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Unidade 4 · Teste de avaliação

(adaptado para alunos estrangeiros, nível B2)

GRUPO I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Educação Literária
PARTE A

Lê o texto e consulta as palavras destacadas num dicionário físico ou online, se necessário.

Não volto aqui, dissera Lídia, e é ela quem neste momento bate à porta. Traz no bolso a chave da
casa, mas não se serve dela, tem os seus melindres, disse que não voltaria, mal parecia agora meter a
chave à porta como em casa sua, que nunca foi, hoje ainda menos [...]. Ela diz, Desculpe, senhor doutor,
não tenho podido vir, mas quase sem transição emendou, Não foi por isso, pensei que já não lhe fazia
5 falta, tornou a emendar, Sentia-me cansada desta vida [...], Tens-me feito falta, disse ele, e calou-se,
dissera tudo o que havia para dizer. Lídia deu dois passos para a porta, irá ao quarto fazer a cama, irá à
cozinha lavar a louça, irá ao tanque pôr a roupa em sabão, mas não foi para isto que veio, ainda que
tudo isto venha a fazer, mais tarde. Ricardo Reis percebe que há outras razões, pergunta, Por que é que
não te sentas, e depois, Conta-me o que se passa, então Lídia começa a chorar baixinho, É por causa
10 do menino, pergunta ele, e ela acena que não, lança-lhe mesmo, em meio das lágrimas, um olhar
repreensivo, finalmente desabafa, É por causa do meu irmão. [...] Qual é a intenção deles, com certeza
não contam sair para o mar acreditando que será bastante para fazer cair o governo, A ideia é irem para
Angra do Heroísmo, libertar os presos políticos, tomar posse da ilha, e esperar que haja levantamentos
aqui, [...] É uma rematada loucura, nem conseguirão sair a barra, Foi o que eu disse ao meu irmão, mas
15 eles não dão ouvidos a ninguém, Para quando será isso, Não sei, ele não mo disse, é um destes dias, E
os barcos, quais são os barcos, É o Afonso de Albuquerque, mais o Dão e o Bartolomeu Dias, É uma
loucura, repete Ricardo Reis [...]. Lídia desceu a escada, contra o costume foi Ricardo Reis ao patamar,
ela olhou para cima, ele fez-lhe um gesto de aceno [...].
Ao outro dia, quando Ricardo Reis saiu para almoçar, parou no jardim a olhar o quadro dos navios MPAG

20 de guerra, além, em frente do Terreiro do Paço. […] Vai para retirar-se quando ouve vozes excitadas,
Além, além, são os velhos, e outras pessoas perguntam, Onde, o quê, e uns rapazitos que saltavam ao
eixo param e gritam, Olha o balão, olha o balão, enxugou Ricardo Reis os olhos com as costas da mão
e viu que surgia da Outra Banda um enorme dirigível, devia ser o Graf Zepellin, ou o Hindemburgo,
vinha largar correio para a América do Sul. No leme a cruz suástica, com as suas cores de branco,
25 vermelho e negro,
[…] Ricardo Reis passou à porta do Hotel Bragança, subiu a Rua do Alecrim [...]. Seguiu o caminho
das estátuas, Eça de Queirós, o Chiado, D'Artagnan, o pobre Adamastor visto de costas, fingiu que
admirava aqueles monumentos [...].
[…] Lisboa é uma sossegada cidade com um rio largo [...].

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto, Porto Editora, 2016, pp. 479-486 (texto com supressões)
|Unidade 4|

1. Lê as linhas 1 a 8 do excerto.

1.1. Identifica dois aspetos que caracterizam a personagem Lídia. Fundamenta a resposta com
elementos textuais.

2. Lídia visita Ricardo Reis e tem um objetivo.


Indica os motivos da visita de Lídia e explica a reação de Reis – “É uma rematada loucura” (linha 14).

3. Completa as afirmações seguintes, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

No excerto acima, há diferentes características do estilo de José Saramago, como, por exemplo o
discurso oralizante, presente em ____a)______, assim como a referência a elementos da História,
evidente no excerto ____b)_____. Para além disso, há relações intertextuais com outros elementos
literários, como se verifica em _____c)_______.

a) b) c)

1. “Olha o balão, olha o balão,” 1. “É por causa do meu irmão” 1. “É o Afonso de Albuquerque, mais
(linha 22) (linha 11) o Dão e o Bartolomeu” (linha 16)

2. “parou no jardim a olhar o 2. “Vai para retirar-se quando 2. “Eça de Queirós, o Chiado,
quadro dos navios de guerra” ouve vozes excitadas” D'Artagnan, o pobre Adamastor”
(linhas 19 e 20) (linha 20) (linha 26)

3. “No leme a cruz suástica, com 3. “um enorme dirigível, devia ser 3. “Lisboa é uma sossegada cidade
as suas cores de branco” o Graf Zepellin, ou o com um rio largo” (linha 28)
(linha 24) Hindemburgo” (linhas 19 e 20)

PARTE B

Lê o texto e as notas.
MPAG1

D’um tal ric’home1 ouç’eu dizer


que est mui ric’hom’assaz,
de quant’em gram requeza jaz2;
mais esto nom poss’eu creer,
5 mais creo-mi al3, per boa fé:
quem d’amigos mui prob[e]4 é
nom pode mui rico seer.

