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ANAIS DO I COLÓQUIO DISCURSO E PRÁTICAS CULTURAIS, 1, 2009. Fortaleza. Anais...

Fortaleza: Grupo de Pesquisa Discurso, Cotidiano e Práticas Culturais (Grupo Discuta), 2009.

ARABISMOS NA LITERATURA DE CORDEL

Samantha de Moura Maranhão


UFPI / UFC / CAPES

Ce texte analyse la presence d’arabismes dans la littérature populaire nordestine. Le corpus de la


recherche est constitué par 13 textes poubliés parmis les années 2001 et 2007. L’hypothèse verifiée c’est
que il y a des arabismes dans la littérature de cordel et une deuxième hypothèse c’est que ce vocabulaire
designe exclusivement la culture arabique-musulmane. L’analyse se base sur la Sociolinguistique du
contact intercommunautaire et sur la conception de la langue come vehicule d’expression et de
transmission de la culture dont elle est aussi le resultat.

MOTS-CLÉS: Sociolinguistique; contact luso-arabe; littérature de cordel.

Este texto analisa a presença de arabismos na literatura popular nordestina. O corpus de pesquisa é
constituído por 13 textos publicados entre os anos de 2001 e 2007. A hipótese testada é de que a
literatura de cordel registra arabismos e a hipótese secundária é que este vocabulário designa
exclusivamente a cultura arábico-muçulmana. A análise se baseia na Sociolingüística do contato
intercomunitário e na concepção da língua como veículo de expressão e de transmissão da cultura da
qual também é o resultado.

PALAVRAS-CHAVE: Sociolingüística; contato luso-árabe; arabismos; literatura de cordel.

1. INTRODUÇÃO

Este estudo, que analisa a presença de vocábulos portugueses de origem árabe na


literatura popular nordestina, aqui representada pelo cordel, é parte de uma pesquisa
mais ampla sobre a influência da língua árabe na formação do léxico português ora
desenvolvida no curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da
Universidade Federal do Ceará.
O corpus analisado é constituído de 13 textos, publicados entre 2000 e 2007, que
têm temática árabe, a exemplo de adaptações de contos das Mil e Uma Noites, trazem
personagens muçulmanas ou se desenvolvem em terras a Oriente.
Busca este estudo responder à questão: “Ocorrem arabismos na literatura de
cordel?”. A hipótese testada é de que se verifica a presença de arabismos na literatura de
cordel, constituindo hipótese secundária a de que estes vocábulos designam estritamente
referentes da cultura médio-oriental em questão.
Buscou-se fundamentação teórica na Sociolingüística do contato
intercomunitário, segundo a qual empréstimos lingüísticos decorrem de contatos
culturais (WEINREICH, 1967, p. 5) e na concepção de que à língua cabe a função de

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expressar e transmitir, pela comunicação, a cultura, de que também é resultado


(CÂMARA JR., 2004, p. 289-290).
Além da introdução e das conclusões, subdivide-se este estudo em 03 partes,
dedicadas, respectivamente, à correlação entre linguagem e cultura refletida na literatura
de cordel; à metodologia empregada nesta pesquisa e, enfim, à apresentação e análise
dos dados.
Dentre as conclusões, figura a corroboração da hipótese principal, concernente à
presença de arabismos na literatura de cordel, verificando-se, entretanto, a sua
ocorrência em diferentes campos semânticos, não restritos, assim, à designação de
referentes materiais ou espirituais do mundo árabe-muçulmano, do que decorre a
refutação da hipótese secundária.

