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Variação e mudança: |

desfazendo o
paradoxo saussuriano

A sociolinguística não é a única subárea de investigação linguística


interessada emYazer renascer a linguística histórica; noutras subáreas
tem aparecido a contribuição dos estudos diacrônicos à formulação e
confirmação de hipóteses de trabalho... É tempo de se terminar com o
mito dafênix dentro da linguística — proporque ela renasça finalmente
das cinzas e que não mais precise desempenhar seuritual. Seu voo
contínuojá é esperado de longa data (Tarallo, 1984: 101).

4.1.0 evolucionismo do século XIX e o conceito de mudança


como degeneração
A linguística comparada, que se desenvolveu praticamente na segunda me-
tade do século XIX, teve, na realidade, seu marco principal no final do século
XVIII, quando o interesse de William Jones pelo sânscrito provocou uma ver-
dadeira revolução nalinguística ocidental. Se havia suspeitas de similaridades
entre o grego e o latim, por um lado,e aslínguas da família germânicae céltica,
por outro,o interessepela história comparativa passou se expandir ainda mais.
Segundo Malmberg (1974), foi a comparação com o sânscrito que forneceu ba-
ses sólidas à teoria sobre o parentesco e a unidade de origem daslínguas indo-
-europeias.
Com o Romantismo, o interesse se voltava em geral para o passado para a de-
terminação da origem dos povose para a pré-história dascivilizações. A recons-
tituição das línguas primitivas (antigo germânico, antigo eslavo, indo-europeu)
mediante a investigação sistemática de documentos do passado, tornou-se um
meio de conhecimento da pré-história de seus falantes e de culturas ancestrais.
Sabe-se que um princípio ideológico caro ao Romantismo é a nostalgia do
passado remoto, entendido como uma época áurea em comparação à degrada-
ção da vida contemporânea, no caso, a das últimas décadas do século XVIII e
grandeparte do século XIX. Nesse contexto ideológico de fuga para o passado,
não era descabido pensar que as línguas passam por períodos de apogeu e por
períodos de decadência. Além disso, as investigações comparatistas mostravam
que as línguas antigas disporiam de uma organização morfológica muito mais Vale a pena mencionar, de passagem, a teoria das línguas jaféticas de Nicolai
complexa que as línguas contemporâneas com base num conjuntodiferenciado Marr, queele vai tentar aplicara filosofia marxista. Marr considerava a existência
de formasde declinaçãoe de conjugação. de quatro estágios sucessivos que corresponderiam a diferentes situações socio-
Dentro do espírito da época, a história não passaria, portanto, de umpro- econômicas: no primeiro estágio, estariam as línguas africanas e o chinês; no
cesso degenerativo, cujo resultado mais evidente seria a estrutura das línguas segundo,as línguas fino-ugrianas e o turco; no terceiro, as línguas caucasianas
e as camíticas e, finalmente, no quarto, as línguas indo-europeias e as semíti-
contemporâneas. Esse imaginário dava cabalrelevância à tarefa de reconstitui-
ção do passado em busca de um improvável período áureo, umaaplicação do já cas (Calvet, 2002: 19). Essa classificação por estágios mal disfarça a tipologia de
Schleicher, principalmente porque cada umadelas corresponderia a um progres-
mencionadoprincípio da Idade de Ouro (Labov, 2001).
so. É difícil não ver uma grande dose de eurocentrismo nessaclassificação.
Antes de se instaurar a perspectiva relativista, que permeou explícita ou im- O estudo histórico e comparado das línguas indo-europeias mostrou que,
plicitamente o paradigmaestrutural da linguística, o determinismo na natureza do estágio mais ancestral para o estágio mais moderno,todas as línguas teriam
em geral encontrou um equivalente no domínio da linguagem,vista, segundo passado por umasevera simplificação morfológica. Todasessas línguas, segundo
Malmberg (1974: 31), como algo próximo a um organismo vivo, modificado Malmberg (1974), apresentavam um ricosistema morfológico com complexas re-
necessariamente porleis que não admitiriam exceção. lações interrlas nos paradigmas verbais e nominais,o quelicenciaria uma ordem
Muitos linguistas adotaram as teses da tendência evolucionista, que tanto relativamentelivre de palavras. O latim, por exemplo, dispunha decerta prefe-
influenciaram asciências em geral na segunda metade do século XIX. Os postu- rência para a ordem SOV, mas suariqueza flexional em termos de casos e declina-
lados evolucionistas permitem correlacionar diferenças culturais entre civiliza- ções possibilitava o uso de ordensalternativas para efeitosestilísticos. Nas línguas
ções de diferentes estágios tecnológicos a distintos estágios evolutivos da língua românicas, todavia, as desinências casuais desapareceram e a ordem se tornou
queelas falavam. A classificação tipológica desenvolvida por August Schleicher rígida para marcar as funções semânticase sintáticas dos argumentos do verbo.
(1863 apud Malmberg, 1974), que tinha essa concepção naturalista da lingua- Essa passagem de um estado deriqueza flexional para umarelativa simplici-
gem, adotou a concepção de que a linguagem é um organismovivo e, comotal, dadee, paralelamente, de um estado provido de mecanismosflexionais para um
com existência própria independente do trabalho de seus usuários. Como todo estado provido de mecanismossintáticos ativou, nos primeiros comparatistas
organismo vivo, o processo vital de uma língua permitiria identificar estágios de do século XIX, umatentativa de explicação da evolução com base na degenera-
desenvolvimento, maturidade e declínio. ção dos sistemas linguísticos, um princípio irresistivelmenteligado à tendência
Tomando por parâmetro os traços específicos da organização morfológica evolucionista da época. O inglês, ém particular, que permite convergir diversas
das línguas, Schleicher (1863 apud Malmberg, 1974) propôs umatipologia que funções em uma única forma, como black em a black (um negro), black market
permite classificar as línguas como isolantes, aglutinantes e flexivas. Nas lín- (mercado negro), to black out (desmaiar), permitiria relacionar o estado moderno
guas isolantes, como o chinês, as palavras, que permanecem invariáveis, são da língua ao tipo isolante do chinês, considerado o estado mais decadente no
responsáveis tanto pela denotação do mundo operada pelos morfemas lexicais, percurso evolutivo daslínguas.
quanto pelossignificadosintrinsecamente gramaticais dos afixos derivacionais e Não tardou para que outros investigadores, como Otto Jespersen, passassem
flexivos; naslínguas aglutinantes, como o turco, os processos morfológicosse fa- não apenasa criticar a noção de degeneração, mas, sobretudo,a inverter a curva-
zem mediante acréscimo sucessivo de afixos aglutinados à raiz; finalmente, nas tura da vara para o sentido diametralmente oposto. Os escritos de Jespersen em
línguas flexivas, como o português, as categorias gramaticais são identificadas Progress in Language (1894) e Efficiency in Linguistic Change (1944 apud Malmberg,
mediante processos morfológicos de variação na forma da palavra. 1974: 35) defendiam ideia de que o estágio para formas mais práticas represen-
Portrás datipologia criada por August Schleicher, cujo objetivo seria apenas ta, por isso mesmo, uma verdadeira evolução no sentido darwiniano, já que a
classificar as línguas mediante um método descritivo, estaria o postulado de que simplicidade formal estaria mais adaptada para a expressão de raciocínios mais
à história das línguas não passaria de uma passagem sucessiva do estágio iso- abstratos. Entende Malmberg queessas obras de Jerspersen sobre a evolução lin-
lante a aglutinante, e de aglutinante ao apogeu, representado pelotipo flexivo guística “tornaram-se, para a linguística, o equivalente do otimismo evolucio-
(Faraco, 2005: 171). Essa história, contada sob uma perspectiva evolucionista,
nista aplicado à natureza, à cultura e à vida social, otimismo que derivava das
teorias de Charles Darwin e de Herbert Spencer” (Malmberg, 1974: 35-36).
permitiria correlacionar estágios da língua a estágios no desenvolvimento tec-
nológico e cultural da civilização que a fala. Quanto mais “primitivo” o estágio A linguística moderna repudia essas duas teses. Desapareceu da evolução lin-
tecnológico e cultural de umacivilização, tanto maisisolante o tipo delíngua. guística a caracterização da marca de uma forma rudimentar para sua plenitude, à
maneira do desenvolvimento de um ser vivo. Aoafirmarque “a palavra evolução, 4.2.0 estruturalismo e a dualidade interna do sistema
em linguística, pressupõe apenas um processo de mudanças graduais e coerentes”,
Câmara Jr. (1972a: 192) defende a tese subsequente de que não se deve entender Saussure ([1916] 1977: 95) afirma que todasas ciências deveriam ter interesse
mudança nem por progresso, como Jespersen, nem por degeneração, como os em assinalar mais escrupulosamente os eixos sobre os quais se situam os fenô-
comparativistas. Para entender como essa conceituação se estabeleceu, vale a menosdos quais se ocupam. Considera que os fenômenoslinguísticos podem
pena lembrar a noção de plenitude formal das línguas discutida no capítulo 1. estar situadosno eixo das simultaneidades e noeixo das sucessões, que definem
Comoa construção teórica e o trabalho descritivo convergiram para susten- o ponto devista sincrônico e o ponto de vista diacrônico, respectivamente. o
tar a ideia de que não é teoricamente legítimaa crença na evolução degenerati- primeiro se refere às relações sistemáticas entre os fenômenos vistos como um
va das línguas? A resposta adequada a essa questão passa necessariamente pela todo, ponto de vista que exclui qualquer intervenção do tempo. O segundo, o
construção de um objeto teórico. das sucessões, é assim denominado por incluir apenas um fenômeno por vez,
Ao instituir uma concepção de língua como um sistema de valores puros, embora contenha todos os elementos do primeiro eixo com suas respectivas
cujos membros se acham em estrita relação de interdependência, Saussure transformações. Todas as ciências que lidam com valores têm nessa distinção
([1916] 1977) a entendia como essencialmente arbitrária, arbitrariedade funda- umanecessidade prática e, em certos casos, uma necessidade absoluta. Como a
da não só narelação dosignificante com significado, mas também narelação língua é umysistema de valores puros, essa distinção se impõe como uma neces-
do significado com a percepção dos fenômenos no mundo. Comoesse sistema sidade absoluta, “imperiosa”, dirá Saussure ([1916] 1977: 95).
se basta a si próprio, o equilíbrio solidário das partes que o compõem é absolu- Para ilustrar essa dualidade, Saussure fornece um exemplo clássico sobre a
tamente independente das mudanças diacrônicas e é justamente por isso que o evolução do plural de Gast (“hóspede”) no alemão, atualmente escrito Gáist.
sistemalinguístico é imune a uma concepção de mudança como degeneração ou Confira o quadro:
progresso (Faraco, 2005: 79).
Vamosagora dar um grandesalto qualitativo em relação aos neogramáticose Sistema deplural Mudança diacrônica
ao estruturalismo no modo de encarar os fenômenoslinguísticos e, para isso, é
Época A gaste------e gasti |gxi
necessário retroceder à década de 1960. + Regra de metafonia
Em 1966, no contexto do modelo padrão da teoria gerativa, ocorreu um sim- Época B gaste- e gesti
pósio na Universidade do Texas sobre o tema Direções paraa linguística histórica, 9 x [i + alternância vocálica]
+ Rebaixamentoda vogal /i/
cujas consequências podem ser discutidas e até negadas, mas não ignoradas por
quem trabalha com linguística (diacrônica). Dos trabalhos apresentados nesse Época C gast e-.....e geste |9 x [e + alternância vocálica]
congresso, destaca-se por sua importância o texto de Weinreich, Labov e Herzog
([1968] 2006), cujosprincípios essenciais foram retomados por Labov(1982). No alto-alemão antigo, o plural de Gast foi Gasti, o de Hant (mão) foi Hanti
Nesse texto, os autores retomam ideia de plenitude formal de Sapir e a de e assim por diante. Ocorreu, mais tarde, um processo fonológico de metafonia
sistema devalores, postulado por Saussure para dar solidez ao recorte entresiste- liderado por esse fonemafinal /i/ que identifica também, no plano morfossintá-
malinguístico e seu uso em situações de interação. O pontobásico que o texto tico, a marcaçãodeplural, de que resultou o alçamento da vogal interna do lexe-
desenvolve, já amplamente observado na linguística estrutural, é o de que mu- ma como[gasti] >[gesti], [hanti] >[henti]. Mais tarde, um novo processo de har-
dançasisoladas ou sistêmicas não afetam a organização formal da língua, quese monização vocálica produziu o rebaixamento daaltura da vogal que representa
mantém regular e sistemática apesar da ocorrência das mudanças. Uma questão o morfema de plural (e > i), o que a aproximou ainda mais, na altura média, da
paradoxaldeveria, portanto, ser respondida: vogal do lexema, de onderesultou,de [gesti], [geste], e, de [henti), [hente). Esse
(...) se uma língua tem de ser estruturada, a fim de funcionar eficientemen- processo de mudança explica o plural do alemão moderno, quese escreve Gast:
te, como é que as pessoas continuam a falar enquanto a língua muda,isto é, Gáste, Hand : Hinde.
enquanto passa por períodos de menor sistematicidade? (Weinreich, Labov & As relações entre as formas de singular e plural se situam no eixo das simul-
Herzog,[1968] 2006: 87).
taneidades, como valores puros, de natureza opositiva e negativa. O que define
Para procurarmos uma resposta satisfatória a essa questão, recuemos um pou- o plural na época A é o lexema acrescido de /i/ em oposição à forma zero do
co mais nessa viagem pelo tempo dalinguística, mais precisamente ao estrutu- lexema no singular. Os fatos diacrônicos, como a metafonia na passagem de
ralismo saussuriano. [gasti] a [gesti), nada têm a ver diretamente com o valor dos signos em cadasis-
tema. Tanto é verdade que o mesmo processo se abateu sobre a formade certos nica. Apesardisso, o lance isolado pode ter repercussões sobre todo sistema,
verbos de 3º pessoa, como Itragit] > [tregit] (atualmente trágt). O alcance disso, que terá outro ponto de equilíbrio. O deslocamento de uma peça é um fato ab-
para Saussure, é que “um fato diacrônico é um acontecimento que tem sua razão solutamente independente do equilíbrio precedente (época A) e do reequilíbrio
de ser em si mesmo: as consequências sincrônicas particulares que dele podem subsequente (época B). Os fatos sincrônicos são, assim, irredutíveis ao sistema
derivar são-lhe totalmente estranhas” (Saussure, [1916] 1977: 100). sincrônico, que engendram somente por meios indiretos.
Osfatos diacrônicos, que acontecem na fala, afetam apenasindiretamente o A mudança do sistema da época A para o sistema da época B não implica
sistema sincrônico, como a movimentação das peças de um jogo de xadrez. O mudança total, mas alterações de valor de elementos isolados dentro do siste-
equilíbrio inicial, representado no esquema acima pela época A, corresponde a ma, gerandorearranjos pequenose sucessivos, mas, conforme afirma Saussure,
um estado qualquerdas peçasdispostas no tabuleiro, em que o valor respectivo “o sistema nunca se modifica diretamente: em si mesmo é imutável; apenas
de cada umadelas depende tanto de sua própria posição quanto do valor queela alguns elementossãoalterados sem atenção à solidariedade que os liga ao todo”
contrai em relação a outras peças. Similarmente, o valorde plural (ou de singular) (Saussure, [1916] 1977: 100).
do subsistema de número no antigo alemão depende, além da distribuição sin- Na medida em que é um sistema de valores puros, um estado não contempla
tagmática, do valor que cada termo tem em oposição aovalor dos outros termos. variação, que está ligada aos processos de mudança, entendendo que toda mu-
Além disso, o fato sincrônico prevalece sobre o diacrônico já que, para a dança pressupõe variação (Weinreich, Labov & Herzog, [1968] 2006). Um mo-
massafalante, constitui a única e verdadeira realidade. O falante que usa Giiste delo comoo estruturalismo, que considera como objeto de estudo um sistema
como plural de Gast no alemão contemporâneo, não tem nenhuma consciência homogêneoe unitário, é, por definição, incapaz também delidar com a mudan-
de que, em algum ponto remoto do passado, um processo de metafoniaalterou a ça. Comoo funcionamento do sistema é tomado sobo critério da equivalência
antiga forma deplural quese fazia com um acréscimode-i. Ao falar Giste só lhe entre “estruturalidade” e homogeneidade, ele exclui necessariamente variação
importa o que a opõe, como forma de plural, a Gast, forma de singular. e heterogeneidade. Reside nessa equação um paradoxo dalinguística moderna,
Um bom exemplo dessa primazia do sincrônico em função dacoletividade de que Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006) buscam resolver.
falantes no português foi dado por Câmara Jr. (1972a) sobre o verbo comer. Para Retornando um pouco mais ao estruturalismo, vale lembrar que Saussure
a massa falante, a distribuição da palavra em formas mínimas só pode ser entre postula umabifurcação dupla para a linguagem, conforme mostraa figura 4:
com-, raiz mais o sufixo verbal -er. Não tem qualquersentido para o falante, a
interpretação sincrônica de que com- é o prefixo associado, na forma latina, ao
radical e em fusão com a vogal e do sufixo verbal -er, conformeatesta a origem a * linguagem
partir da forma latina com-ed-ere (Câmara Jr., 1972a: 41).
Câmara Jr. menciona este caso como uma ilustração da separação metodoló- língua fala
gica que o pesquisador tem que operar com base nos pontos de vista sincrônico
e diacrônico: sincronia diacronia
Em linguística sincrônica,a raiz só pode ser o núcleo do vocábulo, a um tempo Figura 4:Relação entre objeto de estudose o pontodevista sincrônico
semântico e formal. Em outros termos cada vocábulo apresenta em dado esta- e o pontode vista diacrônico.
dolinguístico uma raiz, que não depende das que teve em estados anteriores
(CâmaraJr., 1972a: 41).
Umavezestabelecido esse duplo princípio de classificação, acrescenta “tudo
Continuando com a comparação com o jogo de xadrez, para passar de um quanto seja diacrônico na língua não o é não pela fala (grifo do autor)” (Saussure,
equilíbrio a outro, ou em termos linguísticos, de um estado a outro, basta o mo- [1916] 1977: 115). É nafala que se encontra a origem de todas as mudanças,
vimento de uma peça, como o que ocorreu com a formade plural por ação da principalmente porque, uma vez definida como um evento individual, a imple-
metafonia. No entanto,o sistema não é absolutamente afetado em seus valores. mentação de uma mudança potencialmente relevante é efetivada, noprincípio,
Antes o sistema dispunha de uma oposição: singular: [2] x plural: [i]; agora, ele porcerto número deindivíduos antes de entrar em uso, ainda que as inovações
dispõe de uma oposição singular: [2] x plural: [i] + alternância vocálica no radical. não se completem enquanto permanecerem no âmbito individual. Como o ob-
Comono jogo de xadrez, cada lance movimenta apenas uma peça, ou ele- jeto de estudo é a língua, fenômenosocial por natureza, as inovações na fala só
mentos isolados, postulado que garante umavisão atomista da mudança diacrô- acham respaldo no sistema quando forem adotadas por toda a coletividade.
Como consequência, Saussure separa, em primeiro lugar, a língua da fala, Embora Saussure não negasse a abordagem diacrônica,ele a distinguiu niti-
para excluir da línguaa variação e a heterogeneidade. Em seguida, projeta sobre damente da abordagem sincrônica, questionando, por um lado, qualquer rela-
o objeto assim construído,o de língua tomada como sistema uniforme e homo- ção entre elase, privilegiando, por outro, O aspecto sincrônico em detrimento
gêneo, um ponto devista sincrônico e um ponto de vista diacrônico. Embora a do diacrônico. Segundo Lepschy, essa prioridade do aspecto sincrônico sobre o
pode
perspectiva diacrônica tome os fenômenos da língua em sua evolução, os que diacrônico tem uma natureza lógica, já que “enquanto o estudo sincrônico
provocam a mudançasão particulares, porque são introduzidos por indivíduos, realizar-se prescindindo completamente do estudo diacrônico, o estudo diacrô-
um
além dese aplicarem a um termo por vez. São também acidentais, porque resul- nico pressupõe o sincrônico: a diacronia é estudada como transformação de
tam dosfatos fortuitos e casuais que só indiretamente afetam o sistema; como estado delíngua em outro” (Lepschy, 1975: 17).
tais, são mais própriosda fala, lugar privilegiado do excluído. Em contraste com o paradigma neogramático, que tinha uma visão histórica,
Mais notável ainda é a distinção que Saussure estabelece entre linguística a única possível em sua concepção, e ao mesmo tempo, atomística da lingua-
internae linguística externa. A definição de língua pressupõeque se exclua dela gem, o estruturalismo opôs a noção de sistema, entendido como a integração
tudo quanto lhe seja estranho à organização interna que lhe dá o caráter de um de elementos solidários, numa perspectiva que, em última análise, privilegia o
sistema de elementos solidários. Isso implica, que é externo ao sistemae, por- eixo sincrônico.
tanto, excluído, tudo que confina ao que designa o termo “linguística externa” Em contraste com a gramática tradicional, que procedia por analogias e ge-
(Saussure, [1916] 1977: 29), isto é, as relações da língua com história duma raça neralizações, a descrição estrutural se baseia em propriedades formais, cuja vali-
e duma civilização, aspectos que criariam um elo de interdisciplinaridade entre dade admite uma demonstração rigorosa e independente dos objetos fenomeno-
a linguística e a antropologia, as relações entre a línguae a história política, as lógicos a que se aplica.
relaçõesentre a línguae as instituições sociais, as relações entre a línguae a ex-
Apresentado esse modelo, vejamos como a visão sincrônica da linguagem
tensão geográfica e o fracionamento dialetal.
cria um paradoxo intransponívelentre o sistema e a mudança, um movimento
A linguística externa poderia ter seu método próprio, o quesignificaria orde- queacentua a primazia da descrição sincrônica pela exclusão da descrição dia-
nar os fatos a descrever como aprouver ao pesquisador. Já a linguística interna crônica, um gesto que põe a mudança no ostracismo (Luchesi, 2004: 55).
estudaria fenômenos que não admitem uma disposição qualquer, já que, como
sistemade elementosrelacionais, a língua só admite sua própria ordem.
Umavez mais, Saussure recorre ao jogo de xadrez para mostraras diferenças 4.3. Heterogeneidadeconstitutiva dalíngua
entre fatos de ordem internae fatos de ordem externa. Ter passado da Pérsia para e mudança em progresso
a Europa é um fato externo; já o número de peçase as regras de movimento são
de ordem interna. A substituição de uma peça de madeira por outra de marfim é Setores inteiros de estudos linguísticos, que vão da dialetologia à estilística,
de ordem externa, como no alemão, [gesti] substituiu [gasti], mudança absoluta- ficaram completamente excluídos ou, quando muito, passaram a exercer um
mente indiferente ao sistema. Mudançasdrásticas comoa alteração do número papel marginal e aplicado na concepção monolítica de linguagem, que ainda
de peças é que atingem profundamente a gramática. Portanto, “só é interno o hoje sustentam as teorias formalistas. O principal problema nessa concepção é o
que provoca mudançado sistema em qualquer grau” (Saussure, [1916] 1977: 32). estabelecimento de uma identificação entre estrutura e categoricidade de modo
tal que a detecção da estrutura só é possível num recorte epistemológico que
É, no entanto, uma verdadeira ilusão pensar que as mudanças, mesmo as
idealize o objeto mediante a explicação do princípio de homogeneidade.
internas, afetam em algum grau o sistema como um todo: as alterações de valor
em elementos particulares do sistema, que geram pequenosrearranjos, nunca Tanto para a visão psicológica de [Herman] Paul quanto para o enfoque so-
chegam, vale repetir, a alterar substancialmente o equilíbrio interno do sistema cial de Saussure, e o biológico de Chomsky, variabilidade e a sistematicidade se
que, por definição, é imutável, já que em cada estado, a disposição dos valores excluem mutuamente. Afirmam Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006), que
em dependência recíproca está sempre garantida, qualquer que seja a alteração essa posição se choca frontalmente com o reconhecimento pela maioria dos
novalor dos elementos isolados. linguistas da evidência de que a mudança, além de ser um processo contínuo,
Em termos de mudança, o estruturalismo rompeudefinitivamente com o pa-
é o subproduto inevitável da interação linguística (Weinreich, Labov & Herzog,
[1968] 2006: 87).
radigma neogramático, que tinha fornecido a formação historicista do próprio
Saussure, na medida em que projeta uma perspectiva descritiva sobre os fenôme- Na opinião desses autores, os paradoxos foram sentidos tão intensamente
noslinguísticos e, portanto, necessariamente sincrônica. que Hockett (1958 apud Weinreich; Labov; Herzog, [1968] 2006) mostra “sensi-
>>>>>>

