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Gonçalves
Setembro de 2002
Psicoterapia: Uma arte retórica?
Índice
1. Introdução .............................................................................. 3
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Psicoterapia: Uma arte retórica?
1. Introdução1
mesmo mundo.
3
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adequado e, deste modo, olhar para a doença mental3 como algo que
doença mental.
analogia não é necessária, dado que para estes o corpo (cérebro e/ou
3 Não deixa de ser curioso o modo como a linguagem que usamos nos força, mesmo
sem termos muita consciência dela, a tomar opções “teóricas”. Assim, sentimos na
escrita deste texto que somos quase forçados a falar de “doença mental”, mesmo
quando procuramos contestar a sua existência na realidade material do mundo.
Sempre que utilizarmos o termo “doença mental”, neste contexto, não significa, como
é óbvio, que partilhamos da ideia de que se trata efectivamente de uma doença, mas
que nos queremos referir a um conjunto de condições que têm sido designadas como
tal.
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estrutura?
estas perspectivas.
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desta abordagem.
político do conhecimento.
contestada.
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sua própria autoria do mundo” (p. 98). Isto é, a linguagem não é algo
que espelhe uma realidade mais essencial, escondida por detrás das
individual, sem que esta esteja imersa nos significados conferidos por
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Wittgenstein, 1953/1995).
culturalmente localizada.
cit. Packer & Addison, 1989), como o "olhar de Deus de sítio nenhum".
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psicoterapias).
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políticas.
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2.1 Introdução
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ciência.
da primeira cibernética).
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moral)4.
análise. É claro que esta proposta, que surge nos anos 60, situa o
4 Vattimo (1992) sugere que este olhar está também presente no modo como a
História tem sido conceptualizada. De acordo com Vattimo esta posição progressiva
viria a ser colocada em causa por duas importantes mudanças no século XX: o fim dos
colonialismos europeus mostrou que o progresso da Humanidade era, afinal, o
progresso das sociedades ocidentais e a multiplicação dos mass media veio contribuir
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saúde mental (cf. G. Caplan, 1993; Rapaport, 1977; Shadish, Lurigio &
saúde mental por parte dos ricos (que faziam psicanálise de longa
eletro-choques).
uma potencial ameaça ao controlo que tinham dos asilos (Coppock &
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históricos específicos.
é vista como uma descrição neutra da realidade, mas antes como fruto
perspectivas.
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“Quando uma pessoa faz algo dramaticamente mau – como matar o presidente – é
imediatamente assumido que é louca, sendo a loucura a doença que de alguma forma
pode explicar o acto. Quando uma pessoa faz algo dramaticamente bom – como
descobrir a cura ou a prevenção de uma doença incurável – não é feita uma assunção
similar. Defendo que não é necessária qualquer outra evidência que demonstre que a
«doença mental» não é o nome de uma condição biológica que espera ser elucidada,
mas o nome de um conceito cujo objectivo é obscurecer o óbvio”
Thomas Szasz (1991, p.118)
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estudo de Rosenhan.
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patologizadas.
significativa.
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2.2.1 Institucionalização
segundo plano.
humanos dos doentes mentais (em 1949, nos Estados Unidos só 10%
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abrigo. Sem querermos entrar nesta polémica (cf. Shadish, Lurigio &
vezes se procura fazer. Desta forma, não nos parece que as críticas
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desencadeia.
desta questão.
2.2.2 Rotulação
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condição.
questão tenha sido Scheff (1966, cf. Levine & Perkins, 1984), com a
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das violações de normas que estão em causa - estes são alguns dos
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rotulação pode ocorrer, isto para referir só alguns dos problemas que
apresenta.
esta não deixa de ser um dos modelos teóricos que, de modo mais
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tradição crítica que culmina hoje , por exemplo, nas críticas aos DSMs
(cf. P. Caplan, 1995; Kutchins & Kirk, 1997; Sarbin, 1997) ou nas
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vasculares...
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personality disorder”.
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portuguesa, com uma maior mortalidade (diversos óbitos por dia), com
sendo cada vez mais frequente e fácil encontrar défices e rótulos para
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mental, por muito circunscrita que ela seja na nossa vida, pode
o estigma à doença mental é recusar que ela seja vista como uma
uma doença, há uma nova tendência nos EUA para procurar as bases
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que talvez Gergen (1996) tenha alguma razão nas suas reflexões,
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Sampaio & Gameiro, 1985; Nichols & Schwartz, 2001; para uma
mesmo modo que produz uma ocultação dos contextos, também torna
durante a infância).
que o seu interlocutor era um doente que, no seu delírio, pensava ser
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psicólogo clínico; por sua vez, ao psicólogo foi dito que iria entrevistar
(e.g., 1978; Watzlawick, Weakland & Fish, 1974) vão olhar para os
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assim sucessivamente, num ciclo sem fim. Ou, para dar outro
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medicina a questão seria: Como posso matar este doente?” (p. 254-
255).