2. CONTATO LINGÜÍSTICO E CONTATO CULTURAL

Segundo Weinreich, antropólogos consideram o contato de línguas como um


aspecto do contato de culturas e a interferência exercida por um sistema lingüístico
sobre outro como uma faceta da difusão cultural e da aculturação decorrentes do contato
entre comunidades lingüístico-culturais distintas (WEINREICH, 1967, p. 5).
Tal contato resulta de contigüidade geográfica (verificada em regiões de
fronteira), proximidade social (na interação de diferentes grupos sociais), conquistas e
migrações (com a possibilidade, inclusive, de os falantes se misturarem em uma única
sociedade), e, secundariamente, em decorrência de viagens ou de exposição a meios de
comunicação de massa (CRYSTAL, 1988, p. 64; TRASK, 2006, p. 65-66; NEUVEU,
2008, p. 80).
Trask apresenta uma escala em três graus das conseqüências do contato de
línguas, consoante o alcance da interferência: 1. se mais elementar, ocorrem a adoção de
palavras e a incorporação destas, geralmente designativas de referentes novos, mas
também podem resultar de prestígio; 2. se mais longe, afeta a gramática e a pronúncia;
3. se extremo, resulta no abandono de uma língua em favor de outra, ou sejam na morte
de uma das línguas (TRASK, 2006, p. 65-66). Câmara Jr. classifica os empréstimos a
partir da proximidade ou distância entre as línguas em questão, considerando
“culturais”, se adquiridos à distância, por intercâmbio cultural em sentido lato, ou
“íntimos”, resultantes de coincidência ou contigüidade geográfica (CÂMARA JR.,
1988, p. 104-105).
A presença muçulmana em Alandalus, entidade política instituída pelos
conquistadores seguidores de Alá, estendeu-se de 711 a 1253, em Portugal, e até 1492,
na Espanha. Detentores do poder político e econômico e herdeiros de brilhante
civilização, não tardaram a exercer sua influência sobre as populações autóctones nas
mais diversas áreas, expandindo-se o uso da língua árabe pela comunidade, que se
arabizou em quase todos os aspectos, à exceção do religioso, e restringindo-se o uso do

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romance meridional (equivocadamente designado moçárabe) a contextos informais de


comunicação, notadamente a intimidade do lar (CORRIENTE, 1996, p. 5).
É nesse contexto sócio-histórico que o romance hispânico, inicialmente, e a
língua portuguesa, no momento seguinte, largamente incorporam arabismos a seus
sistemas lexicais, transmitidos principalmente pela via oral, na interação cotidiana das
comunidades em contato, apesar de as traduções árabo-latinas, via romance meridional,
que tornaram famosas equipes de tradutores como as de Toledo, concorressem para a
introdução de itens lexicais diretamente do árabe clássico e mesmo de outras línguas,
como a grega, uma vez que os muçulmanos já haviam traduzido obras científicas do
grego para o árabe. Verifica-se, portanto, a predominância de empréstimos íntimos entre
os arabismos portugueses (VASCONCELOS, 1956, p. 306; JACQUART, 1992 p. 155).
O tipo mais comum de interferência lexical é a transferência direta da seqüência
fonêmica de uma língua a outra, com as naturais adaptações fonéticas para a
“acomodação” do vocábulo na língua que a adota (WEINREICH, 1967, p. 47). Assim
se transferem também compostos não analisados, como sintagmas nominais
constituídos por determinante e nome (SN → DET + N), que os falantes berberes
islamizados interpretam como seqüência única, dada a inexistência, em sua língua
materna, de artigos, o que resultou na aglutinação do artigo árabe al aos substantivos
que os seguem e a existência de inúmeros arabismos portugueses iniciados pela sílaba
al (alface, alfinete, algodão, almofada, almôndegas, etc.).
De acordo com Freitas, Ramilo e Soalheiro, e pautados em estudo da integração
de anglicismos ao português europeu, o processo de assimilação de estrangeirismos se
dá em três fases, caracterizadas pelo tipo de transformação (imediata, progressiva ou
integração) sofrida pelo vocábulo, a cada uma das quais correspondendo fenômenos
fonológicos, morfossintáticos, semânticos e gráficos específicos, que levam à paulatina
“nacionalização” dos vocábulos importados (FREITAS, RAMILO, SOALHEIRO,
2003, p. 1).
Entretanto, a língua, que documenta em sua estrutura a história da comunidade
que a fala, tem por função a comunicação entre os seus membros e, inclusive, a
expressão da cultura da qual é simultaneamente produto e elemento difusor. Com efeito,
Câmara Jr. lembra que a cultura é o meio no qual a língua opera e, portanto, a sua
condição para funcionar, constituindo a mudança lingüística a natural “correção” de
“desajustes” que entre ambas venham a se estabelecer (CÂMARA JR., 2004, p. 290,
292).
Assim, novos referentes demandam novas designações no natural processo de
desenvolvimento histórico da humanidade, cabendo à importação lexical a solução de
parte dos casos de necessidade de designação.

