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Russell nasceu no seio de uma grande alcateia que dominava o lado oeste
do país. Como perdeu os pais cedo, foi abandonado na floresta para ser
comido pelos animais. Afinal, seu pai era o alfa que tinha acabado ser
morto por um usurpador, que tomou seu lugar na liderança do bando.
Para dentro dela, era território dos lobos e os ursos não invadiam. Não por
medo, mas porque respeitavam os espaços alheios. Os lobos não invadiam
seu território e vice-versa.
Mas a paz dentro da alcateia foi quebrada no dia em que Kirk encontrou o
bebê na floresta, foi quando um lobo usurpou o posto de alfa e as coisas
mudaram. Kirk, sem saber o que estava acontecendo, até tentou devolver o
bebê, mas o novo líder não quis.
"Faça o que quiser com ele!" Foi o que ele disse. Kirk então levou o bebê
lobo para seu bando e lá o criou como seu filho, com o aval de Desmond, o
alfa do bando dos ursos.
Mais de trinta anos depois, o bando de ursos recebe a visita de uns lobos,
dizendo que o alfa deles, aquele alfa mal, estava enfim morto e que eles
sabiam que lá morava o sucessor da alcateia por direito. Só então Russell
soube que era filho do antigo alfa dos lobos, aquele que foi assassinado
anos antes.
Até então, ninguém no bando dos ursos sabia que aquele bebê era filho do
antigo alfa, que foi morto para que o usurpador ficasse com a alcateia. Um
dos membros mais antigos dos lobos guardou o segredo por muito tempo.
Sabia que o filho do alfa estava em boas mãos e agora, com a morte do alfa,
Russell podia voltar e assumir o bando.
Capítulo 01
— Eu imagino que não queira, meu filho. Mas saiba que se for da sua
vontade, eu e sua mãe não vamos nos opor. Já falei com ela, ela chorou,
mas ela entende.
Depois da conversa curta, Russell foi para a sua casa, que ficava dentro do
terreno da fazenda do pai. A residência pequena e modesta, contava com
uma decoração campestre, onde havia o predomínio do marrom, da madeira
e do couro sintético. A casa toda mantinha aquele aroma de campo, com um
toque de sândalo. Quadros com cavalos adornavam a sala. Os animais eram
uma das paixões de Russell, que mesmo sendo um lobo, parecia amansar os
equinos com que convivia. Embora soubesse montar, ele evitava, porque
tendo ele um animal interno, não se sentia bem sendo carregado por outro.
Tinha uma relação amistosa com os cavalos da fazenda, não sendo
incomum que ele mesmo os lavasse e escovasse suas crinas. Algo que tinha
uma ação quase terapêutica em seu organismo.
Mas o comum mesmo era que ele fosse visto soltando os animais no pasto,
ou passeando ao lado deles. Sentia-se privilegiado por poder conviver com
cavalos livres. Algo que não se via em quase nenhum lugar do mundo.
Passou a tarde inteira trabalhando para esquecer que seu passado tinha
batido à porta e ele não queria ir. Depois de passar a vida toda tentando se
afirmar em meio aos enormes ursos, mesmo tendo sido adotado pelo beta,
ele não queria ter que se enfiar no bando que o tinha rejeitado.
Russell tinha pouco mais de 1,70 m de altura, era o menor do bando, que
era formado por homens que pareciam gigantes em sua maioria. Fora que
ele era um lobo em meio aos ursos, sendo que até algumas mulheres eram
maiores que ele e uns poucos ômegas também. Levou anos até que ele
adquirisse autoconfiança para se impor, ainda que os ursos fossem bastante
tranquilos. Não era fácil crescer se achando um nanico, além de ser o único
lobo do bando.
Além disso, ele sabia cuidar de tudo na fazenda dos pais e ainda que
houvesse uns poucos funcionários, era ele quem comandava as coisas lá e
era assim que tirava o seu sustento.
Ele não queria ir embora e bufava de raiva daqueles homens que tinham ido
atrapalhar o seu sossego. Mas os homens pareciam mesmo dispostos a
convencê-lo e voltaram no dia seguinte e no outro. Russell não aguentava
mais a insistência. Até que Abel, seu melhor amigo, lançou um argumento
intrigante.
— Rus, eu sei que você não quer ir. Eu também não quero que você vá para
aquela bosta de alcateia, mas você sabe que o bando deles é maior que o
nosso. E se o novo alfa for realmente pior que o antigo e acabar com a área
comum? Podemos ser impedidos de entrar na floresta e não quero que a
gente tenha que entrar em guerra com aqueles sarnentos. Se você for o alfa,
nunca mais teremos problemas e poderemos viver em paz de uma vez por
todas.
— A alcateia não fica longe daqui. Você poderia ver seus pais sempre. E eu
vou lá te visitar.
Com "assim" ele queria dizer: tendo sexo forte e casual com os grandes
ursos ou com humanos. Algo gostoso e prático, mas sem compromisso.
— Claro... mas pensa no que eu te falei. Pode ser um jeito de deixar os dois
bandos em paz.
E eu vou mesmo te visitar, mesmo não suportando lobos.
— Você é único lobo que eu gosto, Rus. — ele dava uma risada gostosa ao
prender os longos cabelos loiros em um rabo de cavalo.
— Mas faz sentido isso que está dizendo. Eu vou pensar melhor.
Foi depois disso que Russell se decidiu. Ele não precisava da opinião de
ninguém, ele já estava certo. Só tinha uma forma de deixar o seu querido
bando de ursos sossegado. Ele precisava ir embora.
Capítulo 02
Talvez eu devesse falar com meu pai antes de ter decidido, mas de alguma
forma eu sentia que ele compreendia que aquele era o meu destino. Assim
como ele sempre soube que eu não sou do tipo que consulta os outros para
tomar minhas decisões.
Mais uma vez as palavras de Abel foram decisivas. A alcateia era logo ali,
eu poderia sempre ver minha família, inclusive ver Abel, meu melhor
amigo.
Eu não diria que estava feliz com essa decisão, porque eu amo a fazenda e a
minha casa.
Amo estar entre os ursos, que me aceitaram, ainda que eu fosse um lobo e
um homem bem menor do que eles. Sempre fui respeitado e também por
isso eu faria qualquer coisa para deixar meu bando tranquilo. E me tornar o
alfa da alcateia vizinha faria com que não houvesse mais animosidade na
floresta, faria com que os ursos não tivessem mais inimigos.
Assim eu fui. Empacotei minhas coisas, me despedi dos meus pais, com
choros e abraços, coloquei as coisas na caminhonete e fui. Optei pela
estrada, porque só entrava na mata para recolher lenha, não havia estrada
por lá e embora alguns lobos passassem por lá com carro, eu sempre achei
aquilo errado.
Logo que cheguei fui recepcionado pelos dois homens que tinham ido à
fazenda me convencer a me tornar o alfa daquela alcateia. Joshua e Kurt
foram os que me recepcionaram e mostraram a alcateia, me apresentaram às
pessoas e me levaram à reunião com os executores.
Eles também me contaram que eram muito amigos do meu pai biológico,
fazendo questão de dizer que ele tinha sido um ótimo alfa, antes do alfa
anterior ter armado uma emboscada para matá-lo e tomar seu lugar. Algo
me dizia que as pessoas não eram muito confiáveis naquele bando, mas eu
me apegava ao fato de que poderia tornar a vida dos ursos mais tranquila. A
vida dos meus pais de criação mais segura.
Seu tom de desdém e seu olhar passeando sobre mim me fez entender de
imediato ao que ele se referia.
— Ele não tem tamanho de alfa. — disse um outro. Sem escárnio, mas com
o mesmo descrédito.
Sobre meu pai, sobre a usurpação do posto e coisas que os presentes sabiam
muito melhor do que eu.
Então Kurt disse que eu precisa escolher um beta. Mas como eu escolheria
alguém de confiança num lugar onde eu não conhecia ninguém?
— Finnegan será meu beta, então. — eu disse, torcendo para que o cara não
fosse um babaca.
Tudo bem que o tal do Finnegan podia ser um cara enorme, mas o fato de
ele não parecer um completo imbecil e de aquilo ter deixado as pessoas
alegres me pareceu um começo razoável. Eu não queria precisar ter que ser
grosseiro novamente, porque eu sabia que se fosse preciso eu seria. Vivendo
entre homens enormes, eu precisei me impor muitas vezes e nem sempre fiz
isso de forma amigável, confesso. Já precisei descer na porrada um ou outro
grandão metido a besta, humano ou urso, que tentou ter alguma diversão às
minhas custas. E embora eu soubesse me defender, não posso dizer que
minha autoestima tinha saído intacta do meu processo idiota de
autoafirmação. Vez ou outra a insegurança das as caras.
Confesso que ser chamado de alfa ainda era estranho pra mim. E mesmo
que eu dissesse a ele para me chamar pelo nome, ele me chamava pelo meu
novo título.
— Trocaria.
***
Foi um dia longo de muito trabalho, assim como seriam os dias seguintes.
Muitas casas estavam velhas na alcateia, quase não havia áreas comuns e as
que havia estavam velhas, não viam reparos há anos e além de um refeitório
para os executores, eu pretendia criar uma enfermaria, mesmo que simples,
e uma área para as crianças brincarem na região da sede do bando, aquela
que parecia uma igreja e em torno da qual maioria das casas ficava. A
minha ficava mais distante, assim como algumas outras.
No meu bando, ou melhor, no meu antigo bando, havia uma boa enfermaria
e contávamos com um médico. Mesmo que os ursos fossem em menor
número, era possível ver que eram um grupo mais bem organizado. Soube
que havia um enfermeiro entre os lobos e esperava contar com seus
serviços, pretendia reorganizar os recursos e os usar de forma diferente da
que o outro alfa fazia. Mas eu ainda encontraria muita dificuldade e
resistência por parte de alguns, porque por onde eu passava ouvia risos e
ironias sobre minha altura. Eu me senti no início da adolescência e eu
realmente não tinha muita paciência com adolescentes bobos. Levaria um
tempo para que eu ganhasse a confiança de um bando tão acostumado a
associar a capacidade de liderança com o tamanho e a forma física. Mas eu
estava disposto a tentar. E ver o empenho e a vibração do meu beta me
ajudava a ter ânimo.
Assim ele me trouxe Cameron. Um executor alto e forte, como quase todo
mundo naquele lugar, mas diferentemente da maioria, ele tinha o olhar
tranquilo e doce. Sempre sorrindo, ele parecia feliz em colaborar. Só depois
eu soube que ele talvez tivesse alguma lentidão para tarefas intelectuais,
mas era ótimo executando trabalhos manuais pesados. E eu particularmente
tinha gostado dele.
— Chega! Não quero mais gracinhas aqui! Ou alguém vai ter que me
desafiar em um combate. — falei durante uma reunião, tirando minha
camisa, deixando claro que eu podia até conviver com as desconfianças
deles com relação ao meu tamanho, mas não aceitaria que tentassem
oprimir outras pessoas.
— Eles falam isso, porque eu sou meio lento, mas eu não ligo, alfa. —
Cameron falou. — Eu já estou acostumado.
— Com o seu tamanho, Cameron, eles não deviam se meter com você.
— Mas aqui todo mundo é grande, alfa. A maioria é até maior do que eu. —
ele sorria. — E
eu realmente não me importo. Não quero que eles tenham medo de mim...
não gosto de violência.
***
Ele ficava nervoso, porque nunca tinha visto um homem que ele achava tão
bonito antes.
Nem tão gentil e educado com ele. Nem tão cheiroso. O homem tinha um
cheiro quente, que lembrava calor, mas com notas frescas de folhas.
Cameron não sabia explicar.
Ele não era como os lobos da alcateia, muito menos como o antigo alfa.
Russell tratava todo mundo com respeito, olhava a todos nos olhos e, Jesus,
sempre que ele olhava nos olhos de Cameron, ele sentia a barriga roncar de
uma forma estranha, como se eu tivesse fome, sem ter.
Para ir de vez quando para a cama não tinha problema, mas aguentar as
coisas diárias ninguém estava disposto. Se bem que até sexo casual fazia
tempo que Cameron não tinha. Com o trabalho dobrado na alcateia e tendo
que cuidar do sobrinho, não sobrava muito tempo para ele. Isso porque ele
tinha uma vizinha que o ajudava com o garotinho de três anos.
Desde que sua irmã e o companheiro morreram, Cameron, que já não tinha
pais, ficou encarregado e cuidar do sobrinho, porque não tinha mais
ninguém no mundo para cuidar dele.
Ninguém nunca soube o que aconteceu com sua irmã, mas ele tinha certeza
de que era coisa do alfa. Dias antes do desaparecimento dos dois, eles
tinham tido uma discussão com o alfa e pouco tempo depois os dois
apareceram mortos. Foi um grande sofrimento para Cameron. Agora ele
cuidava do sobrinho, mas ainda sentia muito a falta da irmã. Billy era agora
toda a família que ele tinha.
Sua vida era trabalhar e cuidar do sobrinho. Quase não tinha tempo pra se
divertir e quando tinha acabava fazendo alguma coisa com o garotinho. Por
causa disso, quando ele olhava para o alfa lindo que a alcateia tinha
ganhado, por mais que sua barriga ficasse estranha, ele tinha certeza de que
nunca teria sequer uma chance com aquele cara que parecia um sonho, um
cowboy sexy de filme.
***
Com muito custo, eu tentava colocar aquela alcateia em ordem, mas a cada
dia eu me deparava com uma coisa mais estranha que a outra.
Mas talvez a pior de todas elas aconteceu naquela tarde, quando eu estava
na minha casa, descansando um pouco depois do almoço e um executor
chegou com três ômegas. Cameron tinha feito uma pausa também e por
mais que eu o chamasse para almoçar comigo na cozinha, ele sempre se
recusava e pegava o lanchinho que tinha levado, sentava perto dos cavaletes
e comia sozinho. Eu sinceramente preferia que ele tivesse uma refeição
quente e mais substancial,
— Viemos satisfazê-lo, alfa. — disse o garoto que devia ter pouco mais de
vinte anos.
— Me satisfazer?!
— Você está querendo dizer que eu posso fazer sexo com vocês? É isso
mesmo que eu estou entendendo?
— questiono, irritado.
— Mas alfa...
— Eu não quero fazer sexo com vocês e isso vai acabar. O que eu quero que
vocês façam é que procurem o Finnegan e digam que eu preciso falar com
ele. Só isso, por favor.
Mal eu termino de falar e um deles levanta os olhos e me agradece. Aquilo
me enfurece ainda mais. Eu me revolto com aquela situação e assim que
Finn chega, eu peço para que ele reúna todo mundo no salão de reuniões.
Cerca de uma hora depois, com o salão cheio, eu deixo claro que nenhum
ômega deve servir ninguém.
Ninguém responde.
— Estou estarrecido com essa situação. Todos aqui são livres. Isso inclui os
ômegas. —
Foi bom ver seu rosto entre as pessoas. Ele e Finn estavam entre os poucos
rostos que eu já considerava familiares naquele lugar onde eu ainda era
descreditado por muitos e motivo de graça para tantos outros.
Eu sentia falta da minha família e do bando dos ursos, mas eu começava a
sentir que aquela alcateia realmente precisava de alguém de fora para
mostrar que as coisas poderiam ser diferentes. Não necessariamente eu, mas
alguém que pudesse mudar algumas coisas.
— Para com isso, Cam. Eu que te dou trabalho todo dia. Literalmente. —
eu ri. Ele pareceu ficar confuso.
— Sim, eu moro. — percebo que ele diz meio sem graça, mas entra na
caminhonete.
Confesso que o cheiro do cara era delicioso e aquele jeitinho meio tímido
me fazia ter vontade de arrancar a roupa dele com a boca. Mas, claro, eu
não disse, não diria e não demonstrei isso a ele. Eu nem sabia se Cameron
era gay e eu não estava nem um pouco interessado em ter dor de cabeça
com lobos. Se fosse pra ter problemas, eu preferia ter com os ursos, que eu
já conhecia muito bem.
Deixei o cara na casa dele, que era pouco mais que uma cabana. Me despedi
e voltei para a minha casa, que também não era grande, mas era maior e
parecia bem mais confortável que a de Cameron. Eu ainda estava
inconformado com aquela situação com os ômegas, com a pobreza que
algumas pessoas viviam, enquanto o alfa levava uma vida luxuosa.
Finnegan me mostrou a casa dele, que era a do antigo líder e o próprio beta
ficou chocado com o que havia lá.
— Não posso ficar com tudo isso aqui, alfa. — disse ele, me mostrando
aquele monte de aparelhos eletrônicos e móveis. Eu podia errar em várias
coisas na minha vida, mas a cada dia que passava eu tinha certeza de que eu
tinha acertado na escolha do beta. E, merda, Finn era outro homem lindo.
Com os cabelos castanhos, curtos, maxilar marcado, barba bem baixa e e
maxilar marcado, era o tipo que atrairia facilmente homens e mulheres.
Fora que aquele ar sério e comprometido dele aumentava sua sensualidade.
O cara era quente.
Capítulo 03
Cameron nunca tinha sentido aquelas coisas em seu estômago que ele
chamou de bolinhas.
O alfa preferia estar com ele e ele queria abraçá-lo e o girar de tanta
felicidade. Não precisava de mais nada. Só de estar perto. Sentia que podia
serrar, cortar, martelar até seus braços caírem só para estar próximo de
Russell. E sempre que o via tirar a camisa e mostrar os músculos, era como
se o seu corpo cantarolasse para ele, desejando tocá-lo, querendo seus
toques.
Pensou que era porque não tinha ninguém havia muito tempo e em seguida
achou que seria prudente desviar os pensamentos do alfa, ainda mais depois
que o viu com aquele lindo ômega urso em sua casa.
Sim. Ele viu Abel todo sorridente com Russell. Pareciam muito íntimos e
Cameron não fazia ideia que o cara era apenas amigo do alfa. Foi o
suficiente para que ele tivesse certeza da necessidade urgente de parar de
fantasiar com o alfa novo.
— Oi, Rus. Eu não sabia que era tão burocrático entrar aqui. — ele falou
assim que Russell abriu a porta da frente, de onde não se podia ver o quintal
dos fundos onde estava Cameron.
— Chega, Abel. — disse o alfa para o ômega. — Ele é meu amigo, Finn.
Obrigado por trazê-
lo até aqui. Mas não precisa se preocupar, porque ele parece feroz, mas é
inofensivo. — riu Rus.
— Eu sabia que eu não devia ter vindo. — Abel empurrou a porta
resmungando, sem sequer olhar novamente para Finnegan.
— Sei.
— Mas o Finn está certo. Não é seguro você andar pela alcateia sozinho.
Ainda tem amigos do antigo alfa por aí. Não quero que te façam mal.
— Eu preferi essa.
— Hum. Que modesto, senhor alfa. Mas sua casa na fazenda é melhor.
Eu gostei dela.
— Abel!
— Eu deixei o carro perto daqui, bobo. Assim que eu desci pra perguntar
onde você morava o grandão lá me parou e me acompanhou à força até
aqui.
— É o certo, Abel.
Abel ainda fez algumas provocações, mas aos poucos a irritação com a
escolta de Finnegan foi passando e ele foi se tornando mais amoroso e
menos reativo. Mais amoroso para o seu padrão, porque depois da sua
decepção amorosa, o ômega tinha se tornado um pouco frio e um tanto
cínico. Russell era o único com quem ele se abria, assim como foi o único
pra quem ele contou que ficou três anos em um relacionamento escondido,
para depois descobrir que o cara era casado. Com uma mulher. E tinha
filhos!
Não que o namorado fosse o cara mais incrível. Mas ele parecia muito
melhor do que era.
É verdade que o próprio Abel escondia dele o fato de ser um shifter urso,
mas isso não era nada comparado a uma esposa e filhos. Assim Abel se
tornou uma pessoa meio ácida, que só mostrava suas fraquezas para
Russell, porque sabia que ele não ia enganá-lo para levá-lo para a cama.
Porque nem quando estava no cio Russell fazia algum movimento em sua
direção.
Claro que durante os seus calores, o próprio Abel já quis se jogar entre as
pernas do amigo lobo e chupá-lo até não restar uma gota. Mas Russell
nunca deu um sinal nessa para ele e Abel seguramente se arrependeria de
cair de boca no lobo.
Assim, eles eram como irmãos. Por isso Abel se sentia no direito de dizer
sempre o que pensava e Russell, francamente, preferia daquele jeito.
Gostava da sinceridade do amigo, mesmo quando essa dizia que a casa era
uma droga.
Não era. Mas não era mentira que a casa na fazenda era muito melhor, mas
Russell tinha um propósito na vida agora e muito dele tinha a ver com os
ômegas da alcateia, porque depois que ele soube como eles eram tratados,
sua vontade de ficar se fortaleceu.
— Pelo visto esses cachorros não prestam, Rus. Se eu soubesse disso nunca
teria te aconselhado a vir pra esse inferno.
— Você precisa pensar que os ômegas são lobos também e se eu não viesse,
talvez isso continuasse acontecendo.
Abel praguejou por mais algum tempo antes de concordar com Russell. E
aquele certamente era um bom motivo para que ele ficasse. Ômegas tinham
uma espécie de senso de comunidade entre si. Mesmo entre espécies
diferentes. Eles raramente criavam laços carnais entre eles, mas tinham um
forte vínculo emocional e aquilo foi um baque e tanto no coração já ferido
de Abel.
Levou um tempo até que Russell conseguisse distrair o amigo novamente,
para que ele fosse embora sorrindo. Mostrou a parte de trás da casa, acenou
de longe para Cameron, mas não levou Abel até lá.
— Palhaço!
Rindo, ele foi embora mais leve, tendo o próprio alfa o acompanhado até o
carro e lá se despediram. Mas na volta, não foi possível que Abel
esquecesse o que tinha ouvido. E mesmo com toda a sua aridez, ele
lamentava arrasado pelo tempo que os lobos ômegas tiveram que sofrer,
mas aliviado ao saber que tinha dado um bom conselho ao amigo. Porque
Abel sabia que com Russell naquela alcateia, nenhum ômega sofreria.
***
Ao levantar da cama aquela manhã, Cody sabia que teria um dia difícil. Por
mais que os ânimos estivessem muito melhores na alcateia, e até ele mesmo
já tinha chegado a ter um certo ânimo, ele sabia que Rhett estava
insatisfeito, fazendo com que seu ódio à primeira vista pelo novo alfa o
deixasse ainda mais violento que o comum.
Cody bem que tinha tentado terminar aquela relação. Vinha tentando reunir
força para isso, mas Rhett sempre arrumava um jeito de impedir e de o
ameaçar. Assim ele ia empurrando, sem esperança de encontrar uma forma
de sair daquilo.