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por exemplo, os paradoxos (do género “tem que reconhecer que está
das mensagens.
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arbitrário, dado que as suas fronteiras não podem ser delimitadas por
ideia ao sugerir que, “tal como o ego, o sistema não está em lado
individual).
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interacção.
“(O self) não é uma entidade. É antes um local de onde a pessoa percebe o mundo e
age. Há somente pessoas. Os selves são ficções gramaticais”
Rom Harré (1998, p. 3-4)
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awn self we sall defy, and folow oure lord God al-myghty” (cit.
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Não deixa de ser irónico, como sugere Gergen (1999), que esta
que nós não escolhemos; foi escolhido para nós” (p.8). Ou seja, apesar
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do clero e da nobreza.
avaliados e modificados.
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indivíduos.
organização interna.
de causalidade final (cf. de Shazer, 1991, Slife & Williams, 1995). Tal
como refere Rychlak (1991), "o facto irónico é que na psicologia somos
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1990).
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conceptualizações dialógicas.
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a narrativa (cf. Bruner, 1986; Gergen & Gergen, 1988; Hermans &
dar sentido à nossa experiência; como diz Sarbin (1986), “os seres
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significados.
narrativo.
1987).
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construcionismo social.
William James ao self (cf. Hermans, 1996; para uma revisão do re-
entre si.
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biografia.
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nossa identidade. Contudo, se, por exemplo, dizemos “eu não tinha
atrás.
menos consistente não é algo que exista escondido na mente, mas que
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(…) [em que se] revela (…), não uma multidão de personagens e
com direitos iguais e cada qual com o seu mundo, combinadas mas
que opera dentro de uma lógica polifónica, mas vai mais tarde admitir
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James (cf. Hermans & Kempen, 1993), ao distinguir no self estas duas
sujeito e o self como objecto, para propor que não há um único autor e
1971; cit. Hermans & Kempen, 1993) que controla de um modo claro
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25 séculos tem algo a ver com a sua própria vida (Somoza, 2002) e que a obra
esconde um significado, que à medida que a acção decorre, se torna cada vez mais
perturbador.
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exemplo, “eu como deprimido” por oposição a “eu que atribuo a devida
eu”.
ocorrem entre uma parte do self e outra parte do self: o self imaginado
132).
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constituição da identidade9.
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identidade.
livro.
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cultura.
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supõe que por detrás das palavras que falamos existem significações
outra forma. Não há nenhum terapeuta narrativo que sugira que isto
significados que estão “por detrás” das palavras articuladas são outras
umas por outras, o que de facto está a acontecer é a pessoa fingir que
acredita numa coisa, quando de facto está a acreditar noutra. Não quer
dizer que este “jogo de fingimento” não possa trazer novidades, como
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estamos, como mostra Rorty (1994), a dizer que não existe um mundo
“lá fora”, mas a afirmar que não há forma de lhe dar sentido sem
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crianças, cf. Freeman, Epston & Lobovits, 1997; Smith & Nylund,
de significação analógica.
experiências.
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mundo da linguagem.
acções para procurar parar a violência não temos forma de o fazer fora
significações?
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1990), passando pelo uso das equipas reflexivas (Andersen, 1991), até
internalizadas no Eu.
mais nada menos, do que uma interacção de significados que pode (ou
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p. 68).
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possui autor, carecendo assim de um lugar donde seja emitida. Por seu
gramaticais” (p. 82) emergem, que fazem com que face a ela seja
posteriores.
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por uma dada posição que viabiliza (ou que pelo contrário, desafia) a
próprio sistema.
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último.
incondicional.
profundidade não é algo que possa ser encontrado num dos nossos
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novidade.
poderiam ser de outro modo, uma curiosidade que se situa fora das
histórias totalizantes que as pessoas têm acerca das suas vidas e fora
Efran e Cook (2000), por seu turno, sugerem que a terapia, para
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onde é necessário ir” (p. 53). Tom Andersen (1993) partilha desta
diálogo” (p.325).
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coerência.
Como diz Bogdan (1985) “as famílias não resistem, mas sim os
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Esta argumentação relativa à relação terapeuta-sistema familiar pode ser expandida
para a terapia individual. De facto, a influência da teoria da auto-organização não se
fez sentir somente na terapia familiar. Por exemplo, os terapeutas construtivistas,
como por exemplo Mahoney (1991) e Guidano (1991), partilham desta leitura da
resistência terapêutica.