3. METODOLOGIA

Constituem o corpus de pesquisa 13 cordéis, selecionados a partir da temática


árabe neles encerrada, seja por se tratarem da versificação poética de narrativas das Mil

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e Uma Noites, seja por apresentarem personagens arábico-muçulmanas ou, ainda, por
seu enredo se desenvolver em terras médio-orientais.
Todos os títulos considerados são de autoria de poetas nordestinos e publicados
entre os anos de 2000 e 2007, pelas editoras Luzeiro, de São Paulo (O Príncipe Natan e
o Cavalo Mandingueiro), Livro Técnico (O Castigo da Inveja ou o Filho do Pescador),
pela editora Tupynanquim em parceria com a editora Coqueiro (O crime das três
maçãs) ou com a Academia Brasileira de Cordéis (O mercador e o gênio) ou
exclusivamente pela editora Tupynanquim (todos os demais).
Elencam-se, a seguir, os títulos considerados na constituição do corpus,
informando-se, ainda, a autoria, o ano de publicação e o número de páginas de cada
obra.

Tabela 01 – Cordéis utilizados na constituição do corpus


Título Autor Ano de No de
Publicação Página
s

Aladim e a Lâmpada Maravilhosa Evaristo Geraldo da 2006 16


Silva
Cachorro Encantado e a Sorte da 2006
Megera, O Antônio Klévisson (2. ed.) 24
Viana
Castigo da Inveja ou o Filho do
Pescador, O Arievaldo Viana Lima 2002 32

Crime das Três Maçãs, O Arievaldo Viana 2000 24


História de Ali Babá e os Quarenta
Ladrões Rouxinol do Rinaré 2006 16

2006
Ladrão de Bagdá, O Rouxinol do Rinaré (2. ed.) 16
Maldição das Sandálias do Pão-Duro
Abu Kasem, A Marco Haurélio [2000] 16

Mercador e o Gênio, O Damásio Paulo da Silva 2006 32


Príncipe da Pérsia e o Cavalo
Encantado, O Sávio Pinheiro 2006 24
Príncipe Natan e o Cavalo
Mandingueiro, O Arievaldo Viana 2006 32
Príncipe do Oriente e o Pássaro 2007
Misterioso, O Antônio Klévisson (3. ed.) 32
Viana

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Romance de Bernardo e Sara ou A


Promessa dos Dois Irmãos Evaristo Geraldo da 2006 16
Silva
Salomão e Sulamita: O Cântico
Erótico do Amor Rouxinol do Rinaré 2006 16

A ordenação alfabética determinou a numeração recebida pelos textos,


empregada na localização dos termos originados na língua árabe, quando da
apresentação destes. Assim, tem-se que o Texto 01 corresponde ao cordel Aladim e a
Lâmpada Maravilhosa; o Texto 02, a O Cachorro Encantado e a Sorte da Megera e
assim sucessivamente, até o Texto 13, Salomão e Sulamita: O Cântico Erótico do
Amor, como mostra a Tabela 02.

Tabela 02 – Identificação dos textos no corpus.


Identificação Título
no Corpus
Texto 01 Aladim e a Lâmpada Maravilhosa
Texto 02 Cachorro Encantado e a Sorte da Megera, O
Texto 03 Castigo da Inveja ou o Filho do Pescador, O
Texto 04 Crime das Três Maçãs, O
Texto 05 História de Ali Babá e os Quarenta Ladrões
Texto 06 Ladrão de Bagdá, O
Texto 07 Maldição das Sandálias do Pão-Duro Abu Kasem, A
Texto 08 Mercador e o Gênio, O
Texto 09 Príncipe da Pérsia e o Cavalo Encantado, O
Texto 10 Príncipe Natan e o Cavalo Mandingueiro, O
Texto 11 Príncipe do Oriente e o Pássaro Misterioso, O
Romance de Bernardo e Sara ou A Promessa dos Dois
Texto 12 Irmãos
Texto 13 Salomão e Sulamita: O Cântico Erótico do Amor

