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PROFISSÃO
AULA 2
ao médico comunicar-lhe o que havia sido dito e descrito, uma vez que
retornando do transe o paciente de nada se lembra. Os sintomas são
esbatidos pelo uso desse método, mas o sujeito não se apropria
ativamente de sua história. Então, no decorrer de seus trabalhos, Freud
vai abandonando a hipnose e se direcionando à necessidade de criar
outra forma de escutar. Surge a associação livre.
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no caso) não sejam trabalhados de maneira eficiente e, então, os sintomas
cessariam apenas temporariamente.
O que Freud percebeu é que era necessário que o sujeito se implicasse
na cena que narra, elaborasse a questão que se iniciou no momento narrado e
isso não era possível pelo método hipnótico. Com a associação livre, o trabalho
seria o de proporcionar que o paciente se recordasse de maneira mais
espontânea e pudesse elaborar as questões surgidas das experiências
traumatizantes que precisaram ser esquecidas.
E, neste ponto da história de como foi desenvolvida a teoria e a técnica
psicanalíticas, adentramos um terreno importante que é o da importância das
lembranças e experiências vividas por um sujeito dentro da psicanálise. De
acordo com Andrade (2015), Freud herdará de Charcot a ideia de que
experiências traumáticas deixariam impressos traços psíquicos duradouros, que
operam de forma determinante e constitutiva daquilo que posteriormente se
denominaria de aparelho psíquico. Aqui, podemos perceber os primeiros passos
daquilo que se denominaria de inconsciente – o maior pilar dentro da teoria
psicanalítica, sua base de trabalho e sua concepção de homem.
Reitera ainda que tais experiências traumatizantes que causam o
adoecimento do sujeito seriam provocadas pelo encontro desse sujeito com o
outro e, sendo assim, o que ficou com algum destaque no discurso freudiano foi
“a problemática da influência”.
Essa problemática nos dá indícios de que era na ação que um sujeito
poderia exercer sobre o outro que estava o núcleo da questão neurótica, ou seja,
nas relações amorosas e afetivas de um indivíduo é que faziam morada as
questões que o adoeciam e aí surgem os primórdios da noção de transferência,
que será melhor trabalhada mais à frente nesta mesma aula.
Com a associação livre, o que entra em análise é o conteúdo manifesto
do discurso e dos sonhos do paciente e, a partir dele, é possível trabalhar o
conteúdo latente, que é o mais importante. Assim, o paciente pode se apropriar
e se deparar com a própria história e elaborar as questões surgidas e, só assim,
os sintomas poderiam perder sua força.
Foster (2010) nos reitera que é o conteúdo manifesto (aquilo que o
paciente relata e descreve) que pode ser comunicado pelo sujeito na associação
livre, seja ela uma comunicação verbal, seja pré-verbal ou não verbal. O
conteúdo manifesto do discurso seria substituto deformado para os
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pensamentos inconscientes e essa deformação é obra das forças defensivas do
ego.
O conteúdo latente seria o conteúdo que origina o conteúdo manifesto,
que foi alterado e vem à tona via formações do inconsciente, tais como atos
falhos, chistes, sonhos e o próprio sintoma.
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conscientes, mas tinham efeitos conscientes, Freud denominou de inconsciente.
Como assim?
Do contato com as pacientes histéricas foi possível observar que havia
ideias muito fortes, carregadas também de um afeto muito intenso, mas que não
estavam de nenhuma forma acessíveis à consciência, apesar de estarem
fazendo todos os efeitos que as ideias conscientes comuns podem fazer.
Um exemplo importante aconteceu durante o atendimento da paciente
Anna O. Em seu processo de adoecimento, durante algumas semanas, ela
manifestava uma recusa em beber qualquer tipo de líquido, hidratava-se e
saciava a sede pelo consumo de frutas. Durante o estado hipnótico (que, como
sabemos, levava o paciente a rememorar o momento traumatizante), recorda-se
de um momento que viveu na qual ela se enoja ao ver um cachorro bebendo
água de um copo. Logo depois, pediu água.
Esse exemplo nos mostra que nem tudo na vida psíquica é consciente,
pois Anna não sabia o que causava nela a recusa em beber líquidos, só soube
após se lembrar do que sentiu e pensou quando viu o cachorro beber água. A
partir dessa premissa, Freud (1923) nos situa das primeiras noções de topologia
psíquica.
