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Apresentação
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender no que consiste a reflexão racionalista
cartesiana. Verá também como as questões racionais se distinguem das irracionais por meio do
método cartesiano. Por fim, reconhecerá o que Descartes entendeu por conhecimento humano.
Bons estudos.
Já Descartes é chamado de pai da filosofia moderna porque muitos dos problemas e temas centrais
da filosofia pós-renascentista aparecem primeiramente na sua obra — de modo mais fundamental, a
insistência em começar com questões sobre o conhecimento, em vez de questões sobre a
realidade. Como podemos perceber, a razão é o elemento central da filosofia cartesiana.
Quem de nós nunca pensou ter sentido cheiro de algo e, então, constatado ser de outra coisa? Por
exemplo: sentimos o cheiro de flores e descobrimos se tratar de uma essência floral. Situações
como essas nos levam a pensar que não se pode confiar totalmente nos sentidos, uma vez que eles
podem nos conduzir ao erro. Essa constatação pode parecer banal, mas o reconhecimento de que
precisamos da razão para elaborarmos sobre o mundo e a existência foi o que inaugurou o sujeito
moderno e, com ele, a Modernidade.
Neste Infográfico, você vai compreender um pouco mais sobre a estruturação das ideias em relação
ao racionalismo cartesiano.
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Conteúdo do Livro
No trecho de uma das obras de René Descartes, conhecida como Meditações, apresenta-se o
famoso método da dúvida, em que se exige duvidar de qualquer coisa que possa ser verdadeira e,
então, chegar (se alguma coisa ainda resta) à certeza. Assim, contrariamente a considerar as crenças
individuais, Descartes propõe a análise dos fundamentos sobre os quais categorias inteiras de
crenças estão sustentadas.
Aprofunde seu conhecimento com a leitura do capítulo O racionalismo cartesiano, base teórica
desta Unidade de Aprendizagem.
Boa leitura.
FILOSOFIA
Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer a obra do filósofo francês René Des-
cartes e verificar a sua importância para a história da filosofia e da ciência
ocidentais. Em um primeiro momento, você vai ver por que, segundo
os historiadores, o pensamento de Descartes funda a chamada “filosofia
moderna”. Com o livro Discurso do Método (1637), Descartes fornece uma
expressão filosófica à Revolução Científica, que se anunciava no Ocidente
desde o Renascimento, marcando o fim da escolástica.
Além disso, você vai estudar o conceito de “razão” em Descartes,
com base na distinção entre as filosofias empiristas e racionalistas.
Você também vai conhecer o método de Descartes, isto é, o caminho
que ele propõe para conduzir o raciocínio em direção à verdade. Por
fim, você vai verificar como o pensamento cartesiano é indissociável
de uma matematização da realidade, bem como da separação entre
corpo e alma, ideias que Descartes desenvolveu a partir de sua máxima
“Penso, logo existo”.
do século XVII, não havia surgido uma teoria do conhecimento tão radi-
cal em sua originalidade. Os filósofos gregos foram audaciosos ao propor
um novo estilo de pensar, colocando em dúvida as verdades que os poetas
explicavam a partir dos mitos, e os sofistas, a partir da retórica. Da mesma
forma, o racionalismo de Descartes propôs uma forma de interpretar a
realidade que acabou superando a filosofia da Idade Média, então dominada
pelo pensamento escolástico. Por isso, Descartes é conhecido como um dos
pais da filosofia moderna.
Desde os gregos, portanto, nenhum pensador havia proposto uma mu-
dança tão radical na epistemologia (teoria do conhecimento) ou na metafísica
(especulação sobre o suprassensível) como aquela que se anuncia na obra de
Descartes. Isso porque toda a filosofia medieval é marcada pela tentativa de
reinterpretar a filosofia grega pagã à luz dos dogmas cristãos. Daí que se conte
a piada de que, apesar da profunda influência de Santo Agostinho (354–430
d.C.) e de São Tomás de Aquino (1225–1247), os dois mais importantes filósofos
da Idade Média foram, na verdade, Platão e Aristóteles. Todo o pensamento
medieval é apenas uma releitura sistemática dos conceitos filosóficos gregos
(AGAMBEN, 2012a).