O levantamento dos arabismos portugueses no corpus se deu manualmente,


registrando-se, a par dos vocábulos encontrados, a sua localização no corpus. Neste
trabalho, não se apresentam abonações, por se tratar, em sua maioria, de vocabulário de
uso corrente.
A localização dos arabismos encontrados, apresentada entre colchetes, traz a
numeração, separada por hífen, respectivamente, do texto e da página em que se
encontram. Assim, a indicação de que o vocábulo mesquinho ocorre em [01-02]
corresponde à informação de que está documentado à página 02 do texto 01,
correspondente ao cordel Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Quando há mais de um
registro do vocábulo na mesma página, o número da ocorrência é apresentado entre
parênteses. O arabismo sultão, por exemplo, ocorre 03 vezes à página 12 do texto 01, a

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segunda ocorrência vem indicada por [01-12(2)]. Para contabilizar as ocorrências totais
de um vocábulo em determinada página, emprega-se, entre parênteses, o número de
vezes que nela foi empregado seguido de “x”. Para sultão, indica-se, portanto,
[01-12(3x)], ou seja, que se verifica 03 vezes à página 12 do texto 01. Múltiplas
ocorrências em um texto são indicadas mediante uso do ponto-e-vírgula: para sultão,
apresentamos [01-11(2x); 01-12(3x); 01-13(2x); 01-15; 01-16].
O produto desta pequena investigação consiste em listagem de arabismos
presentes em cordéis contemporâneos, apresentados em ordem alfabética com a
respectiva remissão à sua localização no corpus. A entrada nas listagens se dá na forma
masculina singular, para substantivos e adjetivos, e no infinitivo para verbos. Quando
não ocorrem no corpus nestas formas básicas, a mesma é registrada como entrada entre
colchetes, indicando interferência do pesquisador. Quando, além da forma básica,
ocorrem flexionadas, estas são indicadas como sub-entradas daquelas, como ocorre,
com as formas bairro e bairros, verificadas no texto 04, ou amo e ama, do texto 08.
Também se registram variantes gráficas em uma mesma entrada, como ilustram Alá e
Allah, encontradas, respectivamente, nos textos 03 e 07.
Consideraram-se, no levantamento dos arabismos documentados no corpus, a
antroponímia e a toponímia, apresentadas separadamente em listagens específicas, nas
quais são reproduzidos respeitando-se a grafia com que ocorrem nos textos. No que
concerne aos antropônimos, registram-se também, como no corpus, oras apenas o
prenome, oras o nome completo, reservando-se entradas a parte para cada caso, na
listagem dos mesmos.
Não se registraram os adjetivos pátrios amonita e moabita, ambos documentados
em 13-02, apesar de designarem antigos povos do Oriente Médio, respectivamente, de
regiões hoje correspondentes à Palestina e à Jordânia, por a literatura lexicográfica
consultada apontar um étimo latino para os mesmos.1
Não se registraram tampouco matança [09-02] e matar [02-22; 02-23; 08-03;
08-14(2x); 08-16] com as flexões mataste [08-04], matou [08-04; 08-30; 10-10],
matasse [08-14; 08-16] e matarei [08-16; 09-02; 10-10], além do seu uso reflexivo
exemplificado por matar-me [08-24], devido à falta de consenso quanto à sua origem
árabe, eventualmente atribuída à expressão Mate!, empregada no jogo de xadrez
(VASCONCELOS, 1956, p. 304-305).
Não se procedeu ao levantamento de vocábulos designativos de conceitos típicos
do mundo muçulmano, cujo étimo, entretanto, não seja árabe, a exemplo de odalisca
[03-03], Bairam [08-12] e Nevruz [09-02; 09-03], de origem turca, e de camelo [06-09],
latino.
A confirmação da origem árabe dos vocábulos levantados se deu pela pesquisa
lexicográfica na versão eletrônica dos dicionários Novo Aurélio Século XXI, DicMaxi
1
Com efeito, os etnônimos constituem um problema na dicionarização de arabismos, dado freqüentes
vezes trazerem o étimo da língua de cultura na qual se registra a sua existência na literatura especializada
(geografia, história, etc.), em detrimento daquele de cuja evolução verdadeiramente resulta. Tal fato é um
dos muitos que justificam a revisão da dicionarização de arabismos nas obras lexicográficas brasileiras
contemporâneas.

