vá contra minhas crenças e posicionamentos
pessoais. Se cada um experienciou sua vida de maneira singular, é natural que
não haja homogeneização do pensamento e desejo. Muitas vezes, nos vemos
compelidos a impor nosso ponto de vista, por este nos parecer tão adequado.
Dessa forma, é possível dizer que, dentro da Psicologia, ser ético é olhar
e, principalmente, escutar quem quer que seja, sem julgamentos.
Para além disso, é também transmitir para o paciente a confiança de que
aquilo que é tratado entre duas pessoas, permanece nesta relação, salvo em
48
casos em que haja risco de vida. Perceba que ética transcende a moral, pois vai
além do que é socialmente aceito.
Este aspecto ético precisa também ser pensado no ramo da psicologia da
educação, por psicólogos e educadores. É preciso enxergar nossos estudantes
como sujeitos afetados pelo meio e que, muitas vezes, precisam de um ambiente
seguro e livre de julgamentos para poder se desenvolver.
Atividades de Aprendizagem
49
Olá estudante! Nesta aula, você compreenderá os mecanismos que estimulam
o comportamento e como podem provocar reações boas ou ruins nos seres
humanos. Vamos lá?!
50
Figura 4.1: Reações
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-3d-com-dor-na-
cabeca_1270692.htm#term=cerebro&page=11&position=38
4.1 Sensopercepção
51
os. O ambiente oferece informações sensoriais o tempo todo, fazendo com que
o organismo as capte e se autorregule, organizando ações voltadas a
sobrevivência ao meio e interação social.
Percepção entende-se pela tomada de consciência do estímulo sensorial,
portanto, diz respeito à dimensão psicológica do processo, pois se trata da
transformação de estímulos sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.
Portanto, a sensação é considerada um fenômeno passivo, já a
percepção é ativo. Vale apontar, que a percepção é grandemente influenciada
pelo ambiente. Utilizando o exemplo de Dalgalarrondo (2008) é possível dizer
que existe a percepção de uma mesa, a partir da sensação visual de quatro
troncos e uma madeira por cima, só é possível para aqueles sujeitos inseridos
em uma cultura em que se fabricam mesas e lhe dão tal significado. Fora deste
contexto, este objeto não tem caráter perceptual de mesa. Gostaria de ressaltar
que esta diferença vale tanto para conceitos materiais como abstratos.
Lacan, dentro do contexto psicanalítico, utilizou-se do estudo da
linguística para tratar de significantes e significados. O significado tem caráter
geral, enquanto que o significante é altamente mutável. Ou seja, a palavra
“algodão-doce” pode ser compreendida como um doce feito exclusivamente de
açúcar, este é seu significado. Mas, “algodão-doce” pode ser um significante que
me remeta uma situação desagradável para uma pessoa como, por exemplo, o
dia em que uma pessoa comeu algodão doce e passou mal, no entanto, para
outra, pode remeter a uma situação agradável, como por exemplo, algum
momento feliz de sua infância em que comia algodão-doce. Desta forma, apesar
de apresentar um significado comum, “algodão-doce” apresenta um diferente
significante para cada pessoa, dependendo de sua experiência. Piaget também
fez uso do conceito de significante em sua teoria.
Para complementar, imaginação é a atividade psíquica, geralmente
voluntária, que evoca imagens percebidas no passado (mnêmicas) ou cria novas
imagens. As alterações da sensopercepção podem ser quantitativas ou
qualitativas.
52
As imagens perceptivas têm intensidade anormal:
4.2 Atenção
53
Hipoprosexia: Diminuição global da atenção, acompanhada de diminuição na
concentração, compreensão e percepção e aumento na fadiga.
Hiperprosexia: Atenção exacerbada, em que o indivíduo se detém em alguns
objetos.
Distração: É um sinal e não um déficit. Superconcentração em algo e inibição
de todo o resto.
Distraibilidade: O contrário da distração, é um estado patológico em que há
dificuldade para deter-se em qualquer coisa que envolva esforço produtivo.
4.3 Memória
54
b) Amnésia: perda de memória, seja da capacidade de fixar ou da capacidade
de manter e evocar conteúdos. Pode ser psicogênica (perda de elementos
focais com valor psicológico especifico) ou orgânica (não é seletiva).
c) Amnésia anterógrada: o sujeito não consegue mais fixar elementos
mnêmicos a partir do evento que lhe causou dano cerebral.
d) Amnésia retrógrada: o indivíduo não consegue lembrar fatos ocorridos antes
do trauma.
4.4 Pensamento
Eu sou, eu existo; isso é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo o
tempo em que eu penso; pois poderia ocorrer que, se eu deixasse de pensar,
eu deixaria ao mesmo tempo de ser e de existir. Agora eu nada admito que não
seja necessariamente verdadeiro: portanto, eu não sou, precisamente falando,
senão uma coisa que pensa. René Descartes (1596–1650)
55
por caracteres gerais dos objetos e fenômenos. Por sua vez, juízo seria o
processo de relação entre dois os mais conceitos.
56
Quanto aos processos do pensar, podemos dizer que o curso é o ritmo e
a velocidade que o pensamento flui. A forma é sua estrutura básica, preenchida
pelos conteúdos e interesses do indivíduo. Já o conteúdo, pode ser definido
como aquilo que dá substancia ao pensamento, como os temas predominantes
e assunto em si. As principais alterações dos elementos constitutivos do
pensamento dividem-se da seguinte maneira:
57
Pensamento prolixo: o sujeito se estende, dando voltas ao redor do tema, e
mescla o essencial com o supérfluo de forma imprecisa. Apresenta-se
principalmente, em quadros obsessivos-compulsivos.
Pensamento deficitário: é pobre e rudimentar, não separa o essencial do
supérfluo ou a causa do efeito. Os conceitos apresentam pouca flexibilidade.
Pensamento confusional: pensamento incoerente, advindo de alterações de
consciência. Dificuldade em estabelecer vínculos entre conceitos e juízos.
Pensamento obsessivo: ideias com conteúdos absurdos se impõem a
consciência de modo persistente e incontrolável. Existe uma luta constante
entre ideias obsessivas.
Mídias integradas
Estudamos as alterações nos elementos constitutivos do pensamento,
mas outras alterações podem acontecer no processo de pensar. Caso tenha
interesse, sugiro a leitura do livro “Psicopatologia e semiologia dos transtornos
mentais” de Paulo Dalgalarrondo, 2008.
