A operacionalização acadêmica dos encontros do GIAC
acontece em momentos diferentes durante o semestre letivo, iniciados pela
concentração, com discussões em sala de aula de conceitos pertinentes às disciplinas que se relacionam com os temas geradores que precedem os encontros mensais e a partilha das vivências experimentadas posteriores às suas realizações, provocando novas discussões e outras formas de análise dos conceitos teóricos. Já no momento de dispersão, ambas as turmas participam de forma presencial, porém, em grupos divididos, garantindo, assim, a participação de todos conforme preconiza a extensão curricular e sob o acompanhamento das docentes e profissionais das duas unidades de saúde envolvidas. Ao compreender e implementar a participação no GIAC Esperança/Nossa Senhora das Graças como atividade de extensão, é possível observar as relações entre essa forma de organização das atividades acadêmicas e o referencial teórico da EPS. Essa convergência contempla em sua proposta os principios da PNEPS de diálogo, amorosidade, problematização, construção compartilhada do conhecimento, emancipação e compromisso com a construção do projeto democrático e popular (BRASIL, 2012). Pressupõem-se, portanto, uma relação entre usuários/usuárias, profissionais de saúde, docentes e estudantes universitários que considere os saberes como diferentes e igualmente importantes. Há uma constante busca em considerar as necessidades dos/das usuários/usuárias como pontos de partida, reconhecendo a pertinência das estratégias utilizadas por eles/clas no enfrentamento das dificuldades. Neste contexto, as dificuldades enfrentadas pelas ESF como adesão ao tratamentos e envolvimento em atividades de grupo e de participação popular/controle social, discutidas nos encontros de dispersão, são entendidas como importantes contrapontos às soluções apresentadas de forma teórica nas disciplinas da graduação. Para além desses enfrentamentos, neste GIAC, o foco converge para o autocuidado, o que Diogenes e Pagliuca (2003) referem como a atividade que os individuos praticam para manter a vida, a saúde e o bem estar. E, nesse caso, há que se considerar o bem estar também experimentado na coletividade. É assim, nessa troca de experiências em todo o ciclo que envolve as atividades realizadas a cada més, de forma participativa e ativa, voltadas para a realidade da comunidade e despertando o seu potencial de empoderamento e autonomia, que o caminho de aproximação entre ensino, serviço e comunidade é desenhado por meio da extensão curricular. Vale ressaltar que a extensão curricular ou curricularização da extensão, comumente conhecida, caminha para o cumprimento da Meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), que, em sua estratégia 12.7, propõe: Assegurar, no minimo, dez por cento do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinencia social (BRASIL, 2014, p. 74). Tal meta oportuniza a aproximação das atividades de ensino e de pesquisa desenvolvidas nas IES com a realidade social e das necessidades de diferentes grupos. A observação dos impactos da participação nas atividades sobre a formação dos graduandos envolvidos remete-nos à caracterização da extensão universitária, no Plano Nacional de Extensão Universitária, como: "um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade" (FORPROEX, 2012, p. 16). Enfim, tomando as Diretrizes para as Políticas de Extensão da Educação Superior Brasileira, é importante observar os fundamentos teóricos do Marco Regulatório Legal Nacional da Extensão, que bem ilustra essa atividade desenvolvida e relata: 1) indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão, que considera a comunidade parte do eixo pedagógico, juntamente com o professor e o estudante, "em um processo que considera os saberes dos estudantes e da comunidade"; 2) formação do estudante, considerando que a participação em ações da sociedade deve resultar na “ampliação do universo de referência”, e 3) transformação social, que deve estar "voltada para os interesses e necessidades da maioria da população" (BRASIL, 2018, p.10). Assim, em uma perspectiva social e acadêmica, a extensão universitária explicita o papel social da universidade e articula suas relações com a comunidade (VÉRAS; SOUZA, 2016), relação que pode ser iluminada pelos conceitos da EPS.