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Michaëlis Português: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa e Dicionário Houaiss


da Língua Portuguesa, além das obras Diccionario de Arabismos y Voces Afines en
Iberorromance (CORRIENTE, 2003) e o Léxico Português de Origem Árabe:
Subsídios para os estudos de Filologia (VARGENS, 2007).

4. ARABISMOS NA LITERATURA DE CORDEL


Da análise do vocabulário documentado no corpus, identificou-se origem árabe
para os seguintes vocábulos.

Alá [03-13; 03-30; 03-18; 08-21] Allah [07-01; 07-16]


Alarde [11-19]
Alazão [09-05; 09-06; 09-07; 10-13; 10-14; 11-07]
Alfaiate [05-12]
Alfange [08-03. 08-04; 08-09]
Algibeira [11-25]
Alvoroço [03-26; 04-09; 10-05; 11-19]
Amo [05-10; 06-09; 06-15; 08-14(2x)] ama [08-12(2x); 08-14]
Arabesco [10-02]
Argola [11-26; 11-28(2x)]
Assassino [04-07]
Azeite [05-14(2x); 05-15(3x)]
Até [08-27; 10-13]
Babucha [07-02; 07-14(2x) ] babuchas [07-02; 07-04; 07-05(2x); 07-06(4x); 07-08(4x);
07-10(2x); 07-11; 07-12(2x); 07-13(4x); 07-15(2x)]
[Beduíno]Beduínos [07-01]
Bairro [04-03] bairros [04-03]
Califa [06-11; 06-12(4x); 06-13(2x); 06-14(3x); 06-16; 07-09; 07-10(2x); 07-11; 07-12]
Caravana [02-19] caravanas [06-02]
[Cetim] cetins [06-02]
Damasco [06-02; 06-09]
Debalde [03-23]
Enxovia [03-20]
Faquir [04-17]
Garrafa [06-05]
Gazela [13-04; 13-07] gazelas [13-06]
Giz [05-13]
Grão-vizir [04-02(3x); 04-05; 04-06(2x); 04-18; 04-20; 04-21(2x)]
Harém [03-02; 13-02]
Islã [07-01]
Jarra [05-14(3x)]; jarras [05-14(2x); 05-15(3x); 05-16(2x); 06-02]
Jasmim [01-03; 01-05; 09-17; 10-02]
Laranja [06-02; 06-03(3x)]

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Marfim [10-02]
Masmorra [11-18]
Mesquinho [01-02]
Quibes [06-09]
Refém [06-13]
Saguão [09-08]
Sultão [01-11(2x); 01-12(3x); 01-13(2x); 01-15; 01-16; 02-02; 02-03; 02-04; 02-22;
03-02(2x); 03-03; 03-04; 03-05(2x); 03-10; 03-11; 03-14; 03-17; 03-18; 03-20; 03-21;
03-25; 03-26(2x); 03-27; 03-28; 03-29(2x); 03-30(3x); 03-31; 04-01; 04-02(4x);
04-04(2x); 04-05(2x); 04-06; 04-07; 04-08(2x); 04-09(2x); 04-10(2x); 04-12; 04-18;
04-20; 04-21; 04-24; 09-02; 09-07; 09-15(2x); 0916; 09-18(2x); 09-22; 09-24(2x);
10-01(2x); 10-03; 10-04; 10-05; 10-06; 10-07(2x); 10-08; 10-12; 12-04; 12-05(2x)]
Surrão [04-05; 04-06]
Taça [13-08]
Taful [03-03]
Talismã [01-05; 01-08; 11-24(2x); 11-27(2x); 11-28]
[Tâmara] Tâmaras [08-02]
Tarefa [10-13]
Vizir [04-07; 04-08; 04-09(2x); 04-19(2x); 04-20(2x)]

Topônimos
Arábia [08-01]
Bagdá [02-02; 06-01(3x); 06-04; 06-16; 07-01(2x); 07-04]
Damasco [12-12; 12-13; 12-15]
Meca [08-03]
Sudão [12-04]