4.5 Linguagem
58
Afasia de compreensão ou de Wernicke: o indivíduo continua falando, mas
de forma defeituosa e por vezes, incompreensível. Ocorre por lesões das
áreas temporais esquerdas e a compreensão está dificultada.
Afasia global: é grave e acompanhada de hemiparesia direita, mas acentuada
no braço.
59
Disartria: Incapacidade de articular corretamente as palavras devido a
alterações neuronais. Há dificuldade na articulação das consoantes verbais
e dentais. Ocorrem em patologias neuronais psiquiátricas e neurológicas.
Disfonia e disfemia: a disfonia é a alteração da fala produzida pela mudança
no som das palavras, enquanto que a afonia é uma forma acentuada da
disfonia, na qual o indivíduo não emite nenhum som ou palavra. Esta
alteração ocorre por conta de disfunção do aparelho fonador ou por um
defeito de respiração durante a fala. Já a disfemia é a alteração da
linguagem falada sem qualquer lesão orgânica, mas sim determinada por
fatores psicogênicos, este quadro costuma estar associado a estados
emocionais intensos e quadros histéricos conversivos. Um tipo muito
frequente da disfemia é a gagueira, que é a dificuldade de pronunciar certas
silabas no começo ou ao longo de uma frase que possui repetição ou
intercalação de fonemas ou somente trepidação na elocução. Outro tipo
comum de gagueira é quando o paciente não consegue pronunciar
determinada palavra, mostrando esforço e acabando por dizê-la de forma
expulsiva e rápida. A gagueira pode ocorrer mediante defeitos mecânicos na
fonação (como respiração viciosa) e também fatores emocionais.
60
possuem alterações orgânicas e tem origem psicogênicas, devido a conflitos
interpessoais ou imitações.
Logorreia: na logorreia existe a produção aumentada e acelerada da
linguagem verbal, que é chamada de taquifasia e pode acompanhar perda
da lógica do discurso. Já a loquacidade é o aumento da fluência verbal sem
qualquer prejuízo da lógica no discurso.
Bradifasia: fala lenta e difícil. Se opõe a taquifasia. Nestes casos, o paciente
fala de maneira vagarosa e em geral, associa-se com quadros depressivos,
demências e esquizofrenia.
Mutismo: ausência de resposta oral do paciente, quando o paciente
apresenta possibilidade de fazê-lo. Os fatores que o desencadeiam são muito
variáveis, podendo ser de natureza neurobiológica, psicótica ou psicológica.
Geralmente, é uma forma de se opor as solicitações do ambiente. Este
quadro é muito observado em quadros esquizofrênicos, depressões graves
e vários tipos de estupor. É frequente em crianças, o mutismo seletivo,
forma de origem psicológica do mutismo ocasionada por conflitos
interpessoais, dificuldades de relacionamento, frustrações, medos,
ansiedade etc.
Glossário
Estupor - Estado mórbido em que o doente, imóvel, não reage a estímulos
externos, nem a perguntas. Qualquer paralisia repentina.
61
Tiques verbais: são produções de fonemas ou palavras de forma recorrente
e imprópria. No tique verbal o paciente pode produzir sons guturais e
abruptos desagradáveis, mas impossíveis de serem contidos.
Cropolalia: emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas, vulgares
e relativas a excrementos. Junto com os tiques verbais, a cropolalia é muito
característica do Transtorno de Tourette.
Saiba mais
Para saber mais sobre o Transtorno de Tourette, acesse o site:
https://drauziovarella.com.br/crianca-2/sindrome-de-tourette-2/.
Atividades de Aprendizagem
62
2. Atenção é a direção que se dá para a consciência e se refere ao conjunto de
processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e
organizar certas informações. Sobre as alterações de atenção, diferencie
distração de distraibilidade.
63
Aula 5 – Aprendizagem humana
64
Figura 5.1: Aprendizagem humana
Fonte: © Freepik
65
em um processo histórico que, ao mesmo tempo, nos oferece dados e visões
sobre o mundo e nos permite criar uma visão pessoal sobre este mundo. Cada
um está inserido, desde seu nascimento, em um tempo e um espaço em
constante movimento, nossa história de vida caminha processando uma outra
história integrada com tantas outras que se cruzam.
Construímos nossa história com a participação dos outros e da
apropriação do patrimônio cultural da humanidade. A constituição do ser humano
passa então pela vivência com os outros e vai se consolidando na formação de
cada um. Tanto a criança quanto o adulto trazem em si marcas de sua história,
marcadas pelos aspectos pessoais que passaram por processos de
transformação e trazem também marcas da história acumulada por grupos
sociais com quem partilham o mundo.
Vygotsky tem uma visão do desenvolvimento humano baseada na ideia
de um organismo ativo cujo pensamento é constituído em um ambiente histórico
e cultural. Para ele a criança vai então, reconstruindo internamente resultados
de seus processos interativos. Essa reconstrução é baseada em uma dupla
estimulação: a interpsicológica, ou seja, tudo que está no sujeito existe antes no
social e quando é apreendido e modificado no sujeito, passa a existir então no
plano intrapsicológico, ou seja, internamento no indivíduo. A medida que a
criança vai aprendendo ela vai se modificando.
A criança só irá ampliar sua compreensão de um conceito quando
aprender no social e depois internalizá-lo, pois somente assim será apta a pensar
sobre ele. As possibilidades que o ambiente proporciona ao sujeito são, portanto,
fundamentais para que ele se constitua enquanto indivíduo consciente, capaz de
alterar as circunstâncias em que vive. O acesso a instrumentos físicos e
simbólicos para a aprendizagem da criança é fundamental.
O tempo vai permitindo as interações com parceiros mais experientes que
orientam o desenvolvimento do pensamento e do comportamento da criança. A
linguagem constitui papel fundamental neste processo de transformações que
permite a passagem das funções elementares para as superiores.
É a linguagem do ambiente que permite a criança a perceber o real em
determinado tempo e espaço, que aponta o modo pelo qual a criança apreende
as circunstâncias em que vive, cumprindo dupla função: permite a comunicação
e organiza a conduta, além de expressar o pensamento e ressaltar a importância
66
reguladora dos fatores culturais presentes nas relações culturais. Portanto, o
confronto da percepção da criança com a de seus parceiros de ambiente se
mostra imprescindível para a apropriação de significados, que depois poderão
se transformar em sentidos.
Significado e sentido tem uma importante distinção nesta teoria.
Significado é algo convencionalmente estabelecido pelo social, enquanto que
sentido é a interpretação que o sujeito histórico dá a algo.
