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Amigos improváveis

Uma vila remota, Jáckrina de seu nome, entre a floresta verdejante na encosta da serra
virada a poente, nos arredores do condado de Fantes, num casebre mais parecido com um
curral do gado, vivia como indigente o Totó. Verdadeiramente ninguém sabia seu nome,
supostamente Anthony, vesgo, corcunda, desdentado e cocho, tinha tudo no lugar para
quantos adjetivos lhe quisessem atribuir. - Acumulava ainda a fama de mau e feio.

Deambulava pela vila nas suas velhas calças de serrabeco com alguns remendos por aqui
e ali, uma camisola velha que já tinha servido a alguém muito maior e um casacão sujo e
meio-rasgado igualmente grande.

Esta figura castiça e com fama de mau, provocava por natureza o afastamento das gentes
da Vila e das quintas circundantes quando pela vila ou redondezas circulava.

Não fora já o quadro citado, mau por natureza, fazia-se acompanhar de um cão de
razoável tamanho que rosnava por tudo e por nada, era o Bobby, pardacento, raça
indefinida, assustador de muita gente nomeadamente das crianças, das jovens e donzelas,
tal como dos rapazes. Tinha de facto algum comportamento regular com as pessoas
adultas, pois em relação a outros animais…ai meu Deus, não queiram imaginar o
bicho…era mesmo muito mau!

Já na encosta virada a sul, à saída da vila, a família Kent, tinha uma grande propriedade
com cerca de 1700 hectares, ali havia de tudo, no lago uma quantidade substancial de
aves incluindo patos, gansos e faisões, os pastos serviam seus banquetes de excelentes
ervas ao rebanho misto de caprinos e ovinos, equinos, bovinos, e restante gado que por ali
abundava!

Robert Kent, o criador e proprietário da fazenda tinha uma família vasta de 5 filhos entre os
3 e os 16 anos. - 3 Meninas e 2 meninos, todos em escadinha com diferença média de 3
anos. Eram o orgulho e a vida daquela nobre e trabalhadora família, ajudada por 9
serviçais que a todo o trabalho deitavam mão, e por vezes, ainda tinha de deitar mão a
pessoal extra!

Filhos de família farta, os pequenos jovens faziam o percurso escolar natural à época dos
anos 50, do passado século XX. - A mais velha, Ruth nos seus 16 anos era uma loira,
jovial e extrovertida, já os dois irmãos rapazes e a irmã mais nova, cordiais de trato fácil e
amigos de toda a gente!

Destacava-se pelo caracter diferente de todos os irmãos, a pequena Elizabeth nos seus 6
anos de vida, rebelde, cabelos cor de fogo, sardenta, além de muito irrequieta…diziam que
saiu à avó Sarah…aquela criança era fogo!

01/05/2023 22:30 – Autor: Ângelo P. Cruz. *Autorizo a reprodução do texto na íntegra, não parcialmente.
Nada lhe metia medo, até as tropelias lhe corriam bem, e assim, descobrimos a nossa
heroína desta história!

Naquela manhã de nevoeiro em plena primavera, a pequena Elizabeth brincava num prado
junto à estrada da vila, nisto, ouve-se um rosnar a cerca de 30 metros no caminho do
entroncamento com a estrada, a pequena menina nem estremeceu, dalguma forma,
inconsciente pelo fator idade, retira da boca cerca de meia sandwich ainda não comida,
estende a mão na direção do canino, resplandece largo sorriso em seu rosto, e, caminha
calmamente na direção do cão. Este fica atento, indeciso, e avança lentamente na direção
da oferta inesperada.- Surpreendidos pela ação os 2 irmãos que seguiam um pouco atrás
ficam paralisados, cheios de temor e incrédulos, contudo, ganham coragem para avançar
até próximo da irrequieta irmã…

O Tóto que entretanto surge na curva do caminho, estremeceu, qual árvore fortemente
sacudida pelo vento, e pensou…estou desgraçado para a vida!

Foi avançando, chamando o cão e falando palavras que só ele entendia, na esperança de
controlar o cão antes de uma desgraça!

Elizabeth, sentada no chão, falava em tom suave enquanto continuava a fazer a oferta dos
Deuses àquele cão desconhecido, parado à sua frente com o olhar atento e indeciso!

Os 2 irmãos tremiam, ansiosos, confusos, indecisos mesmo, sobre a melhor atitude a


tomar, avançar ou não avançar!

Finalmente, o cão avança dois passos e agarra naquele lanche que a menina lhe oferece,
ela faz-lhe festas na cabeça, fala-lhe suavemente próximo da orelha esquerda, enquanto
ele devora o petisco!

Os irmãos avançam também e, agora com coragem redobrada seguem o exemplo da irmã,
fazendo festas ao cão, perderam o medo!

Totó, junta-se ao grupo e começa a balbuciar coisas sem nexo!

Entretanto acalmou, dirigiu-se às crianças e falou…meus amigos, hoje, é um dia muito feliz
para mim, encontrei boas pessoas que não me excluíram, deixaram o Bobby fazer amigos
e como se diz…os amigos do Bobby, meus amigos são!

Agora resta-nos irmos todos para casa, não esquecerei este dia maravilhoso!

01/05/2023 22:30 – Autor: Ângelo P. Cruz. *Autorizo a reprodução do texto na íntegra, não parcialmente.

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