bilidade dolorida” diante da dificuldade de reconciliar o fenômeno da


com a natureza categórica da estrutura homogênea: por um lado, o Mudança res e não nucleares no sN, por exemplo, que determina, em grande parte, a
pr de plural.
de mudança sonora é demasiado lento e gradual para ser observado, elo ieribuição da presença ou da ausência de marcação
seus efeitos; por outro lado, o processo de mudançaestrutural é instantão, Essas duas dimensões, a externae a interna, permitem operar com o encaixa-
conse-
portanto, igualmente inobservável exceto por seusefeitos. mento social e o encaixamento linguístico de um processo variável e, por
Teo e, a variação não for estável. O procedim en-
inte, de um processo de mudança, se
Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006) sugerem que a soluçãopara ess sem o qual fica-
tadoxo repousa na decisão de romper com o pressuposto estrutural, que ash to metodológico que a sustenta é necessariamente quantitat ivo,

sistematicidade ou “estruturalidade” com homogeneidade, para pôr em seu do ria praticamente impossível mensurar a força com que cada restrição opera sobre
gar um novo modelo que, sendo capaz de acomodar a heterogeneidade, Permite as concorrentes no processo de mudança. Parece inevitável que trabalhar com
um tratamento adequado da mudança. s amostras de língua em uso e mensurar O grau de determinação dos fatores para
predizer algum grau de mudança requer um processamento quantitativo, mes-
Para substituir essa identificação, os autores postulam que uma explicação
mo numa versão moderada de umateoria de mudança, já que a competição en-
razoável da mudança depende da possibilidade de descrever a diferenciação or.
tre formasalternativasde variação é necessariamente um sistema probabilístico.
denada dentro do sistema. Esse modo de ver dissolve de partida certos recortes
epistemológicos, como os de competência e desempenhoe línguae fala, asso. Derrubadao pressuposto de equivalência entre estruturalidade e homogenei-
ciados com o de sincronia e diacronia, e resolve um dos paradoxos da linguística dade, o passo seguinte foi derrubar outro pressuposto, o da distinção absoluta
contemporânea. entre sincronia e diacronia. Se a estratificação social e estilística de uma variá-
A história não representa a troca abrupta de um elemento por outro, mas vel, associada às restrições de natureza linguística, aponta para um processo de
todos os indícios de mudança implicam a existência de uma fase em que duas mudança em progresso, a variação deveria mostrar distribuição por tempo apa-
variantes concorrem entresi. Por isso, o novo modelo permitiria romper com o
rente no eixo das idades. Introduz-se nesse tipo de distribuição a resolução de
outro paradoxo da linguística estrutural: sendo imune ao sistema, a mudança
pressuposto de queo sistema sincrônico é diretamente imune à mudança em de-
não ocorre pela mera substituição de uma formaisolada por outra.
corrência de sua definição comosistema homogêneo em que imperam relações
de dependência recíproca. Com efeito, além de disporem de uma distribuição sistemática e regular ao
longo de uma dimensão social, estilística e linguística propriamente dita, que
O primeiro paradoxo com que a sociolinguística rompeu é o de que se ex-
cluem automaticamentesistematicidade e variabilidade. Assumindo que a hete-
manifesta tendência para mudança em progresso, as variantes coexistem no
rogeneidade é a situação normal de uma língua em exercício numa comunidade
mesmo espaçosincrônico. A coexistência, entretanto, está longe deser pacífica:
o que se dá, na realidade, é uma situação de concorrência em queos contendores
complexa, o que seria disfuncional é justamente a ausência de heterogeneidade
estruturada (Weinreich, Labov & Herzog, [1968] 2006). travam um duelo sangrento de morte, para usar a metáfora de Tarallo (1985).

Com base nesse princípio, a sociolinguística variacionista derrubou o pressu- Por fim, resta elencar os cinco problemas, definidos por Weinreich, Labov e
posto de quea variação é aleatória e casual, para repor em seu lugar o pressupos- Herzog ([1968] 2006), que devem estar nas preocupações mais cruciais de uma
to de que a variação é sistemática e regular, não apenas em termos dedistribui- teoria da mudançalinguística.
ção interna no sistema linguístico, mas também em termos de sua distribuição O primeiro problemaé a análise dosfatores condicionantes: Weinreich, Labov
externa. Rompeu-se duplamente com a separação entre sincronia e diacronia, e Herzog ([1968] 2006: 121-4) sugerem que um possível objetivo para umateoria
por um lado, e com a separação entre linguística interna e linguística externa, eficaz da mudança é determinar o conjunto das mudanças possíveis em relação
por outro. O processo estaria, nesse caso, arraigado no uso linguístico, posição com ascondições possíveis dessas mudanças, o que envolvea direção queelas de-
metodológica que sustentou uma nova concepção do objeto de estudo, que pas- vem tomar. É possível fazer predições relevantes mediante o estabelecimento de
sou se definir como língua em uso no contexto social. fatores bem definidos, que representam as condições internas, ou propriamente
Nesse âmbito, o estatuto social do falante em termosde sua identidade socio- linguísticas, e as condições externasou sociais do fenômeno. A direção que toma
econômica,escolar, étnica,etária e sexual (ou de gênero) determina em grande um sistema marcadopela fusão de fonemas favorecerá um sistema de um fonema.
maneira o uso que ele faz de formas alternativas; o próprio uso não é homogê- O segundo problema é o da transição, entendida comoasetapassucessivas de
neo em cadafalante tomado isoladamente, que pode empregar formas concor- mudança contínua de uma geração para outra na passagem de uma estrutura A
rentes em diferentes registros sociais. O mesmo é verdadeiro para a aplicação para uma estrutura B; como ela é contínua, pode ser observada in vivo, isto é, é
de condições exclusivamente linguísticas, como a posição dos constituintes nu- possível observar a mudançalinguística no momento mesmo em que ela ocorre.
O terceiro problema a ser enfrentando é o do encaixamento: na medida em Na tonologia estrutural, a solidariedadeentreas partes do sistema, postula-
queas variáveis são intrinsecas, definidas por covariação com elementos lin- das por Saussure, representou umaalteração na formulação atomista das mu-
guísticos e extralinguísticos, ela tanto se refere ao modo como uma mudança danças diacrônicas que esse autor herdouda tradição neogramática. Seo siste-
astaria encaixada naestrutura linguística, quantonosistemade relações sociais ma é umtodo coerente em que as partes se acham presas por relações mútuas,
da comunidade. as transformações fonéticas são, nessa perspectiva, transformações do sistema
(Malmberg, 1974: 125).
O quarto problema é o da avaliação. A teoria linguística deve estabelecer os
correlatos subjetivos da variação, isto é, as atitudes que os falantes assumem em Martinet (1955) constitui um precursor dessa tendência sistêmica, postulan-
relação ao processodefinem se uma variante é estigmatizada ou prestigiada, ava- do umconceitocentral de economia. Partindoda tendência geral do homem em
produzir o maior efeito possível com o mínimo de esforço, entendia Martinet
liação que pode afetar o ritmo da mudança. O nível de consciência social é uma
(1955) que, se um sistema fonológico dispõede mais distinções a cumprir, tanto
propriedade relevante que tem deser determinada diretamente. A avaliação sub-
mais complexaé a tareta cognitiva de apreendê-las bem.
jetiva tem umanatureza mais categórica que os próprios padrões de mudança.
Por exemplo,a série de seis fonemas oclusivose de seis fonemasfricativos do
O quinto problema, o da implementação, procurar as razões de uma dada mu-
sistema fonológico do português permite afirmar que a distinção [+/-vozeado]
dançater ocorrido no tempo e no lugar em que ocorreu e entender por que não
é extremamertte produtiva e econômica por ser capaz de gerar, com um único
ocorreu em outro espaço em que haveria condições idênticas para sua imple-
esforçoarticulatório, 12 diferentes distinções fonológicas. O mesmo nãose apli-
mentação. Se for seriamente levado em conta o postulado de que a mudança
caria à produção dosdois fonemaslaterais, que necessitam da articulação de um
linguística é também mudança de comportamento social, não deve surpreen-
únicotraço, o de lateralidade. Não se aplicaria a esse caso o mesmoprincípio de
der que hipóteses preditivas não estejam prontamentedisponíveis, um proble-
economia — máximo de efeito com o mínimo de recursos — que se aplica às
maque é perfeitamente comum a todos os estudos do comportamento social séries oclusivae fricativa.
(Weinreich, Labov & Herzog, [1968] 2006: 123-4).
Se, em consequência de uma mudança fonética, o sistema abrir uma posição
O predomínio do eixo sincrônico pôs no ostracismo os estudos diacrôni- vazia em algum ponto de suas dependências recíprocas, essa lacuna deveria ser
cos na linguística da primeira metade do século XX. Um mérito inegável de preenchida com o deslocamento subsequente de algum outro fonema. Martinet
Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006) foi o de propor uma nova perspectiva (1955) invoca como exemplo a mutação consonantal do germânico para mos-
de diacronia com evidente equilíbrio teórico entre os dois eixos, fazendo renas- trar que a evolução fonética afeta toda umasérie de fonemas e não somente
cer a fênix dascinzas a que o estruturalismo a relegou, mas agora com um voo fonemas tomadosisoladamente.
contínuo, como propõe Tarallo (1984) no texto em epígrafe a este capítulo. Outro ponto quevale a penadiscutir é o da perda de distinções fonológicas
Ao levantar os “problemas” envolvidos, Weinreich, Labov e Herzog reconhe- cruciais. Se uma oposição fonológica se perde no processo de mudança coma
cem quenão chegaram a propor umateoria completa, mas, comodiz título do proliferação consequente de homofonia,o sistema produziria algum outro pro-
trabalho, os fundamentos empíricos para umateoria relevante da mudança. Como cesso coma finalidade de “sanar” o problema. Faraco (2005) alude a esse prin-
o encaixamento no sistema linguístico e no sistema social da comunidade foi en- cípio como o caráter teleológico da mudança, considerando que uma mudança
fatizado e destacado nos estudos seguintes, é sobre ele que este trabalho se debruça posterior estaria voltada para cumprir a função específica de corrigir alguma
no próximo capítulo, fornecendoestudos queilustram a implementação do mé- disfunção nosistema de distinções para retornar, assim, ao equilíbrio rompido.
todo sobre alguns mecanismos de mudança no português brasileiro. Antes disso, Não é difícil recuperar, portrás do princípio da economia das mudanças fo-
porém, uma última palavra sobre mudança como evolução ou como degeneração. néticas, a noção novecentista de que a mudança degenera o sistema, que procu-
raria, então, forças estabilizadoras para reparar o dano. Além da noção de dege-
neração, esse ponto de vista se sustenta no princípio estrutural de autonomia do
4.4. Desfazendo equívocos: nem evolução nem degeneração sistema linguístico e, em consequência, no postulado de que haveria uma força
Alguns estruturalistas e mais recentemente oslinguistas gerativistas postulam unicamente interna que produziria não só o desequilíbrio inicial, mas também
que as mudanças podem provocar correções de rumo nossistemaslinguísticos. a reparação dodano. A mudançanãoseria assim uma consequência do trabalho
social e interacional dos usuários de uma língua.
Assumindo que alguns processos produzem distúrbios no sistema, este deveria
ser capaz de produzir novas mudanças querestabeleceriamo equilíbrio perdido, Além disso, a mudança terapêutica teria de ser, por princípio, categórica e
numaespécie de mecanismo teleológico. abrupta, isto é, deveria corrigir todososcasos atingiro sistema de um único gol-
pe (Faraco, 2005). Essa noção de mudança não é aceitável para o sociolinguista, Argumenta, contudo, que um tratamento de pressõesestruturais dificilmente
queprefere vê-la como um processo lento e gradual, quando afeta todosos itens pode contara história toda, porque não é toda a mudançaque é altamenteestru-
lexicais, ou rápida e abrupta quandoafeta alguns itens lexicais em particular. turada e nenhuma ocorre num vaziosocial. Mesmo a mudança emcadeia postula-
Sobre a mudança nalinguística gerativa, é possível dizer que essa perspectiva da por Martinet (1955), que é mais sistemática e regular, ocorre com uma especifi-
requentao café já coado por Schleicher, posição antes discutida, de língua como cidade de tempoe lugar que demanda uma explanação (Labov, [1972] 2008: 14).
entidade biológica. Os pressupostosinatistas da teoria gerativa requerem queas Segundo Labov, não é possível entender o desenvolvimento de um processo
gramáticas particulares das línguas naturais sejam fortemente restringidas por de mudançase ele é visto separado da vida social da comunidade, principal-
estruturas cerebrais que constituiriam a chamada gramática universal. A finali- mente porque as pressões sociais operam continuamente sobrea língua, e não
dade de uma mudançanessa óticaseria, portanto,corrigir realidades menos na- apenas a partir de um ponto remotodo passado; operam como uma força social
turais tornando-as transparentes tanto paraasestratégias perceptuais do falante/ imanente atuando no presente vivenciado (Labov, [1972] 2008).
ouvinte quanto para o processo de aquisição, especialmente nos casos que pro-
Esse entrelaçamento entre os princípios internos e os externos, atuandoso-
duziriam opacidade estrutural comoexcesso de homofonia (Lightfoot, 1979).
bre o processo de mudança, afasta qualquer ideia, mesmoas cientificamente
Diferentemente da perspectiva martinetiana, em que a mudançaé teleológi- motivadas, de que a mudança tem umafinalidade terapêutica.
ca por pressão das motivações funcionais, na perspectiva gerativa de Lightfoot
Aslínguas não degeneram nem progridem,já que nãocabefalar de processos
(1979), são as restrições de natureza biológica que agem para a otimização das
dessetipo sob o postulado da plenitude formal dossistemas linguísticos: se eles
estruturas. A mudança seria, segundo Lightfoot (1979), regida pelo “princípio
são equilibrados e autorregulados, também a mudança deverá ser autorregulada
de transparência”, que limitaria o grau de opacidade estrutural tolerável pelos
(Faraco, 2005): aslínguas mudam sob condições empíricas que a definem como
princípios universais que regem as gramáticas particulares.
sistemas sociais de comunicação humana.
Faraco (2005) invoca Lass (1978 apud Faraco 2005) para sustentar que não há
Essas forças, ou condições internas e externas da variação, que constituem os
base empírica para estabelecer, para além das línguas conhecidas, o queseria um
fundamentos empíricos do processo, representam o encaixamento linguístico e
estado natural ou funcional perfeito de língua. A linguística estrutural, comojá
social da mudança sob uma perspectiva teórico-metodológica. São essas forças
observado, assegura que, a cada ponto de sua história, uma língua está sempre
em seu estágio de plenitude formal. Assim, afirmar que alguma língua está em que explicam plenitude formal dosistema.
estado de desequilíbrio acaba sendo um pressuposto necessário para a interpre- A estruturalidade permite observar que a variação não é obra do acaso nem
tação teleológica e, por isso, acaba por tentar derrubaresse postulado central a do livre arbítrio dosfalantes, mas é-ordenada porregras explícitas da estrutura
que, às duras penas, chegou a teoria linguística. linguística que permitem,ao fim e ao cabo, identificar duas formas alternativas
Ao investir no princípio de quea variabilidade é propriedade inerentee, por- como umaúnica categoria, mas variável no processo de comunicação. O encai-
tanto, constitutiva do sistema linguístico, Weinreich, Labov e Herzog ([1968] xamento social permite observar quea variação nuncaé livre, mas organizada
2006) preservam o conceito de plenitude formal, dando-lhe, no entanto, uma por mecanismos da comunidade social de prestígio e estigmatização que aca-
nova interpretação. O novo caminho teórico que instauram harmonizaos fa- bam, nofinal, motivandoo processo de mudança.
tos empíricos da heterogeneidade com o procedimento epistemológico de uma Esses dois fundamentos empíricos da sociolinguística variacionista explicam
abordagem estrutural, conciliando, portanto, realidade constitutivamente va- por que continuamos a interagir verbalmente sob o efeito da variação, elimi-
riável da linguagem com o postulado teórico de que o sistema é uma realidade nando, consequentemente, qualquer postulado de equivalência entre mudança
inerentemente ordenada (Faraco, 2006: 13). e degeneração ou progresso. Mais relevantemente ainda, derruba o princípio de
Se, por um lado, é conveniente a preservação do postulado da plenitude for- que as línguas conteriam estados de desagregação, desequilíbrio formal, opaci-
mal, é metodologicamente relevante o postulado de que o encaixamento es- dade estrutural, ou qualquer outra propriedade similar que, ao fim e ao cabo,
trutural, sozinho não é suficiente para explicar o processo de mudança. Urge, sempre podem propiciar uma situação de preconceito social.
portanto, encaixá-lo também no quadro geral das relações sociais.
Labov reconhece que a contribuição de forças internas, estruturais para a di-
fusão efetiva das mudanças linguísticas, tal como proposta por Martinet (1955),
deve ser naturalmente a preocupação primária de qualquer linguista que está
investigandoesses processos de propagação regularização.
Encaixamento linguístico
e social da mudança

Contudo, o que resultou dessa plurifacetada situação de multilinguismo


que continuou, e continua, em processo contínuo de concentração em
determináveis árpas brasileiras, não foi apenas uma“linguagem adulterada
de negrose índios”, que "todos os que puderam adquirir umacultura
escolar descartaram”, comodiz Serafim daSilva Neto, mas um português
brasileiro heterogêneo geograficamente, mas, sobretudo naescala social
(Silva, 2004, p.133).

