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Educação Literária
Unidade 1 | Poesia trovadoresca

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Porto Editora
Quem a sesta quiser dormir,
conselhá-lo-ei a razom1:
tanto que jante2, pense d'ir
à cozinha do infançom3:
5 e tal cozinha lh'achará,
que tam fria casa nom há
na hoste, de quantas i som.

Ainda vos en mais direi


eu, que um dia i dormi:
10 tam bõa sesta nom levei,
des aquel dia 'm que naci,
como dormir em tal logar,
u nunca Deus quis mosca dar,
ena mais fria rem4 que vi.

15
E vedes que bem se guisou5
de fria cozinha teer
o infançom, ca nom mandou
des ogan'i6 fogo acender;
e, se vinho gaar7 d'alguém8,
ali lho esfriarám bem,
20
se o frio quiser bever.
Pero da Ponte, in Graça Videira Lopes (coord.), Cantigas Medievais
Galego-
-Portuguesas – Corpus integral profano, Vol. 2, Lisboa, BNP, 2016, p. 300

NOTAS
1
razom – com razão.
2
jante – jantar – refeição que, atualmente, corresponde ao almoço.
3
infançom – infanção, cavaleiro nobre.
4
rem – coisa.
5
se guisou – se arranjou.
6
des ogan – este ano.
7
gaar – ganhar.
8
d'alguém – o infanção só beberia vinho quando alguém lho oferecesse.

1. Identifica o género da cantiga, justificando a tua resposta.

2. Relaciona o conselho dado pelo “eu” na primeira estrofe com a experiência pessoal por si relatada na
segunda estrofe.

3. Explicita a crítica feita ao infanção, presente na última estrofe.


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Unidade 2 | Crónica de D. João I, de Fernão Lopes

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CAPÍTULO CXV
Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender,
quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.
Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os
mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras
cousas. […]
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros
5 pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas 1 e beesteiros e
homẽes d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino
pera repicar2 quando tal cousa vissem, e como cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo
todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham cárrego 3 das torres
viinham espaçar pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom;
10 outras vezes nom ficavom em elas senom as atalaias 4; mas como davom aa campãa, logo os
muros eram cheos, e muita gente fora.
E nom soomente os que eram assiinados em cada logar pera defensom, mas ainda as
outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações
deles; e os mesteiraes5 dando folgança a seus oficios, logo todos com armas corriam rijamente
15
pera u diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com
muitas trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas,
mostrando fouteza contra seus ẽmigos. […]
E nom embargando6 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da guarda
e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria per muitas vezes de noite
os muros e torres com tochas acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre
20
consigo levava. Nom havia i neuũs revees dos que haviam de velar, nem tal a que
esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe
mandavom, de guisa que, a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava
avondança de trigosos executores7.
Teresa Amado (apres. crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes, Lisboa, Editorial Comunicação, 2.ª edição, 1992, pp. 170-173
(texto com supressões)

NOTAS
1
quadrilhas – locais de muralha onde estavam os vigias. 5
mesteiraes – artífices.
2
repicar – fazer os sinos produzir sons agudos e repetidos. 6
E nom embargando – e não sendo suficiente tudo isto.
3
cárrego – carga, peso. 7
trigosos executores – apressados executores.
4
atalaias – sentinelas.

1. O texto coloca em destaque um herói individual. Identifica-o, evidenciando as suas características.

2. Expõe duas atitudes do povo que demonstrem o seu apreço pelo Mestre e pela defesa da pátria.

3. Explicita o sentido das linhas 12 e 13.


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Unidade 3 | Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente

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Assentou-se com as costas pera elas e diz: Inês As perlas pera enfiar,
Pêro Eu cuido que não estou bem... 305 três chocalhos e um novelo,
Mãe Como vos chamais, amigo? e as peas no capelo...
Pêro Eu Pêro Marques me digo, E as peras onde estão?
como meu pai que Deus tem. Pêro Nunca tal me aconteceu!
280 Faleceu (perdoe-lhe Deus, Algum rapaz m’as comeu;
que fora bem escusado) que as meti no capelo,
310
e ficamos dous ereos1; e ficou aqui o novelo,
porém, meu é o mor gado. e o pentem não se perdeu.
Mãe De morgado2 é vosso estado? Pois trazia-as de boa mente.
Isso viria dos céus! Inês Fresco vinha aí o presente
285
com folhinhas borrifadas.
Pêro Mais gado tenho eu já quanto, 315 Pêro Não, que elas vinham chentadas
e o maior de todo o gado, cá em fundo no mais quente.
digo maior algum tanto.
E desejo ser casado, Vossa mãe foi-se? Ora bem,
prouguesse ao Espírito Santo, sós nos leixou ela assi?
290 com Inês; que eu m’espanto Cant’eu quero-me ir daqui,
quem me fez seu namorado. não diga algum demo alguém7...
320
Parece moça de bem, Inês Vós que me havíeis de fazer?
e eu de bem er também3. Nem ninguém que há de dizer?
Ora vós er ide vendo (O galante despejado8!)
se lhe vem melhor alguém, Pêro Se eu fora já casado,
295 d’outra arte havia de ser,
a segundo o que eu entendo.
325 como homem de bom pecado9.
Cuido que lhe trago aqui
peras da minha pereira; Inês (Quão desviado10 este está!
hão de estar na derradeira4. Todos andam por caçar
Tende ora, Inês per i.5 suas damas sem casar,
300 Inês E isso hei de ter na mão? e este, tomade-o lá!)11
Pêro Deitai as peas6 no chão. Pêro Vossa mãe é lá no muro?
Inês Minha mãe, eu vos seguro,
que ela venha cá dormir.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, Porto, Porto Editora, 2014, pp. 24-28

NOTAS
1
ereos – herdeiros. 7
não diga algum demo alguém – antes que se lembrem de inventar
2
morgado – primogénito, herdeiro de todos os bens familiares. alguma coisa má sobre mim.
3
e eu de bem er também – e eu, por outro lado, também sou 8
despejado – atrevido.
homem de bem. 9
de bom pecado – decente.
4
derradeira – no fundo do capelo. 10
desviado – antiquado.
5
Inês per i – Inês, segurai no capuz. 11
e este, tomade-o lá! – e este não tem nada a ver com os outros!
6
peas – cordas com que se prendem os animais.