Antropônimos
Abdul [06-01; 06-02(3x); 06-03(4x); 06-04(3x); 06-05(3x); 06-06(3x); 06-07(3x);
06-08(4x); 06-09(3x); 06-10; 06-11(3x); 06-12(4x); 06-13(2x); 06-14(2x); 06-15;
06-16]
Abi Xedi [10-01] Abi Chedid [10-12]
Abu [07-07; 07-13)
Abu Kasem [07-01; 07-03; 07-04; 07-05(2x); 07-07(3x); 07-08; 07-09(2x); 07-10;
07-11; 07-12; 07;13; 07-14(2x); 07-16(2x)]
Abul [03-02(2x); 03-03(2x); 03-08; 10-01; 10-03]
Abul Jamil [03-02(2x); 03-04; 03-05; 03-20]
Agid [12-16(3x); 12-15]
Aladim [01-01(3x); 01-02; 01-03(2x); 01-04; 01-06(3x); 01-07(3x); 01-08(4x);
01-09(2x); 01-10(4x); 01-11(2x); 01-12(6x); 01-13(2x); 01-14(2x); 01-15(3x);
01-16(3x)]

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Ali Babá [05-01; 05-02(2x); 05-03(3x); 05-04(4x); 05-05(2x); 05-06(2x); 05-07(2x);


05-08(2x); 05-09; 05-10(2x); -5-11(2x); 05-13; 05-14(3x); 05-16(4x)]
Aman [11-03; 11-04; 11-05(2x); 11-06(3x); 11-07; 11-09; 11-10; 11-12; 11-13(3x);
11-14; 11-29; 11-30(2X); 11-31; 11-32(3x)]
Cassim [05-02(2x); 05-06(2x); 05-07(3x)05-08(2x); 05-09(2x); 05-10(2x); 05-11]
Djafar [04-02(3x); 04-07(2x); 04-08; 04-18; 04-21(2x)]
Gibran [11-03; 11-07; 11-08; 11-30]
Ibraim [10-12]
Irã [10-01; 10-05(3x); 10-06(3x); 10-08(4x); 10-09; 10-10(3x); 10-11(2x); 10-12(2x);
10-13; 10-14(2x); 10-15]
Jamil [03-13; 03-20; 03-31; 04-10]
Jamil Muamar [04-09]
Khalil [11-03; 11-08(2x); 11-09(2x); 11-10; 11-30]
Mohamed [12-02; 12-0312-06(3x); 12-10; 12-14; 12-15(2x)]
Muamar [04-20; 04-21
Mustafá [05-11(2x); 05-12; 05-13]
Nuredim [12-02; 12-03(2x); 12-04(2x)12-05(2x); 12-06; 12-07(3x); 12-14]
Omar [03-15; 03-16(2x); 03-17; 03-22(2x); 03-27; 03-31(3x)]
Safira [05-02; 05-05; 05-06; 05-07]
Sherazade [06-01; 09-02(2x)]
Sulamita [13-02; 13-03; 13-09(2x)]
Yasmim [01-11(2x); 11-15(4x)]
Zoraia [05-10(4x); 05-11(3x); 05-13; 05-15(3x); 05-16(2x)]

Além dos arabismos recolhidos no corpus, o mero folhear outros cordéis,


destituídos de temática árabe, aponta a presença, também nestes, de vocábulos
portugueses de origem arábica, documentada em As Ninfas da Cachoeira ou o Castigo
da Ambição (MAPURUNGA, 2001) por itens lexicais como algibeira (p. 03, 05),
azulada (p. 7), carmim (p. 10) e mesquinha (p. 06), ou alcatrão (p. 08) verificado em A
Princesa Rosinha na Cova dos Ladrões (D’ ALMEIDA FILHO) ou, ainda, açoite (p.
25), baque (p. 24) e jarro (p. 29) que aparecem em A Ilha Misteriosa ou a Coragem de
Solon (D’ ALMEIDA FILHO). Esse fato decorre da precoce introdução de inúmeros
arabismos nos romances e línguas ibéricas, cuja quantificação varia de 300 a 4000
vocábulos, a depender de o pesquisador considerar arcaísmos, cultismos, etc. Os
arabismos foram cedo integrados ao léxico dessas línguas, sofrendo adaptações
fonéticas, morfológicas e semânticas, o que dificulta aos seus atuais falantes a
percepção da origem oriental dos mesmos.
Da análise do vocabulário documentado no corpus, identificaram-se 80 itens de
origem árabe, dos quais 47 vocábulos comuns (58,75%), 05 topônimos (6,25%) e 28
antropônimos (35%).
O vocabulário integra diferentes campos semânticos, em decorrência de longeva
e intensa convivência entre hispano-godos cristãos e conquistadores de civilização