5.1. O portuguêse as línguas românicas


O enfoque sociolinguístico da variação e mudança ataca em duas frentes:
por um lado, dissolve a separação entre linguística internae linguística externa
e, por outro, a separação nítida e absoluta entre sincronia e diacronia. O que a
linguística externateria a ver com a história interna da língua portuguesa?
A língua portuguesa pertence, comose sabe, ao grupo das chamadas línguas
românicas ou neolatinas, que tem seu ponto de partida no latim, a língua do
Lácio na Itália antiga, onde se situava a cidade de Roma. Todas as línguas romã-
nicas resultam da evolução dolatim que se havia implantado numagrande ex-
tensão da Europa em torno do Mediterrâneo, em virtude das conquistas militares
e do consequente domínio cultural e político de Romaa partir do séculoII a.C.
A Româniaincluía a Itália e ilhas adjacentes, uma parte do sul da Suíça, o
litoral da Dalmácia (uma região da Croácia na costa leste do Mar Adriático).
Além desseterritório principal, compreendia também as Gálias (a França de hoje
e parte da Bélgica), a Península Ibérica ou Hispânica, a Líbia no litoral mediter-
râneo da África e, descontinuamente, a Dácia, que coincide hoje parcialmente
com a Romênia (verfigura 5).
Quanto à Península Ibérica, informa-nos Câmara Jr. (1979) que sua ocupação
foi cabal e permanente a partir do século II a. C. emconsequência da segunda
guerra púnica. A principal consequência da ocupação da Península Ibérica teria
sido o desaparecimento daslínguas nativas de origemibérica e céltica.
Tratando especificamente da diversidade linguística da Romáânia, relata
Câmara Jr. (1979) que o português, assim como as demais línguas românicas,
—— >
derivou-se do latim vulgar, assim chamado por ser essenc ticas em virtude de sua liderança política, social e cultural. Essas inovaçõesatin-
ialmente oral e próprio
das classes plebeias, queestava supostamente em relação diglóss giram em grausdiferentesas diversas províncias conformea distância e a posição
ica com latim
clássico, a língua culta da aristocracia romana (Tarallo, 1990: 83). de cada uma dentro ou fora das grandes correntes de comunicação do Império. A
Lusitânia pode ser considerada uma dasáreas mais periféricas e, portanto, mais
distantes das influências inovadoras de Roma (CâmaraJr., 1979: 22-23).
De que modo essas condições de ordem histórico-social afetaram a estrutura
interna dolatim é o que vou examinar agora. No período clássico, o latim con-
sistia numalíngua flexional complexa, tanto na morfologia do verbo quanto na
do nome, quesofreu desde cedo um processo de simplificação e remodelação.
A simplificação morfológica do número de casos e de declinações dos nomes
provocou uma remodelação paralela nos padrões sintáticos com a implantação
consequente de uma nova tipologia frasal. Ampliou-se o uso das preposições e
fixou-se a ogdem de palavras num esquema fixo como mecanismode visibilida-
dedas relaçõessintáticas, que notipo flexional anterior se assentava no uso de
desinências nominais específicas.
O uso dos casos nominativo e acusativo, que permitia variações estilísticas
para a ordem dos constituintes foi substituído pelo uso da ordem vso,cuja fixa-
ção se esboçou relativamente cedo no latim falado. É o que para a sociolinguís-
tica variacionista se define como uma mudança encaixada.
A fragmentaçãoespacial das províncias provocou umaforte dialetação regio-
nal, principalmente noléxico, a parte do sistema linguístico que mais reflete a
organização da experiênciacultural de um dado ambientebiossocial. CâmaraJr.
(1979) menciona em particular a discrepância entre a forma portuguesa manteiga
Figura 5: O império romanonos temposde Cristo. ea francesa beurre ou entre o português queijo e o francês fromage.
Referindo-se às inovações lexicais que partiam de Roma, a difusão era de
escopo variável, conforme a distância das províncias em relação ao centro irra-
Essa situação de diversidade já constituía um ingrediente fundamental na
diador. Comoáreaslaterais ou periféricas, a Lusitânia e outras províncias ibéricas
fragmentação linguística da România, cujas causas são as seguintes:
não receberam mudanças léxicas que o esforço expressivo das massas urbanas
Emprimeirolugar, está o fator cronológico, já que a conquistae a latiniza criava em Roma.É porisso que, por exemplo, o português e o espanhol conser-
ção
las diversas regiões ocorreram em diferentes épocas. varam o verbo tradicional comedere (> port. comer), enquantoa Itália e as Gálias
Em segundo lugar, aparece a diversidade das condições socioeconômica adotavam o inovador manducare, que forneceu os verbos mangiare no italiano e
s,
imadas causas da diversidade linguística. A Lusitânia, por exemplo, era manger no francês (Câmara Jr., 1979).
uma
'egião essencialmente rural em oposição aos grandes centros urbanosda Bética, Baseando-se em Câmara Jr. (1979), Tarallo (1990a) investiga se as mesmas
2or exemplo, uma província no sul de Espanha, na atual Andaluzia. condições que propiciaram a romanização na Península Ibérica se aplicariam
. Em terceiro lugar, costuma-se citar o contato com línguas tipologicamente ao processo de europeização da América. A conclusão a que chega Câmara Jr.
listintas, como celta ou celtibero na Ibéria, às quais se superpunhao
latim, e (1979), no que foi reforçado por Tarallo (1990a), é a de que as condições aqui
juea ele serviam desubstrato linguístico. Com as invasões germânicas, a partir foram diferentes: “A colonização portuguesa foi firme, determinada, uniforme e
lo séc. IV, e o estabelecimento de novaselites governantes, as línguasque suficientemente integradorae aculturante” (Tarallo, 1990a: 85).
fala-
*am,e que foram abandonadas em favor do latim, serviram-lhe de superstra Em termoscronológicos, a infiltração do latim nas nações vencidas foi lenta
to.
Em quarto lugar, pode-se mencionara frequência e o grau de contato de cada e constante. Já na América, de colonização espanhola e portuguesa, também
egião da România com o latim de Roma,centroirradiador de inovações linguís- deve ter havido diferenças de uma região para outra, mas o caso brasileiro foi
r
diferente. Foi alto o grau de incorporação das etnias nativas na sociedade branca
com intensa mestiçagem, especialmente no Norte. Tal incorporação implicou, Câmara Jr. (1979) contesta os que invocam um substrato indígena de base
sobretudo, a eliminação lenta da população indígena com a desagregação tupi para explicar fenômenos específicos do português brasileiro (doravante PB).
da Para o autor,a língua geral, atuando como um pidgin, despojou-se de seus traços
vida tribal (CâmaraJr., 1979).
fonológicos e gramaticais mais típicos para se adaptar à consciência linguística
As razões dessa incorporaçãofirme e determinada da cultura indígena na
dos brancos e o português nela atuou como superstrato. Exceto os emprésti-
cultura portuguesa, que são inferidas por Tarallo (1990a) com base indireta em
moslexicais, nenhum traço fonológico e nenhumtraço gramatical deixaram
Câmara Jr. (1979), podem ser listadas a seguir:
vestígios no PB.
(i) A homogeneidadecultural e linguística dos índios Tupi da costa entre a
Em relação às línguas africanas, a situação de contato foi diferente. Como as
Bahia e o Rio de Janeiro.
crianças brancas eram confiadas aos cuidados das mães pretas, não se descarta a
(ii) A criação de umalíngua geral de contato, um adstrato, que sobrevivia ao
possibilidade de esses descendentes europeus terem adotado traços de um por-
lado do português.
tuguês crioulo. Entretanto, “não se dariam mudanças fonológicas e gramaticais
(iii) A adaptação do negro à língua geral de intercurso. profundas sem correspondência com as próprias tendênciasestruturais da língua
(iv) Desde cedo,já a partir do séc. XVII,a extinção do bilinguismo português portuguesa”, (Câmara Jr., 1972b: 77).
e tupi em favor do português motivadapela intensificação das correntes
Um caso exemplar de possível transferência do crioulo africano para o PB
migratórias portuguesas e, consequentemente, maior grau de implan-
é o emprego invariável do pronome ele comosujeito e como acusativo, que o
tação dos valores culturais europeus. Pode-se agregar umaintervenção
autor descarta por se tratar de inovação que já estava prefigurada no sistema
política in vitro (Calvet, 2002: 146-7), formade gestão do Plurilinguismo
gramatical do português europeu, e seu desenvolvimentoteria encontrado aqui
brasileiro que se deu mediante a extinção por decreto (Lei do Diretório condições estruturais e sociais muito favoráveis.
dos Índios) da língua geral de base tupi, executada pelo Marquês de
Pombal em 1757, para aplicar-se ao Pará e ao Maranhão, e depois em
1758 para aplicar-se ao restante da colônia (ver a discussão desse assunto 5.2. Origem do português brasileiro:
nocapítulo 3).
reatualização da hipótese crioulista
(v) Um equilíbrio nadistribuição dosdialetos portugueses trazidosao Brasil,
cujo resultado pode ter sido a criação de “condições novas para uma vida Causa ainda polêmicaa influência africana para a conformação atual do por-
linguística própria e para o desenvolvimento de uma subnorma, nalín- tuguês brasileiro. Nina Rodrigues (1932 apud Barzotti Filho, 2002) defende que
gua comum, em face do português europeu” (Câmara Jr., 1979: 29). Um existiram noBrasil duas línguas gerais africanas, uma de base nagô-iorubana na
fator favorável a essa condição é o de quea elite brasileira buscava sua Bahia, e outra de base banto-quimbundo nas demais regiões.
formação universitária em Portugal no período colonial, situação que Para Teyssier (2007), a principal motivação da variação no PBé a diferença
justifica plenamenteatribuir um grau maiorde prestígio social à varieda- social: há para ele mais diferenças entre um homem culto e o vizinho analfa-
de lusitana. beto que entre dois brasileiros do mesmo nível sociocultural de duas regiões
Tarallo sugere que a quarta causa seria a mais aplicável às condições de im- distantes. Assim,a principal linha divisória do espaçolinguístico brasileiro, que,
plantação do português na nova România: a frequência e o grau de contato di- em outras nações produziu forte dialetação geográfica, é a que separa os falares
reto com o centro cultural europeu depois da primeira fase da colonização deve urbanos e os falares rurais. A variedade rural do PB foi pioneiramente estudada
ter neutralizado uma diferenciação radical entre duas variedades evoluindo em por Amaral (1920), porele denominado dialeto caipira.
territórios distintos.
Para Melo (1971), o português caipira teria se originado da fusão de falares
O quadro de exclusãototal do indígena nãoaculturado parece terdificultado crioulos de base tupi africana em certos pontosdoterritório nacional, sobretu-
à inserção de seus valores étnicosna sociedade brasileira em formação.É elevada do na região da cidade de São Paulo. Portanto, deve-se a Melo o pioneirismo na
à importância do tupi comolíngua predominante, na qualidade de língua geral, proposta de uma origem crioula do português popular, a que depoisse juntou
am vários momentos do processo colonial brasileiro. Mesmo assim,a influência ,
Guy (1989).
que o tupi exerceu sobre o português não é tão ampla quantoseria de esperar:
Na região de São Paulo, teria se estabelecido um dialeto crioulo do tipo tu-
iinda queseja inegável sua participação na formação doléxico da variedade bra-
pi-quimbundo. Tendo, depois, passado por um processo de jusitanização, esse
sileira, é questionável sua influência na gramática (CâmaraJr., 1972a).
crioulo teria dado origem ao dialeto caipira, cuja área de atuação foi ampliada
pelo trabalhodasbandeiras e monções, que atingiu inclus i a brasileir
inguísticstabe
lingui s ra a ma-
ive o rio São Francisco joulo que permitiria compreender por que a realidade
à
festa umadiscrepância tão forte entre a norma-padrão para
e depois os sertões nordestinos. Para Melo (1971)
seria esse o processo histórico
que explica a relativa uniformidade dafala popular jori da populaç
ulação.
rural. efetivamente praticadas nas variedades faladas pela maioria
Desnecessário dizer que se reconhece amplamente a influê eo
mas, como em io à perda
cantá, muié
ncia das línguas Permite também explicar a perda sistemática de fonei
ai
ical,
africanas sobre aspectos particulares do vocabu
lário do português brasileiro. etc., sobretudo osfinais e a simplificação do sistema gramat
Como essa área carece de estudos mais sistemáticos o nua
, acaba sendo controversa c
da conco rdânc i de número.
ância
a origem africana de certos itens. Para além do vocabulário, vocabulário A
mais controversa e Nesse texto, defende Guy (1989) umafala baseada no
polêmica é a questão linguística contemporânea acerca da
; zadosi ntagm at ticam
i ente p uma gramát
te por ic: muito siimplido-
! ática
influência dosfalares esa organi i i
africanossobre as características gramaticais do PB. no século XVI, períodode
a ca origem dessa fala comum estaria situada
E o primeiro aspecto controverso dessa questão é mesmo izados no Brasil. e io via,
a existência ou não árande fluxo migratório forçadodeafricanos escrav
de um crioulo de base portuguesa de uso generalizado nalíng
ua da senzala. Em
s
ncia reversa, segun do a quala fala brasileira
a tendêênci ilei estariia passando
nte
parte a existência de umalíngua geral portuguesa de base gramat
ical africana ao o de descrioulização com suas causas arraigadas num processo cresce
fica mais ou menosatestada nos estudos de Vogte Fry (1996) sobrea estatísticos sobre a situação
fala de ori- ua
de urbanização e escolarização, com base em dados
gem africana praticada no bairro de Cafundó de Salto do Pirapo =
ra. A língua ma- fabetismo.
terna da comunidade é o português caipira, mas há situações especi
ais que em-
induto c aadE o(969)s obrosfeitosdaur
dovsdsetaiaça
pregam um léxico de origem banta, denominadacupópia. A língua
do Cafundó . ,
e outrasvariedades similares não representam apenasa simple
s sobrevivência de
umalíngua banta qualquer, mas umaprática linguística em consta
nte processo i i rt .
de transformação e cujo significado político e social é dado pelo
contexto das 0des envo lvim ento da conco rdância, estaçãoa oemo,a puma
relações ondeela tem vida (Vogt & Fry, 1996: 25-6).
Comoessavariedade, poderia ter havido outroscrioulosafricanos ioulização.
queteriam Cu(5) vêmese dadosumaconfirmação de sua tese de descr
mesclado uma gramática simplificada do português com
o léxico das línguas afri-
canas. Contra essa possível tendência,a política ofical da coroa
portuguesa para
a distribuição dos escravos africanos nosterritórios coloniais
exigia que, tanto
quanto possível, deveriam ser mantidas separadas pessoas da mesmaf
5.3. Origem do português brasileiro: .
mesmaetnia, e mesmo da mesmaregião de origem. O objetivo dessa
amília, da reatualização da hipótese de deriva regular
política era
dificultar o surgimento de uma coletividade entre osindivíduo é vistacom
s escravizadose, A hipótese de um crioulo na base do português popular do Brasil
posteriormente, dificultar a organização derevoltas e motins (Teyssi comov imos air epé ea
er, 2007). reservas. Um precursor dessa visão contrária é,
e os-
A teoria de línguas gerais africanas de Nina Rodrigues (1932 apud
Barzotti Câmar
â a Jr. (1972b). Naro e Scherre ( 1993) destacam a falta e de evidênc i:
Filho, 2002), todavia, parte da consideração de que o proces ileiira de que haveriia diferenças fundamr entaisa entre que
so de separação não toriogr
i i brasile
afia
ra. Sal nq
era completo, já que a maioria dos escravos provinha de regiõe
s quenão sedife- afrodescendentes e outros segmentos poljbres da sociedade brasilei co
Tenciavam apenas, mas também se aparentavam em alguns pontos lei ra afrodescenden' te não desenv V olveu g umavar ie: aos [1972]
. Essa situação i ade brasilei
a socied
era favorável, portanto, à constituição de uma certa unidade na diver i , ex: tensiv amente
ente investi
i n gado por(1 q n a
sidade. chamadodiale i to afro-americano
aqui existiu um portus uêsne gro,s uas
Guy (1989), por sua vez, considera que o Brasil dispunha
de todas as condi- 2008). Defendem os autores que, se por
tão sutis que fugi:
ções sociais para a existência de falares crioulos comoos existe
ntes em outras diferenças em relação ao português geral eram
; ade
regiões da América. Uma condição favorável a essa hipóteseé
o fato de 4 milhões dos observadores (Naro & Scherre, 1993: 4389).
il redeoa iai
Para os autores, “parece improvável ter existido noBras
de africanos terem sido trazidos para cá, o equivalente a nada
menos de 40% do
total de negros escravizados nas nações americanas. Esse desafortun RR Dus
ado epíteto oucrioula de base lexical portuguesa associada e
de a maior nação escravocrata explica ainda hoje a Presença marca a
nte de afro- afro-brasileira ou ameríndia” (Naro & Scherre, 1993: 441).
descendentes na população brasileira atual. que já preenc hiam as necessit aaroimEnto dê
línguas gerais de base tupi,
o
Para Guy (1989), esse crioulo brasileiro de base africana teria dado
origem dos três povos em contato, praticamente dispensavam
ao português popular falado no Brasil, em sua variedade rural e urbana um crioulo africano de base portuguesa.
, É esse
reto
Aslínguas crioulas típicas apresentam uma única formalexical para nomes típicos do português popular atual do Brasil já estariam presentes nalinguaSue
e para verbos, que não admite qualquer modificação para indicação de noções aqui chegou com os próprios portugueses, o que dá claro suporte hipó'
gramaticais de pessoa, gênero, número, tempo, aspecto etc. Dessa evidência transmissão natural, já defendida antes por Câmara Jr. (1979). o
se
serve Guy (1989) para atribuir a perda parcial ou total dos mecanismos Antes mesmo de Naroe Scherre (2007), Tarallo (1996a) demonstra a existên-
de con-
cordância no Brasil ao processo de crioulização africana do português. cia de mudanças encaixadas no sistema pronominal que envolve um espelha-
Noentanto, é pefeitamente possível para Naro e Scherre (1993) que a língua mento entre o sistema anafórico das sentenças simples e o das sentenças relati-
portuguesa trazida ao Brasil no início da colonização já contivesse o embrião
de vas. Inicialmente, o autor defende a ideia de que similaridades do sistema ana-
novosistema mais analítico ao sair da Europa.Essa hipótese tornaria plenamen- fórico do PB com o de outras línguascrioulas poderiam muito bem ser atribuídas
te plausível o argumento contrário de que o que ocorreu com a simplificação ao processo decrioulização originalmente proposto por Guy (1981a, 1981b apud
morfológica do PB não é mais que o resultado da deriva secular das línguas ro- Tarallo, 1996a).
mânicas em direção à uniformização morfológica e consequente sobrevivência Argumenta, entretanto, queo reduzido conhecimento disponível sobre o en-
apenas das formasirregulares maissalientes (Naro & Scherre, 1993: 442). caixamento social dessas mudanças,ligado à história externa do PB, não permite
A redução de formas regulares de plural como comem [komi] a [komi] tem tirar conclugões satisfatórias sobre a questão; resta, portanto, tratar do encaixa
como traço diferencial único a desnasalização da vogal átona final, regra fo- mento linguístico de alguns processos gramaticais que permitirão discutir, no
nológica que se aplica a nomes também como homem pronunciada ['ômi]. Há nível gramatical, interno,se a hipótese crioulista se sustenta ou não.
evidências desse processo de desnasalização na fala popular de Portugal, prin- Como uma mudançanão direcionada confirma a deriva, ou processo de mu-
cipalmente na região de Entre-Douro-e-Minho, tanto em substantivos como dança regular, é ela que permite separar os dois dialetos, masa hipótese erioulis-
virgem pronunciada como birge, quanto em verbos, como vertem pronunciada ta de Guy pressupõea reversibilidade do processo em direção de umadescriouli-
berte (Leite de Vasconcellos apud Naro & Scherre, 1993: 442). Esses autores con- zação. Em vista disso, Tarallo (1996a) persegue um objetivo duplo:
sideram,portanto, que a existência, no português falado do Brasil, de eles comeu
em vez de eles comeram, um processo morfológico, não passa de uma fase mais (i) apresentar duas mudanças em progresso inter-relacionadas no PB para, em
adiantada do processo fonológico de desnasalização, “queliderava maciçamente última análise, entender a gramática contemporânea de uma língua que
tem essa suposta origem crioula e
a redução de concordância” (Naro, 1981: 93 apud Naro & Scherre, 1993: 442).
(ii) acrescentar evidência contra a hipótese da descrioulização (Tarallo,
Já no âmbito da concordância nominal, em geral a primeira posição linear 1996a: 39). +
que o constituinte ocupa nosN é a única a receber marca de plural. A hipótese
crioulista usa esse fato como um dos argumentos mais decisivosa favor da con- Natural que essa empreitada requeira atenção especial à questão de determi-
tribuição africana para o perfil do português popular. No entanto, os estudos narse a sintaxe do PB é uma consequência direta do latim, comoo seria a gra-
de Scherre (1988) sobre concordância nominal demonstram que posição linear mática do PE, ou se, contrariamente, é o resultado de uma mistura dialetal com
encobre regularidades derivadas de um complexo de variáveis, formado pela línguas de contato do português com as variedades africanas. No primeiro caso,
zombinação de posiçãolinear, classe nuclear e não nuclear e relação entre classe considerando a teoria sobre línguascrioulas, a mudança seria direcionada e no
nuclear e não nuclear. Naro e Scherre (1993) concluem, portanto, que se existiu segundocaso seria não direcionada (Bickerton 1984 apud Tarallo, 1996a).
ima verdadeira línguacrioula de léxico português e gramática africana, ela desa- Como já foi mencionado, um aspecto crucial para a caracterização do PB po-
Jareceu prematuramente sem deixar vestígios na documentação. pular diz respeito a um processo deflexibilização das normas de concordância
A restauração da concordância nos ambientes de alto grau desaliência é ex- nominale verbal. Em contraste com a normaescrita padrão,a variedade popular
2licável por um processo de descrioulização que se abateu apenassobre asclasses não manifesta apego às regras de concordância, sendo que, nos falares rurais
nais escolarizadas. Mais recentemente, Naro e Scherre (2007) resumem numa ou rurbanos, na definição de Bortoni-Ricardo (1989), a ausência cabal é de fato
:ó obra todosos trabalhos que publicaram sobre o assunto para concluírem que a norma, enquanto nafala urbana, padrão,ela é variável e sujeita a fatores de
1ão se estabeleceu noterritório brasileiro nenhum traço estrutural estranho à maior ou menorsaliência.
“strutura original com a quala língua portuguesa aportou na América. Na concordância verbal, por exemplo, é mais elevada a probabilidade de con-
O resultado de um cuidadosotrabalho de garimpagem efetuado sobre dados cordância na ordem direta, em quea posição desujeito é muito mais saliente do
lialetológicos do português europeu aponta para o fato de que todos os traços que na ordem indireta, que se atesta em sentenças como (5-1a-b).
Por razões de economia de espaço,restrinjo-meaqui à discussão da primeira,
(5-1)..a Os dis eniçês chegará oritêm, Ca
a reorganização do sistema pronominal, cuja consequência mais importante foi
b Chegouunssujeito(s)malencarado(s) a implementação nosistema brasileiro de objetos nulose desujeitos lexicais.
Há séculos o PB emprega a formade tratamento você no lugar de tu para refe-
Pode-se dizer que a saliência é um mecanismo de mensuração do encaixa- rência à pessoa não subjetiva de Benveniste (1976). Na origem, você, descendente
mento linguístico dos processos variáveis. Aqui, um mecanismo sintático, a direto de Vossa Mercê, era mais deferencial que tu no tratamento do interlocutor,
concordância verbal, está encaixado no subsistema também sintático de outro
masa generalização de seu uso a opôs a um paradigma em que o tratamento
mecanismo: a percepção do falante de que o sujeito invertido não é realmente
formal é realizado mediante a generalização do uso das formas substantivadas
um caso nominativo.
o(a) senhor(a).
Outros casos variáveis de concordância verbal estão encaixados num subsis-
A implementação dessa forma acelera umasérie de mudançasna conjugação
tema morfofonológico, que explica o grau de saliência fônica da oposição entre
verbal, com a redução de seis conjugações para quatro com a extinção da 2?
formas de singular e formas de plural.
pessoa dosingular e da 2º pessoa do plural em proveito de você, que se conjuga
Além de estar submetido a um processo fonológico geral, que, como o verbo
comoa 3º pessoa. Em alguns tempos verbais, como o imperfeito do indicativo,
afeta também outras classes lexicais, como o advérbio ontem pronunciado onti
em que não hádistinção entre 1º e 3º pessoa, essa mudança é ainda mais drásti-
e o substantivo garagem pronunciado garagi, a distinção entre formas regulares
ca. Outro fator de agravamento é a gramaticalização de a gente como 1º pessoa
como come x comem é pouco saliente em relação à distinção entre formas irregu-
do plural, desfavorecendo uso de nós.
lares de pretérito, como fez x fizeram.
Tarallo (1996b) acentua que a consequência desse processo é a inversão de
É essaa análise do fenômeno que já faziam Lemle e Naro (1977 apud Lemle,
umacaracterística histórica do português clássico, que apresentava um sujeito
1978) e que, de certo modo, continua preservada na análise de Scherre sobre
a concordância nominal, em relação a plurais metafônicos, como o de pala- implícito e um objeto explícito em decorrência da rica morfologia verbal. O PB
vras como poços em contraste com a forma singular, e plurais regulares como experimenta uma mudança numa direção opostaa essa, que o afasta seriamente
mesa/mesas, cuja diferença fônica se reduz unicamente aoacréscimode /S/. Esse da variedade europeia. Em 1725, o percentual de preenchimento do sujeito não
processo cognitivo deve provocar diferentes graus de avaliação social entre as passava de 23,3% contra 89,2% de preenchimento do objeto direto, ao passo
formas com maior e menorgrau de saliência fônica,residindoaío efeito aparen- que, em 1981, a taxa de preenchimento de sujeito passou a ser 79,4%, em opo-
temente formal de que esses casos aparentam dispor. sição a uma taxa de apenas 18,2% de preenchimento de objeto direto (Tarallo,
Em termos estruturais, Tarallo (1996a) traz à luz a atuação de outros fatores 1996b:84).
internos, absolutamente encaixadosno sistema, que explicam o distanciamento A necessidade de explicitar o sujeito, em função da indistinção progressiva
progressivo do PB, desde fins do século XIX, da variedade europeia e, fornecem das formas verbais (Duarte, 1996), tende a radicalizar o processo ainda mais,
evidências de mudançainterna para contradizera hipótese da descrioulização de pela eliminação das diferenciações formais que ainda restam, ouseja, a oposição
Guy (1981, 1985 apud Tarallo, 1996a). entre a 3º pessoa do singulare a 3º pessoa do plural. O sistema com que se passa
Já em outro texto, Tarallo (1996b) delineia algumas bases linguísticas para a contarse identifica com ausência de distinção morfológica e com uma mudan-
esboçar a emergência de uma gramática brasileira que, nofinal do século XIX,já çasintática concomitante, que é o preenchimento cada vez mais necessário da
mostrava claras diferençasestruturais em relação à gramática portuguesa. Tarallo posição de sujeito. Um caso típico de mudança encaixada.
(1996b) menciona quatro mudançassintáticas: Outro aspecto da morfossintaxe do PB é o desaparecimento paulatino, na fala
(i) a reorganização do sistema pronominal, cujas consequências mais dire- coloquial, dos pronomes átonos, mesmona posição de objeto, em que a norma-
tas foram a implementação de objetos nulos, por um lado, e o aumento -padrão rejeita um pronome tônico. A causa dessa alteração pode, uma vez mais,
de frequência de sujeitos lexicais, por outro; estar perfeitamente arraigada na deriva histórica das línguas neolatinas em dire-
(ii) a mudança nas estratégias de relativização em razão das mudanças no ção de um sistema desprovido decasose declinações.
sistema pronominal; Um resíduo do desaparecimento dos casosestá justamente no sistema prono-
(iii) a reorganização dos padrões sentenciais básicos com o enrijecimento da minal do português. Distinções entre os pessoais tônicos e os pessoais oblíquos
ordem svo; átonos constituem mecanismos residuais de preservação dos casos. Câmara Jr.
(iv) os padrões sentenciais em perguntas diretas e indiretas. (1972b) relaciona a perda dos pronomes átonosao já aludido uso de você em vez
= ——