Quando a alcateia estava sob a liderança do alfa anterior, ele até que tinha
mais motivos para levar sua relação com Rhett. Afinal, o cara era um dos
homens próximos do alfa, isso fazia com que Cody não precisasse
esquentar a cama do líder, diferentemente dos outros ômegas que não raro
precisavam servir o alfa. Esse era um grande motivo para suportar a relação
ruim.
Porque querendo ou não, por Rhett ele ainda sentia alguma atração física,
embora nem isso fosse mais como antes.
Pelo menos eles não moravam juntos. No passado isso incomodou bastante
o jovem ômega, principalmente quando ele descobriu que Rhett fazia
algumas festinhas em sua casa sem convidá-lo. Hoje em dia, no entanto, ele
preferia ter umas noites sozinho. Talvez ele preferisse ter todas, mas ainda
não conseguia.
Se Rhett fosse um cara mais amoroso, talvez Cody sentisse mais sua falta.
Mas além de ele não ser, aos poucos ele ia matando por sufocamento a
meiguice e a doçura de Cody, que já não sorria como antes.
Sua casa ficava num dos lugares mais afastados de onde moravam as
pessoas na alcateia, perto da casa de Cameron. Um lugar mais pobre e meio
sem cor, mas que tinha sua tranquilidade, sendo perfeito para a ação livre de
um abusador.
Mas desde que Russell tinha assumido a alcateia, Cameron reparou que as
visitas de Rhett se tornaram mais frequentes, bem como Cody parecia cada
vez mais triste. Cameron chegou a bater na porta do ômega e perguntar se
ele precisava de alguma coisa, mas tudo o que conseguiu foi um "não,
obrigado. Por favor, vá embora". Cameron, entretanto, estava de olhos e
ouvidos atentos, porque ele podia não ser muito inteligente, mas ele tinha
uma sensibilidade acima do comum. Ele sentia que algo estava errado. Mais
errado do que antes.
Mas Cameron precisava trabalhar como executor e agora como ajudante do
alfa e não tinha muito tempo para ver o que passava ao redor. Estava feliz,
porque gostava de passar seu tempo na casa de Russell e porque ele estava
fazendo um dinheiro extra, e podia pagar para a senhora Moore cuidar de
Billy.
— Ah, claro. Vou providenciar que ele tenha dois pagamentos, alfa. Ele e os
demais que estão ajudando na construção. — salientou Finn.
— Ótimo. Porque pelo que percebemos, o que se arrecada aqui dá pra fazer
muita coisa.
— observou o alfa.
— Sim. Mas nós sabemos para onde tudo isso ia. — Finn lamentou,
passando para o assunto seguinte da reunião com o alfa.
— Não se preocupe, alfa. Eu me preocupei, porque não sabia quem ele era e
também porque percebi que ele era um ômega. Eu não sei se é seguro um
ômega estranho andar por aqui ainda. — Finn se explicou.
— Você fez bem, Finn. Eu te agradeço por isso. E se ele voltar, pode ficar
de olho nele, mesmo que ele reclame. Por favor. Porque Abel é teimoso e às
vezes esquece que é um ômega.
— Eu não ligo pra ofensas, alfa. — Finn sorriu. — Ele só parece um ômega
arisco. Nada perto do que todos nós já passamos aqui.
***
Depois de deixar a casa do alfa, Cameron foi para a sua. Mal tinha
conversado com ele e esses eram os piores dias para o executor. Ainda que
ficasse quente e envergonhado, gostava mais quando Russell estava por lá.
Ele não sabia que dentro da residência do ômega, naquele momento, não
estava acontecendo nada, além de Rhett estar jogado no sofá, enquanto
Cody cozinhava. Ninguém sabia dos hematomas nos braços do pequeno
Cody, porque ele os escondia, ou se transformava para que eles fossem
embora. Assim como ninguém sabia das ameaças que Rhett fazia caso ele
contasse a alguém.
Antes de entrar em sua casa naquele dia, ele passou na senhora Moore para
pegar Billy e o garotinho foi correndo para o seu colo como em todos os
dias. Agradeceu a mulher, despediu-se e levou Billy nos ombros. Deu
banho no garoto e depois fez o jantar, só depois que comeram é que
Cameron foi tomar banho.
Ficou um tempo brincando com Billy na pequena sala e depois que ele
dormiu, pôde assistir um pouco tevê e desmaiou de cansaço ali na sala
mesmo. Ele se esforçava para fazer o melhor e se contentava com pouco.
Poder sustentar o garotinho e ter uma casa e comida na mesa
***
Tinha sido um dia cheio na alcateia, como quase todos eram, mas eu tinha
conseguido chegar em casa ainda com o sol brilhando e daria tempo de
fazer o jantar. Cameron e outro executor ainda terminavam alguma coisa no
quintal de trás quando eu saí do banho.
Gritei pra eles da janela que podiam ir, pois o tempo estava fechando e
provavelmente choveria. Fiz isso e fui cozinhar o jantar. Fazia tempo que eu
não parava para fazer uma refeição decente pra mim mesmo, então naquele
dia decidi que iria caprichar.
Ele correu até mim, molhando-se todo pelo caminho, e entrou na varanda.
Corri para pegar uma toalha para ele, porque ele não quis entrar em casa
molhado como estava, mas a chuva apertou e mesmo onde estávamos os
pingos fortes e gelados conseguiam nos atingir. O tempo parecia mudar.
Não só pela chuva, mas também pelos ventos frios que sopravam
empurrando a água.
Ele tentou relutar, mas o impedi. Abri a porta e deixei que ele entrasse
primeiro. E quando ele passou, notei que nem a água fazia desaparecer o
seu perfume, que voou direto para dentro de mim.
O cara cheirava bem, era bonito, tinha aquele corpo grande e bem
construído, mas era mais alto que eu, então com certeza não ia querer se
submeter a alguém mais baixo. Fora que eu nem sabia se ele preferia
homens, ou se tinha alguém. Eu sabia quase nada sobre ele, mas meu corpo
pulsou de vontade. Uma vontade que eu afastei com pressa, focando no
jantar que eu precisava terminar.
— falo, indo para a cozinha, de onde se pode ver a sala, onde ele estava.
— E por que você não pode jantar comigo? — olhei para, ele esperando que
ele falasse sobre algum companheiro ou namorado.
Pensei em perguntar se ele tinha alguém esperando por ele em casa, mas
achei que poderia soar atirado demais e não perguntei. Na minha cabeça,
com certeza aquele homem lindo teria alguém. Não teria como ser
diferente.
— Então jante comigo e espere a chuva passar. Se ela não passar eu te levo
de carro até sua casa. — falei como se encerrasse o assunto. — Você não
vai me atrapalhar. O jantar está quase pronto e vai ser bom ter companhia.
— sorri para ele, desligando o fogo.
O jeito que ele falava, o sorriso tímido, a forma que ele ficava com as
bochechas coradas quando ficava envergonhado e tudo isso contrastando
com o seu cheiro e seu jeito másculo, com a forma que ele mexia nos
cabelos castanhos e levemente ondulados, seus movimentos contidos, mas
viris. O cara parecia um sonho andando pela vida, mexendo com a minha
cabeça e com a minha libido.
Seu jeito meigo de me olhar me fazia querer beijar sua boca, até o ritmo de
sua respiração parecia querer me atrair e quanto mais próximo de Cameron
eu ficava, mais eu tinha certeza de que precisava me afastar. Assim, eu o
deixei em casa depois do jantar. E acho que nunca alguém tinha parecido
ficar tão feliz com a minha comida antes. Mas no dia seguinte eu pedi a
Finn que me arrumasse outro cara para trabalhar na reforma, porque
definitivamente eu não podia mais ficar perto de Cameron.
Capítulo 04
Depois do jantar, consegui fazer com que Cameron ficasse pouco tempo na
minha casa. Ele parecia agoniado, então eu o levei logo embora, porque
certamente ele tinha alguém esperando por ele. Eu só não esperava que
fosse uma criança.
Assim que ele se despediu de mim dentro do carro, com aquele charme
tímido de quem nem sequer sabe que é lindo, ele correu para a porta de
entrada da casa. E antes que ele chegasse, a porta se abriu. Por ela saíram
uma mulher e um garotinho que ele segurou nos braços de forma amorosa.
— Não. Ele é ótimo. Eu só acho que ele deve estar cansado. Talvez seja
bom revezar.
— Pelo que eu sei ele está muito feliz ajudando. Mesmo sem saber que o
pagamento seria maior. Mas eu falo com ele, alfa. E amanhã eu arrumo
alguém.
Fiquei mais tranquilo depois de falar com Finn e depois do almoço notei
que Cameron não estava mais lá. Não fiquei feliz, claro. Mas pensei que
seria o melhor a se fazer, afinal, eu tinha acabado de chegar na alcateia e
não queria sair dando em cima dos homens. Queria mostrar que eu era
diferente do antigo alfa e ficar babando em cima de um cara não era o
melhor jeito de fazer isso.
— Oi, alfa... — ele parece aflito. Morde o interior da boca, o que dá a ele
um ar de menino grande assustado e o deixa ainda mais adorável.
— Pode perguntar.
— Desculpa atrapalhar o seu descanso, alfa. Prometo que vou ser bem
rápido.
— Eu... fiz alguma coisa errada pra você me dispensar, alfa? Se eu fiz, me
desculpa... eu posso aprender a fazer as coisas direito... — seus olhos se
estreitam.
— Não! Você não fez nada de errado. — falei calmo, já com o meu coração
apertado de olhar pra ele.
— É por causa do Billy? Se for, alfa, eu prometo que não vou trazer ele
aqui. A senhora Moore cuida dele quando não estou em casa... não vai
atrapalhar o trabalho. — ele diz rápido, me deixando completamente
confuso.
— Quem é Billy?
— E... você pode trazer o Billy quando quiser. Se sua companheira não se
importar.
Ele me agradece alegremente mais algumas vezes e aperta minha mão antes
de ir embora.
Aquilo me deixa tão perturbado que eu nem consigo oferecer a ele uma
carona. Porque eu não sabia direito o que pensar. Minha cabeça apenas
enumerava e embaralhava todas as informações.
***
Atormentado pela atração que sentia por aquele homem, Russell resolveu
que precisava se distrair urgentemente. Vestiu seus jeans apertados, uma
camiseta branca, calçou as botas e saiu.
Entrou na caminhonete e dirigiu até perto das fazendas dos ursos, um pouco
distante da parte da cidade onde viviam os lobos, mas era lá onde ele se
sentia bem. Estacionou em frente à lanchonete da Tracy. Uma antiga ursa
que servia bebida até tarde da noite, a depender do humor de Tracy, além de
ótimos e gordurosos hambúrgueres.
Tracy era velha conhecida dos ursos, mas sua lanchonete era frequentada
também por humanos, muitos gays, que iam atrás dos belos e grandes
homens das fazendas.
"Mais que isso, façam em um motel!", ela costuma dizer. Afora isso,
raramente havia brigas ou discussões. E no geral ela tinha mais problema
com os humanos que com os ursos.
E foi para lá que Russell dirigiu aquela noite, porque sabia que Tracy abria
perto da hora do almoço e costumava ir até tarde e ele estava à procura de
alguém para esquentar sua cama.
— Meu lobo preferido. Essa é por conta da casa. — ela sorriu e estendendo
a ele uma dose de uísque com gelo.
— Você vai se sair bem, querido. Eles deram sorte de ter você. — ela sorriu
amorosamente para Russell, por quem tinha um carinho especial e quase
materno, e logo se virou para um cliente que chegava, reclamando de sua
impaciência e ameaçando colocá-lo para fora.
Como Tracy era grande como a maioria dos ursos, nenhum engraçadinho se
metia com ela, então todos ouviam silêncio as broncas, sem deixar de
frequentar o lugar.
Assim, enquanto ela brigava com o cara do lado, reclamando por ter que
atender todo mundo sozinha, Russell aproveitou para dar uma olhada no
lugar. Acenou para Glenn que estava na cozinha, e depois virou o olhar para
algumas pessoas que estavam por lá. Nenhum cara o interessou de imediato.
Ninguém o fez se animar.
Então uma voz conhecida surge por trás dele.
Carter era um shifter urso com o qual Russell já tinha saído algumas vezes
antes de ir para a alcateia. O cara tinha um belo sorriso e um ótimo corpo,
não era tão alto como os outros ursos e tinha uma conversa agradável, além
de fazer um excelente boquete. Carter era perfeito para o que Russell estava
procurando, principalmente porque todos sabiam que Carter não era um
cara que queria se comprometer. Jovem e bonito, ele estava interessado
unicamente em aproveitar a vida. Escolhia a dedo com quem aproveitaria,
no entanto. E naquela noite, seu sorriso persistente e sua sobrancelha
expressiva diziam que ele queria o mesmo que Russell, o que resultou em
algumas bebidas e uns beijos no bar.
Com a intensidade da noite, Carter acabou dormindo lá. Russell não era o
tipo de cara que não passava a noite junto só porque a relação era casual.
Ele não se importava em dormir com os caras que transava. Pensava que se
o cara era bom para sexo, também era bom para trocar carinhos e dormir
abraçado. Claro que muitos não estavam em busca dessas coisas, mas
Russell gostava do pacote completo, ainda que não fosse ter uma relação de
longo tempo.
Já tinha tido alguns namoros e casos mais longos, mas havia algum tempo
que alguém não o interessava a ponto de ele querer se comprometer. Na
verdade, estava cada mais difícil até suas saídas casuais. Pensava que estava
ficando velho para aquela brincadeira, mas achar um homem que quisesse
algo sério também era difícil. Parecia que ele sempre atraía aqueles que
gostavam de solteiros e no fundo Russell não sabia bem o que queria.
De fato, ele não achava tão ruim aquilo de não se comprometer. Afinal,
fazia mesmo bastante tempo que ele não sentia aquele friozinho na barriga
gostoso. O que, no entanto, não o impedia de ser uma companhia gentil e
carinhosa antes, durante e depois do sexo. Quando
era possível. E com Carter foi. Não pelo tempo que Russell gostaria, porque
o cara desmaiou depois de gozar pela segunda vez.
Russell era um cara maior na cama do que sua altura poderia indicar.
Apesar de atencioso, ele gostava também de uma coisa forte, por isso Carter
ficou esgotado e desabou na cama com um sorriso no rosto.
Acordou apenas no dia seguinte, mas não quis ficar de carinho com Russell.
O alfa até que achou bom, posto que não conseguia evitar que o rosto
Cameron surgisse à sua frente toda vez que fechava os olhos, fazendo-o
imaginar como seria o sabor dos seus lábios, o gosto da sua pele.
Como tinha ido com seu próprio carro, Carter se despediu com um selo
rápido, sendo acompanhado pelo alfa até a porta de trás, enquanto Russell
segurava uma caneca de café fumegante, vendo-o ir. Vestia apenas uma
calça, dando a Cameron uma boa visão dos seus músculos bem esculpidos e
de esperanças quebradas.
Mas como estava ajudando o alfa, só trabalhava com executor em três dias
na semana. Nos que tinha a tarde livre, podia ficar mais tempo com o
sobrinho.
Mas infelizmente naquela manhã Cameron não pôde admirar a beleza das
curvas que faziam o corpo de Russell, uma vez que seus olhos se detiveram
principalmente no moreno que deixou a casa do alfa e o beijou antes de sair.
Sem saber como lidar com o rebuliço que aquilo criou em seu interior,
Cameron apenas baixou os olhos para a madeira que serrava e sentiu as
pernas amolecerem junto com o turbilhão que parecia querer engolir seu
estômago. Desligou a serra com medo de cortar os dedos e se apoiou na
bancada de madeira. Que sensação ruim era aquela de ter ciúmes! Com toda
a sua inocência, Cameron nem sequer conseguia entender o que aquele
sentimento significava.
Medo de algo que ele não compreendia, tudo o que sabia era que não queria
sentir. Queria fazer aquela sensação ruim ir embora, a vontade de correr
para a sua casa e chorar, desaparecer.
Ele era um homem, afinal. Não fugiria ao seu dever. E não fugiu. Sabia que
alguém como Russell não se interessaria por ele. O homem era um alfa, que
tinha vivido entre os ursos. Um alfa lindo, que tinha tudo para arrumar
alguém muito melhor. Não fazia sentido que Cameron alimentasse alguma
esperança. Se ele sabia disso, então por que estava tão triste?
Ele não saiu. E só depois do almoço que Cameron o viu. Quando o alfa foi
levar um copo de café quente para ele. Conversaram pouco, Cameron mal
podia olhá-lo nos olhos sem sentir aquela coisa ruim na barriga, ou aquelas
pequenas torcidas em seu peito. Ao passo que Russell sentia em si uma
espécie de culpa, porque ele sabia, dentro de si, ele sabia com quem ele
queria realmente passar a noite.
Os dois não ficaram frente a frente naquele dia. Mesmo sem saber que
Cameron tinha visto Carter sair, que tinha visto o beijo, o alfa não teve
vontade de encarar o homem. Russell se sentia estranho, como se tivesse
feito algo errado, mesmo sabendo que não tinha feito nada. Que era
perfeitamente normal passar a noite com alguém. Afinal, ele era livre,
jovem e não tinha amarras. Era isso que dizia a si mesmo como um mantra,
enquanto sua mente passeava pela lembrança de Cameron e sua doçura
ingênua.
Aquela noite de sexo deveria deixá-lo de bom humor, mas tinha tido o
efeito contrário. E
por isso ele se punia, xingando-se. Sua vontade era correr até a casa do
executor e beijar sua boca até se cansar. Pedir desculpas, como se o tivesse
traído, prometer que agiria de forma diferente. E não seria sacrifício algum
ser fiel a Cameron. Que delícia seria se Russell pudesse fazer isso, de ser só
dele.
Isso já estaria bastante bom para ele. Só poder beijar os lábios de Cameron
e descobrir se eram tão doces quanto pareciam.
Ele queria estreitar laços com o lobo. Ele sabia, embora nunca fosse admitir
em voz alta.
Mas estavam cada vez mais distantes um do outro, sendo que as coisas
práticas do dia-a-dia pareciam afastá-los ainda mais.
Até que a senhora Moore teve um imprevisto e não pôde cuidar de Billy.
Sem saber o que fazer, Cameron deu banho no sobrinho, trocou-o, fez café
da manhã e enquanto Billy comia, ele andava de um lado para o outro
pensando no que fazer. Então se lembrou que o alfa tinha dito que ele
poderia levar o garoto para a sua casa se precisasse, e para Cameron não
havia essa coisa de dizer por educação ou da boca para fora. Ele dizia o que
sentia e pensava que todos faziam o mesmo. Tinha uma certa dificuldade
para entender diplomacia.
De modo que, tendo lembrado da carta branca do alfa, ele fez um lanche
para ele e outro para o sobrinho, embrulhou-os com cuidado e, pegando na
mão de Billy, saiu para o trabalho.
Colocou o garoto sentadinho perto da bancada, pediu para que ele ficasse
bonzinho e começou a trabalhar. Fazendo com perfeição o que tinha
aprendido, ele jogava o cabelo do rosto, enquanto martelava e ficava de
olho em Billy, que brincava ali pertinho.
Billy era tranquilo e, sentado embaixo de uma árvore, ali ao lado do tio, ele
tirou do bolso um pequeno carrinho vermelho e um cavalo miniatura de
plástico e começou a brincar sozinho.
Sem conseguir se aguentar, Russell encheu uma caneca com café e em outra
ele fez um chocolate quente e foi levar para os dois.
— Me desculpa, alfa. A senhora que cuida dele não pôde ficar com ele hoje
e eu...
— Só na televisão...
Os olhos castanhos de Billy brilharam e ele olhou para o tio outra vez.
— Se o seu tio deixar, eu te levo até a minha antiga casa para você ver o
cavalo.
Queria dizer ao alfa que não precisava se incomodar, queria ter dito
qualquer coisa, mas a ideia de sair com ele soava tão bem para Cameron,
que ele não teve força para dizer coisa alguma. E mesmo que soubesse que
aquilo provavelmente era uma forma de o alfa mostrar simpatia apenas, ele
esperava, bem lá no fundo, que fosse verdade.
Capítulo 05
Eu fiz o que tinha que fazer naquele dia e corri de volta para a casa. Queria
voltar a tempo de fazer o almoço, porque fiquei com eles na cabeça.
Preparei uma salada, batatas cozidas com outros legumes, e carne grelhada.
Algo simples, porque eu não sabia o que eles comiam e não entendo nada
sobre crianças. Não sabia bem o que Billy comia, mas me incomodava o
fato de uma criança ter que almoçar no quintal. Me incomodava que
Cameron comesse lá também, mas ele sempre recusava meus convites.
Naquele dia, porém, eu não o deixaria recusar. O cara estava com uma
criança, caramba, e se fosse preciso eu seria firme.
Pus a mesa e depois fui chamar os dois. Confesso que me peito estava um
pouco agitado.
Eu não sabia ao certo o que aquilo significava, mas quando Cameron tentou
recusar, eu o interrompi.
— Cameron, por favor. Eu cozinhei para nós três. — disse meio seco.
Ele parou e me olhou por um tempo, sem dizer nada. Sem me dar uma pista
do que estava pensando. Então seus cílios se moveram rápido, ele piscou
algumas vezes. Então eu percebi que o que eu disse poderia ter soado
estranho. "Eu cozinhei para nós três", que grande idiota eu sou! Aquilo
parecia tão íntimo e eu não tinha intimidade nenhuma com o cara. Não que
eu não quisesse. Ele não parecia me deixar chegar muito perto. E talvez
fosse impróprio mesmo.
Então ele chamou Billy e os dois me seguiram pelo quintal de terra batida,
depois pelo pedaço de grama que circundava a casa e entraram. A pedido de
Cameron, mostrei o banheiro para que eles pudessem lavar as mãos, porque
ele só usava o banheiro de fora da casa, um que ficava perto do pequeno
galpão onde eu guardava as ferramentas.
Já tinha levado boa parte do que eu precisava para a alcateia. A casa em que
eu estava morando foi deixada com quase todos os móveis de Finn, porque
a casa para qual ele foi, do antigo alfa, já tinha coisas demais e ele só levou
o essencial. Eu troquei a cama, um sofá, e algumas coisas na cozinha, mas
fiquei com o resto, de modo que minha casa na fazenda ainda permanecia
quase completa.
Sorrio com aquela fofura, porque não é todo dia que se recebe um elogio de
uma criança.