É nisto, justamente, que consiste a radicalidade do pensamento de Des-
cartes: a sua filosofia não é simplesmente comentário ou releitura de outros
filósofos, mas é uma tentativa de fundar um sistema de pensamento coerente
e racional inteiramente novo. Para explicar a sua intenção, Descartes (1973a)
compara a sua filosofia com o trabalho de um arquiteto que demole uma
casa e constrói outra inteiramente nova a partir dos seus destroços: o que
ele pretendia demolir era justamente tudo aquilo que os escolásticos — isto
é, os doutores da Igreja de sua época — tomavam como verdade; e a casa
nova seria o seu pensamento racionalista, científico e matemático. É claro
que essa intenção de originalidade em relação aos professores da Igreja
não surgiu do nada. É bem evidente que o próprio Descartes se valia de
ideias da filosofia medieval para fundamentar os seus argumentos — espe-
cialmente quando trata Deus como um ser perfeito, indivisível e imutável
(DESCARTES, 1973a).
A importância de Descartes não é necessariamente o simples resultado
da publicação dos seus dois livros mais lidos, Discurso do Método (1637)
e Meditações Metafísicas (1641). Descartes faz parte de um contexto mais
amplo de crescente racionalização do mundo, que ficou conhecido como
Revolução Científica. Esse movimento havia se iniciado no Renascimento,
com cientistas e pensadores como Leonardo da Vinci (1452–1519), Nicolau
Copérnico (1473–1543), Galileu Galilei (1564–1642) e Johannes Kepler
O racionalismo cartesiano 3
O método cartesiano
Descartes foi o precursor do racionalismo moderno, justamente por desconfiar
de todas as verdades que seus contemporâneos afirmavam a partir de suas
experiências. No Discurso do Método, seu livro mais importante, ele conta
como estava descontente tanto com a filosofia que aprendeu nas universida-
des quanto com o saber dos outros povos que conheceu ao viajar para terras
distantes (apesar de ter nascido na França, Descartes adorava viajar; foi na
Holanda que ele desenvolveu o seu método).
O racionalismo cartesiano 7
Os escolásticos da Idade Média acreditavam que a alma humana era dividida em três partes:
razão, imaginação e memória. Por isso, para eles, todo o conhecimento humano dependia
em alguma medida da memória — isto é, das coisas aprendidas ao longo da vida com os
outros ou com os livros do passado. Quando Descartes propõe a sua dúvida metódica,
afirma que o sujeito do conhecimento não precisa da memória para buscar a verdade.
O melhor cientista, para Descartes, é aquele que pensa sozinho, sem a ajuda dos
outros. Por isso, a memória e as tradições culturais, segundo o racionalismo de Descartes,
mais atrapalham do que ajudam na busca da verdade. No ensaio “Experiência e Pobreza”,
o filósofo Walter Benjamin (1892–1940) problematizou os efeitos dessa crise da relação
entre memória e verdade nos tempos modernos. Para Benjamin (1994), o gesto de
Descartes de “demolir” o conhecimento do passado em favor de algo inteiramente
novo mudou a forma de os homens lidarem com eles mesmos.
Ao valorizarem uma verdade do presente que renega o passado, as pessoas acabam
se esquecendo de suas próprias origens — e saber de onde se vem é importantíssimo
para saber quem se é e como se vê o mundo. Daí que, no século XX, além de Benjamin,
muitos outros filósofos — como Martin Heidegger (1889–1976), Michel Foucault
(1926–1984) e Giorgio Agamben (1942) — interpretam de forma bastante crítica a
influência do racionalismo de Descartes sobre os tempos atuais, tentando revalorizar
as relações entre memória e verdade.
O racionalismo cartesiano 9
são aquelas que podem ser apreendidas pelos sentidos e que são mutáveis e
superficiais. O exemplo de Descartes (1973b) é o de um bloco de cera que,
quando colocado perto do fogo, muda completamente no que diz respeito a
como afeta os sentidos: modificam-se o tamanho, o cheiro, a forma, a cor,
etc. No entanto, ao esfriar, o bloco de cera volta à sua forma original. O que
permanece idêntico nesse bloco, o que faz ele “ser”, não é a sua extensão,
nem o modo como afeta os sentidos, mas as suas propriedades inteligíveis,
que somente a razão pode captar.
Na Figura 1, a seguir, você pode ver um exemplo da distinção cartesiana
entre qualidades primárias e qualidades secundárias. Não importa se são
usados corações ou números desenhados com símbolos diferentes: todas as
equações são matematicamente verdadeiras e expressam a mesma verdade.
Essa ordem ou harmonia matemática é o que constitui a qualidade primária,
o inteligível, o universalmente válido. O que muda é apenas a qualidade
secundária: o sensível, isto é, como essas imagens afetam a visão.