de tu. A falta de tu em sentenças como de (5-2a) pode torná-la ambígua, uma Comosetrata de uma mudança encaixada, o principal reflexo dela está no
vez que o pronome átono tanto pode referir-se ao interlocutor quanto a uma sistema de relativização de objetos indiretos e de oblíquos. Assim, umaestraté-
“erceira pessoa envolvida no contexto. gia padrão comoa de (5-6a), tem umavariante copiadora que seguea tendência
pelo pronome tônico em vez do átono, produzindo a forma de(5-6b), ou sua
(5-2) a Euo encontrei. alternativa cortadora em (5-6c).
"Eu encontrei ele: R i

(5-6) a Amenina [de quem você gosta] já tem namorado.


Nessecaso,o uso do pronometônico em (5-2b), evitaria a ambiguidade, como, b'Amenina [que você gosta dela] já tem namorado.
aliás, ocorre com o sistema de possessivo, que também passou a dar preferência
c A menina [quevocê gosta] já tem namorado.
2ela forma tônica precedida de preposição, ao substituir seu/sua por dele/dela.
Outra motivação, também interna, postulada por Câmara Jr. (1972b) serve
:omo argumento para Castilho (2001) defender a hipótese da mudança natural. Nestas duas últimasestratégias, o pronomerelativo parece se esvaziar de sua
segundo CâmaraJr., a próclise de o ao verbo cria um vocábulo fonético em que funçãoreferencial e anafórica, assumindo uma função mais gramatical, a mesma
ai o pronome, aí tratado como uma vogal átona, umaforte tendência para a de que gozah as conjunçõesintegrantes nas orações completivas.
iférese, já predisposta em termos como magina, panhaetc. A queda do a átono Essa mudança no sistema pronominal a que outra mudança se encaixa, que
»roclítico requer a escolha de outro pronomepara o preenchimento da função é o modo comoasrelativas estabelecem relações de correferência entre o sN da
je objeto direto (Câmara Jr., 1972b: 51). encaixada e o da principal, está, segundo Tarallo (1996b), relacionada a uma
A passagem do tempo pode tornarainda mais inseparáveis o verbo e o prono- diferenciação geral entre os dois dialetos, explicada pela teoria gerativa: o PE é
ne, com a necessidade subsequente de preenchera posição mesmo ondeele não marcadoporregras de movimento enquanto o PB deriva as regras mediante apa-
or funcionalmente necessário mediante o uso de um pronometônico. Assim, gamentode constituintes in situ.
»assou a ser comum, mesmo em variedades faladas mais cultas, a inserção de No tratamento desse caso, Tarallo deliberadamente restringe a discussão à
ima forma copiadora, como em (5-3a) em oposição à variante mais afeita à va- noção de encaixamento linguístico de Weinreich, Labov e Herzog ([1968] 2006),
ijedadeescrita formal, como em (5-3b). destacando queo reflexosintático de um processo de mudança em outro é teo-
ricamente previsível com base em um paradigmasintático forte para a análise
(5-3) a A minhafilha menor, ela vê se tudo está em ordem. linguística, que é justamente o modelo chomskiano (Tarallo, 1996b: 74). De um
b A minhafilha menor vê se tudoestá em ordem. ponto de vista variacionista, a origem da mudança só pode ser avaliada no seu
lado estritamente linguístico, o que implica deixar de lado o encaixamento so-
cial, que foi fortemente levado em contra por Guy (1989).
Nafunção de objeto, a preferência é pelo não preenchimento, mas, em situa-
:ões de SN humano,o uso de um pronometônico não está descartado, comose Com base em evidência de natureza estritamente interna, portanto, Tarallo
»bserva em (5-4a-b). (1996a) sustenta que, em vez de se aproximar do PE, mediante o processo de
descrioulização defendido por Guy (1989), o PB está se distanciando do supers-
(5-4) a Aquele homem, você o conhece? trato original, o PE. A assimetria sujeito/objeto nas duas variedades mostra que,
para descrioulizar-se, o “PB teria literalmente quese virar pelo avesso e de ponta-
b Aquele homem, você conhece ele?
-cabeça. Sujeitos teriam que começara ser nulosoutra vez (...), enquanto objetos
teriam que começar a receber pronomes clíticos outra vez” (Tarallo, 1966a: 60).
Essa tendência encontra seu reflexo mais integral no subsistema sintático das
sstratégias de relativização, comose vê em (5-Sa-b).
5.4. Retomadada hipótese crioulista:
(5-5) a A minhafilha menor, que ela vê se tudo está em ordem, é realmente uma posição conciliatória
muito disciplinada. É necessário lembrar que, segundo Teyssier (2007), encarada apenas a dimen-
b Aquele homem,você conhece ele? são linguística da origem da mudança, comoo faz Tarallo (1966a), a fonologia
e a morfossintaxe do PB contêm tanto traços inovadores quanto traços conser-
vadores. É na pronúncia das vogais que o PB
se distancia do PE, tanto por seu
conservadorismo, quanto por suas inovações. estaria da língua mãe; ao invés disso, o que se observa é exatamente o contrário:
No domínio da morfologia e da sintaxe, desta quanto mais anterior é o tempo,tanto mais diferentes são osfalares.
ca Teyssier (2007: 105), o uso
de estar + gerúndio, o uso de Possessivos sem artigo Desse argumentose vale Paixão de Souza (2006) para questionar 9 que prova-
, o emprego de ter no lugar
de haver, o uso generalizado da preposição velmente deve ter ocorrido antes da rerromanização da Península Ibérica. Mais
em em vez de a para indicar direção;
as inovações de maior grau, entretanto,ele especificamente, no período posterior à queda do Império Romano, mas anterior
as situa no domínio sobejamente
conhecido da colocação de pronomes. A quefator extern a 1300, 1400, qual teria sido a realidadelinguística da România Ocidental, espe-
oseria possível atribuir
essas inovações? cialmente da Península Ibérica?
Usando o paradigma indiciário de Ginsburg,Silva Depois deter sido atacada por povos germânicos,a partir do século VIII, a re-
(2001) considera ser possí-
vel rastrear na história social do PB indícios “para gião é arabizada. Ao longo dos séculos X a XV, travam-se batalhas entre mouros
uma compreensão do portu-
guês popular brasileiro na perspectiva de sua const e cristãos pela Reconquista, movimento que se encerra em 1494 com a tomada
ituição e de sua difusão his-
tórica” (Silva, 2001: 277). A autora destaca
que, em função da aculturação e de Granada, último reduto árabe. Depois do século XV, os cristãos estabelecem
do
genocídio das nações indígenas, não foram os índio uma reconquista cultural com um processo de rerromanização.
s os difusores de umalíngua
geral brasileira no período colonial, mas os povosa Ondeteham ficado os vestígios das eventuais heranças germânicas e árabes
fricanos escravizados, com
os quilombos atuando como espaços favorecedo nasfalas hispânicas? Certamente teriam se perdido na construção da história To-
res dessa difusão: “Os espaços
ilegítimos da escravidão seriam, comoos legítimos, manizada que contaram oscristãos vencedores, ao estabelecerem a legitimidade
fortes candidatos à difusão de
um português geral brasileiro (...)”(Silva, 2001: 298). dos vernáculos com base numa suposta similaridade com o latim. Parecer com;
A hipótese crioulista de Guy (1989) tem a o árabe é um sinal de rudeza, de que se acusam mutuamente castelhanos e lusi-
ver, conforme já menciona do,
com uma motivação de ordem social, que ele atrib tanos como um fator de dissimilaridade com o latim no processo de legitimação
ui à distância entre a norma-
-padrãoe a variedade estigmatizada, num quadro tão de seus vernáculos nos séculos XVI e XVII (Paixão de Souza, 2006: 36). E se isso
considerável de cisão que
permite aproximaressa situação de uma condiçãolin nãobastasse, a rerromanização provocou umaenxurrada de termoseruditos que
guisticamente diglóssica. A
explicação de Guy (1989) se aplicaria ao português das passaram a rivalizar na língua escrita com as formas que sofreram o processo de
classes populares, ao pas-
So queas teses opostas descreveriam as transformaçõesda mudança natural. Um exemplo, dentre muitos, é plano e chão derivados do mes-
fala dasclasses médias
e superiores, já há mais tempo urbanizadas e mo radical latino planu(m). ,
escolarizadas.
Luchesi (apud Silva, 1998) propõe uma solução conci Há um verdadeiro universo de fatos linguísticos a que não temos acesso por
liatória para as duas po-
sições, sustentando que haveria um movimento conve documentação, mas não porque se perderam, mas porque nunca foram pealmeno
rgente pelo quala fala das
classes populares se aproximaria do padrão lusitanoe te registrados. É possível conhecermosa linhagem dosreis e das cortes cristãs
a fala das classes média e
superiores dele se distanciaria progressivamente, em pelas narrativas que os vencedores nos legaram, mas nada nosé dado a conhecer
razão de dois motivos con-
traditórios e complementares: em Primeiro lugar, a sobre a variedade que falavam os criados quando iam à busca de pescadose tem-
língua popular se aproximou
do padrão graças a um maior grau de escolariza
ção e urbanização, enquanto a peros no mercado (Paixão de Souza, 2006: 37).
língua daelite teria se tornado mais popular, graças à democ
ratização da vida so- Os registros deixados não passam de fragmentos dos acontecimentos, mas
cial, às inovações do modernismo,à ascerisão e à mobil
idade social. Essa hipóte- mais do que isso, são fragmentos do que determinado contexto histórico, o das
se intermediária sugere que ambas as abordagens,a
de deriva contínuae a criou- crônicas trecentistas, julgou relevante registrar. Do que um segundo momento
lista são igualmente válidas, desde queaplicadas a varie
dadesdistintas da língua. histórico julgou importante preservar, digamos assim, aindependência portu-
Maurer Jr. (1951) invoca Jespersen paranoslembrar de
que o processo natural guesa em 1640 e o enriquecimento do português através da adoção dos neo:
je evolução tende decididamente paraa divisão e a fragm
entação, de modo que logismos no século XVIII (Ilari, 1992). Do que um terceiro momento histórico
la unidade sai a diversidade. Esse modo de ver, segu
ndo Maurer Jr. (1951) é uma considerou pertinente examinar, digamos assim, a linguística românica pol
ítica sensataa atitudes extremas, Pois há outras motiv
ações que agem exata- gurada porFriedrich Diez no século XIX e suas consequências para o período
nente no sentido contrário. Grande parte da semelhan
ça formal quese percebe histórico-comparativo.
las línguas românicas nãofazia parte do inventário desse
s falares nosprimeiros Do mesmo modo,os registros da influência dos negros na vida do cotidiano
empos medievais. Assim, quanto mais recuássemo
s no tempo,tanto maiorseria
* grau de similaridade entre os falares românicos, do Brasil colonial são pontos obscuros de nossa história. Segundo Silva (2001),
pois mais próximos cada um
do século XVI para o XIX, a taxa de africanos e de afro-brasileiros, negros e
F