— Você cozinha muito bem, alfa. — diz Cameron. — Agora o Billy vai
ficar triste quando comer a comida que eu faço. — ele faz uma brincadeira,
e eu encaro como se ele estivesse ficando mais à vontade. Meu coração se
aquece, porque qualquer porcaria que aquele homem fizesse, qualquer olhar
na minha direção fazia meu coração esquentar.
— Então vou ter que chamar vocês para almoçar mais vezes. — falo em um
tom de flerte, não intencionalmente, mas escapa sem que eu consiga me
interromper. Me repreendo mentalmente, porque era um flerte cretino.
— Oh... não, alfa. Não podemos ficar te incomodando. Com tanta coisa que
tem pra fazer...
não foi o que eu quis dizer. — Cameron tenta se justificar, sem entender
meu galanteio. E eu não sabia se aquilo era bom ou ruim.
— Você é muito gentil, alfa. — ele olha para o prato e continua comendo,
ainda sem graça.
Definitivamente eu precisava parar de fazer aquilo. Ele não me dava
nenhum sinal de corresponder às minhas investidas, se é que eu poderia
chamar aquela droga que eu fazia de investida.
Eu me senti um imbecil por não conseguir ter uma conversa normal com o
cara. Ou eu falava alguma besteira que ele não entendia, ou eu o deixava
sem graça. A verdade é que eu não sabia me comunicar com ele direito e
não entendia o porquê, se normalmente eu me dava bem com os caras. Com
ele tudo era estranho, meio atravancado e eu só fui entender melhor no dia
seguinte, quando conversei com Finn.
Mas naquele dia ainda, depois do almoço, eu levei os dois para a casa. Não
deixei que Cameron voltasse ao trabalho, porque não queria que ele ficasse
com o menino fora de casa.
Como naquele dia ele teria o turno de executor, pedi para Finnegan que
pusesse alguém no lugar dele, porque ele não tinha ninguém para cuidar do
sobrinho. E antes de eles saírem do carro, eu, com toda a minha ansiedade,
reforcei o convite para que Billy conhecesse o cavalo na fazenda, porque eu
realmente queria que Cameron entendesse que era um convite mesmo.
— Não tenho, alfa, mas não precisa se preocupar... — ele tentou dizer e
mesmo que eu não quisesse interrompê-lo, eu interrompi.
menti, para não parecer outra coisa. Para não ficar tão claro que eu queria
passar mais tempo com ele.
— Pode ser no sábado, então? Se você não puder ou não quiser, não se
acanhe em dizer.
— Eu posso. — ele me olhou profundamente. — Eu quero. — ele piscou
algumas vezes. Eu sorri e ouvi Billy comemorando no banco de trás.
Me despedi dos dois e quando ele pegou Billy no banco de trás, sorri ao
ouvir o garotinho perguntar se faltava muito para sábado. Billy ainda me fez
tchau do colo do tio. E aquilo me encheu ainda mais de felicidade. Eu
estava completamente encantado com os dois. Totalmente fascinado. E não
havia mais chance de eu querer outra coisa.
***
Fiz minhas coisas na manhã seguinte, tomei café e acenei para Cameron
pela janela. Billy não estava com ele e eu não tive coragem de ir até lá sem
um motivo aparente. Ainda mais porque o outro executor que me ajudava
estava com ele. De modo que eu esperei até que Finnegan fosse à minha
casa para tratar de alguns assuntos da alcateia.
— Que bom que deu a folga para o Cameron ontem, alfa. Ele sofre para
criar aquele menino sozinho depois de tudo o que aconteceu.
— Foi ela quem criou Cameron. Era como uma mãe pra ele, porque depois
que o alfa anterior matou o seu pai — Finn parece se constranger nesse
momento. —, algumas pessoas da alcateia se rebelaram e foram mortas. Eu
era pequeno nessa época e não me lembro, mas todos conhecem a história.
Invadiram a casa de Cameron e mataram seus pais de forma violenta.
Encontraram ele no chão com um grande ferimento na cabeça. Foi sorte ele
não ter morrido. A irmã era mais velha e conseguiu se transformar e fugir,
mas não teve tempo de levar o irmão.
Então, como ele era pequeno e não tinha passado pela primeira
transformação, acreditam que ele tenha ficado com alguma sequela.
— Sequela?
É comum que ele se atrapalhe, mas ele é a criatura mais doce dessa alcateia.
Tem um coração puro e imenso. E na verdade ninguém sabe se ele teve
mesmo sequela ou se seria assim diferente de qualquer jeito.
— Entendi...
— A irmã cuidou dele com carinho. E quando ela morreu, mesmo que
Cameron morasse já sozinho, ele sofreu muito. A vizinha dele, a senhora
Moore, uma mulher que mora só há muito tempo o ajuda com o sobrinho.
Muitas pessoas o ajudaram no começo, porque Cameron não sabia trocar
uma fralda. Mas agora ele tira de letra. Ele e Billy são muito queridos. Só
alguns bestas que gostam de tirar sarro do Cam por ele não compreender
bem algumas coisas, mas ele não liga. Às vezes eu acho que ele não
entende... se entende, ele ignora. — Finnegan sorri e meu lobo uiva
internamente, de raiva de quem debocha dele.
— Ele teve e tem uma vida difícil. Cuida sozinho do menino e o dinheiro
sempre foi curto.
Por isso fiquei feliz quando você resolveu dobrar o pagamento dele. Vai
fazer muita diferença pra eles, alfa.
Com o peito ardendo de tristeza e raiva, passo para o assunto que queria
tratar com meu beta, falamos sobre os problemas que precisam ser
resolvidos, mas minha mente paira sobre Cameron e meu desejo que não se
despede de mim. Por mais que eu tentasse, até mesmo indo para a cama
com outro, tendo um bom sexo. Nem isso fazia com que eu deixasse de
pensar em Cameron e no quanto eu o queria. No quanto aquilo era
impróprio.
Nem mesmo o fato de saber que ele era diferente me fazia perder o
interesse. Finnegan falava sobre as reformas, as trocas de executores e
outras coisas de forma animada. Mesmo com toda a sua polidez, porque o
cara era realmente todo certinho, dava para perceber sua animação em
ajudar as pessoas. Eu estava feliz também, só me sentia um pouco mal por
pensar mais em levar Cameron para a fazenda do que em outra coisa.
— Claro. É uma ótima ideia, Finn. Mas eu não sou muito bom com essa
coisa de festa, então se você puder organizar isso.
Ele concordou. A cada dia que passava eu tinha certeza de que ele era a
pessoa ideal. Além de cuidar do dinheiro, ele me ajudava em praticamente
tudo. Parecia confiável e era bem visto por todos. Finnegan era o tipo de
pessoa que conseguiria acalmar uma multidão falando baixo, sem esforço.
Ao contrário de mim, que sou mais impositivo. Eu preciso ser assim.
Aprendi desde cedo a ter um comportamento mais inflamado por ser mais
baixo que a maioria à minha volta. 6
***
— Tchau, titio! — Billy acenava para ele, com uma mão dada com a loba.
Como em todos os dias, Cameron virou e acenou de volta para o sobrinho,
fixando um sorriso honesto no rosto. 2
— Não. Eu quero! Billy não para de falar no cavalo que vai ver... ele está
ansioso. —
Cameron sorriu.
— Então vá pra casa que eu passarei lá daqui uma hora. Tudo bem pra
você?
— Ótimo, alfa. Obrigado por fazer isso pelo Billy. — Cameron piscou
rápido e então virou o rosto, ouvindo o "por nada" meio atordoado do alfa.
Russell sabia que não era bem pelo garoto que ele estava fazendo aquilo,
embora fizesse sem problema algum e de bom grado, mas ele queria poder
passar mais tempo com o tio de Billy. Não importa qual fosse a desculpa,
ou o pretexto mirabolante que precisasse inventar.
Na pior das hipóteses ele não faria nada. Mostraria o cavalo a Billy e
voltariam para a casa.
Tudo continuaria como antes e ele tentaria tirar o cara da cabeça. Parecia
bom, ainda que fosse a pior das hipóteses.
Ele não sabia, mas o coração de Cameron pulsava ansioso toda vez que
estavam muito próximos e se ele ficava mais calado era porque não queria
parecer um bobo como muitos diziam que ele era. Não aos olhos de Russell.
alfa descobriu que não era a peculiaridade de Cameron que havia truncado
as conversas iniciais entre ele, mas o seu desejo pelo lobo.
Para Russell, Cameron era perfeitamente normal. Aliás, ele parecia melhor
que o normal.
Chegaram na fazenda ainda de dia. Como era grande, a casa onde Russell
morava ficava distante da casa de seus pais, mas logo que chegaram, o alfa
descobriu que os pais não estavam, então ele dirigiu até perto do estábulo,
onde estacionou o carro e desceu com os dois.
Vestiu o seu chapéu para se proteger do sol e Cameron sorriu ao olhar para
ele. Gostava de como o alfa parecia um coubói sexy com aquele chapéu. Na
alcateia eles não costumavam ter aquele visual, que Cameron achava cair
muito bem em Russell. Tão bem que seu corpo se endurecia ao olhar para
ele.
Ele ainda teve sorte de ter uma professora com um olhar diferenciado que
conseguiu alfabetizá-
lo. Foi difícil, mas ela conseguiu. E Cameron sabia ler muito bem, embora
não tivesse completado todos os anos escolares.
Russell pediu que eles esperassem do lado de fora do estábulo e entrou para
tirar um lindo cavalo marrom da coxia.
— Pode pôr a mão, tio alfa? — Billy perguntou olhando para cima.
— Claro, Billy. Vem cá, deixa eu te colocar em cima dele. Você quer?
— Quero!
O alfa tinha escolhido o cavalo mais manso e sorria ao ver Billy acariciar
sua crina, deliciando-se visivelmente com aquele passeio.
— Acho que eles não devem gostar muito de ter gente em cima deles...
— Mas acho que criança eles não ligam que subam... — Russell entregou
novamente um sorriso aberto. E dessa vez conseguiu um sorriso de
Cameron, como se ele tivesse entendido bem.
O alfa então foi segurando o cavalo com Billy sobre o animal, para que o
garotinho pudesse dar um curto passeio. De longe, Cameron observava os
dois, sentindo a todo o momento aquele pinicar em sua barriga que sempre
sentia quando Russell estava ao redor. Fantasiou coisas indizíveis,
impossíveis e sentiu que sua vida nunca tinha parecido tão boa como
naquele momento, como com aquela visão.
Enquanto ainda estavam lá dentro, uma chuva forte e repentina caiu. Uma
chuva que já se avizinhava e que Russell vinha tentando evitar, mas
desabou antes que eles pudessem voltar para o carro. Foi então que uma
ideia tentadora demais para ser ignorada atravessou Russell como um raio
que cortava o céu.
— Minha casa fica bem perto daqui. Você se importa de irmos até lá e
esperar a chuva passar? — ele perguntou para Cameron.
Russell foi até a cozinha, que ainda tinha uma geladeira funcionando, com
pouquíssimas coisas dentro. O armário contava com alguns mantimentos e
Russell resolveu fazer um macarrão para eles comerem. No refrigerador
havia água e refrigerante e algumas coisas que ele precisava jogar fora.
— Se você puder lavar os pratos vai ajudar bastante. Eles estão guardados e
acho que podem ter pego um pouco de pó. Essa parte da cidade é meio
seca... — o alfa dizia, enquanto vasculhava os armários em busca de
alguma coisa para incrementar o macarrão com queijo que ele iria fazer.
— Pode, claro. Mas lá não tem tevê. Levei pra alcateia. No quarto de
hóspedes tem uma pequena. Posso colocar ele lá, enquanto cozinhamos?
— Claro, alfa.
Russell, então, levou o garoto até o quarto, ligou a tevê e o colocou na cama
de solteiro.
Deu o controle remoto e deixou a porta aberta, dizendo que se ele cansasse
poderia ficar com eles na cozinha.
Retornando para a cozinha, o alfa viu aquele homem forte e lindo lavando a
louça, e seu coração disparou, pensando em como a vida seria boa se
pudesse tê-lo por perto.
Engolindo saliva outra vez, ele virou para Russell e sorriu, deixando no ar,
não propositalmente, o que realmente estava por trás daquelas palavras.
— Sim. Somos.
— Vem aqui, querido. — Cameron estende os braços e Billy vai para o seu
colo. — Você já quer ir embora?
Feliz que eles dormiriam lá, o alfa foi buscar um cobertor para colocar
sobre o garotinho, enquanto Billy adormecia em seu colo, sentindo as fortes
batidas do coração apaixonado do seu tio.
Capítulo 06
Sem saber que Russell estava na fazenda, ou seja, bem pertinho dele, Abel
resolveu visitá-
Por isso, pegou seu carro e foi visitar o amigo, mesmo com a intensa chuva
que caía. Com Russell longe, Abel não tinha muito o que fazer e vivia
entediado. Naquela noite, especificamente, ele estava além de tudo, ansioso,
por isso foi atrás do amigo.
De modo que ele saiu na chuva mesmo, porque precisava se distrair e ver
seu melhor amigo era uma das poucas coisas que o acalmava. Amaldiçoava
sempre que o cio estava perto.
Tudo isso para afastar os homens de seu pé, principalmente quando seus
deliciosos odores de acasalamento começassem a se desprender no ar.
Naquela noite chuvosa ele não podia treinar seu corpo, então ele procurou o
amigo, porque a companhia de Russell sempre o ajudava. Gostava de estar
perto de Russell, porque ele era o único que não lhe lançava olhares
lascivos quando estava no cio, ou perto dele. Era um bom amigo e um bom
homem. Embora Abel não acreditasse mais que houvesse homens de
qualidade no mundo. Sendo ou não shifter.
O amigo alfa, no entanto, não estava em casa e assim que Abel bateu na
porta e descobriu isso, ele se irritou profundamente. Xingou sozinho na
porta do alfa, atiçando ainda mais os quatro lobos que o espreitavam desde
que entrou do território da alcateia. Liderados por Rhett, eles emboscariam
o amigo do alfa para deixar uma mensagem clara ao novo líder. "Você não é
bem-vindo", eles queriam dizer, aproveitando que o alfa não estava.
A ida do urso ômega sozinho à alcateia parecia um presente aos lobos mal-
intencionados, mas assim que terminou de praguejar, Abel sentiu que seria
atacado. O cheiro dos lobos não era tão marcante, mas seu instinto o alertou
para a iminência do perigo e ele deixou seu urso tomar seu lugar.
Uma patada ferina atingiu o primeiro lobo que veio correndo em sua
direção, mas outro lobo mordeu sua pata traseira, conseguindo sua atenção,
o urso o atacou também com as garras, urrando alto e grosso, sentindo pele
e pelos entrarem nas enormes unhas. Outro lobo fugia ganindo para longe.
Então vieram os outros dois e o primeiro atingido se levantava para atacá-
lo.
Abel correu para cima de um, enquanto os outros pulavam sobre ele,
ferindo-o com os dentes afiados. O ômega lamentou não ter saído do carro
carregando a calibre 12 que ele levava no banco de trás, para expedientes
como aquele. Abel era prevenido, e gostava dos clássicos, por isso
mantinha sua 12 carregada no carro, mas fora pego de surpresa e agora
tinha que lidar com os lobos sozinho em sua forma de urso.
Teria conseguido acabar com os caras, não fosse um dos desgraçados ter se
transformado e, pegando uma arma escondida, acertasse-o no ombro ao
mesmo tempo em que ele era atacado por um lobo feroz. O impacto foi tão
grande que ele caiu desacordado no chão e sem perceber, mudou de forma
assim que caiu. O lobo já se preparava para estraçalhá-lo quando
alguém veio em seu auxílio e atacou o atirador que corria na direção deles.
Para não serem reconhecidos, os três que restaram, correram para longe
dali, deixando o urso lá. Ou melhor, deixando o pequeno corpo nu de Abel
caído no chão.
***
— Não quero. — ele falou. Então eu caminhei até ele, me abaixei e peguei
o garotinho de seus braços, murmurando:
— Eu já volto.
compreenderia minha intenção. Meu desejo por ele escorria pelos poros,
ainda que eu tentasse alguma sutileza.
Para a minha sorte, ele aceitou a bebida, então eu enchi as duas taças e
entreguei uma a ele. Bebemos. E eu fiquei sem graça. Eu não conseguia dar
um passo à frente, não conseguia fazer um movimento, porque as coisas
com Cameron eram realmente estranhas e profundas pra mim. Eu
simplesmente travei. Tomei todo o vinho de uma vez e enchi a taça
novamente.
— O que acha de dormir aqui? A chuva parece que não vai parar... — falei,
como se aquela fosse uma desculpa plausível.
— Tudo bem pra mim, alfa. — ele sorriu, terminando de tomar o vinho,
encostando no sofá.
— No meu quarto não tem colchão, porque levei pra alcateia, mas eu durmo
aqui no sofá.
Você pode dormir com o Billy, a cama que ele está tem outra que sai de
baixo dela. É só você puxar... — eu tentava explicar.
— Tudo bem. — ele levou aos lábios mais vinho, depois que voltei a encher
sua taça. —
Você tem uma boa casa aqui. Vai sentir falta dela, não vai?
— Isso é bom. Mas deve ser bom morar em um lugar bonito e quente como
esse. Minha casa é tão gelada, que às vezes o Billy vai dormir no meu
quarto por causa do frio. — ele sorriu como se aquilo fosse algo normal,
que qualquer pessoa passava.
— Nossa. Não tem lareira? Faz muito frio nessa região no inverno.
— Não tem.
— Podemos dar um jeito nisso. Você tem me ajudado a consertar a casa dos
outros, podemos colocar uma lareira na sua também.
— Não, alfa. Digo, Russell. — ele deu um sorriso corado e sem jeito. —
Tem gente que precisa mais.
— Eu gostaria muito que você tivesse uma lareira... assim eu não fico com
frio quando você me chamar pra jantar com você e com o Billy. — eu tentei
brincar.
— Eu vou gostar disso. — ele baixou os olhos. — Mas eu não cozinho bem
como você.
Nossos olhares se agarraram. Ele sorriu outra vez. O momento era perfeito
para um beijo, mas eu não sabia se podia, se devia, se ele iria gostar, então
eu me arrisquei. Eu podia ter simplesmente me acovardado, mas eu fui em
frente, me precipitando e falando bobagem.
Ele mal terminou a sentença e meus lábios colaram nos dele da forma mais
gentil que meu ímpeto permitiu. Senti sua boca na minha e era como se um
desejo antigo se realizasse. Mesmo o conhecendo há tão pouco tempo,
aquele beijo parecia um sonho antigo, e sua boca perfeita na minha.
Ele todo tremia quando o abracei, segurando sua nuca com o mesmo
carinho que percorria os caminhos de seus lábios. Voltei a beijar sua boca,
me aprofundando, buscando sua língua que se entregava à minha com
facilidade, que se deixava dominar, mas se fazia presente o tempo todo,
brincando comigo, lambendo meus lábios, sensual e ternamente, me
deixando ainda mais louco por ele do que eu já estava.
Toquei seu rosto, mas eu queria tocar o corpo todo. Segurei seu pescoço
com mais firmeza, sem me tirar da sua boca, sem deixar de saboreá-lo,
porque uma tendo sentido o seu gosto, eu não queria mais parar. Então ouvi
uma voz pequena e aguda.
— Então vem com o titio. Vamos dormir. — ele o pegou nos braços. — Diz
"boa noite" pro alfa, Billy. — Cameron olhou para mim com um rosto de
lamento e os lábios levemente inchados do nosso beijo, mas sem deixar de
sorrir.
— Boa noite, tio alfa. — Billy disse com uma voz de sono.
— Boa noite, Billy. — respondi. — Boa noite. — falei, olhando para
Cameron.
***
— Não toque em mim! — Abel resmungou, com a força que tinha, fazendo
uma careta de dor.
Tente se acalmar. Você vai ficar bem. — o beta dizia com tranquilidade.
— Pode... — ele respondeu muito mais manso, pois ser tocado por uma
mulher era algo menos incômodo para ele.
Percebendo que com a enfermeira ele parecia mais calmo, Finnegan ficou
na porta, apenas observando os dois de longe.
— Não...
— Não tem problema. Mas vou precisar tirar a bala que está alojada no seu
ombro. Você deve ter mudado bem no momento do tiro e a bala ainda está
aqui.
— Eu sou enfermeira, não sou médica, mas já fiz isso algumas vezes. Você
quer que eu faça, ou prefere ir a um hospital?
— Você precisa tirar a blusa. — ela falou. — Enquanto isso, vou até o carro
buscar minha outra maleta. Não tenho tudo o que preciso aqui.
— Tudo bem...
— Eu vou estar na sala. — Finnegan falou para ele, saindo junto com a
mulher.
Finnegan sorriu. Foi até a cozinha buscar uma tesoura, enquanto o urso
ômega resmungava e quando voltou, avisou que cortaria a camiseta para
que ele não precisasse levantar os braços.
Abel permaneceu em silêncio, a dor já era forte demais para ele lutar contra
a ajuda do lobo.
Cortando de cima para baixo, começando pela gola, o beta cobriu o urso
com um cobertor até a cintura, de modo que ele não ficaria com as partes
íntimas expostas. Não que Finnegan já não tivesse visto, porque ele tinha
vestido o cara e viu todo o seu corpo, fez um curativo improvisado no
ferimento e o vestiu. Em seguida, ligou para a enfermeira.
Agora ele estava lá, cortando a manga da camiseta para deixar exposto o
ombro ferido.
Antes de cortar o tecido, ele afastou os longos cabelos loiros do ômega com
cuidado, sentindo sua textura fina nos dedos. Ofegou por instante, pois
desde que vira pela primeira vez, a despeito de toda a sua reclamação,
Finnegan o achara lindo. De perto ele era ainda mais. E seu cheiro o fazia
estremecer.
Logo a mulher voltou e Finnegan o deixou com ela, avisando que estaria na
sala. Voltou apenas para levar uma toalha e um pouco de água que ela havia
pedido e deixou os dois sozinhos.
Da sala, ele ouviu Abel gritar de dor e praguejar todos os lobos que
conseguia. Aflito, Finn esperou até que a mulher saiu. Não demorou muito.
A bala estava quase para fora, mas ela precisou tirar a sangue frio, o que fez
com que Abel caísse num sono profundo antes mesmo da sutura.
Ela limpou o ferimento e fez um curativo. Apagou a luz e deixou o urso
dormindo. Em seguida, explicou o que achou necessário para Finnegan, que
agradeceu pela ajuda e a acompanhou para fora. Assim que fechou a porta
da casa, o beta voltou para o quarto e, sem acender a luz, deu uma olhada
no ômega que dormia. A respiração era pesada, mas ele parecia bem.