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arábico-muçulmana, refletida, lingüisticamente, na adoção de numerosos empréstimos


tomados da língua árabe durante a Idade Média ibérica. O avançado estágio de
desenvolvimento técnico-científico dos muçulmanos, face ao apresentado pela Europa
cristã, naquele momento, certamente contribuiu para a larga importação de
conhecimentos dos islamitas pelos demais habitantes da região com sua respectiva
designação em língua árabe (SILVA, 2003; TEYSSIER, 2001, p. 22; VASCONCELOS,
1956, p. 299).
Religião: Alá, Islã.
Conduta social: alarde, alvoroço, assassino.
Animais: alazão, gazela.
Alimentos: azeite, quibes, damasco, tâmaras, laranja.
Compartimentalização espacial: bairro.
Vestuário: babuchas.
Administração: grão-vizir, vizir, sultão, califa.
Utensílios: taça, jarra.
Atividade: tarefa.
Profissão: alfaiate.
Armas: alfange.
Oriente-Médio: Alá, Islã, califa, sultão, vizir.

Um dos critérios para avaliação da integração morfológica de arabismos é a


derivação, não verificada no vocabulário ora recolhido, mas para o qual podem ser
pensados outros exemplos, como assassinato e bairrismo.
Tampouco a extensão semântica é aqui representada, apenas alguns
antropônimos resultam do emprego de vocábulos designativos de objetos ou
características que se julga vir a possuir quem recebe o nome, como Yasmim (flor) e
Safira (pedra preciosa).
A hesitação gráfica ocorreu apenas no registro da Divindade (alá ~ Allah), sendo
impossível determinar se devido ao caráter conservador da linguagem religiosa ou à
consciência de se tratar de vocábulo estrangeiro, e em 01 nome próprio (Abi Xedi ~ Abi
Chedid]. Tal fato indica, por um lado, a natural normatização de formas já integradas
(sobretudo do léxico comum); de outro, a proximidade do étimo verificada em alguns
antropônimos, cuja estrutura fonológica ainda é próxima à do étimo árabe (Abdul, Agid,
Djafar), tratando-se antes de estrangeirismos.

5. CONCLUSÕES

Da análise do vocabulário documentado no corpus e retomando as hipóteses


investigadas, concluiu-se que:
Com efeito, a literatura de cordel registra arabismos portugueses, seja em
decorrência da temática escolhida, concernente ao mundo árabe e, portanto, expressa
por meio desses vocábulos, seja pela sua antiga integração no sistema lexical português,

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designando mais do que referentes específicos da cultura arábico-islâmica, mas também


objetos e conceitos do nosso cotidiano.
Corrobora-se, portanto, a primeira hipótese, sobre a presença dos arabismos em
cordéis, mas se refuta a segunda, que os restringe à expressão lingüística de elementos
da cultura médio-oriental muçulmana.
Novas investigações acerca dos arabismos na literatura oral nordestina
concorreriam, por exemplo, para testar a hipótese da origem arábica dessa literatura,
com ingresso no Brasil intermediado pelo colonizador ibérico. Haveria de se investigar
a datação do vocabulário documentado, a transmissão européia e a freqüência com que
esse vocabulário ocorre nos textos.
A literatura especializada em Filologia Árabo-Românica repetidas vezes enfatiza
o desconhecimento da Romania Arabica e de suas conseqüências lingüístico-culturais
na Europa, tomando por base os contatos árabo-romance, luso-árabe e hispano-árabe
verificados na Península Ibérica durante a idade média. Entretanto, os seus
desdobramentos do lado de cá do atlântico são naturais e, no que concerne aos aspectos
lingüísticos, ainda carentes de investigação.

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