mulatos, se confrontada com a de europeus ebrancos brasileiros, é o dobro nos | Conforme já mencionado, Faraco (2008) ressalta quea eliteletrada do Brasil
séculos XVIl e XVIII e primeira metade do século XIX (Silva, 2001: 292). noséculo XIX se empenhou em fixar como norma-padrão certo modelo lusita-
Sobreessa questão, Kabatek (2009) afirma quea crioulização do no deescrita. Destaca, ademais, que “por trás dessaatitude, estav seu desejo0 de
PB não supõe
necessariamente “influênciaafricana”, mas uma situação de interrupção de trans- viver num país branco e europeu, o que afazia lamentaro caráter multirracial e
nissãolinguística emquepessoas dediferentesorigens comdiferentes línguas se mestiço de nosso país” (Faraco, 2008: 81). À reação a uma norma-padrão abrasi-
“omunicam commaterial de uma língua novapara todos, que, nocaso doBrasil, leirada, comoa de línguabrasileira, defendida por José de Alencar, se manites-
2 0 português. Segundo ele, é difícil demonstrar que tenha havido influência tava no mesmo tomcom que se combatiamos fenômenoslinguísticos identifi-
las línguasafricanas na formaçãodo Pb, masé evidente ter havido crioulização. cados como“português de preto” ou “pretoguês, entendidos como sinônino de
Esse mododever coincide com a posiçãooriginal de Baxter e Luchesi (1997), corrupção, degeneração, desintegração.
jue defendema existência de uma língua crioula original. Para esses autores,as Para entendero que significa a expressão “elite letrada”, basta lembrar que,
ínguasafricanas ativam umprocesso de transmissão irregular de L2,a língua do em 1872, o índice de analfabetismo atingia 99,9%da populaçãoescrava e 86%
srupo dominante, para L1, a língua crioula em potencial. Esse processo de aqui- da populaçãolivre, estimada em 4,6 milhões. Apenas 16,8%da populaçãoentre
ição/criação de L1 é precedido por uma alteração em L2, motivada, por sua vez, 6e 15 anosfrequentavamescolas e chegava a apenas 8.000 o número de pessoas
»or problemas de acesso à língua-alvo e possivelmente também porinfluência com educação superior. Havia, portanto, um abismoentre a elite letrada e o res-
las línguas maternas dosfalantes de L2. As inovações que surgem desse processo tante da população, uma grande massa de analfabetos ou pessoas com educação
le transmissão irregular acabam por preencheras lacunas ou as opacidades cau- muito rudimentar (Silva, 2001).
adas pela diluição do modelo de aquisição. Esses dados externos mostram queessa questão está distante de uma resolu-
Galves (2008) investe na hipótese de transmissão irregular com base nas si- ção definitiva, principalmente em face da escassez de conhecimentos seguros
nilaridades entre o português africano e o brasileiro, sustentando que elas de- sobrea história externa do português do Brasil. É no mínimoa escassez de docu-
ivam da interferência das línguas africanas maternas dos falantes no processo mentação que provocao aparecimento de posições divergentes sobre o assunto.
e aquisição. Galves levanta umasérie de fenômenos morfossintáticos variáveis Não se pode negar que deve ter realmente existido uma fala crioula associa-
ntre línguas africanas e o português brasileiro que atestariam, em sua opinião, da aosescravos de origem africana. Naro e Scherre (1993) não negam que uma
influência de um crioulo de base africana na formaçãoda variedadebrasileira. pidginização quase endêmica desde o início da colonização tenha influenciado
O bilinguismo empaíses africanos, como Angola e Moçambique, mostra que o desenvolvimento do português brasileiro. Reforçam, contudo, a afirmação de
português atua predominantemente como segundalíngua para a maioria da Câmara Jr. (1972b), de ser falsa a tese de que o substrato indígena e o substrato
opulação. Portanto, os fenômenos morfossintáticos que elenca poderiam re- africano tivessem produzido uma nova língua na América portuguesa: “A in
altar da interferência das línguas africanas maternas no processo de aquisição fluência do português crioulo, de que, em princípio não se pode abrir mão, só
O português. A comprovação dessa interferência para a situação angolana e pode ser encarado como um “efeito de gatilho', para usar a expressão de Uriel
1oçambicana constituiria, portanto, forte razão para supor que teria ocorrido Weinreich em sua doutrina sobre o contato linguístico” (Câmara Jr., 1972b: 77).
umbém nasituação brasileira. De qualquer modo,o que se infere desta discussão, de um ponto devista teó-
Umcaso exemplar é a aquisição dos locativos em português porfalantes de rico, é que como a variação e a mudança estão sujeitas a condições internas e ex-
nguas bantas. As línguas desse grupo diferem do português por não exprimirem ternas, nenhuma hipótese adquire pleno reconhecimento sem a consideração do
'cação mediante o uso de preposições, mas do uso desufixação; outra diferença re- encaixamentolinguístico e do encaixamento social, ou, em outros termos, sem
vante é que a codificação da noçãode percurso-direçãoé incorporada nopróprio deixar de relacionar a história da gramática com história social de seus usuários.
xema verbal naslínguas bantas, não mediante o uso de preposições direcionais. Esse relacionamento necessário implica levar às últimas consequências o
Por isso, no processo de aquisição do português comosegunda língua, os princípio organizador do movimento inicial da sociolinguística de que são os
lantes de línguas bantas reanalisam a preposição em como marca de locativo próprios falantes socialmente organizados os agentes da mudança; em hipótese
O verbopreserva a incorporação semântica de direcionalidade inerente. Dessa alguma, tem sistema vida própria e independente de seus usuários. Esso signifi-
tterpretação resulta o uso generalizado da preposição emno lugar de de, a e ca que muita água ainda háderolar para quese elucide a questão da origem do
tra. Uma evidência indireta do mesmo processo no processo de transmissão PB; por isso mesmo, conforme noticia Castilho (2001), está na pauta do Projeto
regular do portuguêsé a variação clara que se estabelece entre a preposição em para a História do Português de São Paulo a averiguação das duas hipóteses a de
as preposição dedireção ae para. transmissão natural e a crioulista.
Ampliando a abrangência
do conceito de variação

A cada uma dessas línguas correspondem famílias, às vezes bairros, os fa-


lantes das línguas vêm de regiões onde essas línguas são majoritárias (o
diola em Casamapce, o peul na região do rio Senegal, na fronteira com a
Mauritânia etc.), e a comunicaçãointerna é assegurada em peul, em diola ou
em manjak. Mas o que acontece quando osfalantes de vólofe, de peul e de
diola se encontram? Em que língua vão se comunicar? (Calvet, 2002: 56-7).

10.1. Fechando o círculo


É tempode fechar o círculo, e a melhor forma de fazê-lo é retornar ao início,
mas com um novo olhar. Nofinal do capítulo 1, ao tratar do surgimento his-
tórico da sociolinguística, apresentei ao leitor três áreas de estudo, que, grosso
modo, identifiquei como sociolinguística variacionista, sociologia da linguagem
e etnografia da comunicação. São esses três marcos que pretendo retomar para
que este texto se feche deixando clafa a existência de expansões relevantes do
método sociolinguístico em direção de umalinguística social.
Como o amplo espectro entendido por “sociolinguística” é a base de con-
vergência para linguistas e cientistas sociais, não é surpreendente, segundo
Coulmas (2002) haver dois centros de gravidade, conhecidos como “micro-” e
“macrossociolinguística”, ou sociolinguística stricto sensu e sociologia da lingua-
gem:a primeira estaria interessada em estudar os aspectos sociais da linguagem
e a segunda, os aspectos linguísticos da comunidade social.
Como ponto de partida, retomemos a corrente variacionista, a expressão
mais definitória de uma abordagem microssociolinguística, contraposta a outra
visão do mesmotipo, a abordagem interacional e, em seguida, as tendências
“micro” que incorporam os conceitos de redes sociais e de identidade social,
mais próximosda antropologia que da sociologia!.

1. Para Calvet (2002), a diferença entre a abordagem “micro”e a “macro” não podereceber
umainterpretação binária. Parece que, à primeira vista, a análise de uma conversa devaser
encarada como um enfoque mais micro quea análise da variedade de um grupo social. Não
se pode esquecer, contudo, que há, entre esses dois domínios, umaescala contínua que vai da
atenção dispensada ao pormenorà atenção dispensada aos conjuntos.
E]
e depois pesados
- Dimensão microssociolinguística: No final, os resultados são computados para cada falante
ação
a tendência variacionista estatisticamentepara cada gruposocial da comunidade, produzindo inform
a e/ou presen ça da variáve l < 1 > em
comoa frequência percentual de ausênci
mo a linguagem é, em última análise, um fenômeno social, ficou clara cada idade, classe social, gênero e grupo étnico, quando for o caso. Isso produz
-
«abov([1972] 2008), na construção do modelo variacionista, a necessidade umresultado marcadamente correlacional: um determinado padrão de compor
tativa mente a
“orrer a motivações derivadas do contexto social para encontrar respostas
tamento linguístico,tipicamente variável, é correlacionado quanti
tadas aos problemas que emergem da variação inerente do sistema linguís- determina-
atributos sociais que identificam o indivíduo como membro de uma
uja resolução, se houver, sempre caminha para a mudança; se não se resol- da comunidade social.
lentifica processos estáveis.
Um pressuposto significativo da análise variacionista é o postulado de se-
êneas, in-
aslínguas naturais humanas consistem em sistemas organizados de forma rem todas as línguas e variedades linguísticas inerentemente heterog
s nova-
teúdo, seria estranho que a variação não fosse uma de suas propriedades dependentemente do grau de uniformidade que aparentem ter. Falante
haver
marcantese significativas. Na realidade, a diversidade é umapropriedade -iorquinos que não usam [r] não o eliminam categoricamente. O fato de
»nal e inerente dossistemaslinguísticos e o papel da sociolinguística (va- outras em que O elimin am, equivale a afirmar
situações em que o pronunciam e
o pós-
nista) é exatamente enfocá-la como objeto de estudo, em suas determina- que continuamia mantê-lo em seu sistema fonológico, mesmona posiçã
pois mantém
nguísticas e nãolinguísticas. -vocálica. Essa variabilidade inerente, não é aleatória nem casual,
aa língua é sem dúvida alguma a forma mais característica de comporta- umacorrelaçãosistemáticae regular de acordo com fatores linguísticose sociais.
, social; é, por isso, impossível separá-la de suas motivações derivadas do Esses estudos retiraram a ênfase exclusiva da variação regional para incluir,
s reconhece-
iso interacional. É até por isso que, para Labov ([1972] 2008), o próprio em seu escopo, a variação social, na medida em que os pesquisadore
aos
> termo sociolinguística soa redundante. Consequentemente, considerar a ram queas pessoasnointerior de uma dadaregião podem divergir em relação
a que perten cem.
inguística uma subárea da linguística ou um de seus domínios conexos im- padrões de língua que empregam, dependendo daclasse social
onista
lar pouco significado à natureza inerentemente social da interação verbal. Segundo Coulmas (2002), nem porisso, deixa a sociolinguística variaci
a linguís tica históri ca, mas as
ociolinguística variacionista compete com outros modelos no tratamento de continuar em débito para com a dialetologia e
so da teoria da lingua-
á à estrutura e da evolução da língua, com a diferença de encaixá-la no contribuições inovadoras que patrocinou para O progres
o,
«to social da comunidade. Seus tópicos recobrem, portanto, a área conven- gem tornaram problemáticos alguns paradigmas já estabelecidos. Por exempl
regionais por
mente chamada “linguística geral”, na medida em quelida com questões um atlas linguístico reflete uma distribuição absoluta dos traços
vamente
entes do exame dos níveis fonológico, morfológico, sintático e semân- representar áreas dialetais categóricas e voltadas para um centro relati
de abstração
ara esclarecer a configuração das regras linguísticas, sua combinação em estável. Esse postulado imprime no objeto,o dialeto, o mesmo grau
s imprim iram no estudo das lín-
as, a coexistência de sistemas alternativos e, principalmente, a evolução e de categoricidade que as abordagens formai
foi substituída
nica de regrase sistemas (Labov, [1972] 2008). guas particulares (Coulmas, 2002). Comovisto, a categoricidade
e de
e lembrar aqui a forte correlação que a sociolinguística variacionista es- pela frequência estatística, que avalia, metodologicamente, a probabilidad
ocorrência de traços variantes do uso da língua em uma dada comuni dade.
teu entre variação e mudança: toda mudançaé o resultado de processos
de foco da va-
res de variação, em que formas alternativas competem entre si em direção A última metade do século XX assistiu, portanto, a essa virada
pioneiro
“goricidade. No entanto, o inverso não é verdadeiro. Nem todo processo riação geográfica, ou dialetológica, para a social, pontificandoo estudo
s similares
:rmância resulta necessariamente em mudança diacrônica, caso em que a de Labov (1966) em tornoda variação da cidade de Nova York. Padrõe
ção de es-
io se estabiliza para atuar comoíndice de diferenças sociais. de atribuição de prestígio social, como a inserção de [r], e de atribui
de acordo com
ta análise variacionista típica implica saber, portanto, como se manifesta a tigmatização, como à pronúncia de [0] como [t], por exemplo,
dades de língua
al, digamos, ausência e presença de (r) na variedade nova-iorquina, o que a distribuição de classe, foram desenvolvidos em outras comuni
(1967 apud
le a identificar se ocorre ausência ou presença do segmento no contexto inglesa, comoa de Detroit, investigada por Shuy, Wolfram e Riley
co de Norwich
ate. Além disso, envolve identificar o contexto linguístico da ocorrência: se Wolfram & Fasold, 1974) e por Wolfram (1969), o inglês britâni
sarece em sílaba acentuada ou não, como em fear ou não acentuada como por Trudgill (1974).
, como o
'ther, envolve identificar as características sociais do falante que enuncia Outras correlações regulares foram detectadas em outras línguas
Panamá por
rência: se é um falante de classe média do sexo masculino, por exemplo. francês de Montreal por Sankoff e Cedergren (1971) e o espanhol do
meia ame + cmgaai =” cntetas
mesmo em que ocorre a interação
sen (1973). No Brasil, destacam-se os estudosde Tarallo (1983) sobreas es- na situação imediata, isto é, no momento
as de relativizaçãoe, especialmente, os desenvolvidos no Rio, com base no (Goffman, [1964] 1998: 13).
são atributos negligen-
, Censo e do Projeto de Estudos do Uso da Língua (PEUL), documentados Essas propriedades, ou indicadores existentes na fala,
corrente variacionista.
lica e Braga (2003). De certo modo, o grande desenvolvimento posterior ciados, principalmente se levarmos em conta somentea
tendência variacionista e
iolinguística brasileira, em todos os cantos do país, teve seu principal su- Assim, o autorconsidera as correntes correlacional da
coexistência acadêmica; des-
1esses trabalhos pioneiros. À indicativa da tendência etnográfica como casos de
perceber quealgo relevante
m de exibiremdiferentes padrões de variação, diferentes grupos sociais taca, porém, umafonte possíveldeatrito, que leva a
tas, antro pólogos e sociólogos: à
m diferentes papeis na mudança diacrônica. Algumas evidências sugerem foi negligenciado por linguistas, sociolinguis
situação social engendrada na comunicação face a face.
»rocessose inicia nos grupos declasse alta e se difunde gradualmente para
ções se submetem a

Ca ee
Jos situados na escala mais baixa com base no princípio de que estratos Fica perfeitamente claro para o autor que, se as elocu
nto a função de manter ocu-
aixos supostamente imitam o estilo linguístico e o comportamentosocial restrições linguísticas, elas exercem a cada mome
ação face a face tem seus
antes de maior prestígio social. padosos participantes de uma interação verbal. A inter
ia estrutura e essas va-
se padrão que Labov ([1972] 2008) depreende de seu estudo da fala de próprios regulamentos, seus próprios processos, sua própr
stica, mesmo que sejam
'ork, envolvendoa adoção de uma normade prestígio de queos falantes riáveis não parecem ter natureza intrinsecamente linguí
A conversação é so-
astante conscientes, como a pronúncia de [r]. Outras pesquisas mostram, frequentemente expressas por um mecanismo linguístico.
o de ações face a face que
anto, que muitas mudanças se originam em grupossociais mais baixos, cialmente organizada sob a forma de umsistemarestrit