Capítulo 07
A manhã parecia ainda mais fria que a noite. O sol não conseguia esquentar
o solo ou ar e o clima permanecia gelado. Finnegan levantou cedo, fez sua
higiene matinal e caminhou na ponta dos dedos até o quarto. Não queria
incomodar o ômega bravo.
Ele ainda dormia, com a respiração mais calma que na noite anterior e
parecendo tranquilo, mas Finn sabia que ele precisava de energia para a
transformação e por isso foi preparar algo substancioso para o desjejum do
urso. Morando próximo do bando de Abel, sempre havia comentários de um
bando sobre o outro e o que sempre Finnegan ouvia falar era que ursos
comiam muito e eram bons em preparar refeições, o que fez com que ele
desse o seu melhor na cozinha aquela manhã.
Fez uma refeição completa, com ovos, bacon, pão, leite, manteiga e o que
mais encontrou na geladeira. Colocou em uma bandeja bonita e levou para
o quarto. Descansou a bandeja na mesa de cabeceira e tocou o braço do urso
a fim de fazê-lo acordar. O que ele fez quase num pulo. Levou alguns
segundo para se lembrar do que acontecera na noite anterior, e então seu
ombro agilizou o processo de recordação.
Então Finn entregou a ele a bandeja, apoiando-a sobre suas pernas. Abel
olhou para a comida, depois para Finnegan que sorria e agradeceu.
— Vou deixar você sozinho, mas logo venho buscar a bandeja para que
você volte a descansar.
Abel queria dizer que não voltaria a descansar, que iria embora, que não
receberia ordens de nenhum lobo, mas ele estava tão fraco que não tinha
certeza se realmente iria aguentar.
Comeu o que Finnegan havia preparado para ele e quando o lobo voltou, ele
já estava dormindo novamente.
Seu curativo parecia bom, mas Finn não ousou se aproximar. O urso era
feroz demais para que ele arriscasse. Não que estivesse com medo de ser
atacado, achava o pequeno shifter loiro adorável em sua expressão nervosa.
Finnegan apenas não queria incomodá-lo a ponto de querer fazê-lo ir
embora. E o beta tinha muitas razões para não querer que ele fosse. Muitos
motivos para querer que ele ficasse.
***
Nenhum deles queria fingir que nada tinha acontecido, mas ao mesmo
tempo não sabiam o que fazer. Não queriam parecer forçar a barra, nem
queriam parecer indiferentes, por isso ficaram apenas estranhos e distantes.
Russell ainda levou Billy para ver os cavalos antes de irem, mas nem uma
aproximação entre os homens, apenas algumas trocas de olhares de alguns
sorrisos tímidos.
Como Russell também não disse nada, apenas se despediu, dizendo "até
amanhã", Cameron agradeceu e desceu do carro com Billy. Não sem antes o
garotinho dar um abraço no tio alfa, deixando-o levemente emocionado.
O alfa queria ter dito muitas coisas, mas também não sabia o que dizer.
Tinha passado a metade da noite em claro, deitado no sofá, sentindo o
cheiro de Cameron na casa e em seu corpo. Foi difícil dormir depois de
beijá-lo, sorria como um bobo, como adolescente enamorado, com o desejo
ardendo na pele, mas a despeito desse ardor, havia uma confortável
quietude, uma paciência amorosa que soprava em seu ouvido, dizendo que
tudo estava pela primeira vez em seu devido lugar.
***
— Precisamos investigar, Finn. Coisas como essa não serão aceitas. Pelo
menos não enquanto eu estiver no comando. E obrigado por ajudar meu
amigo. — ao agradecer, o alfa percebeu o olhar de Finn brilhar. Ele
compreendeu rapidamente o que acontecia ali.
— Não me agradeça, alfa. Eu fiquei preocupado com ele... só não sei onde
ele deixou o carro, porque eu precisava que a enfermeira o visse. Tinha uma
bala alojada em seu ombro.
— A chave não estava com ele quando o encontrei. Deve ter caído no chão
perto da sua casa, alfa.
— Vou pra lá procurar e levo o carro para a casa dele. Antes passo aqui para
buscá-lo.
— Mas ele não tem familiares, Finn. Se ele não melhorar, me diga e eu o
levo pra minha casa. Porque eu não acredito que ele vá aceitar ficar aqui.
Abel só acordou no meio da tarde. Finn não saiu de casa nem por um
segundo para ficar de olho nele. Verificou o quarto a cada hora para ver se
ele estava bem e não via a hora de vê-lo sem dor. De repente, quando estava
na sala patrulhando o sono do shifter ferido, ele ouve um barulho alto vindo
do quarto. Correu para lá e encontrou o grande urso pardo urrando. Não o
maior que ele tinha visto, mas certamente bem maior que seu lobo. Sorriu
ao vê-lo em pé.
Agradeceu pela primeira vez por morar em uma casa grande, caso contrário
o urso teria quebrado alguns móveis.
Tudo o que Finnegan queria era deitá-lo na cama e beijar sua boca, depois
fazer amor com ele
até o dia seguinte. Abel era lindo como uma pintura renascentista, embora
fosse magro. Ele era perfeito, totalmente desejável e completamente arisco.
— Não precisa. Tenho que pegar meu carro... — ele parecia meio aéreo.
— Russell levou seu carro para a sua casa. Eu te levo até lá.
Abel bufou. Detestava favores. Achava que sempre ficaria devendo alguma
coisa e se tinha algo que ele odiava mais que favores era ficar devendo.
— Eu posso ir andando.
— Não vou deixar você ir andando. — Finnegan tentou suavizar sua fala.
— Eu estou bem, lobo. Obrigado. Só quero ir pra casa antes que eu seja
atacado de novo nesse lugar.
Aquelas palavras foram ditas com tanta propriedade que Abel não ousou
retrucar. Foi a primeira vez que o homem soou realmente autoritário, mas o
ômega não se importou. Só queria ir embora daquele lugar logo.
Quando voltou da casa de Abel, Finnegan foi direto para a casa do alfa
tratar do que havia acontecido. Organizaram dois grupos de busca, com os
homens que Finn considerava mais leais e trataram de investigar o grave
incidente. Alfa e beta coordenaram as equipes e ainda que Russell não
estivesse totalmente familiarizado com o território junto à floresta, ele
conduziu a busca.
Mas além das buscas, Russell precisou visitar Abel, resolver as coisas das
reformas e da festa das crianças que estava perto de acontecer. Tudo se
juntava e ele não conseguia tempo para estar sozinho com Cameron. Toda
noite, no entanto, Russell pensava nele e em como o queria.
Na noite seguinte, por mais que Russell tivesse pedido para que Abel não
fizesse mais aquilo, enfatizando que ainda não tinha encontrado seus os
culpados pelo seu ataque, o ômega foi outra vez sozinho à alcateia.
— É assim que recebe um amigo? — ele riu, entrando com umas roupas na
mão.
— Eu poderia ir te buscar. Já te falei que é perigoso!
— E você acha que tenho medo desses cachorros sarnentos? — foi a vez de
Abel rosnar.
Quem visse seu rostinho meigo não suspeitaria que ele tinha um urso forte e
um temperamento ácido. Se ele tinha algum traço de ômega, tinha-o
guardado em um baú, acorrentado e jogado no fundo do mar. O cara era
bravo e vivia a reclamar. Não tinha medo, mesmo já tendo sido baleado e
torcia para poder rasgar um ou dois daqueles cachorros que o pegaram.
— Vim trazer as roupas do seu beta. Não quero nada de vira-latas na minha
casa. — Abel riu, colocando as roupas lavadas e passadas sobre a mesa.
— Me dê água e pare de sorrir como um idiota, Russell! Não sei o que está
querendo dizer com isso! — o ômega se irritou.
Russell riu.
— Você sabe que é verdade. Vai resistir até quando? — o lobo entregou a
água, rindo do amigo.
Estando sozinho, Abel encheu outro copo com água, bebeu e foi para o
sofá, resmungando.
Seu estômago borbulhava como da primeira vez que viu Russell, estava tão
nervoso quando chegou à sua porta que nem notou o cheiro do urso ômega.
Deu três batidas na porta, que foram sentidas dentro do seu peito, ajeitou o
cabelo com a mão e esperou com um sorriso no rosto que se desmanchou
no momento em que a porta se abriu.
E, Deus, ele era tão lindo. Tão delicado. Com os traços suaves, os cabelos
claros como de anjos de filme e ele era pequeno, menor que Russell.
Parecia se encaixar tão bem nele, que o estômago de Cameron roncou de
tristeza.
— Cameron...
— Eu aviso que você passou, Cameron. — Abel deu sorriso curto, vendo o
cara agradecer e ir embora.
Cameron não via a hora de fugir correndo dali. Sua barriga gritava, ele
sentia uma forte vontade de chorar. Voltou para a sua casa pela floresta,
completamente atordoado pelos ciúmes. Imaginando Russell saindo do
banho e os dois rolando na cama. O lobo tomando aquele pequeno ômega
nos braços. Como ele se sentiu um tolo! Russell não tinha prometido nada a
ele, mas ele se sentiu um idiota por ter criado esperanças onde claramente
não havia. É claro que o alfa não ia querer nada com um cara como ele.
Onde ele estava com a cabeça?
— Uma gracinha o lobo. E olha que é difícil eu achar lobos uma graça,
mas...
— Merda! Eu preciso ir, Abel. Ele deve ter achado que estamos juntos, ou
coisa parecida.
— Calma. O homem não vai fugir com outro. — Abel tentou provocar.
— Que bom amigo você é... — Abel torceu o nariz. Você cachorros são
desesperados. Se eu soubesse que tinha algo com o cara, eu tinha falado pra
ele entrar.
homem está caído por você. — o alfa ri, aproveitando sua vez de provocar.
— Sozinho, não. Te levo até o carro, espero você ir e depois vou atrás de
Cameron. — o amigo bufa
— Você está mesmo me mandando embora. Que absurdo!
— Claro que estou. Eu não vou perder aquele homem, Abel. Eu não posso
perdê-lo.
Capítulo 08
Foi com dificuldade que Cameron chegou à casa da senhora Moore. Sua
vontade mesmo era deixar seu lobo tomar a vez e correr pela mata, uivar
chorando para o céu. Mas ele tinha responsabilidades e a mulher já tinha
passado quase o dia todo com Billy, merecia seu momento de descanso. Ela
já o ajudava há tanto tempo, sem receber ou pedir nada por isso. Só há
pouco Cameron vinha pagando alguma coisa para ela, depois de muito
insistir para convencê-la a aceitar. De modo que ele não podia abusar. Tinha
responsabilidade tanto com ela quanto com Billy, por isso apenas refez o
caminho de volta, triste e choroso, por achar que o alfa o preteria.
Cameron não era como os outros caras que podiam se dar ao luxo de sair de
casa no meio da noite atrás de uma transa ou de o que quer que fosse. Ele
lutou por aquele pedacinho de tempo para correr até o alfa à noite, já que
ele nunca mais arrumava tempo para ter uma conversa com ele no quintal,
mas Russell já tinha outro compromisso. Já tinha outro homem em sua casa.
Seu corpo ainda doía de tensão quando pegou o pequeno Billy e se despediu
da senhora Moore, ouvindo-a dizer que o sobrinho já tinha jantado. Levou
Billy sonolento nos braços até o quarto e o colocou na cama com cuidado.
Mas mesmo antes de o sofrimento causado pela solidão bater, aquela
tristeza noturna de quando se coloca a cabeça no travesseiro e se precisa
lidar com a vida que se descortina diante dos olhos, um barulho de carro se
anunciou. Era ele, o alfa.
Correndo até a porta antes mesmo que ele batesse, Cameron torcia para que
não estivesse louco, para que não fosse um mal-entendido ou coisa do tipo.
Suas fortes pernas tremiam depois de ter reconhecido o carro de Russell, de
medo que ele estivesse lá por outro motivo. Pensou que talvez fosse brigar
com ele por ter ido incomodá-lo à noite em sua casa, mas assim que o viu
caminhar em sua direção com um sorriso, seu peito se aqueceu novamente e
bolinhas no estômago voltaram a ser agradáveis.
Cameron deu um passo, descendo do limiar mais alto da porta e quando
Russell chegou ele percebeu que no fundo ele não era tão mais baixo assim,
uma vez que com facilidade ele alcançou sua boca, sem dizer coisa alguma,
apenas o pegando pelo pescoço com carinho e com jeito.
E aquele beijo causou tanto alívio em Cameron que ele pôde enfim relaxar,
tranquilo nos lábios do alfa, porque ele ainda o queria. Mas Cam estava
confuso. Por que o homem estava com outro e agora o beijava? Seria
Russell um daqueles homens que gostava de colecionar conquistas?
— Eu sei... por isso estou aqui... não quero que pense que Abel e eu temos
alguma coisa.
— Ah... amigo igual aquele outro que você beijou na boca? — Cameron
baixou a cabeça e engoliu saliva, fazendo seu pomo de adão dançar.
***
Sim. Desde que eu coloquei meus olhos nele eu soube. Algo em mim
soube, algo gritou que ele era meu. E não tinha nada em mim quisesse
magoá-lo. Mas como eu poderia chegar achar que aquele homem aceitaria
minha reivindicação? Entre os shifters, nunca foi muito bem visto um
homem com a minha estatura. A não ser que eu fosse um ômega. Minha
altura era tão mal vista quanto rara para um alfa, visto que shifters
costumavam ser realmente altos. Pelo menos era o que se via entre os lobos
e os ursos.
Eu aprendi a lidar com isso ao longo da vida, mas era diferente quando se
tratava de encontrar seu companheiro. A insegurança tinha batido e eu
simplesmente não sabia se Cameron me aceitaria. Mas eu estava disposto a
conquistá-lo e a mostrar que eu o queria com seriedade. Que não queria
mais ninguém na minha vida. Por isso corri até ele aquela noite, porque se
havia alguma chance de ele achar que eu tinha alguma coisa com Abel, eu
precisava esclarecer. E eu esclareci beijando a boca dele ardentemente,
dizendo em seu ouvido tantas vezes quanto eu pude que eu o desejava,
olhando em seus olhos e dizendo novamente. E
quando meu corpo ficou a um passo de explodir, eu me despedi, alegando
que precisava acordar cedo no dia seguinte.
Minha vontade, no entanto, era tirar a roupa dele ali mesmo na porta de sua
casa e o devorar inteiro. Mas eu queria muitas outras coisas com ele, então
eu me contive e fui embora, não sem antes encher a boca dele de beijos
outra vez.
No dia seguinte, na minha casa, eu fiz questão de ir até ele levar um copo
de café e dizer que eu tinha gostado da noite anterior.
Que visão esplêndida era aquela de ver um homem daquela proporção corar
na minha frente, lindamente tímido.
Sem graça, eu voltei para dentro e fui fazer minhas coisas e só no fim do dia
o vi novamente, porque voltei correndo para a casa. Eu me apressei, porque
tinha uma coisa para perguntar a ele que de manhã, devido à minha saída
apressada e desajeitada, eu não pude perguntar.
— Vai ter uma festa para as crianças na sede da alcateia. — eu falei, tendo o
olhar dele preso em mim. — Eu queria saber se você quer ir comigo... você
e o Billy.
***
Como não tinham encontrado os homens que atacaram Abel, Russell teve
uma ideia.
Chamou novamente o amigo urso para a sua alcateia a fim de que ele
atraísse a atenção dos lobos que o tinham atacado. Convidou-o para a festa
das crianças, na qual estaria quase todo o bando e Russell poderia ficar de
olho no amigo e talvez encontrar os possíveis agressores.
Como queria que os caras fossem pegos e adorava se sentir corajoso, Abel
evidentemente foi. Gostava de um friozinho na barriga, desde que não fosse
provocado por algum romance. De romances ele queria distância. O que
Abel não sabia é que o amigo tinha combinado de ir à tal festa
acompanhado e logo que soube, Abel se irritou um pouco.
Os dois tentavam conter a ânsia daquele desejo e o fogo que queimava entre
a pernas. Mas assim ouviram a vozinha fina de Billy aquela volúpia deu
temporariamente lugar a outro sentimento e os dois puderam relaxar.
"Aqueles canalhas não me pegam dessa vez!", Abel falou a si mesmo, antes
de sair de casa.
Depois do discurso, Russell foi falar com Abel e o levou até Cameron para
apresentá-los oficialmente. Um pouco intimidado pelo ômega, Cameron
ficou quieto e então o pequeno Billy chamou Russell para brincar com ele
no tiro ao alvo. Antes de ir com o garotinho e seu tio,
Russell chamou Finnegan e pediu para que ele fizesse companhia para
Abel. Saiu sorrindo de lá, deixando o amigo louco de raiva.
— Oh! O Finn é um ótimo sujeito. Será muito bom para seu amigo.
— Poxa. — Cameron fez uma carinha triste. — Tomara que ele mude de
ideia, então.
— Tomara, querido. — disse Russell, pegando Billy pela mão e indo com
ele até a mesa de tiro, enquanto seu tio ficava para trás, saboreando o fato
de o alfa tê-lo chamado de "querido".
— Esse garotão quer atirar. Ele pode se sentar aqui? — o alfa perguntou
simpaticamente para a garota da barraca de tiro, colocando Billy sentado
sobre a bancada.
Era tão grande a palpitação em seu peito que Cameron não conseguia falar,
apenas sorria vendo os dois se divertirem. A vida enfim parecia ter
encontrado um tempinho para ser boa com ele, pensou o lobo, quando um
shifter arrogante e mal-intencionado do bando se aproximou.
Sem perceber que era o próprio alfa ali com Billy, ele provocou Cameron
como sempre fazia.
— E aí, bobão? Não vai lamber as botas do alfa hoje? Se você acha que ele
quer alguma coisa com você, está enganado. Ninguém vai querer um
idiota...
— Cam! — Russell o chamou. Sua voz calma mostrava que ele não tinha
ouvido a conversa.
— Você pode ficar aqui com Billy um pouco? — Russell perguntou para
Cameron.
— Claro, alfa. — ele foi, não sem antes ver Payton sair rindo, divertindo-se
às suas custas.
— Não é a mim que você deve desculpas. É a Cameron. Agora vá até ele e
se desculpe. —
Russell exigiu.
— Que legal, Billy! Agora é minha vez. Vou ver se consigo ganhar um urso
pro seu tio Cameron. — Russell sorriu para Cam, ganhando um sorriso de
volta. — Será que ele vai gostar daquele ursinho ali?
Distante dali, Abel resmungava. Não era bem aquilo que ele tinha pensado
quando saiu de casa para emboscar os canalhas que o tinham atacado.
Abel, por sua vez, sentiu o corpo esquentar, permitindo que sua mente
vagasse por terrenos impróprios. O rubor tornou seu rosto róseo e ele
emudeceu.
Não era fácil olhar ao redor quando tinha Abel ao seu lado, fazendo seu
lobo enlouquecer com seu delicioso perfume doce e seu incrível
temperamento difícil. Rhett e seus amigos, que eram os principais suspeitos,
não estavam lá e Finn mal sabia por onde procurar.
— Você quer mais um? — Finn perguntou quando ele terminou de comer.
Normalmente Abel retrucaria, mas o beta conseguia fazer com que suas
palavras não soassem como uma ordem. Ainda assim, seria motivo para ele
reclamar, afinal, ele era um urso forte, que sabia lutar e estava armado. Só
tinha sido pego pelos lobos, porque estava desprevenido e eles em maior
número. Detestava ser tratado como um garotinho indefeso que precisava
de ajuda para atravessar a rua ou de um babador para comer macarrão. Ele
não era uma criança e fez questão de verbalizar isso para Finnegan quando
ele voltou, mas suas feições nervosas suavizaram quando ele viu o lobo
estender para ele um algodão doce cor-de-rosa.
— Gosto... — seus olhos brilharam para o lobo pela primeira vez, talvez. —
Obrigado... —
ele falou sem jeito, olhando para a nuvem rosa em sua mão, em seguida
para o sorriso suave no rosto do lobo.
Cameron apoiou seu ursinho nas pernas quando os três comiam hot dogs
com refrigerantes. E embora Russell desse sempre uma olhada para ver
onde estava Abel, não saiu do lado de Cameron. Sempre que via que
Finnegan estava ao redor do amigo, ele ficava tranquilo e aproveitava seu
momento, divertindo-se vendo Billy comer seu terceiro algodão doce.
— Eu vou embora. — Abel avisou a Finnegan depois que bebeu água.
— Isso não vai dar em nada e Russell está mais preocupado com o
companheiro do que em descobrir quem me atacou. — Abel levantou,
mostrando-se meio bravo.
— Que coisa boa. Cameron merece alguém que seja bom pra ele. — o beta
falou como se para si mesmo, já que o urso parecia não se importar com
nada sobre ele.
tivesse se sentido daquela maneira. Finnegan não era o tipo de homem que
fazia as coisas à força, mas seu lobo uivava pelo homem, exigindo-o,
gritando que ele era seu.
Ele não tinha sido muito invasivo, mas sabia, conscientemente, que não
podia sair abraçando as pessoas. O que tinha dado em sua cabeça?
Finn não conseguia raciocinar direito e então resolveu que iria embora. Só
avisaria o alfa que tinha ido com Abel até o carro e que estava tudo bem.
Foi o que fez. Em seguida, foi para a sua casa, triste e envergonhado, por ter
magoado e ofendido Abel e provavelmente ter colocado tudo a perder com
o homem que ele mais desejou em sua vida. Afastando ainda mais o seu
companheiro de si.
Capítulo 09
Eu contava os minutos para estar sozinho com ele. Não que eu não gostasse
do Billy, porque o garotinho era adorável, mas até o momento, eu tinha tido
pouco tempo a sós com Cameron e eu estava louco para beijar a boca dele
outra vez. Se Billy não estivesse junto, eu certamente o teria beijado na
festa, mas eu já tinha percebido que ele não gostava de ter intimidade perto
do garoto, então esperei até levar os dois para a casa e para a minha sorte,
quando chegamos, Billy já estava dormindo.
Desci do carro, abri a porta de trás e ele pegou Billy que não acordou.
A casa era mesmo pequena e esperei na sala, o vendo entrar em uma das
portas e logo voltar. Assim que ele voltou, eu o puxei pra mim, beijando sua
boca com a ansiedade que eu tinha acumulado a noite inteira e por todos
aqueles dias.
Mas logo ele estava me beijando por toda parte e eu tirava sua camisa.
— Eu não trago ninguém para dormir aqui por causa do Billy. — ele dizia,
enquanto me levava pro quarto. — A senhora Moore disse que não é bom
trazer homens em casa com criança.
— Hum... acho que podemos ir pro meu carro um dia, então... mas eu
queria muito estar com você em uma cama. — falo e beijo sua testa. Ele
fecha os olhos e sorri.