A troca entre os parceiros em sala de aula permite esta negociação entre
os sentidos. É nas interações que o conceito científico passa a ser discutido em
um processo descendente e, os conceitos cotidianos passam a ser enriquecidos
e tomam caminho ascendente, já que são ampliados pelo conhecimento
científico.
A fala é uma das formas pelas quais os significados sociais são
compreendidos e está permeada por expressões afetivas que se tornam também
alvo das interações: preferências, antagonismos, simpatias, antipatias,
concordância etc., a ação e a fala se unem na coordenação de várias
habilidades, entre elas o pensamento discursivo. Assim, os sentidos adquiridos
permitem ao sujeito articulações internas que requerem negociações para
alcançar significados.
Adultos e crianças podem conferir às palavras significados e sentidos
diferentes, então, quando um adulto interage com uma criança estimula a
expansão de conhecimentos e a elaboração de sentidos particularizados dela.
Dessa forma, o ser humano continua em constante transformação, pois a
internalização não é uma adoção passiva do conhecimento apresentado à
criança e sim, uma reconstrução mental do funcionamento interpsicológico, a
internalização é uma aquisição social.
Para Vygotsky é importante que as classes não sejam socialmente
homogêneas, pois assim seria reproduzido um domínio social e esta seria a
visão de mundo dos estudantes. Também não é aceita a ideia de classe
organizada de forma que somente o professor fala e os estudantes escutem e
anotem no caderno. Vygotsky propõe uma sala de aula em que todos têm a
possibilidade de falar, levantar hipóteses, estabelecer um processo dinâmico e
um vínculo de parceria.
67
Cabe aos professores a importante tarefa de promover a articulação dos
conceitos espontâneos e dos conceitos científicos. Ele deve instruir, explicar,
informar, questionar e corrigir o estudante, explicitando seus conceitos
espontâneos. Para o sóciointeracionismo, o desenvolvimento se dá para além
da soma de experiências, pois também é encontrado na vivência das diferenças.
O estudante aprende concordando, imitando, fazendo oposição e analogias e
internalizando símbolos e significados.
68
Figura 5.2: Convívio social
Fonte: © Freepik
69
5.3 Aprendizagem para Bandura
70
As principais pesquisas do autor se referiam a aprendizagem e
comportamento agressivo e, seus estudos concluíram que crianças que são
expostas a situações de agressividade exibem respostas imitativas agressivas,
isto demonstra a importância dos modelos reais e simbólicos.
Nesta teoria é enfatizada a importância de processos vicários, simbólicos e
auto regulatórios. A aprendizagem é resultado de experiências diretas que
podem ocorrer em uma base vicariante, ou seja, por meio da observação dos
comportamentos e experiências de outras pessoas e suas consequências. Por
exemplo, um estudante poderá aprender determinado esporte imitando os
gestos e passos do professor, portanto aqui fica clara a importância da figura do
educador, pois estes são agentes sociais na construção tanto da aprendizagem
quanto do sujeito, vistos que são modelos de cognição para os estudantes.
Glossário
Vicariante - relativo a ou que apresenta vicariância.
"espécies v.", 2 medicina - que assume a função de outro órgão (diz-se de
órgão).
71
comportamento emitido pelos outros. A pessoa observa, depois forma uma ideia
de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores,
esta informação codificada serve como um guia para a ação.
Atenção!
O conceito de modelagem de Bandura difere do conceito de modelagem do
Behaviorismo, a teoria de Skinner.
72
objetiva e além de pretender explicar os fenômenos, acha-se capaz de controlá-
los.
Mesmo em toda a sua variabilidade existe uma pretensão em dominar o
funcionamento humano e é por isso que Rogers e os fenomenologistas se
mostravam resistentes a teoria de Skinner e outros autores, por acreditar que
estes buscavam certo status na ciência, a fim de construir um conhecimento
mensurável e constante sobre o comportamento humano, neste tipo de
abordagem o pensamento intuitivo é descartado.
Para a fenomenologia, a ciência precisa de construções hipotéticas cada
vez mais próximas da realidade dos fenômenos. Esta abordagem tem uma visão
humanista, ou seja, não compreende o ser humano por uma abordagem
mecanicista, mas como um ser que evolui, que busca construir valores,
realização pessoal e o bem-estar para todos. Os maiores representantes deste
pensamento são Rogers, Maslow e Combs.
Rogers acredita que a educação deve se basear na aprendizagem
significante, ou seja, deve ser baseada nos significados que os estudantes dão
ao conteúdo que é a eles apresentado. A aprendizagem não é meramente uma
tarefa, algo sem sentido deslocado do cotidiano, mas deve estar associada com
questões que sejam concernentes com a vida daquele que aprende. O intuito da
aprendizagem significante é provocar reflexão e mudanças em toda a vida do
sujeito, em suas crenças, valores, mundo afetivo e cognitivo, personalidade e
relações sociais.
Para Rogers, o estudante é o centro e é ele que deve conduzir sua própria
aprendizagem e o papel do professor é responsável por construir um clima
facilitador para seu estudante, preocupando-se em reconhecer suas motivações
e interesses. O professor propõe uma regra, mas em contrapartida escuta a
sugestão dos estudantes e, só depois fecha com eles um “contrato”, assim o
objetivo fica claro e todos são participantes ativos nesta meta. Por meio deste
posicionamento, o professor demonstra empatia e se coloca na posição de quem
também aprende. O professor precisa demonstrar seus sentimentos e aptidões,
seus limites e seus potenciais, ou seja, deve ser coerente consigo mesmo.
A aprendizagem ocorre quando o indivíduo incorpora o conhecimento
como algo seu e este algo permite que a vida do sujeito seja transformada, dando
73
novas dimensões à vida do sujeito. Aprender significa então atribuir significados,
manipular significantes e ser capaz de alterar percepções.
O estudante tenta ser alguém no mundo, dar sentido para a sua
existência, portanto é importante que sua existência esteja aberta para reflexão
e novos desafios, porque, como dito anteriormente, ao não dispor de
conhecimentos necessários para enfrentar um novo desafio, o sujeito pode se
sentir ameaçado por esta força. Mediante isso, se faz necessário que o professor
se questione e faça a si mesmo a seguinte pergunta: quando estou em sala será
que minhas explicações chegam a compreensão da realidade ou são meras
figuras de linguagem que construo para mim mesmo?