-
, como um encontro social
Imente os que estão situados na zona média do continuum. Labov ([1972] são mutuamenteratificadase ritualmente governadas
sugere “que grupos de classe média baixa podem ser inovadores porque que é por definição.
e da conversação,
aais sujeitos aos processos de mobilidade social ao longo daescala. A análise do desempenholinguístico, de que trata à anális
inferências sociais e cul-
nasituação tradicionalmente negligenciada — e das
s questões sobre a relação da
turais que ele permite fazer — levanta importante
linguagem um sistema de
Dimensão microssociolinguís! linguagem com outros sistemas humanos. Formariaa
outras regras de cognição e de
a tendência interacional regras separado, diferente em natureza e função de
to de linguagem é parte
comportamento humano? O grau em que O conhecimen
mediante o qual levamos a vida
trabalho pioneiro fora docircuito da Conferência da UCLA, mas publi- de um corpo mais inclusivo de conhecimento
discussão.
o mesmo ano de 1964, Goffman ([1964] 1998) reconheceu que a forte nodia a dia continua sendo um assunto candente de
ra correlacional das variáveis sociais torna praticamente impossível que conversação acreditam que
Exatamente comooutros linguistas, analistas da
fazem parte da com-
mento de umavariante nova não produza um efeito sistemático sobre o a forma da linguagem é governadaporregras abstratas que
regras linguísticas que
tamentolinguístico. Entretanto, paralelamente a essa motivação correla- petência linguística. Há, todavia, princípios agregadosàs
to sobre o discurso é jus-
defendida por Labov ([1972] 2008) e por seus seguidores, a incorporação regem o desempenho,o uso da língua. O conhecimen
tência comunicativa defi-
os atributos sociais na determinação do comportamentolinguístico pro- tamente parte do que Hymes (1977) chamou de compe
+ surgimento de outras motivações derivadas do comportamento socialtí- de como usar à língua em diferentes
nida como conhecimento cultural tácito
ntes pesso as engajadas simulta-
volvido com fala. Essas motivações, tão fortes quanto as correlacionais, situações de fala, de como interagir com difere
usar à língua para executar
ram a gama de propriedades identificáveis no próprio comportamento neamente em diferentes eventos defala, e de como
tico, sistêmico pornatureza. diferentes atos.
análise do uso da língua.
n efeito, o falante está conversando com alguém do próprio sexo ou do Uma análise da conversação é, por definição, uma
do discurso falado não têm
rosto, subordinado ou superior, com um ou vários destinatários, alguém Isso significa queos linguistas engajados no estudo
ção de falantes sobre gramati-
mo ou ao telefone; está lendo um script ou falando espontaneamente; como procedimento padrão apelar para a intui
significado. O que os
ão é formal ou informal, de rotina ou de emergência? Goffman (1998) calidade ou se engajar em experiências mentais sobre o
de pessoas interagindo
a atenção doleitor para o fato de que não são osatributos da estrutura analistas da conversação examinam são amostras reais
ntam, portanto, a crença de
jue estão sendo levados em conta, como idade e sexo, mas sim os valores entre si em situações naturais do cotidiano. Suste
de intuições sobre
los a estes atributos em relação ao modo como eles são reconhecidos que a estrutura do discurso pode ser descoberta não a partir
coque es copa preços repre
nhos. Essa situação pode, parado-
os falantes poderiam ou deveriam dizer, mas primariamente a partir do houver o envolvimento de participantes estra como
io pesquisador, que,
3 pessoas de fato falam. Um sociolinguista interacional centra o foco nas xalmente, recorrer, portanto, com a presença do própr
ém deinibir o surgimento
uras em que sentenças (ou outras unidades como atos e turnos) aparecem participante externo ao contexto social, é capaz tamb
interação constante e regular
xtos que, por sua vez, são construídos no momento mesmo da interação de padrões naturais. Além disso, as pessoas em
agem que se constrói so-
na situação social bem definida. constroem umalinguagem especial entre si, uma lingu
*tnografia da comunicaçãoinvestiu no estudo de novosfatores com base pre a base de interações continuadas.
isadorcorrespondede
»vas metodologias. O abandono da comparabilidade correlativa pela in- Outro aspecto a merecer destaqueé se o relato do pesqu
o resul tado de uma mera interpre-
va suscita de pronto uma metodologia mais qualitativa, e, portanto, in- fato ao que acontece na interação, ou é apenas
uísti cas de que dispõe. Como
tativa, para o estudo da relação entre língua e sociedade. Os fatores agora tação subjetiva decorrente das próprias normasling
basicamente hermenêutica, a
picos, tomadas de turno, sobreposições de vozes e interrupções do fluxo a sociolinguística interacional é uma disciplina
concepção essencialmente
cional, inferências, enquadres (Tannen, 1989). análise que se faz, dentro desse paradigma, tem uma
interpretativa.
u me restringir aqui ao conceito de enquadre (Bateson,[1955] 1972; Tannen, pretação é proposta
porque é ele que governa todos os outros indicadores. O enquadre é o Similarmentg ao que ocorre em áreas próximas, a inter
como à palavra derradeira
como os interlocutores comunicam o que imaginam estar fazendo numa como uma alternativa entre outras possíveis, nunca
evidências externas, mas também
ninada interação e, portanto, o modode interpretar o que dizem. Bateson e definitiva, além de se basear não apenas em
necessariamente subjetivo.
:] 1972) considera que, em uma situação de conversação, todo enunciado é emevidências internas, das quais emerge um caráter
s perigoso metodologica-
drado por uma metamensagem específica que sinaliza ao interlocutor como Admitir, portanto, certo grau de subjetividade é meno
(Tannen, 2006: 359).
ve ser entendido: literal ou sarcasticamente, irada ou provocativamente mente que assumir uma objetividade impossível
que se diz numa conversação inclui pistas, como tom de voz, velocidade,
. padrões entonacionais etc., que guiam a interpretação do interlocutor.
10.4. Dimensão microssociolinguística:
1oção de enquadre mostra a inseparabilidade entre língua e cultura. Se,
a tendência etnográfica e as redes sociais
n lado, é impossível interpretar e produzir significado sem sinalizar meta-
estratificação social não é,
igens, é também impossível interpretá-las sem incorporá-las a uma cultura Relacionara variação linguística a mecanismos de
a língua em relação à sociedade.
ainada. obviamente, o único meio possível de analisar
naantropologia, foi pos-
mperz (1982) analisou gravações de conversas reais mantidas por falantes O conceito de redessociais, originalmente introduzido
O estudo da dimensão so-
iferentes experiências culturais, que apresentam problemas de compreen- tulado como umaalternativa viável e relevante para
ctiva variacionista, o foco
tivados desses sinais, que ele denomina “pistas de contextualização” (con- cial da linguagem. Diferentemente, todavia, da perspe
stica é o resultado da
ization cues). Gumperz (1982) assim rotula esses traçoslinguísticos porque desse conceito é o falante individual e a mudança linguí
pessoas se engaj am em umagrande
aalizam o contexto da interação. Nesse sentido, “contexto”é comparável à atividade do falante em situações sociais. As
tecer uma rede de relaciona-
de “enquadre”. Não há, portanto, diferençasignificativa entre os tipos de variedade de situações de conversação que permite
igem que Bateson([1955] 1972), Tannen (1989) e Gumperz (1982) fazem mentos compartilhados com outros falantes.
particular em si mesmo
tversação. Nãoé, portanto, ser membro de um grupo social
ou relutância na adoção
uma perspectiva metodológica, a prática de análise de interações com a que se correlaciona mais intimamente com prontidão
de contato interindividuais ou
pação direta do pesquisador é similar à prática de observação presencial de mudança linguística, mas com seus padrões
em Belfast, Milroy e Milroy (1978)
tação social desenvolvida pela antropologia. Nesse domínio, um sociolin- redes sociais. No estudo que desenvolveram
ão e mudança relacionados à
interacional reconhece tanto vantagens quanto desvantagens na análise e L. Milroy (1980) registraram padrões de variaç
arações de que eles próprios participam, dependendo do objetivo da pes- densidade e à multiplicidade das redes sociais.
se conhecem na comuni-
Tome-se como exemplo umasituação em queo objetivo seria entender a Estabelecem-se redes sociais densas quando todos
o as pessoas interagem em
rsação entre amigos. dade e se estabelecem redes sociais múltiplas quand es
relações de vizinhança, relaçõ
er gravações em umasituação natural de coleta social torna disponível ao mais de um espaço social, como por exemplo,
y (1978) e L. Milroy
sador somente padrões de uso que não emergem naturalmente quando no trabalho e de amizade. Em resumo,L. Milroy e J. Milro
dd 0 nd
não padrão. Numerosos
) descobriram que pessoas que pertencem a redes sociais ao mesmo tempo considerada a padrão, e a pronúncia [19] é considerada
[1972] 2008) mostraram que
s e múltiplas tendem a manteros traços mais característicos da variedade estudos(Fisher, [1958] 1974; Trudgill, 1974; Labov,
a favorecer uma incidência
resistindo a inovações externas. Inversamente, pessoas com grande mobi- o comportamento linguístico das mulheres tende
2 social e que constituem laços sociais frouxos e com pouca multiplicidade mais significativa de pronúncia padrão que os homens.
res que ado-
tuito mais abertos à mudança linguística, exercendo, por isso, papel rele- Quando as variáveis envolvem mudança, são também as mulhe
s. Invest igando mu-
nadifusão da inovação entre as redes mais densas. tam os traços inovadores mais rapidamente que os homen
as do nordeste
descobertas dos autores giram em torno das relações entre padrões lo- danças vocálicas sistemáticas afetando localidades diversificad
t lideram a mu-
dos de interação e mudança linguística, mas têm um comprometimento americano, Fasold (1969) descobriu que as mulheres de Detroi
[kat], e também a
mte com o esclarecimento de padrões em escala mais ampla de variação dançade [o] para [b] em palavras como caught, pronunciadas
[beg]. Décadas depois,
lança que se encontram ao longo dos grupos de estratificação social. Pelo de [ae] para [e] em palavras como bag, pronunciadas como
verbal de adoles-
s nas sociedades ocidentais, as pessoas de classe média baixa apresentam a mesma liderança femininafoi detectada no comportamento
de redes sociais mais frouxos dos queas pessoas de grupossituados no ex- centes de uma escola de Detroit (Eckert, 1989: 2000).
ação universal
+ superior e no extremo inferior da escala socideconômica. À primeira vista, é grande a tentação de fornecer uma explic
. Uma explic ação, quem sabe,arrai-
» Brasil, houve um processo rápido e desordenado de urbanização, já que para padrões delvariação baseadas em gênero
es, ou nasdif erença s de ex-
início do século XX, o Brasil era essencialmente rural, e o crescimento
gadanasdiferenças biológicasentre homens e mulher
s diferentes. Todavia,
pectativa cultural para homens e mulheres de comunidade
acional das regiões urbanas decorreu de um processo brutal de imigração s por um número
afirmações universais dessa monta acabam sendo logofalseada
antre as décadas de 1960 e 1970. A mobilidade geográfica e a consequente ão correlaciona-
tão grande de exceções que acaba por demonstrar quea variaç
ormação dosdialetos rurais em variedades urbanas ou “rurbanas”, como ntes comunidades ou
da a gênero pode ter uma distribuição diferente em difere
2 Bortoni-Ricardo (2005), não receberam a devida atenção dos linguistas. comunidade.
mesmo em diferentes segmentos da população numa mesma
30, essa autora se debruçou sobre esse fenômeno,realizando, na década de micros sociolinguísti-
uma pesquisa com migrantes radicados em Brazlândia, cidade satélite de Outras pesquisas, passíveis de serem classificadas como
as incluí das nasre-
ia, originários da zona rural da região do Alto Paranaíba em Minas Gerais. cas, são realizadas em populações ainda mais reduzidas que
a (ver mais adiante). Esses
des sociais, identificadas como comunidades de prátic
ntes subgrupos po-
estudos, conduzidos por Eckert (2000), revelam que difere
sse estudo, que culminou com sua tese de doutorado (Bortoni-Ricardo,
, à autora aplica a análise de redes sociais, instrumento de pesquisa parti- tuso confo rme distin ções de gênero. Eckert
demapresentardiferentes padrões de
nente útil no estudo de sistemas fluidos em rápida mudança, comoa varie- Detroit , que ela denom inou “jocks”
(2000)isolou dois grupos na escola média de
falada em comunidades “rurbanas” que se identificam com laços densos, e “burnouts”.
rase em dois fatores o deintegração e urbanização. , atividades
Os jocks, que manifestam forte orientação para a escola e paraas
a análise mostra que indivíduos pertencentes a redes insuladas com baixa t e ingres sar numa univer sidade . Os bur-
dela derivadas, planejam deixar Detroi
lade de papéis sociaise alto grau de consenso grupalsão caracterizados por para instit uições e ativid ades urbanas
nouts, que manifestam forte orientação
depois de se gradu arem sem
ocalizaçãodialetal com acesso limitado à variedade de prestígio. Por outro locais, planejam permanecer na área de Detroit
indivíduos pertencentes a redes integradas com alta densidade de papéis perspectiva de ingresso na universidade.
3 e maior exposição a influências externas são caracterizados poralto grau exibem o mesmo com-
Eckert (2000) descobriu que nem todas as meninas
asão dialetal, o que envolve maior grau deflexibilidade em relação ao con- rtilham exatamente a
portamento linguístico e nem todos os meninos compa
tos da variedade de prestígio (Bortoni-Ricardo, 2005: 98). menci onada mudança de
mesmavariedade. Para certos fenômenos, comoa já
(1969), são as meni-
tras correlações importantes nesse domínio se observam em padrões regu- [ol para [o], detectada anteriomente em Detroit por Fasold
nto, para outras
raseados em relações de gênero seja em fenômenos de variação estável seja nas dos dois gruposque lideram a pronúncia inovadora. Noenta
ça de [e] como [e], no
1ômenos de mudança. mudanças mais recentes, como à já mencionada mudan
no grupo dos jocks,
estudo de variáveis estáveis, isto é, não sujeitas à mudança, mostra que grupo dos burnouts,são as meninasquelideram a inovaçãoe,
lheres tendem em geral a usar mais as formas padrão do que os homens. são os meninos.
burnout
xemplo clássico é a distribuição de gênero na pronúncia do final (-ing) Nessa situação específica, tanto meninos quanto meninas do grupo
Detroit, onde se concen-
lavras como running. Em todas as variedades do inglês, a pronúncia [mm] é têm maior contato com as pessoas da área urbana de
as mudanças mais recentes. No grupo jock, são especialmente as meninas noestão em geral muito preocupados com o modo como esse espaço simbólico
tantêm uma tendência para contatos com pessoasda área suburbana, o que se configura na mente dos cidadãos, a noção de identidade acaba por inserir a
a, portanto, demorarem-se um pouco mais na adoção dostraços linguísti- língua no cruzamento com política.
2icamente associadosà fala da área urbana. Alguns conceitos fundamentais, como o de nacionalidade, que Fishman
» portanto, diferentes expectativas culturais para um comportamento so- (1972) extrai do discurso cotidiano para dar-lhes definições mais técnicas, per-
ante “adequado” para garotas do grupo jock e garotas do grupo burnout. mitem compreendera relação entre língua e política. Uma nacionalidade se de-
-se, portanto, que as garotas do grupo jock estejam mais familiarizadas com fine, para esse autor, como um gruposocial com um nível relativamente comple-
mas padrão do que as garotas do grupo burnout. xo de organização, cujos membrossão tão conscientes de seus valores e hábitos
consequência metodológica mais significativa que se pode divisar desse distintivos, que procuram atuar para preservá-los e reforçá-los.
e pesquisa é que podem mascararresultados mais refinados osinquéritos Umanacionalidade pode controlar ou não um território, tomado como na-
tureza correlacional de grande escala que estabelecem parâmetros sociais ção soberana. O caso do povo basco pode ser lembrado como exemplo de uma
“finidos de comportamento linguístico, como os que, em geral, identi nacionalidade que vive dentro das fronteiras de outra, a castelhana, e que, por
sociolinguística variacionista. A consequência teórica mais significativa ter uma autonomiaterritorial muito limitada, não constitui um Estado porsi
: podedivisar desse tipo de pesquisa é a de que a teoria sociolinguística re- só. Outro exemplo de nacionalidade sem soberania territorial é a situação dos
ria explicações mais localizadas, de natureza interpretativa, para dar conta curdos na Turquia, na Síria e no Iraque. O caso curdo pode, inclusive, servir
idências que, à primeira vista, parecem estar mais ou menos generalizadas comoilustração de um dos grupos mais nacionalistas do mundo que não con-
nunidade. trolam seu próprio Estado. É raro haveridentificação entre oslimites territoriais
do Estado e os limites simbólicos da nação. Portugal é um exemplo dado por
Fishman (1972), de um Estado sob o controle de uma única nacionalidade?.
Dimensão macrossociolinguística: São geralmente razões de natureza política que determinam o que é uma
a sociologia da linguagem língua. Algumas vezes, o critério usado para elevar um sistema linguístico ao
ipliando ainda mais a abrangência do social, pode-se dizer que um concei- estatuto de língua é a aquisição de um grau suficiente de padronização e desen-
volvimento literário. Quando assumiu o poder ditatorial na Espanha, Francisco
cial para a sociologia da linguagem é o de identidade. Como se sabe, po-
Franco decretou o estatuto do basco, umalíngua sabidamente diferente do espa-
e usar tanto asdiferenças entre dialetos quanto as diferençasentre línguas
nhol, comoo de um dialeto de camponeses com base numa suposta ausência de
istinguir agrupamentos sociais. O simples fato de se falar uma dada língua
desenvolvimentoliterário, o que não é verdade.
leto em vez de outra língua ou dialeto identifica de pronto uma afinidade
m grupo social e um distanciamentode outros. A identidade social é talvez Presume-se que o povo basco tenha ocupado a Península Ibérica por volta
unção tãorelevante para os usuários de uma língua ou dialeto quanto a do ano 2000 a.C. e tenha resistido às constantes invasões sofridas pela região ao
2 comunicativa, que a tradição estrutural elegeu como a dimensãolinguis- longo dos séculos; ocupa, atualmente, uma região situada no norte da Espanha
ante mais importante. e noroeste da França. Apesar da dominação romana,os bascos mantiveram sua
língua, costumese tradições, num processo de resistência contínua. A língua
»0v ([1964] 1974) já admitia que “a identificação com a classe de pessoas
basca não tem parentesco com nenhuma outra no mundo e, emborasejaa lín-
tclui os próprios amigos e a família é um fator poderoso para se explicar
gua mais antiga falada hoje na Europa, somente se constituiu comolínguaes-
portamento linguístico” e, nesse caso, “a língua deve ser encarada como
crita no século XVI, o que reforçou ainda mais o sentimento de união do povo.
stema de integração de valores” (Labov, [1964] 1974: 70). Embora a lin-
A verdade é que a população basca, que sempre constituiu uma naciona-
:a tenhase desenvolvido basicamente com a análise do valor meramente
lidade resistente com um forte senso de identidade social, vem seguidamente
ivo subjacente à função comunicativa, há muitos elementosdalíngua que
estam uma função nitidamente não cognitiva. Muitos nova-iorquinos, por
»lo, não se sentem inclinadosa se identificar com os empregados de “cola-
2. O mirandês, antes conhecido como um dialeto do grupo asturiano-leonês, foi reconhecido
como a segundalíngua oficial em Portugalpela Lei 7/99 de 29 de janeiro de 1999. É falada
branco”. Procuram, porisso, trabalho manual mal remuneradoquerequer por menosde 15 mil pessoas no concelho de Miranda do Douro e em trêsaldeias do concelho
habilitação para não se identificarem com os indivíduos da classe média. de Vimioso, num espaço de 484 km?, estendendo-se a sua influência por outras aldeias dos
concelhos de Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Bragança.Resta saber se esse reco-
;undo Fasold (2006: 375), a noção de identidade social está intimamente nhecimento oficial altera substancialmente o estatuto de nacionalidade única noslimites da
ada à de lealdade e, como não exatamentea nação, mas o estado e o gover- fronteira de Portugal.
ndicando, pacífica ou violentamente”, a autonomia política de seu territó- traços discriminatórios são encontráveis essencialmente em relação à autentici-
4 medidabaixada por Franco para reduzir O status social da língua, um forte dadee à solidariedade dos comportamentose valores grupais, e não exatamente
olo de identidade grupal, objetivava atingir o senso de independência basca em relação à realização e à implementação político-geográfica e governamental.
nara resistência popular. São os sentimentos da nacionalidade assim constituída que pressionam pela
etornando o foco para as distinções de Fishman (1972), passemos a ver, demarcação de fronteiras políticas que permitam a instauração político-geográ-
À, a relação entre nacionalidade e grupo étnico. Diferentemente de uma na- fica e governamental de uma possível nação emergente. O caso palestino é um
alidade, as preocupações de gruposétnicos estão basicamenteligadas aosin- exemplo da falta de equivalência entre nacionalidade sociocultural e nação po-
ses locais de seus membrose nãoa interesses ligados a outros grupossociais Jítico-geográfica. Segundo Fishman (1968), essa falta de equivalência ativa uma
de seus vizinhos próximos. Esse atributo pode atingir a situação extrema pressão considerável para queos dois domíniosse igualem com um impacto con-
uposétnicos chegarem mesmoa ignorar o país em que vivem. Um exemplo comitante sobre os repertórios linguísticos e exploração dos símbolosda língua.
“upo étnico que compartilhaesse traço é o dos tuareg*; como grupo nômade
Como difícil determinar a extensão e a rapidez do controle que uma na-
vive na Argélia, na Líbia, Mali, Mauritânia e Níger, ignorandoas fronteiras
cionalidade deve ter, muitos países do mundo são nações apenas no uso mais
icas dessas nações. A
comum e osdinário do termo. Na realidade, provavelmente a grande maioria
pesar de se identificarem com base em conceitos totalmente distintos, na- dos países não constituem nações no uso técnico do termo, mas Estados mul-
alidades e gruposétnicossão construtos teóricos que devem servistos como ticulturais, que contêm mais de uma nacionalidade dentro de seus domínios
os de um continuum. Se, por um lado, algumas nacionalidades não fazem mui- territoriais. Países como Canadá, Reino Unido, China, Rússia não podem ser
igência política ao governo que os controlam, alguns gruposétnicos podem, considerados nações no sentido técnico de Fisnman (1972).
»utro comportar-se como uma verdadeira nacionalidade em suas demandas.
O traço mais distintivo de uma nacionalidade são símbolos de identidade
ssas definições conduzem à distinção necessária entre nação e nacionalidade. comoreligião, cultura, soberania territorial e língua. Tome-se como exemplo o
nação consiste numa unidade política que não apenas exerce controle sobre caso do Timor Leste, cujo processo de descolonização e autodeterminação em
a populaçãonointerior de seuslimites territoriais, mas que também assume franco desenvolvimento foi bruscamente interrompido, em 1975, pela invasão
2onsabilidade pelo bem-estar dela; uma nação é um estado extensiva ou cres- da Indonésia. Em consequência disso, o nacionalismo timorense se tornou um
mente sob o controle de uma nacionalidade específica (Fishman, 1972: 4). ideário progressivamente alimentado pela Resistência, com criação de símbo-
ishman (1968) sugere que o uso da palavra nação seja aplicado a uma enti- los de identificação nacional. Esse processo de ideologização, alimentado pela
político-geográfica, entendida geralmente comoorganização política, país preservação,e até mesmo pela restauração da especificidade timorense, acabou
stado, que, como tal, poderia, por exemplo, qualificar-se como membro por reafirmar a especificidade linguística mediante a adoção do português, ver-
Jações Unidas. A rigor, uma nação pode não dispor necessariamente de um náculo do ex-colonizador, como línguaoficial e a promoção de línguas locais,
grau de unidade sociocultural; na realidade, nações variam intensamente comoo tétum, hoje segundalíngua oficial do país*.
orme o grau de que dispõem de tal unidadenointerior de suas fronteiras. Possivelmente, muito mais queos outros traços distintivos comoosculturais
manacionalidade, por outro lado,seria mais bem compreendida como uma e osreligiosos, a língua tem importância crucialmente maior para uma nacionali-
ladesociocultural que pode, inclusive, não ter um espaço político-geográfico dade,que costuma defendê-la com unhase dentes, mas crucialmente menorpara
alização. Tome-se como exemploa situação política do povopalestino. Seus os gruposétnicos, que não costumam vê-la como um elemento simbólico crítico
deafirmação de sua identidade. Tanto é verdade que grupos étnicos podem de-
A (Euzkadi Ta Askatana) significa na língua basca “Pátria Basca e Liberdade”. Essa organi- sistir da língua de seus ancestrais ao longo de muitas gerações para adotar outra
nasceu como um movimentosocialista fundado em 1959a partir da atividade de vários que possa lhes parecer mais vantajosa do ponto de vista político e econômico.
s culturais e políticos que atuavam nasociedade. A forte repressão quese abateu sobre os
s, principalmentea quese seguiu à Guerra Civil Espanhola, contribuiu decisivamente para Fasold (2006) mencionao caso de línguas indígenas americanas em processo
calismo nointerior da organização ETA,que, na segunda metade dos anos 1960, passou à de desaparecimento nos últimos séculos em virtude de seus falantes as substituí-
rmada, tendo comoalvoo aparato derepressão. rem pelo inglês, pelo espanhol e pelo português, dependendode o território em
tuareg estão incluídos entre as sociedades berberes autóctones, que vêm resistindo te-
ente ao longo do tempoao extermínio provocadoporinvasores. Sualuta se tem voltado questão ser a América do Norte, a América Espanhola e a América brasileira. O
1 defesa dodireito de permanecer no mesmoterritório de seusantepassados, praticando as
as tradiçõese vivendo em harmonia com seus valores culturais, entre os quais a defesa da S. O Timor-Leste, hoje, país independente com o nome de República Democrática de Timor-