— Mas que coisa horrível! Eu sinto muito, meu anjo... e eu não penso em te
deixar por isso ou por coisa alguma. — encaixei nossos lábios assim que
terminei de falar. — Aliás, ainda bem
que o idiota do seu namorado se foi, porque eu ia odiar te conhecer e saber
que você já tinha alguém... — brinco e ele me beija, um beijo profundo e
apaixonado.
Sua boca percorre meu pescoço, me lambe e me suga. Suas mãos nas
minhas costas acariciam minha pele, me fazendo arrepiar por completo.
Sinto seus dedos desenharem meus músculos e levo meus lábios à sua
orelha, onde digo que gosto do que ele está fazendo. Então sinto seu corpo
descer e seus lábios alcançam meu peito. Ele chupa, lambe como um filhote
de lobo cuidando dos próprios pelinhos. Mas os pelos que ele cuida é minha
pele, é o meu corpo humano, que estremece ao toque de sua língua.
Então nossos olhos se encontram. Ele com a boca a tomar meu mamilo, eu
louco de desejo a admirar. Sua boca me solta ao mesmo tempo em que sua
mão escorrega alcançando meus testículos.
— Você sente dor aqui como eu? — ele sussurra a pergunta, porque os
sente inchados.
— Eu deixo o que você quiser, Cam... — murmuro quando ele alcança meu
pau com a mão e minha boca como a dele ao mesmo tempo.
Sinto sua mão apertar em volta, como se quisesse sentir, conhecer, antes de
brincar. Dos seus lábios saem um gemido ao me sentir pulsar forte, de modo
que logo sua língua me invade a boca e sua mão se movimenta no meu
pênis duro. Duro pra ele. E ele sabe bem o que fazer comigo, com pau, com
corpo.
Com movimentos suaves e me enchendo de beijos, ele me faz gozar e sem
pensar duas vezes, eu coloco o seu pênis para fora e desço até ele, deixando
beijos pelo percurso. Ele se ajeita no sofá, eu vou por cima. Começo por
baixo, massageando e o sentindo carregado, cheio de sêmen que também
quer se libertar. Passo a língua em suas bolas com poucos pelos, chupo
devagar, o sinto gemer baixo, tremendo, então é a vez de seu pau. Minha
língua o deixa todo molhado antes de começar a chupar. O cheiro da luxúria
me inebria e eu quero entrar em seu corpo. O desejo faz meu pau se encher
novamente, mas minha boca trabalha na glande, depois desce lentamente
em movimentos apertados e cadenciados, ansiando por tomar o seu gozo,
que logo explode pra mim, me inundando a garganta. Saboreio seu líquido e
sinto o sabor do seu prazer, que é o único que eu quero sentir pro resto da
vida. Subo e o beijo. Controlo minha vontade de invadir seu corpo e
desconto em beijos meu desejo sedento de foder aquele homem até nossos
corpos caírem exaustos.
Resolvi que iria com calma, para não o deixar assustado. Antes eu precisava
dizer a ele tudo o que eu queria. Que eu o queria pra mim.
Ter ele deitado com a cabeça no meu peito me encheu de um sentimento tão
bom, que eu sentia que poderia passar a noite toda com ele naquele sofá
duro. No entanto, eu me despedi.
Não poderia aguentar outra sessão de beijos. Meu pênis não desinchava e
toda vez que a boca dele me tocava, eu me sentia vazar. Com certeza eu
molharia minhas calças de tanto tesão, mesmo que já tivesse gozado.
Me despedi, prometendo voltar, porque no dia seguinte ele não iria à minha
casa. Tínhamos combinado que ele teria folga da ajuda que me dava lá
também. Ele não queria, mas ele precisava descansar e ficar com Billy. Eu,
porém, precisava vê-lo, então prometi que voltaria e ele pareceu feliz. Me
levou até o carro, onde nos beijamos mais um pouco e nos despedimos.
Mesmo sem conseguir fazer com ele tudo o que eu queria e precisava,
mesmo sem falar sobre minha necessidade de marcá-lo como meu, eu fui
embora satisfeito. Sorrindo e flutuando.
Tudo parecia ter dado certo. A festa, meu passeio com Cam e Billy, aquela
brincadeira na sua casa.
Eu não tinha conseguido prestar atenção em Abel e aquela era uma falha
minha que eu precisaria consertar. Mas isso ficaria para depois. No
momento eu só queria aproveitar a delícia que era a sensação de ter estado
com Cameron, com o meu companheiro.
***
De longe, viu a luz da casa de Cody acesa e sabia que era de lá que vinham
os gritos.
Lembrou-se que não o viu na festa e antes Cody era um rapaz alegre, que
gostava de festejar.
Os gritos eram tão altos, implorando para que alguém parasse, que até
mesmo a senhora Moore acordou, saindo pela porta, ajeitando sua roupa de
dormir sobre o peito. Cameron olhou para ela sem saber o que dizer quando
passou correndo. Ainda a ouviu falar:
Vendo Cody acuado no chão e Rhett por cima dele, dando-lhe chutes,
Cameron voou no homem, arrancando-lhe de lá. De repente, Rhett se
transformou e Cameron fez o mesmo, resultando numa luta de lobos dentro
da sala, quebrando móveis e derrubando objetos. Com uma ferocidade
desconhecida, o lobo negro de Cameron avançava no outro com seus dentes
afiados, rasgando sua pele em várias partes. Rhett tentava fugir, mas
Cameron não permitia, pulava sobre ele novamente, mordendo-o por todo
lado, enquanto Cody permanecia acuado no canto, em estado de choque.
Cansado de lutar com o lobo maior e mais forte, Rhett aproveitou a porta
aberta para fugir.
Voltando à forma humana, Cameron foi até Cody, que chorava e dizia
coisas incompreensíveis.
— Ele vai voltar... ele vai voltar... — apavorado e todo ferido, Cody se
encolhia.
Cameron vestiu sua roupa que estava toda pisoteada da luta e o levou no
colo até sua casa.
— Ele não pode ficar aqui, Cam. Aquele monstro vai voltar. — disse a
senhora Moore.
— Leve-o até o alfa, querido. Se você deixar o garoto aqui vai atrair Rhett
para a sua casa.
— Leve o meu carro. Mas leve Cody ainda hoje. — ela falou.
— Rhett.
— Saiba que agora você está seguro e que ele não vai mais tocar em você.
— Russell falou docemente, mas com um traço de raiva no fundo da voz.
— Então eu vou arrumar um lugar seguro pra você ficar até que eu consiga
ter esse Rhett longe daqui pra sempre. Fique tranquilo, querido. Agora me
conte tudo o que você sabe sobre ele.
— Você fez bem em trazê-lo até mim, Cam. Agora tome cuidado que
aquele lobo pode estar rondando sua casa.
Naquela mesma noite, Russell tirou Cody da alcateia, levando-o para a sua
casa na fazenda.
Assim que o instalou, foi até a casa de seu pai e avisou o que tinha
acontecido e informou que no dia seguinte ele iria pessoalmente falar com o
alfa, para pedir que deixasse o ômega lobo passar uns dias em seu território.
***
No dia seguinte à festa, Finn foi até a casa do alfa e Russell se lembra de
devolver as roupas que estavam com Abel, fazendo o beta se lembrar da
besteira que tinha feito na noite anterior.
Ele tinha muitas coisas para falar com Finnegan sobre os acontecimentos da
noite anterior, mas o beta estava aflito e falou primeiro.
— Fala...
— Que maravilha, Finnegan! Mas você vai ter dificuldade, meu amigo. —
falou Russell, dando um tapinha em seu ombro e sentando à sua frente.
— Então... mas ontem, quando eu o estava levando até o carro... eu não sei
o que me deu, alfa, mas eu o abracei. Eu não devia ter feito isso. Foi sem
autorização dele... eu estou arrependido, queria me desculpar com você e
com ele.
Russell parou de rir.
— Não! Eu só o abracei, num impulso. Soltei assim que ele pediu. Eu não o
abracei para beijá-lo ou algo do tipo. Foi uma coisa... eu me senti muito
protetor. Não soube reagir.
— Hum... você certamente não devia ter feito isso, Finnegan. Mas eu sei
como são fortes nossos impulsos protetores diante de nossos companheiros.
Mas o Abel teve uma decepção amorosa muito grande e as coisas são mais
complicadas pra ele. Essa sua atitude pode fazer com que ele se afaste ainda
mais de você.
– Eu preciso me desculpar com ele, alfa. Queria sua autorização para ir até
a fazenda onde ele mora.
— Eu te dou autorização, mas saiba que ele pode te colocar pra correr de lá
debaixo de bala. — ele riu. — E se eu souber que você tentou alguma coisa
contra a vontade dele outra vez, Finnegan, eu te expulso do meu bando.
Dava pra ver que Finnegan não era esse tipo de pessoa e um abraço não era
algo tão grave, principalmente perto do que Russell soube que acontecia
com Cody. De qualquer modo, não era excessivo salientar que contato
físico sem consentimento além de crime não seria tolerado.
Antes de sair do carro, Abel sentiu seu cheiro e foi irritado em direção à
porta. No curto espaço de tempo, ele tentava negar para si mesmo que o
braço que o lobo tinha dado nele não o havia afetado, assim como vinha
tentando negar que o homem mexia com ele.
— O que você quer aqui?! — Abel gritou ao abrir a porta, sem deixar que
Finnegan desse outro passo.
Parado, Abel tremia ao som daquelas palavras. Seu coração balançava, mas
ele era turrão e tinha medo de deixar alguém se aproximar.
Finnegan respirou fundo. Ele não podia dar mais nenhum passo adiante.
Não podia abraçá-
lo e tentar mostrar com carinhos que ele estava apaixonado pelo urso arisco,
porque Abel não queria o seu carinho, não queria o seu calor.
***
Enquanto dirigia de volta para a sua casa, Russell ia para a fazenda de seu
pai ver como estava Cody.
Bateu na porta quando chegou. Mesmo que a casa fosse sua, ele queria
manter a privacidade do rapaz. Levava consigo algumas sacolas de mercado
com compras que ele tinha acabado de fazer, para que o garoto tivesse o que
comer nos dias em que ficasse lá.
— Sou eu, Cody, Russell. Pode abrir. Estou sozinho. — disse o alfa.
— Eu ainda vou falar com o alfa dos ursos para que você fique aqui, mas
tenho certeza de que ele não vai se importar. E você pode ficar o tempo que
precisar. Depois peço para o Cameron juntar suas coisas e te trago aqui.
— Mas, alfa... eu não tenho como me sustentar. Vou perder meu emprego.
— Não se preocupe com isso, Cody. Por enquanto o mais importante é sua
segurança. Você trabalha perto das casas da alcateia, não trabalha?
— Então você não pode voltar pra lá. Eu vou te mostrar a fazenda, te
apresentar pros meus pais e te familiarizar com as coisas. Aqui você não
precisa ter medo, você está seguro. Lobos não vêm para esses lados. Rhett
não tem como te pegar aqui. E eu vou dar um jeito nisso para que você
possa voltar para a sua casa.
— Obrigado, alfa. Mas... se eu puder trabalhar em alguma coisa... não gosto
de ficar desocupado. — falou o ômega.
— Vou ver se alguém nas redondezas tem algum serviço pra você. Mas
primeiro vou falar com o alfa e depois volto para te apresentar aos meus
pais, enquanto isso você pode ir guardando as compras e fazendo alguma
coisa para comer.
— Não há por que. É minha obrigação como seu alfa te manter seguro. Eu
só sinto por não ter sabido antes do que estava acontecendo com você.
Trancou a porta por dentro e foi guardar as compras. Sentia que aquela casa
era muito confortável, parecia demais para ele, mais do que ele merecia.
Mas dentro do peito, Cody ainda não se sentia totalmente seguro. O medo
ainda o rondava e ele parecia sentir o bafo quente e desagradável do lobo de
Rhett em seu pescoço.
— Então, alfa, como está indo sua alcateia. — Desmond sorriu, cruzando as
pernas e se ajeitando em sua cadeira marrom e preta, num estilo antigo, mas
bem conservada. O tom solidário do urso alfa mostrava que ele estava feliz
com a visita, bem como o fato de o filho de seu beta ter se tornado alfa da
alcateia próxima e Russell lamentou não ter ido visitar Desmond antes.
— Não é fácil mesmo, Russell, mas tenho certeza de que fará um bom
trabalho.
— Obrigado, alfa. É justamente por isso que estou aqui. — o lobo falou,
explicando para o urso a questão que envolvia Cody e seu namorado
violento.
— Podemos arrumar algo para ele aqui, se ele quiser. Se eu não me engano,
a Tracy estava precisando de alguém na lanchonete, posso falar com ela.
Foi o próprio beta, que precisava ocupar a mente depois da rejeição que
levara, que conduziu as buscas no primeiro dia. Russell iria no dia seguinte,
de modo que ele tinha aquela noite livre para estar com Cameron e por mais
preocupações que ele tivesse, sempre haveria espaço para que ele quisesse
estar com o seu adorável companheiro.
***
Só torcia para que ele aceitasse. Bati na porta e ele me atendeu rápido.
Cheirava como se tivesse acabado de tomar banho, mas seu perfume
natural, tão masculino e ao mesmo tempo tão sutil, estava ainda presente.
Porque não havia coisa no mundo que pudesse anular aquele cheiro pra
mim.
— Eu também amo.
— Então vamos?
Levei os dois a uma pequena pizzaria da cidade, que ficava mais perto do
bando dos ursos que da região onde viviam as pessoas da alcateia. Era um
lugar antigo, que ficava meio afastado do centro e que eu costumava ir
muito com meus pais quando era pequeno. Não me foi dada a oportunidade
de viver com meus pais biológicos, mas os que me adotaram me deram a
melhor vida possível. E a melhor educação que eu poderia ter. Coisas
simples, como jantar em uma pizzaria de subúrbio, fizeram parte da minha
infância e aparentemente muitas dessas coisas o pequeno Billy não podia
ter, porque seu tio além de ganhar pouco, tinha pouco tempo para estar com
ele, pelo que eu sabia.
Acredito que nem o próprio Cameron pôde ter em sua infância coisas bobas
e normais que muita criança tem e que a nenhuma deveriam ser negadas,
mas que a tantas eram. Eu me via um pouco no pequeno Billy, assim como
me via em Cameron. Vítimas da crueldade de shifters maus e egoístas e por
isso eu pensava, eu queria, que, no que dependesse de mim, mais nenhuma
criança daquela alcateia cresceria sem os pais. E as que não tinham, eu
queria ajudar.
Mas no caso de Billy, eu gostava mesmo, e estava totalmente louco pelo seu
tio.
Eu queria ser pra eles o que eles não tiveram, assim como eu queria que
eles fossem para mim o que eu não tinha. Porque eles eram o que faltava na
minha vida e ali, sentado com os dois, divertindo-se com uma simples pizza
de queijo, eu vislumbrava o meu futuro, eu me sentia completo.
Quase completo. Porque eu ainda precisava torná-lo meu. Dizer a ele que
ele me pertencia e que eu o queria na minha vida pra sempre. Queria os dois
na minha vida. Assim, o chamei para dormir na minha casa pela primeira
vez. Com o Billy junto, que ficaria no quarto de hóspedes.
— Eu sei que você não gosta de levar ninguém à sua casa, mas o que você
acha de passar a noite na minha? Vocês já dormiram na fazenda, sabem que
eu sou um homem comportado. —
— Claro. Tem um quarto de hóspedes. Ele pode ficar lá. E você fica
comigo. — falei bem baixo, olhando rapidamente para ele. — Pode ficar
com o Billy também, mas eu preferia que...
Assim que chegamos, Billy quis ver tevê, ficamos os três na sala e eu me
sentei ao lado dele, entrelacei nossas mãos e meu corpo já implorava por
ele. Meu lobo queria sair e o agarrar. Por sorte, Billy dormiu logo. Coloquei
uma coberta sobre ele e Cameron achou melhor deixar o sobrinho na sala
mesmo, com a tevê ligada, com o volume bem baixo.
Então o levei para o quarto e fechei a porta. Eu sabia que poderíamos ser
interrompidos pelo garoto, caso ele acordasse, mas eu estava preparado. O
importante era estar com Cam ali junto comigo.
Tentei não beijar sua boca com tanta força, porque meus dentes já
ameaçavam querer crescer. Deitamos na cama e não demorou para que o
quarto esquentasse e eu me tornasse um apaixonado literalmente confesso.
— Eu estou tão louco por você, Cam... — sussurro, indo por cima dele.
Ele geme ao toque dos meus lábios, deixa que eu o invada e depois me
abraça, dizendo em meu ouvido que quer ser meu. Ofego olhando para ele.
Preciso da confirmação de que entendi certo.
— Você já fez assim?
— Não... mas eu quero sentir você em mim... — ele confirma e eu beijo sua
boca.
Entre beijos quentes eu tiro sua roupa, beijando sua pele despida, seus
pelos, seu pau.
Chupo como da outra vez, ouvindo seus gemidos baixíssimos e então abro
bem suas pernas e passo minha língua em seu ânus. Sinto que ele se contrai
e geme, arfa, pede por mais.
Correspondo aos seus pedidos e levanto de leve suas pernas, expondo sua
fenda, chupo e lambo por mais tempo, sentindo o cheiro da excitação que
escapa pelo seu pênis. Levo minha língua até a cabeça, lambuzada de tesão
e enquanto o abocanho, entro com um dedo em seu ânus lambido. Ele geme
mais alto. Solto seu pau e faço "shh", para que ele não acorde Billy. Não
queria ter que parar. Mas ele volta a gemer e chamar meu nome.
Entro e saio, massageio, abro, preparo aquela entrada pro meu pau que já
não aguenta de ansiedade. Vou até sua boca com a minha e o beijando, fodo
com os dedos. Sinto seus lábios dançarem nos meus, gemendo meu nome e
é delicioso. Sua língua brincando na minha, seus músculos me apertando
dentro dele.
Como eu estava perto do meu limite, fui buscar o lubrificante e avisei o que
faria.
Eu não posso mais aguentar. Beijo sua boca, enquanto entro em seu corpo
muito lentamente, espero que seus músculos se acostumem a mim e só
depois de muitos beijos começo a me mover. E quando alcanço um bom
ritmo, olho para os olhos dele e é como se eu fosse explodir de amor. Meus
dentes se alongam, meu lobo implora por ele. Meu coração e meu corpo o
desejam na mesma proporção. Então eu me desnudo a alma, eu me declaro.
— Eu queria tanto isso, Cam. Queria tanto estar dentro de você, meu
companheiro.
— Oh, Russell... — ele abre bem os olhos, abre ainda mais as pernas para
me receber bem fundo. — Eu sou seu? Diga que eu sou seu... — ele pede
em gemidos.
— Você é meu, bebê... você é meu companheiro... — meu corpo não para,
entra e sai, enquanto sua boca me beija e ele se aperta em mim. Continuo
dizendo que ele é meu, que é meu companheiro e quando falo que nunca
vou deixá-lo, sinto seu ânus apertar meu pênis, ele goza. Goza pra mim.
Vejo seu corpo ir se soltando aos poucos, admiro o sorriso de satisfação que
se abre em seu rosto e vendo aquela imagem mais linda, do meu
companheiro saciado, eu me derramo dentro dele, declarando mais uma
vez, que ele é meu, estreitando nosso vínculo, aumentando nossa conexão.
Desabo sobre aquele corpo maior e ele envolve as pernas em torno de mim,
me abraçando com elas. Sorrio e deixo um beijo em sua boca. Deitados, é
como fôssemos do mesmo tamanho.
Ele parece menor, mais doce. Escorrego para o lado e o levo para o meu
corpo, oferecendo abrigo, ao passo que acaricio seus cabelos bagunçados.
— Isso foi maravilhoso... — ele diz, atracado em meu corpo.
— Por favor. Não termine. — silencio sua boca com o dedo. — Eu não
tenho motivo para não querer você, Cam. Eu quero. Quero muito.
Sorrindo, ele me beija. Volta a encostar a cabeça em meu peito e sinto uma
ou duas lágrimas escorrerem nele. Me emociono, mas não digo nada.
Apenas aproveito para sentir como é ter meu companheiro nos braços e na
minha cama pela primeira vez. Satisfeito e emocionado.
Eu estava feliz. Sentia que todas as minhas manhãs poderiam ser como
aquelas, com os dois na minha casa, com os dois pra sempre na minha vida.
Capítulo 11
Havia dois dias que Cody estava preso dentro da casa de Russell sem sair
para nada. Tinha se sentido bem ao conhecer os pais do alfa, mas ele ainda
tinha medo de pôr a cara para fora.
Sentia como se Rhett o espreitasse. Mas Abel foi até lá e o incentivou a sair.
Russell tinha ligado e pedido para o amigo levar Cody até a Tracy, porque
Desmond havia dito que falaria com ela sobre um emprego para o ômega.
Abel resmungou só até ouvir a história toda, depois ficou penalizado pelo
cara. Mesmo que detestasse lobos e estivesse puto da vida com aquele lobo
que insistia em procurá-lo em sua casa e em seus sonhos, ele foi ajudar
Cody.
Afinal, ele também era um ômega e Abel não estava morto por dentro, no
fim das contas.
Ouvindo pela própria boca de Cody o que ele havia passado, Abel percebeu
que havia coisas que um homem podia fazer a outro que eram bem piores
que traição.
Cody ficou aliviado por ser levado por um ômega. Depois de tudo o que
tinha acontecido, ele preferia estar ao redor de ômegas ou de mulheres, em
vez de homens de qualquer tipo.
— Mas você sabe que se trabalhar em uma lanchonete terá muitos homens
para atender, não sabe? — indagou Abel.
— Mas que belezinha você é! — ela sorriu mais aberto, apertando a mão
dele. — Você tem experiência em lanchonete ou restaurante?
— Só em bar.
— Perfeito! É o que eu preciso, porque a ideia era isso ser uma lanchonete,
mas esses ursos praticamente fazem do lugar um bar. — ela riu
gostosamente. — Mas não se preocupe, querido, você pode trabalhar até no
cio que ninguém vai mexer com você.
Cody não disse nada sobre não conhecer o alfa, pois imaginava que tinha
sido a pedido de Russell. E naquele mesmo dia ele iniciou o trabalho.
Já fazia alguns dias que ele estava trabalhando na Tracy quando conheceu o
alfa dos ursos.
Desmond não foi lá com esse intuito, mas aproveitou para conhecer o
ômega lobo que ele estava abrigando em seu território.
— Bom dia, Tracy, já vou lá atrás pegar as bebidas. — Cody entrou
esbaforido, lembrando que tinha esquecido de repor algumas bebidas na
geladeira do bar.