Topologia por quê? Topologia pois daí nasce a primeira ideia de como era
constituído o psiquismo do ser humano, quais instâncias seriam presentes e
atuantes na constituição psíquica de um sujeito. Dentro da psicanálise, podemos
chamar essa primeira noção de aparelho psíquico de “Primeira Tópica do
aparelho psíquico freudiano”. Nesse primeiro momento, Freud divide o
psiquismo em três partes: consciente, pré-consciente e inconsciente. O que seria
cada uma dessas partes constituintes do aparelho psíquico?
Pensem na imagem de um iceberg. Na ponta, no lugar mais visível, estaria
a consciência. Um pouco abaixo da consciência, estaria o pré-consciente. E na
parte mais funda, o inconsciente. Mas tudo é parte de uma mesma estrutura. Do
que se tratam, portanto, cada uma dessas “partes” constituintes do psiquismo?
Como atuam e quais os seus efeitos práticos na vida psíquica de um sujeito?
Segundo Freud (1923):
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TEMA 3 – A FORMAÇÃO DO SINTOMA: REPRESSÃO, RECALQUE E
RESISTÊNCIA
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armazenada no inconsciente, de maneira que o sujeito não precise lidar com
aquilo que lhe é desagradável.
De acordo com o Dicionário de Psicanálise Laplanche e Pontalis (2001, p.
457), repressão é uma “operação psíquica que tende a fazer desaparecer da
consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno [...]. Neste sentido, o
recalque seria uma modalidade especial de repressão”.
O movimento de “armazenamento” dos conteúdos no inconsciente é
denominado de recalque. Então, a repressão seria a força que causa o recalque,
que é o armazenamento dos conteúdos indesejáveis pelo sujeito no
inconsciente. A ideia não perde sua força, mesmo sendo recalcada. Ainda no
Dicionário de Psicanálise Laplanche e Pontalis (2001, p. 430), encontra-se como
definição para recalque “Operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter
no inconsciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas
a uma pulsão”.
Por isso, então, surgem os sintomas. Os sintomas são o resultado de um
movimento de recalcamento causado pela repressão. Sendo fortes, tais ideias
se esforçam para “se libertar”, elas precisam de uma via de expressão. Para que
as ideias inconscientes venham a ser tornar conscientes é que o psicanalista faz
seu trabalho.
Voltando à questão do método hipnótico, em termos psicodinâmicos, foi
possível a Freud verificar que uma outra força atuava, uma força que se
esforçava para manter a ideia patógena recalcada. Era a resistência. A
resistência é que trata de manter a ideia que não pode vir à consciência no
inconsciente.
“Chama-se de resistência a tudo que nos atos e palavras do analisando,
durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente”
(Laplanche; Pontalis, 2001, p. 458). A contribuição do método hipnótico foi que
se verificou que, ao reduzirem as resistências (em função do transe), o paciente
podia entrar em contato com as lembranças e vivências que o fizeram adoecer.
Então, o que deve ser feito pelo analista é um esforço no sentido de fazer
reduzir as resistências, para que, assim, o sujeito possa se haver com a ideia
(ou as ideias) que causaram os sintomas. Uma das maneiras de diminuir o
impacto de resistência, mantendo o paciente consciente, é a associação livre.
Nela, o analista pode trazer à tona os conteúdos do inconsciente por meio do
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entendimento e da interpretação das formações do inconsciente, que serão
tratadas no item a seguir.
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das contas, a mensagem a ser transmitida diz respeito à outra. Ou seja, uma
pessoa substitui a outra no sonho, para que a mensagem continue “cifrada”.
A partir desses mecanismos de transformação do conteúdo original
proveniente do inconsciente, podemos pensar nas outras formações do
inconsciente pelo qual o psicanalista trabalha o sofrimento e os sintomas do
sujeito. Aqui, utilizaremos as definições que constam no Dicionário de
Psicanálise Laplanche e Pontalis (2001).
1 Ato falho: quando se diz algo querendo dizer outra coisa. Ex.: trocar o
nome de uma pessoa pelo de outra. “Fala-se de atos falhos [...] para as
ações que o sujeito habitualmente consegue realizar bem, e cujo fracasso
ele tende a atribuir apenas à distração ou ao acaso” (p. 44).
