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1
O velho porco, o Tobias, foi criado por ela desde pequenino
e sempre a acompanhava para onde quer que ele fosse. Era um
autêntico cão de companhia, que não fazia jus ao nome e
passou a dormir aos pés da cama da dona.
Quanto ao Tarolas, o javali, aparecera por lá, ainda bastante
novo, com um terrível ferimento de uma bala. Provavelmente
teria sido provocado por algum caçador furtivo, pois naquela
região estava proibida a caça. Quando a velha Blandina o
encontrou, ele estava mais morto do que vivo e, em vez de o
transformar em deliciosos torresmos, a pobre senhora ficou
destroçada com pena do bicho. Levou-o para a sua modesta
habitação e, durante mais de duas semanas tratou do
pobrezinho, que acabou de recuperar e se transformou no
terceiro habitante da casa e da aldeia.
2
Tobias e Tarolas passaram a ser a família de Blandina e
tornaram-se nos maiores amigos do mundo. Andavam sempre
juntos. Quando, por alguma razão, algum se afastava – nem
que fosse para fazer as necessidades fisiológicas – o outro ia
logo à sua procura, com medo que lhe tivesse acontecido algo
de mal. Quando não iam com a velha senhora para os campos,
entretinham-se a brincar um com o outro. Muitas vezes
desafiavam a velhinha para que entrasse nos seus jogos, mas a
idade não permitia que ela aceitasse a maior parte dos
desafios.
3
Certo dia, quando os três semeavam milho – os dois
abrindo regos com os duros focinhos e ela deitava o milho e
arrasava os regos –, a velhinha começou a gemer e ter atitudes
estranhas. Parecia que tinha bebido uns campos a mais, como
fazia sempre na última noite do ano.
4
Na manhã do quinto dia, um pastor, com o seu rebanho,
viera interromper aquele jogo interminável. Horas depois, uns
homens com umas roupas todas iguais e esquisitas correram
com os pobres animais à pedrada e à paulada e meteram a
Blandina num saco e levaram-na num carro também esquisito,
que fazia um barulho ainda mais esquisito e irritante.
7
Tudo os fazia lembrar a amiga velhinha, estava a ser
difícil ultrapassar todos os perigos da floresta sem a velhinha.
Era o guarda-florestal que andava a fazer a sua ronda. Ele
vivia numa casa de madeira no ponto mais alto da floresta,
com a mulher e com os seus dois filhos. O mais velho que
tinha dezoito anos chamava-se João. O mais novo que só tinha
nove anos, chamava-se Bruno. Apesar da diferença de idades
brincavam como se fossem duas crianças. O João apesar de ser
adolescente, adorava as brincadeiras do irmão, porque ele era
muito desejado. Gostava de ter mais, porque viver na floresta
causava solidão.
O senhor Alfredo, o guarda-florestal, levava os filhos
com ele para aprenderem os perigos da floresta e um dia
seguir os seus passos.
Tobias e Tarolas seguiram o rasto do senhor Alfredo, mas
quando deram conta estavam ao pé de uma casa.
8
estava próximo da entrada e que tinha sido previamente
escavado pelos dois amigos.