Queria fazer tudo corretamente, porque estava feliz trabalhando com Tracy.
Ela e Glenn eram bons de se trabalhar e de se ter por perto e ele não queria
perder a vaga. Por isso, vestiu rapidamente o avental, que ficava pendurado
perto do balcão e foi caminhando para o depósito quando ela o chamou.
Rindo da cara de bobo do alfa, Tracy, que nunca o tinha visto daquele jeito,
chamou Cody para apresentá-lo, pois tinha descoberto ali que eles não se
conheciam pessoalmente.
— Prazer, alfa... — Cody falou, acanhado, olhando para aquele homem que
o fitava de forma penetrante. — Obrigado por me deixar ficar no seu
território.
Tomou o uísque que estava em seu copo, vendo o garoto sair para o
depósito, enquanto a amiga ria e enchia o copo novamente.
— Como a luz do sol, meu querido alfa. — ela riu. — Eu não sabia que
você gostava de lobos...
— Cody... — ele falava sozinho no carro. Saboreando cada letra, cada som
de seu nome, do nome do homem que era dele, enquanto pensava nas
dificuldades que teria para se aproximar de alguém que tinha acabado de
passar por um grande trauma.
Desmond queria abraçá-lo e cuidar dele. Queria dizer que tudo ficaria bem
e que ninguém mais o machucaria. Queria poder falar "você é meu, querido.
Venha comigo", mas ele não podia.
Por isso, no dia seguinte, mais uma vez, ele foi até o restaurante. Tracy
sorriu com malícia, indo até a mesa em que ele estava sentado.
— Dois dias seguidos, hein? Acho que nunca o vi por aqui duas vezes em
uma mesma semana. — a amiga brincou, enquanto ele parecia escolher
alguma coisa no menu.
— Espero que não se incomode, querida Tracy. — ele falou sem sorrir.
Ele respeitava a dos outros e exigia o mesmo respeito e por mais que Tracy
e ele fossem amigos há anos, nem mesmo ela conversava com o alfa sobre a
intimidade dele. Nem Tracy, nem ninguém. Isso porque Desmond sempre
acreditou que por ser o líder, seus gostos e interesses pessoais não tinham
que ser tornados públicos. Isso poderia dificultar sua vida e no fim das
contas, ele devia pensar no coletivo. Assim, tornou-se o urso mais
reservado do bando.
— Quando ficar pronto, você pode levar pra ele. — ela sorriu ao dizer,
porque sabia que o alfa estava lá para ver o garoto.
— Tudo bem, Tracy. — Cody sorriu e foi pegar o pedido de outra mesa na
janelinha da cozinha.
Levou até as duas garotas que estavam esperando, enquanto era observado
disfarçadamente pelo alfa. Seu cheiro intoxicava os sentimentos de
Desmond, afloravam seus sentidos e faziam com que ele não quisesse
deixar de olhar para o ômega.
Desmond estava feliz que seu companheiro estava à sua frente. Ele era
pequeno, mas não tão jovem, embora fosse muito mais novo que o urso. Já
havia barba em seu rosto, curtíssima e seus traços eram fortes e delicados
ao mesmo tempo. Seu sorriso se abria para os clientes com facilidade, mas
seus olhos indicavam uma tristeza profunda, até mesmo medo.
— Com licença, senhor. Aqui está seu pedido. — ele sorriu, fazendo o dia
de Desmond valer a pena.
— Não tem problema. Eu gosto da bebida com a refeição. Dizem que não é
recomendado, mas eu não consigo comer sem beber nada. — Desmond
falou com Cody em poucos segundos mais do que costumava falar com
seus amigos mais próximos ao longo de uma semana.
— Mas isso não tem problema para nós, shifters. — Cody cochichou com
um sorriso suave.
Sim, porque Cody era pequeno, mas não tanto como a maioria dos ômegas.
Na verdade, ele era pequeno se comparado a Desmond. Devia ter a altura de
Russell, mas Desmond era mesmo grande, ultrapassando a marca dos 1,90
facilmente. Sua sobriedade e calma faziam com que ele não fosse um
homem assustador, mas Cody estava longe de querer se aproximar de
homens de qualquer tamanho. Ele queria voltar a ter uma vida normal, que
ele nem se lembrava mais como era, já que não lembrava como era não
sentir medo todos os dias.
O alfa comeu cheeseburguer, enquanto via o seu companheiro atender as
poucas pessoas que havia no local, admirando-o a cada passo, a cada
movimento, imaginando uma maneira suave de se aproximar.
***
Abel estava agitado. Não queria, mas pensava naquela droga de lobo a todo
o tempo. Ele não iria ceder, nem mesmo que o cio o consumisse. Ele não
iria até ele. Pra quê? Para ser traído outra vez? Não. Ele jurou que nenhum
outro homem faria com que ele sofresse de novo.
Achava em seu íntimo que Finn parecia uma boa pessoa. Mas seu ex
também parecia e o filho da puta tinha uma família completa, com bicicleta
na garagem e tudo. Abel não queria ter o coração despedaçado outra vez,
por isso não deixava mais ninguém se aproximar. Ele não contava, porém,
que encontraria seu companheiro. Honestamente, ele preferia que isso não
tivesse acontecido, porque agora ele ficava desejando secretamente o
homem, sonhando com ele e sofrendo.
Naquela noite, ele foi até a casa de Cody ver como ele estava e levar
algumas roupas de cama. Ele não contava que poucos minutos depois de
chegar lá, Finnegan também chegaria, para levar as roupas de Cody, a
pedido de Russell.
Sentiu a boca secar ao ver o lobo na porta, com as sacolas estendidas para o
ômega e seu sorriso gentil de sempre. Droga, ele era tão suave que fazia
com que Abel quisesse tentar ser feliz outra vez.
Cody o chamou para entrar, mas depois que viu Abel lá dentro, ele recusou.
Contou que estavam ainda atrás de Rhett e disse que o ômega lobo não seria
abandonado.
— Digo, sim, Cody. Qualquer coisa você pode me ligar. Anota o meu
número. Qualquer coisa que precisar. — ele falou, dizendo o número na
sequência.
Sentado no sofá, Abel ouvia a conversa e observava o lobo de rabo de olho.
Inferno! Ele era atraente. Tão atraente que Abel mal podia se lembrar de
alguém que o tivesse atraído mais.
Mas agora já era tarde, ele tinha dispensado o cara grosseiramente, como
costumava fazer com todo mundo. Ainda que soubesse que ele não era
qualquer um.
Não negou a si mesmo a verdade sobre ter se sentido mal por Finn nem
mesmo tê-lo cumprimentado. Ele tinha pedido pelo afastamento, mas doía.
Ele não queria que doesse, mas ardia em seu peito ouvir a caminhonete
barulhenta do beta dos lobos ir embora.
Pensava ele que o lobo já estava resignado, que logo encontraria alguém
para pôr no lugar que deveria ser seu, sem saber que Finnegan ia embora
com o coração quebrado e mesmo assim, sem intenção alguma de substituir
seu companheiro por qualquer outro homem.
Capítulo 12
Eu já não conseguia ficar muito tempo longe dele. Almoçarmos todo dia
juntos já não era o suficiente pra mim. Eu precisava reivindicá-lo e ter uma
conversa honesta com ele sobre isso.
Ele estava feliz, eu sabia. Ele me dizia, seu sorriso me dizia e aquilo me
incentivava. Ver a alegria de Cameron era a melhor coisa. Então, durante o
almoço, eu sondei o terreno.
— Cam, será que você conseguiria que a senhora Moore ficasse uma noite
com Billy? Uma noite inteira. Só uma. — dei um sorriso sugestivo.
— Você quer ficar sozinho comigo, Rus? — ele perguntou todo bonitinho.
— Quero, bebê. Eu preciso de uma noite inteira sozinho com você, porque
quero te ouvir fazer bastante barulho. — eu brinquei, mas foi inevitável
sentir meu pau subir.
— Rus... — ele piscou devagar. — Desse jeito não vou conseguir terminar
de comer.
— Por que, bebê? Você quer fazer barulho pra mim essa noite? Isso te deixa
excitado?
— Você pode me fazer gritar agora que estamos sozinhos... — ele sugeriu.
— Eu iria adorar, Cam, mas tenho que ir até a casa de Kurt em poucos
minutos. Mas essa noite, se você puder vir, me liga que eu vou te buscar. —
o alfa levantou, levando o prato até a pia.
— Desculpe deixar a mesa antes de você, mas estou mesmo atrasado pro
compromisso. —
À noite, antes que pudesse ligar para Cameron, ele bateu na porta. Russell,
que terminava de se trocar depois do banho, vestiu a camiseta correndo e
foi atender. Jogando um sorriso lindo para o alfa, Cameron o beijou em
seguida.
— Eu fiquei ansioso.
— Que bom que conseguiu. É muito importante pra mim que esteja
sozinho. — o alfa falou, levando-o pela mão até a mesa de jantar que ficava
na sala.
O lobo ficou maravilhado com a mesa arrumada como nos filmes, as velas
sobre ela, os pratos bonitos.
— Nunca ninguém fez isso pra mim... — ele confessou, quando comiam.
— Eu quero fazer muito mais por você, bebê. Quero fazer tudo. — Russell
acariciou sua mão. Cameron queria chorar. Sentiu-se bobo por se emocionar
com aquilo, mas tudo o que envolvia o alfa o deixava muito emotivo. E ele
ficou feliz por estarem à meia luz.
— Eu não posso fazer muita coisa por você... — Cameron balbuciou, com a
cabeça levemente baixa.
— Você faz muito mais por mim, Cam. Você nem imagina o quanto...
— Eu sei que você não me conhece há muito tempo e o que eu vou te pedir
exigiria talvez mais tempo, mas eu não aguento mais viver longe de você,
Cam. Quero dormir e acordar com você todos os dias, como vamos fazer
essa noite. — Russell segurava as mãos dele, que suavam.
— Eu quero vocês dois na minha vida, Cam. Quero que vocês dois morem
comigo. Prometo que vou cuidar de vocês e não vou...
— Acho que agora você pode me levar para o seu quarto e me fazer gritar...
— Cameron sorriu, quebrando o beijo.
***
Cameron não era muito de falar, mas naquela noite, talvez por estarmos
sozinhos ele falou.
Antes, durante e depois. E tudo o que ele disse foi especial, principalmente
porque foi nesse dia que ele disse que me amava pela primeira vez.
Assim que tiramos as roupas e nos deitamos, ele sussurrou sua declaração
em meu ouvido e eu não sabia que um "eu te amo" podia ser tão sexy.
Quase tanto quanto ele pedir no meu ouvido se podia me chupar.
Nenhum de nós tínhamos muito pelo no peito e a fricção que nossos corpos
faziam, dos nossos músculos suados era algo realmente excitante.
Segurando suas costas, o deitei na cama,
sem sair de dentro dele. E então foi minha vez de conduzir. Mostrei pra ele
como eu queria fazer com que ele gemesse, com que ele gritasse. E ele
gemeu, e gritou.
Só quando minha mão, que o masturbava, sentiu seu pau inchar ainda mais,
que eu anunciei que o marcaria. Os dentes do meu lobo já estavam há muito
pra fora, então eu só precisei avisar, e pedir sua submissão.
— Estou, alfa... me marca. — ele esticou o pescoço como seu lobo faria
para o meu e depois de beijar sua boca com profundidade, meus dentes
encontraram sua pele, entraram em sua carne. E eu o fiz gritar. O fiz gozar,
reivindicando o que era meu. Marcando meu lobo, por fora e por dentro.
***
— Eu amo você, Cam. Amo vocês dois. Quero que sejam minha família.
— Eu nem acredito que vamos morar juntos. Isso parece tão bom...
— Vai ser maravilhoso, querido. E eu prometo que só te faço gritar quando
Billy não estiver.
— Cam riu.
— Sim...
— Eu nunca fiz isso. Mas você também nunca tinha feito e pareceu gostar
bastante...
— Vamos tomar café da manhã e eu te levo pra casa. Você precisa buscar o
Billy, não precisa?
— Ah, lobinho... — Russell sorriu, abrindo as pernas para que ele pegasse
seu membro já rígido.
E foi a vez de Cameron fazer o alfa gemer, pra começar o dia bem.
***
com aquela história toda, ele tinha motivos para engajar em tudo que era
trabalho que aparecesse, porque não aguentava lidar com a rejeição do
companheiro.
Já era noite quando, depois de voltar de uma busca solitária pela cidade e
pela floresta, ele chegou em casa cansado e tomou um banho. Nem quis
comer, preferindo ir direto para a cama quando farejou aquele perfume
inconfundível no ar. Fraco e distante, mas seu lobo sabia que era ele. Em
algum lugar das proximidades ele estava. Provavelmente iria falar com o
alfa.
Seu instinto protetor dizia para que ele seguisse o perfume, mas a
lembrança das palavras duras do ômega agitou sua memória e ele ficou.
Deitado no sofá, em alerta, para o caso de o perfume mudar de notas e ele
sentir o medo rondando, então iria em seu auxílio. Só nesse caso.
Mas o cheiro chegava cada vez mais perto, sempre doce, sem notas de
medo. Então ele ouviu o carro parar, escutou-o descer. Parou em frente à
porta, titubeou e bateu. Com o coração acelerado, Finn foi atender. Tentou
parecer calmo, mas por dentro estava agitado, como sempre ficava perto do
ômega de olhos azuis e cara de bravo.
— Oi, Abel.
— Eu sei que não. — Finn falou calmamente. — Você já deixou isso nem
claro. Você veio aqui pra falar isso de novo?
— Não.
Abel parou. Não conseguia responder. Não sabia o que ou como dizer.
Então seu olhar mudou. A raiva deu lugar ao medo e talvez Finn
compreendesse.
— Não. Não diga isso... eu tenho certeza que não está estragado... eu sei
que você tem medo e... não precisamos fazer nada. Só me deixa te mostrar
que eu não sou uma pessoa ruim.
— Não vou aparecer com uma família... a não ser que você queira acasalar
comigo. —
Finnegan riu.
— Agora deixa eu te mostrar minha casa, para você ver que não tenho uma
família escondida...
— Não tenho. — Finn riu de leve, olhando para baixo, vendo o ursinho
ômega caminhar pela sua casa. — Nem essa casa era minha... — o beta
falou e continuou mostrando para o ômega que só morava ele naquele lugar
e iniciando com ele uma amizade.
Parecia bem longe do ideal, mas com certeza era alguma coisa por onde
começar.
***
— Por favor, Cody, diga ao Glenn que estava uma delícia. — disse o alfa,
que fazia questão de pagar pela refeição todos os dias em seu restaurante,
apenas para deixar uma boa gorjeta para o novo garçom.
O problema era quando tinha que ir embora no começo da noite. Ele tremia
quase o percurso inteiro e só não o fazia correndo, porque o chamariam de
louco. Ele não queria assustar os ursos, ou irritá-los. Estavam sendo tão
bons pra ele, que ele queria fazer o possível para passar despercebido, para
não incomodar ninguém.
No quinto dia, Cody não foi trabalhar, porque era sua folga. Tracy não
avisou Desmond, pois queria ver sua cara de decepção e confirmar suas
suspeitas.
— Hoje é folga do lobinho, Des. Sinto muito, mas vai ter que se contentar
comigo. — a amiga riu.
Desmond respirou fundo e a cara que Tracy queria ver estava lá, à sua
frente. Inegável, indisfarçável. Mesmo assim ele pediu comida e mesmo
assim ele pagou. Mas o sorriso e a vontade de conversar não estavam lá.
Assim que terminou foi embora cabisbaixo, de modo que Tracy quase teve
pena do homem. Desmond parecia mesmo estar apaixonado.
Tracy não sabia que o amigo tinha encontrado seu companheiro e por isso
estava indo lá todos os dias para vê-lo e um dia sem ver Cody parecia
terrível para ele. Até dias atrás ele nem o conhecia, mas agora, um dia sem
pôr os olhos no cara já parecia matá-lo. Por isso, tomado por aquela
saudade difícil de explicar, que só companheiros separados entendem,
Desmond foi até a fazenda de Kirk e bateu na porta de Cody.
— Ah... nossa! — ele sorriu, soltando o ar. — Eu pensei que tinha feito
alguma coisa errada.
— Não... você não faz nada errado, Cody. — o alfa olhava para ele
maravilhado.
Para o alfa, era claro que Cody sabia que ele já tinha muitos anos. Os
cabelos brancos que já apareciam em sua barba e começavam a tingir suas
têmporas, mostrava que ele já passara dos oitenta anos. Cody teria quantos?
Vinte e sete? Vinte e oito, no máximo. Desmond não sabia, mas a cor viva
de seus cabelos e o viço reluzente de sua pele diziam que ele era bem
jovem.
Indo para a sua casa, o alfa ficou imaginando como seria o homem com
quem ele se relacionava fisicamente. Quis matá-lo ao lembrar que ele tinha
agredido seu companheiro, o ômega que Deus tinha feito para ele. Porque
Desmond acreditava ferrenhamente em Deus e via nos shifters apenas uma
de suas criaturas. Por baixo de suas camisas, não raro carregava um terço.
Cria nos ensinamentos de Jesus e embora não costumasse ir à igreja,
considerava-se um
Ele procurava ser um homem bom, tinha uma firmeza digna de nota, mas
sabia que não era perfeito. E sempre que pensava em alguém machucando
Cody, seu urso desejava resolver o problema como animais resolvem.
Ele grunhiu ao pensar naquilo. Ele desejava tanto estar com Cody, mas
sabia que não poderia ser agressivo em sua abordagem. O problema é que
ele não fazia ideia de como abordá-
lo.
***
— Agora que você viu que não tem um marido embaixo da minha cama...
— Não é seguro...
— Por que você é tão teimoso? — a pergunta de Finn fez Abel revirar os
olhos.
Sem deixar Finnegan protestar, ele saiu pela porta e entrou no carro. O lobo
ficou tão atordoado com a saída como com a chegada imprevista do urso. Já
previa que Abel daria trabalho com toda aquela teimosia, mas ele estava
feliz com a surpresa e com a inesperada chance que o companheiro tinha
lhe dado.
Capítulo 13
— Entre, Abel.
— Não estou rindo. Estou sorrindo. Não tenho culpa que você é adorável.
— Ah, não?
Finnegan se esforçou para não rir. Mais porque ele estava feliz como um
bobo por enfim conseguir um encontro com seu companheiro, que por estar
tirando sarro do urso.
Fez questão de fazer aquilo na frente do lobo, porque Finn não sabia, mas o
ômega estava mesmo disposto a testar todos os seus limites antes de decidir
se aceitaria ser seu companheiro.
E Abel tinha quase certeza de que Finnegan não passaria em seus testes.
Abel então ficou nu. Sua pele clara, quase sem pelos apareceu diante dos
olhos do lobo.
Finn paralisou ao ver Abel pelado, de costas. Seus músculos pequenos, sua
bunda redondinha, suas pernas torneadas. Ele era lindo, perfeito, delicioso.
Seu lobo ficou louco, sentiu os dentes quererem pular, seu corpo humano se
esquentar, pedindo passagem ao lupino. Mas ele não podia demonstrar
descontrole na frente do ômega.
O urso enorme então pareceu. O corpo quente do beta logo foi esfriando,
porque embora magnífico, aquele grande animal peludo em sua sala não
despertava nele a mesmas sensações que a bunda branquinha que ele tinha
acabado de admirar. Sua ereção foi logo embora ao primeiro bramido do
animal, que ficou em pé para mostrar como era grande. Sim, ele era um
urso exibido, por isso fez aquele som novamente e embora Finnegan
quisesse sorriu, ele se controlou. Afinal, Abel era meio maluco e em sua
forma de urso era bem possível que ele ficasse agressivo. E Finnegan não
estava tentado a lutar com um urso antes do jantar.
Não era mentira, de fato. Ele estava impressionado com o tamanho do urso
do ômega, embora já o tivesse visto lutar. Quis se aproximar e acariciar seus
pelo, mas outra vez o receio de ser atacado bateu, além de se lembrar de sua
promessa.
Sem tocar. Ele lembrou. Seja humano, ou urso, ele não deveria tocar Abel.
E assim o fez, até que novamente o humano estivesse nu na diante de si,
dessa vez de frente. O beta arquejou, tentando controlar o desejo de descer
com os olhos. Conseguiu permanecer no rosto, até se virar e ir para a
cozinha, sentindo o corpo esquentar mais uma vez.
— Espero que goste de carne. Estou fazendo uma receita que aprendi com a
minha mãe.
— Eu adoro carne. Mas, não importa qual seja a receita, você está fazendo
errado. — Abel falou, sem se importar se pareceria impertinente.
— Obrigado, Abel. — Finn sorriu, porque ele estava certo quanto ao fato de
quase ninguém usar aquelas panelas, mas sua mãe sempre usava e ele tinha
uma por isso.
Não era de boa vontade que ele estava na casa do beta. Era verdade quando
dizia que não queria companheiro e que não era o maior fã de lobos. Mas
desde que tinha conhecido Finnegan, ficar longe dele causava um estrago
em seu coração e mesmo se odiando por isso, Abel estava disposto a tentar
afagar o próprio peito depois de tantos anos sozinho.
Mas ele não facilitaria as coisas para Finn. Se ele o quisesse mesmo, teria
que estar disposto a lutar por isso.
Finnegan tinha encontrado uma forma de engolir e disfarçar seu desejo por
Abel. Ele estava empenhado em conquistar sua confiança e mesmo que
tivesse vontade de beijá-lo e o abraçar toda vez que o via, ele fingia não se
afetar.
Assim os dois iam se vendo apenas como amigos, fingindo que não se
amavam e que não estavam loucos para se tocar. Mas o toque era proibido e
Finnegan tinha prometido que nunca mais ultrapassaria essa linha de novo.
Abel, por sua vez, não parecia disposto a tirar as barreiras e permitir que
eles criassem intimidade.
***
Com toda a indefinição acerca de Rhett, Cody permanecia exilado no bando
dos ursos. Mas ele estava bem e gostava de lá. Às vezes jantava com os pais
de Russell, já passeava pela fazenda sozinho de vez em quando e não tinha
tanto medo ao voltar do trabalho, principalmente, porque sempre tinha um
urso o acompanhando disfarçadamente. Ele fingia que não via, mas sabia
que estava lá. Pensava ser a pedido de Russell, mas era a pedido do alfa,
que continuava indo almoçar na lanchonete onde ele trabalhava.
que ele tinha aquele ar de caubói sério e sensual e parecia ter saído de um
filme do velho oeste, com aquele chapéu e aquelas botas.