2 Chistes: um chiste, por definição, é uma espécie de gracejo, “piadinha”.
Freud, em Os Chistes e sua relação com o inconsciente, de 1905, nos
situa que, por meio de um chiste, é possível expressar os conteúdos do
inconsciente. Aquela máxima de dizer brincando o que realmente se quer
dizer. A verdade inconsciente aparece em forma de “piadinha” e, assim,
fica disfarçada, pois a intenção consciente é o gracejo e não o contato
com o conteúdo do inconsciente. É uma piadinha que “escapa”, quase
que inevitavelmente.
3 Sonhos: os sonhos merecem um capítulo à parte na história da
psicanálise e sobre a sua relação com o inconsciente, o que não é nosso
objetivo aqui. Mas devido aos conteúdos dos sonhos, a partir de uma
leitura freudiana de que um sonho seria “a realização de um desejo”
(1900), é possível interpretar conteúdos provenientes do inconsciente, ou
melhor, é possível chegar ao seu conteúdo latente. Trabalha-se com os
sonhos a partir de seu conteúdo manifesto, para, assim, chegar ao
conteúdo latente. A partir da narrativa dos sonhos, tendo em mente o
processo de transformação ao qual são submetidos (de condensação e
deslocamento), pode-se chegar ao conteúdo latente (original) deles.
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TEMA 5 – A TRANFERÊNCIA E O MÉTODO PSICANALÍTICO
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a clínica e trazer a prática psicanalítica para uma prática em extensão, em que
os preceitos técnicos e éticos sejam levados em conta no entendimento de
homem e dos fenômenos que dizem respeito ao humano.
NA PRÁTICA
Um exemplo clínico: tive certa vez um paciente que tinha como questão
uma certa incapacidade de trabalhar e, por vezes, também de se
relacionar com as pessoas. Ele não assumia as questões básicas da
vida, tais como o autocuidado e a organização da sua agenda. Passa
a atuar na análise de maneira com que eu me sinta quase que “forçada”
a cuidar de seus horários por ele (faltando, não cumprindo os
combinados de pagamento etc.).
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solução do sujeito para um conflito de difícil elaboração. O paciente reproduz na
cena analítica sua posição de dependência, que nos faz ter a necessidade de
cuidar de sua organização para que ele possa estar presente nas sessões sem
falta.
FINALIZANDO
1) A maior crítica de Freud com relação à questão da hipnose era que não
fazia o sujeito se haver com o conteúdo que havia sido recalcado. Diante
disso, opta pelo método da associação livre como forma de trazer tal
conteúdo à tona e, assim, o paciente possa elaborar a questão que o está
adoecendo – o trabalho do analista é o de facilitar essa elaboração.
2) As primeiras noções de topologia psíquica são as da Primeira Tópica, que
consideram o psiquismo formado por consciente, pré-consciente e
inconsciente. O objetivo de um tratamento analítico seria poder trazer
para a consciência os conteúdos que foram armazenados (recalcados) no
inconsciente. A ética que guia um analista é a do desejo, a do sujeito do
inconsciente.
3) Os mecanismos de repressão, recalque e resistência são os mecanismos
que atuam para tornar e manter (no caso da resistência) uma ideia
inconsciente. Para trazer à tona os conteúdos desse inconsciente, o
analista se vale da escuta de suas formações (sintomas, chistes, atos
falhos e sonhos) por meio da associação livre. A escuta do analista deve
ser dirigida no sentido de ir aos poucos desdobrando o conteúdo latente
de tais formações.
4) Para que seja possível o acesso ao que está armazenado no
inconsciente, é necessário que o analista trabalhe para que as
resistências sejam as mínimas possíveis, por isso a associação livre é tão
importante – é uma forma de “driblar” as resistências.
5) Há uma compreensão de que a relação estabelecida entre os sujeitos
deixa marcas duradouras na subjetividade de um indivíduo. Levando isso
em conta, uma das formas de acesso ao inconsciente é a transferência.
Esta atua de maneira que o sujeito reproduza os conteúdos recalcados
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na relação terapêutica, atuando, assim, tanto como uma forma de
resistência (por insistir na manutenção do sintoma) quanto como uma
forma que permite (pela intersubjetividade) que o analista vivencie na
relação com o paciente aquilo que o está adoecendo. Ele reproduz os
traumas e fantasias de suas relações com o outro.
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REFERÊNCIAS
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PALHARES, M. do C. A. Transferência e contratransferência: a clínica viva. Rev.
bras. psicanál, São Paulo, v. 42, n. 1, p. 100-111, mar. 2008. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486641X20080
00100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 1º dez. 2021.
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