a, O tamasheg, do grupo camítico-semítico (Ribeiro & Leal, 2008). Leste, é membroparticipante da CPLP — ComunidadedosPaíses de Língua Portuguesa.
não menciona, noentanto, o processo de ocupaçãoterritorial, que reduziu ção. Comoocorreu no Brasil colonial com a língua geral de base tupinambá,
icamente porviolência física o número de falantes. Não menciona também a implantação desse processo se deu à custa de uma política de silenciamento
»cesso de violência simbólica, que impôs a língua do grupo dominador, das línguas moçambicanas bantas, caracterizada por uma proibição do uso des-
» a que ocorreu no Brasil com liquidação,já tratada no capítulo 3, da cha- sas línguas em todos os domínios institucionais, com especial atenção para o
! língua geral. Esse tipo de intervencionismo é o que Calvet (2002) chama ensino formal.
lítica linguística in vitro. No entanto, particularmente na década de 1960, ao acirrar a luta contra o co-
utra distinção técnica relevante de Fisaman (1972) se aplica aos conceitos lonialismo português, o movimento nacionalista FRELIMO (Frente de Libertação
icionalismo e “nacionismo”. Parente em primeiro grau de nacionalidade, de Moçambique) optou pela língua portuguesa como meio de interação entre os
“ionalismo tem a ver com identidade de um povo, sua consciência desi seus membros coma justificativa de que a diversidade linguística banta não fa-
10 como um grupo de pessoas unificado em torno dos própriosinteresses cilitaria uma comunicaçãoeficiente entre os integrantes do movimento. Assim,
us membrose por isso, distinto de outros grupos. O processo de autode- apesar de representar a imagem do opressor, o portuguêsera a única língua mi-
nação política do Timor Leste com um forte sentimento de nacionalidade nimamente falada em todas as partes do país, o que assinalou a sua apropriação
deu cronologicamente o reconhecimento da:República Independente do e a consequegte expurgação das suas conotações coloniais (Firmino, 2002).
1 Leste como nação.
Justificativas como essas representam os primeiros passos para a legitima-
o conceito de nacionismo tem a ver com as engrenagens do poder político,
ção do português, e, por conseguinte, para a sua adoção como língua oficial
as demandas do Estado, que nem sempre coincidem com as da nacionali-
após a conquista da Independência contra o colonialismo em 1975, quando
Nesse caso,a Lei de Diretório dos Índios, ou qualquer outra legislação que
Moçambique conferiu oficialmente ao português o estatuto de língua oficial,
nde regular oficialmente a língua em uso, é uma estratégia nacionista típica
com funçõese representações simbólicas muito mais amplas do que aquelas que
»rável aos interesses da nação colonizadora, mas contrários ao da naciona-
lhe tinham sido conferidas na década de 1960.
2 emergente nacolônia.
+ por um lado, uma língua nacional reforça o caráter simbólico dos laços São razões políticas, “nacionistas” no dizer de Fishman (1972), que estão
nem as pessoas que a falam, por outro, a promulgação de umalíngua ofi- também por trás do processo de padronização linguística, como uma resposta
a expressão mais direta de necessidades tipicamente nacionistas. Esse tipo socioideológica para uma das propriedades inerentes mais fundamentais da lin-
adida equivale à execução detarefas típicas do poder político, que emana guagem humana — variação e mudança. Como sesabe, os falantes de uma lín-
tado, não necessariamente da nação. Tais tarefas compreendem a forma de guadiferem entresi no que concerne à pronúncia, à gramática e ao vocabulário;
ssão da constituição federal, a impressão de formulários em geral,a legisla- porisso, porrazões de ensino e uso da língua em documentosoficiais, alguns
+ sistemajurídico, a imprensa, o ensino público etc. países sentem a necessidade de determinar as variantes mais apropriadas para
'oja-se numa base nacionista o estabelecimentodalíngua do colonizado,si- obter uniformidade em certos usos.
2 que ocorreu nas colônias com a imposição da língua do colonizador, co- Essa uniformização é, em geral, obtida mediante a atuação de instituições dire-
português, ou com a imposição de pelo menos umadaslínguas oficiais de tamente vinculadasà língua, como as academias, principalmente na elaboração
»s povosafricanose asiáticos. de gramáticas e dicionários. Um exemplo claro dessetipo de atuação é o papel da
uso do inglês na Nigéria, por exemplo, não faz qualquer sentido como uma Academia Brasileira de Letras na preparação e na redação do recém criado Acordo
à nacional, como símbolo da identidade nacional; no entanto, como as Ortográfico*. Essa atuação não fica, no entanto,restrita ao papel das academias,
:iras desse país contêm diversas nacionalidades, cada qual com sua própria já que jornais de grande circulação no país, como O Estado de S. Paulo, Folha
à, seria mais difícil escolher o idioma próprio de umadessas nacionalidades de S.Paulo, produzem seus próprios guias de normas gramaticais e ortográficas.
línguaoficial.
sim, os interesses nacionistas mais que nacionalistas impõem escolher a 6. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um tratado internacional firmado em 1990,
com objetivo de criar umaortografia unificada para o português e por fim à existência de duas
1 do colonizador — o inglês — como uma soluçãoindesejável, mas necessá- normasortográficas oficiais divergentes, uma no Brasil e outra nosrestantes países de língua
aortanto, mais fácil politicamente que escolher umadastrês principais lín- portuguesaoficial. Pelo Brasil, representando a ABL,participaram da Comissãode Elaboração
li faladas, o hausa,igboe o iorubá. Aqui, de novo, uma intervençãoin vitro. Antônio Houaiss e Nélida Pifion. Anova ortografia, que deve serusadapor todosos países de língua
oficial portuguesa, teve um acordoassinadoporrepresentantesoficiais de Angola, Brasil, Cabo
ttro caso interessante é o de Moçambique. A ocupação colonial teve como Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa, em 16 de dezem-
je suas consequências a imposição do português comolíngua de civiliza- bro de 1990. Depois de recuperar a sua independência, Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004.
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lgumas comunidadesdispõem de uma variedade formal, padrão desua lín- Pausa para balanço. Este capítulo mostrou,até aqui, que, no amplo espectro
juntamente com uma variedade mais coloquial, que, não obstante, não em quese define uma relação de variação língua/sociedade, há espaço de coe-
uta de sentimentos de desprezo. Essa situação, chamada de diglossia, foi xistência para, pelo menos, duas áreas, uma entendida como microssociolin-
lada pioneiramente por Ferguson ([1959] 1974), que apontou como ca- guística e a outra, entendida como macrossociolinguística. A primeira abrange
ustrativos o alemãofalado naSuíça, o árabe, o francês do Haiti e o grego. o próprio modelo variacionista, a perspectiva interacionale a visão etnográfica,
Imente essas comunidades mantêm umavariedade padrão para gênerosfor- que destaca a noção de redes sociais. A segunda identifica a dimensão muito
da modalidadeescrita e uma variedade coloquial para gêneros informais mais ampla, das relações entre língua e nação e cultura, tal comoas entende a
iodalidade falada. Em geral, o desenvolvimento da variedade considerada sociologia da linguagem.
prestigiada nãoeliminao uso davariedade informal cujos usuários não são, Essa possibilidade de espaço de coexistência não deixa, no entanto, de criar
mto, considerados falantes de segundacategoria. atrito em relação a um conceito fundamental da corrente variacionista, que é
ssuntos ligados à diglossia estão, portanto, mais próximos de uma visão de comunidade defala. A próxima seção se destina especificamente à discussão
“ária de variedade padrão, mas é justamente a situação inversa que ocorre dessa questão.
a instalação de umasituação de bilinguismo,:em que não raramente duas
3
as de diferentes famílias, comoo inglês e o espanhol, convivem numa mes-
omunidade, como a americana, como línguas usadas para diferentes tipos 10.6. O questionamento do conceito variacionista
mntato social. de comunidadede fala
tras sãoas situações em queas duas estão em pé de igualdade, o que hoje não
Logo em 1972, ao fazer uma análise crítica da sociolinguística variacionista,
e nem mesmocom as duaslínguas oficiais do Canadá, já que o francês pa-
star gradualmente perdendoterreno para o inglês, mesmona província do Shiels reduziu a natureza inovadora do modeloà relação dele com o modelo que
Du Bois (1985) denominou, mais tarde, estruturalismo autônomo. Já na década
tec. Desse modo,as línguas são equiparadasentre si com a mesmarégua de
ção queregea fixação de uma norma-padrão dentro de uma mesmalíngua. de 1970, Shiels nãovia tanta diferença quanto apregoava Labovna fase de con-
solidação do modelo.Shiels defendia nesse texto que a concepção de linguagem
aralmente umasituação de dependência socioeconômica, comoa que man-
adotada por Labov([1972] 2008) é a mesma que adotam os enfoques descritivos,
2s imigrantes espanhóis em relação à comunidade anglossaxônica, pode
ou seja, a de um sistemaestruturado de acordo com diferentes níveis de análise e
1 cada vez mais reduzido o uso do espanhol. Tudo depende, porém, do grau
dentro de cada nível, como um sistêma de sistemas (Shiels, 1972: 51).
aso de identidade que o grupo tem, que é mais característico de umaverda-
nacionalidade, como os mexicanosvivendo nos EUA,do que de um grupo A favor de Labov é possível afirmar que, se a sociolinguística preserva a no-
2 como umatribo indígena em estado adiantado de aculturação. ção de que o sistema se organiza como um conjunto de subsistemas encaixa-
dos, como o entende Shiels (1972), o estudo empírico de variantes linguísticas
shman(1967) retomoua discussão dos dois fenômenos, mudando um pouco
o senso comum ditavaaté então para acrescentar que pode haverdiglossia mostra, por sua vez, que o sistema linguístico não aparece limitado às unidades
funcionais, categóricas, tais como fonemas, morfemas, tagmemas ou unidades
dois códigos ou diferentes sistemaslinguísticos,e queesses sistemas nãopre-
similares. Pelo contrário, há um nível de estrutura variável querelaciona siste-
tter necessariamente uma origem comum, mas apenas umarelaçãogenética.
masinteiros de unidades funcionais e que governam distribuição de variantes
stingue, portanto, umasituação de bilinguismo com diglossia, como a do
subfuncionais no interior de cada unidade funcional.
uai, em que todos os membros da comunidade conhecem a variedade de
gio (espanhol)e a variedade estigmatizada (guarani). Já na situação debilin- Segundo Labov, o estudo da variação social é simplesmente um dos muitos
10 sem diglossia, há numerososfalantes bilíngues numa mesma comunida- aspectos do estudo de estruturas linguísticas variantes, e uma motivação para
as que não empregam as duas variedades para usosespecíficos. Na situação estudá-las é a de que elas fornecem evidência empírica para resolver análises al-
slossia sem bilinguismo, por sua vez, há umaseparação funcional nosusos ternativas, propiciandosoluções empíricas a problemas que,de outra forma, são
aas variedades, mas um grupofala somente a variedade deprestígio, enquan- destituídos designificação (Labov, [1972] 2008).
yutro grupo só fala a variedade estigmatizada, caso que identifica o tempo Os procedimentosda linguística descritivista se baseavam numa concepção
ssia czarista, quando a nobreza falava o francês e o povo, o russo. Por fim, delíngua que a enxerga como umsistema estruturado de normas sociais (numa
uação em quenão há diglossia, nem bilinguismo, há umasó língua cujos interpretação ecumênica do termo social), invariantes e compartilhadas por to-
ios devem potencialmente pertencer a uma comunidade muito reduzida. dos os membros da comunidadelinguística. Essa concepção entende que uma
nidadelinguística implica um conjunto de pessoas que emprega o mesmo A situação mais comum quese pode deduzir da metodologia quantitativa é a de
1a de formas idênticas, pelo menos numa concepção idealizada de lingua- quese há alguma validadena biunivocidadade dessasrelações, ela decorre apenas
como aparece implícito numa das definições axiomáticas de Bloomfield da uniformização do desempenho objetivo, traduzida numa média de frequên-
: 47). Sob essa perspectiva, é inovador o conceito de comunidade que a cias quantitativas. Ainda assim, entende Calvet (2002) que permanece aberta a
inguística laboviana assume. umasolução definitiva a questão da direçãoa dar a essa abordagem. Deve-se, por
ra Calvet (2002), no entanto, o problema variacionista deve ser visto sob umlado, partir da análise da língua que diga algo sobre a sociedade, ou, deve-
»ojeção diferente da que sobressai do prisma de Shiels. O problema maior -se, por outro, partir de uma análise da sociedade que diga algo sobre a língua?
»delo variacionista é o modo generalizado e mais ou menos idealizado com Essa problematização metodológica implica necessariamente outro questio-
ncara O processo de variação. Num meio social considerado formal, em namento teórico, que põe em xequea própria definição de comunidadelinguís-
m falante nunca selecionaria latrina por toalete, se ele o faz é apenas com tica. A definição mais antiga, fornecida por Bloomfield,que se baseia nocritério
lidade de chocar os circunstantes, de infringir conscientemente a norma de intercomunicabilidade, envolve uma dimensão política por misturar língua
querege seu grupo. e nacionalidade:
tando um grupo social utiliza inconscientemente toalete para latrina e ou- (...)jos membros de uma comunidadelinguística podem falar de um modotão
«po utiliza, similarmente, a formalatrina portoalete, o uso das duas varian- semelhante que cada qual pode compreender o outro ou podem se diferenciar
úcais, que seria totalmente previsto pelas normas compartilhadas, apenas a ponto de pessoas de regiões vizinhas chegarem a não se entender umas as
outras (Bloomfield, 1970: 44 apud Calvet, 2002: 115).
relacionaria com algum traço da identidade social dos falantes, conforme
a metodologia correlacional do modelo variacionista. Para Calvet (2002), uma e outra definição defendem a mesma posição em
iando, todavia, um indivíduo emprega latrina numasituação em que seu termos de perspectiva: é sempre a língua, não a sociedade, que determina o
social empregaria toalete, a escolha, que parece consciente, dá alguma in- ponto de partida para definir o grupo social com o agravante de nunca defini-lo
o do comportamento do falante ao usar deliberadamente a forma para realmente”. De qualquer modo, é necessário que se diga, a favor da metodologia
»bre o outro, modificando a situação de um modo totalmente imprevisto. variacionista, que a noção de comunidade linguística é inovadora em relação à
as situações sociais devem, de fato, manifestar-se, mas o modelo variacio- de Bloomfield e a dosestruturalistas em geral.
1ão é capaz de prevê-las, pois a metodologia quantitativa dilui o significa- As descobertas de Labov ([1972] 2008) sobre a reinserção de (r) pós-vocálico
:ial delas em favor de generalizações correlacionais entre variação e parâ- na fala de Nova York mostram que há falantes que, na avaliação objetiva, são,
s sociais previamenteestabelecidos de escolaridade, gênero, idade e outros. quase categoricamente, desprovidosde(1), mas mostram também quea inserção
mitindo, além disso, que se disponha, em umadadasituação, da descrição tem, para eles, prestígio social nos procedimentos de avaliação subjetiva. Por
las as variáveis linguísticas e de umalista exaustiva das variáveis sociais isso, Labov ([1972] 2008) propõe uma revisão ao conceito de comunidadelin-
ridas, o problema é saber, então, como os dois conjuntos se relacionam. A guística, definindo-a não como um grupo de pessoas que empregam as mesmas
o mais simples, derivada da metodologia padrão da teoria variacionista, é formas, como define Bloomfield, mas como um grupode pessoas que comparti-
uea escolha de umavariante e não de outra permitiria localizar o usuário lham as mesmas normas em relação ao uso dalíngua.
terminado ponto da dimensão social. Caso ilustrativo clássico é a investi- O modo como uma norma identificaria os membros de uma comunidade é
da ilha Martha's Vineyard em que a pronúncia centralizada dos ditongos detectável metodologicamente na análise dasatitudes ou julgamentos de valor
n [«y] e [aw] em [«w] permite inferir que o falante assume umaatitude que, inconscientemente, os falantes atribuem aos usos da língua. Esses julga-
vel à ilha e o uso das formas não centralizadas, uma atitude francamente mentos de valor teriam, para Labov ([1972] 2008), uma natureza mais uniforme
orável. do que o empregodireto das formaslinguísticas indiretamente avaliadas, de que
estiona Calvet (2002), entretanto, se essa implicação não seria uma estra- resulta a heterogeneidade natural da linguagem, observável na normaobjetiva.
mão dupla: por um lado, é verdadeiro que todos os falantes que assumem O procedimento metodológico empregado na análise das normas é a aplica-
titude favorável em relação à ilha centralizam os ditongos? Por outro, é
ção de testes que medem indiretamente a avaliação subjetiva dos falantes em
m verdadeiro que todosos falantes que não os centralizam assumem uma
2 desfavorável? Se forem verdadeiras as duas correlações, como admite
7. Labov (1966) devotou pouca importância à dimensãosocial do levantamento amostral em
([1972] 2008), haveria umarelação biunívoca entre as relações linguísti- suapesquisa nacidade de NovaYork, preferindopartir de uma pesquisa socialjá pronta,realiza-
s relações sociais. da por umainstituição chamada Mobilizaçãopara a Juventude (Mobilization for Youth).
o às variantes em análise. Essas avaliações ou normas subjetivas são detec- gênero, idade, renda familiar etc. Essas categorias fornecem, no final, uma visão
correlações
somentepor vias indiretas por se situarem abaixo do nível da percepção estratificada da comunidade, encarada numa dimensão objetiva (as
e uma dimensã o subjetiva
tente. Somenteestão no nível da percepção conscienteos estereótipos, em entreas variáveis estudadas e os parâmetros sociais)
preconceituosos, como dizer que paranaensediz a frase “leite quente dá (os testes de julgamentodevalor).
2 dente” pronunciada comtodas vogais anteriores no espectro médio da Calvet menciona
Para argumentar que as coisas não são assim tão simple:
fronteira com a
lação. Assim, enquantoa língua é constitutivamente heterogêneanouso, o caso de um cidadão senegalês, originário da região fluvial, na
caele
liações teriam um caráter mais uniforme, oque permitiria, portanto, iden- Mauritânia, que vive emDakar. Édifícil decidir a que comunidade linguísti
osfalantes como membros de uma mesma comunidadelinguística. é o peul, sualíng ua veicular, o
pertence, considerando que sua língua materna
sundoCalvet (2002), uma definição possivelmente inferível dos estudos de uólofe”, e a língua oficial de seu país, o francês (Calvet, 2002: 118).
de
, identifica uma comunidade linguística com o grupo de pessoas que tem Comosuarealidade é a de umfalantetrilíngue, em momentosdiferentes
nguísti cas. Essa
maprimeira língua. No estudo que empreendeu na cidade de Nova York, sua vida,ele poderá participar de três diferentes comunidadesli
(2002),
([1972] 2008) restringe seu universo de investigação aos informantes ali fragmentação, queestá base da concepção laboviana, é, segundo Calvet
los, que têm o inglês como primeira língua. Esse critério, amplamente se- “corres ponderi a a centrar a análise no in-
metodologicamente equivocada, pois
por todos os pesquisadores que procedem a levantamentos de corpus*, al para uma aborda gem sociolin -
divíduo e não na comunidade, o que é paradox
, de pronto, cerca de um terço da comunidade nova-iorquina, justamente indivíd uo em grupos do
guística, ao mesmo tempocorrespondea estruturar esse
ito, segundo Calvet (2002: 117), de o critério linguístico restringir o social. ponto devista da(s) língua(s) queele conhece ouutiliza” (Calvet, 2002: 119)'º.
so-
tra definição possível seria considerar uma comunidade como o grupo Embora Calvetseja um sociolinguista mais comprometido com uma visão
o que
isoas que se compreendem graças a uma mesma língua, ainda que com-
ciológica de linguagem, sua definição de comunidadese aproxima muitod
1em diferentes comunidades linguísticas. Se for realmente possível per- fornece Gumperz (1982), que a define como um agregad o humanoq ue realiza
a várias comunidadeslinguísticas, a questão é saber quecritério decide designos
interações regulares e frequentes usando um conjunto compartilhado
ertinência. Em situações desse tipo, parece mais viável estabelecer como verbais. Esse agregado se identifica e se distingue de outros similare s mediante
2 o comportamento linguístico derivado do ato deliberado do indivíduo
diferenças significativas de uso.
iptação à comunidade escolhida, de inserção emsuas redes sociais e em ([1972]
stratégias. Diante da heterogeneidade reconhecida da língua falada, Labov
zada
2008) é praticamente obrigado a priorizar a norma compartilhada, e visibili
qualquer modo, a única solução possível paraliberar a metodologia socio- ço definidor de uma comuni dade linguís-
nosjulgamentos subjetivos, comotra
stica desses paradoxos é, segundo Calvet (2002), abandonar o âmbito da r os usos
tica. Diferentemente dele, Gumperz (1982) prefere, por sua vez, prioriza
para dar maior preferência para a realidade social, o que demandaria levar em com certa frequên cia
linguísticos compartilhados por indivíduos que interag
mas consequências a concepção de língua como fato social. Esse gesto vel
na(s) comunidade(s) de fala, posição metodológica perfeitamente compatí
leria a afirmar que “o objeto de estudo da linguística não é apenasa lín-
com seu enfoque nitidamente interacional.
tas línguas, mas a comunidadesocial em seu aspecto linguístico” (Calvet, co-
121), o que também implicaria tanto uma abordagem micro- quanto uma A atenção quedispensaàsinteraçõessociais leva-o, mais adiante, a definir
z, 1982).
igem macrossociolinguística. munidade linguística como uma coletividade de redes sociais (Gumper
a-
Uma mesma comunidade, na perspectiva sociovariacionista, pode ser atravess
títica mais contundentedirigida por Calvet (2002) à metodologia varia- perspect iva socioin-
da, portanto por diversas comunidades de redes sociais, na
:a é justamente o esvaziamento do falante enquanto agente condutor de se envolve com
teracional. Conforme sustenta Calvet (2002), um indivíduo que
áprio discurso em troca de umaidentidade social característica cujo efeito
lelamente, a transformação dele num mero informante. Sabe-se bem que da população é o uólo-
9. A língua oficial do Senegal é o francês, mas a falada por mais de 90%
quisas que se conformam aoconceito laboviano de comunidade encaixam fe; os outros cerca de 10%falam peul e serere, que são todas línguas africanas
ivíduos emcategorias sociais dadas como primitivos, como escolaridade, 10. Sobesse pontode vista, a comunidade linguística nova-iorquina
de Labov é um artifício,
seu campo de estudoà parte dos habitantes nasci-
já que, quandoa investiga, ele restringe de
jjeto NURC,por exemplo, restringe a comunidade de falantes cultos somenteaos nasci- dos em Nova York e que têmo inglês como primeira língua, o que significa excluir cerca
apital investigada ouos que ali residemdesde os 5 anos e essa temsidoa norma adotada 30%deestrangeiros. Desse modo,en tende Calvet (2002) que critério linguísti co restringe O
os oslevantamentos da mesma natureza que a ele se seguiram. gruposocial.
ntes redes sociais, como o exemplo dofalante senegalêstrilíngue, perten-
a diferentes comunidadesde fala!!,
mo vimos, as redes sociais representam o grau de contato entre os indi-
's relacionados informalmente mediante duas propriedades, a densidade e
plicidade. De laços sociais com forte grau de contato resultam redes densas, Epílogo: A demanda por
uais todosos indivíduos envolvidos se conhecem entresi e, ao mesmotem-
últiplas, nas quais os indivíduos envolvidos compartilham entre si mais de
uma linguística social
po derelação social, como amizadee coleguismo profissional. Quanto mais
s e múltiplas as redes sociais, tanto maior a probabilidade de produzirem
homogeneidade normativa, como a verbal.
gos sociais fracos, por outro lado, identificam redes com ligações pessoais As punições para quem ignorar os dados da comunidade defala são um
as e com um grau mínimo de multiplicidade nas relações interpessoais; crescente sentimento de frustração, a proliferação de questões polêmicas
so, redes sociais com laços frouxos e pouca “multiplicidade exercem um e uma convicção de que a linguística é um jogo em que cadateórico
escolhe a solução que combina com seu gosto ouintuição (Labov, [1972]
crucial na difusão da mudança, servindo de canais para a transmissão de
2008: 298).
ção linguística, justamente por figurarem na periferia dos grupos sociais
imperam relações densas, coesas e múltiplas e, portanto,linguisticamente
:onservadores. Mesmo assim, em umaredesocial densa, os indivíduos que crítica mais grave dirigida à metodologia variacionista é justamente
m umaposição central são justamenteos que primeiramente se adaptam à o esvaziamento do falante enquanto agente produtor de significa-
ção em função dos laços estreitos de relacionamento que mantêm com os do. Pretendo encerrar este texto com umaderradeira avaliação dessa
duosinovadores (Milroy, 1980). questão, com a convicção de que a solução está numa novatendência
teórica, inaugurada por Eckert (2000), que reveste o conceito de variável linguís-
tica com nova roupagem, comoo espaço privilegiado da construção do signifi-
cado social da linguagem.
Para localizar com clareza esse questionamento,trato da reconstrução da tra-
jetória da pesquisa sociolinguística dos últimos quarenta anos, formulada por
Eckert (2005), que distinguetrês “ondas”! de prática analítica, alertando, no en-
tanto, que elas não devem ser vistas como sobrepostas numa cronologia linear,
mas como partes de um todo.
A primeira onda,iniciada pelo estudo de Labov sobre a cidade de Nova York
(1966), estabeleceu, comoé sabido, uma base sólida para o estudo da variação,
mediante o estabelecimento de correlações entre variáveis linguísticas e catego-
rias sociais primárias. Essa fase, desenvolvida pela vertente variacionista, carac-
teriza-se, em resumo, pelosseguintestraços:
(i) os estudossão realizadosa partir de levantamentos exaustivos em comu-
nidades geograficamente delimitadas;
(ii) a hierarquia socioeconômica constitui um mapa do espaço social;
(iii) as variáveis são marcadores de categorias sociais primárias veiculando
prestígio ou estigma social baseado em diferençasde classe;