Cody realmente não queria saber de homens, mas não fazia mal em apreciar
um homem bonito, quando esse sorria para ele de forma tão convidativa. Os
dois falavam se coisas corriqueiras e Desmond sempre aproveitava para
descobrir alguma coisa nova sobre o ômega, por mínima que fosse.
— Não. Eu me dou bem com eles. Nunca ficam bravos comigo... deve ser
porque eu sou um ômega, porque eu já ouvi dizer que eles não se dão muito
bem com lobos. Ficam agitados.
Claro que a resposta quebrou as expectativas do alfa, mas ainda assim ele
designou uma executora para ensinar Cody a montar, em sua fazenda, onde
ao menos poderia vê-lo de longe e aquilo já seria bastante para Desmond.
Naquele dia, Cody sorria ao colocar gelo no copo para servir a água que
Desmond tomava todos os dias, depois de ter atendido sua mesa.
— Parece que alguém está caidinho por você... — Tracy sussurrou em seu
ouvido, passando por trás dele, achando que já estava na hora de Cody
acordar.
— Você acha que ele almoçava aqui antes de você ser o garçom? — ela riu.
— Ai, Tracy... tenho certeza que tem outro motivo. — Cody ficou vermelho
ao imaginar o alfa interessado nele e nem ouviu o que a mulher falou na
sequência.
— Sua água, alfa. — Cody falou ao servir a bebida e logo se retirou, sem
conseguir olhar para o cara.
Como se tivesse sido atingido por um automóvel, Cody recebeu aquela
informação. Ele simplesmente não sabia o que fazer ou o que pensar. Parte
dele queria que fosse verdade e outra parte se sentia idiota por sentir aquilo.
Como poderia pensar em homem depois de tudo o que passou? Tratou de
empurrar os pensamentos para longe e foi atender a mesa recém ocupada.
Para o seu azar, era justamente Kevin, o cara que o andava importunando.
— Você vai pedir desculpas para ele agora! — Desmond agora segurava o
homem pelo colarinho.
Kevin não era um homem pequeno, mas nas mãos fortes do alfa ele parecia
um ratinho apavorado. Talvez tivesse sido naquele momento que Cody
percebeu que o alfa era tão mais alto que ele.
— Pra mim, não. — Desmond o soltou, porque não havia mais necessidade
de segurá-lo, já que o tinha controlado. Exalando potência e dominância,
ele continuou:
— Desculpa, Cody.
— Eu sinto muito que você tenha tido que passar por isso, Cody. —
Desmond olhou para ele com carinho. — Você está bem? — o alfa afagou
seu braço, perto do ombro.
— Chamei vocês aqui pra explicar uma coisa e serei breve. Tem um lobo
ômega morando vivendo entre nós, como muitos de vocês já sabem. Ele
trabalha na Tracy, acho que alguns já o viram. Quero que saibam que quem
mexer com ele será punido. Ou terá que me desafiar. Tem um motivo pra
ele estar vivendo aqui. Motivo particular que não interessa a ninguém.
Além disso, ele é meu companheiro e quem ousar importuná-lo arcará com
as consequências. —
Desmond falava com calma, mas havia uma ferocidade em seus olhos que
nem todos conheciam.
— Podem ir.
Ainda perdido e confuso com tudo o que tinha passado, além das mudanças
pelas quais sua vida enfrentava, ele não fazia ideia de que seu companheiro
estava à sua frente, esperando por ele, ansioso para ser reconhecido.
Capítulo 14
Cody e Abel tinham se tornado amigos e o lobo estava feliz por enfim
poder ter amigos em paz, sem que alguém o tentasse impedir ou atrapalhar.
Tirando um ou outro idiota como Kevin, no geral os ursos pareciam muito
bons e bastante respeitosos. E era verdade, ele podia trabalhar até estando
no cio que não mexiam com ele.
Por isso, ele estava tranquilo naquele dia. Imaginou que depois da bronca
do alfa, Kevin não apareceria lá tão cedo. Mal sabia Cody que Kevin não
apareceria nunca mais na lanchonete.
— Tudo bem?
— Tudo ótimo. E você? — Cody perguntou, entregando a cerveja aberta.
— Bem também.
— Estamos bem. Indo devagar. Mas ainda não consigo confiar nele. —
Abel tomou a cerveja da garrafa.
— Acho que o problema sou eu... — Abel lamentou. — Mas nós temos
saído sempre e eu gosto de ficar perto dele.
— Não. Enquanto eu não sentir confiança, não vai rolar nada. — Abel
franziu as sobrancelhas, fazendo sua cara de menino bravo.
— O quê? Um beijo?
— É. — Cody sorria.
— Não...
— Acho que até eu que também não consigo confiar ia querer beijar meu
companheiro... o homem deve ter mesmo bastante autocontrole.
Que merda eu quero, afinal?! Ele se questionava ao pensar que não queria
que Finnegan o tocasse, mas ao mesmo tempo achava estranho — e talvez
até um pouco ofensivo — o fato de o cara nem tentar. Abel tentava lidar
com suas próprias contradições, enquanto observava as atitudes do beta dos
lobos.
Mas, aparentemente, Abel não afetava tanto seu companheiro como ele
imaginava, como Finn o afetava, e aquilo já começava a causar
preocupação.
Sem rodeios, Abel foi até ele e o abraçou. Pela primeira desde o famigerado
abraço de Finn, eles se tocavam. Abel ficou trêmulo, arquejante, sem
conseguir prestar atenção às reações de Finn como queria, porque ele
mesmo sofria aquelas reações todas, como se aquele fosse o primeiro toque,
o primeiro encontro.
Talvez fosse porque, pela primeira vez, ele estava realmente mais aberto e à
vontade em torno do lobo e podia aproveitar sem medo os efeitos que seu
corpo sentia. Ele então mergulhou naqueles efeitos e nos braços de Finn,
que se abriram para recebê-lo junto de seu corpo, fazendo Abel acreditar
que com ele tudo poderia ser diferente, porque não dava para comparar
aquele abraço com s outras coisas que ele já tinha vivido com outros
homens. Finn era mesmo diferente para ele.
Finnegan saboreou o céu. Que controle extraordinário ele precisou ter para
controlar a vontade de envolvê-lo com os dois braços, de afundar o rosto
em seus finos cabelos ensolarados.
Claro que o beta queria possuí-lo, afinal ele era seu, mas se daria por
satisfeito, pelo menos naquela noite, se pudesse ter tido um pouco mais de
Abel. O pouco que ele poderia ter degustado, mas que não sabia que podia e
por isso dirigia de volta para a alcateia, depois de deixá-lo em casa, ainda
ébrio por ele, como se precisasse de mais, como se sempre fosse
insuficiente, a despeito do avanço daquela noite.
Sem saber que estava perdido, Abel se perdia. E sem saber que estava
apaixonado, ele sofria.
***
— Você pode ter uma companheira. Ainda não sabemos, porque isso só vai
acontecer quando você crescer. E você ainda nem foi pra escola. —
Cameron dizia, enquanto colocava as coisas na mesa para o café da manhã.
— Tio, Rus! — Billy correu para os seus braços, enquanto ele estava
parado na entrada da cozinha, vendo os dois à vontade na casa, exatamente
como ele queria que fosse.
Tinha conseguido que Billy deixasse de chamá-lo de "tio alfa", mas de vez
em quando ainda escapava, ao que ele não o repreendia. Sentou-se para
comer com eles, depois de selar os lábios do companheiro, com quem tinha
feito amor por longo tempo na noite anterior e percebeu que ele precisava
começar a acordar mais cedo, porque não queria perder aquilo. A delícia de
tomar café da manhã com a sua família.
***
O bando dos ursos não era numeroso, mas por ser unido e harmonioso,
comemorações eram comuns. E sempre perto do fim do inverno eles faziam
uma festa ao ar livre, na qual todos levavam suas especialidades na cozinha
e eles realizavam um grande almoço coletivo, com uma enorme fartura de
pratos doces, para celebrar antecipadamente a ida do frio.
Não que a primavera e o verão fossem muito quentes, mas eram mais
amenos e isso merecia ser celebrado.
Russell então confirmou sua presença e disse que levaria Cam e Billy.
— Parece que está indo bem. O vemos pouco e ele não dá trabalho nenhum,
filho. — disse a mãe.
— Sim. Parece que eles não estão acasalados, mas Desmond já contou que
são companheiros pros executores. Não sei se contou pro rapaz. — Kirk
brincou.
— Talvez não seja fácil pra ele. Acabou de sair daquele relacionamento
horrível.
— Desmond é uma ótima pessoa. Cody será feliz se aceitar ficar com ele.
— Russell tranquilizou o companheiro.
— Fique aí, querido. Está frio lá fora. — disse a mãe de Russell. — Mas foi
um prazer conhecer você e espero vocês três na festa. — disse ela,
acenando de longe para não acordar o garotinho.
***
Muito mais tranquilo, Cody foi trabalhar ainda estando no cio. Estranhou
apenas que Desmond não apareceu por lá no dia após o incidente com
Kevin. A verdade é que Desmond chegou a ir até a porta, mas ao sentir o
perfume do cio do seu companheiro, ele nem chegou a tirar o chapéu, indo
embora antes mesmo de entrar.
Ele não era um descontrolado. Depois de viver por tantos anos, tinha
adquirido aquela calma e paciência necessárias para lidar com os problemas
diários. Mas tudo o que envolvia Cody parecia forte demais para ele e
diferente de tudo o que ele já conhecia. Era apenas dolorido sentir o
perfume do seu ômega sem poder tocá-lo, ainda que brevemente,
carinhosamente.
Nem precisava ser algo sexual, embora ele quisesse muito algo sexual com
Cody também. O fato é que ainda que ele não tivesse medo de se
descontrolar, era difícil estar no mesmo ambiente que seu companheiro no
cio. Seu urso ficava todo agitado, assim ele preferiu voltar dois dias depois.
Seu sorriso se esticou de modo que ele não conseguia disfarçar a felicidade
ao ver o alfa e Desmond também não conseguia esconder o entusiasmo ao
vê-lo.
— Oi, alfa. — Cody falou, todo sorridente, mas ainda ignorando que o
homem era seu companheiro.
— É, sim, alfa...
Cody ficou totalmente confuso. Enquanto ele apenas olhava para o homem
de longe, de vez em quando, tudo estava sob controle. Era um homem
bonito, atraente e nada mais. Mas receber um convite, mesmo para algo tão
banal, colocava a coisa em outro patamar. Ele talvez não estivesse
preparado para estar sozinho com um homem. Com qualquer que fosse.
Mas ele podia recusar um convite do alfa? Seria cordial de sua parte fazer
isso com o homem que estava lhe dando abrigo em seu bando? Tanto tempo
acostumado a receber ordens, que Cody nem sabia o que dizer quando
podia escolher. E se por um lado ele gostava de estar próximo a Desmond,
por outro, ele tinha medo. E isso talvez foi a única coisa que o fez ficar
parado, olhando para o alfa sem saber o que responder.
— Ele ainda está muito machucado. — Tracy falou. — Vá devagar com ele.
Tirou o avental, dobrou para levar para a casa, porque estava sujo e ele fazia
questão de lavar os próprios aventais. E, um pouco nervoso, despediu-se da
dona da lanchonete e de Glenn.
— Sim.
Capítulo 15
Desmond destravou as portas de sua SUV e a abriu para que Cody entrasse.
O urso era um homem de outra época. Apesar de se atualizar bem aos novos
tempos e até mesmo à tecnologia, o alfa tinha alguns hábitos antigos que
certamente destoavam de muitos homens mais jovens.
Desde a forma que ele olhava para Cody, até seu modo de falar com ele,
tudo eram muito distinto daqueles usados por Rhett ou até mesmo por
alguns antes dele. Se bem que nem se Rhett vivesse por trezentos anos, ele
teria a metade da elegância viril e da hombridade de Desmond. Isso era algo
que simplesmente não fazia parte dele.
Foi impossível que sua mente não o carregasse ao tempo em que ele chegou
a querer ter uma relação séria com Rhett. Cody já quis que ele ficasse e o
assumisse. Presumindo que não encontraria mesmo seu companheiro e com
medo de ser usado pelo alfa, ele pediu para o namorado reivindicá-lo, para
ele ir morar com ele, mas Rhett sempre se recusava.
Agora só de imaginar tal coisa ele se arrepiava de desespero. Sem saber que
estava ao lado do homem que a vida lhe tinha reservado, ele lembrava de
Rhett o rejeitando e ainda que nunca mais quisesse vê-lo, doía.
— Pra que isso, Cody? Já estamos juntos. Isso não basta? — Rhett
costumava dizer.
— Chega dessa conversa. Não quero mais falar disso. — era o que ele
sempre falava em resposta.
Então Cody olhou para Desmond, tão calmo e suave, grande e bonito. Não
parecia o tipo de homem que trataria alguém mal à toa.
— Não precisa ficar com medo de mim. — o alfa falou, como se lesse seus
pensamentos.
— Aliás, eu sinto muito por não ter encontrado você antes e te poupado de
passar pelo que você passou. — Desmond falou sem que Cody
compreendesse ao todo suas palavras.
Mesmo sem entender por completo, ele estremeceu. Não de medo, mas de
algo que ele não compreendia bem, mas o atingia fortemente no centro do
peito. Desmond tinha acabado de estacionar em frente à casa de Russell na
fazenda e os dois então se olharam sem saber mais o que falar.
— Eu... — ele tremia e suava. — Eu agradeço, alfa, mas... acho que ainda
não estou pronto para isso... — ele tentou ser respeitoso, dentro do turbilhão
de sentimentos que o assolava.
— Tudo bem, alfa... eu... boa noite. Obrigado pela carona. — o ômega
correu com as palavras, descendo do carro, entrando rápido em casa.
Ele tinha acabado de dar um fora no alfa. E se por um lado isso era ruim,
porque talvez no fundo ele queria ter coragem para ter um encontro com
aquele homem tão intrigante e diferente de tudo o que ele conhecia, por
outro ele sabia que devia estar orgulhoso de si mesmo, porque conseguiu
dizer "não" e fazer valer sua vontade. Ele não estava estragado, de todo
modo. Mas esperava que a recusa não o fizesse ser expulso, porque se isso
acontecesse, Cody certamente não teria mais motivos para acreditar em
ninguém.
***
Seria impensável para Desmond mandar Cody embora por uma recusa, ou
por qualquer outra coisa. Isso nem sequer passou por sua cabeça, mas ele
estava com vergonha por ter se precipitado e por esse motivo não foi à
Tracy no dia seguinte, nem no outro. Não sabia como olhar para Cody
depois daquilo e não queria que o ômega se sentisse pressionado aceitar um
convite apenas pelo fato de ele ser o alfa.
Depois de ter deixado clara a sua intenção, Desmond achou que era hora de
se afastar, deixando Cody em paz. Não era como facilidade que ele fazia
isso, porém. Sozinho em sua casa, toda noite, o alfa pensava nele,
imaginando quão boa a vida podia ser ao seu lado. Sonhando e desejando
que um dia Cody conseguisse superar o que tinha passado e sentindo a dor
aguda de sua ausência.
Tinha vivido sem ele até então, mas depois de o encontrar, parecia que não
seria mais capaz de ter uma vida feliz se não fosse ao seu lado. Suas noites
pareciam vazias e durante o dia ele precisava controlar sua vontade
desnorteante de correr até ele e se certificar de que Cody estava bem.
Mandava executores disfarçadamente à lanchonete, tinha reforçado a
segurança e colocado homens à disposição de Russell para ajudar a
encontrar Rhett, mas Russell estava em lua de mel e a cada dia as buscas
iam se tornando menores.
Cody passou quase uma semana sem ver o alfa. Nesse tempo, muitos
questionamentos surgiram, enquanto ele enfrentava altos e baixos diante
daquela abstinência. Ele tinha consciência de que deveria estar preocupado
apenas em esquecer Rhett e ter uma vida normal, mas era impossível não
notar que a ausência de Desmond o incomodava. Impossível não se
importar com aquilo ou não esperar com ansiedade evidente que ele
entrasse pela porta, tirando seu chapéu e jogando um sorriso atraente e
suave para Cody.
Tais pensamentos, vez ou outra, davam lugar à ideia de que aquilo de fato
era melhor, a ausência e o afastamento. Não queria se meter em problemas
outra vez e embora tivesse menos medo que Abel, mesmo tendo sofrido
mais, ele ainda assim tinha medo.
A mente é um mistério. Cada uma contém em si um universo, cheio de
segredos e recantos próprios, únicos, que acabam por ajudar a fazer de cada
pessoa um ser singular. E a singularidade de Abel o fazia mais medroso que
Cody, embora parecesse completamente o contrário, mas uma coisa os dois
tinham em comum. Os dois estavam apaixonados. E outra coisa eles tinham
de diferente: Abel já sabia que Finn era seu companheiro, enquanto Cody
ainda não fazia ideia.
Isso até chegar o dia da festa. E esse dia foi um divisor de águas.
Evidentemente que Desmond não faria algo como aquilo, embora seu urso
tivesse uma vontade imensa de se mostrar para Cody. Sua discrição, porém,
o impedia. Os outros ursos, no entanto, não eram como ele e assim que
Cody chegou, escoltado por um executor, um urso que estava sentado
próximo ao alfa gritou:
— Sim! Você mesmo! — o homem sorria, feliz por estar fazendo um favor
de ceder o lugar ao companheiro do alfa, mas Cody estava totalmente
confuso. Desmond não sabia bem o que fazer, então se levantou.
Respirando aliviado, Desmond joga um olhar feio para Paul, que acena para
ele sorridente, achando que fez uma coisa boa. O alfa apenas revira os
olhos, pensando no que alguns de seus homens tinham de bons, tinham
também de tapados.
Enquanto Cody falava com o pequeno Billy, ainda meio atordoado com
aquela coisa de companheiro, o alfa conversava com os lobos. Em seguida,
Russell foi falar com Cody, para saber como ele estava. Só depois dos
cumprimentos, eles foram sentar e Cody se sentou com os lobos, em vez de
sentar no lugar vago ao lado do alfa. Não por desfeita, ou algo do tipo, mas
porque até o momento ele estava convicto de que o cara tinha se
confundido. Ele não era o companheiro do alfa.
Desmond ficou um pouco chateado com aquilo, porque, afinal, ele o queria
ao seu lado.
— Não. Você deve estar me confundindo... — ele dizia para o homem que
sorria e apertava sua mão.
— Sim...
— Eu quero ir sozinho.
Cody consentiu com a cabeça, envergonhado demais para olhar nos olhos
do homem.
Foi a última coisa que Desmond falou antes de pedir para uma executora
levar o ômega até sua casa. Sentia-se quase obrigado a se desculpar por ser
companheiro do cara e isso partia seu coração dentro do peito. Voltou à
festa sem vontade de festejar e desejando que terminasse logo, porque para
ele não havia mais motivo de comemoração.
Assim como não havia para Abel, que tinha convidado Finn e o esperou,
mas ele não foi.
Oscilando entre a chateação, a decepção e a raiva, ele também foi para a sua
casa mais cedo, disposto a não responder mais as mensagens do lobo.
Mas logo que anoiteceu ele não aguentou e foi descobrir porque Finn não
tinha ido até lá, afinal. Já tinha tomado banho e estava deitado para dormir
quando a agonia bateu e ele precisou pegar o carro e ir até a alcateia. Por
mais que todos dissessem que aquilo era perigoso, Abel não ouvia ninguém.
— Tem alguém com você? — Abel perguntou sem rodeios assim que Finn
abriu a porta.
— Tá bom.
— Vendo um filme.
— Posso ver com você? — Abel pediu.
Já não tinha mais em mente a tola ideia de levá-lo à loucura, de testar seus
limites. Abel apenas queria que Finnegan cedesse sem que ele precisasse
pedir, mas Finn não podia fazer isso e correr o risco de perder seu
companheiro para sempre. Era preferível ter aquelas dores horríveis nos
testículos, do que ofender e magoar Abel.
Ele não sabia que Abel não se ofenderia mais. Que já tinha ganhado a
confiança do ômega depois de tantos dias de brava resistência. Mas ele
ainda resistia. E mesmo com uma almofada ali entre eles, era como se Abel
estivesse em seu colo, com a cabeça deitada ora em seu peito, ora perto de
seu pescoço. E toda vez que ele falava, seu hálito quente fazia com que o
lobo se arrepiasse e quisesse abraçá-lo.
Até que Abel dormiu, e ele ficava lindo dormindo também. Finn sorriu
olhando para ele, sua respiração já ficando pesada, como seu corpo, e
enroladinho no do beta.
Finnegan latejava ainda nas suas calças quando achou melhor levar Abel
para dormir na sua cama. Resolveu que dormiria ali no sofá mesmo, assim,
o ajeitou em seu colo, ouvindo uns poucos resmungos baixos, que o fizeram
sorrir e se levantou, levando-o em seu colo.
Com o sono ainda leve, Abel acordou no meio do caminho. Suspirou ao ver
que flutuava nos braços de Finn e passou os seus em torno do pescoço do
lobo.
— Você vai me levar pro seu quarto? — ele murmurou no ouvido do alfa.
Seria impossível que ele não correspondesse ao toque dos lábios do homem
que era dele.
Finn podia resistir à vontade de ir até ele, de tocar sua pele, de abraçá-lo,
mas fugir de um movimento de Abel ele jamais faria. Se aquilo fosse um
teste, ele não passaria, porque não só permitiu que a língua do seu ômega
invadisse sua boca, como brincou com a sua na boca dele, massageando e a
pressionando contra a língua ávida do ômega, que parecia saber bem os
caminhos que desejava percorrer.
Sem romper aquele beijo tão esperado, Finn voltou a andar e colocou Abel
na cama. Deixou um beijo curto em seus lábios para encerrar aquele longo e
tratou de sair rapidamente do quarto.
Abel queria muito pedir para ele ficar, mas com o corpo todo dolorido e
extasiado como estava, ele não conseguiu dizer nada. Seu peito se movia
aceleradamente e ele só queria correr para a sala, pular no colo do seu
homem e pedir pra beijar sua boca até o amanhecer. Mas ele ainda não
conseguia se mover, seu corpo dava sinais de excitação evidentes demais
para que ele conseguisse ir até lá e apenas beijar o homem. Então ele ficou.
Levou um bom tempo para conseguir dormir, mas Abel estava feliz e
realizado, porque passaria a noite na cama do seu companheiro, sentindo o
cheiro gostoso e lembrando do sabor do seu beijo.
Capítulo 16
A indefinição pairou no ar durante todo aquele dia, até que, à noite, o lobo
achou que deveria pelo menos enviar uma mensagem dizendo que tinha
amado aquele beijo mais do que qualquer coisa, ou deveria chamar Abel
para jantar. Entre confessar seu óbvio sentimento e ter a possibilidade de
ver o seu ômega, ele escolheu a segunda opção, e foi buscar Abel na
fazenda sem fazer a confissão.