Aprender é dar sentido para aquilo que nossa ignorância tem resistência
em revelar. É criar um elo entre objetos, fenômenos, significados e significantes
e para isso é preciso estar com vontade de crescer. A aprendizagem é um
convite para descobrir algo de novo em si, é saber dos próprios limites,
ausências, lacunas e desejos.
Para Rogers, a força motriz dos seres vivos é a tendência a atualização,
que tem como fim a autonomia. O processo constante de atualização gera
abertura a novas experiências, capacidade de viver o aqui e agora, confiança
nos próprios desejos e intuições, disponibilidade para criar e liberdade e
responsabilidade de agir. A melhor qualidade de um professor, na visão de
Rogers, é interferir quanto menos possível no processo de aprendizagem do
estudante, ou seja, usar o método não-diretivo, marca forte dos rogerianos.
74
Figura 5.4: Dificuldade de aprendizagem
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/fotos-gratis/o-estudante-deprimido-tem-dificuldade-
em-aprender_1231251.htm
75
sobre como o seu trabalho influencia (ou não) na dificuldade do estudante.
Discutiremos o assunto de forma mais aprofundada na última aula desta matéria.
Atividades de Aprendizagem
76
Aula 6 – Inteligência
https://br.freepik.com/fotos-gratis/pessoas-relaxando-no-tabuleiro-de-xadrez_1385319.htm
Olá! Nesta aula você irá aprender que a inteligência pode ser definida como o
conjunto de habilidades cognitivas do indivíduo. Dentre estas está a capacidade
de identificar problemas e resolvê-los de forma satisfatória. As principais
habilidades do constructo da inteligência, são: raciocínio, planejamento,
pensamento abstrato, resolução de problemas, aprendizagem a partir da
experiência e compreensão de ideias complexas.
77
Figura 6.1: Aprendizagens e exeriências
Fonte: © Freepik
79
Figura 6.3: Período pré-operatório
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/fotos-gratis/rapaz-pequeno-que-prende-um-quadro-
negro_1015911.htm#term=criancas&page=4&position=2
80
Figura 6.3: Estágio operatório-concreto
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/fotos-gratis/grupo-de-criancas-se-divertindo-no-
parque_1233257.htm#term=criancas&page=5&position=42
81
Figura 6.4: Estágio operatório-formal
Fonte: © Freepik
https://br.freepik.com/fotos-gratis/garota-em-fones-de-ouvido-tomando-
selfie_2073925.htm#term=criancas&page=6&position=11
82
Até 1960 a definição de inteligência era unifatorial, ou seja, acreditava-se
que havia um fator geral que a explicasse e esta era chamada de “inteligência
geral”. A partir de 1960, passou a ser defendido um modelo de inteligência
multifatorial, defendendo que as inteligências específicas e parciais têm
autonomia e independência entre si e passou-se a estudar inteligências do tipo:
social, intrapessoal, motivacional, fluída, maquiavélica etc. A “inteligência
emocional” (que faz parte da inteligência social) ganhou espaço nos últimos
anos, devido a publicações de autoajuda.
Existem diferentes proposições e separações em relação a inteligências,
portanto, escolhi tratar das divisões propostas pelo autor Howard Gardner. Para
Gardner (1995) inteligência é a capacidade de resolver problemas ou elaborar
soluções importantes para o ambiente ou sociedade. O autor acredita que todo
ser humano possui pelo menos oito competências intelectuais que se combinam
e organizam de maneiras particulares.
83
Figura 6.3: Teoria da inteligência múltipla
Fonte: © Sajaganesandip / Wikimedia Commons
84
6.2.4 Inteligência musical
85
Habilidade para usar e controlar movimentos do corpo e manipular
habilmente objetos. É possível utilizar estas habilidades para fins esportivos. É
possível notar esta inteligência em pessoas com grande destreza e coordenação
motora.
Para além destas oito inteligências, Gardner também considerou a
Inteligência existencialista, que seria a capacidade do ser humano em refletir e
ponderar questões fundamentais da existência.
Mas, Gardner não chegou a validar completamente esta forma de
inteligência, chega a inclusive falar que existem “8 inteligências e meia”.
Gardner estabelece duas propostas científicas e duas escolares. Quanto
a parte científica, o autor afirma que todos os seres humanos possuem todos os
tipos de inteligência, mas desenvolverão algumas de forma mais intensa do que
outras e, isto leva a sua segunda formulação: não existem dois perfis de
aprendizagem totalmente iguais. Ora, isto nos leva a uma reflexão: como “medir”
e avaliar o conhecimento de nossos estudantes se nenhum deles possui o
mesmo perfil de aprendizagem? Esta reflexão nos leva a crer que alguns serão
favorecidos enquanto que outros serão desfavorecidos neste processo.
86
ao descobrir que em muitos trabalhos precisa desenvolver outros tipos de
inteligência. De nada adianta dominar a lógico-matemática e não saber se
relacionar com sua equipe de trabalho, por exemplo. Desenvolver o raciocínio
lógica não garante o sucesso, como muitos costumam acreditar.
Vamos então as proposições educacionais de Gardner! Para o autor, é
preciso (mesmo sabendo que existe aqui certo grau de utopia) individualizar o
ensino e a avaliação do estudante. Pensemos juntos: se cada um tem um estilo
de aprendizagem e um perfil de inteligência (com algumas mais desenvolvidas
e outras menos), parece justo avaliar todos estes estudantes da mesma forma?
Gardner diria que não. Ele acredita que o que deve ser avaliado é o
conhecimento real do estudante e provas e testes generalistas não dão conta
disto.
Além de individualizar o ensino, Gardner afirma que um mesmo tema
deveria ser explorado em diversas matérias ao mesmo tempo, porque assim,
seria capaz de atingir um maior número de estudantes. Ou seja, ao estudar
erupções vulcânicas seria interessante poder explorar este assunto em ciências,
para compreender o impacto deste fenômeno na evolução do planeta, em
geografia, compreendendo sua formação e funcionamento, em história,
conhecendo importantes fatos ao redor desta temática, em artes, sobre formatos
e estrutura de um vulcão e assim por diante. Dessa forma, mesmo aquele
estudante que não possua aptidão em determinada matéria será capaz de
compreender (por outro ângulo) este conteúdo.
Para além desta compreensão, poder estudar um mesmo tema sob
ângulos tão diferentes permite aos estudantes expandir suas ideias e discursos,
pois assim perceberão que um mesmo objeto tem diversas faces e pode ser
olhado por variados ângulos. Este tipo de prática desenvolve uma visão
sistêmica e reflexiva sobre o mundo, pois permite ao estudante perceber que
outra pessoa pode pensar sob uma perspectiva diferente da sua.