se podenegligenciar o fato de que Labov(1978) estudou redessociais entre adolescen- 1. Melhor que “ciclo”, a tradução de wave por “onda” reflete o caráter que Eckert (2005) quis
Jarlem, num estudo sociologicamente orientado com consequências muito relevantes imprimir aos três movimentosda sociolinguística, que, embore preservem certa identidadepró-
:onhecimento da cultura urbana da comunidade afro-americana de NovaYork. pria, têm origem nas águas do mesmo mar.
ns ———

7) O estilo, determinado pelo grau de atenção à fala, é controlado pela burnouts são firmemente baseadas na vizinhança expandindo-se, todavia, para
orientação do falante a valores de prestígio e de estigma social (Eckert, a área urbana.
2005).
O quedefine, em resumo, a segunda onda são osseguintes traçosdistintivos:
3 padrões regularese sistemáticos de covariação social e linguística levanta-
(i) representa estudos etnográficos de comunidades geograficamente defi-
juestões sobre relações sociais subjacentes às categorias sociais primárias, O
nidas;
rovocouo surgimento da segunda onda,caracterizada porestudos etnográ-
de populações mais localmente definidas. (ii) as categorias locais constituem elos de categorias demográficas mais
amplas;
3 estudos etnográficos, que caracterizam o segundociclo, enfocam comuni-
: menores por períodos de tempo relativamente longos com o objetivo de (iii) as variáveis operam comoindicadores de categorias localmente definidas;
brir as categorias sociais localmente mais salientes. Essas categorias podem (iv) o estilo atua como um ato deafiliação a uma determinada categoria so-
stanciações locais das categorias primárias que guiam os estudos quantita- cial (Eckert, 2005: 15).
mas o traço distintivo crucial dessa perspectiva de análise é a descoberta Os estudosetnográficos da segunda onda deram umaênfase mais local às des-
gar dessas categorias na prática social local. cobertas dos estudos empíricos da primeira, embora seu valor dependa do grau
»mo um exemplo de que as ondas não se sobrepõem, Eckert (2005) afir- em que os valores locais se conectam aos padrõessocialmente mais abrangentes.
ue a primeira trilha etnográfica, quantitativamente orientada da variação, Se a linguagem humana é uma instituição social, princípio bem estabelecido
erta por Labov no estudorealizado na Ilha Martha's Vineyard. O enfoque pela linguística estrutural (Saussure [1916] 1977; Martinet, 1962), Eckert (2005)
ráfico de Belfast e L. Milroy (1980) o fez avançar mais ao enfocar comu- prefere vê-la como umaprática que se desenvolve em relação a essa instituição, e
es de classe operária e examinar a relação entre engajamento nas relações é a acumulaçãodepráticas sociais que a produz e a reproduz (Eckert, 2005: 16).
e uso do vernáculo, correlacionando uso de variáveis vernaculares locais A conexão entre a competência individual do falante, por um lado,e a ins-
t densidade e a multiplicidade da rede de relações sociais do falante. tituição, por outro, se estabelece, portanto, numa espécie de organização em
kert (1989, 2000) realizou também seus próprios estudos etnográficos, ex- camadas das comunidades, desde os contatos mais íntimos do indivíduofalante
ado a natureza da estratificação de classe entre adolescentes brancos na até a comunidade imaginária de uma língua.
uburbana de Detroit, para observara relação entre a prática social desses Nos estudos de variação, que identificam entidades geograficamente bem
's e o processo de mudança vocálica das cidades do Norte que caracteriza delimitadas, deve-se estabelecer um elo entre a experiência diária do falante in-
eto branco da área de Detroit. As oposições de classe acham-se articuladas dividual e categorias abstratas como classe, gênero e etnicidade — e a unidade
grupo de pares ao estabelecimento de duas categorias sociais já introduzi- sociogeográfica definida como comunidadelinguística. Nos últimosanos, Eckert
jui, a dos jocks e a dos burnouts. tem-se voltado justamente para a necessidade de conectar essas categorias so-
Je lembrar que os jocks se identificam com uma cultura de classe média, ciais, arraigadas na experiência do falante, identificadas como comunidades de
:ando suas redes sociais, identidades e vida social na escola, e particular- prática, com as comunidades imaginárias mais amplas. É essa concepção meto-
2 nas atividades extracurriculares, em cuja esfera constituem um grupo hie- dológica quevai caracterizar a atividade sociolinguística da terceira onda.
icamente fechado e competitivo. Os burnouts, vale lembrar, identificam-se A noção de comunidade de prática, postulada por Eckert (2000), representa
imacultura de classe operária e, comotal,rejeitam instituição comobase outro avanço que a sociolinguística operou para retomar, de certo modo,a di-
t vida e a identidade social, constituindo suas redes sociais, identidades e mensão social, funcionalmente forte na origem, cujo grau de importância foi
ocial na vizinhançae no contínuo mais amplo da comunidade urbana. reduzido, embora não eliminado, pela tendência variacionista. Esse conceito
»posição jock-burnoutreflete hostilidade mútua, sustentada por umagrande propõe, em primeiro lugar, uma revisão da noção de comunidadelinguística e,
lade de indicadores simbólicos, como roupa, postura e movimento cor- em segundolugar, da noção de comunidade social.
maquiagem,cabelo,território, uso de substâncias químicas, atividade de Uma comunidade de prática é um agregado de pessoas que se juntam para
participação na escola, orientação urbana,Essas diferenças superficiais de se engajar em algum empreendimento comum. Naesteira desse engajamento,a
ortamento social sustentam diferenças ideológicas fundamentais: ao con- comunidade de prática desenvolve meiospara fazer coisas que se traduzem em
dos bumouts, que mantêm relações simétricas, as relações entre os jocks práticase essas práticas envolvem a construção de uma orientação compartilha-
erárquicas; os jocks expandem suasredes sociais para aumentar o grau de da em relação ao mundo em volta — umadefinição tácita que assumem um em
ência escolar que os definem, enquanto as redes sociais de amizade dos relação ao outro e em relação a outras comunidades de prática.
+

'ara ilustrar o que entende por comunidade de prática, Eckert (2000) men- ridade de /e/ e /uh/ é mais recente e aparece apenas nafala das novas gerações
a o caso de uma banda de rock. As práticas que surgem do trabalhocoletivo e o avanço da inovação é um tanto maior, quanto mais próxima do centro da
integrantes incluem a seleção do repertório, compartilhamento de valores a cidade estiver a área de implementação. Há, além disso, um novo processo de
eito dos tipos de música e de si mesmos em relação ao outros grupos musi- elevação do núcleo de /ay/, que se fortalece nas mesmas condições sociais, isto
formas de comportamento nas apresentações, formas de desenvolvimento é, à medida que a área de implementaçãoestiver mais próxima do centro da ci-
-anções. Isso tudo sugere a criação de certo estilo. A produçãoestilística, que dade. Essas três variáveis conferem considerável valor simbólico de identificação
2 ser tanto linguística quanto comportamental, é a base sobre a qual ocorre social a seus usuários.
gociação dosignificado social e da identidade.
Em virtude de manter uma orientação mais determinada para a zona urbana,
identidade social é construída no próprio processo de articulação e de en-
os burnouts fazem um uso muito mais significativo das mudanças urbanas que
imento dos indivíduos com as comunidades de práticas de que participam
os jocks e, em todos oscasos, são muito mais significativas as correlações com
dentidade de cada comunidade depende do processo de engajamento e de
categoriase valores sociais próprios queas correlações com o estatuto socioeco-
"vimento dosparticipantes. O grau de envolvimento depende do grau em
nômico dospais.
3s indivíduos adquirem o repertório da comunidadede prática, assimilam o
tivo do empreendimento compartilhado e estabelecem padrões de relacio- Os padrães de variação, já existentes na comunidade, servem, portanto, de
ento com os outros participantes envolvidos. recurso para a construção da identidade social do adolescente. Nesse âmbito, a
estratificação social se desenvolve de um modo tão estritamente localizado, que
chavepara esse processo todo de construçãoé a práticaestilística. Até aqui,
as correlações de classe não podem ser atribuídas simplesmente a parâmetros
2studos variacionistas, o estilo tem sido tratado comoos ajustes do falante
1ação mediante o emprego devariáveis individuais. O outro lado do estilo,
sociais de educação, ocupação e renda, mas a interesses que se vinculam local-
m, define o modo comoos falantes combinam variáveis para criar modos mente a essas categorias sociais.
ativos defala. Esses modosde fala é que constituem a chave para a produ- Padrões de variação dentro da comunidade localmente definida estão, por-
la identidade pessoal,e a identidade, porseu lado, consiste em tipossociais tanto, vinculados a padrões de variação difundidos na comunidade mais am-
citamente localizados na ordem social. plamente considerada, já que todas as escolas da área suburbana de Detroit têm
ordem social, em que o investigador vislumbra manifestações de categorias jocks e burnouts e, em todos os subúrbios, os burnouts tendem a liderar os jocks no
is, como gênero,diferenças étnicas, idade e classe, são, na realidade, mani- uso de inovações tipicamente urbanas.
zões da grande variedade de comunidades de prática existentes, nas com- Para mencionar outro exemplo, ao preservar a ideologia contrária à institui-
:ões de comunidades de prática de que as pessoas participam em diferentes ção escolar, os burnouts fazem um uso consideravelmente maior que os jocks de
es da ordem social e nas práticas dentro dessas comunidades. concordância negativa. Mas há também umadiferençasignificativa entre dois
s jocks e os burnouts são comunidades de prática com base na categoria de tipos de jocks masculinos — os que têm nasatividades atléticas suas principais
2 social, Se as crianças aprendem algo sobre classe a partir de sua participa- motivações e os que, além de não exercerem atividades atléticas, centram aten-
as relações com seus familiares e vizinhos,elas são capazes de construir um ção naliderança estudantil.
mento de classe nas relações de pares com base na oposição jock/burnout na Embora estejam em grupos de amizade fortementealiados, os que exercem
a. E, na visão de Eckert (2005), a participação deles nessa oposição, junta- liderança estudantil enfatizam mais uma imagem corporativista, enquanto os
e com orientação paraas instituições padrão e orientação para a comuni- atletas sustentam a construção desuaidentidade sobre valores machistas. Como
mais ampla, liga-os concretamente ao que é normalmente entendido como um reflexo desse comportamento, a taxa de concordância negativa é muito
comunidadelinguística. maior nosúltimos do quenos primeiros.
*jamos como a construção de identidade nesses gruposse reflete na varia- Essa situação mostra que um mesmoindivíduo é constituído por umasérie
»cal. A variedade das cidades do Norte americano, em quese inclui Detroit, de identidades não estáticas, mas dinâmicas e, ao mesmo tempo, inter-relacio-
“acteriza por uma mudança vocálica, identificada pela rotação das vogais nadas. Um mesmoindivíduo se constitui com base num conjunto muito amplo
se médias, e todasas cinco vogais envolvidas nesse processo fonológico se de identidades que são construídas com base nas pressões sociais (política, eco-
em na variedade usada pela população de ensino médio. nômica,institucional, histórica) e interações sociais, o que envolve não a cons-
is mudanças, as que envolvem três vogais são as mais antigas e aparecem tituição de categorias fechadas em si mesmas, mas de categorias dinâmicas, em
la dos falantes de Detroit de todas as idades, mas a que envolve posterio- processo contínuo de transformação.
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a visão se opõe ao entendimento quantitativo da variação. Os falantes ças em progresso consistem em processos flutuantes, instáveis, e é em razão de
tuamente atribuem significado social à variabilidade linguística de um sua transitoriedade, que elas são mais acessíveis à atribuição designificado.
consequente, o que implica atribuir ao falante um grau mais elevado de Instaura-se um continuum de convencionalidade na mesma proporção de um
sonismo social que, em minha opinião, os estudos sociolinguísticos neces- continuum de intencionalidade. Entende Eckert (2005: 31) que, enquanto o foco
incorporar em sua metodologia. permanecer na mudança fonológica, o sociolinguista não será capaz de fazer jus
a terceira perspectiva reorienta, portanto, os vetores do estudo da variação ao processo, porque o que está sob investigação é comumente o extremo mais
ma novadireção. Em vez de definir a variação com base em categorias so- evanescente do continuum. Um foco nosignificado social requer a inauguração
státicas, queestratificam os falantes, como age a vertente variacionista, esse de umanovavisão, que nãose restrinja apenasa variáveis regionais e mudanças
de fazer sociolinguística procura os significados que motivam usosvariá- em progresso, mas quese estenda às variáveis que parecem ser potencialmente
articulares. Há quatro atributos quedefinem essa nova vertente de estudos: suscetíveis à atribuição designificado social.
baseia-se em estudos etnográficos de comunidades deprática; O indivíduo não é um cavaleiro solitário vagando errante pela matriz social,
as categorias locais são construídas com base em posições comuns; comotransparece na sociolinguística variacionista, mas se vincula à matriz so-
) as variáveis são vistas como indicadores de posições, de atividades e de cial mediantg formas estruturadas de engajamento. O indivíduo constrói sua
características sociais; identidade — um senso de lugar no mundo social — numaparticipação equili-
4 o estilo é considerado um modode construção deidentidade. brada numavariedade de comunidades de prática e nas formasde participação
em cada uma dessas comunidades.
falantes atribuem, continuamente, significado social à variação de um
consequente, situação que implica certo grau de protagonismo social, que
A tarefa metodológica inicial consiste, portanto, em construir um arcabouço
alho de Eckert (2000) parece querer recuperar. para uma(socio)linguística da fala, que seja capaz de incorporar as descobertas dos
estudos mais recentes do discurso real. Parece, então, que, sob essa perspectiva, o
bora reconheça que os linguistas manifestam certo grau de ansiedade
entendimento que temosda teoria sociolinguística permite assumir quea tercei-
do estudo de indivíduos em processo de interação, Eckert (2005) sustenta
ra onda,navisão de Eckert (2005), é o ponto devista mais consistente com o pos-
no indivíduo queestá a chave de muito do queé preciso aprender, com a
tulado de que a linguagem é um sistema adaptativo, na visão de Du Bois (1985).
“a, porém, de que a prática individual esteja arraigada somente no papel
erce na comunidade deprática, que é, por sua vez, a imagem especular da Para finalizar, é forçoso reconhecer que, se não há consenso em torno do
1idade social como um todo. objeto e do método da sociolinguística variacionista, essa falta decorre dos pró-
fato, os processos de variação, posterioridade de /e/ and /uh/ e, possivel- prios desenvolvimentos que patrocinou. O que é paradoxal, no entanto, é que
, à elevação de /ay/ das variedades do norte dos EUA não se difundem as palavras de Labov ([1972] 2008), na epígrafe que abre este capítulo, dirigidas
te porque um grupo social como os burnouts as assume, mas se um grupo àquelas alturas, à linguística formal, poderiam agora aplicar-se ao próprio mo-
os assumee os acelera é porqueelas são traços específicos e distintivos da delo variacionista.
1idade em geral. Ao desviar-se da rota que conduz à consideração de motivações formais e
ida que nem todo processo de variação seja conscientemente controlável, funcionais em competição,as últimas tendências formalistas da sociolinguística
smosocialmente significativo, todo processo de variação está potencial- variacionista parece entender também quea linguística é um jogo em que cada
qualificado para receber significado social. Nesse processo deatribuição jogador impõesuas próprias regras.
aificado, a indexação de variáveis fonológicas não é, por exemplo, tão Ao mepropora discutir o variacionismo, procedo aqui como Diógenes e sua
arente quanto o uso de partículas honoríficas, mas é precisamentea flui- lanterna, mas diferentemente dele, não procuro um homem honesto. O que pro-
s variáveis fonológicas que as torna acessíveis a uma grande variedade de curo é lançar algum lume às sombras da adoção do formalismo exclusivista em
iitos sociais. que se oculta a sociolinguística variacionista, sem qualquer expectativa de con-
inico requisito para convencionalizar a relação entre uma variável e um siderar a possibilidade de haver outras motivações competindo pela ambição de
cado social é ter, em dose suficiente, tempo e continuidade. É por essa tornar a linguagem um objeto probabilístico. Um foco especial de luz incide, a
jue certas variáveis estáveis, cronologicamente permanentes, comoa pro- meuver, sobre a soberania do indivíduo nas relações sociais, iluminando a espe-
tdo (r) retroflexo na variedade caipira, têm significados tão extremamente rança sempre renovadade que alguma novasolução possível venha contemplar
que são comumente identificadas com estereótipos, ao passo que mudan- certa ansiedade pelo protagonismo do falante e pela interpretação qualitativa.
tomando livremente palavras do próprio Labov ([1972] 2008), diria, por
jue nenhuma solução particular pode ser considerada correta num sentido
ato. Nenhum pesquisador duvida de que seu melhor esforço será criticado,
Referências bibliográficas
ficado, substituído ou que reemergirá numa formaaté quase irreconhecível.
10 assim, se as soluções encontradas estiverem profundamente arraigadas
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