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pouco interessante.
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narrador11.
patologização progressiva.
“de que modo ver diferente me leva a agir diferente?”). Estas duas
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que o cliente vai narrando (cf. Berg & Dolan, 2001). É por isso que
tenha sido isto que levou de Shazer (1994) a recuperar uma ideia de
12 Estamos a usar aqui o termo “solução” de modo mais genérico do que aquele que é
usado na terapia centrada nas soluções (e.g., de Shazer, 1991, 1994).
13 Na verdade, O’Hanlon (1998; Bertolino & O’Hanlon, 1999) designa o seu modelo
terapêutico por Terapia das Possibilidades (“Possibility Therapy”), destacando algumas
diferenças do seu modelo relativamente à proposta de de Shazer (1991). De qualquer
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Combs, 1996).
narrativas do futuro.
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comentário faz mais do que isso. A cliente diz-nos (e, mais importante,
que pretende “continuar com a sua vida”. O que pode significar este
Devemos, então, olhar para esta frase como uma mera descrição
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voz que perguntava porque tinha que estar ela a ser punida (com o
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uma dada posição é apenas uma entre outras implica uma capacidade
parte deste livro, questionar a forma como estes modelos olham para a
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(Eron & Lund, 1996) e não sinalizam défices situados a um outro nível
(Watzlawick, Weakland & Fisch, 1974): (1) as pessoas fazem algo para
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mais adequado fazer algo (e.g., pais que fingem que não sabem que o
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não façam as outras sofrer), mas que não há razões sólidas para
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risco o seu casamento, dado que a sua companheira aprecia cada vez
19 Não quer isto dizer que não existam situações lesivas na vida das pessoas (e.g.,
trauma, abuso) que conduzam vulgarmente a situações de sofrimento. Mas, na larga
maioria dos casos em que estas situações não estão presentes, o desenvolvimento dos
problemas pode ter sido acidental, ampliado por estratégias de resolução pouco
adequadas.
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estruturas cognitivas).
por detrás ou por baixo dos problemas; nada a não ser linguagem.
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problema?”, dado que falar dele só lhe conferirá mais realidade, mas
acabar com ele. Na terapia centrada nas soluções (de Shazer, 1988,
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suas posições.
que outras vozes vão sendo ouvidas, que se criam novas perspectivas
uma atitude de não saber (cf. Anderson & Goolishian, 1992), também
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85-86). É por isso que White (1994) encara a terapia como uma
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deste ciclo vicioso, vai ficando cada vez mais claro para as pessoas (e
duelo”.
(2000).
Efran e Cook (2000; Efran, Lukens & Lukens, 1990) vêem a terapia
20 Esta noção, como referem Eron e Lund (1996), foi proposta originalmente por Laing
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levantar cedo, mas que não consegue, pode-se tentar saber o que é
“eu sou o tipo de pessoa que...”. Dizem Efran e Cook que as pessoas
em 1969.
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consequências envolvidas.
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ideia de que só ela pode deixar de fumar e que não há terapia que o
com o que pode produzir mudança, (mesmo que para isso tenha que
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à “eficácia” terapêutica.
Smith, 1995) -, mas procuram sugerir que a patologia pode ser melhor
significado.
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Therapy can’t change that. But people who seek therapy are no longer
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experiencing that – life for them has become the same damn thing
o contrário (ibidem).
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facetas muito semelhantes entre si. Por exemplo, na minha vida, muito
provavelmente, as facetas “eu como psicólogo” está muito mais próxima de “eu como
professor” do que da faceta “eu como filho”.
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Neimeyer refere que não é claro como é que estes diferentes estilos
de Neimeyer, dado que, mais uma vez, sugere que esta grelha
centrados no problema.
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ter. Assim, por exemplo, uma valoração que tenha um elevado nível de
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lacunar.
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(2000).
patologia, estes autores podem ter que enfrentar a crítica de que o que
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Beck, Rush, Shaw & Emery, 1979). Repare-se como este movimento,
psicopatologia.
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estes serviços (cf. parte 2), eles podem constituir recursos importantes
estamos livres para usá-los quando eles servem uma função para as
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“normalidade” da patologia.
com este sistema não faz, para nós, qualquer sentido. O próprio
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estritamente jurídica.
22 Valerá a pena referir que há duas posições possíveis face à retórica. Na ciência
moderna a retórica tem sido concebida como um entrave ao verdadeiro conhecimento.