Além do modelo de inteligências múltiplas proposto por Gardner, outros
modelos também se tornaram conhecidos, sendo eles: o modelo de Cattell, de
1971, anterior a Gardner, que dividia a inteligência em cristalizada
(conhecimentos adquiridos por meio da experiência) e fluída (capacidade de
compreender relações sem ter experiência prévia).
87
Já Sternberg, em 1997 (após Gardner), classificou a inteligência, como:
componencial (capacidade analítica, eficiência em que uma informação é
processada pelo sujeito), experencial (entendimento, originalidade e com que
eficiência abordam tanto tarefas novas como familiares) e por fim, contextual
(praticidade, com que eficiência as pessoas lidam com seu ambiente).
88
ambientais desfavoráveis, assim como a privação psicossocial, que pode ser
estabelecida pela ausência dos pais e substitutos, desnutrição, falta de estímulos
afetivos e cognitivos, violência, entre outros. Sabemos que a deficiência
intelectual grave e profunda, em sua maioria, tem uma causa orgânica e, com
frequência, são acompanhados de distúrbios neurológicos e físicos.
Por meio de avaliações que envolvem teste de QI (Quociente de
Inteligência) e avaliações de adaptação do indivíduo, é possível classificar a
deficiência intelectual em 5 graus diferentes, sendo eles:
a) Deficiência intelectual leve: QI de 50 a 69; corresponde à idade mental de
uma criança de aproximadamente 9 a 12 anos, segundo estatísticas seu nível
escolar segue razoável até a 6ª ou 7ª série do fundamental. 85% dos
indivíduos com deficiência intelectual estão nesse nível. Transtornos
associados: Transtornos de conduta e autismo.
b) Deficiência intelectual moderado: QI de 35 a 49; corresponde à idade mental
de uma criança de aproximadamente 6 a 9 anos, segundo estatísticas seu
nível escolar segue razoável até a 2ª série do fundamental. 10% dos
indivíduos com deficiência intelectual estão nesse nível. Transtornos
associados: Transtornos de conduta e autismo.
c) Deficiência intelectual: QI de 20 a 34; corresponde à idade mental de uma
criança de aproximadamente 3 a 6 anos, segundo estatísticas não consegue
frequentar a escola, muitas vezes. 3 a 4% dos indivíduos com deficiência
intelectual estão nesse nível. Transtornos associados: Déficits motores
sensoriais, epilepsia.
d) Deficiência intelectual profundo: QI de abaixo de 20; corresponde a idade
mental de uma criança de aproximadamente menos de 3 anos, segundo
estatísticas não consegue frequentar a escola. 1 a 2% dos indivíduos com
deficiência intelectual estão nesse nível. Transtornos associados: Déficits
motores sensoriais, epilepsia.
89
tipos de inteligência: interpessoal, intrapessoal, linguística, lógico-matemática,
musical, corporal, naturalista e espacial.
Além das inteligências múltiplas, discutimos a inteligência a partir da visão
de Piaget e as alterações da inteligência, conhecidas como deficiência
intelectual.
Atividades de Aprendizagem
1. A fim de compreender o que é inteligência, utilizamos a definição de Gardner.
O autor acredita que inteligência é a capacidade de resolver problemas ou
elaborar soluções importantes para o ambiente ou sociedade. Gardner também
realiza duas proposições cientificas sobre a inteligência. Escolha uma e disserte
sobre a mesma, explicando sua importância.
90
Aula 7 – Motivação e afetividade
Olá estudante! Seja bem-vindo, seja bem-vinda à nossa sétima aula. Até aqui
você já compreendeu o que é o processo da aprendizagem, a inteligência e
alguns aspectos básicos do comportamento e, quais os desafios que estes
fenômenos nos trazem em sala de aula. Agora então, chegamos ao momento de
buscar compreender como a afetividade e a motivação se apresentam e qual
nosso papel enquanto professores, em relação a cada um desses aspectos que
se apresentam na prática educacional.
91
Figura 7.1: O afeto é importante fator para a aprendizagem
Fonte: © Freepik
7.1 Afetividade
Saiba mais
Assista ao vídeo de Mario Sergio Cortella no qual responde qual é a relação
entre afetividade, vínculo e aprendizagem. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7bywstc8YF8.
92
interesse sobre sua matéria é importante se perguntar qual a sua parte nisso.
Mesmo que o “estudante não tenha interesse por nada”, cabe a você,
compreender seu perfil de aprendizagem e inteligência (como visto nas aulas
anteriores).
93
O sentimento pode ser descrito como estados afetivos estáveis. Em
comparação com as emoções, são menos intensos e mais duradouros. Tratam
de conteúdos intelectuais, de valores e representações, que podem apresentar
diferença de sentido em determinadas línguas. Os sentimentos (assim como as
emoções) costumam ser vivenciados em polos, como, agradável e
desagradável, prazeroso e desprazeroso. A tonalidade dos sentimentos pode ser
dividida da seguinte forma: esfera da tristeza (saudade, tristeza, vergonha,
remorso), esfera da alegria (euforia, satisfação, expectativa), esfera da
agressividade (raiva, rancor inveja, nojo) e a esfera da atração pelo outro (amor,
carinho, gratidão, amizade), esfera do perigo (temos, desamparo, abandono) e
por fim da esfera narcísica (orgulho, arrogância, prepotência).
Por afeto, definimos a qualidade e tônus emocional dirigida a algum
objeto. Pode-se dizer que o afeto é o componente emocional de uma ideia. Por
sua vez, paixão pode ser definida como um estado afetivo intenso que domina a
atividade psíquica como um todo, dirigindo a atenção em só direção e inibindo
outros interesses. Uma paixão intensa impede o exercício de uma lógica
imparcial.
Agora que já compreendemos o que é afetividade, listaremos quais são
suas principais alterações:
a) Distimia: alteração básica do humor, tanto na inibição (distimia hipotímica)
quanto na exaltação (hipertímica).
b) Disforia: Distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável,
mal-humorada.
c) Euforia: humor exagerado, desproporcional as circunstâncias.
d) Puerilidade: caracterizada por aspecto infantil, simplório e regredido
(individuo ri ou chora por motivos banais).
e) Irritabilidade patológica: hostilidade desagradável e por vezes, agressiva.
7.2 Motivação
94
Nossa tarefa aqui se torna mais difícil, é possível destrinchar o que é
afetividade, mas, e quanto a motivação? Tratarei da motivação já em
consonância com a educação e aos poucos será possível compreender do que
este conceito se trata.