1. Explica o entusiasmo manifestado pela Mãe de Inês Pereira em relação a Pêro Marques, tendo por
base as suas falas.

2. Compara as reações de Inês e de Pêro Marques perante a saída da Mãe da jovem.

3. Comprova a presença de dois tipos de cómico no excerto apresentado.


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Unidade 4 | Rimas, de Luís de Camões

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a esta cantiga alheia: O rosto sobre ũa mão,


15 os olhos no chão pregados,
Na fonte está Leanor que, do chorar já cansados,
lavando a talha1 e chorando, algum descanso lhe dão.
às amigas perguntando: Desta sorte Leanor
5 vistes lá o meu amor? suspende de quando em quando
20 sua dor; e, em si tornando,
VOLTAS mais pesada sente a dor.
Posto o pensamento nele,
porque a tudo o Amor a obriga, Não deita dos olhos água,
cantava, mas a cantiga que não quer que a dor se abrande
eram suspiros por ele. Amor, porque em mágoa grande
10 Nisto estava Leanor 25
seca as lágrimas a mágoa.
o seu desejo enganando, Que despois de seu amor
às amigas perguntando: soube novas2 perguntando,
vistes lá o meu amor? d’ emproviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!
Luís de Camões, Rimas (texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão),
Coimbra, Almedina, 1994, p. 56

NOTAS
1
talha – recipiente grande de metal.
2
novas – informações sobre algo ou alguém, notícias, novidades.

1. Esta cantiga insere-se na lírica camoniana tradicional. Indica três aspetos que a aproximam da lírica
trovadoresca.

2. O sofrimento de Leanor vai aumentando gradualmente ao longo da cantiga.

2.1. Justifica a afirmação apresentada.

3. Classifica o recurso expressivo do verso 22 (“Não deita dos olhos água”) e comenta o seu efeito de
sentido.
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Unidade 5 | Os Lusíadas, de Luís de Camões

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Contextualização:
O rei de Melinde pede a Vasco da Gama que lhe conte a história do povo português. O início da
narração surge a partir do canto III.

II, 109 III, 1


Mas antes, valeroso Capitão, 25 Agora tu, Calíope, me ensina
Nos conta (lhe dezia) diligente, O que contou ao Rei o ilustre Gama;
Da terra tua o clima e região Inspira imortal canto e voz divina
Do mundo onde morais, distintamente; Neste peito mortal, que tanto te ama.
5 E assi de vossa antiga gèração, […]
E o princípio do Reino tão potente,
Cos sucessos das guerras do começo, III, 2
Que, sem sabê-las, sei que são de preço. Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo,
[…] 30 Como merece a gente Lusitana;
Que veja e saiba o mundo que do Tejo
II, 112 O licor de Aganipe7 corre e mana.
Cometeram soberbos os Gigantes1, […]
Com guerra vã, o Olimpo claro e puro;
10
Tentou Perito e Téseu2, de ignorantes, Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo
Ramos, Porto, Porto Editora, 2014, pp. 120-123
O Reino de Plutão3, horrendo e escuro. (texto com supressões)
Se houve feitos no mundo tão possantes,
Não menos é trabalho ilustre e duro,
Quanto foi cometer Inferno e Céu,
15 Que outrem cometa a fúria de Nereu4.

II, 113
Queimou o sagrado templo de Diana,
NOTAS
Do sutil Tesifónio5 fabricado, Gigantes – titãs.
Horóstrato6, por ser da gente humana Perito e Téseu – reis que tentaram raptar a esposa de Plutão.
Conhecido no mundo e nomeado; Reino de Plutão – Inferno.
Nereu – pai das Nereidas (Ninfas).
20 Se também com tais obras nos engana Tesifónio – construtor do templo de Diana.
O desejo de um nome aventajado, Horóstrato – incendiou o templo de Diana.
Mais razão há que queira eterna glória Aganipe – fonte inspiradora dos poetas.

Quem faz obras tão dignas de memória.


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1. No excerto apresentado, indica, fundamentando devidamente a resposta, duas solicitações dirigidas
pelo rei de Melinde a Vasco da Gama.
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1.1. Menciona a importância dos pedidos do rei de Melinde na estruturação narrativa d’Os Lusíadas.

2. “Mais razão há que queira eterna glória / Quem faz obras tão dignas de memória.” (est. 113, vv. 23-24).

2.1. Explicita o sentido dos versos transcritos, tendo por base o conteúdo das estâncias 112 e 113.

3. Indica o motivo pelo qual é feita a referência a Horóstrato no verso 19 da estância 113 do canto II.

4. Justifica a presença de uma invocação nas estâncias 1 e 2 do canto III d’Os Lusíadas.

5. Apresenta uma possível interpretação para os versos “Que veja e saiba o mundo que do Tejo / O licor
de Aganipe corre e mana.” (est. 2, versos 31 e 32).

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