De mais, quem há mui gram poder


de fazer alg’e o nom faz,
10 mais de viver porque lhi praz5?
Pois que nom val nem quer valer
[c]om grand’estança6, que prol lh’há7?
Ca, pois d’amigos mal está,
nom pode bõa estanç’haver.
15 Ca, pois hom’é de tal convém
por que todos lhi querem mal,
o Demo lev’o que lhi val
sa requeza! De mais a quem
nom presta a outrem nem a si,
20 de mal conhocer per est i
quem tal home por rico tem.

E direi-vos del outra rem8


e nom acharedes end’al9:
pois el diz que lhi nom en chal
25 de dizerem del mal nem bem,
jamais del nom atenderei
bom feit[o], e sempr’o terrei
por cousa que nom vai nem vem.

Mas, pero lh’eu grand’haver sei,


30 que há el mais do que eu hei,
pois s’end’el nom ajuda rem10?
Pero da Ponte, Cantigas Medievais Galego-Portuguesas in
https://cantigas.fcsh.unl.pt/

Notas
1
ric’home – homem rico ou rico-homem (designação medieval atribuída a alguns nobres).
2
quant’em gram requeza jaz – tem muita riqueza.
3
creo-mi al – acredito em outra coisa.
4
prob[e] – pobre.
5 MPAG
praz – agrada.
6
estança – fortuna.
7
que prol lh’há? – que proveito tem?
8
rem – coisa.
9
end’al – outra coisa.
10
rem – nada, ninguém.

4. Nos versos 6 e 7, o trovador questiona a riqueza do homem que critica.

4.1. Explica a razão pela qual o trovador questiona a riqueza do homem.

5. Lê a interrogação nos versos 8 a 10.


Explica o objetivo dessa interrogação.
|Unidade 4|

6. Seleciona a opção de resposta adequada para completar a afirmação abaixo apresentada.


A cantiga é atravessada por um tom , que se reflete, entre outros aspetos, num certo
desprezo por parte do trovador em relação ao objeto da sua reflexão, tal como se verifica em
__________.
(A) cómico … “e nom acharedes end’al” (verso 23)
(B) elogioso … “pero lh’eu grand’haver sei” (verso 29)
(C) humorístico … “D’um tal ric’home ouç’eu dizer / que est mui ric’hom’assaz” (versos 1 e 2)
(D) crítico … “e sempr’o terrei / por cousa que nom vai nem vem.” (versos 27 e 28)

PARTE C
Escrita

7. Escreve uma breve exposição sobre a crítica à ambição, de acordo com o Sermão de Santo
António, de padre António Vieira.
A tua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento em que escrevas de que modo o padre António Vieira critica a ambição, com
referência a, pelo menos, um aspeto textual;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Segue o seguinte plano de texto:


Introdução: apresentação do tema.
Desenvolvimento:
– referência a um dos peixes repreendidos pelo orador, relativamente à questão da ambição.
Conclusão: breve referência ao assunto tratado, tendo em conta a informação apresentada.

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GRUPO II

Leitura e Gramática

Lê o texto e consulta as palavras destacadas num dicionário físico ou online, se necessário.

Num registo assumidamente autobiográfico, o escritor marroquino Muhammad Chukri regista em


Pão Seco o percurso inicial da sua vida, num registo tão duro como honesto que não precisa de
encómios para figurar entre os grandes livros da literatura universal.