Pensaremos na motivação como uma via de mão dupla. É comum que ao
menor sinal de dificuldade do estudante seja alegado que o motivo seja a falta
de motivação, colocando esta como primeiro obstáculo da aprendizagem. Mas é
possível pensar também que grande parte das dificuldades dos professores
pode ter sua origem também na falta de motivação. E sabemos que um não
escapa ileso da dificuldade do outro. Portanto, é preciso mudar o discurso de
que a causa de falta de sucesso na aprendizagem decorre unicamente da falta
de motivação do estudante, parando então nossa investigação. Tanto é possível
que o estudante esteja com problemas, quanto é possível também que a solução
passe pela motivação dos professores.
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Atenção!
Neste ponto de nosso trabalho, é possível que você esteja se perguntando: mas
tudo isso é responsabilidade do professor? Avaliar motivação, inteligência, perfil
de aprendizagem, processos básicos de comportamento e ainda por cima
realizar uma análise individualizada de cada estudante? Temos de concordar
que o ideal é uma utopia. Mas também é importante recordar que existe uma
ética no trabalho do professor, em que este deve avaliar criticamente sua
conduta e estratégias e promover o trabalho da melhor forma possível com os
elementos que possui. Sabemos que muitas vezes, não há apoio familiar ou da
escola, mas é importante que o professor esteja atento a suas próprias falhas e
acertos, para que possamos construir uma educação transformadora, apesar de
todas as barreiras e frustrações encontradas no caminho.
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95
social e emocional, isto significa que as mudanças fundamentais no pensamento
devem ser acompanhadas por uma reorganização de objetivos e atitudes.
Motivação pode ser compreendida como o processo que explica fatores
de ativação, direção e manutenção da conduta em relação a determinado objeto.
Na aprendizagem, motivação pode ser compreendida em alguns
comportamentos, como: iniciar rapidamente uma tarefa, empenhar-se nela com
atenção, esforço e persistência etc.
É possível classificar a motivação como intrínseca e extrínseca. Enquanto
que na motivação intrínseca, o controle de conduta depende do sujeito em si,
seus interesses e disposições, na motivação extrínseca ocorre grande influência
do meio, ou seja, ela é inerente ao resultado da interação entre o sujeito e a
tarefa.
Na motivação extrínseca, portanto, existe grande interesse do sujeito em
receber recompensas ou, ao menos, evitar punições. O sujeito se preocupa com
sua imagem. A motivação intrínseca não busca por recompensas, relaciona-se
a tarefas que são capazes de satisfazer o sujeito por si só, ou seja, são metas
internas. Para alguns autores, as metas externas são metas de rendimento e as
internas são de aprendizagem.
Estudantes com metas de aprendizagem se envolvem de forma mais ativa
na escola, enquanto que estudantes com metas de rendimento se preocupam
mais em demonstrar suas competências. Portanto, é preciso esperar resultados
diferentes destes dois tipos de estudantes. Quando confrontados, alguns
estudantes podem se esforçar mais e outros, por sua vez, podem sentir-se
inibidos.
É preciso reforçar atitudes que possuem esta postura ativa (que não visa
somente o cumprimento da tarefa e nota). Esse reforço é importante, porque
assim a modificação de atitudes, favorecendo a melhora na aprendizagem.
Para Tapia (1997) não é possível ensinar a pensar sem trabalhar a
motivação. Para ele, querer e saber pensar são condições especiais que
permitem a aquisição e aplicação de conhecimentos, quando necessário. É
importante que o professor possa promover um ambiente seguro e confortável
para o estudante, para que assim ela possa se sentir pertencente a este mundo.
Vale ressaltar que, perceber a motivação do próprio professor com o processo
de aprendizagem auxilia e muito na motivação do próprio estudante.
96
Portanto, é possível ter os melhores materiais didáticos, mas estes serão
inúteis se os estudantes não se interessarem por eles. Mesmo com as melhores
técnicas didáticas, não haverá qualquer resultado positivo caso os estudantes
não se motivem por eles. Os métodos de ensino e estratégias devem ser
determinados de acordo com o estilo motivacional de cada estudante. Podem
ser identificados quatro tipos de estudante: os que procuram sucesso, os curioso,
os conscienciosos e os socialmente motivados.
Em uma visão ideal, a escola deveria avaliar cada perfil de motivação e
estimular a aprendizagem de acordo com este estilo. Estudantes socialmente
motivados atuarão melhor em trabalhos em grupos, enquanto que, estudantes
curiosos gostam de situações que envolvam resolução de problemas. É possível
pensar então, que a força motivadora é resultado da estratégia de ensino em
interação com as características individuais dos estudantes. Obviamente, esta
se torna uma tarefa difícil frente a realidade da educação, dessa forma, é
importante optar por uma diversidade de processos pedagógicos, para que
assim o maior número de estudantes seja atingido.
97
7.3 Motivação e afetividade na aprendizagem
98
Causa instável – esforço e atenção.
Já a contrabilidade exerce efeitos diversos sobre as expectativas,
emoções e motivações do aprendiz. Divide-se em:
Causa incontrolável – capacidade, sorte e influência do professor.
Causa Controlável – esforço.
O modo como o indivíduo interpreta estas atribuições é mais importante
do que a causa em si. Mas apesar de diferenças individuais serem notadas, é
possível fazer esta classificação de causas como foi realizado acima.
Muitos autores acreditam que a afetividade impacta fortemente a atenção
e motivação escolar, quesitos determinantes da capacidade de aprender. Mas,
a dificuldade em comprovar esta teoria reside no processo de conceituação e
pesquisa do tema.
Como vimos nas primeiras aulas, para que um estudo seja feito é
importante que ele seja algo além de uma crença ou opinião, ele precisa ser
estudado e validado. Quando falamos do impacto da afetividade na educação,
falamos de emoções e sentimentos, objetos de estudo subjetivos, o que dificulta
a apreensão de tais conceitos na prática.
Para Weiner (1985) as atribuições de causalidade em relação ao sucesso
e fracasso produzem diferentes emoções e sentimentos nos indivíduos e,
portanto, estas manifestações se associam a motivação do estudante e sua
autoestima, autoconceito e auto eficácia. Cabe aqui um exemplo, um estudante
que atribua seu fracasso como uma falta de capacidade, pode incluir sentimento
de culpa, vergonha e incompetência em seu repertório. Caso ocorra
agravamento da situação, esta ideia de incompetência pode gerar, inclusive,
ideias depressivas e dessa forma, agravar cada vez mais a motivação deste
estudante e seu desempenho escolar.