Esta posição encontra as suas raízes mais profundas em Platão, que julgava possível
conhecer as verdadeiras essências do mundo – as ideias – e recusava a retórica sofista
como um entrave a este conhecimento “real”. Mais recentemente, a recusa deste
platonismo que marcou toda a Modernidade, viria a tornar claro que a actividade de
conhecer implica a posição de quem conhece e que, assim sendo, o conhecimento não
é a descodificação das ideias verdadeiras presentes na natureza, mas uma actividade
humana que é moldada pelas ferramentas do nosso entendimento. Esta perspectiva
tornou possível reapreciar a natureza retórica de todo o conhecimento (cf. Berstein,
1983).
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não temos nada contra soluções, desde que elas se mantenham plurais
e temporárias23...
.................................................................................................
fortalecidas.
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até para, deste modo, ilustrar a nossa posição de que estes problemas
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linguagem que Deus inscreveu nos seres vivos. Para Nelkin, é a esta
prática.
enquadra, tal como vimos, numa tradição secular do uso das palavras
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cuidado das mentes deve ser deixado aos filósofos e aos oradores”,
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da marginalização de outras.
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primazia.
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Universo.
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Posfácio
Ana Paula Relvas & Miguel Gonçalves
que este debate, que emergiu num contexto muito específico, poderia
sistémica.
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(p. 23) com sentido... Ou seja, qual o sentido relacional dos três
interesse por este tema começou pela identidade. Foi em torno desse
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começar a olhar para estes objectos teóricos de uma forma que achei
Aproveito para relacionar este tema com uma outra questão que
das condições que designamos por doença mental; acredito é que esta
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de um diabético homicida.
mas no que os discursos sobre a doença nos permitem (ou não) com
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alternativas que fazem para si mais sentido, isto é, não opta “por um
normalidade / patologia.
que optar por uma ou por outra, mas porque as duas têm implicações
prática... Como muito bem diz, mesmo dentro de uma das propostas
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teóricas, dentro das terapias narrativas, que enfatizam este olhar não
meu ponto de vista, dizer-se que White (cf. White & Epston, 1990) ou
de Shazer (1991) são sistémicos, pelo menos nos seus textos mais
recentes.
de cada orientação. E não o fiz por diplomacia, fi-lo porque acho que
aspecto central.
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clara que a Prof. Ana Paula Relvas me pede não pode passar pela
reificação. É também por isso que acho que estes diferentes modelos
ajuda a pensar.
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isto que não sabemos o que é um jogo? Não; normalmente mal nos
Ausloos (1996) diz que fazer terapia não é resolver problemas, mas
mergulhar nas histórias das pessoas. Como se faz este mergulho? Faz-
mas não no ínicio deste. Há algum tempo atrás ouvi uma entrevista
com o escritor Ian McEwan em que ele dizia que partia para a escrita
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subjaz. Não quero com isto dizer que adopte uma posição acrítica
não deixa muita margem para uma reflexão sobre os perigos e mesmo
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cibernética);
dificuldade da escolha;
delas. Por outro lado, contrariamente aos autores citados, não aponta
que falava. Mesmo assim, creio que não se deixou cegar por ele e que,
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E talvez ache isto porque não uso um, mas diferentes modelos
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souber (ou só fizer) terapia centrada nas soluções e achar que só essa
instrumento terapêutico num jogo sem fim, em que quanto mais ele se
fundo:
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concluir, sem outros comentários, com uma história que nos conta:
discípulos. Ao primeiro que expôs o seu caso, o juiz, após uma longa
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complexidade.
que não devem ficar por aí. Acredito que é necessário, desde os
estuda (tal como ultimamente tem sido noticiado nos jornais diários)
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que os alunos não tenham uma ideia clara de que a psicologia emerge
Gould, 1991). Mais ainda, que o horror que este em nós gerou veio a
pôr de lado durante uns anos estas posições, para algo muito
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que para ele a ciência era como uma religião. E é justamente esta
psicologia, tem sérias limitações, e que cada vez mais tem separado o
de vista, é que esta tomada de consciência por parte dos práticos fá-
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que fizerem, algo irá produzir resultados. Julgo que nesse momento
Muitas vezes ouço uma expressão muita típica dos nossos recém-
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dizer-lhes que Milton Erickson afirmava que para cada cliente criava
uma nova teoria... e, assim, que eles não devem querer ter mais
problemas. Contudo, para que isto aconteça, o prático tem que saber ir
assim, como diz a Prof. Paula Relvas, o seu uso é uma questão
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realidade tal e qual ela é”, para entrarem em diálogo com uma outra
realidade pode não existir e que tudo isto pode ser o sonho de um
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mais sentido lhes fazem. Para mim, neste momento da minha vida, é a
futuro.
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5. Bibliografia
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