Assim, também o homem não pode ser definido pelo seu corpo, que muda
na medida em que envelhece ou adoece, mas apenas pela sua alma, pelas
propriedades eternas e imutáveis de seu intelecto:
Daí que a separação entre corpo e alma — ou entre res extensa (coisa
extensa) e res cogitans (coisa pensante) — seja indissociável dessa tenta-
tiva cartesiana de matematizar o mundo. A separação entre corpo e alma,
embora não questione a existência de Deus, coloca em crise o pensamento
teológico que se baseia principalmente na relação entre o homem e o divino,
o múltiplo e o uno. O que é moderno em Descartes é, justamente, essa
distinção radical entre um sujeito puramente racional e o mundo que o
circunda, cuja distância só pode ser ultrapassada a partir de um pensamento
metódico e racional.
Imagine viver em um mundo em que o conhecimento é sempre pensado como algo externo a você.
Agora, suponha que esse conhecimento, além de ser externo, é metafísico, isto é, ele depende de
elementos extramundanos que decidem se apresentar ou não, se fazer conhecer ou não. Foi esse
modo de conceber a realidade que René Descartes recusou. Nesse sentido, não se pode dizer que
se trata meramente de uma recusa à divindade — até mesmo porque Descartes concebe a ideia de
Deus —, mas, sim, de considerar que Deus deu a razão às pessoas para acessarem a verdade do
mundo e da própria existência. Por isso, a razão, na teoria cartesiana, assume o lugar de princípio
central na existência humana.
Nesta Dica do Professor, você vai acompanhar como se desenvolve tal argumentação na obra de
Descartes.
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Exercícios
1) A Modernidade é marcada por teorias de cunho racional que demarcam uma ruptura com o
pensamento medievo. Nesse contexto, o pensamento moderno tem a razão como
fundamento e princípio de reflexão sobre o mundo e a existência. Partindo disso, pode-se
dizer que o movimento racionalista inaugurado por Descartes tem uma posição
extremamente vertical aos seus contemporâneos.
2) Até o Renascimento, o fundamento da filosofia era Deus, ou seja, o âmago para tudo o que
existia era tido como divino, bem como o conhecimento era visto como um resquício da
divindade no humano. Durante o Renascimento, a filosofia passou a ter como fundamento o
homem. Assim, a máxima de que “o homem é a medida de todas as coisas” é retomada
durante o chamado Renascimento Cultural. Contudo, o fundamento que norteia a
Modernidade e a inaugura é outro.
A) Descartes afirma que o homem é uma "coisa pensante" devido à sua capacidade exclusiva em
aprender por meio dos sentidos.
B) Descartes afirma que o homem é uma "coisa pensante" devido ao fato de a razão ser um
elemento universal entre os homens.
C) Descartes afirma que o homem é uma "coisa pensante" devido ao fato de o conhecimento
estar voltado às sensações.
D) Descartes afirma que o homem é uma "coisa pensante" devido à relação empírica entre
verdade e conhecimento.
E) Segundo Descartes, o homem é uma "coisa pensante" porque é um ser meramente sensitivo.
3) O conhecimento, para Descartes, não é algo meramente dado, apesar de termos ideias
inatas. Nesse sentido, o ser humano busca acessar a verdade e isso só é possível por meio do
processo da dúvida metódica, que depende, essencialmente, de um princípio. É dessa forma
que Descartes chega à máxima “penso, logo existo”.
B) A afirmação "penso, logo existo" designa o homem como um ser estritamente sensorial.
C) A afirmação "penso, logo existo" designa o raciocínio individual por meio do qual as crenças
pessoais devem ser assumidas como verdades únicas.
D) A afirmação "penso, logo existo" designa o "pensar" como elemento central do conhecimento.
B) O raciocínio filosófico, para Descartes, consiste em acreditar nos dados dos sentidos.
Uma das oposições clássicas que seguem no imaginário ocidental é aquela existente entre razão e
emoção. Do mesmo modo, é possível observar a oposição hierárquica metafísica apresentada nas
dualidades corpo e espírito, material e imaterial, Deus e humano. A razão e os sentidos (em sua
ampla acepção) são colocados em oposição quando se trata de ter acesso a uma verdade, a não se
enganar, isto é, de ser objetivo.
Neste Na Prática, você vai acompanhar a história de João, que precisa se decidir se acredita no que
seus olhos pensam ter visto ou se age de forma mais racional.
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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