Martini e Boruchovitch (1999) demonstraram que quando a causa do
fracasso escolar é de ordem controlável, sentimentos de vergonha tendem a
surgir. Já quando as causas são incontroláveis é comum o aparecimento de
sentimentos de raiva. Causas internas e estáveis são as grandes influenciadoras
da depressão, apatia, resignação, desamparo e desânimo escolar.
Ainda de acordo com o trabalho realizado por Martini e Boruchovitch
(1999) foi possível constatar que a raiva surge quando a causa do fracasso é
percebida pelo indivíduo como algo que pode ser controlado por outras pessoas.
99
Quando o fracasso é decorrente de uma causa incontrolável para quem fracassa,
o sentimento é o de pena. Em casos de causas estáveis de fracasso é possível
se deparar com a desesperança e pôr fim a alegria, confiança e entusiasmo são
associadas a causas estáveis para o sucesso.
Atividades de Aprendizagem
Fonte: © Freepik
102
Olá estudante! Seja bem-vinda, seja bem-vindo. Chegamos a nossa última aula!
Agora, considerando tudo o que foi trabalhado até este ponto, podemos pensar
de forma crítica novas formas de enxergar a educação. Para compreender novas
possibilidades de perceber a educação, iniciaremos refletindo sobre como surgiu
a escola, em especial, a escola pública e obrigatória e, por fim, falaremos sobre
a diferença entre informar e transmitir.
103
8.1 Como surgiu a educação?
104
rei, ao forçar estas crianças a irem para a escola, estaria formando adultos leais
ao Estado. Os pais não tinham outra escolha senão encaminhar seus filhos,
correndo o risco de receber soldados armados para leva-los até a escola quando
não os pais não o faziam, alguns chegaram mesmo a ser presos ou mortos.
A ideia do rei consistia em formar soldados que não questionassem
ordens e fizessem imediatamente o que lhes fosse exigido. As crianças não
podiam fazer perguntas ou questionar os portadores da autoridade, no caso, os
professores.
Como resultado, todas as crianças teriam a mesma opinião sobre as
matérias dadas – vale considerar, que eram as matérias consideradas
importantes pelo estado.
Obviamente, o rei não queria que seus descendentes fossem sujeitos a
essa educação. Não poderiam eles ser cegos obedientes, deveriam ser criativos
e independentes. Para tal fim, criou um segundo sistema, que ficou conhecido
como a “verdadeira escola” (enquanto que a outra era a “escola do povo”).
Participavam dela também os filhos de comerciantes e funcionários públicos. Um
total de 93% de crianças participava da escola do povo, enquanto que 7%
participavam da verdadeira escola.
Observando o modelo proposto, o restante da Europa e os povos da
América copiaram a ideia do ensino obrigatório, levantando a bandeira de
igualdade social e de “escola para todos”, mas a verdadeira busca era por um
modelo elitista e de disputa de classes, que criasse trabalhadores cada vez mais
alienados na ilusão de que havia alguma igualdade social.
Napoleão, inimigo declarado dos déspotas, alegou pouco tempo depois
que também formaria um corpo docente para poder dirigir a opinião dos
franceses. A escola nasceu como uma necessidade para os trabalhadores, mas
não para auxilia-los e sim, para criar operários melhores e para que os
trabalhadores pudessem ter onde deixar seus filhos enquanto trabalhavam –
ideia muito parecida com a de alguns críticos da atualidade de que a escola
aparenta, muitas vezes, ser só um estacionamento de crianças.
Atenção!
A escola nasceu como uma necessidade para os trabalhadores, não para que
pudessem deixar de ser operários, mas para que fossem melhores operários!
105
O ensino passou a ser obrigatório na grande maioria dos países e,
portanto, começou a receber muitos estudantes. Obviamente, não havia uma
estrutura adequada para receber tantos estudantes, já que sempre foi uma
instituição elitista e, por esse motivo, essa época foi marcada por grande evasão
escolar e dificuldades de aprendizagem e com o passar do tempo, a escola
começou a acumular as mais variadas funções sociais.
Além da transmissão de conhecimento, a escola cumpria seu papel na
socialização, nos ritos de passagem – como o vestibular – e mais tarde, com a
entrada da mulher no mundo do trabalho, as crianças precisavam ser cuidadas
por alguém e isto se tornou papel da escola.
Apesar de reconhecermos a importância da escola na questão da
socialização e mediação de regras e leis, para além da transmissão de
conhecimento, é importante demarcarmos este ponto das funções acumuladas
pela escola, pois será importante mais à frente.
106
atenção, é preciso sempre mais de um instrumento de avaliação para chegar a
uma conclusão. E hoje, sabe-se também que é imprescindível realizar
entrevistas em conjunto com os testes, pois estes isoladamente, não dão conta
de definir um sujeito.
É preciso ter uma visão integrada do cotidiano escolar e poucos enxergam
desta maneira. Há um grupo que tende a culpar a criança e enumerar diversos
déficits e outro que enxerga tudo como problema dos professores e no processo
aplicado por eles e, desta forma, perde-se de vista a visão global da
aprendizagem.
Uma criança com atitudes emocionais descompensadas, como:
insegurança, instabilidade, agressividade, tensões, ansiedade, baixa tolerância
a frustrações, resistência com as tarefas, hipersensibilidade, mudanças de
humor e impulsividade podem ser resultado da situação biopsicossocial da
criança, agregada com uma inabilidade na construção de relações sociais
adequadas. E uma criança ou adolescente pode viver sem saber logaritmos, mas
não pode viver sem saber se relacionar.
Não adiantará em nada resolver os problemas de aprendizagem se os
problemas de relação persistirem e, é aí que a psicologia entra. A criança com
dificuldade precisa ser respeitada enquanto ser humano e muitas vezes não é o
que vemos nas escolas. É preciso transformar esta criança em um membro real
da sociedade, compreendendo suas potencialidades e dificuldades de
aprendizagem, sem estabelecer um ideal societário.
107
E possível ser um professor reprodutor ou um professor transformador. O
primeiro tem postura autoritária e parte do princípio de que é detentor do saber,
não permitindo a si mesmo aprender com o estudante e dialogar. Já o segundo
admite que o estudante é um ser humano que mergulhou nas mais diversas
experiências e estas, enriquecem o processo de aprendizagem, este tipo de
professor valoriza o debate e o estudante.
