O filósofo e seu tempo: a modernidade de Descartes
A filosofia de Descartes inaugura de forma mais acabada o
pensamento moderno propriamente dito, juntamente com a dos empiristas ingleses. Pensamento antecipado e preparado pelo humanismo renascentista do século XVI, pelas novas concepções científicas e pelo ceticismo de Montaigne, o qual exerce influência fundamental em Descartes, sendo inclusive que alguns consideram a filosofia de Descartes uma filha do ceticismo.
A posição racionalista assumida por Descartes e por sua influência
assumida por Leibniz, Spinoza e Pascal (embora não concordem totalmente com Descartes) enfatiza a centralidade da razão humana no processo de conhecimento, a aceitação da existência de ideias inatas que pertencem à natureza da própria mente, e a possibilidade de fundamentar nelas os sistemas teóricos. Adotando esses pressupostos, também o racionalismo acaba enfatizando a existência de um “eu”, o que caracteriza a filosofia moderna pela ênfase na subjetividade e no indivíduo como fonte mais segura perante as instituições e os poderes estabelecidos da sociedade. É deste efeito por exemplo, a perca do poder político da Igreja e o que favorece o início das concepções políticas liberais.
O Racionalismo Cartesiano foi construído por Descartes. A base dessa
teoria está no que o filósofo entendia como lógica. Ele defendia a ideia de que o ser humano é capaz de construir o próprio pensamento. Para ele, todo ser humano é formado por uma substância pensante (a mente) e por uma substância externa (o corpo) e a isso denominamos dualismo psicofísico. René Descartes defendia a ideia de que é preciso duvidar antes de adquirir, organizar e analisar o conhecimento. Ele acreditava que é preciso colocar em dúvida todos os conhecimentos já existentes para, em seguida, buscar alcançar a verdade. O filósofo entendia que a realidade precisava ser contestada por completo e, junto com ela, o que acreditamos e conhecemos. Assim, Racionalismo Cartesiano é formado pelo pensamento e pela dúvida metódica. Essa dúvida em particular, é diferente da simples dúvida pois é radical, e duvida até mesmo da própria existência do mundo, que segundo Descartes poderia ser apenas uma brincadeira de mau gosto de um Deus maligno ou simplesmente um sonho muito grande. Contudo, para sair destas hipóteses Descartes conclui existe uma coisa de qual não se pode duvidar, que é do próprio sujeito que duvida, ou seja, do pensamento. É dessa definição que Descartes forma uma das suas linhas de pensamentos mais conhecidas, a ideia do “penso, logo existo”.
Para os racionalistas e Descartes, uma das maiores preocupações era
eliminar o erro do método científico, afim de instaurar uma ciência com critérios universais e necessários. É com essa mesma pretensão que Isaac Newton, por exemplo, desenvolve a base do cálculo e contribui para a visão de que a ciência tem o poder de descobrir e desvendar o universo através da matemática. É só posteriormente com Kant que essas pretensões começarão a ser criticadas. Aqui no momento de Descartes contudo, a preocupação estava ainda em eliminar o erro que segundo o racionalismo resulta na realidade de um mau uso da razão, de sua aplicação incorreta em nosso conhecimento do mundo. A finalidade da filosofia metódica é precisamente pôr a razão no bom caminho, evitando assim o erro. O método cartesiano segue assim quatro preceitos/regras fundamentais que visam eliminar o erro em qualquer investigação, sendo que foram fruto da própria observação de Descartes sobre sua vida e as dificuldades as quais enfrentou em seu percurso intelectual. Vale lembrar que Descartes estudou no colégio dos Jesuítas, colégio que enfatiza a teologia, mas mesmo assim o que mais apreciava era a matemática, devido a sua simplicidade e clareza. Essa clareza e distinção da matemática e mais especificamente da geometria, foi o que permitiu Descartes escrever seus quatro preceitos/regras do método, sendo eles:
Evidência – “Jamais aceitar uma coisa como verdadeira que eu
não soubesse ser evidente como tal” Análise – “Dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas partes quanto possíveis” Síntese – “Conduzir por ordem meus pensamentos a fim de conduzi-los do mais simples aos mais complexos” Revisão – “Fazer em tudo revisões a fim de nada omitir”