Sem saber para onde ir depois do jantar, Finn dirigiu de volta para a
fazenda, parou em frente à casa de Abel e então os dois se olharam.
— Achei que você ia me levar pra sua casa. — Abel me eu nos cabelos ao
falar e Finn sabia que aquilo significava que ele estava nervoso.
— Então porque você não me abraça? — seus lábios estavam cada vez mais
próximos.
— Porque eu prometi que nunca mais faria nada sem o seu consentimento.
E eu prefiro não te abraçar do que te perder de vez... você não sabe como
tem sido difícil pra mim todos esses dias...
Abel ofegou, sem dizer nada ainda, foi sobre o seu colo e então falou, ainda
mais perto de sua boca:
— Então você tem meu consentimento, pode fazer comigo o que quiser.
***
Passou o dia todo ansioso. Qualquer um que chegava, ele olhava para a
porta, esperando que fosse ele, mas nunca era. Nunca era Desmond.
Não que o alfa não quisesse ir. Estava ele também louco para ver Cody, mas
precisava dar a ele espaço. Já tinha sofrido muito com aquele lobo
desgraçado e a última coisa que Desmond queria era pressionar o ômega.
Então passou o dia ajudando a limpar as coisas de seu quintal, porque o alfa
era um homem de pôr a mão na massa.
***
E, inferno, Finn estava louco com essa versão mais doce do seu ômega.
— Você é o meu ursinho, Abel... — Finn falou sem medo e beijou sua boca
em seguida. Um beijo forte e muito mais dominador que os outros, que
deixou Abel ainda mais molinho em seu colo.
— Eu sou chato, Finn... mas eu gosto de você. — Abel cortou o beijo para
se confessar e aquilo era algo que nem ele próprio esperava dizer tão cedo,
mas seu coração já não aguentava mais de ansiedade, assim como seu
corpo, que implorava pelo companheiro.
— Você não é chato... — Finn acariciou seu rosto. — Não posso dizer que
você seja fácil...
— os dois riram. — Mas eu esperaria o tempo que fosse preciso pra você
confiar em mim, meu amor.
— Você me torturou com sua paciência, lobo! Nem eu esperava que você
fosse aguentar tanto... — Finnegan riu ao ver o cenho de Abel se franzir.
— Posso te levar pra minha casa e acabar com essa espera, ursinho?
— Eu esperei por tantos dias, meu ursinho... você não pode mesmo esperar
até chegarmos a minha casa? — Finn falou com jeito.
— Você é um manipulador, lobo! — o urso deu um beijo em sua boca e
desceu de seu colo.
lo sem receio, mas era ainda melhor poder beijá-lo. Na boca, no pescoço, e
onde quisesse. Tinha carta branca e a usaria com gosto.
— Se você me segurar por aí vai ter que fazer mais que me beijar, lobo...
— Você é um safadinho, não é, meu ômega? Quem diria que você gostaria
de se sentir controlado? — Finn sorriu satisfeito.
— Abel... — Finn latejou. — Claro que vou morder você, meu ômega...
mas antes, já que você me chamou cachorro todos esses dias... acho que
está na hora de você me compensar, não acha?
Depois de tantos dias de provocações e tantos anos sem ser tocado, não foi
possível que Abel aguentasse muito tempo. Quando as mãos habilidosas do
seu grande lobo o despiram ele já expelia uma quantidade tão grande de
excitação pelo pênis que Finn achou que ele fosse gozar antes que seus
lábios pudessem tocar o seu ponto rosa.
Isso, no entanto, não foi o que mais impressionou Finn, mas, sim, o fato de
haver facas e pistolas nas meias e em fitas amarradas no ômega. O lobo
sorria ao tirar aquelas armas do corpo do seu pequeno companheiro,
colocando cada uma delas sobre a mesinha de cabeceira.
Finn sorriu para o ursinho, levando-o para o seu colo, abrigou-o em seu
corpo e acariciou seus cabelos, enquanto o sentia ofegar. Logo Abel
procurou a boca de Finn para mais beijos e ficou duro de novo.
— Você quer entrar em mim agora?
O lobo deu a ele muito mais do que ele pediu. Ou exatamente o que ele
queria. Uma foda forte e carinhosa, cheia de beijos e olhares, culminando
em mordidas inebriantes e amorosas. 5
Capítulo 17
Deu um longo suspiro quando Tracy passou pelas suas costas e resolveu
perguntar a ela, de uma vez, se sabia do amigo.
— Eu nunca mais vi o alfa. Você sabe por que ele não vem mais?
— Bom, desde que você deu o fora nele, ele partiu pra outra. Soube que ele
tem até um encontro. Deve estar tentando te esquecer, né, lobinho? Já que
você não quer nada com ele.
Aquilo partiu o coração de Cody em múltiplos pedaços. Não que ele tivesse
esperança que o alfa fosse esperá-lo para sempre. Mas tinha se passado
apenas poucos dias.
— Eu... não dei um fora... — Cody mal conseguiu falar, assim como mal
conseguiu terminar de trabalhar naquele dia.
Flutuou seu corpo pela lanchonete o dia todo com vontade de chorar e com
o coração quebrado. Chegou em casa arrasado, com o rosto inchado de
chorar pelo caminho. Entrou no chuveiro e lá chorou mais, lamentando
aquele infortúnio. Não imaginava que aquilo fosse incomodá-lo como
estava incomodando.
Quando saiu do banho, saiu tomou uma decisão. Trocou-se e foi até a casa
do alfa. Se ele estivesse com alguém lá, pelo menos colocaria logo um fim
naquilo.
— Não desiste de mim. — ele pediu da forma mais meiga que Desmond já
vira e ainda que não tivesse pedido, não havia forma de que Desmond
desistisse dele.
— Por que você acha que eu faria isso? — o alfa segurou seu rosto para
dizer e então Cody se esticou, encostando seus lábios com pressa, pulando
em seus braços.
Sem quebrar aquele primeiro beijo, Desmond levou seu ômega para dentro
e fechou a porta, podendo se entregar melhor ao companheiro. E Cody
estava ansioso por ele, beijando-o como se fosse mesmo perdê-lo.
— Calma, meu anjo... está tudo bem... estamos só nós dois aqui. — Des o
abraçou com carinho.
— Você não vai mesmo fazer isso? Não vai me trocar por outro?
Desmond riu.
— Ela te enganou.
— Não me diga isso, meu anjo... não quero que chore. Saiba que não
importa o que te disserem, eu não vou trocar você por ninguém. Mesmo se
você não me quisesse, eu te esperaria.
— Desmond...
Mas algo muito estranho acontece quando Desmond chega todo sorridente e
ansioso no dia seguinte, tirando o seu chapéu, procurando Cody com os
olhos.
— Ele não veio hoje. Achei que estivesse com você. — ela sorri, lembrando
da peça que pregara no lobo.
***
Vivendo em uma cabana na floresta que o antigo alfa usava para esconder
armas, afastada e escondida, os três planejavam a morte de Russell, mas
antes que isso fosse possível, Rhett queria seu namorado de volta. Porque
achava que Cody era propriedade dele, ainda que não fossem
companheiros.
Cody estava preso a uma cama, amarrado e dopado para que não
conseguisse se transformar e fugir. Quando acordou, sua cabeça rodava e
ele sentia uma forte vontade de
vomitar. Não tinha forças para se levantar e sentia que suas roupas estavam
molhadas. Ele tinha se urinado. A sensação era horrível, mas pior ainda era
sentir o cheiro de Rhett e saber que a qualquer momento ele entraria por
aquela porta e faria com ele o que quisesse.
Um dos homens levou um lanche e um copo com água para Cody, mas ele
não conseguiu comer. Tinha fome, mas se sentia enjoado pela alta dose de
sedativo. Pediu calças secas, mas o homem disse que apenas Rhett poderia
fazer isso e ele não estava. Cody voltou a dormir molhado e fraco como
estava.
Acordou horas depois, com Rhett arrancando suas calças e trocando sua
roupa.
— Espero que logo eu possa te soltar, Cody. Quando você não quiser mais
fugir de mim. —
o lobo falou.
Cody tentou se encolher, cobrir sua intimidade, mas amarrado como estava,
não foi possível.
— Para de ser bobo! — o homem falou rudemente. — Não tem nada aqui
que eu não tenha visto. E comido. — ele gargalhou.
— Não vou fazer nada com você agora. Quero você bem acordado pra
quando a gente for brincar. E saiba que nunca mais você vai fugir de mim.
Nem que eu tenha que te manter preso pra sempre. — Rhett acariciou seu
rosto e Cody tentou se esquivar, cheio de asco.
— Não se afaste! — Rhett gritou. — Acho que você não entendeu que eu
posso fazer o que eu quiser com você. Ainda mais do que antes. — um
sorriso cínico e vencedor brilhou no rosto sádico do homem.
Embora não fosse um trecho longo de mata, a cabana ficava bem escondida
e no extremo noroeste do lugar, uma região de mata mais densa que
nenhum shifter costumava frequentar.
Nem mesmo os lobos. Buscas já haviam sido feitas por ali e nada foi
encontrado, porque a cabana ficava realmente escamoteada entre árvores e
os lobos sabiam disfarçar o próprio cheiro com uma mistura de plantas
específicas passada no corpo.
Já amanhecia quando Desmond fez com que Abel voltasse para a sua casa.
Ele tentou retrucar, mas estava cansado demais. Foi. Desmond foi apenas
até seu carro, estacionado na entrada da mata e lá dormiu por cerca de duas
horas, antes de retomar as buscas. Sozinho na floresta, pôde sentir melhor
os odores no ar e assim ele se concentrou em cada rastro que poderia ter
deixado o seu doce companheiro.
Caminhou por algum tempo até o algo voou até ele. Desmond o farejou,
rastreou um pequeno sinal de Cody e aquilo era o suficiente. Ninguém mais
o sentia como ele. Ninguém mais o encontraria a uma distância tão grande.
O alfa estava cheio de raiva. Como nunca antes, em todo o seu tempo de
vida, ele estava obstinado e assim que encontrou a origem do perfume,
atirou no primeiro homem que surgiu na porta, pois ele já tinha sentido o
seu cheiro. O tiro preciso na cabeça o fez ir ao chão, então a fúria tomou
conta de Desmond e seu urso tomou seu lugar. E o animal tinha proporções
tão descomunais que o outro lobo que estava dentro da casa não conseguiu
atirar, perdendo o controle nas mãos. Desmond correu até ele e quebrou seu
pescoço, vendo-o cair no chão. Urrou para o alto, jogando o que havia à sua
frente para o lado e rumando em direção ao odor agora inequívoco do seu
companheiro.
O urso bramiu feroz, olhando para trás. O humano por dentro sabia que
seria preciso disparar muitas balas para atravessar o urso e atingir o lobo
preso à cama, por isso Desmond não se intimidou. Se Cody corresse algum
risco, se ele não estivesse certo de que a enormidade de seu corpo o
protegeria, não caminharia irado pra cima de Rhett como fez. Não o
agarraria e apertaria seu corpo tão forte, tão violento, que era possível sentir
seus ossos se quebrando, rasgando os órgãos.
Quando Desmond o soltou, foi direto para onde estava Cody, sem perceber
que mesmo todo quebrado, o corpo caído de Rhett estava mudando, ele
estava se transformando em seu lobo e quando isso acontecesse, ele fugiria
dali com vida. Mas nem Rhett nem o alfa contavam com a desobediência de
Abel, que, em vez de voltar para casa, ficou pela floresta esperando o
momento certo de pegar o maldito lobo que o tinha atacado e que tinha
sequestrado seu amigo.
***
Secou-o e enxugou seu corpo, vestindo nele uma roupa limpa. Deitou-o em
sua cama e deu a ele de comer na boca. Uma sopa leve, de caldo fino, mas
feita com legumes e carne, bastante nutritiva para alguém que estava sem
comer.
— Me perdoe por não ter te encontrado antes, meu amor. — Des dizia ao
dar-lhe a sopa com cuidado e carinho. Cody ainda estava meio anestesiado
do forte sedativo, mas conseguia comer e sorria para o alfa. Não conseguia
ainda falar direito e explicar o que tinha acontecido, bem como ainda não
sabia que Rhett estava morto e não havia mais perigo para ele.
— Você está seguro agora. Nunca mais vou permitir que te façam mal,
querido. Agora durma tranquilo. Amanhã quando estiver bem poderá voltar
para a sua casa se quiser. Se não quiser, pode ficar aqui.
***
— Você me salvou... —
— Eu só peço desculpa por não ter conseguido chegar até você antes, meu
anjo... você estava tão perto de mim e eu permiti que te ferissem...
— Não foi sua culpa, Des... não diga isso... — Cody puxou seu rosto
levemente com a mão e levou seus lábios até os dele, provando-os pela
segunda vez.
Então Cody soltou um pequeno grunhido de lobinho feliz e aos poucos foi
se soltando do abraço, porque ele queria a boca do alfa na sua. E assim que
o beijou, pôde mostrar para Desmond o que ele realmente queria dizer
quando falou que queria dormir com ele.
Capítulo 18
Desmond até que tentou ir devagar, porque afinal de contas, Cody tinha
sofrido muito naqueles dias, mas seu pequeno lobo ômega tinha outras
intenções. Com os calores de seu cio se aproximando e aquela doce
sensação de reencontro, ele só pensava em uma coisa. Por isso, tirou a
própria roupa devagar e foi por cima do urso alfa.
Foi com suas mãos que Cody tirou a blusa de Desmond para beijar-lhe o
tórax com a mesma vontade que o tinha beijado na boca. O ômega se
preparava para baixar suas calças quando o alfa achou que seria bom se
certificar, antes de dar o próximo passo.
— Tenho muita certeza, alfa... — Desmond viu seu rostinho sorrir, antes de
suas mãos buscarem o seu pênis dentro da calça.
— Claro, meu Cody... mas... olhe pra você, querido... — o alfa o segurou
pelo queixo, sorrindo. — Seus dentes estão grandes...
— Você está adorável, meu lobo... me deixe tocar esses dentinhos. — o alfa
alisou as pontinhas salientes antes de puxá-lo para cima e beijar sua boca
com aqueles dentes afiados.
Seus lábios beijaram a boca do ômega, de maneira que ele podia sentir suas
presas com a língua que passeava por ele. Ajeitando Cody sobre seu pênis
descoberto, ele o beijava intensamente, até arrastar sua boca pela pele do
pescoço, chegando com beijos até a orelha, onde falou baixinho que era e
estava lindo.
Levando-o de volta para cima, o alfa beijou sua boca com força, sentindo-o
perder o fôlego com suas investidas para dentro dele. E antes que ele
pudesse recuperar o ar, Desmond girou seu corpo na cama, livrando-o das
roupas e desceu beijando a pele quente do seu lobinho que gemia a implorar
por ele.
Eles mal tinham começado e Cody já podia perceber o quanto Desmond era
diferente de Rhett. Beijando-o por longos períodos, admirando seu corpo
como era, tão menor e com poucos pelos, inalando sua pele por onde
passava. Chupou sua entrada, forçando a língua para dentro, como se ela
pudesse passar sem ajuda.
Cody gemia e se esticava para trás, mostrando-se para o seu alfa, deixando
claro que o queria.
Cody se sentia flutuar, como se pudesse gozar apenas com aquilo, mas
assim que dois dedos o abriram o suficiente, sempre sob as palavras
reconfortantes do alfa, Desmond começou a entrar. A cada pedaço deixava-
o se acostumar, até que o próprio Cody começou a se mover em torno de
seu membro.
Logo ele voltou a se colocar para dentro, suspendendo suas lindas pernas,
bombeando-se para o fundo.
— Eu queria tanto isso, Des... — Cody murmura, a cabeça jogada pra trás,
as unhas de seu lobo saindo e entrando nas costas do alfa.
Mas antes que Desmond pudesse solicitar sua marcação, o ômega explodiu
com a boa fricção entre seus corpos, tomando Desmond em seu ânus, com a
força ideal, dominante e doce, sentindo seu pênis esvaziar, tingindo seus
corpos.
Vendo aquela cena, do seu companheiro gritar o seu nome, o alfa também
gozou, caindo sobre Cody, dizendo que o amava. Tendo que deixar a
marcação para depois.
***
Ainda era cedo quando Russell chegou à casa de Desmond. Queria saber
sobre Rhett e dar aquele assunto como encerrado.
Com Cody ainda dormindo em sua cama, Desmond atendeu o alfa dos
lobos no escritório e depois de uma breve conversa, na qual tudo fora
esclarecido e Russell se desculpava por não ter conseguido pegar Rhett, o
lobo deu a notícia que fez com que Desmond se arrependesse de não ter
reivindicado seu companheiro com mais rapidez na noite anterior.
— Pode dizer a Cody que ele pode voltar para a alcateia. Tudo está em
ordem agora. —
Desmond o acompanhou até a porta e em seguida foi preparar algo para ele
e Cody comerem. A tristeza já o acompanhava e quando ele chegou no
quarto com o café da manhã do seu ômega, o alfa não tinha vontade de
contar para ele o que Russell tinha dito.
Olhou-o dormir por alguns segundos, tão lindo espalhado entre seus
lençóis. Parecia confortável e levava ainda mais conforto ao coração de
Desmond tê-lo ali. O alfa o acordou com delicadeza e o viu sorrir. Pela
mente de Cody passava as cenas da noite anterior, com suas partes quentes
e ternas, que o enchiam de plenitude.
Como ficou feliz com aquele gesto simples de seu companheiro, mas que
significava tanto para ele, principalmente porque ninguém nunca tinha feito
a Cody aquela gentileza.
— Ele disse que você pode voltar... que a alcateia está segura. — Desmond
falou sem olhar para ele.
— Você sabe que não precisa ir, não sabe? — Des sentia o coração pulsar
intenso.
— Russell deve estar precisando que eu desocupe a casa... — ele olhou para
baixo novamente e só então Desmond percebeu que talvez ele pudesse
também estar triste.
E foi naquela manhã que Cody ganhou sua marca. Ganhou seu
companheiro e ganhou também uma família que se iniciava. Começava de
verdade sua vida no bando dos ursos, ao lado de seu companheiro.
***
— O quê?
— Isso deve ser pelo tanto de doce que você comeu ontem. — Finn sorriu,
beijando sua têmpora e alisando o levemente avantajado abdome.
— Não estou com prisão de ventre, Finnegan! — Abel olhou para ele
nervoso.
— Eu vou ter, né? É sua culpa isso, Finn! E agora? O que vamos fazer?
— Como assim que vamos fazer?
— Não. Você está louco. Não tem como eu morar em um canil. — ele riu
do próprio deboche.
Abel grunhiu.
— Eu não te maltrataria, ursinho... agora venha, vou te levar pra cama pra
gente comemorar o nosso bebê. — Finn o pega no colo.
***
— O que vai acontecer comigo? Você vai me expulsar? Não vai mais me
querer como companheiro?
— Que você nao vai trabalhar. — Russell riu. — Vai ficar mais tempo aqui
em casa, até eu dar um jeito em você, meu grandão. — Rus o leva para o
seu colo.
Rus o deita na cama, já tirando sua blusa, acariciando seu peito liso e
musculoso, mas suave como como pele de bebê.
— Ele disse que você era um nanico filho da puta que gostava de comer
lobos grandes.
— Bom. Ele mentiu quando disse que gosto de comer lobos grandes.
— Mentiu?
— Mas agora eu vou cuidar de você, lobo grande. Vamos fazer o que
Payton disse que eu gosto de fazer... — Russell sorriu e assim começaram
os dias de suspensão de Cameron.
***
Algum tempo havia se passado desde que Cody tinha sido resgatado e os
ursos deram um fim em Rhett. Abel tinha ido morar com Finn e os dois já
eram três.
— Preciso, Finn. Não confio muito em todos esses lobos. — Abel diz ao
pegar Chloe nos braços e cheirar seus cabelos. — E eu tenho essa lindeza
pra proteger... — ele esfrega o nariz no da filha. — Ou você acha que eu
posso depender de você? — ele brincou, joga do um sorriso provocador
para o companheiro.
A bebê tinha os cabelos claros como os de Abel, mas os olhos mais escuros
como os de Finn.
lobos — que ele não chamava mais de cachorros —, mas porque ele era tão
protetor com a filha como o companheiro era com ele, o que fazia com que
Finn pudesse trabalhar tranquilo, sabendo que a filha estava em segurança.
O que o preocupava mesmo era Abel, que era um pouco instável, embora
ele estivesse muito mais calmo e precavido depois do nascimento de Chloe.
Seu ursinho era um ômega bastante valente, mas quando estavam no quarto
ele amansava como um filhote e os dois brincavam por horas depois de
Chloe dormir.
Abel descobriu que Finn não tinha uma família escondida, ou uma vida
dupla. No fim das contas, a família que eles formaram era a coisa mais
importante de sua vida. Finn o fazia feliz como ele não imaginava que
podia ser e nem se lembrava do medo que tivera um dia de uma relação
séria. Afinal, agora era ele quem tinha uma família. Mais do que isso: uma
família cheia de amor e lealdade. E um companheiro que compreendia suas
maluquices e excenticidades. 5
— Vai pra casa, Cody! Não vou deixar você trabalhar assim.
Cody pegou o casaco e foi caminhando para a casa. A casa do alfa, que
agora era também a sua e era o melhor lugar do mundo para estar. Para se
criar um filho, para ter uma família. Sua barriga estava realmente enorme,
porque ele esperava dois bebês. E tanto ele quanto o alfa não viam a hora de
tê-los nos braços, porque se juntos a vida já ganhara novas cores, com a
chegada dos filhotes, tudo seria perfeito. Como os dois queriam. Como
Cody merecia.
Epílogo
— Calma, bebê. Vai dar tudo certo. — acariciei sua mão sobre a coxa,
enquanto eu dirigia.
Ao longo daquela semana, eu dediquei algum tempo depois do jantar a
ensinar Billy a mexer nos materiais que compramos pra ele. Como havia
pouca coisa de material escolar na casa de Cam, ele mal sabia o que era um
lápis de cor. Não havia como culpar Cameron por isso, no caso dele nem
era considerado uma falha, porque ele mesmo não tinha condições de muita
coisa. Mas agora, nós dois juntos, poderíamos proporcionar a Billy outras
oportunidades. Não apenas materiais.
Fomos de mãos dadas com Billy, um de cada lado, e não posso negar que
meu coração também acelerou. Por algum motivo, aquele era um momento
importante pra mim, como se consolidasse os dois como minha família de
verdade, aos meus olhos e aos olhos do mundo.