108
da onipotência para o lugar de claudicante. É preciso que o professor esteja
atento a diferença entre transmitir e informar. Transmitir é muito mais do que
veicular a informação, o acúmulo de saber não torna ninguém mais ou menos
apto a ensinar, porque a transmissão está para além do que se define como
aprendido. A transmissão marca a expressão do nosso desejo e do que
queremos transmitir.
A transmissão do saber só acontece mediada pela transferência, pois a
relação professor e estudante implica em dois desejos, o de ensinar e o de
aprender. O conteúdo é uma ponte entre esses dois desejos e quando o
professor lança seu desejo e cria a oferta da aprendizagem, o estudante pode
embarcar ou não. A transmissão diz de algo que toca o sujeito e não do
conhecimento em si. Quando o professor se coloca em uma posição de detentor
de todo o saber, acaba por transmitir um conhecimento que não possui. A ação
educativa quer aparentar ser imune de incertezas, divergências e conflitos,
usam-se concepções e programações universais e lineares, mas é impossível
que um meio educativo possa ser uniformemente bom para todas as crianças.
O caminho que leva a ciência, a aquisição do conhecimento, passa pelo
professor, mas hoje o bom professor é aquele que não precisa dar a prova de
sua eficiência metodológica, que não insiste em técnicas vazias, não tenta
explicar o que não tem explicação, não responde simplesmente para aliviar seu
próprio mal estar e para se encaixar na posição de quem detém o saber, mas
sim aquele que suporta ser o substituto parcial da projeção do estudante, que
sabe que sua intervenção ultrapassa o discurso, que suporta um não-saber-o-
que-fazer-com-isso.
A única forma de o professor poder transmitir algo ao estudante é se for
autorizado por este, por isso é importante que o mestre saiba como ocupar este
lugar sem abusar de sua posição. Essa relação transferencial faz com que o
professor ocupe um lugar projetivo para o estudante, dando margem a
identificações, crenças, fantasias etc. Suportar este lugar não é fácil, exige muito
do professor, mas com certeza a recompensa é grande, pois é um lugar de
humildade, de quem permite que o desejo do estudante de aprender sobressaia
sobre seu desejo de ensinar e portar o conhecimento.
109
Aos professores cabem a difícil tarefa de envolverem a turma, sem
dominá-la. Muitas vezes, por meio da identificação, o estudante descobre sua
vocação por meio do professor, sem nem se interessar pela matéria lecionada.
O professor não deve deixar de ter sua própria personalidade, mas precisa se
controlar com os excessos e as tentações do poder. Para Kupfer (1998) é preciso
“matar o mestre para se tornar mestre de si mesmo, esta é uma lição que, já
vimos, pode ser extraída até mesmo da vida de Freud”.
O mestre que recebe a transferência do estudante e refreia sua vontade
de dominar, não liberta somente o estudante, mas também a si mesmo,
libertando-se de uma carga que é excessiva e indesejável, ao tornar-se
impotente perante o outro, para que este seja uma pessoa livre. Ao renunciar
isto em si mesmo, estará contribuindo para a formação pessoal do estudante.
É preciso se deixar ser questionado pelo estudante. O saber é mutante,
sempre se transforma. Posso ensinar algo por anos e mesmo assim sempre
existirá algo a ser descoberto. Quando alguém diz que já sabe tudo sobre
determinada coisa é sinal de que está em posição de negação do saber, é
impossível dar conta da totalidade, a teoria de Freud nos mostra isso. E é ao não
poder dar conta de tudo que temos sempre motivação de procurar saber mais,
mais e mais.
Quando nos deixamos ser interrogados por um estudante, seja eles
criança ou adulto, nos permitimos a ver o mundo sob os olhos deles. Cada um
tem suas próprias questões e subjetividade e, portanto, ele pergunta a partir de
algo que, no fundo, diz de si mesmo. Os outros terão questionamentos diferentes
dos meus, perspectivas e perguntas diferentes das minhas, mas não é porque
não são minhas perguntas que não posso me beneficiar de suas respostas. O
professor tem medo de mostrar ao estudante um lado seu que está em falta.
Saindo da posição de quem detém o conhecimento e compartilhando isto
com o estudante, o professor pode tornar sua própria prática mais agradável,
pois já não carregará o fardo de ser obrigado a saber tudo e poderá manter seu
conhecimento sempre em movimento. Por exemplo, quando uma criança o
questionar e você não souber a resposta, ela não vai pensar que você não é
inteligente, mas vai sentir que ela também tem capacidade de pensar e contribuir
com a aprendizagem de outras pessoas. Poder construir o conhecimento junto
com o professor fará com que a criança se sinta valorizada, motivada e com
110
autoestima elevada. E o mais importante de tudo: quando crescer, esta criança
não precisará basear suas decisões por um modelo pré-estabelecido, mas
poderá basear-se em suas próprias reflexões. Se ensinarmos que ela não é
capaz de pensar por si, ela compreende que sempre deverá se pautar pela
opinião de outras pessoas e assim aniquilamos seu pensamento crítico. Mas se,
pelo contrário, desconstruirmos esta imagem, daremos a ela a possibilidade se
ser mestre de si mesmo e defender suas próprias ideias.
Desta forma, encerramos esta aula (e nossa disciplina), em que
descobrimos como surgiu a escola e o ensino público obrigatório, além de
algumas das consequências resultantes deste momento da história. Também foi
possível compreender como a psicologia enxerga a relação entre o estudante e
o professor e quais cuidados o educador precisa ter nesta relação.
A diferença entre transmitir também ficou marcada e espero que possa
mediar esse conhecimento para sua prática, dando novos horizontes a seus
estudantes (e a si mesmo).
Mídias Integradas
“A educação está proibida”
Documentário que apresenta questionamentos sobre o modelo da escolarização
moderna e a forma de conceber a educação, mostrando diferentes experiências
educativas, não convencionais, que propõem um novo modelo educativo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OTerSwwxR9Y.
Atividades de Aprendizagem
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barreiras, paradoxos e ideias, mas esse potencial também pode ser convertido
em alienação, dependendo de como é utilizado. Considerando todo o histórico
de como surgiu a educação, faça uma breve reflexão de como isto afeta a escola
nos dias de hoje.
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Referências
PIAGET. Jean. Seis estudos de psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2006.
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Weiner, B. (1985). An atribucional theory of achievement, motivation, and
emotion. Psychological Review, 92(4), 548-573.
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Currículo do professora-autora
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