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A senhora Blandina

Num profundo vale, situado entre montanhas, numa velha e


praticamente abandonada aldeia, chamada Paraíso, vivia a
última habitante daquela localidade: a senhora Blandina.

Era uma velhinha, tão velhinha que já nem se lembrava que


idade tinha. Ali nascera há, portanto, muitos anos. Casou, mas
nunca teve filhos. O seu amado marido morreu, como foram
morrendo todos os outros habitantes da aldeia que não
emigraram. Apesar dos muitos conselho e sugestões de
amigos, familiares distantes e pessoas ligadas à Segurança
Social, a velha Blandina recusou-se sempre a abandonar a sua
casa e a terra amada e por lá foi vivendo, tendo por companhia
dois animais de estimação, um porco e um javali.

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O velho porco, o Tobias, foi criado por ela desde pequenino
e sempre a acompanhava para onde quer que ele fosse. Era um
autêntico cão de companhia, que não fazia jus ao nome e
passou a dormir aos pés da cama da dona.
Quanto ao Tarolas, o javali, aparecera por lá, ainda bastante
novo, com um terrível ferimento de uma bala. Provavelmente
teria sido provocado por algum caçador furtivo, pois naquela
região estava proibida a caça. Quando a velha Blandina o
encontrou, ele estava mais morto do que vivo e, em vez de o
transformar em deliciosos torresmos, a pobre senhora ficou
destroçada com pena do bicho. Levou-o para a sua modesta
habitação e, durante mais de duas semanas tratou do
pobrezinho, que acabou de recuperar e se transformou no
terceiro habitante da casa e da aldeia.

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Tobias e Tarolas passaram a ser a família de Blandina e
tornaram-se nos maiores amigos do mundo. Andavam sempre
juntos. Quando, por alguma razão, algum se afastava – nem
que fosse para fazer as necessidades fisiológicas – o outro ia
logo à sua procura, com medo que lhe tivesse acontecido algo
de mal. Quando não iam com a velha senhora para os campos,
entretinham-se a brincar um com o outro. Muitas vezes
desafiavam a velhinha para que entrasse nos seus jogos, mas a
idade não permitia que ela aceitasse a maior parte dos
desafios.

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Certo dia, quando os três semeavam milho – os dois
abrindo regos com os duros focinhos e ela deitava o milho e
arrasava os regos –, a velhinha começou a gemer e ter atitudes
estranhas. Parecia que tinha bebido uns campos a mais, como
fazia sempre na última noite do ano.

Acabou por se deitar debaixo de uma figueira e adormeceu.


Devia ter mesmo muito sono, porque, nos quatro dias que se
seguiram, ela não acordou, apesar das inúmeras tentativas dos
dois para a acordarem.

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Na manhã do quinto dia, um pastor, com o seu rebanho,
viera interromper aquele jogo interminável. Horas depois, uns
homens com umas roupas todas iguais e esquisitas correram
com os pobres animais à pedrada e à paulada e meteram a
Blandina num saco e levaram-na num carro também esquisito,
que fazia um barulho ainda mais esquisito e irritante.

As semanas que se seguiram foram terríveis! A fome e a


saudade da senhora quase matou os dois amigos. Para piorar
as coisas, começaram a aparecer por lá uns homens com uns
cães terríveis que, por muito pouco não os mataram aos tiros.
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Passaram dias e dias escondidos nos matagais que rodeavam a
aldeia, ansiosos por voltar a ouvir a voz da pessoa amada. Mas
ela não voltou. Então, eles decidiram ir à procura dela. Ao
anoitecer, puseram-se a caminho.

7ºA (Fábio Barbosa) – Orientação Prof. Francisco Magalhães


Sem saber por onde iam, pois nunca tinham saído daquela
aldeia, tentaram ir à procura do carro esquisito que levou a
senhora Blandina. Muito tristes, desanimados e com muitas
saudades, seguiram rumo à floresta por onde tinham avistado
o carro a desaparecer. Algumas horas depois, já muito escuro,
com muito frio, exaustos e famintos, decidiram descansar.
Estava uma noite calma, ouviam-se barulhos que para eles
eram estranhos. Com a ajuda do luar que se fazia essa noite,
avistaram uma gruta entre um monte de pedras. Quando se
aproximaram da gruta, saiu de lá um bando de morcegos e o
porco Tobias começou a guinchar: hi, hi, hi, hi, … e o Tarolas
que já estava habituado a esses barulhos, esperou que os
morcegos saíssem e acenou para o Tobias entrar. Ali passaram
a noite.
Acordaram com um barulho esquisito e irritante, parecido
ao barulho do carro que levou a senhora Blandina.
Sobressaltados, saíram da gruta a correr, quando se
aperceberam que o barulho vinha de muito longe, já mal se
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ouvia, pararam para comer frutos silvestres e folhas de
algumas plantas que por ali cresceram. Continuaram o seu
caminho, quando, de repente, cruzaram-se com um grupo de
homens com armas e cães ferozes. Os dois amigos desataram a
correr sem rumo, queriam esconder-se daqueles malditos
homens e cães. Correram, correram, correram que os homens
perderam o rasto dos dois amigos. Ao afugentarem-se
perderam-se na floresta. Andaram às voltas e mais voltas, à
procura do caminho por onde deveriam seguir, e não a
encontraram. Estavam perdidos!...

Quando estavam contentes e com esperança de ver a velhinha,


voltaram a ficar tristes e desanimados para prosseguir
caminho. Não sabiam para onde ir. Por ali ficaram alguns dias.
Começaram a habituar-se a viver os dois sozinhos, não era
uma vida muito fácil, mas não lhes restava outra solução.
Um dia encontraram um carro, mas quando eles se
aproximaram, este começou a andar. Ficaram curiosos e foram
atrás dele para ver o que ele trazia. Os dois amigos pensaram:
-Será que ele traz ali a senhora Blandina? Será que ela anda à
nossa procura?

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Tudo os fazia lembrar a amiga velhinha, estava a ser
difícil ultrapassar todos os perigos da floresta sem a velhinha.
Era o guarda-florestal que andava a fazer a sua ronda. Ele
vivia numa casa de madeira no ponto mais alto da floresta,
com a mulher e com os seus dois filhos. O mais velho que
tinha dezoito anos chamava-se João. O mais novo que só tinha
nove anos, chamava-se Bruno. Apesar da diferença de idades
brincavam como se fossem duas crianças. O João apesar de ser
adolescente, adorava as brincadeiras do irmão, porque ele era
muito desejado. Gostava de ter mais, porque viver na floresta
causava solidão.
O senhor Alfredo, o guarda-florestal, levava os filhos
com ele para aprenderem os perigos da floresta e um dia
seguir os seus passos.
Tobias e Tarolas seguiram o rasto do senhor Alfredo, mas
quando deram conta estavam ao pé de uma casa.

Trabalho realizado pela turma R6 – 3º ano (Orientação


professora Emília Loureiro)

Os dois animais espreitaram pela janela. E que viram


eles? Nada mais nada menos, que a D. Blandina presa a uma
cadeira com um aspeto cansado, triste e desolador. A seu lado,
estava um homem alto, magro com uma grande cicatriz na
cara.
Pensaram num plano e puseram-no em prática.
Atiraram pedras para o telhado, janelas e porta com muita
insistência. O homem saiu da casa e caiu num buraco que

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estava próximo da entrada e que tinha sido previamente
escavado pelos dois amigos.

Rapidamente, entraram na casa e salvaram a amiga,


levando-a para longe dali.

Turma 6º B (orientação da prof. Paula Lobão)

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