[…] Pão Seco, traduzido do árabe por Hugo Maia, é um registo memorialístico e profundamente
5 honesto sobre a vida do próprio escritor marroquino, fragmentário no modo narrativo, pouco
preocupado com a cronologia e profundamente atento às convulsões emocionais e psíquicas que vão
atravessando e movendo os gestos do narrador.
O texto de Chukri começa com um funeral, o do seu tio, e há de ter a morte a rondar quase todas as
suas linhas. […] Num ritmo caótico, assente numa escrita que muitas vezes se aproxima de um diário,
10 ainda que tenha nascido anos depois dos acontecimentos relatados, Chukri faz desfilar o seu
quotidiano, mantendo em constante pano de fundo o registo emocional que o acompanha. […]
Este é um livro duro, sem floreados nas descrições nem misericórdia no registo das misérias
humanas, sejam elas as que derivam da desigualdade social em diferentes dimensões, sejam as que
decorrem da nossa intrínseca condição de bichos vivos, com um corpo, os seus fluidos e a sua
15 inevitável decadência. […]
Ao longo dos treze capítulos de Pão Seco, acompanhamos o crescimento de Chukri e os seus
múltiplos modos de ganhar algum dinheiro […]. Neste registo está parte da dureza do romance, mas é
no pensamento do narrador, por vezes caótico, outras vezes profundamente consciente, mas sempre
registado com afinco de quem não pode dar-se ao luxo de perder o que quer que seja, que está o
20 âmago deste texto.
Na prisão, […] depara-se com uma revelação que, talvez pela primeira vez no seu breve percurso
biográfico, não convoca a violência, e é possível que seja essa característica a fazer dela uma
revelação com peso de epifania. Os versos que o seu companheiro de cela vai decifrando para passar
o tempo não são apenas a poesia e a sua musicalidade, são o mistério da leitura e da escrita a surgir,
25 de repente, como possibilidade de decifrar o mundo. É esse o passo que Muhammad Chukri dará em
seguida, no livro e na sua vida. Aprendendo a ler e a escrever aos 21 anos, o autor começa assim a
sua jornada em direção à criação de uma obra que haveria de fincar os pés na literatura universal,
mesmo que o cânone em língua árabe a tenha tentado manter à distância. Aparentemente falho de
esperança, algo que transborda de todas as linhas deste romance, Chukri revela-se, afinal, um autor
30 que acredita que as coisas acabam sempre por mudar, não porque haja alguma espécie de ordem
universal e invisível que as encaminhe no bom sentido, mas sim porque a intervenção dos homens e
mulheres que vão sofrendo na pele as asperezas do mundo acaba por encontrar a força e o modo de
alterar pelo menos parte daquilo que parecia destino. Que essa crença surja da escrita, e
inevitavelmente dessa primeira revelação perante a força de letras riscadas ou impressas num papel,
35 confirma à posteridade a grandeza literária de Muhammad Chukri.
Sara Figueiredo Costa, in https://blimunda.josesaramago.org/ (texto com supressões, consultado a 28/12/2022) MPAG

1. Segundo o texto, os acontecimentos da obra Pão Seco são


(A) apresentados de acordo com a ordem temporal pela qual ocorreram.
(B) explorados de acordo com uma lógica emotiva.
(C) apresentados pela visão subjetiva do leitor.
(D) relatados na perspetiva do companheiro de prisão do autor.

2. A obra Pão Seco reflete


(A) a total descrença do autor na felicidade humana.
(B) o carácter passageiro da felicidade humana.
(C) a crença do autor na capacidade humana de intervir no seu destino
(D) a descrença do autor na bondade humana.
|Unidade 4|

3. A passagem “uma obra que haveria de fincar os pés na literatura universal” (linha 27) apresenta
(A) uma metáfora, que salienta o papel sólido desta obra no panorama literário universal.
(B) uma anástrofe, que evidencia a relevância desta obra na produção literária do autor.
(C) uma hipérbole, que evidencia a irrelevância desta obra na literatura universal.
(D) um eufemismo, que destaca o carácter incontornável da obra de Muhammad Chukri.

4. Para Muhammad Chukri, a leitura e a escrita


(A) surgem, na infância, como forma de mostrar o seu sofrimento.
(B) são uma forma de compreender o que o rodeia.
(C) garantiram, desde cedo, a sua sobrevivência.
(D) marcaram, desde sempre, a sua vida.

5. A expressão “das misérias humanas” (linhas 12 e 13) desempenha a função sintática de


(A) modificador restritivo do nome.
(B) complemento oblíquo.
(C) complemento do adjetivo.
(D) complemento do nome.

6. Classifica a oração “ainda que tenha nascido anos depois dos acontecimentos relatados” (linha 10).

7. Identifica o processo fonológico que esteve na origem da evolução de VITA > vida.

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GRUPO III

Escrita

“Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição.”
Mahatma Gandhi

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a citação apresentada.

No teu texto:
• explicita o teu ponto de vista, fundamentando-o com dois argumentos, cada um deles ilustrado
com um exemplo significativo;
• utiliza um discurso valorativo.

Segue o seguinte plano de texto:


Introdução: apresentação do ponto de vista.
Desenvolvimento:
– exploração do conceito de ambição enquanto elemento impulsionador da ação humana e respetiva
exemplificação;
– exploração do conceito de ambição enquanto sinónimo de ganância e respetiva exemplificação.
Conclusão: reforço do ponto de vista.

MPAG

FIM

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